Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 7 de agosto de 2008
Guiné 63/74 - P3119: Os nossos Seres, Saberes e Lazeres (4): Ornitologia (Mário Fitas)
Com sua autorização, escolhi as que se seguem e que ilustram mais uma das actividades deste nosso multifacetado amigo.
Lembremos parte da sua mensagem
Caro Luís,
Vi a ideia lançada no blogue sobre aquilo que nos vai distraindo o tempo. Para além da fraca escrita, fui fazendo outras coisas que, para ti e alguns tertulianos, possivelmente será uma surpresa, e que passo a relatar:
Ornitologia:
Fui membro da direcção e posteriormente Presidente da Mesa da Assembleia da Associação dos Avicultores de Portugal.
Quando por motivos de saúde, tive de abandonar as minhas lindas e adoráveis aves, tinha em casa mais de oito centenas de aves. Dedicado essencialmente à criação de Agapornis (nome científico) mais conhecidos por love birds, fui campeão em diversos campeonatos e exposições.
Na primeira oportunidade enviarei fotos dos meus campeões. Que andaram pela África do Sul, Bélgica, etc.(...)
Foto 1 > Agapornis Personata Cobalto
Foto 2 > Agapornis Personata Verde (Cor da ave em estado selvagem)
Foto 3 > Pardais de Java e Bourques em voadouro (Diversas mutações)
Foto 4 > Massorongo (Domesticado)
Foto 5 > Agapornis (Bateria de gaiolas com casais diversos em criação)
Foto 6 > Agapornis Fishers (Amarelos)
Foto 7 > Agapornis Nigrigenes
Foto 8 > Aves premiadas (Bélgica, Campeonato BVA)
Foto 9 > Diamantes Gold (Colónia de jovens)
Foto 10 > Ave premiada
Foto 11 > Papagaios
Foto 12 > Diamante Gold
Fotos e legendas © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.
Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp da CCaç 763, Cufar, 1965/66
_________________
Nota de CV
(1) - Vd poste de 27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3096: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (2): Pirogravuras, de Mário Fitas
Guiné 63/74 - P3118: Ser solidário (14): ONG AD: Relatório de actividades de 2007 - Parte I: A segurança alimentar
Desde o dia 1 de Junho, a Rádio Comunitária Balafon tem melhores instalações. Fruto do impacto anterior das suas emissões para toda a zona compreendida entre Sedengal, Barro e Bigene, os jovens da comunidade de Ingoré meteram mãos à obra e construíram um edifício novo, abandonando as exíguas instalações cedidas temporariamente pela União dos Pequenos Agricultores de Ingoré.
Para além de ser uma fonte de informação de notícias locais e regionais, esta Rádio contribui decisivamente para a participação cívica e activa das organizações de agricultores, jovens e mulheres, tornando-as mais capazes para abordar as eleições legislativas que se realizarão em Novembro próximo.
O radialista Djalam Mané entrevista Maimuna Djaló, presidente da Associação das Mulheres “Nô Djunta Cabeça”, acerca das iniciativas que esta organização está a pensar levar a cabo para aumentar a produção de culturas alimentares.
Guiné-Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 13 de Julho de 2008
Os participantes no Simpósio Internacional de Guiledje visitam a TVMassar, a primeira televisão comunitária da Guiné-Bissau a emitir por ondas hertzianas, cobrindo um raio de 20 Km à volta de Iemberém.
Isabel Buscardini, Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria da Guiné-Bissau, e Diana Andringa, jornalista portuguesa, recebem de Amarildo, Director da TV, explicações sobre a sua organização e funcionamento.
Com base numa equipa voluntária de jovens nascidos em Cantanhez, esta TV produz programas de informação, culturais, ambientais e de saúde que têm vindo a constituir uma referência para toda a população do sul do país.
Fotos e legendas: Cortesia de: © AD- Acção para o Desenvolvimento (2008). Direitos reservados.
1. Damos início à publicação do relatório de actividades de 2007, da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com quem mantemos desde finais de 2005 uma relação, franca, aberta, privilegiada, de cooperação, tendo como pretexto inicial o Projecto Guileje que deu origem, entre outras iniciativas que tiveram o nosso apoio, à realização do Simpósio Internacional de Guileje (Bissau, 1 a 7 de Março de 2008), e que abriu portas a outras iniciativas mais recentes, como por exemplo a recolha de sementes.
Ao nível das individualidades temos sido tratados - de maneira generosa, convenhamos - como parceiros da AD. Sobre o nosso blogue, diz o seguinte o relatório de 2007 desta ONG guineense:
" [O] Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné [...] tem trazido para o seio da AD muitos camaradas que, para além de se interessarem pela recuperação da memória histórica antes da independência, se propõem colaborar com as iniciativas de hoje. O seu envolvimento na promoção do Simpósio de Guiledje é decisivo para o seu êxito".
A publicação desta relatório não é uma mera cortesia nem um simples troca de galhardetes. A sua leitura vai-nos permitir aprofundar o nosso conhecimento dos problemas actuais da Guiné-Bissau, nomeadamente no campo económico, social e cultural. Ao mesmo tempo, ficamos melhor informados sobre (e, portanto, a poder conhecer e a valorizar) o notável trabalho que, com fundos comunitários, portugueses e outros, os nossos amigos da AD estão a fazer com as populações das suas principais zonas de intervenção, duas rurais (S. Domingos - Bigene, no norte; Cubacuré- Quitafine, no sul) e uma urbana (Bissau - Bairro do Quelele).
Dá-nos algum conforto saber que, pelo menos, a estas populações - que nós conhecemos no passado ou com quem nos relacionámos mais recentemente - chegam ajudas, conhecimento, tecnologia, modernidade, programas, ideias, dinheiro, solidariedade, esperança...É bom saber que na Guiné-Bissau há gente competentíssima, fantástica, generosa, guineense e estrangeira, a trabalhar com e através dos outros para que a palavra desenvolvimento não seja uma mera figura de retórica... Desenvolvimento, cidadania, direitos humanos, democracia, liberdade, solidariedade, cooperação... enfim, belas palavras que muitas vezes usamos em vão, ou de ânimo leve...
O citado relatório está disponível do sítio da AD, em formato pdf. Tem 24 páginas. Vamos reproduzi-lo em quatro partes, omitindo apenas as fotos. Tomamos a liberdade de inserir outras imagens, do nosso arquivo ou da própria AD. Uma única ressalva: a publicação deste relatório não significa concordância ou discordância de pontos de vista. Muito menos sugere qualquer tipo de ingerência na vida interna da Guiné-Bissau, o que nos é interdito pelas nossas regras éticas e editoriais.
