quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17071: O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande (108): O reencontro, através do nosso blogue, de dois camaradas da Polícia Aérea, BA 12, Bissalanca, 1972/74: os ex-alf mil Francisco Feijão de Oliveira, nosso próximo grã-tabanqueiro, e o nosso grã-tabanqueiro Eduardo Jorge Ferreira

1. Mensagem do nosso leitor e camarada Francisco Feijão de Oliveira, com data de 20 do corrente:

Meus Caros

Estive na Guiné de 1972 a 1974 na Base Aérea n.º 12, como Alferes Miliciano.

Que devo fazer para pertencer à vossa Tabanca?

Abraço
Francisco Feijão

2. R
esposta dos nossos editores:


Olá,  Francisco: é muito simples, mandas duas fotos, uma do teu tempo de tropa ou de guerra, e outra atual, além de uma pequena apresentação da tua pessoa, com um breve CV militar...

Se tiveres fotos e histórias para partilhar, melhor ainda... Somos já 736 camaradas e amigos ("paisanos", menos de 10%, sobretudo filhos e outros familiares de camaradas falecidos, malta da Guiné, investigadores...), dos quais 52 infelizmente já morreram, desde 2004, ano em que nasceu a Tabanca Grande... Também estamos no Facebook: Tabanca Grande

Do teu tempo da BA12, devemos conhecer ou lembrar-te de camaradas como os pilav Miguel Pessoa e António Martins de Matos ou o alf mil PA Eduardo Ferreira Jorge... Vou-lhes dar conhecimento... (Mas temos mais malta da Força Aérea, malta do BCP 12 e enfermeiras paraquedistas.)

Somos um blogue de partilha de memórias (e de afetos). Como camaradas que somos, tratamo-nos por tu... E costumamos reunir-nos todos os anos em Monte Real, na primavera... Este ano será a 29 de abril... Sê bem vindo à Tabanca Grande..

Um alfabravo do
Luís Graça


3. Resposta do Francisco Feijão:

Do Miguel lembro-me bem pelas razões, sobejamente conhecidas, da sua história na Guiné. Ao Eduardo conheço ainda melhor porque era meu comandante de pelotão na 1.ª Companhia da PA.

Vou arranjar as fotos e enviá-las com o tal descritivo da minha passagem pelas Forças Armadas..

Abraço
Francisco Feijã


4. Comentário do Eduardo Jorge Ferreira [ex-alf mil, Polícia Aérea,  BA 12, Bissalanca, 1973/74, presidente da assembleia geral da Associação para a Memória da Batalha do Vimeiro]

Data: 21 de fevereiro de 2017 às 01:36

Assunto: Tabanca Grande

Boa noite aos dois - meu grande amigo Luís e meu antigo camarada e Comandante de Companhia (a 1ª) da PA da BA 12, Feijão de Oliveira.

Realmente, é bem verdade o que se afirma no blogue: "O mundo é pequeno e a ... nossa tabanca é grande"! Longe estava eu de dar de caras com o Feijão e ele aparece-me no meu mail graças ao Luís Graça.

Já desesperava de "encontrar" mais camaradas da BA12 do meu tempo pois além de alguns Especialistas (que também vou encontrando no respetivo blogue) só tenho mantido contacto (muito pouco, infelizmente) com o [Miguel] Pessoa, o Martins de Matos e a Giselda, frequentadores assíduos da Tabanca Grande e das suas atividades. Mas pilotos, eles, e a Giselda, enfermeira paraquedista muito pouco tempo lhes sobrava para conviver com os camaradas de outras especialidades.

Agora com o Feijão o caso é bem diferente pois partilhávamos os mesmos espaços e as mesmas preocupações no dia a dia, quase posso afirmar, na hora a hora. Nós, os 9 alferes milicianos da Esquadre de Defesa Terrestre da Base éramos bem unidos pese embora o facto de irmos em rendição individual (assim como todos os soldados, sargentos e demais oficiais) e termos frequentado incorporações diferentes. E daí regressarmos em datas diferentes sem contactos uns dos outros e por isso com muito poucas probabilidades de organizar encontros anuais como os camaradas dos outros ramos.

Foi com muita alegria que li o mail do Luís a dar as boas vindas ao novo - assim o espero - Grã-tabanqueiro Feijão de Oliveira! Também eu te dou as Boas vindas e espero com ansiedade o momento de nos reencontrarmos.

Por sinal visitei o Feijão, não sei se te recordas, uns breves anitos depois da vinda da Guiné, no seu/teu local de trabalho no Calhariz em Lisboa. E apenas reencontrei há meses, um camarada desse tempo, o Sérgio Vaz. Dos restantes nada mais sei.

Um grande abraço aos dois
Eduardo Jorge Ferreira
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terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17070: Convívios (778): XI Encontro dos Combatentes da Guerra do Ultramar do Concelho de Matosinhos, a realizar-se no próximo dia 11 de Março de 2017, em Leça da Palmeira (Carlos Vinhal)



XI CONVÍVIO DOS COMBATENTES DA GUERRA DO ULTRAMAR DO
CONCELHO DE MATOSINHOS

DIA 11 DE MARÇO DE 2017
LEÇA DA PALMEIRA

O dia começará às 11 horas da manhã com uma Missa de Sufrágio, celebrada pelo senhor Padre Marcelino, na Capela do Ruas, pelos camaradas caídos em Campanha e pelos que regressados, ao longo do tempo nos foram deixando. Lembramos a propósito que em 2016 partiram os nossos saudosos amigos José Eduardo Alves e Manuel Castanheira.

Depois da foto de família começará o convívio com o almoço servido, às 13 horas no Tryp Expo Porto Hotel, o mesmo do ano passado, junto à Exponor, com o mesmo preço também, 20€. 

Da ementa constarão: 
Entradas variadas, 
Sopa
Bacalhau com broa
Grelhada mista de carnes 
Sobremesas variadas
Vinhos tintos e brancos, cerveja, água mineral e refrigerantes
Café
Bolo comemorativo e espumante

Durante a tarde haverá animação musical a cargo do Grupo Coral do Núcleo de Matosinhos da Liga dos Combatentes, assim como dos espontâneos que a isso se propuserem.

As inscrições estão já abertas, podendo ser feitas para:

Carlos Vinhal - 916 032 220
Ribeiro Agostinho - 969 023 731
email: combatentesdematosinhos@gmail.com

Chamamos a atenção para a lotação da sala, máximo 120 pessoas.

Camarada Combatente, traz outro camarada, traz a tua família!!!

Os organizadores
Abel Santos
Francisco Oliveira
Ribeiro Agostinho
Carlos Vinhal
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Nota do editor

Último poste da série de 20 de Fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17067: Convívios (777): Encontro do pessoal do BCAV 3846, a realizar-se no próximo dia 12 de Março em Ourém (Delfim Rodrigues)

Guiné 61/74 - P17069: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (26): Sonhos em perigo

Furriéis da CART 1689 na Av. de Bissau, no final da comissão. Silva, Campos, Valente, Carvalho, Lopes, Miranda, Cepa, Borges e Faria.


