Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Cais do Pidjiguiti > "Um barco [canoa nhominca] que nos faz lembrar o venerando Cherno Rachid"... O barco maior é de transporte de mercadorias (o único existente na Guiné-Bissau, estava na sucata, foi recuperado pelo estaleiros locais que, no tempo do colonialismo, eram considerados os melhores da África Ocidental, trabalhando inclusive para a Marinha de guerra portuguesa; este barco, oferta dos holandeses no pós.independência, agirarecuoerado, foi vedeta de uma recente reportagem da RTP, em um documentário, intitulado "A Campanha do Caju", do jornalista Paulo Costa, integralmente gravado na Guiné-Bissau).
Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Cais do Pidjiguiti > Monumento aos "Mártires do 3 d Agosto de 19590. Homenagem do Povo da Guiné e Cabo Verde"... Ao abandono, uma dor de alma!
Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Cais do Pidjiguiti > Assoreado, atulhado de lixo, fétido (1)...
Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Cais do Pidjiguiti > Assoreado, atulhado de lixo, fétido (2)...
Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Cais do Pidjiguiti > Assoreado, atulhado de lixo, fétido (3)...
Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > O Palácio Presidencial > "Renascido das cinzas" (, graças à ajuda da cooperação chinesa, dizem...).
Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Baixa de Bissau: a cidadezinha colonial, votada a incúria e ao abandono (1)
Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Baixa de Bissau: a cidadezinha colonial, votada a incúria e ao abandono (2)
Guiné-Bissau > Bissau > 7 de maio de 2013 > Baixa de Bissau: a cidadezinha colonial, votada a incúria e ao abandono (3)
Fotos (e legendas): © José Teixeira (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]
1. Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau (30 de Abril - 12 de maio de 2013) - Parte IX
por José Teixeira
O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavam hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partem depois para o Xitole, convidados para um casamento ] (*)... É desse evento que trata a 8ª crónica: os nossos viajantes regressam a Bissau, depois de uma tarde passada no Xitole para participar na festa de casamento de uma filha de um fula que, em jovem, era empregado na messe de sargentos e que tinha reconhecido o Silva, no seu regresso ao Xitole. A crónica nº 7 foi justamente dedicada ao emocionante reencontro [, em 1 de maio, ] com o passado, por parte do ex-alf mil Franscisco Silva, que esteve no Xitole, ao tempo da CART 3942 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar oPel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973,
Parte IX > A cidade de Bissau da nossa tristeza...
Para o dia 6 de Maio [, 2ª feira,] tínhamos programado uma viagem até Jumbembem, passando por Mansoa, Mansabá e Farim, porém, atendendo a um apelo da irmã Irina da Maternidade do Hospital de Cumura, o Francisco acedeu a operar uma criança que estava há cerca de um ano com uma perna fraturada.
por José Teixeira
O José Teixeira é membro sénior da Tabanca Grande e ativista solidário da Tabanca Pequena, ONGD, de Matosinhos; partiu de Casablanca, de avião, e chegou a Bissau, já na madrugada do dia 30 de abril de 2013; companheiros de viagem: a esposa Armanda; o Francisco Silva, e esposa, Elisabete; no dia seguinte, 1 de maio, o grupo seguiu bem cedo para o sul, com pernoita no Saltinho e tendo Iemberém como destino final, aonde chegaram no dia 2, 5ª feira; na 1ª parte da viagem passaram por Jugudul, Xitole, Saltinho, Contabane Buba e Quebo; no dia 3 de maio, 6ª feira, visitam Iemberém, a mata di Cantanhez e Farim do Cantanhez; no dia 4, sábado, estão em Cabedú, Cauntchinqué e Catesse; 5, domingo, vão de Iemberém, onde estavam hospedados, visitar o Núcleo Museológico de Guileje, e partem depois para o Xitole, convidados para um casamento ] (*)... É desse evento que trata a 8ª crónica: os nossos viajantes regressam a Bissau, depois de uma tarde passada no Xitole para participar na festa de casamento de uma filha de um fula que, em jovem, era empregado na messe de sargentos e que tinha reconhecido o Silva, no seu regresso ao Xitole. A crónica nº 7 foi justamente dedicada ao emocionante reencontro [, em 1 de maio, ] com o passado, por parte do ex-alf mil Franscisco Silva, que esteve no Xitole, ao tempo da CART 3942 / BART 3873 (1971/73), antes de ir comandar oPel Caç Nat 51, Jumbembem, em meados de 1973,
A crónica de hoje, a nº 9, corresponde aos dias 6 e 7 de maio: os nossos viajantes foram até Farim e regressaram a Bissau. já que o Francisco Silva, mesmo de férias, teve de fazer uma intervenção cirúrgica, a uma criança que esperava um milagroso ortopedista há mais de um ano!
