sábado, 31 de outubro de 2015

Guiné 63/74 - P15309: Historiografia da presença portuguesa em África (64): Cem pesos era "manga de patacão" para o camponês guineense, produtor de mancarra... Era por quanto venderia um saco de 100kg ao comerciante intermediário... Em finais de 1965 o governo de Lisboa garante a compra pela metrópole da totalidade da produção exportável da mancarra guineense e fixa o preço por quilo em 3$60 FOB (Free On Board)



Foto nº 1 > Desenterrando a “mancarra”. Tarefa difícil com o sol a pique nas costas dobradas. Esta mulher tem a vida facilitada pois não tem o filho encavalitado.


Foto nº 2 > A muito custo e apenas com a ajuda de um longo pau endurecido na ponta este homem vai tratando do seu chão de mancarra.


Foto nº 3 > Levando os molhos enfiados num pau.


Foto nº 4 > E acumulando-os para posterior transporte.


Foto nº 5 > A debulha na eira. Aqui com ajuda de cestos (“balaios”) e do vento separam-se os grãos das cascas.

Fotos (e legendas): Henrique Cabral / César Dias (2007). Todos os direitos reservados. Edição: LG

Fotos do nosso grã-tabanqueiro César Dias, ex-furriel mil, CCS/ BCAÇ 2885 (Mansoa, 1969/71) e do Henrique Cabral.  Originalmente publicadas no sítio Entre Fogo Cruzado, numa entrada sobre Amendoim (mancarra), s/d. [2007?].

É uma magnífica página, esta,  concebida e mantida pelo Henrique Cabral, ex-fur mil da CCAÇ 1420/BCAÇ 1857 (1965/67), também ele membro da nossa Tabanca Grande (desde 9/12/2007), e que andou por meia Guiné (.Fulacunda, Mansoa, Braia, Encheia, Uaque, Jugudul, Bissorã, K10,Olossato, Cutia, K3 / Farim e Mansabá)...

Esta página (que merece uma visita!), Entre Fogo Cruzado,  "é dedicada à vida e costumes das  gentes [da Guiné]. Nela transmito aquilo que me foi dado observar, tentando chegar o mais próximo possível ao seu dia a dia, de uma vida tão difícil quanto a nossa, mas da qual a maioria de nós nem tinha tempo para ver, quanto mais pensar nisso. Sendo a nossa vida feita dentro do aquartelamento ou no mato, em guerra, o contacto com a população, para a grande maioria, restringia-se à nossa bajuda lavadeira - tendo em conta os muitos condicionalismos a que estávamos sujeitos e apesar da curiosidade que naturalmente tivéssemos".
 Alterámos a ordem das fotos, que documenta parte do processo da cultura da mancarra na Guiné na década de 1960. As legendas são do Henrique Cabral.


Ano
Mil toneladas
Mil
contos
Contos por tonelada
1960
24,0
78,8
3,27
1961
40,0
126,3
3,17
1962
38,7
133,3
3,44
1963
36,6
124,7
3,41
1964
34,0
119,2
3,50
1965
15,2
64,3
4,23

Quadro 1 - Exportação do amendoim (1960-1965)
Fonte - Adapt. de Dragomir Knapic - Geografia económica de Portugal: Guiné. Lisboa: Instituto Comercial de Lisboa, 1996, 44 pp., policopiado.


1. Recorde-se que o que já aqui escrevemos sobre a mancarra, o principal produto da Guiné até à independência (*):

(i)  em 1929,  a CUF - Companhia União Fabril obtém o reconhecimento alimentar do óleo de amendoim (ou mendubim, como então se dizia);

(ii)  esta decisão vai ter grande impacto não só na olivicultura nacional (, o "óleo fula" vai pressionar o preço do azeite) como na economia da Guiné, que passa a ser o principal fornecedor de matéria-prima, o amendoim; 

(iii) a CUF (, através da Casa Gouveia) detém o monopólio da exportação do amendoim  da Guiné, até à independência da Guiné-Bissau

(iv) entre 1930 e 1960 há um aumento gradual da produção e exportação: a. média de 1931-35 foi de c. 22,9 mil tonelafas e 15,2 mil  contos; a de 1955-60 de 34,2 mil toneladas   e 11,3 mil  contos;

(v) nos anos 60, é o principal produto de exportação da Guiné: representa 76% do total das exportações (em 1964), percentagem que vai decrescer para 61% em 1965;

 (vi) em meados da década de 1960, a área cultivada pelos produtores de mancarra atingia os 100 mil hectares, ou seja, um 1/4 do total da área cultivada da província!,,,.