1. O nosso camarada José Ferreira da Silva (ex-Fur Mil Op Esp da CART 1689/BART 1913, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), em mensagem do dia 17 de Fevereiro de 2017 enviou-nos mais uma das suas outras memórias da guerra.


Outras memórias da minha guerra

25 - Sonhos em perigo

Aqueles pesadelos que nos atormentavam as noites, durante os primeiros meses, foram-se diluindo e amenizando à medida que o tempo ia passando. Pelo caminho, ficavam os intermináveis dias de sofrimento, carregados de angústia, de tristeza e de medo. Por melhores que fossem os camaradas e por maiores que fossem as bebedeiras, nada nos fazia esquecer os dias mais marcantes das nossas vidas.

Com a aproximação do fim da comissão acentuavam-se os anseios pela concretização dos nossos principais sonhos. Não havia dia nem hora em que não nos imaginássemos num outro mundo cheiinho de projectos, onde a felicidade é obrigatória. As habituais manifestações de lamento e de revolta deram lugar à vontade de cada um falar dos seus próximos projectos. Tudo coisas bem pensadas e aparentemente de fácil resolução. Paralelamente, íamos antegozando a alegria do regresso, recuperando, desta forma, a alegria de viver que nos fora roubada.

Foi a 3 de Dezembro de 1968 que a nossa CART 1689 iniciou o seu percurso do ansiado regresso. Ficámos em Bambadinca e no dia 5 dali seguiram para Bissau mais de 2/3 dos nossos camaradas. Eu e os restantes, ficámos ali à espera de novo transporte fluvial até ao dia 9.


Militares da CART 1689 na barcaça de transporte de Bambadinca para Bissau.

Embora o ambiente fosse de paz e de relaxamento, nós, os que ficámos em terra, sentimos algum refreamento na alegria que vínhamos vivendo e muita angústia nos dias seguintes. E, tal como acontecera nos dias anteriores a 1 de Maio de 1967, quando outros militares esperavam no cais pela chegada do “seu” barco, lá estávamos nós na situação invertida, olhando de manhã à noite, para o horizonte do Rio Geba, a reclamar, ansiosamente, pela chegada do “nosso”.

Depois do jantar, não apetecia ir para a cama, nem havia sono que chegasse. Eram horas de espera em que a “sede” se acentuava.

Precisamente na véspera (dia 8), fui chamado por um Furriel (de serviço) da tropa local, para ajudar a resolver uma situação anormal, com possibilidade de consequências dramáticas. Sussurrou-se no bar que na casa do Comando, haviam visto uma senhora branca, curiosidade difícil de admitir pelos nossos militares, porque não as viam (mulheres brancas) há cerca de 20 meses.

O Areosa, já com um copito, exteriorizando um exagerado à vontade, não acatou o conselho/ordem/advertência do Furriel e, armado em conquistador, parou por ali e continuava a lançar piropos, à moda do norte e em voz alta. Fiquei preocupado com o seu comportamento, agravado com a desobediência e desrespeito ao Furriel. Puxei o Areosa e empurrei-o para que saísse dali. Claro que me devo ter excedido em linguagem para com o Areosa, mas teria que o libertar de uma provável participação do Furriel. Por outro lado, desta forma, assumi a responsabilidade da condenação de tal comportamento.

O Areosa, possivelmente ferido no seu orgulho, acabou por acelerar o passo e adiantar-se de mim. Ia a praguejar e, de repente, correu na direcção onde os nossos militares estavam acantonados com os seus haveres. Pegou numa G3, veio para o meio da rua, virou-se na minha direcção. Nunca esquecerei aquela imagem, iluminada pelo luar, mais parecendo uma cena de um duelo de “cowboys”, no Texas. Apontou-me a arma, em posição de tiro instintivo e gritou:
- Vou-te matar! Vais com o caralho!

Como não parei, ele repetiu o grito, ao mesmo tempo que puxou o gatilho. Não houve disparo porque não havia bala na câmara. Porém, quando ouvi o estalido, fiquei fora de controlo e avancei sobre ele, a murro e a pontapé. Valeu-lhe a malta que se envolveu a afastar-me.

Foi uma noite muito mal dormida, a última vivida no interior da Guiné. Massacravam-me a cabeça um montão de coisas. Podia ter sido atingido por um soldado do meu próprio grupo. Nós, que tivemos em comum tantas lutas contra o IN. E eu que estava convencido de que o Areosa era um dos militares mais dedicados.

Logo de manhã, apercebi-me da excitação dos militares. A barcaça já se avistava ao longe e ninguém parava naquele alegre frenesim. Apenas o Areosa estava parado. Estava à minha espera e, cabisbaixo, abeirou-se mais de mim:
- Ó Silva, estou aqui sem dormir. Quero pedir-lhe perdão pelo meu comportamento de ontem. Sabe que nunca tive nada contra si. Tem de me perdoar.

Eu não sabia que dizer, nem o que cobrar.
E ele continuou:
- Eu estava “alegre”, comecei a cantar e veio o caralho do Furriel gozar comigo. Fiquei ainda mais fodido quando chamou por si. Pensava que o Silva me ia defender e ainda ajudou à missa. Eu estava tão marado que nem vi que você me estava a safar. Sempre que bebo um copo a mais, faço merda.

Este dia 9 de Dezembro também foi muito marcante. As fortes emoções parecem ter sido abençoadas pela brisa refrescante que nos acariciava, cada vez mais, à medida que nos aproximávamos de Bissau. Até deu para relaxar e descansar na viagem.

Chegados a Bissau, foi o reencontro de toda a família da CART 1689. Parecia que já estávamos salvos. Foi, possivelmente, o dia mais alegre que lá sentimos. E eu fiquei duplamente feliz e grato porque o grupo dos Furriéis estava à minha espera para exteriorizar tanta alegria. Foi uma noite de arromba. Quase não se dormiu naquele quarto do Quartel-General, onde se meteram 8 camas (!), para ficarmos juntos até ao ansiado regresso. Um tanto contra a corrente de alegria, o nosso Primeiro Viscoso, com o seu permanente aspecto trombudo, continuava a procurar ensombrar a alegria dos outros, especialmente a dos Furriéis.

Logo de manhã, fomos convocados para uma reunião com o 2.º Comandante do Quartel-General. Fomos perdoados e compreendidos pelos excessos, mas avisados de que teríamos que respeitar o silêncio a partir da meia-noite. Foi o Viscoso quem fez a queixa. Havia-se aproveitado da ausência do Capitão da nossa CART e, ultrapassando os nossos Alferes, foi-se “armar” junto do Comando do QG.

Entre os serviços e as folgas, o tempo passava-se da melhor forma. Porém, o Primeiro Viscoso continuava atento e pronto para destilar o seu ódio aos milicianos, especialmente aos que não lhe falavam (que era o meu caso).

