terça-feira, 18 de maio de 2021

Guiné 61/74 - P22210: CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, Porto Gole e Missirá, 1965/67): A “história” como eu a lembro e vivi (João Crisóstomo, ex-alf mil, Nova Iorque) - Parte VIII: A partir de outubro de 1965, em Enxalé e seus destacamentos, Porto Gole e Missirá

 



Guiné > Região de Bafatá > CCAÇ 1439 (1965/67) > 1965 > Bambadinca > Rio Geba > Cais fluvial e cambança, em canoa, para Finete (na margem direita)                         



Emblema da CC1439 que me foi dado na Madeira. Esteve comigo na Guiné 
e tem andado comigo pelos quarto cantos do mundo!

Fotos (e legtendas): © João Crisóstomo (2021. Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Continuação da publicação da publicação das memórias do João Crisóstomo, ex-alf mil, CCAÇ 1439 (1965/67)




CCAÇ 1439 (Xime, Bambadinca, Enxalé, 
Porto Gole e Missirá, 1965/67) : a “história” 
como eu a lembro e vivi 
(João Crisóstomo, 
ex-alf mil, Nova Iorque)

Parte VIII: Dia 9 de Outubro de 1965: A CCaç 1439 em Enxalé (e seus destacamentos de Porto Gole e  Missirá)


Não foi de bom grado que recebi a notícia de que íamos para Enxalé na outra margem (,direita,) do Geba. No lado do Xime e Bambadinca havia pelo menos algumas possibilidades e certa facilidade de ir até Bafatá, pensava eu. Mas ir para Enxalé no outro lado do rio? Mas não tinha dizer na matéria e, resignado, para lá me mudei com a minha companhia.

Fiquei surpreendido por encontrar várias casas normais, construídas por antigos comerciantes que, adaptadas, ofereciam instalações razoáveis. Graças a este blogue, viria mais tarde a encontrar a dona das casas que aí nos serviram de messe, escritórios e residência, a Sra Helena do Enxalé, a Maria Helena Carvalho, que, além de membro da Tabanca Grande, se tornou uma amiga querida de todos os que têm a sorte de a conhecer.

Considero os primeiros meses aí passados quase que um tempo de aprendizagem, reconhecimento e adaptação. Os destacamentos de Missirá e Porto Gole “pertenciam ao Enxalé", pelo que os pelotões e seus respectivos comandantes, Alferes Freitas, Crisóstomo e Sousa se revezavam.

Porque não tive o cuidado de registar em agenda as datas certas das nossas “andanças", não tenho sequer maneira de poder dizer com certeza quem estava num lado ou outro em alguma data específica nos primeiros meses. Sei que estive destacado em Porto Gole em Janeiro/Fevereiro de 1966, mas não sei as datas certas; em fins de Fevereiro eu estava no Enxalé, pois não esqueço que fazia parte de uma operação onde sofremos muita sede , como consta no “Relatório”.

Como disse já, depois de 55 anos passados, não tenho dados suficientes , nem memória suficiente que me permita muito mais do que o que vem descrito no ‘Relatório”, a partir de fins de Maio de 1966. Por isso apenas mencionarei com maior detalhes ou destaque alguns casos “ especiais" na medida em que a minha memória ainda me permite fazê-lo. De resto farei um resumo de datas, dados e informação como vem no "Relatório#, para que conste.
  

   


Guiné > Região de Bafatá > CAÇ 1439 (1965/67) > Enxalé > Setembro de1966 >  Na messe”: 1-Cap Mil Amandio Pires; 2 Alf. Sousa 3 Alf Zagalo 4 Alf medico Paulo Petracki; 
5 Alf Henrique Matos, Cmdt Pel Caç Nat 52; 6 Alf mil Marchand, Matos Cmdt Pel Caç nat 54; 7 fur. Mil Antunes; 8 e 9 fur Monteiro e Altino, Pel Caç nat 52

Foto de fur Viegas. Legenda de Herique Matos  (editada por João Crisóstomo)