O nosso blogue, enquanto comunidade colectiva virtual, não têm opinião sobre questões da actualidade, seja em Portugal, seja na Guiné-Bissau. O nosso propósito, como editores, é dar informação relevante sobre o que faz a AD, onde, porquê, com quem, como e com que resultados... Individualmente podemos ter as opiniões que acharmos justas e correctas sobre a metodologia de trabalho da AD, a sua filosofia de acção, os seus colaboradores, os seus programas, a sua eficácia e a sua eficiência, etc.
Esperemos que nos cheguem críticas, comentários e sugestões sobre este documento onde, obviamente, há trabalho colectivo mas onde também é notório o pensamento do co-fundador e actual director executivo da AD, o nosso amigo Pepito, o Eng. Agrónomo Carlos Schwarz com quem estarei hoje em São Martinho do Porto. LG
2. AD -Acção para o Desenvolvimento: Relatório de actividades de 2007 > Parte I
Subtítulos, revisão e fixação de texto: L.G.
A. O CONTEXTO POLITICO
O ano de 2007 fica claramente marcado por uma má campanha agrícola,
caracterizada por um começo tardio da época das chuvas e a sua interrupção brusca no final.
Embora todo o país tenha sofrido as consequências desta situação, ela foi
muito marcante na zona litoral norte e ao longo de toda a linha da fronteira com o Senegal, nos sectores de S. Domingos e Bigene, onde por norma a queda pluviométrica é mais reduzida. Na pene-planície de Varela, as bolanhas entre Sucudjaque e Djufunco viram as suas produções de arroz drasticamente reduzidas e em muitas situações as colheitas foram nulas.
(i) O espectro da fome e a questão da segurança alimentar
Como que de imediato, sobreveio a fome e os jovens iniciaram uma migração para os países vizinhos (Senegal e Gâmbia) e Bissau. A fome, ou se quisermos ser mais precisos o forte défice alimentar que daí resultou, veio trazer à ordem do dia a discussão sobre o contexto político global da segurança alimentar na Guiné-Bissau e a nível internacional.
Em meados dos anos 80, o Banco Mundial (BM) e o FMI, impuseram ao nosso país o chamado ajustamento estrutural e a liberalização económica selvagem: manda o mercado, dono e senhor do crescimento, que tudo regula e tudo dirige. Para quê pensar no aumento da produção de arroz e outras culturas alimentares na Guiné-Bissau, se é preferível apostar na exportação de castanha de caju e com a receita comprar arroz muito mais barato que o produzido localmente. Diziam eles, sem nunca o provarem.
Os técnicos e quadros que então discordaram e se opuseram, foram rapidamente apelidados de “profetas da catástrofe” pelos compadrios internos destas politicas. Nada como a memória para os mais esquecidos, pabia di amanhã. A Guiné-Bissau virou de repente um cajual à beira mar plantado e o caju entrou na máxima força nos sistemas familiares de segurança alimentar.
Ao mesmo tempo que a área ocupada com caju ia crescendo exponencialmente, as superfícies dedicadas às culturas alimentares iam diminuindo. Qualquer agricultor prefere substituir uma cultura que lhe exige muito maior esforço físico e cujas produções estão dependentes de factores incontroláveis como as chuvas e as pragas, por um pomar em que os próprios frutos nem sequer necessitam de ser colhidos nas árvores, bastando enviar as crianças fazer a recolha no chão. É bom enquanto dá, mas quando o preço vem por aí abaixo é impossível transformar o caju em bianda.
Quando a política comercial é liberal, arriscamo-nos a colocar em concorrência os nossos produtos agrícolas a preços reais com os que vêm do exterior, devidamente subvencionados e a medir forças com quem tem capacidade de fazer dumping para conquistar mercados. Por isso não é de estranhar ver-se a maçã Golden a ser vendida habitualmente na jangada de São Vicente, ou a importar-se farinha de trigo, quando com a farinha de mandioca se pode fazer igualmente pão.
Será que, com este tipo de incentivos, os nossos fruticultores e agricultores se sentirão encorajados a produzir mais? É preciso que os nossos decisores procurem conhecer mais a micro-economia, compreender a vitalidade e dinamismo do sector informal, acompanhar mais de perto as preocupações sociais daqueles que podem garantir a segurança alimentar e não se esquecerem que a fome está na origem de muitas convulsões sociais representando uma autêntica arma de destruição massiva.
Hoje assiste-se à emigração descontrolada daqueles que são as principais vítimas das decisões e escolhas macroeconómicas e de um desajustamento estrutural: os jovens. Com o futuro comprometido, sem esperança e a viverem no limiar da fome, refugiam-se na miragem idílica de uma Europa acolhedora, progressista onde poderão ter uma vida digna e condigna. Emigram por necessidade e não porque sejam criminosos ou delinquentes. Se o fazem de forma “ilegal” é porque a História lhes ensina que, antes deles, muitos outros povos europeus emigraram da mesma forma para os Estados Unidos da América, para a Venezuela, para a África e até mesmo para França. Para não falar dos tempos da pirataria dos recursos naturais e da escravatura, em que a Europa chegava a África igualmente de forma “ilegal”, dizendo vir “dar novos mundos ao mundo” e “evangelizar e civilizar os indígenas”.
O que ontem pelos vistos era legal, hoje deixou de o ser...
(ii) O futuro da economia da Guiné-Bissau: Oportunidades e ameaças
Ironia suprema, é ver a forma rápida e prestimosa com que alguns se prestam a fazer serviços de repressão aos “clandestinos”, a troco de campos fortificados em Varela e doações financeiras de vergonha, recusando seguir a posição do presidente argelino Abdelaziz Bouteflika quando afirma: “recusamos construir estes campos porque nunca seremos os estranguladores dos nossos irmãos”.
Mais grave ainda é quando alguns membros da sociedade civil embarcam nestes combates que não são nossos e denunciam a localização dos refugiados, apelando às autoridades policiais para a sua prisão e deportação. Reprimem-se os emigrantes e não os que transformaram a emigração num negócio em que as vítimas são exploradas duas vezes.
Infelizmente, tudo parece conjugar-se para que em 2008 a Guiné-Bissau assista a uma tensão social de origem alimentar, vitima das opções globais de certas multinacionais que fazem da fome negócio e dos seus próprios erros e opções internas.
Os factores internos que estão na sua origem, prendem-se com aspectos de ordem climática, atrás referidos, em particular a diminuição da precipitação nos últimos 30 anos e o muito mau ano orizícola de 2007, de origem económica com a omnipresença do caju como cultura de substituição do arroz e a queda do seu preço a nível internacional, de ordem social com o êxodo rápido dos jovens do campo para a cidade, a deterioração drástica do poder de compra as famílias, a desintegração de núcleos familiares e a redução da solidariedade nos centros urbanos.
