1. Mensagem do nosso camarada Nelson Henriques Cerveira, ex-Fur Mil Enf.º da CCS/BCAV 8320/73, Bissorã e Bissau, 1974, com data de 23 de Maio de 2012:
Numa das descrições do seu blogue sobre saída dos últimos militares da
Guiné "os últimos militares portugueses a abandonar o território da
Guiné" feita por Luís Gonçalves Vaz, refere que o navio Niassa
navegava já à frente, na realidade navegava mais à frente por ainda
não ter chegado a águas territoriais da Guiné, pois vinha mais atrasado
que o navio Uíge, e como não tinha hipótese de chegar ao largo de
Bissau antes da meia-noite do dia 14/10/1974, data limite acordada
para o abandono dos militares portugueses da então Província da Guiné,
ficou à espera dos últimos militares ainda em pleno oceano Atlântico.
Estes últimos militares, dos quais fazia parte o meu Batalhão de Caçadores, embarcou no porto de Bissau, em LDG (lancha de desembarque
grande), vindos da Amura, poucos minutos antes da meia-noite e eram
perto das 6 horas da manhã do dia 15 quando passaram das lanchas de
desembarque para o Niassa, subindo por uma escada estreita colocada
encostada ao casco do navio, num local onde a ondulação era
pronunciada.
Passo de seguida a descrever esse embarque nas LDG. Eram cerca das 22
horas do dia 14, quando os militares formados no aquartelamento da
Amura se começaram a deslocar para o porto de Bissau. Logo à saída da
porta do aquartelamento encontrava-se uma segurança formada de cada
lado da estrada feita por militares do PAIGC e Fuzileiros Navais
Portugueses, espaçados cerca de 1 a 2 metros e alternando um militar
do PAIGC com um Fuzileiro Português, até ao cais onde se encontravam
as LDG. À medida que o último militar português da formatura ia
passando por um Fuzileiro este ia-se integrando no fim da formatura.
Tudo correu sem problemas e como já referi, os últimos militares a
entrarem na LDG fizeram-no poucos minutos antes da meia-noite, tendo
estes avançado, sem qualquer tipo de represália, nem tentativa, em
direção ao navio, que nos esperava como já disse em pleno oceano Atlântico.
Devo também referir, que não temíamos qualquer represália por parte
dos militares do PAIGC, mas sim por parte de alguns civis. Os
militares do PAIGC, pelo contrário, protegeram alguns militares
portugueses contra os civis, como aconteceu com alguns militares do
meu Batalhão nos últimos dias que estivemos em Bissau. Esses militares
foram vítimas de tentativa de agressão por parte da população civil
negra, valendo-lhe nessa altura os militares do PAIGC que mal
apareciam os civis fugiam de imediato temendo represálias por parte
desses militares.
O meu posto era Furriel Miliciano Enfermeiro, pertencia à CCS, dum Batalhão de Caçadores, que não me lembro o número, pois todas as
referências que tinha em relação à minha estadia na Guiné, e que eram
muitas, inclusive grande número de fotografias, perdi-as numa mudança
que fui obrigado a fazer de residência, numa altura que não me
encontrava no país. No entanto vou deixar alguns dados sobre o meu Batalhão e espero que alguns dos meus colegas leiam o seu blogue e me
possam indicar o número do Batalhão.
O meu Batalhão formou-se em Estremoz, nos primeiros meses do ano de
1974. Estávamos em Santa Margarida a tirar o IAO quando se deu o 25 de
Abril. No dia 24 de Abril foi-nos comunicado que tínhamos sido
desmobilizados, mas que tínhamos de entregar todo o armamento que nos
tinha sido distribuído até à meia-noite desse dia. Esta ordem ficou
sem efeito após o 25 de Abril e fomos para a Guiné, nos primeiros dias
de Junho de avião. O nosso Batalhão foi render um batalhão cuja CCS
estava estacionada em Bissorã, de onde saímos depois de fazer a
entrega ao PAIGC em fins de Agosto de 1974.
Agradeço a hipótese de colaborar no seu blogue e fico à espera de
respostas de companheiros meus desse Batalhão.
Muito atenciosamente
Nelson Henriques Cerveira
nelcerveira@gmail.com
2. No mesmo dia foi enviada a mensagem que se segue ao camarada Nelson
Caro camarada Nelson
Pelos elementos que forneces, poderás ter pertencido ao BCAV 8320/73 formado em Estremoz e não a um BCAÇ como referes.
1.º CMDT - Maj Cav Luís Manuel Lemos Alves
2.º CMDT - Cap Cav Nuno António Amaral Pais de Faria
OInfOp/Adj - Cap Cav João Luís Adrião de Castro Brito
CMDT da CCS - Cap SGE Sizenando Silva Lampreia
CMDT da 1.ª Comp - Cap Mil Grad José Feijão Leitão de Castro e Cap Art.ª Vítor Manuel Barata
CMDT da 2.ª Comp - Cap Mil Grad José Manuel Santos Jorge e Cap Inf.ª António dos Santos Vieira
CMDT da 3.ª Comp - Cap Mil Grad João Pedro Melo Martins Soares e Cap QEO Valdemar Nogueira dos Santos
Partidas:
Em 20JUN74 - CMD e CCS,
em 21JUN74 - 1.ª Companhia
em 22JUN74 - 2.ª Companhia
em 23JUN74 - 3.ª Companhia
Regresso em 14OUT74
Confirma-se que este Batalhão assumiu a responsabilidade do sector de Bissorã substituindo o BCAÇ 4610/72.
Se achares que estou correcto, mando-te cópias das folhas do livro que possuo, onde está a actividade resumida das diversas Companhias.
Recebe um abraço
Carlos Vinhal
3. No dia 24 recebemos resposta do camarada Nelson Cerveira
Caro Carlos Vinhal,
Tem toda a razão, só quero reteficar uma coisa. O Major Luís Manuel Lemos Alves, conseguiu ser desmobilizado pouco antes de termos partido por não haver espaço de tempo suficiente entre a sua última mobilização e esta, tendo assumido provisoriamente o Comando o Segundo Comandante Capitão Nuno António Amaral Pais de Faria, mas não chegou a ser nomeado novo Comandante, passando o Capitão a Comandante efetivo.
Agradeço a sua informação e fico a aguardar os documentos que refere.
Receba um abraço amigo
Nelson Cerveira
4. Comentário de CV:
Analisando os dados fornecido pelo nosso camarada Nelson e consultando a Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África, concluímos que este Batalhão tinha como 1.º Comandante um Major quando o usual era o cargo ser ocupado por um Tenente Coronel. Pasme-se que por impossibilidade de o Major Lemos Alves ocupar o lugar de 1.º CMDT, foi substituído pelo Capitão Pais de Faria. Competências à parte, tivemos pois um Capitão a comandar um Batalhão. Terá sido porque a guerra estava em fase terminal? Já não havia Tenentes Coronéis e Majores disponíveis para dotar as Unidades mobilizadas?
Outra coisa que não se percebe nas afirmações do nosso camarada, a não haver confusão nas datas, é o facto de o Batalhão ter sido desmobilizado no dia 24 de Abril de 1974. Premonição? E por que foi "reactivado" no dia da Revolução?
Poderá o nosso camarada explicar?
Caro camarada Cerveira, convido-te em nome da tertúlia a fazeres parte da família do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné onde há sempre lugar para quem quiser contribuir para a memória futura da história da guerra colonial, e da Guiné em particular. Viveste não o período da guerra declarada, mas meses de tensão e de indefinição, e a fazer fé no que dizes, de alguma hostilidade da população de Bissau para com a tropa portuguesa.
Manda-nos uma foto actual e outra do teu tempo de Guiné e considera a tua mensagem de 23 de Maio como o início da tua colaboração, narrando as tuas experiências e aquilo que viste e sentiste em Bissorã e Bissau, até àquela inesquecível noite de embarque no Niassa.
Recebe um abraço do camarada
Carlos Vinhal
____________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 13 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9894: O Nosso Livro de Visitas (136): António Martins Alves, Regimento de Cavalaria 8 - Castelo Branco, 1967/70
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 29 de maio de 2012
Guiné 63/74 - P9961: Efemérides (96): Guidaje foi há 39 anos: a coluna que rompeu o cerco, em 10 de maio de 1973 (Amílcar Mendes, ex-1º Cabo Cmd, 38ª CCmds, 1972/74)
02 Novembro 2005
Guiné 63/74 - CCLXV: Apresenta-se o 1º Cabo Comando Mendes (38ª CCmds, 1972/74)
Vou-vos falar um pouco de mim. Assentei praça no longínquo ano de 1971 no antigo RAL 1, em Outubro. Ofereci-me para os Comandos onde cheguei em Dezembro de 1971 (CIOE/ Lamego). Completei o curso em Junho de 1972, mês a que cheguei à Guiné, a 26. Iniciei a 2ª parte do curso em Mansoa, na mata do Morés, onde tive o primeiro contacto com o IN. Recebi o crachá de Comando em Agosto, com o posto de 1º cabo.
Em Fevereiro de 1974 terminei a comissão mas só regressei a Portugal em Julho de 1974. As histórias pelo meio ficam para outra altura, e tambem as fotos, neste momento tenho o scanner fora de serviço.
Se quiserem saber mais alguma coisa é só perguntarem.
Um grande abraço para todos os ex-combatentes, em especial os Comandos.
