
EUA > NASA > 14 de abril de 1969 > A tripulação da missão Apollo 11, da esquerda para a direita: Neil A. Armstrong, comandante; Michael Collins, piloto do módulo de comando; e Edwin E. Aldrin Jr., piloto do módulo lunar. Foram os primeiros seres humanos a caminhar na superfície da lua. Em 20 de julho de 1969. Fonte: NASA Human Space Flight Gallery. Imagem do domínio público,. Cortesia de Wikimedia Commons.
Foto nº 1 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Contuboel > 1969 > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > 21 de julho de 1969 > "Efeméride: no dia que o homem chegou à Lua, eu descia o rio Geba (Bambadinca-Bissau, com passagem no célebre Mato Cão e depois na não menos temível Ponta Varela, a seguir ao Xime)... Era um barco fretado para levar material usado da tropa. Estivemos parados várias horas: primeiro por causa da maré, depois devido a avaria no motor do barco só resolvido (desenrascado) com uma peça sacada dum carro que seguia no barco para sucata. Viagem inesquecível, até ao fim da minha vida!" (*)
Foto nº 2 > Guiné > Zona Leste > Região de Bafatá > Contuboel > CART 2479 / CART 11 (1969/70) > 21 de julho de 1969, dia em que o homem chegou à lua... O Valdemar vai a caminho de Bissau, num barco civil, daqueles a que chamávamos, depreciativamente, "barco turra". (*)
Fotos (e legendas): © Valdemar Queiroz (2019). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís GRaça & Camaradas da Guiné]
A CHEGADA DO HOMEM À LUA E A ARTE DO DESENRASCANÇA DO 'TUGA'
por Valdemar Queiroz

− Estou a ver que sim. Talvez se desenrasque alguma peça naquela sucata.
Diálogo entre o mestre do barco e um soldado da metrópole, depois de estarmos parados há algum tempo e já noite dentro, no meio do rio Geba Estreito, antes de passarmos no Xime, apenas interrompido pela transmissão na rádio da chegada do homem à Lua.
− É um pequeno passo para o homem e um salto de gigante para a humanidade − disse o astronauta americano Neil Armstrong ao pisar o solo lunar.
Faz hoje 50 anos (*). Foi nas primeiras horas dia 21 de Julho de 1969,
Durante o dia 20, em Contuboel, completada a nossa CART 2479 (futura CART 11 e, mais tarde, CCAÇ 11), com os soldados africanos que tinham acabado a instrução, seguiu para Piche e eu fui destacado para ir a Bissau entregar material já usado, utilizado na instrução de recrutas africanos.
A viagem rio Geba abaixo, de Bambadinca a Bissau, foi feita num barco civil de carga/passageiros (vulgo ‘barco turra’) que rebocava, em comboio, mais dois barcos pequenos carregados de várias mercadorias, sacos de mancarra, automóveis sinistrados e passageiros civis e alguns militares em serviço, de regresso ‘à peluda’ ou de férias.
O barco parou com problemas no motor pouco tempo depois da saída de Bambadinca, na zona do Geba Estreito, parando ao cair da noite e antes de se passar no Xime.
Estávamos parados, já há horas, sem ninguém se aperceber do motivo, aproveitando para ouvir na rádio a pilhas a chegada do homem à Lua.
Alguns de nós não acreditavam no que ouviam, outros davam mais importância ao local em que nos encontrávamos sem saber se alguém nos fazia segurança em terra, apenas apercebendo-nos de estarmos próximo das margens, ao avistar uma luz brilhante no meio da mata e sem paciência para afugentar os mosquitos.
O nosso soldado lá conseguiu desenrascar uma peça, julgo que seria um parafuso, num dos carros sinistrados, e que, talvez por ter sido sacada dum Peugeot e o motor do barco ser de marca francesa, adaptou perfeitamente para pôr o motor a trabalhar, embora continuássemos parados, aguardando agora a maré favorável.
E lá seguimos viagem, com a luz brilhante na mata que aparecia e desaparecia cada vez mais longe (o serpentear do percurso do rio fazia com que se avistasse o mesmo local de distância diferente), entrando no Geba largo, já ao nascer do dia, e ainda faltando algum tempo de Bissau à vista, para o desembarque.
Não me recordo bem de ter ouvido alguém falar dos avanços da Ciência com a chegada do homem à Lua ou outra conversa sobre a atribulada viagem, mas hoje, passados 50 anos, posso gabar-me de ter ouvido a chegada do homem à Lua no meio da rio Geba, na Guiné, e presenciado um momento alto da extraordinária arte do "desenrasca" dos portugueses.
Inesquecível.
Valdemar Queiroz (**)
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Alguns de nós não acreditavam no que ouviam, outros davam mais importância ao local em que nos encontrávamos sem saber se alguém nos fazia segurança em terra, apenas apercebendo-nos de estarmos próximo das margens, ao avistar uma luz brilhante no meio da mata e sem paciência para afugentar os mosquitos.
O nosso soldado lá conseguiu desenrascar uma peça, julgo que seria um parafuso, num dos carros sinistrados, e que, talvez por ter sido sacada dum Peugeot e o motor do barco ser de marca francesa, adaptou perfeitamente para pôr o motor a trabalhar, embora continuássemos parados, aguardando agora a maré favorável.
