terça-feira, 11 de outubro de 2022

Guiné 61/74 - P23695: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (99): Alguém tem exemplares do jornal "Nô Pintcha", do PAIGC, criado em 1975? Ou de panfletos, do tempo da luta armada, com a expressão "Nô Pintcha"? (Paulo Marchã, militar da FAP, ref, estudante de licenciatura em Estudos Africanos pela FL/UL)



Guiné-Bissau > Bissau > 1975 > Cabeçalho do jornal trissemanário "Nô Pintcha", ano I, nº 18, 6 de maio de 1975. Era apresentado como "órgão do subcomissariado de Estado de Informação e Turismo" e, em princípio, com este formato, foi criado em 1975. Em 27 de março de 2015 celebrou 40 anos, e passou a bissemanário.

(Imagem: Cortesia de Fundação Mário Soares > Casa Comum >Arquivos > Arquivo de Mário Pinto de Andrade).


1. Mensagem de Paulo Marchã, militar da FAP na reforma, a concluir a licenciatura em Estudos Africanos, na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa (FL/UL)

Data - sábado, 8/10/2022, 17:12

Assunto - Imprensa antes da independencia e brochura No Pintcha

Caro camarada Luís Graça,
Espero encontrá-lo bem, assim como todos os seus familiares.
Chamo-me Paulo Marchã, tenho 64 anos e sou militar da FAP na Reforma.
Voltei aos bancos da Universidade, Faculdade de Letras de Lisboa e estou a concluir a Licenciatura em Estudos Africanos.
O Centro de História da Universidade de Lisboa lançou há dias o website do Jornal No Pintcha, onde eu estou envolvido academicamente.

Vinha solicitar os seus préstimos se haverá números que poderia disponibilizar, apesar de ser um jornal público, com tiragem inicial em 1975. No entanto, parece-me que o mesmo jornal, poderia ter uma linha de existência, mesmo precária e singela antes da independência, com o mesmo título.
Se porventura existir algum exemplar em Arquivo, ou na posse de algum camarada, mesmo outra edição de clandestinidade do PAIGC, muito lhe ficava grato que me facultassem acesso para digitalização e para fins académicos, de investigação e de estudo.

Com estima, queira acetar os meus cumprimentos,

Paulo Marchã


2. Resposta do editor LG:

Olá, Paulo, obrigado pelo contacto. Vou pôr à consideração dos nossos leitores o seu pedido (*). Temos escassas referências ao jornal "Nô Pintcha", no nosso blogue, tratando-se de uma publicação periodica oficialmente criada em 1975, já depois da independência da Guiné-Bissau. As balizas temporais do nsso blogue são basicamente as da guerra do ultramar / guerra colonal (1961/74).

Pode ser, entretanto, que alguém, entre as centenas de amigos e camaradas da Guiné que integram a nossa Tabanca Grande, possa responder positivamente ao seu pedido. Mas não temos conhecimento de nenhuma coleção do "Nô Pintcha". Pode haver, isso sim, um ou outro exemplar avulso na posse de algum dos nossos camaradas.

Quanto à existência de um eventual "Nô Pintcha", reproduzido a "stencil", durante a luta de libertação, e distribuído pelo PAIGC "no mato", a única referência que temos é a que vem no poste P16962, de 17 de janeiro de 2017 (**).

Para já ficas-nos a dúvida, se se tratava de uma publicação periódica, de um jornal, ou antes de "folhas soltas", "panfletos" com o cabeçalho "Nô Pintcha", "slogan" que o PAIGC usava na sua propaganda?... Por outro lado, pode perguntar-se: mas quem é que sabia ler, numa tabanca da margem direita do Rio Corubal, em Mina, uma das matas do Xime, em agosto de 1963, no início da guerra de guerrilha?

Infelizmente o autor do achado dessas "folhas feitas em stencil de um pequeno jornal chamado e intitulado de No Pintcha" , o Alcídio Marinho, já faleceu eem 2021 (***).  

Antigo furriel miliciano atirador de infantaria, com a especialidade de minas e armadilhas, da CCAÇ 412 (Bafatá, 1963/65), o Alcídio Marinho vivia no Porto. Conheci-o em 2011, a ele e à sua companheira Rosa. Compartilhou comigo algumas informações "off record" do seu tempo como opercional no TO da Guiné. Não me lembro de me ter falado desses exemplares de jornais ou panfletos de propaganda do PAIGC, capturados no mato, e muito menos que ele os tenha trazido com ele, no regresso a casa. O material apreendido, como seria normal, foi entregue ao BCAÇ 506 (Bafatá, 1963/65).

Pessoalmente inclino-me mais para a hipótese de se tratar de panfletos avulsos, encimado com o título "Nô Pintcah" (em português, Avante), como este que a seguir se repoduz, com a foto do Amílcar Cabral ao centro. (****)

Bom trabalho. Boa sorte para o projeto.

