sábado, 29 de maio de 2010

Guiné 63/74 - P6488: Controvérsias (78): Como foi e como é que se comporta uma anti-guerrilha perante uma guerrilha (Mário Gualter Rodrigues Pinto)


1. O nosso Camarada Mário Gualter Rodrigues Pinto, ex-Fur Mil At Art da CART 2519 - "Os Morcegos de Mampatá" (Buba, Aldeia Formosa e Mampatá - 1969/71), enviou-nos a seguinte mensagem, em 25 de Maio de 2010:

Camaradas,

Resolvi intervir, também, face ao repto lançado pelo nosso amigo e camarada Mário Fitas, no comentário que fez no poste P6470 da autoria do camarada José Manuel Diniz.

COMO FOI E COMO É QUE SE COMPORTA UMA ANTI-GUERRILHA PERANTE UMA GUERRILHA
Quase todos, para não dizer a totalidade de nós, fomos mal preparados e instruídos, para enfrentar os cenários de guerra onde, por sorte ou azar, fomos parar.

Nos centros de instrução, que todos nós frequentamos, em Escolas Práticas do Exército, especialmente nas especialidades operacionais, foram-nos administradas aulas teóricas e práticas de Guerrilha, Anti-guerrilha e Contra -guerrilha.

Também todos nós temos em mente os instrutores que se esforçavam para que as matérias ministradas, fossem compreendidas e absorvidas, tanto na teoria como na prática e, para isso, não hesitavam em dar-nos cabo do “coirão” em acções e reacções simuladas às realidades do conflito, segundo planos e programas de instrução delineadas, quer pelos próprios, quer pelos Comandantes das respectivas Unidades.

Alguns desses instrutores eram oficiais do QP, já com várias passagens por uma, ou mais, das zonas do conflito em Angola, Moçambique ou Guiné. Todos eles nos transmitiam, o melhor que sabiam e podiam, as suas experiências de combate do(s) TO(s) por onde tinham passado.

Foram-nos administrados vários tipos de instrução táctica, física e psíquica, sobre os diversos tipos de armamento e equipamento. Aprumaram-nos e corrigiram-nos à sua maneira. Estudamos os manuais e os apontamentos que nos deram.

E, o que é certo, é que na realidade acabamos por constatar ao longo do tempo no TO, que tínhamos que nos adaptar, reaprender, desenrascar à boa moda portuguesa e, sobretudo, sobreviver!

Se lerem o poste P2717, de 03AGO2008, vamos encontrar algumas considerações bem oportunas do nosso camarada A. Marques Lopes (Coronel DFA na reforma), sobre o “Manual do Oficial Miliciano” e as instruções que o mesmo continha para a guerra de guerrilha.

Passo a citar um pequeno extracto: “Não deixa de ser irónico; Este Manual foi um presente envenenado, para muitos jovens Portugueses que passaram pelo TO, com responsabilidade no comando de homens mal preparados.”

Formaram-se batalhões, companhias, pelotões e secções para uma guerra de anti-guerrilha, cujo objectivo era combater acções de guerrilha, enfrentando um adversário que tinha vasto conhecimento das nossas posições, que como todos sabemos eram fixas no terreno e nós tínhamos que “esgravatar” muito tarrafo, picadas e bolanhas para localizar o IN e, quando o localizávamos, o mesmo tinha excelente segurança na fuga, nomeadamente para zonas territoriais fora do nosso alcance, como eram os casos além fronteiras dos países que nos rodeavam e onde estávamos proibidos de entrar.

A maioria dos Sectores Operacionais não tiveram quadros logísticos de oficiais à altura dos acontecimentos e das suas responsabilidades. Desconheciam quase tudo sobre o IN, as suas estratégias de acção, os seus números de efectivos, a sua localização no terreno e outros dados fundamentais. Não é segredo para ninguém que a sua maioria se refugiava dentro dos aquartelamentos deixando as hostilidades no exterior, a cargo dos alferes e furriéis milicianos.

Os mapas de Sector e ZA estavam na sua maioria desactualizados, pois neles constavam tabancas já desaparecidas, linhas de água inexistentes e estradas e trilhos que o mato tinha absorvido através do tempo e do abandono.

