segunda-feira, 15 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4532: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (IV): Desertores

1. Mensagem do Vasco da Gama (*), ex-Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74, com data de 14 de Junho de 2009:

Camarada Carlos Vinhal,
Envio texto que anexo que pretende analisar o tema desertores.

Um abraço amigo
Vasco da Gama


BANALIDADES DA FOZ DO MONDEGO - IV

Também tive um (?) desertor na minha CCav 8351 – Os Tigres do Cumbijã

Sem querer entrar em qualquer polémica, até porque não possuo nem armas nem argumentos suficientes sobre o assunto lançado no post 4517 (**) pelo nosso camarada António G. Matos, gostaria de referir que considero este nosso camarada, que não conheço pessoalmente, um dos bloguistas de leitura obrigatória, não só pela qualidade da sua escrita e pelo encadear das suas ideias, mas fundamentalmente pela profundidade dos temas que nos apresenta e que são, tenho a certeza, fruto de uma reflexão prévia.

Não basta pois, dispararmos um quero que os desertores se lixem, ou os desertores que vão tocar tangos para a rua deles.

A guerra não foi pertença apenas dos combatentes, mas envolveu a sociedade em geral e as nossas famílias em particular e, porque não, também alguns desertores.

Haverá, creio, vários tipos de desertores na nossa guerra da Guiné.

Antes da sua classificação, dizer que temos no nosso Blogue combatentes que partiram para a Guiné para defender a integridade da pátria que, para eles, ia de Trás-Os-Montes a Timor e outros que eram pura e simplesmente obrigados a ir, embora não concordassem com a guerra como solução para o problema ultramarino. Eu, para que não paire qualquer dúvida, enquadrava-me nestes últimos. Curiosamente estas diferenças esbatiam-se, de imediato, entre nós. O sofrimento e a solidão eram o denominador comum entre todos. Conversávamos, colocávamos dúvidas, estávamos juntos!

Ajudávamo-nos

Estimulávamo-nos

Éramos unidos

Éramos amigos

Partilhávamos

Hoje somos Irmãos

Voltando à minha classificação dos desertores:

Os meninos bem de vida e filhos de papá que deram o salto quando souberam que a Guiné lhes havia saído em rifa e que foram para exílios dourados de Paris ou de Genebra ou de qualquer outra cidade europeia, onde prosseguiram os seus estudos e concluíram os seus cursos. Safaram-se, direi eu; o que não admito é que hoje mandem palpites sobre a guerra colonial e se armem e por vezes sejam considerados e tratados como heróis anti-fascistas e não tenham a coragem de dizer: fugi porque tive medo da Guiné e tive possibilidade de o fazer. O que farias tu no meu lugar?

Preferem o epíteto de lutadores pela liberdade vindos do bem-bom e chegados a Portugal de Sud-Expresso ou de avião… Se lhes tem saído na rifa Luanda, o galo cantaria de outra maneira e o seu discurso seria diferente.

Os anónimos que foram para França a salto e que se mantiveram calados, dizendo apenas: para a Guiné nunca! Tiveram a guerra deles nos arredores de Paris, vivendo de forma sub-humana nos bidons-ville mas mantiveram-se humildes e mantêm a sua máxima de Guiné, nunca. Tiveram medo e confessam-no, sem se armarem….

Temos os que embarcaram connosco e que deram o salto quando vieram de férias à metrópole. Aconteceu a um furriel da minha companhia, o Pereira, a quem os Tigres designam por furriel fugitivo ou fugitivo, tout court. O seu não regresso à minha Companhia ainda me levou a ser ouvido pelo Pide de Aldeia Formosa que achou estranho o facto de eu não ter desconfiado de nada…

O fugitivo foi a um dos primeiros convívios da nossa Companhia, alguns anos após o 25 de Abril. Acreditem que nenhum de nós lhe cobrou o que quer que fosse, muito embora nunca mais tivesse aparecido. Conversámos e ele apenas referiu que não conseguia aguentar a situação que a nossa Companhia estava a viver e que tinha tido a oportunidade de se pirar. Eu sei que apenas pensou nele e os outros que se lixem, mas para quê fazê-lo sofrer mais com o nosso julgamento?

Cada um é como cada qual e quão diferente foi a atitude do nosso José Brás que, de férias em Portugal, recebeu a notícia da morte dos seus camaradas, o Dias e o Oliveira que morreram sem ele em Xinxi-Dari.