Parte IX > A cidade de Bissau da nossa tristeza...
Para o dia 6 de Maio [, 2ª feira,] tínhamos programado uma viagem até Jumbembem, passando por Mansoa, Mansabá e Farim, porém, atendendo a um apelo da irmã Irina da Maternidade do Hospital de Cumura, o Francisco acedeu a operar uma criança que estava há cerca de um ano com uma perna fraturada.
Médico Ortopedista na Guiné, só um milagre de Deus, desabafou a simpática irmã, o que de algum modo complicou os planos de viagem.
Nesta manhã, o Francisco Silva foi ao Hospital de Cumura ver a criança e estudar a forma de a operar. Seguidamente foi reunir com o médico Diretor da Clinica Pediátrica de Bor para pedir autorização para operar neste hospital a criancinha, pois que em Cumura não encontrou as condições mínimas por falta de equipamento. Na realidade se não há médicos ortopedistas para operar, não se justifica que haja equipamento. Felizmente em Bor há o mínimo indispensável e lá se programou para o dia seguinte a operação .
Este hospital [da Cumura] foi criado pelos Franciscanos para combater a lepra nos anos 50 do século passado. Posteriormente especializou-se em doenças infeciosas como a tuberculose e o HIV/SIDA. Não tendo condições para se proceder à operação, apelou-se ao Hospital Pediátrico de Bor, que acolheu da melhor vontade a solicitação abrindo as portas da sala de operações para que o nosso médico de visita e em férias pudesse proceder à operação e recuperar o bem estar da criança.
Este hospital [da Cumura] foi criado pelos Franciscanos para combater a lepra nos anos 50 do século passado. Posteriormente especializou-se em doenças infeciosas como a tuberculose e o HIV/SIDA. Não tendo condições para se proceder à operação, apelou-se ao Hospital Pediátrico de Bor, que acolheu da melhor vontade a solicitação abrindo as portas da sala de operações para que o nosso médico de visita e em férias pudesse proceder à operação e recuperar o bem estar da criança.
Os restantes companheiros de aventura ficaram pelo Bairro de Quélélé a descansar um pouco aguardando o regresso do nosso médico para almoçarmos e seguir até Jumbembém, tabanca onde o Francisco passou parte do seu tempo de Comissão.
Acabamos por ir almoçar ao Arco-Íris e com a chegada do Francisco Silva fizemo-nos á estrada na esperança de conseguirmos chegar a Jumbembém. A estrada até Mansoa foi fácil de transpor, mas a partir desta cidade, todo se complicou com a estrada em construção.
O tempo gastado na estrada, numa viagem iniciada tardiamente, impediu que chegássemos a Jumbembém, por falta de garantia de chegarmos a tempo de apanhar a última lancha de passagem no Rio Cacheu, em Farim.
Chegamos até Farim atravessando o rio Cacheu de canoa. Demos uma volta pela cidade numa daquelas tardes quentes em que só apetece estar sentado à sombra de um mangueiro e regressamos à estrada depois de nova travessia do rio na casca de noz.
O tempo gastado na estrada, numa viagem iniciada tardiamente, impediu que chegássemos a Jumbembém, por falta de garantia de chegarmos a tempo de apanhar a última lancha de passagem no Rio Cacheu, em Farim.
Chegamos até Farim atravessando o rio Cacheu de canoa. Demos uma volta pela cidade numa daquelas tardes quentes em que só apetece estar sentado à sombra de um mangueiro e regressamos à estrada depois de nova travessia do rio na casca de noz.
