sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

Guiné 63/74 - P3949: Ser solidário (28): Dar Vida Sem Morrer, com a Catarina Furtado no Gabu (Torcato Mendonça)


III Congresso da Comunidade Médica de Língua Portuguesa, V Congresso Nacional do Médico Interno, XIV Congresso Macional de Medicina: Os Médicos e o Desenvolvimento Humano. O Direito à Saúde, que futuro ? > Lisboa, Centro de Congressos de Lisboa, 19-21 de Fevereiro de 2009 > Algumas imagens dos slides da Conferência “Medicina e Desenvolvimento dos povos - Objectivos do Milénio”, por Luís Gomes Sambo, médico angolano (Director Regional para África - OMS) > A Saúde é um elemento central da estratégia das Nações Unidas, End Poverty 2015 (Acabar com a Pobreza até 2015) e nos Objectivos do Desenvolvimento do Milénio > Segundo a Organização Mundial de Saúde (2006), mil e cem mulheres da Guiné-Bissau morrem, de parto, por cada 100 mil nados-vivos; 203 crianças morrem antes dos 5 anos, por cada 1000 nados-vivos (era de 280, em 1980)... (LG)

Imagens: Luís Graça (2009)



1. Mensagem de ontem, do Torcato Mendonça, Fundão (e que foi Alf Mil, CART 2339, Fá e Mansambo, 1968/69):


Espero que tenham visto as imagens dramáticas [de situações por ] que o Povo da Guiné está a passar.

Foi na RTP 1, logo a seguir ao Telejornal (*). Não há palavras, neste momento, ou, eu não tenho palavras para descrever o que vi, o que senti, o que continuo a sentir.

Aquela Gente, no meio do nada, no meio do drama ainda sorri. A mulher vai parir sem um ai, sem um lamento. Á pergunta do porquê, o médico responde:
- As mulheres são preparadas psicologicamente, é uma questão cultural.

As estradas desapareceram...Eu conheci Bafatá a Nova Lamego (Gabu), eu conheci as ruas de Bissau, o Palácio do Governador, eu conheci...paro, esfrego a cara e, agora sim, sinto uma revolta tremenda. Estou a escrever e porventura vocês viram e sentiram como eu. Vocês, tal como eu, sentem aquele Povo como nosso, no sentido de irmão, de parte de nós, do nosso passado.

Porra, porquê? Porque acontece aquilo? Ou nós sabemos...???

Por isso um contentor de toneladas, o pessoal que em solidariedade para lá foi são, para todo aquele sofrimento gota de água. Mas são heróis na solidariedade, na amizade, na dádiva.

Enquanto via o documentário, passaram-me imagens do passado, estabeleci comparações...não digo nada mais. Doi-me demasiado a cabeça e sei a causa.

Mas, apesar do que se passa no nosso País, aqueles nossos irmãos da Guiné têm que ser ajudados. Para eles, para vós, para todos os que ainda acreditam na solidariedade vai um abraço fraterno do,

Torcato
______________

Notas de L.G.:

(*) Programa "Dar Vida sem Morrer"

Origem: Portugal - 2008
Duração: 50m
Produção: Até ao Fim do Mundo
Realização: Catarina Furtado
Com: Catarina Furtado

Próximas exibições: RTP África, 2009-03-05, 21:00h

Sinopse: Catarina Furtado, embaixadora da Boa Vontade, acompanha a reconstrução de unidades hospitalares na Guiné-Bissau.

O Ministério da Saúde da Guiné-Bissau, em parceria com FNUAP - um dos principais parceiros do Ministério na área da saúde reprodutiva - implementaram um projecto que visa reforçar os Cuidados Obstétricos de Urgência nas regiões de Oio e Gabu, na Guiné-Bissau.

Uma série de 4 documentários que se centram nas regiões de Oio (196 mil habitantes) e Gabu (172 mil habitantes). Em cada programa Catarina Furtado dá a conhecer o avanço das obras, de que forma este projecto vai beneficiar as populações locais, as suas expectativas e modo de vida e os profissionais de saúde relacionados com o projecto.

Mortalidade materna, mortalidade infantil, falta de profissionais de saúde na área da obstetrícia, infra-estruturas degradadas, falta de equipamentos, de medicamentos são alguns dos temas a abordar. (**)

Fonte: RTP > Vd. vídeo de apresentação (1' 20'')

Documentários ilustram taxa de mortalidade infantil na Guiné-Bissau. Em cada mil crianças que nascem são 138 as que morrem. Um projecto conjunto da ONU e do Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento está a tentar alterar esta situação, contando com a RTP.

(**) End Poverty 2015 / Erradicar a pobreza 2015

Objectivo 1: Erradicar a pobreza extrema e a fome

Meta 1. Reduzir para metade, entre 1990 e 2015, a proporção de população cujo rendimento é inferior a um dólar por dia

Meta 2. Reduzir para metade, entre 1990 e 2015, a proporção de população afectada pela fome

Objectivo 2: Atingir o ensino primário universal

Meta 3. Garantir que, até 2015, todas as crianças, de ambos os sexos, terminem um ciclo completo de ensino primário.

Objectivo 3: Promover a igualdade de género e a capacitação das mulheres

Meta 4. Eliminar a disparidade de género no ensino primário e secundário, se possível até 2005, e em todos os níveis de ensino, o mais tardar até 2015
Objectivo 4: Reduzir a mortalidade infantil.

Meta 5. Reduzir em dois terços, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade de crianças com menos de 5 anos.