(vii) a produção rondava as 65 mil toneladas; a produtividade era muito baixa: 600 kg / ha (2 mil kg /ha em casos excecionais);

(viii) em 1965, uma tonelada de amendoim exportado valia 4,2 contos   [ 1.589,91 €, a preços constantes de hoje] (Vd. Quadro 1, acima).

(ix) a cultura da mancarra era feita: (a) em regime de rotação; (b) sem seleção de sementes; (c) sem recurso a adubos ou estrume; (d) proporcionando fracos rendimentos aos produtores; e, por fim,  (e) exigindo grande esforço nas várias fases do ciclo de produção (sementeira, monda, protecção contra oso macaco-cão, colheita, armazenazem)...

(x) as principais regiões de produção eram as do leste da Guiné (Farim, Bafatá, Gabu) onde os solos são mais leves e a precipitação menor;

(xi) esta cultura era já considerada na época como muito lesiva do ambiente, pelo uso intensivo dos solos, a redução do pousio, as queimadas;

(xii)  o sistema de comercialização era altamente penalizante para os produtores;

(xiii) a mancarra punha em risco a segurança alimentar da população local;

(xiv) com a escalada da guerra e a "militarização" da população fula, há um decréscimo da produção;

(xv) é nessa altura que o governo da metrópole intervem fdixando o preço da produção da mancarra da Guiné destinada à metrópole  em  3$60 por quilo (para a campanha de 1965/66), um aumento de §15 / kg;

(xvi) desconhecemos o efeito desta medida no rendimento real dos produtores de mancarra: para chegar a Lisboa a 3$60 o quilo, o produtor guineense não deveriar receber mais do que um 1 peso; por isso, na altura 100 pesos era mesmo "manga de patacão": era um saco de 100 quilos de mancarra!  (**); uma família inteira a cultivar um hectare, no final, poderia ter um rendimento bruto... de 600 pesos (!).



Em face das condições muito especiais em que se continua a processar a produção e comercialização da mancarra da Guiné e enquanto se não finalizam os estudos necessários para dar cumprimento ao previsto no artigo 5.º do Decreto-Lei n.º 44507, de 14 de Agosto de 1962, e que tudo indica conduzirão a uma substituição gradual da cultura do amendoim por outras mais apropriadas às condições geo-climáticas da província, foi entendido, em relação à próxima campanha, elevar o preço desta oleaginosa de $15/kg, a fim de atender aos excepcionais sacrifícios suportados pela agricultura da província. 

Dentro deste condicionalismo: 

O Ministro do Ultramar e o Secretário de Estado do Comércio determinam que na campanha de 1964-1965, sem prejuízo do disposto no Decreto-Lei n.º 44507, de 14 de Agosto de 1962, sobre a circulação de oleaginosas alimentares do ultramar no espaço português - e em especial no referente à garantia de compra pela metrópole da totalidade da produção exportável da mancarra guineense -, o fornecimento das referidas oleaginosas se regule pelas regras seguintes: 

1.ª A produção da mancarra da Guiné destinada à metrópole será adquirida ao preço de 3$60 F. O. B. [Freee on Board]  por quilograma. Deste quantitativo será atribuída a quantidade necessária para abastecimento directo da indústria dos Açores. A província indicará a data a partir da qual é possível iniciar os fornecimentos; 

2.ª Não são fixados preços nem contingentes para as restantes oleaginosas alimentares de qualquer das províncias ultramarinas; 

3.ª Dentro destas regras, o Ministério do Ultramar e a Secretaria de Estado do Comércio diligenciarão, em toda a medida do possível, intensificar as correntes de comércio de oleaginosas alimentares entre a metrópole e as províncias ultramarinas, mantendo-se permanentemente informados, através de consulta recíproca, nomeadamente acerca de quaisquer operações que se projectem com o estrangeiro, por forma a harmonizar os interesses da exportação das províncias ultramarinas com as necessidades de abastecimento nacionais. 