Nem o pai o convenceu a dar o salto e o Mejo iria continuar a ser a sua pátria por mais algum tempo…. “E sem precisar de dizer-lhe que me sentia miserável por ter deixado morrer aqueles amigos sem a minha presença de arma na mão…”

Obrigado pelos teus escritos, já reconhecidos publicamente, e um obrigado ainda maior pela lição, verdadeiro hino a uma das mais bonitas palavras – a solidariedade - que este teu fabuloso conto encerra.

Quem me dera que o furriel da minha Companhia se chamasse José Brás.

Temos os desertores que se passaram do nosso lado para o inimigo. Estes, que até são ouvidos e vistos em programas televisivos, além de desertores, aproveitaram os seus conhecimentos dos locais de onde desertaram, entregaram trunfos ao outro lado, permitindo que os seus ex-camaradas sofressem ainda mais. Os meus camaradas que os qualifiquem….

Há, pois, na minha perspectiva, tipos diversos de desertores…, e se calhar alguns deles mereciam uma oportunidade para se justificarem…, ou não!

Termino com um abraço de respeito a todos os meus queridos camaradas combatentes da Guiné e também com uma pergunta inocente: Como chamar aos nossos camaradas que embarcaram connosco tendo ido até ao mato profundo e dias após chegarem ao mato eram, fruto de cunha valente, transferidos em definitivo para o ar condicionado de Bissau?

Um abração
Vasco A.R.da Gama
__________

Notas de CV:

(*) Vd. poste de 26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3939: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (1): Vasco da Gama, ex-Cap Mil, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74

(**) Vd. poste de 13 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4517: Controvérsias (18): O outro lado da guerra, os desertores (António G. Matos)

Vd. último poste da série de 26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3939: Banalidades da Foz do Mondego (Vasco da Gama) (III) Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos

15 comentários:

António Matos disse...

PARTE I
Caro Vasco da Gama, tive uma grande indecisão em colocar este meu comentário neste teu post ou, por outro lado, no meu post 4517 perante a coletânea dos comentários que fizeram o favor de me fazer.
Preferi a honra da primeira hipótese ainda por cima por ser o primeiro comentário e assim encabeçar uma outra lista de contestatários ao tema.
Começo por agradecer as tuas palavras que pecam por excesso desmedido no que a mim dizem respeito. Obrigado, pois.
Em segundo lugar, permite-me confessar um certo atordoamento pois acabo de chegar de umas mini-férias e ao abrir o blog, sou literalmente atropelado por várias dezenas de posts e comentários os quais, juntamente com os emails, prefizeram a bonita soma de 179 documentos que gostava de ler atentamente.
Felizmente que só gozei 5 dias ....
Bom, passemos ao tema que me encheu de perplexidade tal o afinadíssimo coro de discordantes.
Repito a adjectivação ao sentimento que tive ao ler os referidos comentários - perplexidade - e não qualquer vontade de tornear o que na circunstância disse relativamente à ideia explanada.
Dei comigo a fazer uma pequeníssima pesquisa na blog de outras eventuais ocasiões onde o tema tivesse sido já abordado.
Não faltaram posts em barda onde pesquisar opiniões já manifestadas e convidava todos aqueles que discordando, não se coibiram agora, e com alguma sobranceria, a enjeitarem de modo que me pareceu muito corporativo, uma participação que se pretende esclarecedora do ponto de vista contextual da realidade da deserção.
Dizer-se que neste blog não tem cabimento quem não tenha uma afinidade com a Guiné de ontem ou de hoje e deduzir que o desertor estaria nesse grupo a quem se deveriam fechar as portas às suas opiniões, parecer-me-ia, com o devido respeito, uma atitude castradora e não susceptível de abrir novos horizontes à compreensão desta temática.
Em última análise, e por um medo incontrolável, fugiram à Guiné !
Espero que ponderem, portanto, a intrínseca ligação que tiveram àquele território!
( continua )

António Matos disse...

