quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Guiné 63/74 - P13853: Da Suécia com saudade (43): A ajuda sueca ao PAIGC, de 1969 a 1973, foi de 5,8 milhões de euros (Parte IV): Rússia e Suécia, vizinhos e inimigos fidalgais, foram os dois países que mais auxiliaram o partido de Amílcar Cabral (José Belo)


Guiné-Bissau > PAIGC > s/l> Novembro de 1970 > Algures, nas "áreas libertadas", foto do norueguês Knut Andreasson, com um grupo de homens, jovens adultos, possivelmente balantas e guerrilheiros, a maioria deles descalços, ostentando todos eles o livrinho de leitura da 1ª classe, o primeiro em uso nas escolas do PAIGC (e que, se não erro, foi oferecido por estudantes noruegueses e impresso na Suécia, num total de 20 mil exemplares).

Fonte: Nordic Documentation on the Liberation Struggle on Southern Africa  [Com a devida vénia]

[As fotos podem ser usadas, devendo ser informado o Nordic Africa Institute (NAI)  e o fotógrafo, quando for caso disso. Este espólio fotográfico  de Knut Andreasson (, relativo à visita ao PAIGC  e, alegadamente,  às áreas sob o seu controlo, em novembro de 1970,  de uma delegação sueca) foi doado pela viúva ao NAI.]


Imagens da capa de "O NOsso Livro Livro da 1ª Classe", o primeiro livro de leitura, usado nas escolas do do PAIGC... Exemplar capturado pelo nosso camarada Manuel Maia no Cantanhez, possivelmente em finais de 1972 ou princípios de 1973. Vê-se que esse exemplar tinha uso. A capa teve de ser reforçada com uns improvisados adesivos (aparentemente autocolantes, que acompanhavam embalagens de apoio humanitário, vindas do exterior).

Foto: © Manuel Maia (2009). Todos os direitos reservados

José Belo

1. Continuação de alguns dados e notas de contextualização sobre a ajuda sueca ao PAIGC, a partir de 1969, e depois à Guiné-Bissau, a seguir à independência (*):


Data: 3 de Novembro de 2014
Assunto:   O exemplo sueco é seguido por outros países


Resumo: 

Durante a guerra o governo sueco enviou para o PAIGC um total de 53,5 milhöes de coroas, ao valor actual [c. 5,8 milhões de euros]. Destinaram-se a financiar a maioria das actvidades civis do partido: alimentacäo, transportes, educação, saúde, incluindo um vasto número de avultados fornecimentos às Lojas do Povo. 

A Guiné foi posteriormente incluída (como único país da África Ocidental) nos chamados "países programados" para a distribuicäo da assistência sueca ao desenvolvimento. Recebeu durante o período de 74/75 a 94/95, um total de  2,5 mil milhões de coroas suecas [c. 270 milhões de euros], colocando a Suécia entre os 3 maiores assistentes económicos da Guiné-Bissau. 

A Suécia nunca deu nenhum cheque em branco ao PAiIGC, tanto mais que Portugal era um dos seus importantes parceiros comerciais no âmbito da EFTA - Associação Europeia do Comércio Livre, a que ambos os países pertenciam, e de que foram membros fundadores. Ainda em vida de Cabral, em abril de 1972 o Comité ds Nações Unidas para a Descolonizacäo tinha adoptado uma resolução reconhecendo o PAIGC como o único e legítimo representante do território da Guiné-Bissau. Foi um tremendo sucesso político-diplomático para o PAIGC. Isso em nada alterou o pragamtismo da diplomacia sueca. A Suécia só irá reconhecer a Guiné-Bissau como país independente, em 9 de agosto de 1974, ano e meio depois da  morte de Amílcar Cabral (que também era um político pragmático).


1. O auxílio sueco ao PAIGC abriu caminho a um cada vez maior número de apoios de outros países ocidentais.

A Noruega estabeleceu em 1972 uma assistência oficial e directa,semelhante ao modelo sueco, que veio a ter grande repercussão política internacional pelo facto de ser um país membro da NATO.

Neste período eram a Suécia e a Uniäo Soviética  (URSS) os países que mais apoiavam o PAIGC.

Um apoio de modo algum coordenado mas... real, numa divisäo "de facto" de funções entre os dois países, que mais tarde se veio a manter em relação aos outros movimentos de libertação africanos.

Apesar de tanto os Estados Unidos como outros países ocidentais acusarem a Suécia de fazer causa comum com o bloco comunista, isto não veio impedir que o Parlamento Sueco e o Governo Social Democrata continuassem a aumentar gradualmente a assistência não militar.

Deve-se no entanto ter o cuidado de colocar estas acusações dentro de uma perspectiva realista da história local.

O "inimigo histórico tradicional" da Suécia é a Russia,  e para tal basta abrir um qualquer livro de 
história da instrução primária sueca.

Isto independentemente de ser a Rússia do séc XVII, a Rússia dos comunistas ou...a Rússi actual.

José Belo

(continua)
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Nota do editor


4 comentários:

Antº Rosinha disse...

Os Suecos, Noruegueses e Dinamarqueses, ajudaram a Guiné e outros países como Congo ex-Belga por ex., como aquele escuteiro que ajudou a velhinha a atravessar a rua para o lado de lá, quando esta queria ficar do lado de cá.

