Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 28 de junho de 2007
Guiné 63/74 - P1894: Louvores e condecorações (2): CCAÇ 3477, Os Gringos de Guileje (Amaro Samúdio)
Guiné > Região de Tombali > Guileje > CCAÇ 3477 (Novembro de 1971/ Dezembro de 1972) - Os Gringos de Guileje > O Munoz Samúdio, que era 1º cabo enfermeiro, junto à peça de artilharia 11.4 (e não obus 14, que o Coronel Rubim puxa-vos as orelhas!). Ao fundo vê-se a fiada de arame farpado. Last but not the least, em primeiro plano "a nossa cadela Lolita que veio de Gadamael", como fez questão de me chamar a atenção o Samúdio.
Foto: © Amaro Samúdio (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem do Amaro Samúdio, anunciando em 27 de Mraço passado a realização do 1º Encontro dos Gringos de Guileje (19 de Maio, Montemor-o-Movo) (1), e juntando ao mesmo tempo a cópia do louvor que foi conferido à companhia ("Encontrei-o no meio de uma montanha de papéis"):
COMANDO-CHEFE DAS FORÇAS ARMADAS DA GUINÉ > QUARTEL GENERAL
Louvor concedido à CCAÇ 3477 pelo Exmº Brigadeiro Comandante Adjunto Operacional, pub1icado na Ordem nº 63 de 8-12-73 do CCFAGUINÉ.
Louvo a Companhia de Caçadores 3477 pela forma, digna de relevo, como se houve no cumprimento de todas as missões que lhe foram cometidas no decurso da sua permanência no Teatro de Operações da GUINÉ.
Inicialmente colocada no Sul da Província, onde permaneceu, cerca de um ano, em região particularmente sensível, levou a cabo uma intensa e bem conduzida actividade operacional, caracterizada por arreigado espírito de missão, notável agressividade e estoicismo, que lhe proporcionou, num avultado número de acções e operações, com especial destaque para Muralha Quimérica (2), obter resultados apreciáveis e criar acentuada insegurança ao IN num dos seus tradicionais corredores de infiltração.
Sofrendo várias e, por vezes, intensas flagelações ao seu aquartelamento, esta Subunidade, mercê da sua vincada determinação, elevado moral e sólido espírito de corpo, conseguiu sempre reagir pronta e eficazmente abortando todas as iniciativas inimigas.
Deslocada, posteriormente, para outro Sector, de características humanas muito heterogéneas, ainda que dispersa por vários destacamentos, construiu algumas das suas próprias instalações e desenvolveu profícua actividade em trabalhos de reordenamentos em benefício das populações locais, mantendo, simultaneamente, atento e exaustivo labor operacional integrado na segurança próxima de importantes pontos sensíveis.
Pelos serviços prestados, em campanha, a Companhia de Caçadores 3477 honrou a Arma de Infantaria e o Exército, em terras da GUINÉ PORTUGUESA, e ganhou jús ao público louvor com que é distinguida.
Quartel em Bissau, 5 de Dezembro de 1973
O Chefe do Estado-Maior
Hugo Rodrigues da Silva, Cor do CEM
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1869: Convívios (19): Os Gringos de Guileje, a açoriana CCAÇ 3477, encontram-se ao fim de 33 anos! (Amaro Samúdio)
(2) Vd. post de 29 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1793: Operação Muralha Quimérica, com os paraquedistas do BCP 12: Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael, Abril de 1972 (Victor Tavares)
(...) "Acção desenrolada entre 27 de Março e 8 de Abril de 1972, no sul da Guiné (Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael).
"Esta operação, na qual participaram as CCP 121, 122, 123 e outras forças, com resultados excelentes, nas zonas operacionais de Aldeia Formosa, Guileje e Gadamael Porto, foi uma das muitas operações importantes em que intervieram os Paraquedistas do BCP 12 durante o ano de 1972.
"A zona de acção situava-se numa região que o PAIGC considerava libertada e onde os guerrilheiros se movimentavam com relativo à-vontade conforme se viria a constatar.O rio Balana separava o corredor de Guileje, que se estendia a sul entre a fronteira e ia até Salancaur Jate. A outra, a norte do mesmo rio, onde se movimentavam os grandes efectivos do Primeiro Corpo do Exército do PAIGC e que se incluía no troço do corredor de Missirá.