PARTE II
( continuação )
Opormo-nos às argumentações de quem fez uma opção de cujas consequências lhes diz unicamente respeito e concluir que daí não vem qualquer interesse cultural para o blog, parece-me consubstanciar um problema mal resolvido e o sinal evidente que a guerra acabada há quase 40 anos ainda não limou muitas arestas não obstante grandes discursos humanistas.
Não posso deixar de agradecer a bondade em me(nos)elucidarem sobre o significado de "desertor" .
Em abono da verdade, diga-se que o CRIME a que se refere o comentarista, é-o no Código Penal Militar. Noutros contextos consta :
desertor (ô)
s. m.
1. Militar que deserta.
2. Fig. Indivíduo que abandona um partido para filiar-se noutro.
3. Pessoa que deixa de ser assídua.

desertar - Conjugar
v. intr.
1. Deixar o serviço militar, sem licença e com ânimo de o abandonar de todo.
2. Ausentar-se, afastar-se.
3. Fugir (falando do cavalo).
v. tr.
4. Desamparar.
5. Renunciar.
6. Despovoar, deixar deserto.
7. Dir. Desistir do recurso.

Repare-se na ausência do vocábulo CRIME.

É, pois, estranho que não se pretenda dar voz ao CRIMINOSO ( criminoso que não matou ninguém, não roubou ninguém, tão só se acobardou onde outros também se borraram de medo mas optaram por essa privação ) recusando a mais elementar noção de arrojo intelectual para se fazer história e não para se lhes dar um louvor !
Que fácil que é elogiar os desertores do outro lado quando esses se nos juntam e mandar para o cadafalso os nossos que optaram pelo reverso da medalha ...
Mesmo quando o reverso da medalha foi um par de anos na cidade luz !
Felizmente que há exemplos de outros ventos por essa Europa fora e o parlamento alemão já em 2002 reabilitou desertores condenados pelo regime de Hitler.
Lá chegaremos, estou certo.

Posto isto, e para que se saiba a minha opinião, limito-me a transcrever o que já manifestara em post antigo .
"Não fui militarista porque a tanto me impedia a maneira de ser e de pensar.
Também não fui objector de consciência sob cuja capa se esconderam muitos cobardes!
Fui o que foram 99% dos camaradas; arregimentado por circunstâncias bélicas próprias de um país em desdita que cumpriu uma determinação nacional sem a questionar demasiado, não por cega obediência ao status quo, mas sim porque a vida tinha um determinado rumo onde a deserção não tinha cabimento perante os projectos futuros.
Reconheço o direito a essa opção por outros e tenho grandes amigos entre eles".

Longo vai o comentário e muito haveria para dizer.
Não quero deixar de agradecer uma vez mais o interesse que o tema provocou e os respectivos comentários.
Abraços,
António Matos

Anónimo disse...

Como sempre, sábias palavras escreveu Vasco da Gama, o actual, não o outro. .

Disse quase tudo, está no seu escrito as diferentes formas de desertor, uns por medo, outros por egoísmo e se estarem borrifando para os outros, antes, durante e depois do serviço militar.

Dão óptimos políticos.

Arrogam-se de uma verdade que faz corar aqueles que não desertaram.

Já o tinha aflorado uma vez, tenho amigos que o fizeram. Por vezes julgam-se superiores e melhores pessoas do que aqueles que "andaram lá a matar pretos", maneira como nos definem, mesmo que não tenhamos dado um tiro podemos ter passado a ordem etc. etc.etc. As suas visões deturpadas são tantas e dizem-no com uma convicção tal que já nem há pachorra para falar desse tema.

Acredito que em alguns haja razões mais fortes que a própria razão para terem feito o que fizeram, mas só els poderão dizê-lo e a nós compete ouvi-los, lê-los e apreciar os seus argumentos, se o quiserem fazer.
BSardinha

Unknown disse...

Caros amigos, entre sábias palavras e a honestidade intelectual, eu prefiro a segunda.
De outra forma, este é um dos assuntos sobre a guerra colonial que não será de todo "historiado" enquanto não nos lavar-mos de ideias feitas, falsos patriotismos, para já não falar dos ainda hoje impregnados de militarismos e não simplesmente de homens que por vontade própria ou contra-a-vontade foram combater onde uns mais outros menos sofreram de formas diferentes.
Digo-vos que alguns de nós sofreram bastante sem terem sofrido um só ataque. Bastava que tivesse antecedentes de dignidade humana e histórica.
Porque tenho dificuldade em "teclar" as ideias, um destes dias porei à disposição do Blog, o que penso sobre o assunto.
Antonio Matos, admirei a tua postura.
Carlos Filipe (um desertor dentro das próprias fileiras).
ex CCS-BCaç3872 - Galomaro/71

Anónimo disse...