E a velhinha foi atroplelada no meio da passadeira.

Juvenal Amado disse...


A visão da Suécia pioneira na ajuda não militar ao movimento liderado por Amilcar Cabral, parece-me correcto numa ótica em que todos os que acreditavam que a solução do problema africano, passava por apoiar as independências dos povos mantidos sobre sob administração colonial.
Avançar na assistência médica, na educação bem como no apoio às populações, é uma atitude normal para quem estava do outro lado da barricada quanto a direitos humanos e liberdades politicas, que era aquilo que nós cá não tínhamos e por conseguinte, na nossa África por muita cosmética que houvesse, era coisa que também não abundava. Democracia foi uma coisa que também lá não deixamos, porque também não a tínhamos para nós.
Sabemos hoje que o que tinha para correr mal correu.
Temo que não tenha ficado por aí.
Mas pergunto, era possível ter corrido melhor com todas as ingerências externas a que estiveram e ainda estão sujeitos?
Era possível julgar que, depois de tantos anos sob administração portuguesa, onde os africanos não podiam exercer qualquer actividade de carácter expeculativo, não administravam bancos, transportes ou lojas, não dirigiam fábricas ou minas, não geriam plantações, só mantinham a pequena agricultura de subsistência no caso da Guiné era o arroz e mancarra (amendoim) , a par do fornecimento da mão de obra barata para os serviços. Os trabalhadores especializados eram brancos e quando se deu a independência se vieram embora, deixando os territórios com uma população sem condições técnicas para gerir os equipamentos que lá ficaram e que funcionavam minimamente nas mãos de quem se vinha agora embora.
Isto tudo a juntar a uma economia de guerra, em que milhões de escudos eram despejados todos os meses quer para pagar ao soldados metropolitanos, como também pagar aos naturais, bem como milícias. Rendimentos que se esfumaram como é natural.
Também a assistência médica às populações era boa tendo em conta que os quarteis, davam assistência a todos que se apresentassem para a receber. Já cá a assistência médica não era para todos e só o passou a ser depois do 25 de Abril de 74.
Para mim África, tem um grande futuro que não se constrói em quarenta nem cinquenta anos passados desde aquele período.
Quantos anos levaram muitas das nossas democracias a estabilizarem? Quantas não passaram por guerras civis em que o número de mortos é hoje um horror só de pensar na quantidade que morria em cada batalha.
A Guiné apesar do apoio não militar da Suécia é hoje um país falhado, onde o desemprego jovem os lança para negócios pouco claros, onde se misturam figuras do estado e das forças armadas que foram mesmo acusadas nas instâncias internacionais de tráfico. Mas isto não retira na minha opinião o valor da assistência humanitária que a Suécia disponibilizou aquele povo.
Quando me pedem esmola, eu não sei se é para uma sopa para os filhos, se é para vinho e mais não posso fazer, se não deixar a decisão para quem a recebe. Se soubesse que era para vinho se calhar não dava e assim se passou possivelmente com a Suécia, quanto ao destino que foi dado à sua ajuda.

Luís Graça disse...

A ajuda sueca, que começa em 1969, intensifica-se com Olof Palm, que passa a chefiar o governo socialdemocrata em 1969... Recorde-se que ele teve problemas sérios com os americanos por causa do Vietname... LG

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Olof Palme

Estadista sueco (1927-1986), nasceu em Estocolmo e faleceu vítima de assassinato ainda por esclarecer. Foi líder do Partido Trabalhista Social-Democrata da Suécia e primeiro-ministro por duas vezes (1969-1976 e 1982-1986). Atacou a política norte-americana no Vietname e aceitou desertores do Exército americano que procuravam refúgio na Suécia. Esta decisão conduziu a um período de relações tensas entre os dois países. Olof Palme negou sempre tratarem-se de exilados políticos, uma vez que provinham de um país livre. Por outro lado, foi sempre um homem atento aos problemas da segurança europeia. Foi ainda mediador, como enviado das Nações Unidas, na Guerra Irão-Iraque.

Fonte: Infopédia, dicionário Porto Editora

http://www.infopedia.pt/$olof-palme

Luís Graça disse...

É preciso entender como é que um país, historicamente com um tradição imperial (que o digam os vizinhos escandinavos...) e tão pobre como Portugal até aos finais do séc. XIX, se tornou não só um dos países mais desenvolvidos do mundo, com um altíssimo índice de democracia e de desenvolvimento do potencial humano, mas também um país "pacifista" e "neutral", o que não o impede de ter uma rentabilissima indústria de guerra...

Gosto muito do meu pais, mas admiro também países como a Suécia onde, apesar de tudo, não gostaria de viver...

A diferença está na história recente: a tradição de concertação social que levou a Suécia à posição onde está hoje, e no caso de Portugal o blooqueio da modernização da economia e sociedade, a partir dos anos 20 do séc. XX...

Para não cairmos na tentação dos chavões e estereótipos, precisamos de conhecer melhor a história dos nossos dois países...

Em todo o caso, é reconfortante saber que não houve, na Guiné, balas ou granadas suecas, a matar-nos... Já não diremos o mesmo dos nossos amigos russos, chineses, checos e cubanos...