A estes devem-se acrescentar os de ordem urbanística, em especial a rápida diminuição dos campos agrícolas e hortícolas na cintura de Bissau, para darem lugar à construção massiva de alojamentos, os de ordem agronómica com o desaparecimento de boas variedades saídas da pesquisa agrícola e do desaparecimento das redes de agricultores produtores de sementes e, finalmente, de ordem política com a falta de uma visão estratégica clara para a segurança alimentar, que vá para além da repetição de banalidades e lugares comuns por parte dos decisores.
Já em termos de factores externos, há a considerar que para certas multinacionais do ramo especializadas na venda de agroquímicos e sementes de transgénicos, a fome tornou-se um negócio muito lucrativo, ao qual se associam comerciantes que vivem da especulação dos mercados.
É preocupante ver organizações internacionais como as Nações Unidas, BM e FMI desenterrar velhas políticas como a Revolução Verde, de tão má memória para os pequenos agricultores africanos, e apostar numa “nova agricultura ao serviço do desenvolvimento”, em que os pequenos agricultores devem modernizar-se utilizando novas tecnologias para se integrarem no mercado internacional liberalizado, sob pena de se excluírem da actividade agrícola e serem obrigados a orientarem-se para empregos não-agrícolas ou emigrarem para os centros urbanos.
Persiste-se em medidas economicistas em vez de se propor uma visão da questão mais social, cultural e ambiental, preparando-se a nova moda dos “planos de acção” que nos irão submergir a todos, em vez de se afinarem e concertarem as políticas dos diferentes actores, públicos, comunitários e privados.
Na moda estarão agriculturas baseadas em produções de elevado valor acrescentado, em que já se fazem anunciar o uso de alimentos para biocombustível, um autêntico paradoxo no nosso país, isto para não considerar um verdadeiro crime contra a humanidade. Mais uma vez os nossos países a resolver as preocupações da alta de preços de energia nos mercados do norte.
Seria interessante analisar em que áreas e sectores, organizações como o PNUD, o BM e o FMI investiram nos últimos 20 anos na Guiné-Bissau e quais os resultados obtidos. Verificou-se um brutal desinvestimento na agricultura com a produção alimentar a ser inserida numa lógica de mercado, a desvalorização do papel fundamental das pequenas unidades familiares agrícolas na segurança alimentar e o abandono total dos programas de pesquisa agrícola, base da inovação e avanço da agricultura alimentar.
A todos estes desafios, impõe-se que a nível nacional se procure uma resposta baseada numa agenda própria que não seja subserviente às políticas dos grandes doadores internacionais, aproveitando-se este momento para se proceder a uma reflexão interna e revisão de políticas, não nos esquecendo que se o colonialismo durou 500 anos foi porque contou com conivências e beneficiários internos, tudo indicando que com a fome, assim voltará a ser enquanto os recursos naturais (petróleo, fosfatos e bauxite) só servirem interesses individuais.
(Continua)
quarta-feira, 6 de agosto de 2008
Guiné 63/74 - P3117: Álbum fotográfico do Juvenal Amado (1): Imagens de Cancolim
Caros Carlos, Virgílio, Luis Graça e restanta Tabanca Grande.
A CCAÇ 3489 pertencente ao BCAÇ 3872 ocupou o Sector L5 em Cancolim.
Substituiu a CCAÇ 2699 em 11 de Março de 1972.
Destacou um Pelotão para Sangue Cabomba e após o reordenamento de Anambé, esse posto ficou com uma Secção de apoio a um Pelotão de Milícias.(*)
Fazia parte desta Companhia, o nosso camarada Fernando Correia natural de Romariz - Sta. Maria da Feira, a quem devo a gentileza das fotos aqui publicadas.
Primeiro Cabo Apontador de morteiro 81mm, tirou Especialidade no RI2 em Abrantes.
Esta Companhia foi efectivamente bastante flagelada e o número de mortes atestam as agruras porque passaram os nossos camaradas. A situação da 3489 era, a dada altura, de forma que teve de ser reforçada por pelotões da 3491 (Dulombi) e pára-quedistas.
(*) - Sangue Cabomba nunca foi atacada. Falava-se que o facto se devia a ser Chão Santo. Pelo o contrário Anambé, que ficava a 1000 metros na direcção de Cancolim, não tardou em ser atacada assim que se fortificou a tabanca.
O sistema de protecção era arame farpado e cavalos de frisa, que se encerravam ao anoitecer. Garrafas de cerveja duas a duas, penduradas no arame farpado completavam de forma rudimentar, os meios de vigilância.
E foi assim que uma noite um grupo de guerrilheiros entrou, pois não é novidade que os milícias, por veses, abandonavam os postos e iam ter com as bajudas.
O soldado Domingos Peixoto natural de Paredes, partilhava uma cubata com a sua Secção, a qual tinha à sua responsabilidade um posto de sentinela. O camarada estranhou movimentos e disparou contra os vultos que entravam pela aldeia dentro. No acto continuo entrou na cubata e tentou sair pela outra porta, foi quando foi atingido mortalmente.
Outro camarada que sofria de ataques epilépticos, foi julgado morto pelos atacantes. Morreram ainda os milícias Califo Baldé e Samba Seide ambos de Anambé.
O IN deixou várias granadas de mão sem retardante, que eram usadas nas armadilhas de tropeçar.
E por hoje é tudo tentei traçar um perfil desta Companhia, espero que o resultado seja satisfatório.
Um abraço para todos
Juvenal Amado
Foto 1 > Um dos famosos baga-baga
Foto 2 > O Correia tocando viola
Foto 3 > Cancolim > Uma pega de cernelha
Foto 4 > Cancolim > Convívio com as bajudas
Foto 5 > Cancolim > Em conversa com a população
Foto 6 > Cancolim > O 81 respondeu ao fogo inimigo
Foto 7 > Cancolim > Abrigo do Morteiro 81
Foto 8 > Cancolim > O Correia de reforço no seu posto
Foto 9 > Cancolim > Dentro espaldar do 81, Alves do Porto, Dias da Maia, Carneiro de Penafiel e o Correia.
Foto 10 > A minha Berliett
Foto 11 > Cancolim > Petisqueira
Foto 12 > Cancolim > Evacuação do Correia com paludismo
Foto 13 > Uma ida à água
Foto 14 > Durante as chuvas, 30 dias de isolamento. As águas levaram as pontes quando os ribeiros se transformaram em rios de águas revoltas. Os atiradores faziam um cordão, dando as mãos, para as viaturas poderem passar.
Fotos e legendas: © Juvenal Amado (2008). Direitos reservados.