Carlos Filipe,

Não percebi bem aquela da honestidade intelectual.

Não sou de meias palavras mas acho que este não é o local para derimirmos as divergências pessoais, se as há.

Não devo nada ao regime cessante em 25 de Abril, com medo dos países "para além da cortina de ferro", eram assim definidos, como nada devo ao actual, ou a qualquer religião, seita ou partido existente ou que venha a existir e por isso falo com pleno à vontade.

Será isto honestidade intelectual?
BSardinha

Luís Graça disse...

Caros amigos e camaradas:

Em menos de dois anos ganhámos outro calo, outra maturidade, outra sensibilidade, outra capacidade para debater, publicamente, no nosso blogue, temas ditos fracturantes como os desertores ou melhor "nós e os desertores"... Sim, porque o tema em si só merece discussão em termos relacionais: nós, combatentes (na Guiné, convém não esquecer); os outros, que foram refractários (nunca vestiram a farda) ou desertores (antes ou depois de embarcar para a Guiné, sendo reduzido o nº daqueles que se encontram nesta última circunstância, esses sim, os nossos verdadeiros "camaradas desertores", como o Furriel dos Tigres do Cumbijã, que desertou nas férias, ao fim de um ano de comissão na Guiné...).

Estive a comparar as estatísticas e até agora há 30 postes com estes marcadores ou palavras chaves("desertores", "deserção")...

Em contrapartida há apenas 8 "heróis", isto é, oito postes em que os nossos editores seleccionaram o marcador "heróis"...

Não se tire conclusões (estatísticas) apressadas: ninguém poderá concluir que houve mais desertores do que heróis... Houve, sim, foi um vivo debate à volta da proposta do João Tunes (que, depois disso, infelizmente deixou de colaborar com assiduidade no nosso blogue)...

Recorde-se o teor dessa proposta que passava pela admissão, na nossa tertúlia, de um antigo fuzileiro que desertara na Guiné, e a quem o João Tunes tratava por "meu camarada desertor" (*)

O João acabou por deixar cair a sua proposta ao fim de mais de uma dúzia de postes sobre este tema quente (**).

Na altura, o editor L.G. escreveu o seguinte, como comentário ao poste do João Tunes:

"(i) O João merece um grande aplauso, não por retirar a proposta, mas pela sua coragem, frontalidade, coerência e honestidade intelectual... Num ponto estamos de acordo: não pode haver dois pesos e duas medidas para os nossos desertores e para os do PAIGC... Os do PAIGC seriam bons, os nossos traidores... Além disso, também tivemos desertores arrependidos como o fuzileiro Alfaiate... que foi a Conacri com o Alpoim Galvão...

"(ii) Por outro lado, o João é um grande observador do nosso grupo, ao dizer: 'Aprendi mais um pouco sobre as permanências emocionais que a vivência de uma guerra ocorrida há quarenta anos ainda desencadeia'... Bem hajas, João, por teres agitado e animado a caserna... É verdade: isto ainda é uma Caixa de Pandora, cheia de fantasmas e demónios, ainda há muitos esqueletos no sótão da memória... Mas foi um bom ensaio para outros debates" (...).


Por seu turno, o 'canadiano' João Bonifácio (que foi Fur Mil do SAM
CCAÇ 2402/ BCAÇ 2851,Có, Mansabá, Olossato, 1968/70), fez votos para que este tema (os desertores) não fosse "o último tema para nos ocupar as horas vagas da caserna". Como vês, João, não nos tem faltado a matéria-prima… E só agora agora voltámos a aflorá-lo… O tema continua (e continuará) a dar pano para mangas... Temos é outra inteligência emocional na sua abordagem e discussão no blogue...

Um Alfa Bravo. Luís

PS - Se querem saber a minha opinião, gostava de um dia poder ler, no nosso blogue, um depoimento como o do furriel da companhia do Vasco da Gama, sob o título "Eu, desertor, me confesso"...
____________

(*) 3 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1560: Questões politicamente (in)correctas (25): O ex-fuzileiro naval António Pinto, meu camarada desertor (João Tunes)

(**) 12 de Setembro de 2007
Guiné 63/74 - P2098: Debates da nossa tertúlia (I): Nós e os desertores (14): Proposta retirada (João Tunes / João Bonifácio)

António Matos disse...

