terça-feira, 3 de março de 2015

Guiné 63/74 - P14316: Meu pai, meu velho, meu camarada (40): Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) faria 100 anos no passado dia 28 de fevereiro... Na tropa (entre 1936/37 e 1943), foi da arma de artilharia, como o filho que o recorda hoje com muita saudade (Torcato Mendonça, ex-alf mil art, CART 2339, Mansambo, 1968/69)


Cascais > GACA 1 > c. 1940&43 > Foto nº 1 A > Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) > Segundo os especialistas em artilharia, os cor Nuno Rubim e Costa Matos a peça que aparece na foto é uma Anti Aérea (AA 9,4), pertencente ao quartel de Cascais, sediado na Cidadela [Grupo de Artilharia Contra Aeronaves, criado em 1935, depois GACA 1, em 1939, assim se mantendo até 1959, quando passou a  Centro de Instrução de Artilharia Anti-Aérea e de Costa (CIAAC), que veio a ser extinto em 2004].


Cascais > GACA 1 > c. 1940&43 > Foto nº 1 >  Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) > Na altura deveria ser furriel ou sargento miliciano,,,

O nosso camarada Torcato Mendonça não tem informação sobre a a data e o local. Possivelmente estas quatro primeiras fotos foram tiradas  num contexto de exercícios de campo, algures na Estremadura ou no Ribatejo. O pai do Torcato que deve ter feito a recruta e instrução de especialidade em 1936/37 em Évora,  terá sido chamado depois para operar com a AA 9,4 cm, m/940, fornecida pelos ingleses...

Sobre a Peça AA 9,4 cm m/940, de origem inglesa > Calibre: 94 mm L50 | Comprimento: 4.96m  | Comprimento do Tubo: 4,7 m  | Peso: 9.317 Kg  | Munição: 12.7 kg (total)  | Velocidade Inicial: 792 m/seg.  | Alcance Máximo: 18.000 m (horizontal) e 9.000 m (teto)  | Cadência de Fogo: 10 a 20 tiros por minuto (prático) | Guarnição: 7  | Quantidade total recebida: 54  (Fonte: ForumDefesa.com > Arilharia Aérea Portuguesa > 26 de outubro de 2007).


Cascais > GACA 1 > c. 1940 >  Foto nº 2 >  Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) é o segundo a contar da direita... A peça AA 9.4 cm m/940 tinha uma guarnição de 7 homens...


Cascais > GACA 1 > c. 1940 >  Foto nº 3 > Torcato Prudêncio da Silva (1915-1977) é "o 2º a contar da direita, em cabelo (descoberto)"; ele e os restantes à sua direita são um grupo de 4 graduados... (*) [Percebe-se que são graduados pelo uso de bota alta, tal como na cavalaria].



Cascais > GACA 1 > c. 1940 > Foto nº 4 > O "Matador" que rebocava a antiaérea AA 9,4. Também as havia no CTIG, as viaturas de transporte AEC Matador,  para rebocar a artilharia (obus 14 e 10.5, peça 11.4) e  até para transporte de tropas (**)...  O pai do Torcato é  "o que está sentado na cabine do Matador com o braço de fora"...


Évora > Regimento de Artilharia Ligeira (RAL) 1 (que passou depois a 3) > c. 1936/37 > . "O meu pai serviu no RAL 1 [Évora]... Ele deve ter entrado em 1936/37, saiu, veio a guerra, o entra sai e só em 43 se livrou daquilo. Por isso eu sou um jovem de 44" (TM)...


Évora > Regimento de Artilharia Ligeira (RAL) 1 (RAL 3, ao tempo da guerra colonial ) > c, 1936/37 (*) > A artilharia hipomóvel (puxada a cavalos...) ainda do tempo da I Guerra Mundial!...


Évora > Regimento de Artilharia Ligeira (RAL) 1 (RAL 3, ao tempo da guerra colonial) > c. 1936/37 > O pai do Torcato é   "o primeiro da esquerda, com o boné do RAL 1"... Possivelmente ainda na fase da recruta ou na instrução de especialidade. Sobre a história da reorganização do exército,  e da artilharia em particular, no Estado Novo, vd. Abreu (2008) (***).

Fotos (e legendas): © Torcato Mendonça (2008). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: LG]


1. Fotos do álbum de família do Torcato Mendonça que me mandou as velhas fotos do tempo da tropa do pai dele... Évora, RAL1 e depois Cascais, GACA1. Presume-se que ele tenha sido chamado, mais do que uma vez pela tropa, e nomeadamente já no período da II Guerra Mundial para aprender a operar com a artilharia antiaérea fornecida ao exército pelos nossos aliados ingleses...  Diz o Torcato que o pai só passou à peluda em 1943, ano em que pôde finalmente casar... As fotos claramente dizem respeito a dois períodos distintos; Évora, 1936/37; e Cascais, c. 1940/43...