"Para esta operação, além das Companhias de Paraquedistas, também fizeram parte duas Companhias de Comandos Africanos assim como duas Companhias do Exército, as CCAÇ 3399 e 3477, mais a CCAÇ 18 além de um grupo especial do COE. Todas estas forças estavam sob o comando do Tenente-Coronel Parquedista Araújo e Sá, Comandante do BCP 12 tendo como adjunto o Cap Paraquedista Nuno Mira Vaz" (...).
quarta-feira, 27 de junho de 2007
Guiné 63/74 - P1893: Notícias de Cadique (Mário Fitas, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)
Caro chefe da Tabanca Grande:
Lendo no nosso blogue, que haveria falta de notícias sobre Cadique (2), vou transcrever, do diário da CCAÇ 763, de Cufar, a quem os moradores de Cabolol e do outro lado do Cumbijã, baptizaram de Lassas (uma espécie de abelha da Guiné).
"22 de Dezembro de 1965 - A Companhia a 3 Gr Comb efectuou a Operação Tesoura, planeada para dar combate ao IN localizado na região de Cadique, destruindo-lhes as instalações.
"A 763 embarcou no cais de Impungueda, conjuntamente com a CCAÇ 728, tendo desembarcado no local previsto e iniciando a progressão em direcção de Cadique Iala. Cerca das 24h00 o IN flagelou as NT, não tendo estas reagido a fim de não denunciar a sua posição.Ao amanhecer as duas companhias marcharam sobre a mata de Cadique Iala a cuja batida se procedeu, ao mesmo tempo que se destruía a tabanca. O IN revelou-se no interior da mata atacando as NT e oferecendo especial resistência à CCAÇ 728, pelo que teve de se solicitar o apoio da FAP.
"Concluída a missão na região de Cadique Iala, as duas Companhias deslocaram-se para a estrada de Cadique a fim de garantir a protecção a um pelotão de Paraquedistas que ia entrar em acção. Comcluida a operação a Companhia em duas LDM no cais de Cadique Nalu, com destino a Impungueda".
De referir que na altura, na margem esquerda do Cumbijã, só existia o Aquartelamento de Bedanda. Noutras oportunidades, falarei mais deste mitico Cumbijã e das suas margens tanto esquerda, como direita.
Um abraço para todos os camaradas
Mário Fitas (Fur Mil, CCAÇ 763, Cufar, 1965/66)
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 26 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1884: Tabanca Grande (16): Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)
(2) Vd. posts de:
27 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1891: O Cantanhez (Cadique, Caboxanque, Cafine...) e os paraquedistas do BCP 12 (1972/74) (Victor Tavares, CCP 121)
25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1876: Restos de aquartelamentos (1): Cadique, na margem esquerda do Rio Cumbijã (CCAÇ 4540, 1972/73) (Pepito)
Guiné 63/74 - P1892: Estórias de Mansambo I (Torcato Mendonça, CART 2339) (5): O Casadinho e o Bessa, os mortos do meu Gr Comb, os meus mortos
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Mansambo > CART 2339 > 1968 > Fotos Falantes II > Os dois primeiros mortos do Grupo de Combate do Alf Mil Torcato Mendonça: o Bessa (46) e o Casadinho (45)...
Fotos: © Torcato Mendonça (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Torcato Mendonça, com data de 20 de Junho último:
Luis Graça: vou ser rápido porque isto é o despejar de um impulso, de uma revolta sentida, de um flash vindo, demasiado rápido, do passado ao presente. Talvez um Psi conseguisse dizer, melhor que eu, o porquê. Li a morte de um Camarada em Madina (1). Sei que não eram relatados os pormenores à família. Sei a frieza da comunicação da morte dada aos familiares. Mas… eu conto-te, Camarada, eu conto-te e anexo – para dares uma vista de olhos – um escrito, creio que já enviado, O Natal, onde relato OS MORTOS DO MEU GRUPO, OS MEUS MORTOS.
