sexta-feira, 4 de dezembro de 2020

Guiné 61/74 - P21609: Boas Festas 2020/21: em rede, ligados e solidários, uns com os outros, lutando contra a pandemia de Covid-19 (2): "Tomé, o sonhador", um conto de Natal (Mário Gaspar, que cresceu entre operários e avieiros de Alhandra)

 



Um conto de Natal, da autoria do nosso camarada Mário Gaspar, publicado em "O Olhar do Mocho", boletim da ACSSL - Associação Cultural e Social de Séniores de Lisboa, nº 64, ano 16, dezembro de 2020, p. 4. (*)

Mário Gaspar, ex-Fur Mil At Art, Minas e Armadilhas, CART 1659, "Os Zorbas" (Gadamael e Ganturé, 1967/68), é lapidador de diamantes reformado, foi fur mil

Nasceu na freguesia de Santa Maria, em Sintra, e foi no Antigo Edifício dos Bombeiros Voluntários de Sintra que foi à Inspecção, embora desde os três anos morasse em Alhandra: "Vila Industrial, foi aí que aprendi a ser Homem, embora tenha estudado no então famoso Externato Sousa Martins, em Vila Franca de Xira, desde os meus treze anos namorei com uma sueca, linda boneca, Ingrid Margaretha Gustavsom. Alhandra foi a minha Universidade. Tive como Professores Sábios Avieiros e os Operários." (**)

Recorde-se que a vila de Alhandra,no concelho de Vila Franca de Xira, estão ligados os nomes de grandes portugueses como Afonso de Albuquerque (Alhandra, 1452 -Goa, 1515), o médico Sousa Martins (Alhandra, 1843- Alhandra, 1897) (que o povo transformou em santo) ou o escritor Soeiro Pereira Gomes (Baião, 1909 - Lisboa, 1949), autor de "Esteiros" (1941) (obra ilustrada por Álvaro Cunhal, e dedicada aos "filhos dos homens que nunca foram meninos).

Nestes últimos nove meses, de pandemia de Covid-19, o Mário  tem sido também um dos nossos bons e fiéis companheiros, mandando-nos quase todos os dias emails, alimentando o nosso blogue com imenso material, desde poemas a vídeos, mesmo que muito desse material  não seja publicável, por razões editoriais: por exemplo, tudo o que é referente à atualidade política, social e cultural.

É também um exemplo, corajoso, de um camarada nosso que, apesar dos seus problemas de saúde, tem sabido reamar contra a maré e ensinar-nos a maneira como podemos envelhecer, de maneira activa, proativa, produtiva e saudável... A colaboração através da escrita, no nosso blogue ou em boletins como este, "O Olhar do Mocho", é apenas um dos muitos meios que estão à nossa mão. 

Um fratermo alfabravo para o Mário. Um Natal quentinho. Luís


(**) Vd. poste de 19 de abril de 2020 > Guiné 61/74 - P20875: (Ex)citações (365): Os ex-combatentes, agora confinados por causa da pandemia de COVID-19... Hoje, como ontem, "presos"! (Mário Gaspar, ex-fur mil at inf, MA, CART 1659, Gadamael e Ganturé, 1967/68)

4 comentários:

Joaquim Luis Fernandes disse...

Um singelo conto de Natal a evocar memórias de lugares e de outros tempos, em que muitos meninos poderiam ser felizes com pouca coisa.
Ainda hoje, na Guiné das nossas memórias, muitos meninos assim são: felizes com muito pouco.

Parabéns camarada Mário Gaspar.
Votos de feliz Natal, com boa saúde.

Abraços
Joaquim Luís Fernandes

Tabanca Grande Luís Graça disse...

fragateiro | s. m. | adj.

fra·ga·tei·ro
nome masculino
1. Tripulante de fragata (no Tejo).

_____________

fragata | s. f. | s. 2 g.

fra·ga·ta
(italiano fregata)
nome feminino
(...)

