quinta-feira, 4 de janeiro de 2024

Guiné 61/74 - P25033: Capas da Ilustração Portuguesa - Parte VII: outra foto fabulosa, intimista, do Joshua Benoliel, na partida do CEP para França: uma jovem mulher despede-se do marido (ou do pai ?), com a mãe ao lado, de xaile; olha-o, olhos nos olhos, e com a sua mão direita afaga o pescoço do militar, que era do RI 14 (Viseu)



Legenda: "À partida para França: uma despedida afectuosa". ("Cliché": Benoliel)


Capa da Ilustração Portuguesa, II Série, nº 582, Lisboa, 16 de abril de 1917. (Edição semanal do jornal "O Século"; editor lit.: José Joubert Chaves; nº avulso: 12 centavos.)

1. Mais outra foto (ou "cliché") intimista do Joshua Benoliel, fotojornalista (1873-1932), considerado o pai da reportagem fotográfica em Portugal. Esta é outra foto fabulosa: uma jovem mulher despede-se do marido (ou do pai ?), com a mãe (presumivelmente)  ao lado, de xaile, tapada dos pés à cabeça; olha-o, olhos nos olhos, e com a sua mão direita afaga o pescoço do militar, que era do RI 14 (Viseu); o gesto afectuoso, de ternura e de encorajamento,  é surpreendente por ser em lugar público, e as mulheres portugueses estarem ainda longe de ter protagonismo na vida (e na via) pública; nenhum fotógrafo fez fotos como estas do Benoliel na despedida dos soldados durante a guerra colonial, no cais da Rocha Conde de Óbidos;  não fez ou a censura estado-novista nunca terá deixado publicar.


Joshua Benoliel (segundo a Wikipédia):

(i) nasceu em Lisboa em 1873, no seio de uma família judia originária de Gibraltar;

(ii) fez a cobertura jornalística dos grandes acontecimentos da sua época: as viagens ao estrangeiro dos últimos dois reis portugueses; a revolução de 1910; as revoltas monárquicas durante a Primeira República; o CEP que partiu para França e combateu na Flandres durante a I Grande Guerra; a ditadura de Sidónio Pais...

(iii) as suas fotografias caracterizam-se pelo seu enfoque intimista e humanista

(iv) trabalhou para, entre outras publicações o jornal O Século, as revistas Illustração Portugueza, O Occidente (1878-1915), o Panorama (1837-1868):.

(v) em 1929, foi agraciado com o grau de Oficial da Ordem Militar de Sant'Iago da Espada;

(vi) morreu erm Lisboa em 1932. 

10 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

O Portugal de há mais de 100 anos, que os nossos filhos e netos irão dizer que era outro país...

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... «com a mão esquerda»?!
Na ilustração, é a mão direita!
Aliás: quando não há novas sobre a guerra "colonial da Guiné", inventam-se; não é dr Graça Henriques... ?
Enfim, haja paciência.
Cordiais cumprimentos, com votos de melhoras da saúde e um Ano Bom.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Mão direita, o seu a seu dono."Lapsus linguae". Já corrigi. Obrigado pelo reparo. LG

Anónimo disse...

Se calhar foi um que sucumbiu no fatídico 9 de Abril de 1918. Um dia, quando estava no MNE, recebi uma missiva através da nossa Embaixada em Bona que continha uma carta de um militar português, bem escrita, salvo erro, para a sua madrinha, carta que não chegou ao destino porque um soldado alemão, o tal que devolveu a carta, da qual se apossou no ataque de 9 de Abril. Enviei o documento, não recordo se tinha a data de 9 de Abril, é possível, para A Liga Portuguesa dos Combatentes da Grande Guerra. Tenho pena de não ter ficado com uma fotocópia.
Albertino Ferreira
Ex-combatente da Guiné

Valdemar Silva disse...

"...o gesto afectuoso, de ternura e de encorajamento, é surpreendente por ser em lugar público, e as mulheres portugueses estarem ainda longe de ter protagonismo na vida (e na via) pública; nenhum fotógrafo fez fotos como estas do Benoliel na despedida dos soldados durante a guerra colonial, no cais da Rocha Conde de Óbidos; não fez ou a censura estado-novista nunca terá deixado publicar."