No  canto esquerdo  está o Sargento  Bicho; eu estou ao fundo de camisa branca



Ainda no Funchal, em vésperas do embarque para a Guiné,  Capitão Pires, que vai partir mais cedo,  espede-se dos seus quarto oificiais  Freitas, Crisóstomo. Sousa e Zagalo

O Monumento/recordação deixado em Enxalé... Na foto, Alferes Freitas, Capitão Pires e Alferes Sousa. O alferes Zagalo estava na altura em Missirá e o alferes Crisóstomo estava em Porto Gole


Novembro de 1965: dia 9


Patrulha de reconhecimento e batida ao Chão Balanta. durante este patrulhamento foi assinalado o clima de colaboração entre a populança balança e o IN, colaboração que se supõe ser devida à ameaça do IBN à população. Procurou-se cativar a simpatia da mesma população.

Novembro de 1965: dia 19

A CCaç 1439 realizou a Operação Fama, patrulha de reconhecimento e combate à região de Madina. O relato é extenso e pouco claro; antes confuso.

De facto o relato que se segue parece ser um jogo de "gato e rato” ou "agora atacas tu, agora ataco eu” sem qualquer encontros sérios a destacar. Não me recordo se fiz parte desta operação, mas creio que não. Não me iria com certeza esquecer do que consta deste relatório, um vez que menciona resultados de alguma envergadura , como seja a destruição de um acampamento de 70 casas (sic):

(...) " As nossas tropas foram detectadas por um sentinela avançado , tendo alertado o IN com disparos de P.M. (..). As nossas tropas aproximaram-se do objectivo sem encontrar qualquer resistência. O IB tinha-se furtado ao contacto, tendo dispersado. Destruído todo o acampamento IN, constituido por 70 casas e, batida toda a região, foram destruídas todas as culturas IN de mandioca,milho, arroz e bananeiras".

E o "agora atacas tu, agora ataco eu” continua sem qualquer gravidade de notar parece , embora mencione que "encontraram-se vestígios de baixas IN que posteriormente foram confirmadas por prisioneiros". E depois diz-se que "não houve baixas nas NT""-

Embora mencione a captura de tês prisioneiros, sendo um deles o próprio chefe da tabanca IN Albino Có, diz a seguir que "ss magros resultados obtidos são consequência da falta de um bom guia" e que "Nnesta operação houve uma perfeita colaboração com a forca aérea".


Novembro de 1965: dia 27

Patrulha de reconhecimento a Colicunda, Hafo(?) e Chombé . "Em Colicunda foram capturados dois indivíduos suspeitos, sendo um deles posto em liberdade e(o)outro feito prisioneiro."


Novembro de 1965: dia 29

Patrulha de reconhecimento, seguida de batida à zona de Cherel (sic): "por exploração imediata de notícias, a CCAL 1439 deslocou-se à regina de Cherel onde se suspeita existir uma tabanca não apresentada sob controle directo do IN. tendo-se detectado uma Tabanca fez-se o cerco e batida, capturando dois homens, três mulheres e quatro crianças.. Foi capturado o seguinte material: 1 pistola Ceska; 1 pente de munições de espingarda Mauser.

Foram destruidas 10 casas de mato além de varios utensílios domésticos que se tornavam impossível transportar bem como um campo de milho e arroz."

Dezembro de 1965: dia 22


"Realizou-se a Op Prova, patrulha de reconhecimento e combate à região de Madina, saindo de Missirá, picada de Bissá até Madina. Não foi detectado qualquer elemento IN nem vestígios de acampamento."

Fevereiro de 1966: dia 25

Lembro bem esta “operação” em que eu e o meu pelotão tomámos parte. O descrito no relatório é bastante objectivo e esclarecedor:

(...) "No dia 25 de Fevereiro de 1966 a CCaç 1439 realizou a Op Vigor que consistiu numa patrulha de reconhecimento e combate na região a N de Cherel. (...) O guia prisioneiro utilizado, ou mentiu ou não estava actualizado. (...)