Guiné 63/74 - P3116: Convívios (79): Pessoal da CCaç 763, dia 14 de Setembro de 2008 em Mafra. (Mário Fitas).
10º ENCONTRO DA COMPANHIA DE CAÇADORES 763
Caros Camaradas da C.CAÇ. 763
Cufar, Guiné, 1965/1966
Não pedimos guerras nem as comprámos. Como bons Portugueses amantes da nossa Pátria, quando há quarenta anos fomos confrontados com a hora de partir, não virámos a cara, fugimos ou emigrámos para não irmos para a guerra.
Felizmente a nossa geração, independentemente das origens e apesar da nossa juventude, soube tornarmo-nos homens com H (grande), ao contrário de outros por quem temos sido menosprezados e esquecidos.
Veteranos de Guerra, (nós que a vivemos é que sabemos).
Vamos serrar fileiras, e de novo reunirmo-nos, na amizade dos laços de antanho.
Vamos dia 14 de Setembro, renovar a vontade de nos reunir e que seja por muitos anos.
Um abraço do tamanho do rio Cumbijã!
Pela Comissão organizadora
Mário Fitas
Contactos: Telf. 214684787
Tlm 914908920
Tlm 965591915
E-Mail mariofitas@sapo.pt
Por correio: Rª. D. Bosco, 1106
2765-129 ESTORIL
Nota: Parte deste texto, foi extraído do livro "Guiné", publicado pelo então Ten. Coronel Costa Campos.
LOCAL – Este ano o nosso encontro vai ser em MAFRA
RESTAURANTE “ O CANGALHO”
(Seixal) estrada principal Mafra/Ericeira
PROGRAMA
Concentração frente ao Convento às 11H00
Almoço………………………...…………..…13H00
Bolo e Champanhe……...………..………16H00
PREÇO
Militares………………………………………………24 Euros
Familiares ……………………………..….…23 "
Crianças………até 4 anos..... grátis
de 5 a 9 anos…............10 “
INSCREVE-TE com antecedência
Procura contactar com outros companheiros e convence-os a estarem connosco.
__________
Nota de vb:
1. Mário Fitas, ex-Furriel Mil Op Esp da CCaç 763, Guiné 1965/66, autor de "Pami Na Dondo, A Guerrilheira" e "Putos, Gandulos e Guerra".
2. Artigo relacionado em
27 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3096: Os Nossos Seres, Saberes e Lazeres (2): Pirogravuras, de Mário Fitas
Guiné 63/74 - P3115: Blogpoesia (22): No mesmo navio, piscina e música em camarote de 1ª, suor nos porões...(José Belo)
Nesta distante, e voluntariamente isolada Escandinávia, quando o vento sopra do Sul…chegam saudades! Daí, o atrever-me a compartilhar com a Tabanca Grande dois "poemas" (!?!) de tempos idos.
O primeiro retirado do livro "Trinta Facadas de Raiva", do então Cap. Calvinho, deficiente das Forças Armadas, e meu companheiro de muitos caminhos.
O segundo foi, um dia, dedicado a todos os "Maiorais" da CCaç 2381, Guiné/68-70/, Ingoré-Buba-Aldeia Formosa-Mampatá-Empada.
Um abraço amigo do
José Belo
ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70
__________
O Uíge ao largo de Cabo Verde.
A VIAGEM
Que luxo! Viajar em camarote de primeira.
Que chique! Jantar, num salão de primeira, manjares de primeira.
Que pinta! Ter conjunto privativo, com piano, violino e tudo.
Que relaxante! Ter um bar flutuante onde, em fofos sofás e com ar condicionado, via jogar ao King, ao Bridge e ao Poker.
Que fino! Passar tardes tropicais em privativa piscina, tomando banhos em mar cativo.
Não longe, e no mesmo navio…
Que merda! Mais de dois mil soldados, escravos novos, enjaulados e com grilhetas na alma.
Que tédio! Centenas de homens suados, dormitam nos porões ao som da canção metálica que vem da casa das máquinas.
Que vida insuportável aquela vida de rato, que não levei mas...sentia.
(Ah! as minhas reminiscências de menino e moço, que me habituaram ao convívio dos percevejos, dos ratos e das pulgas...a empurrarem-me para o porão).
Ali jogava-se a vermelhinha, a sueca, o chincalhão, a bisca lambida, (a bisca dos nove era só para aqueles que tinham a quarta classe!).
De vez em quando, a lerpa originava cenas de porrada, e lá ia o Sr. Oficial de serviço ao barco...armado em Vasco da Gama...meter-se na vida e costumes do Povo.
SOLDADOS
Lutas de vida e morte apodrecem em páginas amarelecidas de velhos jornais guardados.
Memórias sem sentido por já não se "intercalarem"!
Gerações novas ignorando raízes de tanta dor.
Ideais morrem em círculos cada vez mais rápidos.
São outros os tempos!
Tempos de...aceitação. Para ti...é tarde!
E, em verdade, poderá um SOLDADO como tu algum dia regressar a casa?!
Joseph Belo
Estocolmo, 30Julho de 2008.
__________
Notas:
1. Fixação de texto: vb
2. artigos relacionados em
17 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2954: A guerra estava militarmente perdida? (18): José Belo.
22 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3084: Poemário do José Manuel (21): O recordar dos sentidos: como é bom ver, sentir, ouvir, cheirar, saborear, falar...
Guiné 63/74 - P3114: Blogoterapia (59): A Sombra do Pau Torto ou a notável capacidade de persistência e resistência de Carlos Schwarz (João Tunes)
Apesar de ainda vivo na memórias dos antigos guerrilheiros do PAIGC e das gentes do Cantanhez (como eu pude comprovar in loco), Cabral foi e continua a ser maltratado no país onde nasceu e por quem lutou até ao sacrifício da sua própria vida... O promenor pode ser anedótico, mas não de deixa de ser simbólico: até o C tiraram a Cabral, parece quer dizer o nosso amigo Pepito...
Foto: © Luís Graça (2008). Direitos reservados.
1. Reproduzido, com a devida vénia, do blogue do nosso amigo e camarada João Tunes > Água Lisa (6) > 1 de Agosto de 2008 > A Sombra do Pau Torto (*)
Carlos Schwarz da Silva, um engenheiro agrónomo nascido na Guiné-Bissau, com ascendências que misturaram sangues das mais variadas origens (caboverdiano, português, judeu, polaco) e que para a Guiné-Bissau regressou, quando jovem licenciado pelo Instituto Superior de Agronomia (Lisboa), para se dedicar à causa do desenvolvimento das populações do país que o viu nascer e que ele ama entranhadamente, sendo tão difícil, ali, onde a pobreza e o atraso dos povos se casaram com o desleixo, o gangsterismo e a corrupção (muitas destas maleitas são o que sobrou das terríveis experiências do “marxismo-leninismo africano”), resistir aos desenganos. E nota-se que, para resistir e persistir, Carlos Schwarz da Silva (“Pepito”, assim lhe chamam os amigos) ainda se ilumina no exemplo e na obra (incompleta, porque interrompida por Spínola, a PIDE e a traição de alguns dos “seus”) de outro agrónomo guineense, Amílcar Cabral.