Como todas as cidades da Guiné-Bissau, a de Farim está uma lástima. Ruas esburacadas, prédios degradados e lixo por todo o lado. Resta-nos um povo, também aqui, alegre, comunicativo, onde o Português é recebido como povo irmão.
Aqui ou ali há sempre um ex-combatente, não importa de que lado da contenda. A sua preocupação é saber por onde andamos na nossa passagem pela guerra, em busca de um ponto de referência que conduza a uma conversa, à recordação de emoções antigas que continuam bem presentes na memória, abafadas pelo tempo e talvez pelo medo.
No dia seguinte, pelo cedinho, lá seguiu o nosso médico para o Hospital Pediátrico de Bor, onde a criança já devia estar devidamente preparada para ser submetida à operação.
O tempo parece que voa. Ainda há dias chegamos e já estamos a sete de maio.
O resto do grupo procurou aproveitar bem este dia. Foi até à Baixa de Bissau apreciar a azáfama da vida do povo guineense na sua cidade Capital. Depois de uma visita a Catedral de Bissau, descemos até ao Cais do Pjiguiti, onde decorria uma feira ou é um mercado diário, não sei bem. Peixe, legumes, fruta e bugigangas, tudo a monte com lixo que baste à mistura.
No dia seguinte, pelo cedinho, lá seguiu o nosso médico para o Hospital Pediátrico de Bor, onde a criança já devia estar devidamente preparada para ser submetida à operação.
O tempo parece que voa. Ainda há dias chegamos e já estamos a sete de maio.
O resto do grupo procurou aproveitar bem este dia. Foi até à Baixa de Bissau apreciar a azáfama da vida do povo guineense na sua cidade Capital. Depois de uma visita a Catedral de Bissau, descemos até ao Cais do Pjiguiti, onde decorria uma feira ou é um mercado diário, não sei bem. Peixe, legumes, fruta e bugigangas, tudo a monte com lixo que baste à mistura.
O cheiro das águas fétidas das margens do Rio Geba, onde se despeja todo o tipo de detritos ao qual se junta os que a mar arrasta nas marés, a ainda o estado de degradação das ruas e das casas ao estilo colonial, transforma todo aquele espaço e redondezas num lugar do qual apetece fugir.
A avenida principal e o cais são, para nós e todos os que visitam a Guiné-Bissau, o centro da idcade, pela história que incarnam, pela arte e cultura que transmitem o espelho da cidade e até de um povo. Mereciam, por essas razões e muitas mais, serem tratados com outro carinho e mais cuidados por parte das autoridades e do próprio povo, sobretudo no campo da limpeza e ordenamento.
Que saudades do tempo em que se vinha até ao Pjiguiti, na esperança de encontrar ou avistar ao longe o barco que nos iria transportar de volta à nossa terra. Ou, sentados no Pelicano a saborear umas cervejas sempre acompanhadas de um pratinho de marisco.
Que saudades do tempo em que se vinha até ao Pjiguiti, na esperança de encontrar ou avistar ao longe o barco que nos iria transportar de volta à nossa terra. Ou, sentados no Pelicano a saborear umas cervejas sempre acompanhadas de um pratinho de marisco.
Internamo-nos pelo interior de Bissau para apreciar a arte na construção tipo colonial. Habitações lindas, ruas bem ordenadas, mas tudo tão degradado que mete dó. Não há tinta ou dinheiro para a comprar e pintar as paredes, ou incúria por parte de quem lá mora, porque talvez não sinta o espaço como seu. Muito pó e montes de lixo pelos cantos, fonte de mosquitos, melgas e doenças num povo já em si de saúde frágil devido às circunstâncias da vida.
Ao princípio da tarde chegou o nosso doutor, depois de uma manhã de trabalho em Bor que decorreu a contento, apesar da falta de equipamento. Vinha feliz e confiante que a criança ia recuperar bem. Vinha feliz por ter feito equipa com um médico guineense dedicado, conhecedor e prático, num hospital moderno, bem apetrechado e bem dirigido por uma comunidade franciscana de origem italiana.
Após o almoço, partimos de novo a caminho do norte, tendo como Varela, o nosso destino.
