terça-feira, 20 de fevereiro de 2007

Guiné 63/74 - P1538: Bissau: O melhor Carnaval do Mundo (Paulo e São Salgado)






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Guiné -Bissau > Bissau > Carnaval de 2005.


1. Mensagem do Paulo Salgado:


Caro Luís,


Junto remeto um breve texto e fotos sobre o Carnaval em Bissau ( a Conceição e eu já assistimos a vários carnavais, sendo o primeiro em 1991 - o que nos deixou perplexos pela novidade: alegria, cor, ritmo ...)


Um abraço
Conceição e Paulo


Texto e fotos: © Paulo Salgado (2007). Direitos reservados.


2. O Melhor Carnaval do Mundo
por Paulo e São Salgado


Hoje é dia de Carnaval, terça-feira.


Por cá, esta modorra de chuva impede os foliões de saírem para as ruas, meio pintados, ou desnudados, com folhos ou penugens cobrindo-lhes os corpos brancos, e darem largas (pelo menos a alguns) de uma alegria conquistada pela imitação, as mais das vezes importada do Brasil brasileiro.


Longe vão os tempos do Entrudo – nas aldeias e vilas e cidades deste nosso querido Portugal – onde a imaginação se decalcava nos caretos, na dança das fitas, dos trajes grotescos (havia muitos que se mascaravam de mulher, quiçá com um pouco de feminismo que há em cada homem), na queima do diabo, nas cantigas à desgarrada com vozes roufenhas à porta das moçoilas que adivinhavam o convite por detrás daquela vozearia nocturna que acontecia durante a quadra entrudesca.


Por terras da Guiné, da que se revelou após a independência, o Carnaval é genuíno, é puro, é belo, é ternurento – e organizado (que o diga eu: queriam prender-me e conduzir-me à esquadra por não possuir autorização paga para colher das melhores fotos que já colhi)! Desfilam os grupos dos bairros da capital (Belém, Missira, Ajuda, Cupelon, etc.) e também de outras regiões (Bissorã, Mansoa, Bafatá…e até dos Bijagós) que deixam arrebatada qualquer alma que por ali esteja, provindo das Europas ou das Américas – numa garbosa e vistosa procissão, compassada, marcada pelo ritmo de tambores, bombolons, instrumentos de sopro feitos a partir de cornos de vaca ou de búfalo (sim, há búfalos no sul da Guiné – para quem não saiba: trata-se de búfalos pequenos que atravessam a fronteira e vão até ao Futa-Djalon, que, dizem-me serem muito interessantes do ponto de vista da fauna que estão embrenhados nas matas, e que alguns caçadores idos do nosso Portugal têm a sorte de abater…).


Percorrerão, a partir do cais do Pidjiguiti, a Avenida Amílcar Cabral (era da Pensão Central, junto à Sé Catedral e aos Correios, que este escriba apreciava tudo), a Praça dos Heróis da Pátria, onde, diante do Palácio da Presidência (agora esburacado, picado de balas e morteiradas – guerra de 1998 - esventrado, meio destelhado), um palanque está montado para a decisão final, a qual é a de premiar o melhor grupo, a melhor máscara (ah, as máscaras, meus Caros, são lindas, perfeitas, críticas, mordazes), a rapariga mais bem enfeitada, o rapaz tocador mais animado, que sabemos nós?! e, prossegue, sempre em ritmo cadenciado, sonorizado, colorido, para os lados de Brá, passando no mercado Bandim, e indo pela avenida fora a caminho de um fim que se repetirá no ano seguinte, num reencontro colectivo – pela paz, pela harmonia, pelo gosto de viver – apesar de tudo!


O trânsito pára. A população deslumbra-se, os mirones partilham o ritmo, o vinho de palma escorre…são os balantas, os pepel (papeis, dizemos vulgarmente) e os Bijagós que dominam este cortejo.


Esta genuinidade, esta beleza, esta algazarra abrangente, animam, contagiam, fascinam, seduzem. É o Povo a dizer o que lhe vai na alma, a pronunciar a sua alegria, a mostrar a sua força anímica, a criticar em cartazes e máscaras o que os seus representantes representam.


Crede: para mim, que nunca fui ao Rio ver as mulatas com as mamas e o resto que os deuses lhes deram à mostra, nunca fui a Veneza admirar as poses selectas das senhoras descendentes das prostitutas dos doges, nunca me encharquei em cervejas em Munique ao lado dos valentões enormes – mas que tudo se vê nas televisões – para mim, dizia, este é o melhor Carnaval do Mundo.


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Nota de L.G.:


(1) O Paulo Salgado regressou, recentemente, de Bissau, após mais um difícil ano de cooperação, na área da saúde. Para o Paulo (e a sua inseparável São, economista), a Guiné-Bissau é já o seu segundo país. O Paulo, profissionalmente, é administrador hospitalar. Ele e a São vivem em Vila Nova de Gaia. O Paulo foi Alferes miliciano na CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), que teve como comandante o capitão de cavalaria Mário Tomé, hoje coronel na reforma.


Vd. um dos seus últimos posts > 11 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1421: Crónicas de Bissau (o 'bombolom' do Paulo Salgado) (14): Um final com homenagem a um homem grande, Fernando Sani

2 comentários:

Paulo disse...

Outras gentes..mais que quantas...

Anónimo disse...

Fui professora de Francês em Bissau,em 1970.O meu marido era Alferes Miliciano nos Serviços Administrativos (Abastecimentos,messes,...).Guardamos algumas fotos dessa altura.Mas algumas memórias esbateram-se.Na 1ª imagem,parece-me ver o antigo Liceu de Honório Barreto,onde trabalhei.Estou certa?M.Teresa Santos