Num notável texto autobiográfico, agora e aqui editado, Carlos Schwarz da Silva (na foto, tirada pelo seu e meu amigo Luís Graça) como que faz uma síntese da história épico-trágica da experiência da independência da Guiné-Bissau. Sem ponta de dúvida, uma leitura a não perder. A menos que se queira fechar os olhos à África de hoje, a África que os europeus deixaram aos africanos. E, nesta história, queira-se ou não, goste-se ou deteste-se, Portugal, nós, também entra(mos).
_________
Nota de L.G.:
(*) Tinha prometido a mim mesmo não dar sinais de vida nem, muito menos, aparecer por estas bandas durante o mês de Agosto, deixando as despesas da conversa bloguística aos meus/nossos abnegados e generosos co-editores Carlos Vinhal e Virgínio Briote... Mas não resisti ao reparo do João Tunes, que se queixa de ter enviado um comentário ao poste de 31 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3101: Histórias de vida (13): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos), comentário esse que, mais uma vez (!), se terá perdido na blogosfera...
Consultado o seu blogue - Água Lisa (6) - , o que faço com alguma regularidade, encontrei esta peça sobre o Pepito que, para além de nosso amigo e camarada, é uma das vozes mais lúcidas e corajosas da Guiné-Bissau. É da mais elementar justiça dar a conhecê-la, esta peça, ao próprio Pepito e aos demais amigos e camaradas da Guiné que fazem parte do nosso blogue.
O Pepito que está, em Portugal, com a família, a passar férias e a carregar baterias para mais um ano de trabalho à frente da sua AD - Acção para o Desenvolvimento, também precisa do nosso apoio, carinho e solidariedade. Vou, de resto, estar com ele, de novo, no dia 7, em São Martinho do Porto. Sei que o Pepito também deverá receber, no dia 19, uma missão especial dos Gringos de Guileje, com o Abílio Delgado e o Zé Carioca à cabeça... Não sei se lá poderei estar nesse dia, embora da Lourinhã a São Martinho do Porto seja perto... Logo se verá... De qualquer modo, no dia 7, levarei um abraço de toda a nossa Tabanca Grande a este homem que é grande, da cabeça aos pés, da alma ao coração...
Julgo que era basicamente este o comentário que o João Tunes nos enviou e que, por razões técnicas, que nos são alheias, não chegaram ao nosso conhecimento... O João de certo compreenderá que aos nossos pobres editores não pode ser imputado este erro (que já lhe ocorreu pelo menos duas vezes, ao tentar fazer comentários aos nossos postes; e que provavelmente já ocorreu a mais camaradas e amigos nossos; quando for assim, que nos contactem, por favor, por e-mail)...
Embora sujeitos a moderação, todos os comentários que nos chegam são imediatamente publicados, desde que (i) não contenham insultos pessoais e (ii) tragam elementos de identificação do autor (nome ou email). Que fique claro: em caso algum, fora destas duas regras elementares de boa ética e boa convivência, faremos censura aos comentários de quem quer que seja... Seria a total negação do espírito aberto, plural e solidário do nosso blogue... Boa continuação de férias, para os sortudos. Boa saúde, bom trabalho, para os demais. LG
terça-feira, 5 de agosto de 2008
Guiné 63/74 - P3113: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (4): As exéquias fúnebres (Idálio Reis)
Idálio Reis,
ex-Alf Mil
CCAÇ 2317
Gandembel/Balana,
1968/69
1. No dia 28 de Julho de 2008, recebemos uma mensagem do nosso camarada Idálio Reis, com um texto alusivo às exéquias fúnebres dos três camaradas Pára-quedistas caídos em combate em Maio de 1973.
Restos mortais dos nossos camaradas Pára-quedistas, Lourenço, Peixoto e Vitoriano, em câmara ardente na Igreja de N. Sra. do Rosário, em Lisboa.
Foto: © Mário Fitas (2008). Direitos reservados.
Meus caros Luís Graça, Carlos Vinhal e Virgínio Briote.
Neste fim-de-semana, a quase generalidade dos órgãos de comunicação social difundiram largamente os funerais dos 3 pára-quedistas mortos na Guiné, nas imediações de Guidage e aí enterrados, em Maio de 1973.
Ainda que a Tertúlia seja conhecedora de algumas das circunstâncias que contribuíram para que as trasladações fossem coroadas de sucesso, parece que os afins Poderes instituídos deste País assumiram uma postura bem condizente para com este colectivo acto fúnebre, ao prestarem uma honrosa e justa homenagem a 3 militares que há trinta e cinco anos haviam tombado ao serviço da Pátria.
É minha opinião que houve um elevado e nobre sentimento de dignidade no gesto prestado.
Mas, o Poder não poderia tomar outra atitude que não fosse esta mesma, aproveitando uma oportunidade única de trazer os restos mortais de 3 soldados tombados no tempo da guerra colonial, que inexoravelmente se vai dissipando na voragem dos tempos.
E havia que os entregar ao seio dos seus mais íntimos, com cumprimento e solenidade cerimoniais as mais apropriadas. E assim foi.
Mas, como chegam estes três homens, passados 35 anos?
Após um intenso trabalho de sapa, onde se deu a conhecer localmente aos familiares dos 3 pára-quedistas e lhes transmitiu as diligências que vinha encetando para resgatar os corpos dos seus ex-companheiros, e tendo ouvido das autoridades políticas e militares que não haveria suficiente capacidade financeira para a trasladação dos 8 militares então enterrados em Guidage (os 3 pára-quedistas com 5 elementos do Exército), a 27 de Junho de 2006 no Post 919 (1), o ex-Sargento Pára-quedista Manuel Rebocho lança este forte e pungente apelo:
- Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973.
A partir daqui, surge o eco amplo do Blogue, e o trilho confinado nos seus escolhos burocráticos, foi paulatinamente sendo alargado.
O País vai tomando conhecimento desta saga e abrem-se clareiras firmes no propósito de se atingirem os objectivos em causa, onde ressaltam a TVI com o nosso Vítor Tavares e mais tardiamente a SIC já com perspectivas bem delineadas e fundamentadas.