De facto quase nada de extraordinário aconteceu, salvo ter-se encontrado um “acampamento IN ” abandonado havia muito tempo e logo a seguir outro acampamento que devia ter substituído o anterior, mas que também já estava abandonado há algum tempo.

(...) "Foi uma das operações que obrigou todo o pessoal a um grande desgaste físico devido à falta de água naquela região."

Esta Operação mereceu do Agrupamento 24 a seguinte referência: " Dadas as condições difíceis em que se desenvolveu a Operação— sob temperaturas escaldantes , --solicito que transmita às NT intervenientes o reconhecimento pelas suas boas qualidades militares e o espírito de muita compreensão e sacrifício."

Nota: Não foi só o calor e a falta de água. Foi também o seu longo tempo/duração, pois pernoitamos no mato e depois o caminho de volta não acabava mais. Recordo-me do quase desespero de todos, na ânsia de encontrar água, fosse de riacho ou um simples poço. 

Eu bem tentava motivar e inspirar confiança, mas eu próprio sofri a sede nessa operação. E não é fácil inspirar ou convencer alguém quando nós próprios somos os primeiros a precisar de acreditar e ser “convencidos”.  

Creio que foi nesta operação ( pois a situação de sede e falta de água sucedeu mais do que uma vez ) que encontrámos uma pequena, mas funda depressão no terreno, como que um lagosito pequeno; a cor da água era escura e num canto estava um macaco já em decomposição. Mas não houve hesitações: felizmente que, junto com a ração de combate toda a gente trazia os comprimidos para "purificação” de água, cujo nome não me lembro,. E foi encher os cantis e dar graças a Deus…



Junto estas duas fotos  quase como”homenagem" ao meu valente  guarda-costas de quem, acabado o meu serviço militar,  nunca mais soube  nada.  Pelo que lembro dele, opinião esta partilhada por outros que  o conheceram,  era um indivíduo de uma lealdade, altruísmo  e coragem  únicas; para mim mais do que um simples soldado guarda costas ele era um amigo. Jamais o  esquecerei.

2 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

João, obrigado por me teres telefonado, de Nova Iorque, a saber da minha saúde... Como diz o povo, "A cada hora, Deus melhora"... Obrigado pelo teu cuidado... irei umas "férias", estou por aqui, pela Tabanca de Candoz, duas ou três semanas...Mas tenho um consukta no dia 8 de junho,,, Editei o teu poste, mas sem os cuidados habituais: a internet móvvel, aqui, na Tabanca de Candoz, rodeada de montanhas, não é "famosa"... Melhorou, mas tem altos e baixos...

Sobre a tua "sede", a nossa "sede", já aqui deixoi aqui u, relato dramático, em prosa poética. É a minha homenagem a todos aqueles de nós na Guiné sofremos o suplício de Tântalo... Fpi um dos nossos piores inimigos, a "sede"...

https://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/2021/05/guine-6174-p22190-17-aniversario-do.html

José Botelho Colaço disse...

A sede deve ter sido raro o militar que andou no mato da Guiné que não tenha uma história para contar, a minha já a contei mas vou rezumi-la na operação tridente Ilha do Como no Cachil 24 de Janeiro de 1964 depois de mais de vinte e quatro horas sem agua onde havia camaradas a desmaiar devido à desidatração chegou o hélli com uma jarricana de agua feitas as contas para a distribuição calhou um copo do cantil a cada militar sem descriminação de oficiais, praças ou carregadores nativos "milícias" sobrou no fundo da jarricana mais ou menos 2 a 3 litros de agua que ficou de reserva como medicamente para algum caso mais grave que pudesse aparecer, a parte que mais me marcou e ficou na memória foi ouvir a seguir: Ó pá queres vender a tua agua? dou-te 500$00 Mil nenhum vendeu a resposta foi vai pró car... e depois bebo dinheiro.