Ministério do Ultramar e Secretaria de Estado do Comércio, 10 de Dezembro de 1965. - O Ministro do Ultramar, Joaquim Moreira da Silva Cunha. - O Secretário de Estado do Comércio, Fernando Manuel Alves Machado. 

Para ser publicado no Boletim Oficial da Guiné. - J. da Silva Cunha.

[Fonte: Diário do Governo - 1ª Série, n 282, de 14.12.1965, pág. 1661(***)
_______________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 7 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14126: (Ex)citações (258): A prosperidade de Bafatá não se deveu tanto ao "patacão da guerra" como ao negócio da mancarra (Cherno Baldé)


(***)  Último poste da série > 5 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15075: Historiografia da presença portuguesa em África (58): Casamansa, setembro de 1858: apoio das autoridades portuguesas aos interesses franceses, objeto de hostilidade pelo "gentio local": portaria, de 30/9/1858, do visconde Sá da Bandeira, secretário de estado dos negócios da Marinha e do ultramar

9 comentários:

Luís Graça disse...

Estou inteiramente de acordo com o Henrique Cabral: a grande maioria de nós não tinha tempo, vagarm pachorra, curiosidade, e sobretudo conhecimento e sensibilidade socioantropológica para nos darmos conta de aspetos da vida, das condições de vida e de trabalho, das populações com que víviamos... apartados. Não éramos turistas nem etnógrafos, estudiosos dos seus usos e costumes... Um ou outro tiropu fotos e tomou notas de certas aspetos da organização social e económica dessas populações... Estou grato ao Henrique Cabralç (e ao César Dias) pela docunmentação fotográfica sobre a cultura da mancarra ou "semente do diabo"... LG

Luís Graça disse...

Mensagem acabada de enviar +pelo correio interno da Tabanca Grande:

Amigos/as e camaradas:

O nosso inquérito de opinião, desta semana, sobre o patação não parece estar a despertar grande interesse... Tivemos até agora 24 respostas... Eis os resultados preliminares:

1. Era muito dinheiro > 1 (4%)

2. Era bastante dinheiro > 4 (16%)

3. Era assim-assim, nem muito nem pouco > 8 (33%)

4. Era pouco dinheiro > 8 (33%)

5. Era muito pouco dinheiro > 1 (4%)

6. Não sei / não tenho opinião > 2 (8%)


O inquérito termina no dia 5, quinta feira, às 14h30... Até lá por certo ainda vamos receber muitas respostas...(A votação é "on line", no canto superior esquerdo do blogue...).

Sabemos que o "tema do patação" já está um bocado gasto... Mas o nosso apelo é para tentar recordarmos os preços dos bens e serviços que pagávamos na época, cá e lá, bem como as remunerações auferidas...antes, durante e depois da tropa.

Pensando na grande maioria dos nossos camaradas, praças (incluindo os nossos camaradas da Guiné, que eram praças de 2ª classe, porque não tinham a famosa 3ª classe!), pensando nos camponeses com quem lidámos (fulas, mandingas, balantas...), pensando nos preços que eram pagos pela mancarra ao produtor direto, digam lá se 100 pesos era muito ou pouco dinheiro...

Havia quem perdesse ou ganhasse 3 ou 4 vezes mais, numa só noite, no jogo da lerpa... Enfim, tal como a imagem da garrafa meia cheia / meia vazia, tudo é relativo e depende muito da perceção de cada um. do posto de observação, dos "óculos" do observador, da sua experiência, etc.

Lembremo-nos amanhã dos nossos queridos defuntos, familiares e camaradas. Boa noite. Luís Graça e demais editores.

entrefogocruzado disse...

Excelênte artigo que complementa o tema em causa.
Obrigado Luís.

AB
Henrique

Anónimo disse...

