domingo, 26 de outubro de 2008

Guiné 63/74 - P3358: Cancioneiro de Mansoa (11): Zé, um rapaz castiço (Magalhães RIbeiro)

Marca de cigarros, de fabrico soviético, que eram distribuídos aos guerrilheiros do PAIGC, durante a guerra colonial / luta de libertação. "Nô pintcha", em crioulo, quer dizer Avante!

Anti-repelente, de marca Hunter (caçador) usado para para afugentar os mosquitos, uma das medidas de protecção contra o paludismo usadas pelos tugas na Guíné...

Fotos: ©
Magalhães Ribeiro (2008). Direitos reservados.


1. Duas mensagens do nosso prezado amigo e camarada, Magalhães Ribeiro, mais conhecido por pira de Mansoa (O Eduardo Magalhães Ribeiro foi Fur Mil de Operações Especiais, CCS do BCAÇ 4612, 1974; é autor e animador do blogue Coisas do MR (Operações especiais, rangers de Portugal, guerra do ultramar...).

(i) Amigos Vinhal, Luís e Briote

Envio aqui anexo mais algum material que poderá ficar bem no blogue.

Um abraço amigo do Pira de Mansoa,
M.R.


(ii) Boa noite amigos Vinhal, Briote e Luís

Entre as coisas e loisas do meu espólio da Guiné, que de vez em quando vou limpando e conservando, encontrei mais três peças que me lembrei de vos enviar, para eventual colocação no blogue, um pela sua graça escrito numa folha de papel quando me encontrava no Cumeré (que vou integrar no Cancioneiro de Mansoa), outro pela recordação que nos traz, uma caixa do famoso HUNTER (com as dimensões C x L x H = 120 x 120 x 30 mm), com que matávamos os mosquitos à noite nas camaratas e um terceiro pela sua curiosidade, um maço de tabaco NOPINTCHA (com as dimensões C x L x H = 70 x 55 x 20 mm), fabricado na ex-USSR e utilizado pelos homens do PAIGC.


2. Cancioneiro de Mansoa > Um rapaz castiço
por Magalhães Ribeiro

Rapaz castiço... o Zé?
Ninguém sabe dizer como é!
O que confundia a cabeça do moço
Que se dava pelo nome de Zé.

Um pouco arisco e quezilento,
Só tinha como amigo o Barnabé.
Não gostava da boina nem do quico,
Na cabeça só um pequeno boné.
E ocupava os seus momentos livres
Entretido num improvisado balancé.
Uns dias antes de embarcar… irritado
Trepou p’ra cima da chaminé,
Repetindo em altíssimos berros:
- Não quero ir para a Guinééééé!

Valeu-lhe então, coisa incrível,
Jamais ter faltado ao pré,
Ficou conhecido além disto
Por sempre caminhar a pé,
E um vício agora pouco usual
Cheirar uma caixinha de rapé!

Tinha uma "alergia" muito comum,
O horror ao cheiro a chulé
E outros “aromas” mal cheirosos…
Não era o caso do verniz do rodapé…
Nem do agressivo diluente…
Nem tão pouco do café.
Um gosto porém ele denunciava,
Comer um bom bife, com ovo e puré.

Diz um dia o comandante desconfiado:
- Este gajo gosta de fazer croché?
O moço reguila e lesto respondeu:
- Eu não gosto imenso é do lamiré!

Ninguém percebeu tal dica ,
Muitos soldados riram-se até,
Também eu sorri, baralhado.
Deixei-me ir nesta maré
E respondi em sua defesa:
- Tem crer em Deus e… muita fé.
- Como sabe isso, Ribeiro?
- Vejo-o ir às missas à Sé...
- Chegue-se à frente, seu maçarico.

Ele aproximou-se, pé ante pé:
- Vinte completas para ganhar juízo!
- Quere-as em silêncio ou grito… olé!
Diz o capitão com ar conclusivo:
- Este desgraçado está meio cheché!
Era assim um dos nossos "rapazes"
Que reencontrei no quartel do Cumeré.
Nesse dia de calor... mergulhou no rio...
E quase foi engolido por um jacaré:
- Juro, nunca mais me atiro para a água...
Daqui p'rá frente só se for num bidé!

Magalhães Ribeiro

PS - Em anexo a caixa do famoso HUNTER e do maço de tabaco NÔ PINTCHA.
___________

Nota de L. G.:

(*) Vd. postes desta série:

1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVI: Cancioneiro de Mansoa (1): o esplendor de Portugal

1 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXXVII: Cancioneiro de Mansoa (2): Guiné, do Cumeré a Brá

7 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVI: Cancioneiro de Mansoa (3): um mosquiteiro barato para um pira...

10 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLIV: Cancioneiro de Mansoa (4): a arte de ser 'ranger'

1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDIX: Cancioneiro de Mansoa (5): Para além do paludismo

19 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDLIX: Cancioneiro de Mansoa (6): O pesadelo das minas15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXVIII: Cancioneiro de Mansoa (7): Os periquitos do pós-guerra

31 de Maio de 2006 > Guiné 63/74 - DCCCXXI: Cancioneiro de Mansoa (8): a amizade e a camaradagem ou o comando da 38ª

3 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P837: Cancioneiro de Mansoa (9): A mais alta de todas as traições

25 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1698: Cancioneiro de Mansoa (10): O 25 de Abril, a Barragem de Castelo de Bode e a descoberta da palavra solidariedade

2 comentários:

Carlos Vinhal disse...

Camaradas
Alguém tem por aí uma embalagem do Lion Brand?
Era também um afugenta mosquitos muito famoso do nosso tempo.
Carlos Vinhal

Anónimo disse...

Muito bem camaradas, com os vossos inventos de repelentes, mas no Cachil em 1964 não foram dias mas sim meses a passar as noites sem mosquiteiro, a única solução era sair do abrigo e encostar-nos ao tronco de uma palmeira para improvisar novo abrigo, passar parte da noite as palmadas com o adversário,porque aquele ferrão furava o cobertor, tudo, ainda o que protegia um pouco era o pano da tenda.
Repelentes lion brand ou"Hunter" BRAND, nem amostras.
Um alfa bravo.
Colaço