Objectivo 5: Melhorar a saúde materna

Meta 6. Reduzir em três quartos, entre 1990 e 2015, a taxa de mortalidade materna.

Objectivo 6: Combater o HIV/SIDA, a malária e outras doenças

Meta 7. Até 2015, parar e começar a inverter a propagação do HIV/SIDA

Meta 8. Até 2015, parar e começar a inverter a tendência actual da incidência da malária e de outras doenças graves

Objectivo 7: Garantir a sustentabilidade ambiental

Meta 9. Integrar os princípios do desenvolvimento sustentável nas políticas e programas nacionais e inverter a actual tendência para a perda de recursos ambientais.

Meta 10. Reduzir para metade, até 2015, a percentagem de população sem acesso permanente a água potável.

Meta 11. Até 2020, melhorar significativamente a vida de pelo menos 100 milhões de habitantes de bairros degradados.

Objectivo 8: Criar uma parceria global para o desenvolvimento

Meta 12. Continuar a desenvolver um sistema comercial e financeiro multilateral aberto, baseado em regras, previsível e não discriminatório.

Meta 13. Satisfazer as necessidades especiais dos Países Menos Avançados.

Meta 14. Satisfazer as necessidades especiais dos países sem litoral e dos pequenos Estados insulares em desenvolvimento.

Meta 15. Tratar de forma integrada o problema da dívida dos países em desenvolvimento, através de medidas nacionais e internacionais, por forma a tornar a sua dívida sustentável a longo prazo.

Meta 16. Em cooperação com os países em desenvolvimento, formular e aplicar estratégias que proporcionem aos jovens trabalho condigno e produtivo.

Meta 17. Em cooperação com as empresas farmacêuticas, proporcionar o acesso a medicamentos essenciais a preços acessíveis, aos países em desenvolvimento.

Meta 18. Em cooperação com o sector privado, tornar acessíveis os benefícios das novas tecnologias, em especial das tecnologias de informação e comunicação.

Fonte: CPLP Comunidade dos Países de Lingua Portuguesa > Objectivos de Desenvolvimento do Milénio

4 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro Camarada Torcato
Apenas por mero acaso vi, juntamente com a minha mulher, o programa "Dar Vida sem Morrer" passado na TV1.Como são coincidentes com as tuas sábias palavras, os comentários que a minha mulher fez com os olhos marejados de lágrimas.Estive, durante mais de trinta anos sem falar da Guiné mesmo com a"cara-metade"; hoje ela diz que exagero, mas que começa a compreender...
Só de ler os objectivos do programa End Poverty 2015, sinto um arrepio na espinha!
Não conheço as zonas retratadas na reportagem.Na Guiné vivi sempre no "mato profundo".Imagina como viverão por lá essas pessoas.
Lindas as tuas palavras " Aquela gente no meio do nada, no meio do drama ainda sorri." Há ex-combatentes que manejam melhor a palavra do que muitos jornalistas.
Já recebi duas mensagens dos nossos camaradas que chegaram à Guiné. Leio-te a última"Vasco, estou em Bissau.As pessoas são muito simpáticas.Não tenho palavras.É tudo muito estranho e ao mesmo tempo muito próximo.Que paradoxo!?.Um abraço."
Para ti vai também um abraço de reconhecimento e de camaradagem,
Vasco da Gama

Anónimo disse...

Amigo Torcato!

Também vi,também senti,também sofri.

Recordei e interroguei.

Porquê?

Abraço Grande

Jorge Cabral

Anónimo disse...

Companheiro Torcato,

É duro não é?

Só dois casos em que estive presente:

O meu pessoal de Piquete, levámos o Juvenal (Fur. Enfermeiro) à tabanca de Iusse onde uma mulher não conseguia ter o bébé. O Juvenal resolveu o assunto com uma injecção e o puto (era um rapaz)nasceu passado um quarto de hora.

Na tabanca de Cantone, uma mulher auto-mutilou-se por não dar filhos, cortando a barriga com uma faca. O piquete foi buscar a mulher à tabanca. Passados 45 minutos estava na pista de Cufar uma DO para levar a mulher para o Hospital de Bissau.

Chamem a isto o que quiserem!

Só que somos fracos e choramos, com o que aconteceu há 40 anos e o que verificamos hoje.

Os de cá também precisam, é realidade! Mas aqueles!? Toda a gente viu!

Aos poucos vou-me convencendo que não fiz guerra sabes! Vivi uma realidade que agora não existe!
Pena foi os que morreram e não só!

Sem ódio nem rancor...apenas tristeza...

Olha!

Aquele abraço agora não só do Cumbinjã, mas também da Planície!

Mário Fitas
se

Anónimo disse...

Camaradas
Também vi e senti profundamente.
Copio o que tentei escrever logo a seguir, mas não fui capaz de desenvolver.

DAR A VIDA SEM MORRER

215826FEV09

Terminou á poucos minutos a passagem do documentário “Dar a vida sem morrer” apresentado por Catarina Furtado. Guiné-Bissau, Gabu, Mansoa e Bissau.
Depois de ver aquelas gentes e o seu sofrimento, tive de meter a cara no lavatório para me recompor.
Trata-se de um programa de apoio à maternidade. Desenvolvimento de infra-estruturas em duas regiões, Gabu no leste e Mansoa no Oio, bem assim na melhoria das de Bissau.
Falta-lhes tudo. Educação, cuidados de saúde, alimentação… etc., etc. As belezas naturais empalidecem ou mesmo fenecem, perante a triste realidade da existência humana.
Amílcar. Todos os dias, todas as horas, estás sendo continuamente assassinado.
Abraços
Jorge Picado