sábado, 4 de outubro de 2014

Guiné 63/74 - P13690: Bom ou mau tempo na bolanha (69): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (9) (Tony Borié)

Sexagésimo oitavo episódio da série Bom ou mau tempo na bolanha, do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGRU 16, Mansoa, 1964/66.




Da Florida ao Alaska, nono dia

Já há algum tempo que tínhamos passado o Paralelo 48 N, onde dizem que são mais ou menos 48 graus a norte do plano equatorial terrestre e, a esta latitude o sol nos aquece e ilumina por muitas horas ao dia, pelo menos no verão, tudo isto era verdade, pois na viajem pelo “Klondike Loop”, que é como chamam ao desvio de estrada de terra, com algum alcatrão, pedra e lama, pois dizem que o pavimento é “seal coat & gravel”, que está aberta todo o ano, mas no inverno, quando o tempo é de tempestade, algumas partes do trajecto fecham. Tem uma distância mais ou menos de 500 milhas, é uma estrada “deserta”, vêem-se alguns animais selvagens, sobretudo “coiotes”, começa pouco depois da cidade de Whitehorse, portanto no “Alaska Highway”, na província de Yukon, no Canadá, e termina já no estado do Alaska, na povoação de Tok, também no “Alaska Highway”.


Explicando um pouco melhor, interrompemos o nosso trajecto que ia directo ao território do Alaska, seguindo agora mais para norte, onde íamos cruzar a fronteira com o Alaska em diferente local, mas regressaríamos à mesma cidade, já dentro do território do Alaska, tal como se continuássemos directos pelo Alaska Highway, em outras palavras, fizemos o “Klondike Loop”, que é o mesmo que estar em Aveiro, querer ir de carro para a cidade de Salamanca, em Espanha, e no lugar de ir directo, atravessando a fronteira em Vilar Formoso, tomar a direcção do norte, atravessar a fronteira em Vigo, regressando depois a Salamanca.
Este trajecto é muito popular entre quem viaja no “Alaska Highway”, pois passado mais ou menos 520 quilómetros, chegam à cidade de Dawson City.


Esta cidade está situada na província do Yukon, cuja população anda à volta de 2000 habitantes, recebendo mais ou menos cerca de 60.000 turistas por ano. Os habitantes locais referem-se à localidade como "Dawson", mas a indústria turística prefere chamar-lhe "Dawson City", para a diferenciar de Dawson Creek, na província de Colúmbia Britânica, que se situa no “Historic Milepost 0”, do “Alaska Highway”, pelo menos foi isto que uma simpática senhora, vestida tal como os habitantes de Dawson City usavam no século passado, nos explicou no Centro de Turismo, convidando-nos a passar um dia ou dois na cidade.

A povoação foi fundada no ano de 1897 e baptizada em homenagem a um geólogo do Canadá chamado George Mercer Dawson, que tinha explorado e realizado um mapa da região em 1887. Foi a capital da província do Yukon desde a fundação do território, em 1898, até 1952, quando a sede foi trasladada para a cidade de Whitehorse, de onde tínhamos saído no dia anterior. A corrida ao ouro de “Klondike”, começou em 1896 e produziu uma grande mudança no que era então um acampamento indígena de Verão, orientado para a pesca, transformando-o numa cidade próspera de cerca de 40.000 habitantes por volta de 1898. No ano seguinte a febre do ouro tinha chegado ao seu fim, fazendo com que a população se reduzisse para 8000 pessoas. Quando Dawson se tornou cidade em 1902, tinha cerca de 5000 habitantes.

A maior parte dos edifícios da área junto ao rio Yukon, da cidade de Dawson City, parecem antigos, em madeira. Todos os novos edifícios têm que seguir esta regra, a população manteve-se bastante estável até à década de 1930, decaindo após a Segunda Guerra Mundial, quando a capital territorial passou a ser a cidade de Whitehorse. No início da década de 1950 uma rota unia Dawson City ao Alasca e, no outono de 1955 a Whitehorse, pela estrada que faz parte da rota de “Klondike”.