Faltavam menos de 15 dias para o regresso. Estava eu de serviço no QG e as orientações superiores eram que, numa Companhia de 150 militares, apenas um terço estava autorizada a sair do Quartel. Ordens são ordens, mas nem sempre se levavam à risca, especialmente em quartel de maior acalmia.

Ora, os soldados, mesmo sem dispensa, procuravam “desenfiar-se”. Por norma e lealdade, antes do “desenfianço”, cada um perguntava se podia sair. E eu só lhes dizia: Se acontecer alguma coisa, avisem logo, porque tenho que fazer o relatório das anomalias antes das 8H00 horas (hora do render da guarda). Era arriscado, mas, como estávamos nos últimos dias, sentia-me bem com a satisfação da “malta”.

- Aquele que vai ali não é o Tripeiro? - perguntava o 1.º Sargento ao Sargento que o acompanhava, ambos a passear na avenida do Pilão.
- É mesmo, respondeu-lhe.
- Ouve lá, ó Tripeiro, anda cá - chamou - Como é que andas cá fora, se estás detido, e sem qualquer dispensa?
- Sabe, é o Furriel Silva que está de serviço e com ele não há problema. É um gajo porreiro – confiou o Tripeiro.
- Ah, sim? Então quando é o Furriel Silva, é tudo à balda? – questionava de, fala amolecida, o Viscoso, que, para melhor tirar dele, aproveitou para lhe pagar uma cerveja no Bar Jagudi.

Era caso de admiração, porque o somítico, para não gastar um tostão, só bebia água del cano. Cerveja só se alguém lhe pagasse. E assim, estando no Bar a beber, também se mostrava à nossa tropa, a confraternizar!

- Silva, acorda que estás fodido. O detido, o Tripeiro, foi visto pelo Primeiro perto do Pilão – alertou-me, bastante aflito, o Campos.

Virei-me para o outro lado e, meio a dormir e meio acordado, devo ter-lhe respondido mais ou menos:
- Caga nisso, que eu cago no Primeiro.

Seriam cerca de 8h30 quando entraram no meu quarto o Machado e o Faria, e em tom muito sério, dispararam:
- Olha que o Primeiro esteve à espera para ver se apresentavas faltas até ao render da guarda. Agora está a fazer uma participação contra ti, por o Tripeiro andar a passear em Bissau. Já mandou chamar o Tripeiro para depor. E aquele gajo, que gosta tanto de ti, vai-te foder. Mexe-te rapidamente.

Vi num relance a gravidade da situação. Mas, que hei-de fazer? (questionava-me repetidamente). Tantas vezes debaixo de fogo, estava, afinal, numa outra situação perigosa. Tudo de mau me vinha à cabeça e por momentos fiquei paralisado. Qualquer processo naquela altura iria obrigar-me a ficar na Guiné, como tantos outros condenados, e precisamente no momento mais ansiado e carregado de projectos. Havia de aparecer aquele filho da mãe a lançar, mais uma vez, a peçonha, a sua inveja e a gozar com o sofrimento alheio.

Assaltou-me uma ideia. Dirigi-me rápido à caserna e vi que os soldados pareciam já estar à minha espera, adivinhando o que me ia na mente. Logo ali, à entrada, perguntei em voz alta:
- Atenção malta, Vocês viram ou não viram o Tripeiro, ontem, no recolher obrigatório?

A resposta surgiu unânime e categórica:
- Vimos! - Por acaso ele até estava mesmo à minha beira – respondeu logo em voz alta e firme o Cabo Felgueiras.
- Ok, era só isso. E afastei-me. (Por sinal o Cabo Felgueiras não tinha estado na formatura do recolher.)

Assim, o Viscoso não conseguiu testemunhas para promover o processo. E o próprio Tripeiro, chamado a depor, também negou tudo, incluindo a cerveja que tanto havia custado a esse nosso querido Primeiro-Sargento.
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Nota do editor

Último poste da série de 9 de agosto de 2016 > Guiné 63/74 - P16374: Outras memórias da minha guerra (José Ferreira da Silva) (25): Relatório de Operações do último almoço-convívio da CART 1689

Guiné 61/74 - P17068: Álbum fotográfico de Luís Mourato Oliveira, ex-alf mil, CCAÇ 4740 (Cufar, dez 72 / jul 73) e Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, jul 73 /ago 74) (11): Bambadinca, o porto fluvial, onde atracavam os heróicos e lendários "barcos turras"


Foto nº 1 


Foto nº 1A


Foto nº 1B


Foto nº 2


Foto nº 2 A


Foto  nº 2B

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > c. 1973/74 > Rio Geba Estreito, porto fluvial, visto da margem esquerda (do lado de Finete e Missirá)...

Parece que a grua do nosso tempo (novembro de 1969, a autogrua Galion)  terá sido substituída (?)... Ou então não aparece na foto... È possível que, com o aumento do tráfego fluvial, o porto de Bambadinca se tenha modernizadio em  termos de equipamentos... A grua, com cabine, era mais potente que a Galion (?)... Pelo menos parece ter um braço maior....


Foto nº 2 C


Foto nº 2 D

Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Setor L1 > Bambadinca > c. 1973/74 > Rio Geba Estreito, porto fluvial, visto da margem direita

Fotos (e legenda): © Luís Mourato Oliveira (2016). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné].


1. Continuação da publicação do extenso e valioso álbum fotográfico do Luís Mourato Oliveira, nosso grã-tabanqueiro, que foi alf mil da CCAÇ 4740 (Cufar, 1972/73) e do Pel Caç Nat 52 (Mato Cão e Missirá, 1973/74). (*)


Lisboeta, com família do lado materno na Lourinhã (Miragaia e Marteleira), hoje bancário aposentado, cicloturista, o Luís Mourato Oliveira esteve na Guiné, em rendição individual de 1972 1974. Foi, portanto, um dos últimos "guerreiros do Império"... 

Foi, seguramente, o último comandante do Pel Caç Nat 52. Ele irá terminar a sua comissão em Missirá e extinguir o pelotão em agosto de 1974. Também visitava Bambadinca (a cujo batalhão estava adido) e Fá Mandinga e dava a devida importância aos convívios (entre militares e entre estes e a população).

Em meados de 1973 (por volta de julho), o Luís Mourtao Oliveira veio de Cufar, no sul, região de Tombali, para o CIM de Bolama, para fazer formação específica antes de ir comandar, em agosto, o Pel Caç Nat 52, no setor L1, zona leste (Bambadinca), região de Bafatá, subunidade que era composto maioritariamente por fulas. Enfim, terras que vários de  nós conheceram bem, do "alfero Cabral" ao Beja Santos, do Joaquim Mexia Alves ao Henrique Matos.

Recorde-se que a missão principal do destacamento do Mato Cão era proteger as embarcações que circulavam no Rio Geba Estreito, entre o Xime e Bambadinca. As condições de alojamento e segurança eram precárias.