En passant, diga-se que a primeira unidade de Artilharia Antiaérea em Portugal foi o Grupo de Artilharia Contra Aeronaves (GACA), criado em 1935 na cidadela de Cascais. No ano seguinte, passou a incluir designar-se GACA 1.

O Torcato recorda com muita saudade o pai, o amigo e o camarada... Era algarvio, de Armação de Pêra, trabalhoui depois como técnico na Junta  Autónoma das Estradas... Morreu cedo, em 1977. Cabe-nos aqui evocar e honrar a sua memória (****)
______________

Notas do editor:

(*) 18 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2773: Álbum das Glórias (44): A viatura AEC Matador 4x4 e outras peças do museu da artilharia (Nuno Rubim / Torcato Mendonça)

(**) 17 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2768: Pensar em voz alta (Torcato Mendonça) (10): A nossa por vezes difícil mas sempre boa con(v)ivência

(***) Vd.    ABREU; Filipe da Silva - As Principais Reorganizações do Exército do Século
XVIII ao Século XXI. Reflexos para a Artilharia. [Em linha] Amadora: Academia Militar, Direção de Ensino, Curso de Artilharia, julho de 2008, 41 pp + IV [Consult. 1 mar 20154]. Disponível aqui [em formato pdf].

(***) Último poste da série >  4 de julho de 2013 > Guiné 63/74 - P11803: Meu pai, meu velho meu camarada (39): Amadeu Simões Picado, ilhavense, 1º cabo quarteleiro, da arma de engenharia, integrou o corpo expedicionário português, em França, na I Guerra Mundial (1917/18), e emigrou depois para os EUA onde trabalhou quase sempre como pescador... Só o conheci aos 9 anos, em 1946... (Jorge Picado)

16 comentários:

Anónimo disse...

gostei muito de ver estas fotos, Torcato. Obrigado por as teres partilhado.
V Briote

Vasco Pires disse...

Respeitosamente, recebemos "In memoriam", um Artilheiro classe 36/37.
É o nosso decano.
Forte abraço a todos.
Vasco Pires
Ex-soldado de Artilharia

Juvenal Amado disse...

Torcato
Bela reportagem fotográfica que nos apresentas aqui.
O meu pai também pertenceu à arma de artilharia esteve na Trafaria e também teria feito no caso dele 90 anos no dia 28 de Fevereiro.
Faleceu em 1995.

Um abraço

Torcato Mendonca disse...

Meu caro Luís Graça,
Há que fazer umas pequenas correcções;
- na foto 4 o meu Pai é o 2º a contar da direita, em cabelo (decoberto);
- na foto 5 está sentado na cabine do “Matador” com o braço de fora;
- Na foto 8, junto ao obus (?) é o primeiro da Esq. Com o boné do RAL 1.
Pelo telefone conseguimos acertar bem. Estas correcções devem ser feitas, o mais possível, para manter o Blogue com “memórias de verdade”, com memórias de homens que um dia tiveram os melhores anos de sua vida interrompidos. Alto que a pátria vos chama…felizmente a maioria voltou. A que preço, para eles claro, e em que condições voltaram…
Espero que meu Pai ma perdoe este escrito e esta devassa no seu 100º aniversário.
Um adeus para Ele e um abraço para ti LG do T.
Ps: Ele foi artilheiro e eu não pois era Atirador de Artilharia.

Luís Graça disse...

Torcato: Já fiz as correções devidas, de acordo com as tuas "instruções"
a distância... Isto de trabalhar debaixo de pressão, nos intervalos de muitas outras coisas, não é fácil... Às vezes, é pior a emenda do que o soneto...

Espero que me perdoes, e o teu pai também... Só te quis homenagear a ti, camarada e amigo que eu muito prezo, e ao teu pai...e nosso camarada...

Quanto à distinção entre artilheiro e atirador de artilharia..., bom, não quero ofender ninguém, nem infantes nem artilheiros... Vou arranjar outro trítulo.

Aquele abraço. Luis

Luís Graça disse...

Camaradas:

Vendo as últimas fotos, as de 1936/37..., digam-me lá como é que a gente resistiria aos "panzers", se o Hitler tivesse decidido transpor os Pirinéus, atravessar a pensínsula ibérica e conquistar Gibraltar ? Ou ocupar a Madeira e os Açores ?