No fim do comovente funeral do José Lourenço, onde compareceram conterrâneos, Associações de Combatentes, Executivo Municipal e Junta de Freguesia, muitas Boinas Verdes, tive a felicidade de estar algum tempo com o Manuel Rebocho e o Vítor Tavares. Ambos tinham cumprido mais uma nobre missão e reterei para sempre o sentido e terno agradecimento que os familiares do Lourenço, muito em especial o dos seus pais, tiveram para com aquele homem, que me disse simplesmente que tinha cumprido o seu dever.
Reconheci nele, estar um homem de profundas convicções, de alguém com grande determinação e inabalável querer.
O Rebocho já nos tinha afirmado que não conhecia a palavra desistência. A sua tenaz e acrisolada persuasão, trouxe de volta os seus ex-companheiros Vitoriano, Peixoto e Lourenço, os mesmos que há tantos anos lhes prometera uma sepultura condigna para seu repouso eterno. E a sua obrigação acabara de se concretizar!
Recordo as palavras de alguém que um dia afirmou:
- A memória é a nossa única verdadeira defesa contra a traição e o abandono. Que enquanto se lembrar, está vivo. E ao estar vivo, vive, e assim não deixará morrer quem caminhou com ele, ao longo do caminho.
Uma forte lembrança para toda a Tertúlia, do
Idálio Reis.
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Notas de CV
(1) - Vd. poste de 28 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P919: Vamos trasladar os restos mortais dos nossos camaradas, enterrados em Guidage, em Maio de 1973 (Manuel Rebocho)
(2) - Vd. último poste da série de 4 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3111: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (3): Manuel Peixoto, Gião, Vila do Conde (Albano Costa)
Guiné 63/74 - P3112: História de vida (13): O meu amigo Nelson Batalha (Helder Sousa)
Helder Sousa
ex-Fur Mil de Transmissões TSF
Bissau e Piche
1970/72
1. Recentemente recebemos uma mensagem do nosso camarada Helder Sousa, contando uma História de Vida, desta feita do seu amigo e camarada, e nosso camarada também, Nelson Batalha.
Caros Editor e Co-Editores
Hoje vou dar-vos a conhecer um pouco mais do meu amigo Nelson Batalha, nosso camarada da Guiné que levei o ano passado ao Encontro da Tertúlia, em Pombal.
Já me referi a ele nas histórias que contei sobre a minha (nossa) viagem de Lisboa para Bissau, no Ambrizete, e também nos apontamentos que indiquei sobre os primeiros tempos passados nas Transmissões.
Acontece que este meu amigo não tem passado muito bem (acho que é vulgar dizer-se isso sobre quem esteve em teatro de guerra...), tem problemas de alzheimer (ainda não muito desenvolvidos) e nunca recuperou bem depois de ter acabado a sua profissão (era Despachante Alfandegário), sendo que da guerra da Guiné ainda guarda no corpo alguns estilhaços que foram absorvidos pela massa muscular, estilhaços esses adquiridos em Catió aquando do ataque a esse aquartelamento/povoação em Abril de 1971 (salvo erro a 13 ou 14).
Isto vem a propósito do seu aniversário, que foi no passado dia 15 de Junho, e que mais uma vez me deixou um pouco deprimido pela impotência que sinto em não o poder ajudar mais.
2. O meu amigo Nelson Batalha
Fomos para a Guiné juntos no mesmo barco (com o Manuel M. Martins) e em Bissau juntaram-se os outros 4 elementos do mesmo curso de TSF, num total de 7 rendições individuais que tiveram destinos diversos.
Assim, o Fur Mil António Calmeiro conseguiu ser colocado em apoio administrativo, os Fur Mil Eduardo Pinto e José Fanha (isso, primo do famoso dos concursos da televisão) ficaram adstritos à Companhia de Transmissões onde foram dar corpo à criação e desenvolvimento do aqui já referido Centro de Escuta da Guerra Electrónica e eu, o Nélson, o Martinho e também o Fur Mil Dutra Figueiredo ficámos a receber instrução específica e dedicada no STM para depois seguirmos para Postos no mato. O Dutra foi para Farim, o Martinho para Tite e eu e o Nelson Jogámos às moedas para ver quem ia para Piche (fui eu) ou para Catió (foi ele).
O nosso conhecimento já era anterior à da incorporação na vida militar. Ou melhor, ele já me conhecia, eu nem tanto no que a ele dizia respeito, pois ambos estudávamos no velho Instituto Industrial de Lisboa mas eu teria eventualmente mais alguma visibilidade por via da minha participação na vida associativa estudantil, apesar de cultivar sempre o low profile.
Certo dia (melhor, certa noite) de Agosto de 1970, estando nós no Porto, no antigo Regimento de Transmissões situado junto ao Jardim da Arca d'Água, onde dávamos instrução a várias fornadas de futuros telegrafistas, fomos ficando à conversa sobre diversos assuntos, fazendo tempo para a hora da ronda (a minha seria às 24 horas). Nessa conversa, para além de nós os dois, estava também pelo menos um dos dois colegas de curso que eram naturais do Porto e que iriam naturalmente pernoitar a casa, excepto quando tinham serviço, o José A. Reis e o Fernando Cruz, por sinal excelentes amigos e bons camaradas. O Reis não chegou a ser mobilizado e o Cruz foi para Nampula, Moçambique.
Ora acontece que o Nélson era conhecedor das minhas opiniões quanto à justeza da guerra, sabia do meu empenhamento no movimento associativo estudantil e eu, por meu lado, também conhecia a propensão que ele por vezes tinha para a provocaçãozinha, para a ligeireza no abordar dos assuntos, para avacalhar as conversas. Daí que, pesando tudo isso, não me importei muito quando ele, a partir de certa altura, começou a arrancar com o festival de alarvidades com que foi mimando a nossa conversa, pois isso dáva-me oportunidade para, ao argumentar contra o que ele dizia, ir fazendo a defesa das posições que achava justas e ir fazendo passar as minhas convicções, com todas as cautelas possíveis, não esquecendo que se estava em 1970 e num quartel...
O que eu não contava era que me deixei enredar nas provocações e (lembro-me bem) apesar de perceber que estava a morder o anzol estava a deixar-me ir na onda e as coisas azedaram mesmo! Ele, só para me provocar e puxar por mim (disse-me depois), socorria-se de tudo o que era o mais reaccionário possível, do tipo fazíamos muito bem em ir defender a Pátria em África porque aqueles territórios eram nossos por direito divino, que era sabido que os pretos eram naturalmente inferiores, que de acordo com a teoria da evolução humana descendíamos dos macacos e a prova disso eram os pretos, que estavam entre os símios e os homens, que aqueles que se opunham à guerra estavam a soldo de potências estrangeiras, para fins inconfessáveis e outras bojardas do mesmo quilate.