Sobre o Mato Cão, que era um lugar mítico, temos já mais de 70 referências... Pertencia ao subsetor do Xime.

O Luís Mourato Oliveira conheceu os dois últimos batalhões de Bambadinca, o BART 3973 (1972/74) e o BCAÇ 4518/73 (que "fechou  a guerra").

Pelas fotos acima publicadas, fica-se com uma ideia da dimensão (e importância) do porto fluvial de Bambadinca que, a par do Xime, era o grande porto de entrada de abastecimentos do leste. O porto fluvial de Bambadinca eram sobretudo demandado pelas embarcações civis, fretadas pela Intendência. Os lendários e heróicos "barcos turras", como a tropa lhes chamava, que tinham passar por pontos sensíveis como a Ponta Varela e o Mato Cão, no Geba Estreito... . Na foto nº 2C são visíveis as amplas instalações (armazéns) do pelotão de intendência de Bambadinca.

Ao Xime aportavam sobretudo as LDG (Lanchas de Desembarque Grande) com homens e material (incluindo viaturas, armamento, equiamentos mais pesados, etc.) que depois seguiam a estrada (alcatroada) do leste que, no final da guerra, ia praticamente até à fronteira com a Guiné-Conacri: Xime, Bambadinca, Bafatá, Nova Lamego, Piche, Buruntuma...
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17067: Convívios (777): Encontro do pessoal do BCAV 3846, a realizar-se no próximo dia 12 de Março em Ourém (Delfim Rodrigues)

Pede-nos o nosso camarada Delfim Rodrigues (ex-1.º Cabo Auxiliar de Enfermagem da CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73) para publicarmos o anúncio do Convívio deste ano do seu Batalhão, a levar a efeito no próximo dia 12 de Março em Ourém.


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Nota do editor

Último poste da série de 10 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16941: Convívios (776): XXIX Encontro do pessoal da Magnífica Tabanca da Linha, dia 19 de Janeiro de 2017, em Cascais (Manuel Resende / Jorge Rosales)

Guiné 61/74 - P17066: Parabéns a você (1210): Veríssimo Ferreira, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 1422 (Guiné, 1965/67)

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Nota do editor

Último poste da série de 17 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17054: Parabéns a você (1209): António Carvalho, ex-Fur Mil Enf da CART 6250 (Guiné, 1972/74) e Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp da CCAÇ 1426 (Guiné, 1965/67)

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17065: Notas de leitura (931): “Baía dos Tigres”, por Pedro Rosa Mendes, Publicações Dom Quixote, 1999 (1) (Mário Beja Santos)

Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 7 de Dezembro de 2015:

Queridos amigos,
Em 1999, Publicações Dom Quixote davam à estampa uma obra ímpar da literatura de viagens, onde há um véu de romance e se sente desde a primeira página o poderoso artífice que nos introduz na guerra, nos revela todo um teatro de horrores como se estivesse a ver e se recusasse a sentir, todos aqueles figurantes e toda aquela classe de sofrimento parecem saídos de um bloco de notas de alguém que não quer tomar partido pelas demências que lhe são contadas. Em nenhum outro livro encontrei tantas semelhanças com "Kaputt", de Curzio Malaparte, outro viajante que anotou horrores num dado período da II Guerra Mundial, ouviu monstros deleitados com as suas doutrinas da supremacia racial e ouviu povo anónimo, agarrados às raízes da humanidade. De algum modo, são estes os cenários da "Baía dos Tigres", um livro extraordinário, irrecusável, uma paleta espantosa daquele pesadelo que deu pelo nome da guerra civil angolana.

Um abraço do
Mário


Baía dos Tigres, por Pedro Rosa Mendes: 
uma obra-prima na descida aos infernos (1)

Beja Santos

O escritor e jornalista Pedro Rosa Mendes, em 1997, propôs-se realizar a travessia do continente africano, por terra, “De Angola à Contracosta”. Queria afoitar-se a levar por diante o itinerário seguido por Capello e Ivens, como escreveu José Eduardo Águalusa, “um século depois, muitas guerras depois, através de estradas já mortas e campos semeados de minas”. O relato desta aventura é um livro esplêndido, uma pedra preciosa da literatura de viagens, um género literário em que damos cartas, seguindo a herança, ao melhor estilo, do que escreveu e viveu Fernão Mendes Pinto.
O que nos oferece esta “Baía dos Tigres” é um género de odisseia, voltando a José Eduardo Águalusa, com heróis anónimos, habitantes dos limites da vida, e também monstros, estranhos monstros reinventado o horror no seu vasto território de sombras. Portugal precisava de um livro como este. Um livro capaz de justificar todo um passado comum de errância pelo mundo e de renovar a chamada literatura de viagens.

O núcleo central da obra descreve situações da guerra civil angolana. Dentro da banalização do horror com que nos atrai do princípio ao fim, vamos começar exatamente perto do final na Pousada Número Um da Jamba:
“Tem 16 hóspedes que estão lá para sempre. Não tem iluminação porque é melhor assim para eles. Não se vê e a escuridão tem pudor do pesadelo que esconde, recortado contra um cheiro nauseabundo. Quando se entra os olhos ganham a vertigem do chão e o estômago quer voltar para trás. Os ocupantes são 6, quartos e um corredor de homens amontoados, quase todos cegos ou amputados e ainda outros que são surdos. Na verdade, o grupo maior é daqueles que estão cumulativamente imóveis em todas essas desgraças: não vêem, não ouvem, não mexem. Todos falam e mesmo os que não têm língua olham de uma maneira ensurdecedora.
A Pousada Número Um foi o primeiro centro de acolhimento de deficientes das FALA, criado no início da guerra quando Savimbi e um punhado de homens fizeram quartel-general no canto inferior direito da sua retirada de Luanda. Em Angola, a morte é um luxo barato. O preço maior é ficar vivo quando a vida é uma mercadoria insuportável. Em 1976, a Pousada era o exemplo Número Um do carinho que o Galo Negro dedicava aos heróis da luta: os homens que tinham pago esse preço exorbitante em lascas do próprio corpo. Têm minas na ponta das muletas, granadas onde faltam as mãos e bombas ao alcance das pestanas. Comércio de troca direta, a guerra deles: um pé por cada passo, um dedo por cada atraso, um homem por cada palmo, um grito por cada dor”.