A modernização e o rearmamento do exército fez-se tardia e lentamente, ao sabor dos humores e amores de Salazar... em relação às potências do Eixo e aos nossos queridos aliados ingleses...

O rearmamento do exército (para manter a tropa entretida nos quartéis...) fez-se com material de um lado e do outro... Bredas italianas, antiaéreas inglesas... Valeu-nos o volfrâmio, ao que parece...

Mas, dizem os biógrafos, que o Salazar admirava o Mussolini, mas não morria de amores pelo Hitler... Mas nunca saberemos o que o Franco pensava dele e viceversa...

Churchill, nas suas memórias, não lhe parece dar a mais pequena atenção... A Inglaterra não levava Portugal a sério, por total ausência de poderio militar... Mandou-nos meia dúzia de anti-aéreas em troca dos Açores...

Anónimo disse...



Amigo Torcato:

Belas fotografias que sem palavras contam tanta história.
Parabens para ti que tens tanta memória fotografica do teu pai.
Obrigado por a partilhares connosco.
Um grande abraço

Francisco Baptista

Luís Graça disse...

Mail que foi enviado pela rede interna da Tabanca Grande:

Amigos e camaradas:

Temos uma série, "Meu pai, meu velho, meu camarada" que já vai em 40 postes, e onde temos publicado fotos do álbum de família que correm o risco de desaparecer com o tempo...

Interessa-nos salvaguardar (e divulgar) aquelas fotos que têm a ver com a juventude e a tropa dos nossos progenitores...

Sabemos das dificuldades que eles passaram nos anos 30/40, ensombrados pela tragédia da crise económica e social e das guerras que também nos tocaram, direta ou indiretamente (guerra civil de Espanha, II Guerra Mundial...).

Fica aqui uma apelo à vossa sempre generosa e pronta colaboração. Vd. o último poste da série.

Um alfabravo. Luis

Antº Rosinha disse...

Luís peço desculpa, mas tudo o que Salazar pensava dos grandes da Europa, de Franco, de Hitler, Churchil, De Gaule, e dos americanos e brasileiros, etc., etc, está tudo escrito expressamente ou subentendido.

Está em correspondência já publicada há mais de 30 anos com os Embaixadores em Paris, em Madrid e na Inglaterra.

(Marcelo Matias, Teotónio Pereira, Armindo Monteiro, este pai de Luís Infante de Lacerda Sttau Monteiro)

São muitas centenas de cartas (milhares ?)trocadas desde os anos da II Grande Guerra até a cadeira provocar o derrube de um regime.

E resumindo numa frase o que ele pensava deles todos, era "contas com o jorge e jorge na rua".

Claro que como me ponho a fazer comparações, guardei vários assuntos dessas cartas, e umas das cartas foi o negócio dos submarinos barracuda aos franceses e os respectivos bancos financiadores.

Há outras a tratar do visto gold de Calouste Gulbenkian.

Também há umas centenas de cartas com Marcelo Caetano, também muito interessantes.

Claro que eu sou apologista de no aniversário do fim das obras-de-santa-engrácia se erguer um panteão em Santa Comba.

Anónimo disse...

Benito Neves
3 mar 2015 16:58

Olá Luís, muito boa tarde

Sobre este tema lamento não poder ajudar. Meu pai não foi tropa, aliás, entre avós, pai, tios e primos fui o primeiro elemento a integrar as forças militares (e foi porque havia guerra).

Um abraço aos editores e à navegação

BNeves

Anónimo disse...


Luis Dias
3 mar 2015 17:33

Caro Luís Graça

É sempre saudável revivermos os nossos pais. Felizmente, em devido tempo, localizaste no blogue da minha companhia, um texto e fotos que escrevi sobre o meu paI e tiveste a gentileza de o publicar no nosso querido blogue da Tabanca Grande. Acho bem que outros camaradas possam contribuir com os seus textos sobre os pais que também foram militares.
Um forte abraço.
Luís Dias

Anónimo disse...

Meu caro Torcato,

Ao ver a parada do RAL3 em Évora, lembrei-me dos meus tempos de menino, em que entrava naquele quartel para ajudar a levar os cavalos ao picadeiro,
no RI16, onde se procedia à aprendizagem da arte de andar a cavalo, promovida pelo Coronel Camões, figura a quem Évora ainda não soube fazer uma digna homenagem, pelo menos que eu tenha conhecimento.