Paro em tentativa de calma, calma com respiração funda e passa um pouco. Depois do ataque, fui apanhar o Bessa, subi ao palanque danificado, olhei à volta certamente com ódio, com vontade de acertar contas... De repente vejo, à luz amarelada das lâmpadas, algo a baloiçar e brilhando. Fixo o objecto, vejo um bocado de fio e um crucifixo, aperto os dentes, como neste momento o volto a fazer, dou uma palmada naquilo e solto um palavrão em blasfémia sentida. Ajudam-me e embrulham-no e limpam-no com carinho, revolta e choro contido, no local. Os homens também choram, porra, mesmo por dentro, dói, dói!
Passados tempos, alguém do meu Grupo e talvez da terra dele, perguntou-me:
-A família recebeu as coisas mas não o fio e o crucifixo.
Não me lembro mas creio que houve uma resposta a tentar suavizar a situação... Não faltava só o fio… parte DELE não foi também recebido… Dizia-se áà família? Creio que era duro demais, nós sentimos demasiado aquela morte. Meses depois, quando da Op Lança Afiada, veio de héli o Comandante do PAIGC Braimadicô (2). Levei-o para o meu abrigo… pois ouvi logo o nome do Camarada morto, repetido por uns e por outros.
Respeitei os meus Homens e levei-o para outro lado. Eles também não esqueceram e, certamente não sabem perdoar. Hoje, trinta e oito anos depois é difícil. O que seria naquela altura. Sabes, penso que não se podia ou era preferível, esconder certos pormenores às famílias. Só se provocava mais sofrimento. Devia era haver uma postura mais humana por parte das Forças Armadas. Análise posterior com calma.
Queria ser mais breve, alonguei-me. Senti a falta de partilhar isto, com o meu Grupo, agora… recordarmos, reflectirmos. Mas eles merecem descansar, recordar ou não. Falar nisto é doloroso ainda HOJE.
Amigo, um abraço,
Torcato Mendonça
2. Estórias de Mansambo (5) > Natal, Ano Novo, dias normais
por Torcato Mendonça (3)
Os militares da CART 2339 só passaram um Natal na Guiné. Partimos, no Ana Mafalda em meados de Janeiro/68 e regressámos em Dezembro/69 no Uíge. Portanto só o Natal de 68 lá foi passado.
Espero que a memória me não atraiçoe e eu tenha arte e engenho para vos descrever tão faustosas festas. Ou seja, as Festas do Natal e Passagem do Ano de 1968/1969. Os Salões engalanaram-se; os Mestres Cozinheiros esmeraram-se e, digo mesmo, em salutar competição guardaram em segredo os menus; as Fardas de Gala foram engomadas…
E..., bom!... Não fantasiemos, pois a realidade era outra. Estávamos em Mansambo, na guerra estúpida e dura, não pertencíamos a grupo de privilégio, fantasia ou outro. Passámos por isso, o Natal e Ano Novo como muitos milhares de militares. Uns melhor outros pior por questões de afectos perdidos, por sentirem mais ou menos a falta das mulheres e filhos, das famílias e de quem gostavam.
Pessoalmente lastimo mas de pouco me lembro. Já estava acima da normalidade, chamemos-lhe assim, para sentir menos o Natal e mais a segurança. Tenho, nestes dias, pensado nisso e infelizmente deve ter sido assim. Socorro-me do Historial, de duas pequenas agendas e tento recordar.
É com esses auxiliares que vou relatar, o mais fielmente possível, aqueles dias.
Não posso dissociar o Natal do Ano Novo. Eram datas festivas, tempos com maior probabilidade de ataques do inimigo, necessidade de nos sentirmos mais ocupados. O ócio fazia-nos voar para outras paragens.
Havia, como é natural, uma maior quebra anímica. Por isso, todo esse período de tempo deveria ser ocupado com diversas tarefas. Seriam, contudo, preservados, o mais possível, os dias festivos.
Assim:
A 23 e 24 de Dezembro de 1968 houve uma Operação/patrulhamento à zona de Biro e Galoiel. Leve troca de tiros com o IN. Fuga deste, missão cumprida e regresso a Mansambo.
Véspera de Natal: os pensamentos longe, cada vez mais longe daquele lugar. Homens a pensarem nas mulheres e filhos, nas namoradas, nos pais e noutros familiares, nos amigos, no frio, nas lareiras e nas luzes a enfeitarem, ruas e presépios, na Pátria distante. Outros, muito poucos, mantinham-se atentos num desligar, mais aparente que real, virando a atenção, o cuidado para o inimigo em hipotética espreita, para lá do arame farpado.