Pedro Rosa Mendes não aterrou em Luanda à procura de uma reportagem de guerra, embora soubesse que a guerra aqui permanecia, tinha pela frente uma linha sinuosa que vai de Luanda a Quelimane. Uma odisseia, iria descobrir, cheia de campos de minas, o repórter vai descobrir aqueles azares da fortuna em que um guerrilheiro se desencantará, passando para o adversário, encontrará durante a viagem algumas dessas histórias em Angola e Moçambique. E logo descreve a batalha de Cuíto Cuanavale, onde combateram angolanos das FAPLA, guerrilheiros da SWAPO, tropas cubanas e aviões soviéticos contra angolanos da UNITA, comandos sul-africanos e aviões franceses:
“Milhares de homens morreram com bombas, morteiros, rockets, minas, tanques, metralhadoras, fome, pântanos, crocodilos. Com a loucura: é incontável o número de todos os outros que deixaram ali a vida e regressaram a Moscovo, Havana ou Joanesburgo contrabandeando a sua bagagem de pesadelos. O Cuíto Cuanavale é um epicentro do nada mas possui a única pista asfaltada da região preciosa para o transporte de tropas e material. O seu controlo podia decidir a guerra, como veio a acontecer”.
O repórter anda por perto, deambula por ruínas de alvenaria, ali não há eletricidade, água canalizada ou potável, é a desolação absoluta. As histórias sucedem-se, nenhuma é verdadeiramente feliz, Pedro Rosa Mendes prossegue viagem num doloroso anda-pára, tomas notas sobre vidas fantasmáticas e a descida aos infernos prossegue com minas à frente, atrás, à esquerda, à direita, mais dor parece impossível, como ele escreve:
“Andar de dia. Andar de noite. Comer fuba ou não comer nada. Poupar a última lata. Ferver chá colhido em arbustos. Cozinhar em panelas negras na terra lavrada pelos pneus. Comer a última lata. Comer à mão em pratos de esmalte esboroado. Imaginar água fresca. Salivar línguas de sal. Quebrar de frio uma hora depois da Lua. Abafar de calor uma hora depois do Sol. Sonhar com uma cama. Acordar com ratos. Adormecer com um susto. Desprezar as lágrimas. Evitar os cães. Defecar à frente dos outros. Tomar banho nos rios, nadar na sesta dos crocodilos, fugir das cobras, secar o corpo com as mãos. Colher os arrepios por fora dos ossos, vestir a pele da roupa imunda. Vomitar o próprio cheiro. Dormir ao relento, dormir em alerta, em trânsito, em casas abandonadas, em colchões de palha e piolhos, em cobertores com buracos e sarna”.

O repórter tem que atravessar a Jamba, é retido, ali passa horas intermináveis à espera de autorização para continuar. Sabe escutar, apercebe-se de dramas, daquelas guerras em que rapidamente se passa de herói a traidor, de quinta-essência a refugo. E vamos sendo atormentados com histórias macabras com a do Fogacho:
 “Fogacho estava condenado. Como oficial das FALA, foi integrado no exército único ao abrigo do Protocolo de Lusaca. Era uma das patentes da UNITA nas FAA; tenente-coronel. Há um ano que tinha trocado o mato pela cidade. Agora ia à Jamba, por terra, buscar a mulher, os filhos e duas viaturas que lá continuavam. Mas ninguém chega à Jamba por terra. Nem mesmo um tenente-coronel da casa. Ou talvez, melhor: muito menos um tenente-coronel que trocou de casa.
- Luanda é só traição. Esses ditadores se passeiam lá nos governos, comendo do nosso petróleo. Eles financiam o totalitarismo com o petróleo. Enquanto lhes bastar o petróleo não vamos ter cheiro de pluralismo. Devíamos ter estendido a guerrilha nas plataformas. Quando lhes estoirar nas mãos, aí eles percebem.
(…) Fogacho era estrangeiro. De Angola para Angola, do Bailundo para Luanda, mudara para sempre de país. Na UNITA, que sempre fanatizou a pureza, não há dupla nacionalidade. Fogacho foi para não voltar. Além disso, a cidade é uma sedução em si, depois de 20 anos no mato”.

A viagem prossegue, o escritor desorienta-nos com histórias e situações entre Angola, a Zâmbia e Moçambique, histórias de horror, de corrupção, daquela pura maldade que só é possível nas guerras insanas, onde foram esquecidos todos os princípios.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 17 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17055: Notas de leitura (930): “O PAIGC perante o dilema Cabo-Verdiano (1959-1974)”, por José Augusto Pereira, Campo da Comunicação, 2015 (3) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P17064: Meu pai, meu velho, meu camarada (53): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1.º cabo, 1.ª Comp /1.º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte V: Restos de espólio: o orgulho de ter pertencido ao Onze... E mais duas fotos de Pedra de Lume


Emblema comemorativo do 25.º aniversário da passagem do "11" por terras de Cabo Verde.


Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume  > 1943 > O Feliciano no topo da pirâmide. [Foto nº 24]


Cabo Verde > Ilha do Sal > Pedra Lume > 1943 > Aquartelamento do “11” [Foto n.º 25]

Fotos (e legendas): © Augusto Silva Santos (2017). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


Folha 9 da caderneta militar


Passaporte militar


1. Continuação da publicação do álbum fotográfico do pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73, tendo antes da tropa trabalhado na marinha mercante, e nomeadamente nos navios de transporte de tropas para o ultramar):

Recorde-se que o Augusto Santos disponibilizou, ao nosso editor Luís Graça (que também teve o pai, Luís Henriques, 1920-2012,  como expedicionário na Ilha de São Vicente),  33 fotos, digitalizadas, do seu pai, Feliciano Delfim Santos (1922-1989) [, foto à direita] e dos seus camaradas da 1.ª companhia do 1.º batalhão expedicionário do RI 11, que estiveram  na ilha do Sal, aquartelados em Pedra de Lume, entre meados de 1941 e 15 de março de 1943 , e o resto do tempo, até final de 1943,  na ilha de Santo Antão (*),

Os "expedicionários do Onze" partiram do Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa, no vapor "João Belo", a 16 de junho de 1941, com desembarque na Praia, ilha de Santiago, a 23 do mesmo mês.  Estiveram grande parte do tempo  (cerca de 20 meses) na então desoladora  ilha do Sal, em missão de soberania. Publicam-se mais duas fotos desse tempo [fotos nº 24 e nº 25].

No final da comissão, fizeram um passagem pela ilha de Santo Antão (de meados de março a dezembro de 1943), para retemperar forças antes do regresso a casa. Ao todo estes "nossos pais, nossos velhos e nossos camaradas" cumpriram cerca de dois anos e meio de comissão de serviço em Cabo Verde. O RI 11 teve 16 mortos por doença na ilha do Sal.


2. Mensagem mais recente do nosso camarada Augusto Silva Santos:

Data: 16 de fevereiro de 2017 às 11:37
Assunto: Espólio de Feliciano Delfim dos Santos / RI 11

Olá,  Luís, bom dia!

No seguimento da minhas pesquisas sobre a passagem do meu pai pelo RI 11 / Cabo Verde (*), vim a descobrir mais uma "preciosidade".

Estou a juntar foto do emblema que o meu pai orgulhosamente ostentava na lapela do seu casaco, aquando da realização dos almoços / convívios anuais em que quase sempre participava, referindo-se o mesmo ao 25.º aniversário da passagem do "11" por terras de Cabo Verde [, 1941-1966].

Tanto quanto me lembro, esses almoços eram sempre (ou quase sempre) realizados na margem sul, ou seja, em localidades do distrito de Setúbal (ex., Setúbal, Montijo, Palmela, Alcochete, etc.)