Na semana em que chegamos à Guiné, 9/4/1963, foi deslocada uma secção reforçada
para Sare-Bacar(Fronteira do Senegal-Norte). Foi destacada a 1º Secção do 1º Pelotão, comandada, pelo furriel mil José Inácio Pinheiro. Entretanto, o nosso pelotão que procedia à segurança, foi convidado a passar por Fajonquito onde fomos recebidos por tal Sambel, cavalheiro que conduzia, para além duma carrinha de caixa aberta, uma moto creio que Triumph. Este Senhor, para além ser um louco a conduzir a moto, era o comprador de toda a mancarra daquela região Leste, lembro-me que depois da recolha da mancarra (1963) ele em sua casa, quando nos oferecia um Whisky, falar que o lucro com tal negócio, ultrapassava naquele ano, os 2000 contos. Claro que ele recolhia a mancarra desde Pirada ,Buruntuma, Canquilifá, Paunca e Nova-Lamego, etc. Sempre que passava-mos em Fajonquito, era obrigatório visitá-lo. Esta mancarra vinha em camiões para Bafatá e seguia por estrada, via Camamudo, Banjara, Mansabá, Mansoa, Nhacra e Bissau. Quando em Julho de 1963, esta estrada ficou intransitável, a mancarra vinha para Bafatá e era embarcada para Bissau, via Geba, pois os barcos vinham até a Bafatá e ao Capé e alguns iam mesmo a Contuboel.

Alcidio Marinho
C.Caç 412

Cherno AB disse...

Caros amigos,

Alguns comentarios relacionados com as fotos e o tema do presente Poste:

Foto-1_ Apresenta a imagem de uma mulher de meia idade e suas criancas procurando com ajuda de uma enxadinha de monda "daba" os restos de mancarra que ficaram no solo apos as colheitas. Porque a mancarra eh colhida no solo so depois de as sementes estarem devidamente amadurecidas e secas, ha uma boa quantidade que fica enterrada e nao se recupera. As mulheres aproveitam recuperar uma parte para utilizar como ingrediente no preparo da comida "mafe de mancarra". Na familia tradicional Africana, em geral, cabe ao homem arrecadar o cereal (milho, fonio, sorgo...) para alimentar a familia e a mulher devem complementar a comida com os ingredientes que conseguem encontrar (Folhas, mancarra, chabeu, lalo, Badjique entre outros).

Foto-3_Cada um desses molhes de mancarra, na lingua fula, toma o nome tecnico de "macaco-cao". Eh preciso muito cuidado e alguma minucia pois no interior e na sombra dos 'macacos-cao' podem esconder-se repteis perigosos (cobras e lacraus).

Foto-4_ Acumulando mancarra ainda com as folhas da planta para posterior debulha que acontecera nos meses de Janeiro a Marco, aproveitando os ventos de leste (ventos aliseos) ja com as cordas de mancarra apodrecidas.

Caro Luis Graca, a producao de mancarra, para alem do problema de produtividade poir falta de elementos de adubo, colocava outros problemas a economia das familias ligados a factor desperdicio e a imposicao de condicoes ligadas a sua revenda aos comerciantes, pois entre as fases de colheita e a debulha perdia-se cerca de 1/3 do potencial da producao (parte que ficava no solo e a parte que ficava pelo caminho ou era danificado pelos animais.

Durante a fase da venda que incluia transporte ate aos centros de compra que muitas vezes atingiam distancias de +20 Km, era feito pelos camponeses que, as vezes, utilizavam animais de carga (os burros ou cavalos para os mais abastados) eh o que justificava a grande quantidades de burros na zona leste do pais.

Antes da pesagem na balanca (autentica roubalheira), a mancarra passava pela "passoire" especie de peneira de metal com uma manivela manual que eliminava uma outra parte considerada invalida que nao contava para contagem dos quilos. Assim, muitas vezes os 6 sacos de 100 quilos transformavam-se, depois, em 3 sacos, cuja equivalencia em dinheiro nao chegava para pagar a sementeira.

A producao da mancarra representava para os camponeses guineenses um ciclo vicioso de reproducao da miseria e do reforco da dependencia ciclica vis-à-vis dos comerciantes aos quais, concediam avancos de produtos alimentares, vestuarios, dinheiro para pagar o imposto etc..., na epoca de chuvas, cuja contrapartida seria a condicionante de vender no mesmo local o produto da sua campanha de mancarra, na epoca seca. Era um sistema de exploracao a que os pobres camponeses, de per si, nao podiam escaper. Foi este tipo de exploracao, quase desumana, que criou a revolta de homens como Amilcar Cabral e outros nos territorios colonizados.

