História da Guiné e ilhas de Cabo Verde, PAIGC, 1974
As Edições Afrontamento iniciaram logo em 1974 a publicação de monografias sob o título “Libertação dos povos das colónias”.
O número 1 foi dedicado ao PAIGC. O destinatário desta obra, presume-se, era o quadro do PAIGC, talvez o aluno das “regiões libertadas”, talvez mesmo o estudante guineense a estudar em países do Leste, todos eles carentes de um conjunto de referências indispensáveis ao tempo: a história da Guiné-Bissau em África e na África em descolonização; os dados capitais da colonização portuguesa tanto na Guiné como nas ilhas de Cabo Verde; caracterização do movimento de libertação em África e o seu desenvolvimento nas colónias portuguesas; etapas da luta de libertação nacional da Guiné e em Cabo Verde no contexto da luta anti-imperialista; dados curriculares de Amílcar Cabral e proclamação da República da Guiné-Bissau.
É um documento histórico que merece ser ponderado, na sustentação ideológica, como manual explicativo de uma visão da identidade nacional, como bússola que desse o azimute, dentro da Guiné-Bissau e ilhas de Cabo Verde, a todas as lutas travadas em África, fazendo concertar os movimentos de libertação ao tempo sob a égide do PAIGC.
É por isso que vale a pena darmos uma síntese de um documento profundamente datado e que perdeu actualidade na Guiné-Bissau quando esta se separou de Cabo Verde.
Certamente por influência de Amílcar Cabral, os compiladores deste manual não iludem a tónica marxista, temperando-a nas suas nuances orientadas para Moscovo, mas também para o Movimento dos Não Alinhados e as sociais-democracias escandinavas, que tanto apoio concederam ao PAIGC.
O enquadramento histórico do continente africano tem destaque, abrindo com a civilização egípcia e depois a presença do Império Romano; segue-se o islamismo e a presença árabe no norte de África; uma nação que é um mosaico étnico (como é a Guiné-Bissau) precisava de várias chaves explicativas para entender os seus autóctones e os povos invasores: daí falar-se dos impérios do Mali e do Songhay, tão importantes na Idade Média.
Em capítulo autónomo, aborda-
se o povoamento da Guiné e das ilhas de Cabo Verde, percebe-se que os autores andam à procura de um elemento de coesão para a identidade destes povos, recorre-se ao artifício de que foi o colonialismo português o responsável pela desunião entre guineenses e cabo-verdianos, na época era fundamental simular que as divergências decorriam exclusivamente do colonialismo.
O relato histórico continua pelos reinos mandingas, a chegada dos fulas e depois a presença dos europeus em África. Segue-se a descrição dos estabelecimentos e entrepostos comerciais, a ascensão e a queda do comércio de escravos até se entrar na colonização contemporânea.
Os elementos de resistência à colonização portuguesa e a “pacificação” têm justo realce neste manual de doutrinação, enunciando até outros resistentes africanos nas periferias da Guiné-Bissau.
Seguidamente, entra-se na apresentação minuciosa do sistema colonial português e o papel que as 2 Guerras Mundiais tiveram na marcha da descolonização.
Em capítulo subsequente relata-se da história dos diferentes movimentos de libertação nas diferentes colónias portuguesas, e assim se chega aos princípios revolucionários do PAIGC.
A partir daqui segue-se a descrição da organização económica e política nas regiões libertadas em sintonia com a luta anti-imperialista no mundo.
É um manual de doutrinação redigido com sinceridade, ingenuidade, utopia mas também com hábil ilusão de factos da história real que se pretendiam solucionar mais tarde: é o caso da falsa identidade entre os povos da Guiné e Cabo Verde, que a despeito de inúmeros e profundos pontos de encontro são duas realidades culturais distintas.
Este exemplar vai ser oferecido para o espólio do blogue.
Comentário: esta ilustração de carácter propagandístico fazia parte da apresentação do PAIGC, certificava a tese dos 2/3 dos territórios ocupados. Sabe-se de há muito que não tinha verosimilhança com a situação real de territórios ocupados, mas impressionava muito enquanto cartão de visita do movimento de libertação.
Beja Santos
Alf Mil Cmdt Pel Caç Nat 52
Imagens: Beja Santos (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
1 comentário:
Tantos ilusionistas que desfilaram no palco dos guineenses!
Ainda hoje, continuam a actuar para aquele povo.
Antº Rosinha
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