E lá seguimos viagem, com a luz brilhante na mata que aparecia e desaparecia cada vez mais longe (o serpentear do percurso do rio fazia com que se avistasse o mesmo local de distância diferente), entrando no Geba largo, já ao nascer do dia, e ainda faltando algum tempo de Bissau à vista, para o desembarque.
Não me recordo bem de ter ouvido alguém falar dos avanços da Ciência com a chegada do homem à Lua ou outra conversa sobre a atribulada viagem, mas hoje, passados 50 anos, posso gabar-me de ter ouvido a chegada do homem à Lua no meio da rio Geba, na Guiné, e presenciado um momento alto da extraordinária arte do "desenrasca" dos portugueses.
Inesquecível.
Valdemar Queiroz (**)
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Nota sobre a CART 2479 / CART 11:
(i) a CART 2479 [tem mais de meia centena de referências no nosso blogue):
(ii) constituiu-se no RAL 5 em Penafiel, no ano de 1968, como subunidade do BART 2866, desmembrando-se desta unidade em fevereiro de 1969, e embarcando com destino à Guiné no dia 18, aonde chegou a 25 do mesmo mês;
(iii) o percurso operacional da CART 2479 na zona leste, foi longo, fixando a sua sede em Nova Lamego, no Quartel de Baixo em setembro de 1969;
(iii) passou por Contuboel, Bissau, Contuboel, Piche, Nova Lamego, Piche;
(iv) comandante: cap mil art Analido Aniceto Pinto (1/6/1934- 27/2/2014) (trabalhou na Galp Energia, foi colega do António Levezinho);
(v) foi extinta em 18 de janeiro de 1970, passando a companhia a designar-se CART 11 [, tem cerca de 8 dezenas de referências no nosso blogue];
(vi) em maio de 1972 a CART 11 (tem d. 120 referências no blogue) passou a designar-se CCAÇ 11 [tem cerca de 4 dezenas de referências].
(iii) o percurso operacional da CART 2479 na zona leste, foi longo, fixando a sua sede em Nova Lamego, no Quartel de Baixo em setembro de 1969;
(iii) passou por Contuboel, Bissau, Contuboel, Piche, Nova Lamego, Piche;
(iv) comandante: cap mil art Analido Aniceto Pinto (1/6/1934- 27/2/2014) (trabalhou na Galp Energia, foi colega do António Levezinho);
(v) foi extinta em 18 de janeiro de 1970, passando a companhia a designar-se CART 11 [, tem cerca de 8 dezenas de referências no nosso blogue];
(vi) em maio de 1972 a CART 11 (tem d. 120 referências no blogue) passou a designar-se CCAÇ 11 [tem cerca de 4 dezenas de referências].
(vii) de 12 de narço a 24 de maio de 1969, no CIMC - Centro de Instrução Militar de Contuboel fizeram a recruta os seus futuros soldados, do recruramento local, bem como os da CCAÇ 2590 / CCAÇ 12);
(viii) o juramento de bandeira realizou-se em Bissau em 26/4/1969, na presença do Com-chefe, o gen Spínola;
(ix) as duas futuras companhias faziam parte da chamada "nova força africana" que estava então em formação e era muito acarinhada por Spínola;
(ix) em 18 de julho de 1969, a CART 2479 / CCART 11 foi colocada em Nova Lamego e emPiche, e a CCAÇ 2590 / CCAÇ 12 em Bambadincam, finda a instrução de especialidade e a IAO - Instrução de Aperfeiçoamento Operacional (,dadas no CIMC).
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Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
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Notas do editor:
(*) Vd. postes de:
21 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19999: Efemérides (309): Há 50 anos o homem chegava à lua... e eu ia caminho de Bissau, num "barco turra" que parou, no Geba Estreito, com uma avaria...Valeu-nos o proverbial "desenrascanço tuga"... Viagem inesquecível até ao fim da minha vida! (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70)
(**) Último poste da série > 4 de março de 2025 > Guiné 61/74 - P26550: O melhor de ... Valdemar Queiroz (1945-2025) - Parte I: (i) na morte do Renato Monteiro (1946-2021); (ii) Guiro Iero Bocari, o meu epílogo da guerra
(**) Último poste da série > 9 de julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19961: Efemérides (308): Homenagem aos Combatentes da União de Freguesias de Perafita, Lavra e Santa Cruz do Bispo, do Concelho de Matosinhos, caídos em Campanha na Guerra do Ultramar
4 comentários:
Muitos de nós, andámos nos "barcos turras"... Eram embarcações civis que faziam serviço de cabotagem entre Bissau e Bambadinca, com passagem em dois pontos sensíveis, a Ponta Varela, antes do Xime, e o Mato Cão, antes de Bambadinca... Perguntávamos sempre ao "barqueiro", ao "patrão", se naquele mês tinha pago a quota ao Partido... Quantas vezes fui ao Mato Cão montar segurana aos "barcos turras"!
Estas embarcações deviam ser alugadas pela tropa, Intendência, Engenharia Militar... Sabemos pouco sobre isso... E sobre os seus donos.
E porquê "barco turra" ?
Há alguma "teoria" para explicar a "alcunha"?
Bolas, nunca ninguém mais andou num "barco turra" ?
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