O Coronel Camões é uma figura dos velhos tempos. Regressado de Angola, não sei em que data, fez-se acompanhar de um cavalo cego de uma vista e que dava por esse nome. O Coronel Camões colocava-lhe uma qualquer criança pequena em cima e dizia-lhe cuidado, era o suficiente para o cavalo se mover sem qualquer trejeito que desequilibrasse quem nele “montava”.

Diziam!?! Que a bala disparada para o dono cegou o cavalo. Eu tinha 6 anos quando estabeleci o primeiro contacto com o Coronel Camões, meu vizinho e amigo, encontrava-se já reformado ou quase, mas todos os dias se levantava cedo para ir para o RAL3 e a seguir para o RI16 onde funcionava o picadeiro que, sem distinções, ensinava quem se apresentava para aprender.

Tenho na parada do RAL3, que tinha uma palmeira, uma foto montado num dos cavalos, o General, todo branco, que fazia parte dos cavalos lá existentes, embora fosse pertença de um oficial superior. Esses cavalos, após os exercícios, o volteio era feito apenas pelo Cego, depois dos saltos no picadeiro do RI16 ou das saídas para o campo, de vez em quando para os que sabiam já montar, retornavam ao RAL3 para beberem, serem limpos e alimentados por quem neles tinha andado nesse dia e pernoitarem.

Só a força e a vontade do Coronel Camões conseguiram manter viva durante tantos anos a situação. O gozo que deu a tantos jovens sem posses, que mantiveram desta forma contacto com a equitação e o animal nobre que é o cavalo.

Na data em que se iniciou a guerra das ex-colónias ou do ultramar, é-me indiferente o nome, já não existiam cavalos no RAL3, a não ser os que serviam para o acima exposto e que acabaram pouco depois, sendo até apontada como uma das causas que acelerou a morte do oficial acima referido, tal a sua paixão pelos cavalos.

Não me dedico a investigar estas coisas, fico-me com as minhas recordações, mas deixo aqui para quem eventualmente se interesse, alguns dados sobre este assunto.

Nos meus tempos de serviço militar, colocado no QG, então junto ao Teatro Garcia de Rezende, hoje o QG é no antigo RI16, o RAL3 é espaço universitário, voltei a ter ligações com o RAL3 por causa de uns cabos milicianos estagiários, mas essa é outra história.

Perguntam os editores no blogue se mudámos, com estas vivências quem não se sente obrigado a mudar na sua maneira de ser e estar? Fisicamente é o tempo, as asneiras e a boca que ditam a maioria das alterações.

Obrigaste-me a lembrar coisas que certamente de outra forma não lembraria, obrigado.

Desculpa qualquer coisinha.

Um abraço,
BS

José Marcelino Martins disse...

A História dos países faz-se de histórias de família.

Ao contrário do Benito Neves, na minha família houve militares em todas as gerações, e são cinco, somando 12 elementos e mais de cem anos de serviço efectivo.

Se o SMO tivesse continuado, já estava no “prelo” a sexta geração, que vai estar no Dia da Defesa Nacional no próximo mês.

Vou rever os textos que já estão em fase adiantada, para enviar.

Anónimo disse...

Torcato Mendonça

Gostei de ver as peças 9,4 de AA, que sendo da Cidadela de Cascais, possivelmente foram aquelas em que aprendi a especialidade de Art AAA e quem sabe, se não foi em alguma das fotografadas que fiz os Tiros de Barragem nos exercícios finais em Janeiro de 1960, no Guincho?
Pedires "ao teu Pai que te perdoe"?
Não ele ficará orgulhoso já que o Homenageaste.
Foi assim que eu entendi dar a conhecer e publicar aqui as poucas fotografias do meu Pai em França, quando da 1.ª Guerra de 1914-18.

Abraço
JPicado

Luís Graça disse...

Torcato e demais camaradas e amigos: a dor da perda dos nossos entes queridos é mais fácil de suportar se, para além da morte, conseguirmos continuar a "falar" com eles... É também a função deste blogue...

Hélder Valério disse...

Caríssimo amigo Torcato

É claro que gostei de ver estas fotos.
As que encontrei do tempo do meu pai, nas Caldas da Rainha e depois em Cabo Verde, já as enviei em tempos aqui para o Blogue.
Estes registos fotográficos permitem-nos fazer algumas comparações. Ver as diferenças mas também as semelhanças.
As diferenças são óbvias, são os fardamentos, as instalações, os materiais, etc., mas encontramos fortes semelhanças nas manifestações de camaradagem, na amizade que se nota 'transpirar' do que se vê.

Um centenário é uma marca notável.
Fizeste bem em recordar o teu Pai.

Abraço
Hélder S.