A maioria era do Norte. A religiosidade da data era, talvez, mais sentida por eles. Mas o Natal é festa de família, penso eu. Hoje sinto-o mais assim. Parece que jantei com o meu Grupo, o tradicional bacalhau. Creio mesmo que o Capitão deu uma volta pelos vários abrigos.
Em Mansambo vivíamos em abrigos. Houve certamente o convívio possível. Não me recordo bem. O dia de Natal foi diferente certamente, com pensamentos a irem para junto dos que, lá ao longe, o faziam em sentido contrário. Talvez se tenham encontrado e abraçado a meia distância, em viagens imaginárias, com os deuses a apadrinharem. Talvez!
Entre os dias 28 e 30 de Dezembro houve coluna-auto ao Xitole. Mas o itinerário foi Bambadinca, Galomaro, Quirafo (?), Saltinho e Xitole. Uma coluna formada por bastantes viaturas civis e militares. A Intendência era responsável pela carga. Nós, um Grupo reforçado por picadores e alguns Milícias, éramos os responsáveis pela segurança e bom andamento, daquele enorme comboio com vários tipos de viaturas.
Impusémos regras rígidas. Levámos dois ou três mecânicos o que se veio a revelar de grande utilidade. Um dia de viagem para lá, outro para cá. Merecia ser relatada esta viagem. As avarias, o pó e toda uma loucura quase indescritível. Fizemos, duas ou três centenas de quilómetros (ida e volta) devido à estrada – Mansambo/Xitole – cerca de vinte quilómetros, estar ainda fechada [ou interdita].
O fim do ano aproximava-se e o dia 31 aí estava. O meu Grupo, depois do regresso do Xitole, preparava uma saída para Candamã no primeiro dia de Janeiro.
Talvez, na noite de passagem de ano, se tenha batido a zona com os [obuses] 10,5 e os [morteiros] 81 e bebido mais um copo. Mantínhamo-nos contudo bem atentos. Lá fora, poderia estar alguém pronto a estragar qualquer princípio de festa.
De repente um tiro e gritos. O Pimenta, do meu Grupo, ferira-se com a sua própria arma. Felizmente um tiro de raspão na zona abdominal. Era um faz tudo, por isso e pelo cansaço, estava encarregado dos geradores Lister que forneciam a electricidade ao aquartelamento. No dia seguinte foi evacuado para Bissau e, mais tarde, para a Metrópole. Ainda o visitei no Hospital em Bissau, dias depois, antes da minha ida para férias.
Começava o ano com um ferido, mesmo por acidente, no meu Grupo. Não gostei dos sinais. Depois da evacuação partimos para Candamã. Missão: reconstruir o pontão da Chanca na picada para Dulo Gengele. Nós fazíamos, a segurança e a ajuda, se necessária, a uma secção de engenharia de Nova Lamego, comandada pelo Furriel Zamite.
O trabalho teria que ser feito com rapidez. Questão de eficácia e principalmente segurança. Moto-serras a trabalhar no mato… não era saudável. Com a ajuda de todos, população incluída, e o saber do pessoal da engenharia, no final do dia 2 de Janeiro estava a missão cumprida.
Começamos a aprontar o material para a saída na madrugada seguinte. Um descuido, azar ou outro motivo qualquer, fez com que o Casadinho sofresse uma queimadura ligeira numa perna.
Faço aqui um parêntese para contar breve história deste militar [, o Casadinho]:
Era o Bazuqueiro do grupo. Alentejano de S. Matias, aldeola quase encostada a Beja. Cerca de dois ou três meses, após a chegada à Guiné, soube do nascimento da filha. Os meses passaram, o desgaste era grande e, como era necessário um militar da Companhia ir para Bissau – serviços de apoio logístico – foi indicado o Casadinho. Pouco tempo lá esteve. No dia 3 de Outubro, a dois meses do embarque, faleceu vítima de um desastre de viação na estrada para Bissalanca. Depois de quase dois anos de mato, muitas horas debaixo de fogo, morre, estupidamente, num acidente. Repousa no cemitério da sua terra natal. Nunca conheceu a filha.