Durante a guerra colonial, assim designada pelos nascidos antes da publicação do novo Estatuto do Indígena*, não podia ter publicidade. O regime salazarista proibiu que se rezasse à Nossa Senhora de Fátima para acabar com a guerra, só não consegui proibir às mães dos soldados de gritar em choro na despedida dos navios que levavam os filhos pra guerra em África.

Valdemar Queiroz

*Todos os soldados que estiveram na guerra nasceram antes do 'Estatuto do Indígena é o termo utilizado para definir os direitos, mas sobretudo os deveres, dos indígenas das colónias portuguesas, expressos em vários diplomas legais'.

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Há aqui há liberdade de expressão: cada um escreve como melhor souber lhe convier: guerra colonial, guerra do ultramar, guerra de África (por exemplo, como se escreve na Academia Militar, nos trabalhos feitos hoje pelos cadetes)...

Valdemar Silva disse...

Luís, absolutamente de acordo.
Até havia navios de transporte de tropas para a guerra da Guiné que pertenciam à Companhia Colonial de Navegação.
Todos nós sabemos que a descolonização depois da 2ª. Guerra Mundial e a pressão internacional levou Salazar a alterar o conceito «colónia» por «província ultramarina» na documentação do Estado Novo. De Império Português para Portugal Ultramarino foi uma habilidade para ser admitido na ONU. A sua recusa em discutir a situação colonial levou à invasão do Estado Português da Índia (1961), à guerra colonial (1961-1974) e ao isolamento internacional nos anos 60 e 70.
Por isso, dizer guerra colonial não pode eriçar seja quem for a não ser algum obediente salazarista de antes e depois do Estatuto de Indígena (Set.1961).

Valdemar Queiroz

João Carlos Abreu dos Santos disse...

... oh Zé Valdemar, caramba, mude de lentes e vá dar banh'ó cão!!!
Notoriamente, v. continua eriçado por manter um pedregulho na chinela esquerdola e p'los vistos anda à cata de ocasião para "amandar" palpites a esmo, invectivando 'ad hominem' supostos "obedientes salazaristas de antes e depois"...
Tenha termos.
«Há aqui há liberdade de expressão: cada um escreve como melhor souber» (Luís Graça 'dixit).

Joaquim Luis Fernandes disse...

Uma foto muito expressiva!...
A postura dos corpos... as expressões dos rostos... num não verbal que clama: amor, ternura, mas também coragem e determinação, enquanto a saudade e a esperança fazem o seu caminho.

Quantos de nós nos identificámos com estes sentimentos, e também sem palavras, em momentos que vivemos no adeus aos ente-queridos, a caminho da Guiné, ou quando, confrontados com o medo que alguns patrulhamentos e escoltas, onde tudo poderia acontecer, nos tirava o sono, e os pensamentos iam até onde as forças poderiam suportar.

Tive um tio avô e um avô que participara nesta guerra.
O tio avô, José Neto, 1º cabo, foi um sobrevivente na Batalha de La Lyz, 9 de abril de 1918. Morreu ainda jovem em sua casa na Pocariça, Maceira.

Contou-me a minha avó, Maria Rosalia, sua irmã, que num dia de matança do porco e enquanto ceavam à volta da lareira, ele, emocionado a contar sobre o que passou nessa batalha, cantou "A Marselhesa" . Ou porque se afogou com a comida ou porque o coração não aguentou, morreu.

O meu avô Carlos Fernandes, também foi um combatente em França, na região de Paris. Veio meio surdo, pelo efeito dos rebentamentos que suportou nas trincheiras. Na terra tinha a alcunha de "Napoleão", por conta de ter estado em França, na Guerra.

José Botelho Colaço disse...

O Joaquim Luís Fernandes sem se auto-elogiar faz um comentário de cinco estrelas, creio em que nós combatentes se revê-em. Abraço.