Fui defendendo os meus pontos de vista com a serenidade possível mas a certa altura, com toda a camarata a dormir (impossível, porque o tom de voz tínha-se elevado pelo empolgamento que a situação proporcionou), excepto os três ou quatro que mantínhamos a discussão, acalmei, e disse-lhe muito solenemente:
- Olha Batalha, tu não acreditas que vai haver uma revolução, mas podes ter a certeza que isso vai acontecer, não te posso dizer quando, mas que vai haver, lá isso vai, e nessa ocasião, a manteres esses pontos de vista, vamos estar em lados opostos da barricada e desde já te garanto e aviso, se tiver que enfiar um tiro nessa tua cabeça dura podes crer que o farei!
Como é natural, houve por breves instantes um silêncio ensurdecedor, depois todos os que dormiam começaram a agitar-se para ver se iria haver algum drama, o que não aconteceu, pois fui fazer a ronda...
A minha amizade pelo Nélson Batalha deve ter começado a cimentar-se naqueles instantes. Deve-se ter feito juz ao velho ditado queres um amigo, dá-lhe porrada. Pelo Cruz e pelo Reis o meu respeito, admiração e carinho são, ainda hoje, enormes. O Nélson é o meu padrinho de casamento (e não só) e vê-lo a perder faculdades dá-me um aperto que acho que precisei de relembrar este episódio para tentar ultrapassar a tristeza.
Que conclusões tirar?
Que a amizade não tem limites?
Que tenho jeito para premonições, porque previ o 25 de Abril quase 4 anos antes?
Que é sempre bom ser assertivo e não contemporizar com as situações com que não se concorda?
Pois, meus amigos, colham vocês as vossas próprias conclusões, que isto é suficientemente plural para cada um tirar a sua!
Um abraço e até breve!
Hélder Sousa
Fur Mil Transmissões TSF
Bissau > Restaurante Pelicano > Helder Sousa, Fernando Roque e Nelson Batalha
Bissau > Santa Luzia > Messe dos Oficiais > Nelson Batalha, Helder Sousa e José Fanha
Fotos: © Helder Sousa (2008). Direitos reservados.
Pombal, 2007 > Nesta foto, o nosso camarada Nelson Batalha está assinalado com a elipse encarnada
Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.
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Nota de CV
(1) - Vd. último poste da série de 31 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3101: Histórias de vida (13): Desistir é perder, recomeçar é vencer (Carlos Schwarz, 'Pepito', para os amigos)
segunda-feira, 4 de agosto de 2008
Guiné 63/74 - P3111: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (3): Manuel Peixoto, Gião, Vila do Conde (Albano Costa)
Caros editores
Estive no funeral do Pára-quedista, Manuel Peixoto, de Gião, Vila do Conde. Fiquei bastante emocionado com a recepção feita pelos Pára-quedistas ao seu ex-companheiro, que esteve longe da sua terra natal durante 35 anos, como todos nós sabemos.
Estes momentos costumam ser sempre de tristeza, mas desta vez o que senti, foi uma mescla de várias coisas, alegria pela chegada de um filho à sua terra, pela sua família, - irmã e sobrinhos com quem falei -, e por toda a população de Gião que assistiu, mesmo por aqueles que não o conheceram em vida.
Mas também senti tristeza, lembrei-me dos familiares dos restantes cinco militares portugueses (metropolitanos) que foram exumados, de Guidage para Bissau e não regressaram a Portugal. Lembrei-me muito dessas famílias, como estariam a passar ao verem o regresso de uns, porque não os seus também!...
Não estavam a lutar pelos mesmo objectivos, no mesmo sítio e na mesma altura?
Fiz um registo de 30 fotos da chegada do Peixoto à sua terra de origem, para finalmente descansar em paz junto dos seus.
Um abraço de amizade
Albano Costa
Foto 1 > Na cerimónia estiveram presentes autoridades civis e militares de Vila do Conde. Do lado direito da foto, em primeiro plano, Dr. Mário Almeida, Presidente da Câmara Municipal de Vila do Conde.
Foto 2 > Capelão da Força Aérea que presidiu às cerimónias religiosas
Foto 3 > Restos mortais do Soldado Pára-quedista Manuel Peixoto
Foto 4 > Os Pára-quedistas que assistiam à Missa. Entre eles, o nosso tertuliano Magalhães Ribeiro.
Foto 5 > Deixando a Igreja, agora levado por Veteranos.
Foto 6 > Idem
Foto 7 > Caminhando para a sua última morada
Fotos e legendas: © Albano Costa (2008). Direitos reservados.
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Notas de CV
Vd. Postes de 2 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3105: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (1): Artigo do DN (Afonso Sousa)
e
3 de Agosto de 2008 > Guiné 63/74 - P3108: Os funerais dos nossos camaradas Pára-quedistas (2): Cerimónias nacionais na Igreja N. Sra. do Rosário, em Lisboa (Mário Fitas)
Guiné 63/74 - P3110: Estórias do Juvenal Amado (13): Pela calada da noite
Ex-1.º Cabo Condutor
CCS/BCAÇ 3872
Galomaro
1972/74
1. Em mensagem de 29 de Julho, recebemos do nosso camarada Juvenal Amado, mais uma das suas habituais estórias (1).
Caros camaradas
Carlos Vinhal, Luís Graça, Virgínio Briote e restante Tabanca
Como já disse ainda estou lá.
Esta estória é um pouco a história de todos que embarcaram naqueles anos cinzentos.
Tão jovens depressa envelhecemos interiormente.
Um abraço para todos
Juvenal Amado
2. Pela calada da noite
Por Juvenal Amado
No campo militar de Sta. Margarida, o frio naquele mês de Novembro trespassava-me a ponto de me fardar com botas e tudo, depois deitar-me novamente.
Não foi pois com desgosto que disse adeus a CIME e ao seu comandante o Coronel Maçanita.
Nunca tive dúvida de que seria mobilizado. Em pensamentos antecipados pensava em Moçambique, onde tinha já prestado serviço militar o meu irmão mais velho.
Talvez Angola, onde até tinha família. Mas…
Fui mandado regressar a Abrantes já sabendo que tinha sido mobilizado, não sabia ainda para onde.
Depressa me tiraram as duvidas… Guiné esse nome tão temido.
Quando cheguei a casa com dois sacos verdes, a minha mãe olhou-me no cimo das escadas e perguntou-me num fio de voz:
- Para onde ?
Senti-me tentado em dizer-lhe, que ia para outro sítio qualquer. Não podia esconder-lhe e brinquei com o facto, tentando apagar o pânico que vi nos seus olhos.
- Mãe ainda vou fazer o IAO, depois ainda venho de férias e só depois embarco.