José Teixeira
(Continua)
___________
Nota do editor:
Último poste da série > 5 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11805: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (8): Um casamento fula no Xitole... Ou a tradição que já não é o que era no nosso tempo...
Ao princípio da tarde chegou o nosso doutor, depois de uma manhã de trabalho em Bor que decorreu a contento, apesar da falta de equipamento. Vinha feliz e confiante que a criança ia recuperar bem. Vinha feliz por ter feito equipa com um médico guineense dedicado, conhecedor e prático, num hospital moderno, bem apetrechado e bem dirigido por uma comunidade franciscana de origem italiana.
Após o almoço, partimos de novo a caminho do norte, tendo como Varela, o nosso destino.
José Teixeira
(Continua)
___________
Nota do editor:
Último poste da série > 5 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11805: Crónicas de uma viagem à Guiné-Bissau: de 30 de abril a 12 de maio de 2013: reencontros com o passado (José Teixeira) (8): Um casamento fula no Xitole... Ou a tradição que já não é o que era no nosso tempo...
4 comentários:
É verdade, Zé, também eu tive a mesma sensação, sofri a mesma desolação, experimentei a mesma tristeza quando visitei o Pidjiguiti (, hoje há quem escreva Pindjiguiti...) e a baixa de Bissau em março de 2008... Aliás, estivemos lá na mesma altura...
Em 2003 eu tinha estado em Luanda, pela primeira em África, depois do regresso da guerra da Guiné em março de 1971... O lixo também era às toneladas e o cheiro insuportável em muitas zonas da velha Luanda ex-colonial... Hoje as coisas mudaram para melhor (refiro-me a Luanda onde devo chegar amanhã de manhã; pelo em relação à recolha do lixo e á limpeza urbana)...
Mas será que estamos a ver Bissau com os mesmos olhos, os mesmos óculos, as mesmas lentes, as mesmas grelhas de leitura do real, de há 40/50 anos ?... Claro que não: simplesmente mudámos de óculos... (mesmo que a Bissau dos tugas muito limpinha e ordenada...).
Camaradas: lembram-se como eram as nossas aldeias, vilas e cidades, há 60/70 anos... ou até há menos ? Muitas delas, antes do 25 de abril, não tinham sequer luz elétrica, água canalizada, saneamento básico, recolha do lixo... coisas de tal modo elementares, no sécx. XXI, que os mais novos (os nossos filhos e netos)julgam que já existiam há mil anos, muito antes até do dom Afonso Henriques...
Também é verdade que há 60/70 anos não tínhamos sacos de plástico e nas aldeias limpava-se... o cuzinho com folha de videira ou de couve ou de jornal!... Papel Renova, perfumado, às cores ? Qual quê, são luxos da sociedade de consumo que está a chegar ao fim... (pela simples razão de que não há planeta azul que chegue para a sustentar!)...
Francisco, mais um gesto teu, de grande humanidade, solidariedade e ética!... Sacrificaste um dia das tuas férias para operar uma menina que um irá contar aos seus netos esta história mágica!...
Os meus parabéns ao colega e camarada F.Silva pelo seu gesto solidário.
Fico surpreendido com a surpresa do camarada J.Teixeira ao descrever a baixa de Bissau..não sabias que era assim..!!!
Infelizmente é mais ou menos generalizado em toda a África, até na África do Sul, menos mas também se vê..
A baixa de Maputo.. quase.. quase igual..prédios de doze e mais andares todos degradados..as ruas com lixo aos montes..esgotos a céu aberto com toneladas de lixo..o cheiro indescritível..
É pura incúria dos responsáveis políticos e administrativos..a suposta falta de dinheiro não justifica tudo..para o que eles querem sempre há.
Os chineses são como Deus..estão em toda a parte..
Poderia continuar..
Um alfa bravo
C.Martins
Pois é.
Repararam como nas ruas da velha Bissau colonial degradada se podem ver várias 'máquinas potentes'?
A degradação das casas, do porto, das gentes, é o espelho da situação que creio ser o reflexo do 'caldo de cultura' onde pode medrar quem vive bem à custa de 'bens duvidosos' e das dificuldades do povo.
Abraço
Hélder S.
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