domingo, 23 de março de 2014

Guiné 63/74 - P12888: Blogoterapia (251): O programa com um vírus que não consigo apagar, remover ou formatar (José Colaço)

1. Mensagem do nosso camarada José Colaço (ex-Soldado TRMS da CCAÇ 557, Cachil, Bissau e Bafatá, 1963/65), com data de 19 de Março de 2014:


O programa com um vírus que não consigo apagar, remover ou formatar

Alguns dados sobre o tema em questão, ou é o povo, os amigos, a família, ou o sistema

Dois exemplos:

Começo pelo primeiro, dado como é do conhecimento público, a ponte sobre o Tejo já teve pelo menos dois nomes no seu registo: "Ponte Salazar" e "Ponte 25 de Abril", mas grande parte da população da minha geração que acompanhou o nascimento desta ponte foi e será a "Ponte sobre o Tejo".

"Ponte Marechal Óscar Carmona". Pergunta: Onde fica?
E uma grande percentagem das respostas é desconhecerem pura e simplesmente, mas o mais hilariante é que alguns, devido à sua vida profissional, a usam quase diariamente.
Mas se a pergunta for: "Ponte de Vila Franca", o nome com que o povo a baptizou, qualquer leigo responde acertadamente.

Guerra da Guiné.
A maioria das Companhias adoptou o seu nome de guerra, desde os Laças de Cufar aos Gringos ou Piratas de Guilege, etc.

Na Companhia de Caçadores 557 nenhum dos seus elementos teve a ideia de criar um nome para a Unidade, talvez por nenhum dos seus graduados ter pertencido ou ter instrução ranger, a não ser o Comandante. Além disso o 2.º Comandante de Companhia era, e é, um anti-guerra colonial.

Mas como referi no início desta narrativa, os amigos ou o povo, neste caso até pode ter sido o inimigo, encarregaram-se de cognominar ou baptizar a CCaç 557. Não é que quando saímos dos dez meses e uma semana do isolamento do Cachil, a 557 começou a ser, sem nós nos apercebermos, conhecida, respeitada, e porque não dizê-lo, temida, pela "Companhia do Como", o que para nós era motivo, me desculpem o termo, de uma certa “vaidade”.

Também aqui o nosso desconhecimento de quem terá sido o incógnito padrinho. Terminada a comissão, regresso a casa, penso que a julgar por mim a 557 diluiu-se e os seus elementos, na sua grande maioria, quiseram enterrar o machado de guerra e tentar esquecer aqueles dois anos de guerra, recomeçar as suas vidas que tinham interrompido.

Como eu e muitos outros ex-combatentes dizem, a guerra além de tudo o que tem de mau, tem uma coisa em que é superior e se distingue, cria e faz amizades que duram e perduram. Não é que passados vinte e dois anos do nosso regresso da guerra, o nosso ex-1.º Cabo João Casimiro Coelho tem a ideia brilhante de reunir na parada civil a 557?

Recorre a todos os seus conhecimentos e contactos, conseguindo reunir em Leiria parte da 557 num almoço de convívio, onde, se a palavra "Como" foi pronunciada, deve ter sido no sentido verbal da mesma, pois do Encontro faziam parte umas entradas, um fabuloso almoço, e a terminar, um óptimo lanche.

Foi dado o mote, e a partir daí, todos os anos a família da 557 se reúne em almoço de convívio, o próximo será o vigésimo sétimo.
Só uma coisa há a lamentar, os ex-combatentes da CCaç 557 são cada vez menos, mas aqui nada há a fazer, é o movimento da roda da vida que não pára.

Para terminar, devido às novas tecnologias e à minha participação no blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, tenho conhecido nestes últimos anos vários camaradas (ou camarigos como dizemos no blogue) que andaram na guerra da Guiné em várias Companhias. Não é que quando um camarigo me quer apresentar a outro diz: tens aqui o homem da companhia do Como.
Por este motivo o titulo desta crónica: o vírus ou a doença crónica que não há antivírus que o proteja, ou formato que o remova.