Mantenhas. Luís Graça




Guiné-Bissau > s/d > Amílcar Cabral e a sua mensagem revolucionária, Nô Pintcha (título posterior de semanário guineense, de informação geral, fundado em 1975 e dirigido por Simão Abina)... Em crioulo, a expressão "Nô Pintcha" quer dizer: Avante, Vamos dar um empurrão, Vamos para a frente...
Fonte: Sítio Xico Nhoca, consultado em 17 junho de 2010. Disponível em http://www.xiconhoca.org/nopintcha/ ) (com a devida vénia...)
____________

Notas do editor:

(*) Último poste da série > 1 de outubro de 2022 > Guiné 61/74 - P23658: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (98): Em Mansabá havia 2 geradores Lister que trabalhavam alternadamente, em turnos de 4 horas (Carlos Vinhal, ex-fur mil art, MA, CART 2732, Mansabá, 1970/72)

(**) Vd. poste de 17 de janeiro de 2017 > Guiné 61/74 - P16962: (Ex)citações (323): em 1963 já havia um jornal "Nô Pintcha", a stencil... Apanhámos vários exemplares, na Ponta do Inglês, em 28 de janeiro de 1964, com um título de caixa alta: "Os colonialistas também têm mercenários"... Numa foto, via-se um individuo de cabelo comprido, camisa com ramos de flores, calções escuros e sandálias havaianas, a montar uma armadilha... Esse indivíduo era eu (Alcídio Marinho, ex-fur mil at inf, MA, CCAÇ 412, Bafatá, 1963/65)

(...) No meu tempo, quando o 3º pelotão da CCAÇ 412 esteve no Xitole de junho a fim de agosto de 1963, um dia na região de Mina, numa tabanca encontrei umas folhas feitas em stencil de um pequeno jornal chamado e intitulado de No Pintcha [, leia-se: Avante, em crioulo].

Nesses panfletos davam notícias sobre a chamada luta de libertação. Mais tarde, depois de estarmos no Enxalé 28 de outubro de 1963 até 25 de janeiro de 1964, fizemos a nível de Companhia uma operação à Ponta do Inglês, em 28 de janeiro (operação Ponta do Inglês), em que levámos 13 longas horas para chegar ao acampamento inimigo, sendo este depois destruído.

Aí apareceram diversos desses jornais, onde me foi chamada a atenção por um camarada que a minha fotografia aparecia na 1ª página. O titulo era o seguinte: " Os colonialistas também têm mercenários". Via-se um individuo de cabelo comprido, camisa com ramos de flores, calções escuros e sandálias havaianas, a montar uma armadilha. O individuo da fotografia era eu. O cabelo andava comprimido, porque eu tinha tido um problema no couro cabeludo e por indicação do nosso médico, dr. Jacinto Botas, e devido ao tratamento, não podia cortar o cabelo.

A minha camisa era azul com folhas e flores amarelas, comprada em Bissau. Os calções eram azuis e tinham sido feitos pelo cabo (alfaiate) Eurico Valpaços Alves. A foto era, na época, a preto e branco, e foi tirada na zona do Enxalé. (...).

Alguns exemplares foram entregues no Batalhão [de Çaçadores] 506 que os fez chegar a Bissau, onde oficialmente se ficou a conhecer a minha actividade. Um militar sem curso de Minas e Armadilhas, fazia mais estragos que muitas unidades.

Portanto já em 1963 havia um jornal chamado Nô Pintcha. (...)

(***) Vd. poste de 1 de junho de 2021 > Guiné 61/74 - P22244: In Memoriam (397): Com o Alcídio Marinho (1940-2021), ultrapassamos a centena de amigos e camaradas, membros da Tabanca Grande, que "da lei da morte já se libertaram" (n=103)... Quase um quarto dos falecimentos (n=25) ocorreu em 2020 e 2021 (últimos 5 meses), ou seja, em plena pandemia de COVID-19.

(****) Vd. poste de 17 de junho de 2010 > Guiné 63/74 - P6609: Controvérsias (87): Nô Pintcha, Vamos P'rá Frente, Guiné-Bissau! (Carlos Silva, membro da ONGD Ajuda Amiga)

3 comentários:

Anónimo disse...

Este blogue por vezes ate parece um vale dos faraós onde de vez em quando se encontra mais um outro túmulo por explorar. Como sucede agora com este "Avante" do PAIGC "Nô Pincha". A foto do Amilcar Cabral num deles deixa deixa qualquer dúvidas sobre a sua relevância. Nunca tinha ouvido falar dele , mas oxalá apareçam mais exemplares ainda desconhecidos.
João Crisóstomo

Mário Beja Santos disse...

Meu caro Paulo Marchã, creio que encontrará no CIDAC (Rua Tomás Ribeiro 3-9, 1069-069 Lisboa; Telefone: 21 317 2860) tudo o que procura. Foi nesta biblioteca que encontrei um impressionante acervo das publicações do PAIGC, incluindo em stencil os discursos de Amílcar Cabral. Durante os primeiros anos da independência, o CIDAC teve projetos de cooperação com a Guiné-Bissau e beneficiou do acesso a muitíssima documentação. Convirá telefonar previamente, recomendo-lhe que procure contatar Stephan Laurent para que lhe sejam disponibilizados os documentos de que necessita, recordo que há anos pretendi consultar documentação e existe esta exigência de requerer previamente acesso, será certamente um problema de falta de pessoal. Espero tê-lo ajudado, receba um abraço do Mário Beja Santos

Anónimo disse...

No pintcha, ou melhor dizendo, o Arrecua?!...

Abraço,

António Graça de Abreu