Nos croquis que nos eram distribuídos para os diversos tipos de missões, constatamos que diversas cotas e distâncias estavam erradas, o que nos levou, várias vezes, a entrarmos dentro de ZE do COMCHEF (as chamadas ZV).

Tivemos de rever o armamento por nossa iniciativa, por exemplo, concluímos que era inútil levar uma bazuca para o mato, pois só nos atrapalhava e não era prática.

Aumentamos, isso sim, o número de portadores de dilagramas a fim de acrescer o poder de fogo e em vez de levarmos uma HK, passamos a sair com duas (uma á frente das colunas e outra na retaguarda). Deixamos crescer as barbas e tornamo-nos “bichos do mato”, desenvolvendo sobretudo técnicas e manhas preciosas nas deslocações pelo meio da mata.

Mais tarde quando já conhecíamos toda a nossa ZA e sem precisarmos dos mapas e croquis, para executarmos as nossas missões e com a experiência que fomos acumulando sobre os comportamentos habituais do IN, fizemo-nos “esquecidos” de ordens obsoletas e teóricas e começamos a obter maior êxito nos resultados finais.

No entanto não posso deixar de narrar consequências negativas, que por vezes éramos obrigados a fazer em nome da segurança.

A minha Companhia tinha a ser cargo e como missão principal interceptar e dificultar ao máximo os movimentos e as colunas de abastecimento do IN, no corredor de Missirã, que derivando de Salancur se dirigiam ao Sector de Xitole.
Como é previsível atingir, era um local de forte risco de contacto e todo o cuidado de aproximação e instalação do pessoal, era feito de uma forma cuidada e discreta.

Os momentos aí passados quando nos encontrávamos emboscados eram tensos e cheios de angústia, dada a eminente passagem do IN, pelo que, o silêncio, a concentração e a observação de qualquer movimento suspeito eram fulcrais neste tipo de espera.

Só que, para nosso espanto pessoal, muitas vezes os Senhores do Comando Operacional resolviam dar uma voltinha de DO, pelas nossas posições denunciando-nos, involuntariamente como é óbvio, ao IN. O que nos tinha custado tanto suor e dor alcançar desmoronava-se assim, em instantes, pela satisfação dos primeiros em dar a sua voltinha numa DO.

Nessas ocasiões as emboscadas eram logo abortadas por nós, pois já sabíamos que tínhamos sido referenciados e não estávamos ali a fazer nada, regressando a posições mais confortáveis e menos perigosas, passando o resto do tempo em alerta até ao termo das respectivas missões.

Mário Fitas, o meu tempo não teve nada a ver com o teu, teve a ver com circunstâncias do meu Sector e com quem nos comandou e dirigiu.

Os comportamentos de Anti-guerrilha perante a Guerrilha, foram aqueles que os nossos comandantes delinearam, mas não comandaram.

Poucos deram o corpo ao manifesto e foram os milicianos que tiveram a responsabilidade e a iniciativa, muitas vezes espontânea e circunstancial.

Um abraço,
Mário Pinto
Fur Mil At Art
Emblema de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

5 comentários:

Manuel Joaquim disse...

