quarta-feira, 25 de outubro de 2017

Guiné 61/74 - P17903: Os nossos seres, saberes e lazeres (235): De Eskdalemuir para Dumfries, à procura de Robert Burns (6) (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 2 de Agosto de 2017:

Queridos amigos,
É tocante encontrar no meio de charnecas, num dos locais onde muito chove e a humidade é mais elevada da Escócia, um criativo espaço comunitário, onde as escassas centenas de habitantes locais têm polo de atração bem como as localidades próximas, é o saber fazer transformando uma velha escola num aprazível ponto de encontro onde se cruzam formação, palestras e conferências, venda de produtos locais, um espaço de saúde e um restaurante a preços abordáveis.
Foi ali que comprei um livro de contos de Dino Buzzati, em francês e italiano, uma edição curiosa e uma velha edição de Oliver Twist, de Dickens, com belíssimas gravuras. Daqui seguiu-se para Dumfries, no rasto do bardo nacional da Escócia, Robert Burns.
Uma tarde magnífica, mas é doloroso visitar uma povoação outrora florescente graças ao têxtil, hoje numa pungente e indisfarçável decadência.

Um abraço do
Mário


De Eskdalemuir para Dumfries, à procura de Robert Burns (6)

Beja Santos

Alguém que me acompanha, na véspera à noitinha sugere um passeio às charnecas mais húmidas da Escócia, ali chove torrencialmente uma boa parte do ano, há quem procure o Esk Valley pelo fresco do verão, não passa de um mês, o resto do ano é tempo desolador. O local chama-se Eskdalemuir entre Langholm e Lockerbie. A sugestão é para que eu tenha conhecimento ao vivo de uma experiência de desenvolvimento comunitário dentro de uma velha escola, agora um polo dinâmico de criatividade, há ali refeitório, venda de produtos tradicionais, cursos de formação, exposições, teatro, o resultado e o pleno entusiasmo dos cerca de 265 habitantes que obtêm bons serviços, educação comunitária, acesso a terapias, troca de livros e discos e muito mais. De Moffat até ao Esk Valley são estas charnecas espantosas, ao viandante deu para pensar na atmosfera em que se desenrola a famosa novela de Conan Doyle, O Cão dos Baskervilles. E depois de almoço o grupo, em estado de felicidade, marchou para Dumfries.


Já foi muito próspera, Dumfries, atravessada pelo rio Nith, entra-se no casco histórico e o sentimento de abandono é indisfarçável, fachadas estaladas e corroídas, muitos estabelecimentos encerrados. É um dos pesadelos das autoridades escocesas, levantar estas vilas e cidades onde pontificava a riqueza têxtil, em decadência com a globalização. O viandante aproveitou a pouca luz para mostrar esta corrente de água num dos pontos mais graciosos da pequena cidade.


É umas das contradições destes espaços que outrora tiveram ostentação e marcas de água. No centro do mais buliçoso comércio, tomado por lojas de fancaria e muitos espaços de vendas caritativas, um sinal da velha prosperidade, a torre tem uma excelente volumetria, é uma preciosa escala humana, perguntou-se a meio mundo que serviços estão agora instalados, não houve resposta cabal. Mas não custa a crer que foi lugar de honra da municipalidade de Dumfries.


Viemos em romagem ao lugar onde viveu e morreu o poeta nacional da Escócia, Robert Burns, nesta casa passou os últimos anos da sua vida, hoje é casa-museu. Burns ganhou a sua imortalidade pela poesia afetiva, o uso gostoso dos aforismos e quadras populares, exprimiu-se em inglês e dialeto escocês, os ingleses dão-lhe pouco valor, os escoceses tratam-no como o seu bardo nacional. Vale a pena ao leitor procurar Robert Burns na wikipedia e ver o que sobre ele e o seu génio escreveu um crítico literário tão exigente como Jorge de Sena.



Antes de entrar na casa-museu colheu-se esta imagem relacionada com os afazeres agrícolas de Burns, que era funcionário nas alfândegas locais, muito estimado pela sua extroversão, um crónico frequentador de tascas e tabernas onde sabia escutar e tinha auditório. O seu currículo, que se inicia em meio rural, a sua frequência de meios populares, a sua satisfação por uma poesia mordaz, a sua faceta no tratamento da questão amorosa, deslizando subtilmente para um erotismo contido, preparou-lhe a fama em vida e a imortalidade quando morreu em 1796, com 37 anos.


A companha avança agora para outro lugar de peregrinação, a igreja de S. Miguel, em cujo cemitério está o mausoléu de Burns. Dentro das vicissitudes do chamado tempo inglês, depois de uma manhã de céu plúmbeo, tudo se aclarou, as ameaçadoras nuvens negras afastaram-se, parecia um dia de verão. É impressionante o efeito desta pedra de areia, ressalta todos os pormenores, dá mesmo alguma majestade às linhas austeras do templo. A envolvente do cemitério ainda se torna mais impressionante.



Não é a primeira vez que o viandante se confessa atraído por estes espaços de tranquilidade, sem imagens do horror da morte, é verdade que se fala quase sempre na memória amorosa de quem partiu, ali se juntam pais, filhos, irmãos e até netos. No seu mausoléu, Burns está sepultado com o filho que nasceu exatamente no dia da sua morte. Há aqui uma atmosfera romântica, exacerbada pela presença da natureza, por vezes tão forte como estas raízes que se expandiram atirando uma lápide ao chão. Para que conste que a vida é muitíssimo mais poderosa do que os materiais com que se julga preparar a eternidade de cada um. Amanhã muda-se de rumo, vai-se de Moffat até Thornhill e daqui a Drumlanrig Castle, desde já advirto que foi um dia de arromba, ia à espera de contemplar um quadro de Leonardo da Vinci, célebre por ter sido roubado desta casa e ter sido recuperado incólume, tivesse o viandante procurado informação pertinente e saberia que os proprietários têm agora o quadro emprestado à galeria nacional, em Edimburgo. Mas estava um dia lindo e Drumlanrig Castle tem uns belos jardins, como se irá mostrar.

(Continua)
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Nota do editor

Último poste da série de 18 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17876: Os nossos seres, saberes e lazeres (234): Passeio pedestre por algumas entranhas de Moffat (5) (Mário Beja Santos)

1 comentário:

Unknown disse...

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