Nada disto foi combinado: conheci o António Carvalho depois do Zé Manel, ambos pertencentes aos Unidos de Mampatá (a CART 6250, 1972/74).
Tenho pena de não poder estar no almoço da próxima 4ª feira, na Tabanca Pequena de Matosinhos, para cantar em coro os parabéns ao Carvalho de Mampatá, considerado por todos os tabanqueiros de Lisboa, Porto e arredores como "um bom camarada e um melhor amigo".
Talvez ninguém melhor que o Josema [, foto à esquerda,] traduziu, em versos diários, espontâneos, sinceros e singelos, esse sentimento de "camarigagem" que, de Mampatá a Buruntuma, de Guidage a Guileje, todos experimentámos no TO da Guiné, a par da saudade da nossa terra em tempo de guerra...
Parabéns aos "unidos de Mampatá" pela sua lição de vida, traduzida hoje numa cultura sã de amizade, camaradagem, convívio e solidariedader que já vem dos tempos duros da Guiné.
Calor, cansaço, suor,
saudades de tudo
e de um rio...
mas podia ser pior,
pois há ali o Corubal
com sombras e água boa;
nem tudo é mau afinal,
não é o Douro, eu sei,
nem o Tejo de Lisboa,
são outros os horizontes,
falta o xisto e o granito,
as encostas e os montes,
mas diga-se na verdade
há o Carvalho, há o Rosa,
há um hino à amizade,
há o Gomes e o Vieira,
a sonhar com a Madeira,
há o Farinha e o Polónia,
gestos e solidariedade,
há o Esteves e o Pinheiro,
amigos e sinceridade,
há o Nina e até amor,
também sofrimento e dor,
há o desejo de voltar
e um apelo à liberdade.
Josema
Mampatá, 1974
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Nota do editor:
Último poste da série > 14 de Fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9482: Blogpoesia (178): No tempo em que eu colhia rosas nas covas do teu rosto... (António Graça de Abreu)
2 comentários:
Caro António Carvalho,
Espero que passes um excelente dia de aniversário com muita saúde e alegria a rodos.
abraço
manuelmaia
Caros Combatentes:
O Zé Manel era uma figura atípica, naquele contexto. Não era dado a grandes copofonias nem a lateiradas ou petiscadas. Não por ser forreta...pelo contrário, sempre teve com o dinheiro uma relação descomprometida.Era muito virado para o futebol e andava sempre por lá rodeado por catraios a quem ensinava as regras de bem jogar e do respeito pelo adversário.Colaborava na escola ajudando o Simões de Coimbra. Sempre teve uma conduta irrepreensível na sua relação com a população civil. Era poeta em qualquer sítio onde se sentasse, mesmo no mato, em situações de descanso, como se vê na foto. Já era resmungão e sempre opinativo.Onde visse injustiça, aí estava ele. Onde houvesse falta de respeito por alguém, o Zé Manel intervinha, do lado do lesado.
Mesmo assim resmungão, não se lhe conhecia inimigos.Podemos chamar-lhe Robespierre, Gandi, Luther King ou Mandela? Nenhum dos quatro mas um pouco de cada um deles.Ele adorava andar por lá (na Guiné) como se não estivesse em guerra:só vestia a farda para ir para o mato, nos outros dias sempre uns calções rotos e uns chinelos. Finalmente : já era maluco mas um gajo porreiro.
Estou-lhe grato,por me evocar no poema mas, sobretudo, por ter sido e continuar a ser meu amigo.
Um abraço para todos
Carvalho de Mampatá
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