segunda-feira, 27 de julho de 2009

Guiné 63/74 - P4748: Notas de leitura (12): História da Guiné e ilhas de Cabo Verde - PAIGC, 1974 (Beja Santos)


1. Do nosso Camarada Beja Santos, Missirá e Bambadinca - 1968/70, recebemos a seguinte mensagem:

História da Guiné e ilhas de Cabo Verde, PAIGC, 1974

As Edições Afrontamento iniciaram logo em 1974 a publicação de monografias sob o título “Libertação dos povos das colónias”.

O número 1 foi dedicado ao PAIGC. O destinatário desta obra, presume-se, era o quadro do PAIGC, talvez o aluno das “regiões libertadas”, talvez mesmo o estudante guineense a estudar em países do Leste, todos eles carentes de um conjunto de referências indispensáveis ao tempo: a história da Guiné-Bissau em África e na África em descolonização; os dados capitais da colonização portuguesa tanto na Guiné como nas ilhas de Cabo Verde; caracterização do movimento de libertação em África e o seu desenvolvimento nas colónias portuguesas; etapas da luta de libertação nacional da Guiné e em Cabo Verde no contexto da luta anti-imperialista; dados curriculares de Amílcar Cabral e proclamação da República da Guiné-Bissau.

É um documento histórico que merece ser ponderado, na sustentação ideológica, como manual explicativo de uma visão da identidade nacional, como bússola que desse o azimute, dentro da Guiné-Bissau e ilhas de Cabo Verde, a todas as lutas travadas em África, fazendo concertar os movimentos de libertação ao tempo sob a égide do PAIGC.

É por isso que vale a pena darmos uma síntese de um documento profundamente datado e que perdeu actualidade na Guiné-Bissau quando esta se separou de Cabo Verde.

Certamente por influência de Amílcar Cabral, os compiladores deste manual não iludem a tónica marxista, temperando-a nas suas nuances orientadas para Moscovo, mas também para o Movimento dos Não Alinhados e as sociais-democracias escandinavas, que tanto apoio concederam ao PAIGC.

O enquadramento histórico do continente africano tem destaque, abrindo com a civilização egípcia e depois a presença do Império Romano; segue-se o islamismo e a presença árabe no norte de África; uma nação que é um mosaico étnico (como é a Guiné-Bissau) precisava de várias chaves explicativas para entender os seus autóctones e os povos invasores: daí falar-se dos impérios do Mali e do Songhay, tão importantes na Idade Média.

Em capítulo autónomo, aborda-
se o povoamento da Guiné e das ilhas de Cabo Verde, percebe-se que os autores andam à procura de um elemento de coesão para a identidade destes povos, recorre-se ao artifício de que foi o colonialismo português o responsável pela desunião entre guineenses e cabo-verdianos, na época era fundamental simular que as divergências decorriam exclusivamente do colonialismo.

O relato histórico continua pelos reinos mandingas, a chegada dos fulas e depois a presença dos europeus em África. Segue-se a descrição dos estabelecimentos e entrepostos comerciais, a ascensão e a queda do comércio de escravos até se entrar na colonização contemporânea.

Os elementos de resistência à colonização portuguesa e a “pacificação” têm justo realce neste manual de doutrinação, enunciando até outros resistentes africanos nas periferias da Guiné-Bissau.

Seguidamente, entra-se na apresentação minuciosa do sistema colonial português e o papel que as 2 Guerras Mundiais tiveram na marcha da descolonização.

Em capítulo subsequente relata-se da história dos diferentes movimentos de libertação nas diferentes colónias portuguesas, e assim se chega aos princípios revolucionários do PAIGC.

A partir daqui segue-se a descrição da organização económica e política nas regiões libertadas em sintonia com a luta anti-imperialista no mundo.

É um manual de doutrinação redigido com sinceridade, ingenuidade, utopia mas também com hábil ilusão de factos da história real que se pretendiam solucionar mais tarde: é o caso da falsa identidade entre os povos da Guiné e Cabo Verde, que a despeito de inúmeros e profundos pontos de encontro são duas realidades culturais distintas.

Este exemplar vai ser oferecido para o espólio do blogue.



Comentário: esta ilustração de carácter propagandístico fazia parte da apresentação do PAIGC, certificava a tese dos 2/3 dos territórios ocupados. Sabe-se de há muito que não tinha verosimilhança com a situação real de territórios ocupados, mas impressionava muito enquanto cartão de visita do movimento de libertação.

Beja Santos
Alf Mil Cmdt Pel Caç Nat 52

Imagens: Beja Santos (2009). Direitos reservados.

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

1 comentário:

Anónimo disse...

Tantos ilusionistas que desfilaram no palco dos guineenses!

Ainda hoje, continuam a actuar para aquele povo.

Antº Rosinha