Só mais um pormenor, a minha companhia foi a 38ª Companhia de Comandos, os Leopardos.A. Mendes
1. Amílcar Mendes é um dos nossos mais antigos
grã-tabanqueiros. Publica-se acima uma cópia do poste de 2 de novembro de 2005 em que ele se apresentou ao pessoal do blogue, que na altura ainda só eram umas escassas dezenas de "tertulianos", como então chamávamos aos membros da nossa "tertúlia", hoje Tabanca Grande.
O ex-1º Cabo Comando, depois de ter estado na 38ª CCmds (Guiné, 1972/74), ficou no Regimento de Comandos da Amadora até 1980, dando instrução. Hoje tem um táxi na Praça de Lisboa. Há tempos confidenciou-nos: "Enquanto estive na Guiné fui escrevendo uma espécie de diário que, com muito gosto, irei aqui partilhar com toda a tertúlia, porque sei que muito do que escrevi apenas fará sentido para aqueles que trilharam os mesmos caminhos nesses longínquos, difíceis e já saudosos anos".
São o seu caderno de notas e as memória ainda bem vivas da sua atividade operacional no TO da Guiné que lhe permitem falar com autoridade da coluna que "rompeu" o cerco a Guidaje, em 10 de maio de 1973. Há questões de pormenor que ele pode ainda esclarecer, com a ajuda de outros camaradas "que estavam lá"... Por exemplo, no portal da Liga dos Combatentes não há registo de mortos, em combate, no dia 11 de maio de 1973, por que ao que parece o PAIGC estava também ocupado em tratar dos seus mortos e feridos (,segundo a versão de Moura Calheiros). Por outro lado, os cadáveres em decomposição na zona do Cufeu (o A. Mendes diz que contou 15 quando lá passou em 10 de maio de 1973, a caminho de Guidaje) (*) tanto seriam das NT como do PAIGC (, já que a zona fora bombardeada antes pela FAP, possivelmente a 8).
Por outro lado, confirma-se que os 2 gr comb da valorosa 38ª CCmds regressaram a Mansoa, ao CAOP 1, não a 13, ao fim da tarde.
Sobre esta coluna, vd. o que o Moura Calheiros escreveu no seu livro, A Última Missão, pp. 444/445; este autor diz que esta coluna, com 8 grupos de combate - incluindo os 2 da 38ª CCmds - partiu de Binta a 10, de madrugada; o mesmo diz o José Manuel Pechorro e a história da 38ª CCmds; o Amílcar também já me confirmar a data, que é 10 e não 11, como aparece por lapso nos postes de outubro de 2006. A 12, morrem o Raimundo e o Viegas morrem a 12...).
De resto, só com a triangulação de fontes e uma aprofundada pesquisa de arquivo podemos esclarecer pontos sobre os quais pode haver pequenas divergências factuais (por ex, nº e data das colunas; nº total de baixas, mortos e feridos; forças que integraram as escoltas às diversas colunas). O objetivo da publicação destes postes sobre os 39 anos da batalha de Guidaje (uma das mais duras da toda a história da guerra colonial nos três teatros de operações) é também a de suscitar o aparecimento de novos depoimentos, de colmatar lacunas de informação e de sobretudo de homenagear os vivos e os mortos, todos os nossos camaradas que deram melhor de si (algumas dezenas, a sua própria vida) no "inferno de Guidaje".
Juntamos aqui os 4 postes do A. Mendes sobre o "inferno de Guidaje" (*), publicados em outubro de 2006. Foram feitas correções de datas.
38ª CCmds (1972/74) > História da unidade > Excertos (documento disponibilizado pelo Amílcar Mendes)
A CAMINHO DE GUIDAJE
por Amílcar Mendes
Resumo:
9 de Maio de 1973 > O 2º e o 4º grupos [da 38ª Cmds] vão hoje fazer uma escolta a uma coluna de Mansoa para Farim.
13 de Maio de 1973 > Regressei hoje a Mansoa. Cinco dias fora. Meu Deus, foram os piores dias da minha vida. Irei tentar descrever tudo o que passei. Os horrores da guerra! Nunca pensei que fosse possível acontecer o que vi. Terrível de mais para ser verdade.
9 de Maio de 1973
Saímos de Mansoa [, sede do CAOP1,] com destino a Farim, com uma coluna que leva abastecimentos para a fronteira. Íamos só com a missão de chegar a Farim e voltar. Passámos a noite em Farim, mas fala-se já que não iremos voltar. A coluna que viemos acompanhar, destina-se a Guidaje.
Guidaje, onde nenhuma coluna consegue chegar. Fala-se aqui que da útima coluna que tentou passar: ficaram pelo caminho mais de 20 mortos. Guidaje onde a situação é caótica, onde a aviação já não dá cobertura.
Em Farim assisti à chegada do que restou da última coluna que tentou passar. Vi militares chegarem a pé, sozinhos, completamente aterrados com o que passaram.
Continuamos em Farim e com a chegada da noite ficamos a saber que somos nós quem vai seguir com a coluna para Guidaje.
10 de Maio de 1973
Saímos de madrugada de Farim com destino a Guidaje. Primeiro a Binta, onde os picadores se irão juntar aos nossos grupos. Daí entramos na maldita da picada. Os picadores seguem na frente.
Nota-se na picada o efeito das minas, autênticas crateras. Serão 16 km de picada até Guidaje. Um pelotão de Binta irá conosco até meio do percurso, depois iremos sós. Na frente os picadores lá vão detectando e rebentando minas, a cada hora apenas andamos para aí 2 km. Sabemos que de Guidaje saiu a CCAÇ 19, africana, para vir ao nosso encontro.
Passar na bolanha do Cufeu é impossível descrever o que encontramos sem sentir um aperto na alma: dezenas de viaturas trucidadas pelas minas. Os cadáveres pelo chão são festim para os abutres. É uma loucura. Pedaços das viaturas projetadas a ezenas de metros pela acção das minas. Estrada cheia de abatizes. Tentamos não olhar. Nunca vi tanto morto, nossos e do IN, deixados para trás ao longo da picada.
A coluna, à saída da bolanha do Cufeu, pára. Ouve-se ao longe tiros e rebentamentos. A companhia que vinha ao nosso encontro [, a CCAÇ 19,], caiu numa emboscada na ponte. Pelo rádio ouvimos o oficial que comanda a companhia emboscada pedir apoio aéreo, porque o IN é em muito maior número e ele diz que está a ser dizimado. Chegam dois Fiats e tentam dar cobertura à companhia emboscada mas dizem que é impossível porque o IN esta demasiado próximo.
Ouço então o apelo mais dramático, ouvido em toda a minha vida: Pela rádio o oficial que comandava a companhia emboscada apela à aviação:
- BOMBARDEIEM TUDO! A NÓS, INCLUINDO! A SITUAÇÃO É DESESPERADA! ESTAMOS A SER TODOS MORTOS, POIS OS GAJOS SÃO EM NÚMERO MUITO SUPERIOR!
A aviação nega-se a cumprir o apelo. Nós estamos a cerca de 3 km da emboscada. Nem pensar em lá chegar para ajudar. Demasiado longe num local cheio de minas e outros obstáculos. Os Fiats sobrevoam-nos e avisam-nos de que o IN está próximo. Faz isso para evitar ser bombardeado.
Continuamos a caminho de Guidaje. Quem ainda seguia nas viaturas salta para o chão. Ouve-se um rebentamento! Foi uma mina! O 1º cabo Filipe ao saltar pisou uma mina! Ficou logo ali sem um pé! Recebe os primeiros cuidados na picada e é posto numa viatura.
Seguimos, seguimos a um ritmo alucinante para chegar antes da noite.
Mais um morto na picada. Pisou uma mina. Ficou irreconhecível, metade do tamanho. É enrolado num poncho, posto no estrado de uma viatura. E continuamos (Esse morto mais tarde iria ser sepultado em Guidaje onde ficou).
Uma viatura pisa uma mina mas só ficou sem o rodado e continua assim mesmo.
Chegamos ao local da emboscada da CCAÇ 19 (**). Só encontramos mortos. Mortos e mais mortos. Nossos e do IN. Ficam para trás. E ali irão ficar para sempre. Já andámos há cerca de 10h na picada e Guidage já não está longe.
Já com Guidaje à vista subimos para as viaturas e eu sigo naquela só com três rodados, e onde segue o morto.
Chegamos a Guidaje! É a primeira coluna a chegar de há três semanas a este tempo. A população vem receber-nos com gritos de alegria, dá-nos água, trata-nos com carinho, sentem que o isolamento acabou.
Assim que entramos no destacamento, somos brindados com um ataque de morteirada. Com a noite vamos para as valas, que é onde se vive em Guidaje! O Filipe está num abrigo a soro, fui vê-lo e ele delirava a chamar pela família.
Durante a noite iremos sofrer mais 4 ataques e um deles será mortal.
Chega a noite. Mais um ataque. Desta vez e canhão sem recuo e morteirada. O IN sabe que esta uma Companhia de Comandos na vala e vai tentar a todo o custo causar-nos baixas, o que infelizmente vai conseguir. Nas valas, em estado de alerta, é impossível dormir. De bom em Guidaje só o facto de não haver mosquitos.
[No dia 11 de Maio de 1973, não há registo de mortos no portal da Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar. ]
12 de Maio de 1973
Cerca das três horas da manhã rebenta um violento ataque ao destacamento que é de meter medo. O IN deve ter as coordenadas das valas pois o fogo acerta todo dentro das valas. O barulho rebenta com os ouvidos. Dura cerca de 30 m. São centenas de projécteis. É de dar em doido!