Quando lá passo, no IP2, o carro, todos os carros que, ao longo destes anos tenho tido, abrandam sempre, aceleram e travam um pouco, num engasgar de soluço, de modo a que eu me possa voltar na direcção dele e o cumprimente. Nunca tive coragem de procurar a viúva ou a filha. Um dia…
Voltando á Guiné, a Mansambo, aos primeiros dias de Janeiro de 1969:
No dia 3, abandonámos Candamã e regressãmos à nossa Base. Havia correio fresco á nossa espera e a natural alegria. Nesse dia, após o jantar, fui ao meu abrigo. Na sala, à volta da mesa, a malta lia o correio, escrevia ou passava o tempo de outra forma. O Bessa partilhava uma garrafa de bagaço acabada de receber. Ofereceu-me um copo. Agradeci e entrei no abrigo. Ele foi para o palanque do posto de sentinela. Segundos depois um rebentamento. Aí estava mais um ataque ao aquartelamento. O estrondo inicial foi de uma roquetada que acertou no Bessa.
Durou talvez meia hora o tiroteio. Só que o meu Gr Comb sofreu o primeiro morto e o 1º Grupo um ferido grave. Terminado o ataque fui apanhar o Bessa. Embrulhei-o num lençol e não relato os pormenores. Ainda hoje os tenho bem vivos na memória. Ainda hoje aperto os dentes. Nunca esquecerei aquela morte, qualquer morte de um camarada. Por má formação, além de não esquecer, nunca perdoarei.
Ao terceiro dia, do novo ano – 1969 – o meu Grupo sofreu um morto e dois feridos, embora um muito ligeiro. No dia seguinte fizemos uma coluna para Bambadinca. Acompanhei o fechar da urna com o Soldado Bessa lá dentro. Já não regressei a Mansambo. Afoguei a raiva bebendo e dando uma volta à tabanca á procura de um amigo…
Devo ter tido um acordar difícil no dia seguinte. Não sei bem. Lembro-me que o [sargento piloto aviador] Honório me deu boleia, na sua avioneta, até Bissau com passagem por Bigene, onde consegui dar um abraço a um conterrâneo.
Dias depois, embarcava para a Metrópole para gozar o meu segundo período de férias.
Resumo:
O Natal e Ano Novo foram dias muito normais;
Operação na véspera de Natal;
Coluna ao Xitole, por Galomaro; Na noite de passagem de Ano feri
do o Pimenta;
No dia de Ano Novo ida para Candamã, fazer segurança á reconstrução de um pontão;
Findo o trabalho, dia 2, o Casadinho ligeiramente queimado numa perna;
Regresso a Mansambo, ataque ao aquartelamento e morte do Bessa;
Dia 4, em Bambadinca, fechada a urna do Bessa;
Dia 5, com passagem por Bigene, vinda para Bissau;
Dia 8 embarquei de férias para a Metrópole. Cortei as barbas a contragosto, do Capitão Vaz, da 1746, meu companheiro de viagem. A PIDE/DGS falava mais alto…
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Notas de L.G.
(1) Vd. post de 20 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1862: 42 anos depois, com emoção e revolta, sei das circunstâncias horríveis em que morreu o meu irmão... (Adelaide Gramunha Marques)
(2) Vd. post de 5 de Outubro de 2006 > Guiné 63/74 - P1152: Fotos falantes (Torcato Mendonça, CART 2339) (3): Braimadicô, o prisioneiro que veio do céu
(3) Vd. 14 de Março de 2007> Guiné 63/74 - P1594: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (1): A dança dos capitães
16 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1666: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 2339) (2/3): O Zé e o postal da tropa
25 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1785: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça, CART 239) (4): Burontoni, mito ou realidade ?
Guiné 63/74 - P1891: O Cantanhez (Cadique, Caboxanque, Cafine...) e os paraquedistas do BCP 12 (1972/74) (Victor Tavares, CCP 121)
Caro amigo Luis: Peço desculpa de não dar notícias há já algum tempo mas o tempo tem sido curto.
Ao dar uma rápida vista de olhos pelo Blogue, verifiquei que se referiam a Cadique como pouco falada (1). Tenho um enorme texto para enviar brevemente (e que vos peço para compor como tão bem sabem). Todo ele se refere ao Cantanhez, nomeadamente a Cadique, Caboxanque e Cafine. Pois este destacamento teve como primeiros ocupantes a minha Companhia de Paraquedistas, a CCP121.