A título de curiosidade, estou também a juntar cópia de página da minha caderneta militar, em que consta que a minha unidade de desmobilização foi precisamente o RI 11, a qual na altura escolhi como forma de homenagear o meu pai, que muito orgulho tinha na "sua unidade".

Foi mesmo propositadamente, pois poderia até escolher qualquer outra que, na altura, até me seria bem mais fácil em termos de deslocação, visto viver em Almada.

Quando o RI 11, os seus arquivos foram dispersos por outras unidades (foi-me assim explicado na altura), sendo que no meu caso passei a pertencer ao Regimento de Infantaria de Queluz, onde me dirigia para obter os  "passaportes militares",  sempre que tinha necessidade de me ausentar do país, quer em serviço ou em férias, pois durante anos fiz parte, como todos nós, da chamada reserva territorial (julgo que era assim que se chamava).

Foi numa dessas vezes que tomei conhecimento que havia sido "promovido" a 2.º Sargento Miliciano, coisa que nunca me havia passado pela cabeça (as coisas que a pessoa descobre). Apenas por curiosidade junto igualmente cópia desse documento.

Publica o que achares de interesse.

Um forte abraço e boa continuação da tua situação de reformado.
Augusto D. Silva Santos

Guiné 61/74 - P17063: Tabanca Grande (428): João Pereira da Costa, grã-tabanqueiro n.º 736, fundador e administrador do blogue do BART 2857 (Piche, 1968/70)




1. Mensagem do novo membro da Tabanca Grande, n.º 736, João Pereira da Costa, através da caixa do correio do nosso n.º 2, Sousa de Castro (*)

Publico aqui, resenha histórica que o nosso amigo João Maria Pereira  da Costa teve a gentileza de partilhar comigo no Facebook.Início da  vida militar deste nosso amigo. Se calhar dá um bom poste!... Sousa de Castro


2. João Pereira da Costa, ex-fur mil Pel Rec Info / BART 2857 (Piche, 1968/70), fundador e administrador do blogue do BART 2857 (Piche, 1968/70):

Boa tarde caro S. Castro.  Fui Furriel Miliciano. Soube antecipadamente a minha especialidade e
não entreguei as habilitações, embora pressionado pelo Tenente, comandante da minha Companhia de Instrução, amigo da família, que  pretendia que fosse para Mafra para a especialidade. Claro seria
atirador. Mas a vida tem subtilezas que não dominamos. Irás no final  do texto compreender.

Em Outubro de 1967, fui incorporado no serviço militar, na recruta nas  Caldas da Rainha, porque me cortaram o «regime de espera» pois  frequentava a faculdade e pretendia terminar o curso. Nessa altura
houve uma visita do Américo Tomás à Universidade de Coimbra. O pessoal  comportou-se mal e, daí, todos tiveram a minha sorte. 

Estive de Janeiro a Março de 1968 em Tavira, na especialidade de  Operações e Informações, integrada no Pelotão de Reconhecimento e  Informação.  Daqui passei por Penafiel, Abril de 1968, onde tomei conhecimento que  estava mobilizado. Poucos dias passados deram-nos ordem para nos apresentarmos em Lamego, nas Operações Especiais, a mim e a mais dois  quadros, do Pel Rec.Info. que tinham estado comigo em Tavira.

Igualmente foi o futuro alferes que viria a comandar o Pel Rec Info / Bart 2857.

Em Junho de 1968 terminado o curso fomos os 4 colocados no Porto no  RI6, para dar aos recrutas a especialidade de Reconhecimento e  Informação.

O tempo foi passando e continuávamos no Porto. Entretanto caíu da  cadeira o doutor Salazar e os quartéis entraram de prevenção.  Chamados ao comandante perguntamos que tipo de armamento daríamos aos  recrutas e sem ou com munições. Estes ficaram com Mausers, julgo  descarregadas e todos os quadros do RI6 com armas pesadas.

O Batalhão [, o BART 2857,] já tinha ido para Viana do Castelo para o IPO. O embarque  estava previsto para 10 de Novembro de 1968.  O tempo a aproximar-se e nós no Porto. Fomos ao comandante e lá nos  deixou partir para Viana do Castelo. Aqui estivemos nem uma semana.

No dia 9 de Novembro embarcamos para Lisboa de comboio. Esperava-nos o  "Uíge".para dia 10 partirmos para a Guiné. Desembarcamos e ficamos em  Brá. Uma bela noite entramos numa LDG e partimos para Bambadinca [, via Xime,] donde de imediato em coluna partimos para Piche. Fizemos a viajem  directa.

Enquanto estive em Piche, fui integrado no Gabinete de Operações e  Informações, chefiado por um capitão. Planeávamos as operações e  estudo das informações. Todas as semanas eram enviados plásticos com o  desenho das Operações. Como a guerra piorava o gabinete foi completado  por outro Capitão que só tratava das Informações e da reorganização  dos aldeamentos, tanto de Piche como de outros destacamentos.

Fui várias vezes a Bissau `2.ª Repartição, sala onde estava a guerra  toda com os mapas na parede. Uma das vezes fomos fazer queixa do 2.º  Comandante, então o Comandante do Batalhão, que metia o bedelho e não  percebendo nada de artilharia; um dia planificou os alvos em cima das  nossas tropas. Claro que tivemos que corrigir.

Estava proibido de sair do quartel nem me integrar em colunas porque  tinham medo que fosse apanhado pelos turras e os segredos estavam na  minha cabeça. Mas ainda saí a um destacamento verificar do andamento  das obras e da Mesquita.

A partir daqui entramos no comentário que publiquei.

Um abraço e bom trabalho.

Sempre ao dispor para informações.

Um abraço,
Pereira da Costa
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Nota do editor:

Guiné 61/74 - P17062: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte III: Mobilização do batalhão e composição das companhias (3)


[18]


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1. Contimuação da publicação da brochura"Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.) [, imagemd a capa, à esquerda].(*)

O autor é  José Rebelo, capitão SGE que foi em 1941/43 um dos jovens expedicionários do RI I1, então com o posto de furriel. Não sabemos se ainda hoje é vivo, mas oxalá que sim, tendo então a bonita idade de 96 ou 97 anos. Em qualquer dos casos, este nosso velho camarada é credor de toda a nossa simpatia, apreço e gratidão.

O nosso camarada Manuel Amaro diz-nos que o conheceu pessoalmente (*)

"O Capitão José Rebelo, depois desta aventura em Cabo Verde, como furriel, cumpriu serviço em Timor, como sargento, durante muitos anos. No regresso à Metrópole, por volta de 1960, fez a Escola de Sargentos, em Águeda e após promoção a alferes, comandou a Guarda Nacional Republicana em Tavira, até 1968. Como homem de cultura, colaborava semanalmente, no jornal "Povo Algarvio", onde o conheci, pessoalmente. Em 1969, já capitão, era o Comandante da Companhia da Formação no Hospital Militar da Estrela, em Lisboa.