A nossa artilharia [, Pel Art 24, de Guidaje] (**) responde ao fogo e lá se consegue parar o ataque. Terminado o ataque vamos fazer a contagem e duas vozes não respondem. Um, o Soldado Comando Raimundo, meu camarada de grupo, um moço da [Azambuja], a quem nunca mais ouvirei a sua voz; outro, um soldado condutor [, o Viegas, do CAOP 1] que tinha vindo connosco. Ficaram os dois desfeitos na vala com morteirada 120 mm.
Ainda durante a noite iremos sofrer novo ataque mas mais ligeiro. Com a chegada da manhã os rostos de tristeza vão-se descobrindo mas é preciso reagir. Com um ano de guerra, o factor morte já não nos afecta assim tanto, já aprendemos a conviver com ela de perto, só temos de arranjar maneira de a ir iludindo.
Recebemos ordens para sair para a mata. Vem outra coluna a caminho, escoltada pelo Fuzos [ 1 gr comb da DFE 1 e um gr comb do DFE 4, comandados pelo 1º ten Meireles de Amorim, mais um gr comb da CCAÇ 3,] e nós vamos ao seu encontro para lhes dar apoio até Guidaje.
Antes de sair, fui ao abrigo-enfermaria (?) ver o Filipe: continua inconsciente, a perna começa a gangrenar e tem que ser evacuado com urgência, mas isso está fora de questão pois os misseis Strela estão à espreita da nossa aviação.
Fomos ao encontro da coluna e, assim que chegamos ao destacamento, novo ataque. Pelas minhas contas tera sido o 6º. Com a noite voltamos para as valas.
O estado psicológico era tal que quando no silêncio se ouvia um barulho de alguma coisa a bater corríamos logo para a vala. No ataque à chegada dos fuzileiros, o furriel Marchão do meu grupo ficou crivado de estilhaços mas sobreviveu.
Amanhece em Guidaje. Logo ao alvorecer sofremos mais um ataque (o 8º). Recebemos ordem de saída para a mata. Vamos montar uma emboscada nos trilhos, já dentro do território do Senegal. Parece uma auto-estrada este trilho tal é o movimento de população. Revistamos ao acaso. Numa mulher encontramos documentação militar que apreendemos. Depois de cerca de três horas de controlo, retiramo-nos para o quartel.
A coluna vai hoje [, 13,] regressar a Binta-Farim. Ao meio do dia mais um ataque ao destacamento. A meio da tarde começa-se a organizar a coluna para o regresso mas durante os preparativos sofremos mais dois ataques e é a confusão, com as viaturas paradas no meio do destacamento e a morteirada a cair.
Assisti durante os ataques a um espectáculo insólito: enquanto durava o fogo, um oficial, nesta caso o Comandante, caminhava sereno pelo meio da confusão dando ordens e tentando manter a calma, alheio aos ataques e aos gritos. Esse senhor era o [Tenente-] Coronel Correia de Campos, que comandava o COP 3, ao qual a minha companhia ficou dependente enquanto esteve em Guidaje.
O Comandante achou perigoso a coluna seguir nesse dia [, 12,] pois fazia-se noite e concerteza o IN iria estar emboscado à nossa espera. Durante a noite sofremos mais ataques. Creio que no total e no curto tempo que aqui estivemos, sofremos pelo menos 15 ataques ao destacamento.
13 de maio de 1973
Logo ao alvorecer [, pelas 6h00,] a coluna põe-se a caminho. Fazemos a picada de volta e à medida que avançamos, voltamos a passar pelos cenários de morte. Os corpos estão a caminho de esqueletos, devorados pelos jagudis. O cheiro é insuportável, por vezes dá náuseas. Acho que pelo resto da minha vida nunca mais vou esquecer este local maldito!
Ao fim da manhã já estamos a chegar a Binta quando surge mais um acidente: um militar da tropa da Província pisa uma mina, dá por ela e fica com o pé lá em cima... É uma mina de descompressão e poucas hipóteses tem de lá sair com vida.
Põe-se areia a volta. Cobre-se o corpo de roupa mas ele salta rápido. Não morre mas fica sem o pé. Durante a minha viajem de regresso na Berliet que seguia à minha frente, ia o Filipe com a perna já em adiantado estado de gangrena. Irá sobreviver. Somos amigos, ele vive no Porto e ainda hoje recordamos esse tempo, o que nos dá vontade de chorar!
Chegamos a Binta e o Filipe é logo evacuado! A coluna não pára. Seguimos para Farim e daí logo em direção a Mansoa.
É a alegria geral! Que saudades da rapaziada! Chegamos a casa!...
- FORAM OS PIORES DIAS DA MINHA VIDA!- Pensava eu.
A malta faz perguntas mas a nós não nos apetecia responder, só para não voltarmos a pensar naquele inferno. Ao diabo com Guidaje!~(Como eu estava enganado, mas ainda não o sabia!). [O Amílcar Mendes voltará lá em 29 de maio, na escolta a uma outra coluna logística].
Comentário: Ainda hoje sonho com Guidaje! Algumas coisas do que aconteceram foram tão reais que iriam ficar gravadas na minha memória até chegar ao STRESS!
Sentir na carne não é o mesmo que me sentar a escrever sobre um acontecimento. Isso é ficção e, pelo que vou lendo, há muitos ficcionistas que se arvoram em paladinos da verdade. Paz à sua alma!... (**)
A. Mendes
Texto e fotos: © Amilcar Mendes (2006). / Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
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Notas do editor:
(*) Vd. este e os postes anexos a este > 4 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2719: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (Amílcar Mendes)
(**) Segundo informação do nosso camarada José Manuel Pechorro, o pessoal da CCAÇ 19, do recrutamento local, era de etnia mandinga. O Pel Art 24, por sua vez, era constituído sobretudo por pessoal balanta.
Do José Manuel Pechorro, vd. também os seguintes postes:
19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)
21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro)
16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5479: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - Agradecimento e algumas informações (José Manuel Pechorro)
4 de Abril de 2010 Guiné 63/74 - P6105: (Ex)citações (63): O Ten Cor Correia de Campos foi um dos heróis de Guidaje (José Manuel Pechorro)
(***) Último poste da série > 28 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9954: Efemérides (61): Guidaje foi há 39 anos: Operação "Mamute Doido" (2): Desenrolar da emboscada na zona do Cufeu (António Dâmaso)
13 de Maio de 1973 > Regressei hoje a Mansoa. Cinco dias fora. Meu Deus, foram os piores dias da minha vida. Irei tentar descrever tudo o que passei. Os horrores da guerra! Nunca pensei que fosse possível acontecer o que vi. Terrível de mais para ser verdade.
9 de Maio de 1973
Saímos de Mansoa [, sede do CAOP1,] com destino a Farim, com uma coluna que leva abastecimentos para a fronteira. Íamos só com a missão de chegar a Farim e voltar. Passámos a noite em Farim, mas fala-se já que não iremos voltar. A coluna que viemos acompanhar, destina-se a Guidaje.
Guidaje, onde nenhuma coluna consegue chegar. Fala-se aqui que da útima coluna que tentou passar: ficaram pelo caminho mais de 20 mortos. Guidaje onde a situação é caótica, onde a aviação já não dá cobertura.
Em Farim assisti à chegada do que restou da última coluna que tentou passar. Vi militares chegarem a pé, sozinhos, completamente aterrados com o que passaram.
Continuamos em Farim e com a chegada da noite ficamos a saber que somos nós quem vai seguir com a coluna para Guidaje.
pelido | Nome | Posto | Ramo | Teatro de operações | Data | Motivo |
GERALDES | MANUEL MARIA RODRIGUES GERALDES | Sold | Exército | Guiné | 10/05/1973 | Combate |
MANÉ | ABDULAI MANÉ | 1Cab | Exército | Guiné | 10/05/1973 | Combate |
REDONDO | ANTÓNIO JÚLIO CARVALHO REDONDO | Sold | Exército | Guiné | 10/05/1973 | Combate |
SADJÓ | SADJÓ SADJÓ | Sold | Exército | Guiné | 10/05/1973 | Combate |
SANHÁ | MAMADU LAMINE SANHÁ | Sold | Exército | Guiné | 10/05/1973 | Combate |
TURÉ | JANCON TURÉ | Sold | Exército | Guiné | 10/05/1973 | Combate |
Apelido | Nome | Posto | Ramo | Teatro de operações | Data | Motivo |
Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar
10 de Maio de 1973
Saímos de madrugada de Farim com destino a Guidaje. Primeiro a Binta, onde os picadores se irão juntar aos nossos grupos. Daí entramos na maldita da picada. Os picadores seguem na frente.
Nota-se na picada o efeito das minas, autênticas crateras. Serão 16 km de picada até Guidaje. Um pelotão de Binta irá conosco até meio do percurso, depois iremos sós. Na frente os picadores lá vão detectando e rebentando minas, a cada hora apenas andamos para aí 2 km. Sabemos que de Guidaje saiu a CCAÇ 19, africana, para vir ao nosso encontro.