Caríssimos, não dou por terminado nem mal empregue o tempo durante o qual nos pronunciámos sobre a temática deserção / desertores.
Pelo contrário, alimento uma vaga esperança de ainda vir a ler uma ou outra intervenção de quem assumiu uma posição minoritária desde que argumentada com clareza, com dignidade e com respeito por todos os outros.
De outro modo seria extemporânea e em nada contribuiria para o tão desejado desafio deste blog - contar as histórias na 1ª pessoa - sendo ela o nosso camarada de armas, a família que se nos juntou, o inimigo que nos feriu, o desertor, o indígena, o pide local, enfim todos aqueles que fizeram parte daquela realidade.
E de nada valerão gritinhos estridentes que nada acrescentem à discussão e à vontade de saber !
Pela minha parte, sou todo ouvidos !
Abraços,
António Matos

Anónimo disse...

Camaradas
O António, o Manel, e agora o Vasco, assumem funções de pensadores sobre a matéria em apreço, os desertores.
Eles imaginaram o tema, viram-no sob diferentes perspectivas, viram-no de olhos cerrados, certamente, que é como por vezes se vê melhor,e explanaram os seus pontos de vista, com lucidez e lealdade. Pode haver estórias de muito interesse para nós bloguistas.
Depois de ler o ante-penúltimo parágrafo do Vasco, que se refere àqueles que de artes mágicas e influências se valeram para o grande desenfianço, para Bissau , ou para casa, dei-me a cogitar,que merecem a minha total desconsideração, porque são a denúncia da maior injustiça no organismo militar, que dispensa(va) tratamento desigual entre cada um, enquanto se arvora(va) em detentor da verdade, da justiça e do exemplo no superior dever da defesa da Pátria. Estes,afiguram-se-me como traidores sem vergonha.
Claro que estão estribados em relatórios médicos. Se calhar ainda beneficiam do regime de isenções dos DFA. Quiçá uma cruz de guerra.
Por outro lado, tive conhecimento de que uma companhia, abandonou as viaturas que escoltava, aos primeiros tiros que soaram da mata, do que resultou a destruição do material. Isto para mim, que fiz escoltas com um muito reduzido número de homens, era inimaginável. Mas é uma atitude de abandono. Não teria sido melhor terem desertado? Ou as suas motivações não teriam a ver com a falta de motivação de uma guerra demasiado prolongada? Com a ausência de moral que grassava pelos aquartelamentos onde uns enriqueciam à pála da desgraça alheia?
O assunto não se esgota facilmente, tem a ver com as relações inter-pessoais, que, como é sabido, divergem de pessoa para pessoa, por força da educação, da personalidade e das experiências pessoais.
Aos desertores, que o foram por terem vantagens relativamente aos demais, que lá na estranja concluiram os seus cursos, e no regresso desempenharam funções de favor, político ou não, que se acolheram aos mimos partidários, para esses, igualmente, o meu desprezo. E também para os que se pavoneiam de terem sido o que não foram.
Abraços fraternos
José Dinis

Unknown disse...

Para BSardinha, amigo interprete~me que; sábias palavras podem "embriagar" (permita a expressão) os factos, e honestidade intelectual num lugar com os objectivos deste (se não estou errado) corresponde a debater o tema sem estar suportado em ideias ou conceitos pré-defenidos. De qualquer modo não houve qualquer outro sentido naquela frase.
"Num ponto estamos de acordo: não pode haver dois pesos e duas medidas para os nossos desertores e para os do PAIGC... " de Luis Graça.
E com o devido respeito, eu acrescentaria; nem para os nossos combatentes e os do PAIGC.
Um abraço para todos e para cada um.
Carlos Filipe -- galomaro@sapo.pt
ex CCS . BCaç3872
Galomaro/71

manuel maia disse...

Caro Vasco,

Consultei o Lello Universal(diccionário cá da casa que me acompanha há anos) e constatei.

DESERTAR:Tornar deserto;despovoar;renunciar;desertar a causa a demanda;deixar o serviço; deixar o serviço militar sem licença;ausentar-se;afastar-se...

DESERÇÃO: Acto de desertar.
A deserção é um CRIME MILITAR.