3. [Portugal] [Náutica] Embarcação comprida, com 20 a 30 metros, dotada de quilha, um só mastro de vela quadrangular e vela triangular de estai, fundo redondo, proa direita e tonelagem variável, usada no rio Tejo para transporte de mercadorias pesadas.

(...)

___________
bateira | s. f.

ba·tei·ra
(bat[el] + -eira)
nome feminino
Barco pequeno, de fundo chato.

_______________

avieiro | adj. s. m.

a·vi·ei·ro
(origem duvidosa)
adjectivo e nome masculino
[Regionalismo] Relativo a ou pescador da zona de Vieira de Leiria que, no Inverno, se desloca para as margens do rio Tejo (ex.: aldeia avieira com construções palafíticas; ainda é possível encontrar alguns avieiros).

_____________

esteiro | s. m.

es·tei·ro
(latim aestuarium, -ii)
nome masculino
1. Braço de mar ou de rio que se estende pela terra dentro.Ver imagem = ESTUÁRIO

2. [Brasil: Sul] [Geografia] Terreno pantanoso de pouca profundidade, próximo de rio ou lagoa, com vegetação aquática abundante. = ESTERO


"esteiro", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2020, https://dicionario.priberam.org/esteiro [consultado em 04-12-2020].

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Um livro que muitos de nós não lemos, mas que devemos oferecer aos nossos netos... Custa um nota de cinco euros... Boa prenda de Natal, a pensar na biblioteca futura dos mais pequenos...

Estou a falar dos "Esteiros", de Soeiro Pereira Gomes... Ler mais aqui:

(...) A história de cinco meninos que trabalhavam em vez de ir à escola, é a obra prima de Soeiro Pereira Gomes. A miséria retratada em "Esteiros" é mais do que ficção: é a realidade de um país pobre, sem esperança, onde mais de metade da população é analfabeta.


Da janela do quarto, Soeiro Pereira Gomes observava a luta trágica dos operários para sobreviver. Entre os homens, havia crianças em idade de aprender as primeiras letras. Recolhiam o barro dos estreitos canais do rio Tejo, os esteiros, para dele fazerem telhas e tijolos. Trabalhavam a troco de um salário miserável, que os condenava à mendicidade, a uma vida sem saída da pobreza. O autor via tudo da janela da sua casa, em Alhandra, e refletia sobre a injustiça de uma sociedade opressora e exploradora, organizada em favor dos mais fortes. Em vez de calar, prefere denunciar com palavras e outros atos de resistência ao regime de Salazar.

Publicado em 1941, “Esteiros”, tem personagens inspiradas na realidade: Gaitinhas, Guedelhas, Gineto, Maquineta e Sagui, são “os filhos dos homens que nunca foram meninos”, dedicatória do autor a abrir o romance. A obra, uma das mais emblemáticas do movimento neorrealista português, é escrita numa linguagem acessível mas cuidada, com frases simples, privilegiando o discurso direto para dar voz aos oprimidos. A 1.ª edição tem capa e ilustrações de Álvaro Cunhal, o histórico fundador do PCP, o partido comunista português ao qual o escritor aderira em 1937. (...)

https://ensina.rtp.pt/artigo/esteiros-de-soeiro-pereira-gomes/

António J. P. Costa disse...

Olá Camaradas

Muito bom texto este do Mário Gaspar.
Penso que retrata um realidade que hoje não existe, pelo menos com estes contornos.
O neo-realismo era glorificava uma espécie de miséria, mas de uma forma romântica e um tanto estilizada. Daí que nos toque ainda hoje.
E hoje como será? Hoje até há escola onde é possível tomar, pelo menos uma refeição...
Subimos um pouco na escala do respeito pelos direitos humanos. Quem por eles reclama não é perseguido como naquele tempo, mas se tivéssemos de escrever um texto nesta linha estética e em consonância com a realidade, como seria?

Um Ab.
António J. P. Costa