Antes de terminar quero agradecer e felicitar ao vosso companheiro Henrique Cabral pelo excelente trabalho de memoria sobre a Guine e as suas gentes. Muito obrigado.

Com um abraco amigo,

Cherno Balde
Cabral e outros quiseram por fim

Hélder Valério disse...

Como de costume, as achegas do Cherno são de uma utilidade insubstituível.
São um bom complemento ao que vemos e que Às vezes não lhe damos a dimensão mais ajustada.

Quanto à questão dos 100 pesos...

Tudo é muito relativo. Para uns podia ser uma ninharia, 'estoirada' rapidamente, para outros sempre 'rendia' bastante, principalmente se estivessem em situação de 'desterro' e não tivessem onde gastar, a não ser à 'lerpa', ao 'sete e meio', ou ao 'montinho'....

Muito sinceramente, não me lembro como me relacionava com os 100 pesos...

Hélder S.

Antº Rosinha disse...

Estou farto de dizer e não me vou calar jamais, sobre a maneira fácil e tortuosa como é abordado o assunto do "comerciante ladrão" para justificar a revolta do povo guineense ou angolano etc.

Quem como a maioria da nossa geração ouvia a história do merceeiro do rol das nossas aldeias que ardilosamente aumentava a conta dos cliente analfabeto, facilmente "engole" essa do branco roubar o preto.

Era muito diferente e muito complicado para explicar as diferenças 3m 3 linhas.

Por causa dessas "mentiras" que o preto é fácil de enganar é que gente (milhares) como o salgado-do-bésangola, é que têm enfiado tantos barretes e comprado tantos frascos de vidrinhos como sendo diamantes!

Explicarei um dia, porque presenciei, quem era o comerciante do mato, e como muitos desistiam e poucos sobreviviam.

Desculpem qualquer coisinha

Retornado

Cherno AB disse...

Caro amigo Rosinha...velho Colon retornado,

Nao precisa se enervar, claro que deves ter as tuas razoes, o entendimento e a racionalidade de um mais velho, mas eu estou a falar de coisas que vivi e experimentei ao vivo, nao me contaram. O meu pai era empregado de balcao e ate aos 15 anos passava o tempo entre a loja "Casa Ultramarina", o quartel dos brancos e a aldeia. Na aldeia vivia-se, inevitavelmente, ao ritmo do trabalho de campo e a pastoricia.

Durante a campanha de mancarra havia familias que voltavam de maos a abanar depois de pagar as contas junto ao comerciante (da sementeira aos produtos alimentares, passando pelos impostos e as alfaias agricolas), com os mais novos a chorar quando percebiam que as suas expectativas de comprar alguma roupa nova ou uma bicicleta nao se concretizavam.

No entanto nao se pode dizer que tudo era mau, pelo menos na altura podia-se recorrer aos creditos que permitiam garantir uma sobrevivencia no "minima" limiar de continuar a trabalhar e ter esperanca de dias melhores.

E nao se pode afirmar que com a independencia tudo mudou para melhor, ao contrario, muitas facilidades que existiam antes simplesmente acabaram e os camponeses foram completamente abandonados a sua sorte e o aproveitamento e a exploracao dos comerciantes inter mediarios continuous na mesma. O que valeu foi a existencia e valorizacao de um novo produto que, tambem, teria sido uma ideia dos "colonialistas" o Caju, que oportunamente susbstituiu a mancarra para socorrer aos camponeses e a economia do pais. Hoje os grandes patroes sao os Indianos e os intermediarios sao Mauritanos e alguns Guineenses.

Um abraco amigo,

Cherno AB

Antº Rosinha disse...

Cherno, eu sei que tu sabes o que eu sei que nós sabemos.

Tu mais que eu evidentemente.

Mas o meu comentário nem é necessário para tu leres, porque sei que tu me entendes, o que se torna muito difícil ser entendido por outras tribos.