Também relativamente a Gadamael Porto (2), um camarada que entrou, penso recentemente no blogue, refere que aqui tinham morrido 5 ou 6 paraquedistas, o que felizmente não corresponde à verdade. Morreram sim estes números mas do Exército, como bem refere o nosso camarada J. Casimiro de Carvalho.
Despeço-me enviando um forte abraço para todos os camaradas.
VICTOR TAVARES.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 25 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1876: Restos de aquartelamentos (1): Cadique, na margem esquerda do Rio Cumbijã (CCAÇ 4540, 1972/73) (Pepito)
(2) Victor: Não tenho ideia de ter visto isso escrito, a propósito de Gadamael e dos páras... Identifica o nº e a data do post... Fico, por outro lado, a aguardar o teu sempre precioso e sempre apreciado testemunho, desta vez sobre a vossa actividade operacional no mítico Cantanhez.
Vd. post 19 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1613: Com as CCP 121, 122 e 123 em Gadamael, em Junho/Julho de 1973: o outro inferno a sul (Victor Tavares, ex-1º cabo paraquedista)
Guiné 63/74 - P1890: PAIGC: Gíria revolucionária... ou como os guerrilheiros designavam o seu armamento (A. Marques Lopes)
Portugal > Lisboa > s/d > Cartaz de propaganda de apoio à luta dos povos das colónias africanas portuguesas. Cartaz da UAC - Unidade Anti-Colonial. Imagem gentilmente cedida por Jorge Santos, ex-fuzileiro especial em Moçambique, membro da nossa tertúlia e autor de uma já clássica e exaustiva página sobre a Guerra Colonial (2005).
Um RPG-2, com o respectivo porta-granadas. Em russo: Ruchnoi Protivotankovii Granatomet (RPG-2). Uma temível arma que data do princípio dos anos 50. Deixou, entretanto, de ser usada pelo exército russo. Mas foi muito popular entre os exércitos de guerrilha em todo o mundo. Era a bazuca dos pobres... É uma arma muito leve (tubo= 2,86kg.; tubo + granada= 4,48 kg.) e de fácil manobra. Alcance efectivo= 100 metros (LG).
Fonte: © The Sword of Motherland Foundation (2005), com a devida vénia.
Guiné > Zona Leste > Sector L1 > CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/74) > 1973 > "Diverso material apreendido ao PAIGC numa operação, levada a cabo pela em 1973. Fico na dúvida se já em Mansambo ou ainda no Xime" (Sousa de Castro). São visíveis as famosas metralhadoras ligeiras Kalashnikov, que se tornaram verdadeiro objecto de culto até aos dias de hoje (1), granadas de RPG7, porta-granadas de canhão s/r...
Foto: © Sousa de Castro (2007). Direitos reservados.
Guiné > PAIGC > s/d > A Kalash, a famosa AK-47, desenhada pelo russo Mikhail Timofeevich Kalashnikov (nascido em 1919) equipava na altura todos os exércitos de guerrilha do mundo, além dos exércitos do Pacto de Varsóvia. Até meados dos anos 90 calcula-se que se tenham fabricado mais de 70 milhões de Kalash, de acordo com o modelo oficial ou em versões pirateadas. Esta arma continua no imaginário de todos os ex-combatentes da Guiné. Recordo-me de em Bambadinca, no regresso da operação de invasão a Conakry (Op Mar Verde), alguns tipos da 1ª Companhia de Comandos Africanos (qu estavam sediados em Fá Mandinga, a tabanca do Jorge Cabral) andarem a oferecer-nos Kalash, que faziam parte parte dos seus roncos, por 500 pesos... Tive o bom senso de não comprar nenhuma... (LG).
Foto: Fonte desconhecida (2).
1. Mensagem do A. Marques Lopes (que em Julho estará em férias na sua querida Nazaré):
Caros camaradas:
A propósito dos acrónimos, gírias e calão (3), aqui vai, para conhecimento ou lembrança, como é que os guerrilheiros do PAIGC chamavam ao seu armamento.