Passar na bolanha do Cufeu é impossível descrever o que encontramos sem sentir um aperto na alma: dezenas de viaturas trucidadas pelas minas. Os cadáveres pelo chão são festim para os abutres. É uma loucura. Pedaços das viaturas projetadas a ezenas de metros pela acção das minas. Estrada cheia de abatizes. Tentamos não olhar. Nunca vi tanto morto, nossos e do IN, deixados para trás ao longo da picada.
A coluna, à saída da bolanha do Cufeu, pára. Ouve-se ao longe tiros e rebentamentos. A companhia que vinha ao nosso encontro [, a CCAÇ 19,], caiu numa emboscada na ponte. Pelo rádio ouvimos o oficial que comanda a companhia emboscada pedir apoio aéreo, porque o IN é em muito maior número e ele diz que está a ser dizimado. Chegam dois Fiats e tentam dar cobertura à companhia emboscada mas dizem que é impossível porque o IN esta demasiado próximo.
Ouço então o apelo mais dramático, ouvido em toda a minha vida: Pela rádio o oficial que comandava a companhia emboscada apela à aviação:
- BOMBARDEIEM TUDO! A NÓS, INCLUINDO! A SITUAÇÃO É DESESPERADA! ESTAMOS A SER TODOS MORTOS, POIS OS GAJOS SÃO EM NÚMERO MUITO SUPERIOR!
A aviação nega-se a cumprir o apelo. Nós estamos a cerca de 3 km da emboscada. Nem pensar em lá chegar para ajudar. Demasiado longe num local cheio de minas e outros obstáculos. Os Fiats sobrevoam-nos e avisam-nos de que o IN está próximo. Faz isso para evitar ser bombardeado.
Seguimos, seguimos a um ritmo alucinante para chegar antes da noite.
Mais um morto na picada. Pisou uma mina. Ficou irreconhecível, metade do tamanho. É enrolado num poncho, posto no estrado de uma viatura. E continuamos (Esse morto mais tarde iria ser sepultado em Guidaje onde ficou).
Uma viatura pisa uma mina mas só ficou sem o rodado e continua assim mesmo.
Chegamos ao local da emboscada da CCAÇ 19 (**). Só encontramos mortos. Mortos e mais mortos. Nossos e do IN. Ficam para trás. E ali irão ficar para sempre. Já andámos há cerca de 10h na picada e Guidage já não está longe.
Já com Guidaje à vista subimos para as viaturas e eu sigo naquela só com três rodados, e onde segue o morto.
Chegamos a Guidaje! É a primeira coluna a chegar de há três semanas a este tempo. A população vem receber-nos com gritos de alegria, dá-nos água, trata-nos com carinho, sentem que o isolamento acabou.
Assim que entramos no destacamento, somos brindados com um ataque de morteirada. Com a noite vamos para as valas, que é onde se vive em Guidaje! O Filipe está num abrigo a soro, fui vê-lo e ele delirava a chamar pela família.
Durante a noite iremos sofrer mais 4 ataques e um deles será mortal.
Chega a noite. Mais um ataque. Desta vez e canhão sem recuo e morteirada. O IN sabe que esta uma Companhia de Comandos na vala e vai tentar a todo o custo causar-nos baixas, o que infelizmente vai conseguir. Nas valas, em estado de alerta, é impossível dormir. De bom em Guidaje só o facto de não haver mosquitos.
[No dia 11 de Maio de 1973, não há registo de mortos no portal da Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar. ]
12 de Maio de 1973
Cerca das três horas da manhã rebenta um violento ataque ao destacamento que é de meter medo. O IN deve ter as coordenadas das valas pois o fogo acerta todo dentro das valas. O barulho rebenta com os ouvidos. Dura cerca de 30 m. São centenas de projécteis. É de dar em doido!
A nossa artilharia [, Pel Art 24, de Guidaje] (**) responde ao fogo e lá se consegue parar o ataque. Terminado o ataque vamos fazer a contagem e duas vozes não respondem. Um, o Soldado Comando Raimundo, meu camarada de grupo, um moço da [Azambuja], a quem nunca mais ouvirei a sua voz; outro, um soldado condutor [, o Viegas, do CAOP 1] que tinha vindo connosco. Ficaram os dois desfeitos na vala com morteirada 120 mm.
Apelido | Nome | Posto | Ramo | Teatro de operações | Data | Motivo |
RAIMUNDO | JOSÉ LUIS INÁCIO RAIMUNDO | Sold | Exército | Guiné | 12/05/1973 | Combate |
VIEGAS | DAVID FERREIRA VIEGAS | Sold | Exército | Guiné | 12/05/1973 | Combate |
Apelido | Nome | Posto | Ramo | Teatro de operações | Data | Motivo |
Fonte: Liga dos Combatentes > Mortos no Ultramar
Ainda durante a noite iremos sofrer novo ataque mas mais ligeiro. Com a chegada da manhã os rostos de tristeza vão-se descobrindo mas é preciso reagir. Com um ano de guerra, o factor morte já não nos afecta assim tanto, já aprendemos a conviver com ela de perto, só temos de arranjar maneira de a ir iludindo.
Recebemos ordens para sair para a mata. Vem outra coluna a caminho, escoltada pelo Fuzos [ 1 gr comb da DFE 1 e um gr comb do DFE 4, comandados pelo 1º ten Meireles de Amorim, mais um gr comb da CCAÇ 3,] e nós vamos ao seu encontro para lhes dar apoio até Guidaje.
Antes de sair, fui ao abrigo-enfermaria (?) ver o Filipe: continua inconsciente, a perna começa a gangrenar e tem que ser evacuado com urgência, mas isso está fora de questão pois os misseis Strela estão à espreita da nossa aviação.
Fomos ao encontro da coluna e, assim que chegamos ao destacamento, novo ataque. Pelas minhas contas tera sido o 6º. Com a noite voltamos para as valas.
O estado psicológico era tal que quando no silêncio se ouvia um barulho de alguma coisa a bater corríamos logo para a vala. No ataque à chegada dos fuzileiros, o furriel Marchão do meu grupo ficou crivado de estilhaços mas sobreviveu.
Amanhece em Guidaje. Logo ao alvorecer sofremos mais um ataque (o 8º). Recebemos ordem de saída para a mata. Vamos montar uma emboscada nos trilhos, já dentro do território do Senegal. Parece uma auto-estrada este trilho tal é o movimento de população. Revistamos ao acaso. Numa mulher encontramos documentação militar que apreendemos. Depois de cerca de três horas de controlo, retiramo-nos para o quartel.
A coluna vai hoje [, 13,] regressar a Binta-Farim. Ao meio do dia mais um ataque ao destacamento. A meio da tarde começa-se a organizar a coluna para o regresso mas durante os preparativos sofremos mais dois ataques e é a confusão, com as viaturas paradas no meio do destacamento e a morteirada a cair.
Assisti durante os ataques a um espectáculo insólito: enquanto durava o fogo, um oficial, nesta caso o Comandante, caminhava sereno pelo meio da confusão dando ordens e tentando manter a calma, alheio aos ataques e aos gritos. Esse senhor era o [Tenente-] Coronel Correia de Campos, que comandava o COP 3, ao qual a minha companhia ficou dependente enquanto esteve em Guidaje.
O Comandante achou perigoso a coluna seguir nesse dia [, 12,] pois fazia-se noite e concerteza o IN iria estar emboscado à nossa espera. Durante a noite sofremos mais ataques. Creio que no total e no curto tempo que aqui estivemos, sofremos pelo menos 15 ataques ao destacamento.
13 de maio de 1973
Logo ao alvorecer [, pelas 6h00,] a coluna põe-se a caminho. Fazemos a picada de volta e à medida que avançamos, voltamos a passar pelos cenários de morte. Os corpos estão a caminho de esqueletos, devorados pelos jagudis. O cheiro é insuportável, por vezes dá náuseas. Acho que pelo resto da minha vida nunca mais vou esquecer este local maldito!
Ao fim da manhã já estamos a chegar a Binta quando surge mais um acidente: um militar da tropa da Província pisa uma mina, dá por ela e fica com o pé lá em cima... É uma mina de descompressão e poucas hipóteses tem de lá sair com vida.
Põe-se areia a volta. Cobre-se o corpo de roupa mas ele salta rápido. Não morre mas fica sem o pé. Durante a minha viajem de regresso na Berliet que seguia à minha frente, ia o Filipe com a perna já em adiantado estado de gangrena. Irá sobreviver. Somos amigos, ele vive no Porto e ainda hoje recordamos esse tempo, o que nos dá vontade de chorar!
Chegamos a Binta e o Filipe é logo evacuado! A coluna não pára. Seguimos para Farim e daí logo em direção a Mansoa.
É a alegria geral! Que saudades da rapaziada! Chegamos a casa!...
- FORAM OS PIORES DIAS DA MINHA VIDA!- Pensava eu.
A malta faz perguntas mas a nós não nos apetecia responder, só para não voltarmos a pensar naquele inferno. Ao diabo com Guidaje!~(Como eu estava enganado, mas ainda não o sabia!). [O Amílcar Mendes voltará lá em 29 de maio, na escolta a uma outra coluna logística].
Comentário: Ainda hoje sonho com Guidaje! Algumas coisas do que aconteceram foram tão reais que iriam ficar gravadas na minha memória até chegar ao STRESS!
Sentir na carne não é o mesmo que me sentar a escrever sobre um acontecimento. Isso é ficção e, pelo que vou lendo, há muitos ficcionistas que se arvoram em paladinos da verdade. Paz à sua alma!... (**)
A. Mendes
Texto e fotos: © Amilcar Mendes (2006). / Blogue Luis Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados.