Caro Mário

A minha instrução militar (básica) começou em Jan./64, em Tavira,(5 meses) e acabou em Set./64 em Mafra(especialidade,2meses),sempre acompanhada do tal Manual que referes.Os oficiais instrutores eram do QP mas sem qualquer experiência de contra-guerrilha.Quando chego a Leiria e integro uma compª de instrução de recrutas,o comandante recém- chegado da Guiné reuniu-se com os asps. e cab-milºs para testar a nossa formação e como foi ela feita. Não me recordo das palavras exactas mas foi coisa do género:esqueçam essas balelas, têm a sorte de me terem aqui vindo há pouco da Guiné e não acreditem só no que eu digo porque guerras destas só se aguentam se estiverem preparados para as surpresas que terão no dia a dia;um conselho:estudem bem o inimigo e nunca facilitem; quando partirem para o ultramar olhem para o contingente que integrem e pensem que de certeza, ou quase de certeza, não regressarão todos; e, se puderem e quiserem,procurem informação sobre guerra de guerrilha;ajuda-vos a inventar defesas contra as surpresas.E foi o que eu fiz. Fidel Castro, Mao Zedong e outros tiveram "visitas ".Resultado? - Pelo menos um:saber onde estava,perceber o IN,quais os objectivos dos contendores de um lado e doutro,ser cidadão português na "clandestinidade" já que,com o poder político de então, era difícil sentir-me cidadão do seu país que também era o meu(coisas do coraçao!).Aquele mundo de guerra,ideologicamente, não era o meu.Aquele pedaço de terra,sim,"fez-me" seu cidadão e fez-me sentir cidadão do mundo pela primeira vez.Aliás, é esta a "cidadania" que me agrada como ser humano.
Nesta guerra da Guiné não pode haver comparações quando as situações não são comparáveis,como sejam as dos últimos anos de guerra e as dos anos anteriores,a guerra com cobertura aérea ou sem ela, a guerra dos primeiros anos com o IN fracamente armado,quase limitado a granadas de mão,minas e e pistolas metralhadoras e os anos posteriores com fogo directo de armas pesadas,foguetes,mísseis terra-ar,etc. E, por último e não menos importante,o enorme progresso na qualidade de combate do IN"versus" a impotência das NT para o enfrentar por falta de apoio logístico,quer de alimentação,quer de material de guerra e falta de mobilidade,quer terrestre quer aérea,principalmente esta.

Pelo que tenho lido neste blogue uma coisa não faltou:A coragem,a entrega,a determinação, o inacreditável espírito de sacrifício da grande maioria dos militares portugueses, actores forçados duma tragédia(a grande,grande maioria)que os "ventos" malsãos da história portuguesa encenaram.

Um grande abraço

Manuel Joaquim

Anónimo disse...

De acordo com o Gualter e com o Manuel Joaquim.
Primeiro, porque é sempre impossível a grandes grupos de soldados deslocados de suas terras e destinados a "ocupar" terreno, levar na bagagem conceitos, teorias, treino, determinação psicológica, equipamento e material de subsistência adaptados ao ambiente e ao combate que irão travar porque do outro lado todos os dias se alteram procedimentos, se muda de espaço, se melhora o armamento e se reforça a crença. Vejam-se outros casos como o francês, o americano, o russo.
Depois porque este foi desde tempos remotos um povo só de ganas e de capacidade de sacrifícios mas sempre alheado do saber e do conhecimento do mundo, arrebatado à escola para o trabalho duro e a má vida desde tenra idade.
De África decrávamos os nomes dos rios e das linhas férreas mas não os das pessoas, e menos ainda a informação dos séculos de luta que travaram contra nós para se libertarem.
É uma fatalidade que nos acompanha desde o nascimento da Nação que os líderes sejam o que sempre foram, ignorantes e relaxados.
No "Vindimas no Capim" tenho um exemplo disso mesmo, quando na parte final da formação da companhia, um brigadeiro pergunta aos soldados o que era gurra subversiva e não obtendo respostas claras diz ao capitão que aqueles homens eram ignorantes e o capitão lhe dá de resposta que se o orçamento da guerra comia o da educação........
Gente dura e capaz de aguentar, éramos, de facto, habituados que estávamos a uma vida de privações e de pouca esperança.
Quando a preparação era adequada, como no caso das tropas especiais, apesar das dificuldades intrínsecas àquela guerra, as coisas mudavam de figura.
Impossível, no entanto, seria a um País como o nosso, fornecer tal formação e vontade a centenas de milhares de homens em movimento e perante recursos que se esgotavam.
Abraços
José Brás

Anónimo disse...

Caros amigos,

Agradeço ao Mário Pinto, trazer aqui o meu comentário e porquê?

Porque já deu para conhecer muita coisa.

A carência de meios bélicos eram desde logo conhecidos. A cartografia nem tanto, uma ou outra deficiência, acredito mais na incapacidade da leitura por vezes.

Mário, tanto o teu Post como os comentários do Manuel Joaquim e do Zé Brás, mostram já um conhecimento das formas como se preocuparam e se prepararam para a guerra.