ENCICLOPÉDIA MILITAR: em TEMPO DE PAZ comete o crime de deserção,o militar que faltar ao serviço por espaço de quinze dias consecutivos (acontecer-me-ia a mim não por faltar ao serviço mas por não estar a dormir no HMR1 Porto já depois do regresso do ultramar, ver penúltimo poste...)

Em CASO DE GUERRA,este espaço de tempo é reduzido a cinco dias;

As PENAS a aplicar são segundo o CÓDIGO DA JUSTIÇA MILITAR PARA AS PRAÇAS DE PRÉ; em tempo de paz,a deportação militar, e em tempo de guerra,presídio militar.

PARA OS OFICIAIS; a reclusão e o presídio militar.

QUALQUER DESTAS PENAS IMPORTA A DEMISSÃO.

será imposta a PENA DE MORTE ao militar que deserte em frente ao inimigo.

ASSIM,o poeta Alegre poderia incorrer na pena de morte já que a sua deserção se deu em período de guerra, embora fosse difícil provar se em frente,ou não,ao inimigo...

Conclui-se portanto que tem valido a pena o crime em Portugal.

Vejamos: Palma Inácio assaltou o Banco da Figueira.

como castigo teve o estatuto de herói e um lugar de destaque político.

Alegre como vimos já,desertou e teve como castigo um lugar vitalício na assembleia da republica( não estarÁ nas próximas listas por opção estratégica para gizar plano de "assalto" à presidência da republica). Deram-lhe ainda inúmeras benesses entre as quais uma reforma de um trabalho de três anos( se é que alguma vez lá esteve...) de funcionário de uma rádio...

OTELO: Esteve envolvido em crimes de de morte aquando do seu envolvimento na política.
Está na reforma,quando à luz do regulamento deveria ter sido expulso. Para quem assinou, em branco, ordens de prisão...

QUANTO AO FURRIEL DO VASCO DA GAMA

Teve o bom senso de não aparecer mais aos convívios sem ser necessário alguém lhe lembrar a sua condiçãode mais borrado de medo que os outros...
NO ENTANTO SE ACASO NÃO ESTIVER NA SITUAÇÃO DE SUGADOR DA TETA DO ESTADO, QUE O FAÇA POIS TEM O MESMO DIREITO DE ALEGRE E OUTROS.


Evidentemente que se acaso puxasse a corda à faniqueira,desenrolar-se-iam muitos mais casos...

Parafraseando um conhecido treinador de futebol brasileiro, que abancou em Portugal durante anos a sugar na teta... " e o burro sou eu"?

São estes os heróis a quem a Pátria deve homenagens!!!

Um abraço para ti e toda a tabanca
manuel maia

Luís Graça disse...

Olha a Caixa de Pandora, Manel, olha a Caixa de Pandora, Manel... O nosso blogue chama-se Luís Graça & Camaradas da Guiné... Não te esqueças...

Em princípio, os refractários e os desertores não são elegíveis para o nosso blogue, a menos que apareça alguém que tenha estado na Guiné e desertado a meio da comissão... Se sim, como vamos tratá-lo ? Meio combatente, meio desertor ?

Esta questão é sensível... Pessoalmente não aprecio que metemos ao barulho gente que nem sequer é do blogue, mesmo que sejam figuras públicas... O nosso blogue vive de contar histórias, as nossas histórias da Guiné, não precisa de se alimentar dos cadáveres dos outros. Como eu costumo lembrar, não somos hienas nem chacais... Um grande abraço. Luís Graça

António Matos disse...