_________________
Notas do editor:
(*) Vd. este e os postes anexos a este > 4 de abril de 2008 > Guiné 63/74 - P2719: Guidaje, Maio de 1973: Só na bolanha de Cufeu, contámos 15 cadáveres de camaradas nossos (Amílcar Mendes)
(**) Segundo informação do nosso camarada José Manuel Pechorro, o pessoal da CCAÇ 19, do recrutamento local, era de etnia mandinga. O Pel Art 24, por sua vez, era constituído sobretudo por pessoal balanta.
Do José Manuel Pechorro, vd. também os seguintes postes:
19 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5300: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - I Parte (José Manuel Pechorrro)
21 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5310: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - II Parte (José Manuel Pechorrro)
16 de Dezembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5479: O assédio do IN a Guidaje (de Abril a 9 de Maio de 1973) - Agradecimento e algumas informações (José Manuel Pechorro)
4 de Abril de 2010 Guiné 63/74 - P6105: (Ex)citações (63): O Ten Cor Correia de Campos foi um dos heróis de Guidaje (José Manuel Pechorro)
(***) Último poste da série > 28 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9954: Efemérides (61): Guidaje foi há 39 anos: Operação "Mamute Doido" (2): Desenrolar da emboscada na zona do Cufeu (António Dâmaso)
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Guiné 63/74 - P9960: (Ex)citações (179): A actuação da FAP em Guidaje (José Manuel Pechorro)
1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Pechorro* (ex- 1.º Cabo Op Cripto da CCAÇ 19, Guidaje, 1971/73) com data de 29 de Abril de 2012:
Olá, uma boa tarde a todos,
Olá, uma boa tarde a todos,
Acabo de ler o poste P9823 referente à mensagem do amigo Carlos Jorge Marques Pereira, Ex-Fur Mil IOI / COP 3, Bigene / Guidage 72-74, conhecido entre o pessoal de Transmissões de Guidaje e Cop 3 por “Lobo”. Assim como li o poste P9751: FAP na guerra da Guiné, do também amigo António Martins de Matos (ex-Ten Pilav, BA 12, Bissalanca, 1972/74, actualmente Ten Gen Ref).
O ex-Ten Pilav António Martins de Matos participou no desenrolar do assédio do PAIGC a Guidaje, alargando eu ao período de 6 de Abril a 29 de Maio de 1973. Não digo que esteve presente em todas as idas da FAP à zona operacional, não disponho de dados que o confirme…
Foto aérea, de SW, de Guidaje - 1971 numa altura em que o reordenamento já estava pronto. À direita, em primeiro plano, a Tabanca Nova. Para lá da pista de aviação é a bolanha e a parte acastanhada clara, é terreno a subir, do Senegal.
Foto gentilmente cedida por Cap. Carlos Ricardo - CMDT da CCAÇ 3 ao Blogue SPM0018, de JMF Dias Fur Mil SAM - Guidage / Binta). Com a devida vénia.
Guidaje, Junho de 1972 > Eu, 1.º Cabo Op. Cripto, com o Protocolo, livro de registo das Mensagens. Pé em cima de pedaço de pedra “calcária” que uma granada de morteiro 82 despedaçou. Atrás, um dos bidões de combustível, que estavam espalhados pelo quartel, vislumbrando-se ainda, a cerca de 4 metros, o cabo de sustentação da antena do Posto de Transmissões.
A FAP EM GUIDAJE
A FA esteve presente, além de outros, nos momentos críticos e decisivos na batalha de Guidaje, apesar do alto risco:
O ex-Ten Pilav António Martins de Matos participou no desenrolar do assédio do PAIGC a Guidaje, alargando eu ao período de 6 de Abril a 29 de Maio de 1973. Não digo que esteve presente em todas as idas da FAP à zona operacional, não disponho de dados que o confirme…
Foto aérea, de SW, de Guidaje - 1971 numa altura em que o reordenamento já estava pronto. À direita, em primeiro plano, a Tabanca Nova. Para lá da pista de aviação é a bolanha e a parte acastanhada clara, é terreno a subir, do Senegal.
Foto gentilmente cedida por Cap. Carlos Ricardo - CMDT da CCAÇ 3 ao Blogue SPM0018, de JMF Dias Fur Mil SAM - Guidage / Binta). Com a devida vénia.
A FAP EM GUIDAJE
A FA esteve presente, além de outros, nos momentos críticos e decisivos na batalha de Guidaje, apesar do alto risco:
- No dia 6 de Abril, são alvejadas com mísseis Strela cinco aeronaves, tendo sido abatidas duas, um DO 27 e um T-6G. Morreram: dois Majores (1 Maj Pilav e 1 Maj Inf), dois Fur Pil, um Alf Mil médico, um 1.º Sarg da CCaç 19, um 1.º Cabo Enf e um ferido mandinga nativo de Guidaj. Oito mortos num só dia.
O ataque com armas ligeiras pelas 07h45 revelou-se ser um chamariz para o IN alvejar os nossos aviões. Apesar de logo no início se temer a forte possibilidade de ser atingida, a FA acorreu com 3 DO 27, 2 Fiat G-91 e 2 T-6G.
Nos dias 8, 9, 10, 16, 19, 23, 28 e 29 de Maio de 73. Onde actuou ou tentou ajudar, no Quartel, na estrada, nas colunas auto e apeadas, em Cumbamory. Mantendo uma avioneta no ar, servindo de apoio às NT no terreno. Tendo provocado baixas numerosas ao PAIGC no dia 8 de Maio em Guidaje e no dia 19 no Cufeu.
A seguir ao abate dos nossos aviões e às baixas sofridas, a Força Aérea não ia a Guidaje, ficou quase se diria inoperacional, houve feridos que morreram e lá ficaram enterrados.
Os soldados não compreendiam esta ausência e apesar de tentar dizer que era compreensível, até eles arranjarem uma solução, respondiam com a cabeça quente…
No dia 11 de Maio 73 ouve uma tentativa de “insubordinação” dos dois Pelotões da 38.ª CCmds, evacuarem num Unimog o seu camarada 1.º Cabo Filipe, decepado de um pé por mina, no dia 10 entre o Ujeque e Guidaje. Foi com dificuldade que o Ten Cor Correia Campos os conteve…
No dia 16 de Maio apareceram 2 Hélis, onde foi o Gen Spínola e evacuou os feridos graves.
No dia 25, a seguir à morte do ferido 1.º Cabo Pára Ap Met G42 Peixoto (de Gião, Vila do Conde) ouvi dizer que houve movimentação de viatura pelos páras para evacuar o seu ferido Melo, mas não resultou…
Mais uma vez o Ten Cor Correia de Campos os convenceu a não deixar o quartel de Guidage (atitude inglória, acabariam com minas, mais feridos e dificilmente chegariam a Binta…)
No dia 28 apareceram 2 Hélis, rente e por entre as árvores. Levaram medicamentos, etc., para evacuar os feridos em estado mais grave.
Fiquei com a sensação que lá foram devido à pressão dos Páras (?). Os soldados afirmavam: se vieram duas vezes, porque não vieram buscar os que morreram?
A FAP, sempre que os chamávamos, aparecia quase na totalidade, nas acções anteriores em Guidaje. Houve vezes, que me pareceu exagerado o seu chamamento, para acções do IN que não justificavam a sua actuação… A proceder em todo o território deste modo, quem beneficiava era o PAIGC, graças ao desgaste do material aéreo e cansaço dos pilotos…
O meu parecer: A actuação da FA foi bastante positiva no decorrer da guerra na Guiné.
Um abraço a todos,
José Pechorro
Ex-1.º Cabo Op Cripto
CCaç 19
Guidage - Guiné
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 11 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8658: (Ex)citações (146): Guidaje - 1973, um comentário e algumas interrogações (José Manuel Pechorro / Juvenal Amado)
Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9888: (Ex)citações (178): Estrutura do campo de minas (António Matos)
O ataque com armas ligeiras pelas 07h45 revelou-se ser um chamariz para o IN alvejar os nossos aviões. Apesar de logo no início se temer a forte possibilidade de ser atingida, a FA acorreu com 3 DO 27, 2 Fiat G-91 e 2 T-6G.
Nos dias 8, 9, 10, 16, 19, 23, 28 e 29 de Maio de 73. Onde actuou ou tentou ajudar, no Quartel, na estrada, nas colunas auto e apeadas, em Cumbamory. Mantendo uma avioneta no ar, servindo de apoio às NT no terreno. Tendo provocado baixas numerosas ao PAIGC no dia 8 de Maio em Guidaje e no dia 19 no Cufeu.
A seguir ao abate dos nossos aviões e às baixas sofridas, a Força Aérea não ia a Guidaje, ficou quase se diria inoperacional, houve feridos que morreram e lá ficaram enterrados.
Os soldados não compreendiam esta ausência e apesar de tentar dizer que era compreensível, até eles arranjarem uma solução, respondiam com a cabeça quente…
No dia 11 de Maio 73 ouve uma tentativa de “insubordinação” dos dois Pelotões da 38.ª CCmds, evacuarem num Unimog o seu camarada 1.º Cabo Filipe, decepado de um pé por mina, no dia 10 entre o Ujeque e Guidaje. Foi com dificuldade que o Ten Cor Correia Campos os conteve…
No dia 16 de Maio apareceram 2 Hélis, onde foi o Gen Spínola e evacuou os feridos graves.