OBS:
Camarigo - Contracção das palavras camarada e amigo.

Um abraço
Colaço
____________

Nota do editor

Último poste da série de 6 DE MARÇO DE 2014 > Guiné 63/74 - P12800: Blogoterapia (250): Assim, com muita honra, sou um "tabanqueiro", e só tenho pena de a falta de tempo me impedir de participar com mais assiduidade (Adriano Lima, Cor Inf Ref)

6 comentários:

Anónimo disse...

Compreendo o teu desabafo. Deixa comigo que na próxima vez quem te vai apresentar serei eu, que bem entendo o que queres dizer. Um abraço do
Veríssimo Ferreira

Torcato Mendonca disse...

Olá José Colaço, li e gostei bastante o virus que permanece...
A meu abraço e, se me permites, há muita gente com viroses dessas, parece-me. Eu, depois de entrar no blogue, senti ou verifiquei a existencia desse problema...e não há volta a dar.
O meu abraço, T.

Hélder Valério disse...

Caro amigo José Colaço

O que nos revelas não é nada estranho para a maioria (se não todos) os que por aqui fazem 'ponto de encontro', mesmo que com alguns 'desencontros'....

Numa tentativa de arrumar a vida, recuperar o tempo gasto com a missão africana, reencontrar o equilíbrio emocional, ou fosse lá porque outra razão fosse, a verdade é que a esmagadora maioria dos que regressaram, mais notoriamente com os que estiveram na Guiné, 'decidiram' arrumar as recordações, as conversas, as confissões, pensando que 'era para sempre'!
Na realidade tudo estava, tem estado, bem guardado no cantinho da memória e só estava à espera dum 'clic' qualquer, o que para muitos de nós nos fez juntar aqui, à sombra deste poilão.

Aparentemente lamentas não teres tido um lema para a tua Companhia, um lema identificador, que os unisse por aí. Mas depois reconheces que a designação com que na generalidade vos designam de "Companhia do Como" é ainda mais do que isso, pois para além de ser o tal lema que procuravas é, também um sinal de grande respeito.

Olha, isso de lemas tem muito que se lhe diga: um camarada nosso que foi para Moçambique escreveu-me a dizer que tinham dado à sua Companhia o lema de "C. e Andando", sendo que quando o Cmdt. do Batalhão inquiriu o que significava logo foi dito que era "combatendo e andando", o que foi muito bem aceite, pois dava a noção de quem estava disposto a não ter descanso, de estar sempre em acção. Na realidade, parece que não era essa exactamente a ideia que tinham, era mais no sentido contrário, de não se 'empenharem' muito na acção....

Portanto, já vês, lemas por lemas, o que vos identifica é muito elogioso.

Abraço
Hélder S.

JD disse...

Camarigos,
Ele falou das pontes, dos ignorados nomes de registo, e dos nomes adoptados.
Mas esqueceu-se da ponte da Guiné, que não tem nomes, nem adoptado, nem de registo. Refiro-ma à ponte que através dos anos de mobilizações, se estabaleceu aqui entre os aderentes ao luisgraçaecamaradasdaguiné, a ponte de amizade e camaradagem salutar. Só o tempo não volta para trás, e, certamente, não se desejaria com repetição daquela paragem, melhor, daquela etape, pois se do ponto de vista do inicio das carreiras profissionais, ou da formação superior académica, correspondeu a um hiato indesejado, talvez não haja quem refutasse a oportunidade de encaixar uns dias de convívio com os camaradas da época, de hoje, e do futuro.
Zé, aí vai um abraço
JD

José Botelho Colaço disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
José Botelho Colaço disse...

Aos camarigos que botaram comentário sobre o tema-lema, os meus agradecimentos.
Lema-lema-lema-lema "Komo" se chama a clara do ovo.

Um abraço que até rima com.
Colaço.