Caro Luís Graça, só venho a terreiro por ter sido o originador desta polémica - desertores versão 2 ou 3 ou 4 ...- e, não estando no meu espírito retirá-la, deixá-la-ei em banho Maria para que dê os frutos que tiver que dar.
Permite-me, portanto, que volte à vaca fria da questão e que me manifeste simpaticamente contra a ideia Shakespeareana de como trataríamos um desertor que tendo estado na Guiné, às tantas, deu o salto.
( abro um parêntesis para concordar que neste caso estávamos perante um desertor ; o refractário é o "mangas" que se balda antes da recruta )
Ora, para mim, a questão não é da forma mas sim do conteúdo !
O que eu propus foi tão simplesmente que analisássemos o ponto de vista sociológico do dito e que complementássemos o nosso entendimento no contexto de guerra que vivemos.
Dizia eu no P4517 :
"Considero que, para uma boa compreensão dos contextos social, político, económico, das relações de causalidade da acção aos resultados, e das novas maneiras de ver estas problemáticas, os então desertores poderão contribuir para o enriquecimento cultural deste blog".
E depois dizia mais :
"Dentro dos voyeurs desta tabanca haverá, com certeza, quem tenha optado por essa via e, aceitando-lhes a liberdade de o terem feito, desafio-os a tornarem claros os conceitos atrás mencionados".
Finalmente acho curioso que o desertor seja alvo de tantos recados para que as suas ideias não sejam aceites no blog e ninguém se pronuncie sobre o pide de que falei ( é nesta série de comentários ) como sendo mais uma peça deste xadrez sociológico.
Faz-me parecer que, afinal, andamos com algum déficit democrático, não ?
Ou talvez tendencioso ...
Ou, quiçá, neo-revolucionário ...
Ou ... ou ... ou ...
Um grande abraço para ti e para todos os que se interessam por estas ... merdas ( digo eu ) ...
António

Anónimo disse...

Camarada e Amigo Manuel Maia,
Restantes Camaradas e Amigos,
À medida que vou entrando na idade, já cá cantam 63, vou ficando mais tolerante e predisposto à discussão serena de temas difíceis, como é o do caso vertente.
Cada um expressa-se à sua maneira, com inteira liberdade, por isso deixa-me dizer-te que acho o teu comentário eivado de algum radicalismo, mesmo impregnado de revolta, que afasta à partida eventuais possibilidades de alguém que viveu a historia da deserção e cujo aparecimento poderia, ao explicar a razão de ser da sua atitude, levar-nos, aos não desertores, a conhecer novas experiências e novas vivências por quem enveredou por uma solução, nalguns casos, com consequências desastrosas para toda a vida.
Ao classificar em diferentes "categorias" os desertores pretendi ser menos radical e se é verdade que o meu furriel, que referes, não mais apareceu a nenhum convívio, também é verdade que ninguém lhe cobrou o que quer que fosse pelo facto de não ter regressado de férias.
Penso que foi o nosso camarada José Dinis que havia colocado num post algo que me deixou a pensar.." se me mandassem prender eu seguiria para a fronteira".É um combatente não desertor que, com toda a hombridade o afirma e leva-me à seguinte propositura: sendo muitos dos atabancados contra a guerra colonial, qual a razão PORQUE NÃO DESERTÁMOS"?
Refiro-me ao ANTES, pois sobre o durante conhecem a minha opinião e a forma como nos irmanámos no mesmo espírito.
Um abraço amigo para todos,
VascoA.R.da Gama
P.S.O meu camarada e particular amigo Manuel Reis quando palestra nas escolas sobre a nossa guerra vê-se muitas vezes confrontado pelos miúdos que lhe perguntam: Se eram contra porque não desertaram e foram para lá?

Anónimo disse...

Obrigado Vasco da Gama por este texto, parabéns.

Acho que abordou de forma que acho correcta este assunto difícil, houve muitas motivações para fugir à guerra. Como abordado pelo José Manel no seu poemário, dois camaradas da companhia desertaram, conheci-os de perto, e isso tocou-me, tinham as suas motivações mas eram casos distintos.

Meu nome é Carlos Farinha, pertenci à companhia de Mampatá, CART 6250 e fui o comandante do 1º pelotão, acrescento, também, que foi meu prof. no ISCAC há uns anos atrás. Ainda não sou tabanqueiro, talvez um dia, quem sabe.

Anónimo disse...

Meu Camarada da Guiné e Amigo,
Carlos Farinha, lembro-me muito bem de ti, tanto de Mampatá como do Instituo Superior de Contabilidade e Administração de Coimbra, onde nos reencontrámos muitos anos depois de termos vindo da Guiné.
No próximo dia 4 de Julho vou ao almoço da V/Companhia onde espero abraçar os muitos amigos e ainda rever o nosso amigo Luís Marcelino.O Zé Pedro dos obuses 14 de Mampatá vai dar-me boleia, pois não consigo conduzir de noite.
O DIA DE TE TORNARES TABANQUEIRO CHEGOU.
Vou pôr os meus contactos a funcionar para chegar até ti.
Se leres este comentário contacta-me . 965177363
Um Abração do amigo,
Vasco A.R.da Gama