No dia 25, a seguir à morte do ferido 1.º Cabo Pára Ap Met G42 Peixoto (de Gião, Vila do Conde) ouvi dizer que houve movimentação de viatura pelos páras para evacuar o seu ferido Melo, mas não resultou…
Mais uma vez o Ten Cor Correia de Campos os convenceu a não deixar o quartel de Guidage (atitude inglória, acabariam com minas, mais feridos e dificilmente chegariam a Binta…)
No dia 28 apareceram 2 Hélis, rente e por entre as árvores. Levaram medicamentos, etc., para evacuar os feridos em estado mais grave.
Fiquei com a sensação que lá foram devido à pressão dos Páras (?). Os soldados afirmavam: se vieram duas vezes, porque não vieram buscar os que morreram?
A FAP, sempre que os chamávamos, aparecia quase na totalidade, nas acções anteriores em Guidaje. Houve vezes, que me pareceu exagerado o seu chamamento, para acções do IN que não justificavam a sua actuação… A proceder em todo o território deste modo, quem beneficiava era o PAIGC, graças ao desgaste do material aéreo e cansaço dos pilotos…
O meu parecer: A actuação da FA foi bastante positiva no decorrer da guerra na Guiné.
Um abraço a todos,
José Pechorro
Ex-1.º Cabo Op Cripto
CCaç 19
Guidage - Guiné
____________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 11 de Agosto de 2011 > Guiné 63/74 - P8658: (Ex)citações (146): Guidaje - 1973, um comentário e algumas interrogações (José Manuel Pechorro / Juvenal Amado)
Vd. último poste da série de 11 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9888: (Ex)citações (178): Estrutura do campo de minas (António Matos)
Guiné 63/74 - P9959: Cartas do meu avô (6): Terceira Carta - Em Bissau (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)
A. Continuação da publicação da série Cartas do meu avô, da autoria do nosso camarigo Joaquim Luís Mendes Gomes, membro do nosso blogue, jurista, reformado da Caixa Geral de Depósitos, ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Os Palmeirins de Catió, que esteve na região de Tombali (Cachil e Catió) e em Bissau, nos anos de 1964/66.
As cartas, num total de 13, foram escritas em Berlim, entre 5 de março e 5 de abril de 2012. (*)
B. TERCEIRA CARTA - EM BISSAU
O médico piscava-me o olho. Sabia que o sargento Gaspar era casado e com filhos à espera, no Cais da Rocha, em Lisboa, dentro de breve tempo. Eu, como seu comandante de pelotão, também fechava os meus. Não fazia falta nenhuma. Pelo contrário. Seria menos uma eventual fonte de problemas...
E ficou mesmo em casa. Já não me recordo do tempo que levamos a chegar a Bissau, desde Catió, numa grande LDM. Vínhamos todos nas nuvens, como num sonho de libertação dum degredo imposto, onde a nossa vida esteve em perigo cada minuto.
Só me lembra que não éramos só nós os viageiros felizes. Uma série de mulheres e crianças nativas vieram, com galinhas e açafates, de boleia, até Bolama e Bissau. De novo no quartel de Santa Luzia, como companhia de serviço, nos três meses antes de regressar, olhávamos para tudo com outros olhos. Era só deixar correr o tempo.
Havia que fazer o rastreio de saúde no hospital [, HM 241, Bissau, foto à esquerda, arquivo do nosso blogue] . Eu fui lá passar uma semana para expulsar a bicharada toda que bebemos nas bolanhas e se alojaram nas nossa tripas… os …trico céfalos trykiuros...
Também deu para tirar a carta militar… de moto e ligeiros, que depois era só trocar no continente. E não é que no preciso dia em que estava a fazer o exame de mota, com a preparação de duas ou três lições, me ia estampando contra uma parede, ao fim duma descida, como quem vem de Bissau para SantaLuzia. Confundi o pedal do travão com o do acelerador…Por momentos, eu que estava safo da guerras todas, vi a morte à minha frente… Não tenho dúvida de que foi um milagre da minha devota Senhora de Pedra Maria. A primeira coisa que fiz quando recebi a carta de mota, foi rasga-la aos pedacinhos. Não fosse o mafarrico tecê-las… e uma jura eu fiz, solene:
- De que nenhum filho meu, com minha autorização, haveria de guiar mota. E cumpri à risca.
A de carro, ainda é a mesma, à boa maneira do desleixado portuguezinho, troquei-a exactamente no último dia do ano que dispunha para o fazer…para não ter de repetir o problemático exame na metrópole. Foi em Bissau, desta vez, que pude conviver de perto com um casal amigo. Ele, o Silvestre, era alferes no quartel da Amura. No quadro da Administração. Viviam numa parte de casa alugada. Torturados pelo lento e penosíssimo decorrer dos dias à espera do fim da comissão… Era o seu grande lamento. Tinha sido meu companheiro de seminário. Fora pescado para a tropa, quando já tinha o 3º ano de direito. Ela já estava licenciada em românicas. Dava aulas no liceu de Bissau. [Foto acima: vista aérea do Liceu Honório Barreto e da Escola Industrial e Comercial de Bissau; arquivo do blogue].
Para mim, viviam remansosamente. Entretanto, nasceu-lhes lá o primeiro filho, aliás, menina. Fizeram questão de que fosse seu padrinho… e fui. O baptizado foi na Sé de Coimbra. E pasme-se!
- Nunca mais os vi, aos três!...Que vergonha de padrinho!?... Acho que a minha afilhada se chamou e chamará ainda - Luisa.
Esta conta não deu mesmo certa…
Outro que eu lá conheci, desde as minhas surtidas do mato até Bissau, era um outro alferes da administração militar, colega do Silvestre. Este tinha sido obrigado a interromper o curso de filosofia em Lisboa. Era um apaixonado pelos clássicos, gregos e romanos, pela escolástica. Ficou assombrado comigo, quando entabulou conversa lá no bar de oficiais, em Santa Luzia. Eu ainda tinha bem presentes todas essas figuras do pensamento, conhecia bem as suas ideias e achegas.
- Também andas em filosofia? – perguntou.
- Não. Andei.
- E que vais tirar?
- Direito, talvez.
- Oh!, não faças isso. Andei lá ano e meio e abandonei. Aquilo não presta para nada. É só fogo de vista. Dá para ganhar dinheiro… e mais nada.
-E eu estou cansado desse mundo antigo. Passou. O que deixaram está esgotado…
Ficou de cara à banda. Nunca mais o vi.
De facto, ele tinha toda a razão. Cedo o reconheci. Tirei o curso de direito, a ferros, jogava no campo inimigo, pois não tinha estofo para o mundo dos tribunais e das obrigações civis. Só me serviu para ganhar a vida…
Também recordo outro episódio, daqueles que só o destino sabe explicar. Eu estava de oficial de dia ao quartel de Santa Luzia. Onde ficavam altos comandos militares. Uma responsabilidade que não metia medo a quem chega do mato.
(*) Último poste da série > 23 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9938: Cartas do meu avô (5): Segunda Carta: Em Catió (Parte IV) (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)
(**) Informação sobre a independente CCAÇ 728 (recolhida pelo nosso colaborador permanente José Martins):
Fichas das unidades - Guiné > Volume VII – Tomo II - página 335
Companhia de Caçadores n.º 728
Unidade Mobilizadora: Regimento de Infantaria n.º 16 – Évora
Comandantes: Capitão de Infantaria António Proença Varão, substituído pelo Capitão de Cavalaria Ramiro José Marcelino Mourato e posteriormente pelo Capitão de Infantaria Amândio Oliveira da Silva.
Divisa: Os Palmeirins
Partida: Embarque em 8 de Outubro de 1964
Desembarque em 14 de Outubro de 1964
Regresso: Embarque em 7 de Agosto de 1966
(***) Vd. série anterior, Crónica de um Palmeirim de Catió:
20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo
2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo
20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia
1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG
11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar
8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo
22 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1455: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (7): O Sr. Brandão, de Ganjolá, aliás, de Arouca, e a Sra. Sexta-Feira
8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha
11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)
29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez
5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu
As cartas, num total de 13, foram escritas em Berlim, entre 5 de março e 5 de abril de 2012. (*)
B. TERCEIRA CARTA - EM BISSAU
O fôlego da companhia [, a CCAÇ 728,] (**) estava a esvair-se rapidamente com tanta intervenção nas matas. Os intervalos de tempo entre elas, passados não davam para recompor.
- Para onde e quando será a próxima? - Era a pergunta que assoberbava a cabeça de todos nós.
A baixa do alferes Sasso (***) estava presente. Quando se sai ao mato, não se sabe se se voltará... A sensação que tínhamos era de que, uma vez atirados às feras, tínhamos de nos "desenrascar", fosse como fosse.
As dúvidas sobre a razão da nossa presença ali, cresciam e alastravam descontroladas. Não havia qualquer semelhança entre a tropa que desembarcou na Guiné e a que tinha de sobreviver em cada dia.
Os dias que faltavam estavam todos contadinhos, embora ninguém soubesse quando. Nunca mais ninguém esquece a hora em que a tão esperada notícia se espalhou. Foi uma explosão de alegria como nunca mais sentimos na vida. Tinha chegado a ordem da nossa rendição. A uns breves quinze dias. Que longos nos pareceram.
- E se ainda temos de sair para o mato?... - essa era a grande incógnita.