"Não sei mais nada [,. atualmente,] do Capitão Rebelo. Antes desta informação, na Tabanca, tinha sabido por mero acaso, que ele e o Coronel Pontes Miquelina, (que também tinha sido meu Comandante de Companhia), eram colaboradores das Entidades Oficiais (Município, Governo Civil e outras), em Setúbal. Talvez a Liga dos Combatentes tenha mais informação."


O então furriel José Rebelo,
expedicionário do 1º batalhão
 do RI 11

A brochura que estamos a reproduzir é uma cópia, digitalizada, em formato pdf, de um exemplar que fazia parte do espólio do Feliciano Delfim Santos (1922-1989), que foi 1º cabo da 1ª companhia do 1º batalhão expedicionário do RI 11, pai do nosso camarada e grã-tabanqueiro Augusto Silva dos Santos (que reside em Almada e foi fur mil da CCAÇ 3306/BCAÇ 3833, Pelundo, Có e Jolmete, 1971/73) (*)

Trata-se de um conjunto de crónicas publicadas originalmente no jornal "O Distrito de Setúbal", e depois editadas em livro, por iniciativa da Assembleia Distrital de Setúbal, em 1983, ao tempo do governador civil Victor Manuel Quintão Caldeira. A brochura, ilustrada com diversas fotos, tem 76 páginas, inumeradas.

Além do pai do Augusto Silva Santos, o 1º cabo Feliciano Delfim Santos (1922-1989), temos conhecimento de mais dois expedicionário do RI 11, familiares de um camarada nosso e de uma leitora nossa: (i)  o tio do Benjamim Durães, membro da Tabanca Grande: o soldado atirador António Joaquim Durães (**); e (ii) o avô, ex-1º cabo Armindo da Cruz Ferreira,  da nossa leitora Albertina da Conceição Gomes, médica patologista, de nacionaliddae cabo-verdiaana, a viver e  a trabalhar na Noruega (***)-

O RI 11 desembarcou na Praia, ilhya de Santigao,  em 26/6/1941, e esteve em missão de soberania na ilha do Sal cerca de 20 meses (até 15 de março de 1943), cumprindo o resto da comissão de serviço (até dezembro de 1943) na ilha de Santo Antão.

Seria interessante podermos identificar mais velhos camaradas do RI 11 que foram expedicionários em Cabo Verde... A maior parte do pessoal do 1º batalhão do RI 11 era originário do distrito de Setúbal.. Infelizmente, muito poucos estarão vivos.



"Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp. inumeradas, il.)

Parte III (pp. 11-18)



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Notas do editor:

(*) Último poste da série > 13 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17047: "Expedicionários do Onze a Cabo Verde (1941/1943)", da autoria do capitão SGE José Rebelo (Setúbal, Assembleia Distrital de Setúbal, 1983, 76 pp) - Parte II: Mobilização do batalhão e composição das companhias (2)

(**) Vd. popste de  10 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17039: Meu pai, meu velho, meu camarada (51): Feliciano Delfim dos Santos (1922-1989), ex-1.º cabo, 1.ª Comp /1.º Bat Exp do RI 11, Cabo Verde (Ilhas de Santiago, Santo Antão e Sal, 1941/43) (Augusto Silva Santos) - Parte IV: Ilha do Sal, Feijoal

(***) Vd. poste de 27 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16996: Meu pai, meu velho, meu camarada (49): O que conseguimos saber, até agora, do ex-1º cabo Armindo da Cruz Ferreira, companhia de acompanhamento do 1º Batalhão Expedicionário do RI 11, Cabo Verde, Ilha do Sal (junho de 1941-dezembro de 1943) a pedido da sua neta, Albertina da Conceição Gomes, médica patologista na Noruega

domingo, 19 de fevereiro de 2017

Guiné 61/74 - P17061: Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XVI Parte: Cap VIII: Brincadeiras no mato... ou a praxe em tempo de guerra


Mário Fitas, de alcunha "Vagabundo", alentejano de Vila Fernando, Elvas,  o fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas" (Cufar, 1965/67), que gostava de praxar os periquitos...


Foto: © Mário Fitas (2016). Todo os direitos reservados. [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]





Capa do livro (inédito) "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra", da autoria de Mário Vicente [Fitas Ralhete], mais conhecido por Mário Fitas, ex-fur mil inf op esp, CCAÇ 763, "Os Lassas", Cufar, 1965/67.

Mário Fitas foi cofundador e é "homem grande" da Magnífica Tabanca da Linha, escritor, artesão, artista, além de nosso grã-tabanqueiro da primeira hora, alentejano de Vila Fernando, concelho de Elvas, reformado da TAP, pai de duas filhas e avô. [Foto abaixo à esquerda, março de 2016, Tabanca da Linha, Oitavos, Guincho, Cascais.]




Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra > XVI Parte > Cap VIII - Guerra 2 (pp. 51-52)

por Mário Vicente 


Sinopse:

(i) Depois de Tavira (CISMI) e de Elvas (BC 8),

(ii) o "Vagabundo" faz o curso de "ranger" em Lamego;

(iii) é mobilizado para a Guiné;

(iv) unidade mobilizadora: RI 1, Amadora, Oeiras. Companhia: CCÇ 763 ("Nobres na Paz e na Guerra");

(v) parte para Bissau no T/T Timor, em 11 de fevereiro de 1965, no Cais da Rocha Conde de Óbidos, em Lisboa.;

(vi) chegada a Bissau a 17:

(vii) partida para Cufar, no sul, na região de Tombali, em 2 de março de 1965;

(viii) experiência, inédita, com cães de guerra;

(ix) início da atividade, o primeiro prisioneiro;

(x) primeira grande operação: 15 de maio de 1965: conquista de Cufar Nalu (Op Razia):

(xi) a malta da CCAÇ 763 passa a ser conhecida por "Lassas", alcunha pejorativa dada pelo IN;

(xii) aos quatro meses a CCAÇ 763 é louvada pelo brigadeiro, comandandante  militar, pelo "ronco" da Op Saturno;

(xiii) chega a Cufar o periquito fur mil Reis, que é devidamente praxado.



Pré-publicação: O livro de Mário Vicente [Mário Fitas], "Do Alentejo à Guiné: putos, gandulos e guerra" (2.ª versão, 2010, 99 pp.) - XVI Parte: Cap VIII: Brincadeiras no mato (pp. 51-52)


Dia de correio, hoje a Dornier deve poder aterrar. O céu está aberto e as chuvas, embora já começassem, ainda são leves e a pista está boa. Segundo notícias do comando, deve chegar mais um reforço, o furriel periquito Reis, que vem substituir o evacuado Zé Luís.