Percorremos a cidade, as ruas estão tal e qual como no século passado, o seu piso é de terra, com algumas poças de lama, existem passadeiras em madeira junto das casas, onde antes de entrar tem uma grande “escova”, pregada ao chão, tipo vassoura, para as pessoas limparem o calçado. Visitámos um bar local, o chão era cimento, já um pouco deteriorado, coberto de serrim, onde as pessoas bebiam cerveja à temperatura ambiente, atirando as cascas de amendoim, e não só, para o chão. Os preços de comida, hotéis, gasolina ou daquelas pequenas coisas a que chamamos “lembranças”, que se compram de momento, como se compreendia, eram um pouco acima da média.


É uma cidade pequenina, muito linda, que fica no pensamento e, vista do cais do rio, onde, depois de mais ou menos 2 horas, na linha de espera pelo “ferry”, que é da graça e atraca na margem do rio Yukon, onde se encontra em ambas as margens uma máquina, tipo “caterpilar”, para ajeitar o “cais” em areia, e que varia de superfície conforme a corrente do rio, atravessámos o rio Yukon, subindo uma pequena montanha, onde tem um miradouro, onde se pode apreciar a cidade perdida de Dawson City, que ficou para trás, do outro lado do rio, mas que, como antes dizíamos, se leva no pensamento.



Continuámos andando mais ou menos 130 quilómetros, sempre subindo as montanhas, por uma estrada de terra com algumas pedra miúda, a que chamam “Top of the World Highway”, passando por zonas com gelo, que se derretia suavemente, onde alguns animais vinham beber a sua água, desfiladeiros, cordilheiras, com algum vento frio, mesmo muito frio, vindo cruzar a fronteira internacional no posto fronteiriço de Poker Creek, que tem neste momento 3 habitantes, sendo a porta de fronteira terrestre situada mais a norte de todo o território dos USA, e está aberta das 9 da manhã até às 9 da noite, e fechada durante o inverno que é mais ou menos de Outubro a Abril, mas informaram-nos que a fronteira abre somente em Maio.


Estávamos finalmente no território do Alaska, parámos, tirámos as primeiras fotos junto da placa que diz Alaska, os guardas do posto fronteiriço riram-se, dizendo: “long way from Florida”, (longo caminho desde a Florida).


A partir daqui era território do Alaska, era sempre em frente, não havia que enganar, mas, aquilo a que chamam o “Taylor Highway”, já no estado do Alaska, que tem uma distância de aproximadamente 100 milhas, pois no Alaska a contagem já é feita no sistema de milhas, que são quase sempre a descer. Na altura, a estrada estava em reparação, com um piso de pedras muito grandes, o que danificava muito as viaturas, pois eram frequentes Vê-las paradas, com pneus rotos, molas partidas, desvios pela berma, algumas quase a tombar. Nós fomos seguindo, devagar, mas seguindo, também se viam em pequenos ribeiros, já onde a zona era mais plana, muitas pessoas pesquisando ouro, enterrados na água e na lama.


Passámos, entre outras, pela povoação de Chicken, uma povoação mineira onde comprámos alguma gasolina, seguindo sempre, devagar e sem qualquer acidente até à tal povoação de Tok, onde chegámos por voltas das 11 horas da noite, mas ainda de dia, pois continuámos a viajem até à cidade de Delta Junction, onde dormimos, com o carro e a Caravana, coberta de lama e cimento.

Neste dia percorremos 567 milhas, com o preço da gasolina variando entre $1.89 e $1.98 o litro.

Tony Borie, Agosto de 2014
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Nota do editor

Último poste da série de 27 de Setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13658: Bom ou mau tempo na bolanha (67): Da Florida ao Alaska, num Jeep, em caravana (8) (Tony Borié)

2 comentários:

Anónimo disse...

Olá! Boa tarde...
Passei hoje por aqui e permita-me fazer o seguinte comentário:
Excelente viagem, gostei imenso.
Prometo voltar brevemente.
Um abraço de:
Um Raio de Luz e fez-se Luz - Algarve

José Botelho Colaço disse...

E que tal Tony se editasse um livro com um pouco do teu passado e adicionando essa e outras viagens históricas.

Um abraço
Colaço.