E assim aconteceu. O meu sargento Gaspar que era um voluntário das guerras, repetente, tinha cumprido duas comissões em Angola, e estava ali por troca duns contitos de rei... que lhe deu o paizinho do Madail. Na véspera da operação assisti eu à sua consulta ao médico do batalhão. Ele era um peso pesado, gorilão. Pesava p'raí uns cento e vinte kg. Largo de tronco e uma agilidade desproporcionada. Pois, ainda conseguia fazer com facilidade impressionante um flic-flac à rectaguarda. Ali estava ele na saleta do médico na enfermaria a desbobinar, com uma convicção, um rosário de maleitas que, a serem verdade, o impossibilitavam de sair para o mato. O poriam de ambulância no hospital…
- Para onde e quando será a próxima? - Era a pergunta que assoberbava a cabeça de todos nós.
A baixa do alferes Sasso (***) estava presente. Quando se sai ao mato, não se sabe se se voltará... A sensação que tínhamos era de que, uma vez atirados às feras, tínhamos de nos "desenrascar", fosse como fosse.
As dúvidas sobre a razão da nossa presença ali, cresciam e alastravam descontroladas. Não havia qualquer semelhança entre a tropa que desembarcou na Guiné e a que tinha de sobreviver em cada dia.
Os dias que faltavam estavam todos contadinhos, embora ninguém soubesse quando. Nunca mais ninguém esquece a hora em que a tão esperada notícia se espalhou. Foi uma explosão de alegria como nunca mais sentimos na vida. Tinha chegado a ordem da nossa rendição. A uns breves quinze dias. Que longos nos pareceram.
- E se ainda temos de sair para o mato?... - essa era a grande incógnita.
E assim aconteceu. O meu sargento Gaspar que era um voluntário das guerras, repetente, tinha cumprido duas comissões em Angola, e estava ali por troca duns contitos de rei... que lhe deu o paizinho do Madail. Na véspera da operação assisti eu à sua consulta ao médico do batalhão. Ele era um peso pesado, gorilão. Pesava p'raí uns cento e vinte kg. Largo de tronco e uma agilidade desproporcionada. Pois, ainda conseguia fazer com facilidade impressionante um flic-flac à rectaguarda. Ali estava ele na saleta do médico na enfermaria a desbobinar, com uma convicção, um rosário de maleitas que, a serem verdade, o impossibilitavam de sair para o mato. O poriam de ambulância no hospital…
O médico piscava-me o olho. Sabia que o sargento Gaspar era casado e com filhos à espera, no Cais da Rocha, em Lisboa, dentro de breve tempo. Eu, como seu comandante de pelotão, também fechava os meus. Não fazia falta nenhuma. Pelo contrário. Seria menos uma eventual fonte de problemas...
E ficou mesmo em casa. Já não me recordo do tempo que levamos a chegar a Bissau, desde Catió, numa grande LDM. Vínhamos todos nas nuvens, como num sonho de libertação dum degredo imposto, onde a nossa vida esteve em perigo cada minuto.
Só me lembra que não éramos só nós os viageiros felizes. Uma série de mulheres e crianças nativas vieram, com galinhas e açafates, de boleia, até Bolama e Bissau. De novo no quartel de Santa Luzia, como companhia de serviço, nos três meses antes de regressar, olhávamos para tudo com outros olhos. Era só deixar correr o tempo.
Havia que fazer o rastreio de saúde no hospital [, HM 241, Bissau, foto à esquerda, arquivo do nosso blogue] . Eu fui lá passar uma semana para expulsar a bicharada toda que bebemos nas bolanhas e se alojaram nas nossa tripas… os …trico céfalos trykiuros...
Também deu para tirar a carta militar… de moto e ligeiros, que depois era só trocar no continente. E não é que no preciso dia em que estava a fazer o exame de mota, com a preparação de duas ou três lições, me ia estampando contra uma parede, ao fim duma descida, como quem vem de Bissau para SantaLuzia. Confundi o pedal do travão com o do acelerador…Por momentos, eu que estava safo da guerras todas, vi a morte à minha frente… Não tenho dúvida de que foi um milagre da minha devota Senhora de Pedra Maria. A primeira coisa que fiz quando recebi a carta de mota, foi rasga-la aos pedacinhos. Não fosse o mafarrico tecê-las… e uma jura eu fiz, solene:
- De que nenhum filho meu, com minha autorização, haveria de guiar mota. E cumpri à risca.
A de carro, ainda é a mesma, à boa maneira do desleixado portuguezinho, troquei-a exactamente no último dia do ano que dispunha para o fazer…para não ter de repetir o problemático exame na metrópole. Foi em Bissau, desta vez, que pude conviver de perto com um casal amigo. Ele, o Silvestre, era alferes no quartel da Amura. No quadro da Administração. Viviam numa parte de casa alugada. Torturados pelo lento e penosíssimo decorrer dos dias à espera do fim da comissão… Era o seu grande lamento. Tinha sido meu companheiro de seminário. Fora pescado para a tropa, quando já tinha o 3º ano de direito. Ela já estava licenciada em românicas. Dava aulas no liceu de Bissau. [Foto acima: vista aérea do Liceu Honório Barreto e da Escola Industrial e Comercial de Bissau; arquivo do blogue].
Para mim, viviam remansosamente. Entretanto, nasceu-lhes lá o primeiro filho, aliás, menina. Fizeram questão de que fosse seu padrinho… e fui. O baptizado foi na Sé de Coimbra. E pasme-se!
- Nunca mais os vi, aos três!...Que vergonha de padrinho!?... Acho que a minha afilhada se chamou e chamará ainda - Luisa.
Esta conta não deu mesmo certa…
Outro que eu lá conheci, desde as minhas surtidas do mato até Bissau, era um outro alferes da administração militar, colega do Silvestre. Este tinha sido obrigado a interromper o curso de filosofia em Lisboa. Era um apaixonado pelos clássicos, gregos e romanos, pela escolástica. Ficou assombrado comigo, quando entabulou conversa lá no bar de oficiais, em Santa Luzia. Eu ainda tinha bem presentes todas essas figuras do pensamento, conhecia bem as suas ideias e achegas.
- Também andas em filosofia? – perguntou.
- Não. Andei.
- E que vais tirar?
- Direito, talvez.
- Oh!, não faças isso. Andei lá ano e meio e abandonei. Aquilo não presta para nada. É só fogo de vista. Dá para ganhar dinheiro… e mais nada.
-E eu estou cansado desse mundo antigo. Passou. O que deixaram está esgotado…
Ficou de cara à banda. Nunca mais o vi.
De facto, ele tinha toda a razão. Cedo o reconheci. Tirei o curso de direito, a ferros, jogava no campo inimigo, pois não tinha estofo para o mundo dos tribunais e das obrigações civis. Só me serviu para ganhar a vida…
Também recordo outro episódio, daqueles que só o destino sabe explicar. Eu estava de oficial de dia ao quartel de Santa Luzia. Onde ficavam altos comandos militares. Uma responsabilidade que não metia medo a quem chega do mato.
Estava a preparar tudo para passar a pasta ao oficial sucessor. Nisto, oiço uma voz conhecida, muito familiar, não daquelas paragens.
- Dá licença, meu alferes?- exclamou a voz.
- Entra.
Levantei os olhos e dei de caras com um 1º cabo, também de farda amarela, um velhote, como eu… muito sorridente, o que, de repente, me deu tempo para pensar:
- Mas que é que deu a este figurão, para estar a sorrir, sem, antes, me ter visto os dentes?..
Era o meu primo Alberto, um meio irmão, que estava ali à frente. E regressaria à metrópole daí a pouco. Lançámo - nos num grande e sentido abraço… como irmãos - os pais dele eram irmãos dos meus.
- Espera aí que eu vou passar o serviço e vamos já conversar… temos muito que dizer um ao outro…
Ainda me ocorre outro episódio de assinalar. Em Julho próximo [, de 1966,] eu ia fazer vinte e cinco anos. Um número que se me afigurava então como digno de respeito. A sensação era de que tinham custado muito a decorrer estes vinte e cinco anos.
Na infância, o que desejamos é ser grandes… os anos nunca mais passam, são longos como séculos. A escola primária é uma escada dura de subir. O tempo de seminário foi um calvário doloroso que parecia não ter fim. A tropa foram só uns vinte e dois meses, mas pareceram vinte anos.
Tinha muito presente em mim que iria completar um quarto de século. Um pouco depois, iria regressar à vida civil. Tudo muito incógnito e inimaginável. A descontracção e autoconfiança que sentia ali ao serviço do batalhão, deu-me uma saborosa sensação de êxito pessoal. Muito benéfica para o meu psicológico, sempre muito complicado.
Cumpria o meu dever com naturalidade e exactidão. Pela primeira vez, senti-me admirado. Um superior reparou em mim. O segundo comandante major Jasmim de Freitas.
Antes meu lugar foi sempre nas filas de trás. Lembrei-me de promover uma festa, sob o pretexto dos meus anos. Todos os oficiais do batalhão foram convidados. E anuiram muito prontos e prazenteiros.
Mandei assar uns leitões na padaria geral da Amura [, foto à direita, do nosso camarada João Martins], comprei uns petiscos e umas bebidas e , na hora marcada, depois da parada, a alegria e fraternidade chegaram em abundância. Foi uma linda festa.