Como já tive oportunidade de te dizer e o José Brás comenta bem, a antiguerrilha não se faz só com armas, mas e principalmente através do conhecimento dos procedimentos dos guerrilheiros, projectando e tentar demonstrar as suas carências nas finalidades do futuro, e das populações, nestes casos sempre as mais sacrificadas e sofredoras. è fazer como Mao Zen Dong: Se a população é como a àgua para o peixe, utilizemos os mesmos métodos.
Ora eu penso que foi o grande erro de muita gente com responsabilidades, não saber utilizar, (não o engano)a satisfação de necessidades mínimas em que essa pobre gente vivia.

Eu já te disse que tinhamos agentes duplos que entravam e saíam de Cufar, como qualquer soldado branco ou negro.

Nós conseguimos por fulas e balantas a falarem uns com os outros, quando eles se odiavam. No entanto tens conhecimento, da primeira limpeza étnica balanta em 1964. O Nino matou os agentes duplos quando eram de grande utilidade para ele, só por serem balantas. O Nino obrigava a população da ilha do Como a entregar toda a produção de arroz do para o Cantanhez. Só quando ele foi para Conakri, sendo substituido pelo Joãzinho Guade, o Pansau na Isna conseguio que as mulheres do Como fossem a Catió vender algum arroz e trocar por medicamentos e panos.
A guerrilha roubava os Blufos nas tabancas e eles fugiam da guerrilha.
Nós estávamos atentos a toda esta movimentação, e agiamos conforme a nossa conviniência.

Caro Mário estou a alongar muito mas estas coisas há que dize-las porque foram vividas.

Nós tinhamos gente que nos traía também e sabiamos quem eram. Chegámos a mandar o chefe de tabanca de Cantone a comprar caqui em nome do Nino. Os comerciantes ficaram aflitos e nós com o caqui e a informação. Entregávamos todos os prisioneiros no Batalhão que eram por sua vez enviados para o individuo da Pide, mas nós tinhamos informação preveligiada e sabiamos mais que o gajo da Pide. É de teu conhecimento que na Guiné a Pide e os militares não ligavam muito bem. Sabias? Por isso, como já te contei, fomos fodidos pelo Administrador que passava informações para o PAIGC, uma delas onde tivemos dois mortos um deles o fur. mil. Humberto Vaz de Viana do Castelo, meu grande amigo e que jamais esquecerei.

Por ora chega! Falaremos mais sobre isto.

Obrigado pelos comentários.

A ver se não esqueço de assinar senão o Chefe ainda me põe de reforço à Tabanca.

É claro do tamanho desse lindo e maravilhoso Cumbijã, o velho abraço de farda amarela.

Mário Fitas

Manuel Joaquim disse...

Caro Mário Fitas:

«Nós tínhamos gente que nos traía também». É uma característica deste tipo de guerra o uso da população pelas partes em conflito. Ficar entre dois fogos,tanto físicos como ideológicos,leva muita gente a querer (ou a ser obrigada) a servir "dois senhores ao mesmo tempo".Sei do que falo. Calhou-me(?)uma vez prender 4 pessoas numa noite,uma delas quadro médio da Administração de Bissorã e meu vizinho de rua,morava em frente da casa onde eu vivia(um dia talvez fale aqui sobre isto).

Por falar em traições: D. Afonso Henriques traiu o seu rei? Ele era súbdito do rei de Leão (Afonso VII, seu primo),as terras do condado portucalense pertenciam ao reino leonês que recusou entregar a soberania a D.Afonso Henriques.Este aproveitou a geopolítica da época,(domínio total do Papa sobre todos os reis católicos europeus e guerras entre cristãos e islamitas.Diz José Mattoso na sua obra «Afonso Henriques»,pág.153,ed.Círculo de Leitores:

"A 13 de Dezembro de 1143, Afonso Henriques dirigiu uma carta ao papa(...)nas mãos do cardeal Guido(...)em que se obrigava a pagar à Santa Sé o censo anual de onças de ouro, sob a condição de o papa defender a sua honra e a dignidade da sua «terra». No mesmo documento afirmava que não reconhecia a autoridade de nenhum outro poder eclesiástico ou secular, a não ser a do papa. Trata-se da célebre carta de vassalagem do rei de Portugal à Santa Sé,conhecida pelas suas primeiras palavras CLAVES REGNI CELORUM."