Paolo, embora um pouco fleumático, gosta por vezes de entrar na brincadeira com a malta, e, desta vez é ele que tem a ideia e trama a safadeza. Entra na messe de sargentos onde a malta de folga conversa ou vai jogando uma partida de loto. Desafia:
– Eh,  malta, não se faz a recepção ao periquito?
– Boa!
Clamam todos em uníssono!...
– Como vamos fazer?
– É pá, eu posso fazer de capelão. Não fui padre mas acho que tenho jeito para isso – diz Vagabundo.
– Óptimo! Espera!... Boa ideia!...
– Tu fazes de padre, eu de colega furriel e o Chico Zé faz de capitão, comandante da com­panhia. Vamo-nos preparar que a avioneta está a partir de Catió, a outra malta que não se desmanche.

E aí temos Vagabundo de calças e camisa de caqui, com o dólmen da mesma fazenda todo engelhado porque retirado à pressa da mala, a boina preta enterrada na cabeça para dar um efeito pouco militar e a correr à procura do médico, tenente obstetra para lhe emprestar os galões. Paolo enfiou as divisas de Carlos Manuel, correu para o comando e pediu a Carlos os galões para o Chico Zé, dando-lhe a conhecer a brincadeira. Tambinha, Humberto e António Pedro informariam e controlariam a maralha para o bicho não desconfiar. Tudo a postos. Paolo, Chico Zé e Vaga­bundo no comando esperam pela chegada do periquito.

O Serra, furriel das transmissões, recebe a informação de que a Dornier levantou de Catió, e a secção do Carlos Costa, de piquete, avança no Unimog atrás da auto metralhadora Daimler para o fundo da pista, para a segurança. O Gasolinas conduz ele próprio o jeep, para trazer o correio e o seu colega arrivante.

Tudo normalíssimo. O periquito é um rapaz alto, simpático, dentinhos de coelho, bem-falante, mas não calcula a recepção que o aguarda. O Gasolinas pára o jeep e informa o Reis que é ali a messe, pelo que pode descer, ele voltará já. O Reis desce e é recebido com pompa pelo Jata, Madeira, Antó­nio Pedro, Tambinha e restantes. Estavam nestas apresentações e primeiras conversas de malta que está no mato, querendo saber notícias do outro continente, quando Paolo aparece, apre­sentando-se como o colega furriel Chico Zé, e dispara:
– Eh, pá! Então tu chegas com um mês de atraso, vens logo para aqui e nem te apresentas ao comandante da companhia? Anda lá apresentar-te e com cuidado que o gajo hoje está com mau humor e ainda é capaz de te dar uma porrada.

Reis, abando­nando bagagem e tudo, acompanha Paolo e dirigem-se para o comando onde Chico Zé ocupa a secretária de Carlos, ostentan­do nos ombros os galões do mesmo. Reis, um pouco tímido, pede licença ao improvisado capitão e vai entrando. Chico Zé levanta a cabeça e, com cara de mauzão, olha para o furriel metralhando:
–  Mas que merda é esta? Isto são maneiras de um militar se apresentar?

Paolo segreda a Reis:
– Eh, pá, tens de pedir licença como deve ser, fazer a continência e as praxes habituais.

Reis volta a trás e faz como Paolo diz. Da porta faz continência e pede licença. Chico Zé secamente manda entrar, Reis bate o pé e dá três passos em frente. De imediato, o improvisado capitão, sem levantar a cabeça grita:
- Porra para isto! Já viu padre!? Só me mandam mer­da desta para aqui! Faz favor de voltar a trás, arranje-me essas meias como deve ser e apresente-se como um verdadeiro mili­tar. Reis já um pouco nervoso volta a trás, dá um toque nas meias e na boina repetindo o pedido de licença. Chico Zé manda entrar novamente. Vagabundo, o improvisado capelão presente na sala, e Paolo estão prestes a rebentar e a desmancha­rem-se a rir, mas aguentam a teatralização. O falso capitão levanta a cabeça e pede autoritário:
–  A guia de marcha e a documentação?
Aí o Reis mais nervoso ficou e já tremia todo. Tinha a papelada na bagagem, gaguejando informou o comandante disso. Este, com ar de enjoo, virou-se para Vagabundo e disse:
– Padre, faça-me um favor, leve-me este gajo daqui quando não eu perco a paciência e dou-lhe uma porrada.

Vagabundo entrou em cena. Meteu suavemente o braço sobre o ombro do Reis e disse:
–  Pronto meu filho, acalme-se, vamos lá, vamos lá buscar a papelada. Oh,  meu capitão, desculpe o rapaz, está um pouco nervoso! Nós já vimos, sim?!...

Dirigiram-se para a rua mas o Reis já não ouvia, já não via nada, estava no fundo do poço. Tremendo, foi de braço dado com Vagabundo,  capelão, para a messe buscar a papelada que tinha na bagagem. O simulado capelão, com palavras meladas, ia-lhe dan­do mais cabo da cabeça. Fazia-lhe perguntas que o irritavam. Perguntava-lhe se era muito pecador, se o seu estado era ainda virgem ou se caso contrário, tinha pecado muito em Bissau, se visitara muitas vezes o Pilão. Reis queria era uma G3 para dar cabo daquela merda toda e dele próprio.

Entretanto, no comando, Carlos o verdadeiro capitão, ocupava a sua secretária.

Quando Reis regressou acompanhado de Vagabundo, chegando à sala do comando e vendo outra pessoa sentada à secretária, perguntou:
–  Onde está o nosso capitão?
Carlos olhou para ele calmamente e respondeu-lhe:
–  Oh, nosso furriel, que eu saiba aqui em Cufar sou eu o único.
Completamente desorientado, o furriel estava prestes a rebentar e a chorar mas, gaguejante ainda soletrou:
–  Mas... o outro tinha barbas?! ...
–  Barbas, eu? Oh, homem você deve ter apanhado sol. Vá à messe de sargentos, beba qualquer coisa fresca e depois falare­mos.

Entretanto Vagabundo já se havia escapulido e, passando pelo abrigo da sua secção, pediu ao cabo Cigarra para fazer entrega dos galões ao tenente médico, dando o dólmen ao impe­dido Amadu. Pela porta de trás entrou na messe onde Chico Zé e Paolo, já nas suas verdadeiras personagens de furriel e alferes, aguardavam com a restante malta o desenrolar dos aconteci­mentos.

Reis voltou desorientado à messe de sargentos. Ao reentrar olhou para a malta e reconheceu o trio que estava senta­do na mesa do canto. Respirou fundo e pensou: foram aqueles cabrões que armadilharam isto tudo, gozaram comigo. E saiu­-lhe da garganta com uma voz já aliviada:
–  Olha os sacanas do padre e do capitão!

Toda a gente riu. Assim, na sã camaradagem, lema daqueles jovens transformados em homens guerra, se deu a integração da vítima Reis na vivência dos Lassas.

Era assim?... Não!... Tinha que o ser! Era a forma de passar o tempo esquecendo o vagaroso relógio, no seu tic... tac... arrastante dos segundos e minutos, das horas e dos dias, eterni­dade do amanhã que nunca se sabia como iria ser.

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