O segundo comandante, cuja mulher era familiar muito próxima do administrador dum banco na metrópole, fez questão de me dar uma carta de recomendação para eu apresentar ao seu cunhado quando chegasse a Lisboa. Estaria afiançado.
Só que, uma vez chegado à vida civil, fui acometido por uma tremenda crise de adaptação. Senti um choque psicológico estranho e muito perturbador. Insónias sobre insónias. Um frenesim incontrolável. Os comprimidos para regularizar somaram e caí prostrado no extremo oposto. O da letargia apática.
Primeiro que me sentisse apto a defrontar uma entrevista daquela importância, como seria essa com o administrador, demorou muito. O rumo da vida alterou-se. E a oportunidade perdeu-se totalmente. Pelo menos foi o que senti.
- Dá licença, meu alferes?- exclamou a voz.
- Entra.
Levantei os olhos e dei de caras com um 1º cabo, também de farda amarela, um velhote, como eu… muito sorridente, o que, de repente, me deu tempo para pensar:
- Mas que é que deu a este figurão, para estar a sorrir, sem, antes, me ter visto os dentes?..
Era o meu primo Alberto, um meio irmão, que estava ali à frente. E regressaria à metrópole daí a pouco. Lançámo - nos num grande e sentido abraço… como irmãos - os pais dele eram irmãos dos meus.
- Espera aí que eu vou passar o serviço e vamos já conversar… temos muito que dizer um ao outro…
Ainda me ocorre outro episódio de assinalar. Em Julho próximo [, de 1966,] eu ia fazer vinte e cinco anos. Um número que se me afigurava então como digno de respeito. A sensação era de que tinham custado muito a decorrer estes vinte e cinco anos.
Na infância, o que desejamos é ser grandes… os anos nunca mais passam, são longos como séculos. A escola primária é uma escada dura de subir. O tempo de seminário foi um calvário doloroso que parecia não ter fim. A tropa foram só uns vinte e dois meses, mas pareceram vinte anos.
Tinha muito presente em mim que iria completar um quarto de século. Um pouco depois, iria regressar à vida civil. Tudo muito incógnito e inimaginável. A descontracção e autoconfiança que sentia ali ao serviço do batalhão, deu-me uma saborosa sensação de êxito pessoal. Muito benéfica para o meu psicológico, sempre muito complicado.
Cumpria o meu dever com naturalidade e exactidão. Pela primeira vez, senti-me admirado. Um superior reparou em mim. O segundo comandante major Jasmim de Freitas.
Antes meu lugar foi sempre nas filas de trás. Lembrei-me de promover uma festa, sob o pretexto dos meus anos. Todos os oficiais do batalhão foram convidados. E anuiram muito prontos e prazenteiros.
Mandei assar uns leitões na padaria geral da Amura [, foto à direita, do nosso camarada João Martins], comprei uns petiscos e umas bebidas e , na hora marcada, depois da parada, a alegria e fraternidade chegaram em abundância. Foi uma linda festa.
O segundo comandante, cuja mulher era familiar muito próxima do administrador dum banco na metrópole, fez questão de me dar uma carta de recomendação para eu apresentar ao seu cunhado quando chegasse a Lisboa. Estaria afiançado.
Só que, uma vez chegado à vida civil, fui acometido por uma tremenda crise de adaptação. Senti um choque psicológico estranho e muito perturbador. Insónias sobre insónias. Um frenesim incontrolável. Os comprimidos para regularizar somaram e caí prostrado no extremo oposto. O da letargia apática.
Primeiro que me sentisse apto a defrontar uma entrevista daquela importância, como seria essa com o administrador, demorou muito. O rumo da vida alterou-se. E a oportunidade perdeu-se totalmente. Pelo menos foi o que senti.
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 23 de maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9938: Cartas do meu avô (5): Segunda Carta: Em Catió (Parte IV) (J.L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil, CCAÇ 728, Bissau, Cachil e Catió, 1964/66)
(**) Informação sobre a independente CCAÇ 728 (recolhida pelo nosso colaborador permanente José Martins):
Companhia de Caçadores n.º 728
Unidade Mobilizadora: Regimento de Infantaria n.º 16 – Évora
Comandantes: Capitão de Infantaria António Proença Varão, substituído pelo Capitão de Cavalaria Ramiro José Marcelino Mourato e posteriormente pelo Capitão de Infantaria Amândio Oliveira da Silva.
Divisa: Os Palmeirins
Partida: Embarque em 8 de Outubro de 1964
Desembarque em 14 de Outubro de 1964
Regresso: Embarque em 7 de Agosto de 1966
Locais por onde passou: Bissau, Cachil, Catió, Bissau
(***) Vd. série anterior, Crónica de um Palmeirim de Catió:
20 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1194: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (1): Os canários, de caqui amarelo
2 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1236: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (2): Do Alentejo à África: do meu tenente ao nosso cabo
20 Novembro 2006 > Guiné 63/74 - P1297: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (3): Do navio Timor ao Quartel de Santa Luzia
1 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1330: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (4): Bissau-Bolama-Como, dois dias de viagem em LDG
11 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1359: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (5): Baptismo de fogo a 12 km de Cufar
8 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1411: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (6): Por fim, o capitão...definitivo
8 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1502: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (8): Com Bacar Jaló, no Cantanhez, a apanhar com o fogo da Marinha
11 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1582: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (9): O fascínio africano da terra e das gentes (fotos de Vitor Condeço)
29 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1634: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (10): A morte do Alferes Mário Sasso no Cantanhez
5 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1646: Crónica de um Palmeirim de Catió (Mendes Gomes, CCAÇ 728) (11): Não foi a mesma Pátria que nos acolheu
Guiné 63/74 - P9958: Facebook.. ando (17) : Alexandre Leites, de Sandim, V.N. Gaia, ex-1º cabo enfermeiro, CCAP 122/BCP 12 (1971/73)
António Alexandre Lopes Leites, ou simplesmente Alexandre Leites: segundo a sua página no Facebook,
(i) estudou na escola da vida;
(ii) é casado (desde 1974),
(iii) tem, dois filhos, Sónia e Luís;
(iv) faz anos a 25 de novembro;
(v) é católico;
(vi) fez o serviço militar em 1970;
(vii) esteve na Guiné, como 1º cabo enfermeiro da CCP 122/BCP12, em 1971/73;
(viii) mora em Sandim, Vila Nova de Gaia (, quando for à Madalena, prometo ir beber um café com ele à praia)...
Citações favoritas:(a) Não julgues para não seres julgado nem condenes para não seres condenado: (b) Errar é humano, perdoar é divino.
Email: alexandreleites3@gmail.comalexandreleites3@gmail.com
Disponibilza, na sua página do Facebook, alguns dezenas de fotos... Podiam ter melhor resolução e ganhavam muito se tivessem legendas... De qualquer modo, o nosso muito obrigado pela partilha. Recuperámos algumas legendas a partir de comentários do autor e dos seus amigos...
Evacuação de um ferido, "no mato"... A CCP 122 tinha acabado de cair numa emboscada.
Mais um evacuação algures, "no mato"... Na foto, vê-se uma enfermeira paraquedista
Disponibilza, na sua página do Facebook, alguns dezenas de fotos... Podiam ter melhor resolução e ganhavam muito se tivessem legendas... De qualquer modo, o nosso muito obrigado pela partilha. Recuperámos algumas legendas a partir de comentários do autor e dos seus amigos...
O 1º cabo enfermeiro nem por isso descuidava a sua defesa pessoal...
À espera do heli para a evacuação de um ferido, "no mato"...
Evacuação de um ferido, "no mato"... A CCP 122 tinha acabado de cair numa emboscada.
Mais um evacuação algures, "no mato"... Na foto, vê-se uma enfermeira paraquedista
O "Lobo Mau" (helicanhão)
Mais uma helievacuação...
Um bivaque dos páras, algures na Guiné...
"Instrução dura combate fácil uma máxima dos Para-quedistas muito importante e valiosa"
Mesmo nos páras, era preciso fazer pela vidinha... "O bar que tinha em Teixeira Pinto com o meu sócio, também enfermeiro, Paiva, de Viseu".
2. Comentário de L.G.:
O Alexandre é nosso amigo no Facebook. Fica desde já convidado a integrar a nossa Tabanca Grande. Como já temos aqui fotos dele, bastava dizer-nos algo mais sobre os bons e os maus momentos que passou no TO da Guiné, entre 1971 e 1973. Por exemplo, será que esteve em Guidaje e em Gadamael, em maio e junho de 1973 ? Espero que ele nos leia e aceite o nosso convite. Um abração,
Luis Graça.
Luis Graça.
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Nota do editor:
Último poste da série > 23 de fevereiro de 2012 > Guiné 63/74 - P9520: Facebook...ando (16): Em busca de camaradas da minha companhia, CCAÇ 3544/BCAÇ 3883, "OS Roncos de Buruntuma", Buruntuma, mar 72 / jan 74 (Francisco Alves, Torres Vedras)
Guiné 63/74 - P9957: Parabéns a você (426): António Vaz, ex-Cap Mil Art, CMDT da CART 1746 (Bissorã e Xime, 1967/69)
Para saber mais sobre o nosso camarigo, clicar aqui: António Vaz
____________Nota de CV:
Vd. último poste da série de 27 de Maio de 2012 > Guiné 63/74 - P9950: Parabéns a você (423): António Manuel Salvador, ex-1.º Cabo Aux Enf.º da CCAÇ 4740 (Guiné, 1972/74)
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