E foi assim: o rei(imperador se designava)de Leão acomodou-se perante a aceitação pelo papa das condições apresentadas por A. Henriques,juntaram-se na luta contra os mouros, a Santa Sé lá recebia, anualmente,o seu saco de ouro e o reino de Portugal passou a sua meninice sem mais ameaças do rei de Leão.
Quase 900 anos depois ainda por aqui anda, cheio de cicatrizes e mazelas mas corajoso e teimoso na adversidade,cheio de complexos de inferioridade mas querendo acreditar que pode ser o melhor,saltando da alegria para a tristeza, ou o contrário, à velocidade do som,não afrontando os problemas mas rodeando-os para os tentar resolver, cheio de "chico-espertice" com que às vezes se dá mal, resistente,teimoso, temeroso perante os poderosos mas não subserviente,atencioso e prestável perante as visitas,senhor do fado,de Fátima e do futebol mas também duma alma não pequena que fez e faz coisas que valem a pena(desculpa,Fernando Pessoa).

E respondam-me, que é que tudo isto tem a ver com um "Portugal uno e indivisível,do Minho a Timor"? Pois é, nada!Este absurdo ideológico vigorou durante uns tempos,morreu de "morte matada",fez morrer muita gente mas, como em tudo,há um reverso da medalha:criou novos países que , como aconteceu com Portugal,tiveram partos difíceis( alguns ainda não saíram da incubadora) mas ficarão ligados aos portugueses para sempre. Acredito.

Caro Mário Fitas, espalhei-me. Comecei "em Lisboa" para te comentar e já vou "em Bragança" a falar sozinho.

O que estou tentando dizer é que nós não fazemos a História,contamos histórias.Nós somos sujeitos da História.E isto aplica-se tanto à sociedade como ao indivíduo.Admito que Mao Zedong queria instaurar o comunismo na sociedade chinesa, o céu na terra, a paz celestial,etc.,parangonas ideológicas do maoísmo.O que ele criou foi uma das mais violentas sociedades capitalistas,talvez mesmo a mais violenta.

Um abraço do

Manuel Joaquim

Luís Dias disse...

Caro Mário Pinto

Ainda tenho os célebres manuais militares que nos eram fornecidos para estudo: Manual do Oficial Miliciano-Parte Geral 1º e 2º Volumes e o "famoso" O Exército na Guerra Subversiva, Operações contra Bandos Armados e Guerrilhas. No entanto e de facto o que nos acontecia era um aprender rapidamente que tudo aquilo que nos ensinavam, com certeza de boa fé, não servia no teatro de guerra em que nos envolveram. No primeiro contacto com o IN, em que 2 GC da minha companhia, por mim comandados, se viram debaixo de fogo intenso, ao cair da noite, no dia a seguir à partida dos velhinhos, eu vi de imediato os erros que tinha cometido, por não saber estar/abordar uma zona de mato cerrado, em formação deficiente, com grandes dificuldades de ripostar com morteiros, LGF e Dilagramas, numa primeira fase e que só nos correu a contento devido a uma grande dose de sorte e a um soldado africano, muito experiente (ex-guerrilheiro, que conseguiu sair da zona cerrada, obter uma clareira e com o morteiro 60 colocado à barriga (parece incrível mas foi verdade) lançou duas ou três granadas que atingiram os guerrilheiros pondo-os em retirada.foi ainda importante que o IN foi detectado primeiramente por 2 elementos nossos, tendo um deles aberto fogo de HK21 sobre um guerrilheiro, o que desencadeou a emboscada que estava a ser montada.
Esta primeira acção, aliada a outras que encontrei no início da comissão levaram-me também a tomar outras opções tácticas, mais de acordo com o que estávamos a enfrentar no terreno. No armamento também deixámos a bazuca em casa, só a levando em colunas (também chegámos a usar um RPG2 apreeendido). Largámos as granadas defensivas, ficando unicamente com as granadas ofensivas. Aumentámos os elementos com dilagramas e também usávamos 2 HK 21. Em determinadas zonas mais cerradas o homem da frente levava uma caçadeira cal.12 com zagalotes. Recorremos a armas do IN para efectuar fogo contra os mesmos (Kalashs AK-47 e PPSH 41).
É como tu dizes, tivemos de efectuar uma revolução do que aprenderamos na metrópole.
Um abraço
Luís Dias