Tentei fazer passar a ideia, de que passaria o Natal e talvez para Fevereiro ou Março eu rumaria às terras da Guiné.
As férias passaram a correr, aliás quanto mais me aproximava da data de regresso a Abrantes, mais desejoso de partir estava. Sou incapaz de estar naquele meio termo.
O meu pai e a minha mãe pediram-me que escrevesse sempre. Despedi-me:
- Até para a semana, pois decerto venho passar o Natal a casa, menti eu.
Entrei na Porta de Armas naquela madrugada escura e cinzenta. O vulto da 4 L verde-escuro foi ficando mais longe, mas sempre um braço se agitava num longo adeus.
Dobrei a esquina da caserna, esperei um pouco e voltei a espreitar. Lá estava a 4 L imóvel, talvez à espera que o tempo voltasse a trás e eu entrasse nela, de regresso a casa.
Penso que eles se aperceberam que o embarque, já estava marcado e que não me voltariam a ver tão cedo.
Foram poucos os dias que tivemos até à data do embarque, mas deu para cimentar algumas amizades que ainda duram.
Quando entrei na caserna ouvi chamar com aquela pronúncia do Norte:
- Condutor, oh condutor, tens aqui lugar, traz as tuas coisas para a nossa beira.
Na verdade nós já nos conhecíamos, pois tínhamos vindo do RI 6 do Porto para Abrantes no mesmo combóio, quando todos acabamos as nossas respectivas especialidades. O Ivo, Ermesinde, Lo…pes, Silva, Félix, Ferreira, Passos, Dias e o Leo, todos do Pelotão de Reconhecimento e Informação.
Assim fui adoptado pelo Pelotão e só mais tarde vim a conhecer os meus camaradas da ferrugem. Ainda ouvi bocas de que eu tinha desprezado o meu Pelotão. Na verdade, acabei por ir parar a outro abrigo, onde se arrumaram os camaradas das mais variadas especialidades, que não tiveram lugar nos abrigos dos seus pelotões.
Mas voltando a Abrantes, todas as noites aquele grupo saía, bebíamos uns copos, só voltando para o quartel quando já estavam a fechar a Porta de Armas de vez.
Invariavelmente de manhã só me levantava após a visita de algum graduado e mesmo assim, quando ele virava costas deitava-me outra vez. Assim passava o capitão, batia na cama com uma varinha e chamava:
- Oh Zé das canas, então, não te levantas?
Estas visitas já faziam parte do nosso dia-a-dia.
Foi assim que uma manhã, o oficial de dia entrou com aquela desenvoltura dos Operações Especiais a gritar:
- Está a levantar e quem não se levantar rapidamente leva uma porrada, que vai parar à Guiné.
Chegou ao pé da minha cama e gritou-me:
- Oh nosso cabo, dê cá já o seu número.
Sonolento e cheio de frio, respondi-lhe que só lho dava se ele o mandasse dourar.
O Alferes Armandinho fingiu que não ouviu. Assim ele não tivesse ouvido a ordem que o levou ao encontro da morte mais os seus homens no dia 17 de Abril de 1972 na emboscada do Quirafo (2).
Mandaram que nós arrumássemos as nossas coisas e despejássemos a caserna até às 22 horas. Para não haver dúvida, passaram revista à e fecharam a porta à chave.
Ali ficamos sentados nos sacos e mais bagagem, até cerca da meia-noite.
As Morris, Berliets e Unimogs começaram a faina de nos acarretar para Estação dos Caminhos de Ferro, no Rossio ao Sul do Tejo.
É tudo feito pela calada da noite.
Metidos em combóio especial, só paramos em Lisboa em Sta. Apolónia ainda é noite. Já lá estão os transportes para nos levar até ao cais de Alcântara. Amanhece, mas é uma luz parda com névoa, que paira sobre o rio Tejo ali ao lado.
Uma cozinha de campanha distribui café com leite e pão para o pequeno almoço.
O Angra do Heroísmo já espera por nós. A cidade acorda lentamente, mas mais um embarque, depois de 10 anos a ver partir barcos carregados de jovens, já não causa qualquer interesse nem curiosidade.
Foto 1 > Lisboa 18 de Dezembro de 1971 > O Angra do Heroísmo espera por nós
Não tinha avisado ninguém da data da partida, mas à última hora deu-me vontade ter alguém a quem dar um abraço, que dissesse aos meus pais e irmãos que eu tinha embarcado bem. Telefonei ao meu tio Armando, que em 15 minutos já estava ao pé de mim. Veio com ele a minha prima. Conversámos, entreguei-lhe uma carta para ele meter nos correios, mas com a condição de não dizer que tinha estado comigo até a mesma chegar ao destino.
Quando os meus pais receberam a carta, já estava com dois dias de mar alto.
Vem a ordem para se começar a embarcar por Companhias, olho em volta o nevoeiro que não deixa ver para além de duzentos metros.
Subo para o navio, fico a olhar para o cais onde se dão os últimos abraços, ainda se contêm as lágrimas.
Já estamos todos a bordo.
O navio solta três vezes o urro das suas sirenes.
Um alarido percorre aquela mancha verde de soldados, já estamos afastados do cais. Um enorme e estrondoso silvo de assobios ecoa pelo cais, olho para esplanada do mesmo e vejo os lenços, a mole humana parece varrida por uma rajada, vão tombando aqui e ali as mães, irmãs e namoradas que tinham até ali resistido ao seu próprio drama.
O nevoeiro foi engolindo Lisboa, ainda se vê ou está gravado nos meus olhos aquela mancha cinzenta do cais com braços acenando.
Foto 2 > Já a bordo do Angra do Heroísmo, a caminho da Guiné
Quando voltar a esse lugar, será de certo num dia mais feliz, mas nunca apagará da minha memória a enorme tristeza da partida.
Juvenal Amado
ex-1º Cabo Condutor
CCS /BCAÇ 3872
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Notas de CV
(1) - Vd. último poste da série de 17 de Julho de 2008 > Guiné 63/74 - P3067: Estórias do Juvenal Amado (12): O longo abraço (Juvenal Amado)
(2) - Sobre a tragédia do Quirafo, Vd. postes de:
23 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P980: A tragédia do Quirafo (Parte I): o capitão-proveta Lourenço (Paulo Santiago)
25 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P986: A tragédia do Quirafo (Parte II): a ida premonitória à foz do Rio Cantoro (Paulo Santiago)
26 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P990: A tragédia do Quirafo (parte III): a fatídica segunda-feira, 17 de Abril de 1972 (Paulo Santiago)
28 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1000: A tragédia do Quirafo (Parte IV): Spínola no Saltinho (Paulo Santiago
15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1077: A tragédia do Quirafo (Parte V): eles comem tudo! (Paulo Santiago)