Abraço
A. Marques Lopes
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Tipo de Armamento > DESIGNAÇÃO
Foguetão 122 mm > GRAAD ou JACTO DO POVO
Morteiro 120 mm > BADORA
Canhão S/R B-10 > BEDISCanhão S/R 75 mm > TECHONGO
Lança Granadas-Foguete PANCEROVKA P-27 > BAZOOKA BICHAN, LANÇA GRANDE, PAU DE PILA, BAZOOKA CHINÊS
Metralhadora Pesada DEGTYAREV (DSHK) Cal. 12,7 mm M-38/56 > DEKA, DESSEQUE, DCK,
Metralhadora Ligeira DEGTYAREV DP Cal. 7,62 mm > BIPÉ DISCO ou DISCO BIPÉ SOVIÉTICO
Espingarda Automática KALASHNIKOV (AK) Cal. 7,62 mm > AKA ou ACAG3, PM SOVIÉTICO
Pistola-Metralhadora M-23 > MERENGUE
Pistola CESKA ZBROJOVKA Cal. 7,65 mm > PISTOLA SEMI-AUTOMÁTICA
Pistola CESKA ZBROJOVKA Cal. 6,35 mm > PISTOLA SEMI-AUTOMÁTICA PEQUENA
Uma pistola de origem soviética, Tokarev, de 7,62, igual ou parecida à que que foi apreendida ao guerrilheiro Festa Na Lona, na Ponta do Inglês, no decurso da Op Safira Única ... Pelo que me recordo, esta pistola ficou à guarda do Alf Mil Abel Maria Rodrigues, comandante do 3º Grupo de Combate, que a tomou como ronco... Não sei se a conseguiu trazer para o Continente e legalizá-la... Ao que parece, esta arma teve a sua estreia na Guerra Civil de Espanha, em 1936, nas fileiras do exército republicano, estando distribuída a pilotos e tripulações de tanques, entre outros... (LG) (4).
Fonte: © Kentaur, República Checa (2006).
Guiné > Região do Cacheu >Caboiana > 38ª CCmds > Acção Jovenca > 31 de Dezembro de 1972 > A espingrada semiautomática russa Simonov, capturada a um guerrilheiro abatido.
Foto: © Amilcar Mendes (2006). Direitos reservados.
Lisboa > Museu Militar (1) > O foguetão 122 mm ou a arma especial Grad (na terminologia do PAIGC).
Foto: © Nuno Rubim (2007). Direitos reservados.
Guiné > Bissau > Fevereiro de 1968 > Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, por ocasião da visita do Presidente da República, Alm Américo Tomás > Metralhadoras pesadas Degtyarev, de origem soviética (6).
Foto: © Victor Condeço (2007). Direitos reservados .
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Notas de A.M.L.:
(*) Mas era de fabrico soviético, tal como o RPG-7 .
(**) Nós chamavamos-lhe costureirinha.
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 29 de Maio de 2006 > Guiné 63/74- DCCCXVIII: Confissões de um pacifista: A minha paixão pela bela Kalash (João Tunes)
(2) Vd. post de 16 de Maio de 2005 > Guiné 69/71 - XIX: O festival das kalash, das 'costureirinhas', dos rockets e dos katiousha (Luís Graça)
(3) Vd. último post da série Abreviaturas, etc. > 26 de Junho de 2007 > Giuiné 63/74 - P1887: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (3)... (Zé Teixeira)
(4) Vd. post de 19 Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXLI: Ponta do Inglês, Janeiro de 1970 (CCAÇ 12 e CART 2520): capturados 15 elementos da população e um guerrilheiro armado (Luís Graça)
(5) Vd. post de 15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1280: A vida de um comando (A. Mendes, 38ª CCmds) (7): Um tiro de misericórdia em Caboiana
(6) Vd. post de 13 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1756: Exposição de armamento apreendido ao PAIGC, aquando da visita de Américo Tomás (Bissau, 1968) (Victor Condeço)
Guiné 63/74 - P1889: Tabanca Grande (20): Inácio Silva, 1.º Cabo Apontador de Metralhadora, CART 2732 (Mansabá, 1970/72)
Caro Luís Graça:
Não tive, ainda, o prazer de te conhecer pessoalmente, mas tão só em fotografia. Mas, por aquilo que está publicado, quer na tua página, quer nos teus blogues, tenho que me curvar perante a quantidade e a qualidade de tantos artigos publicados, fotografias, histórias, etc., que não deixarão cair no esquecimento o período da História de Portugal que, embora sem mérito para o País, marcou, profundamente, os seus jovens, os pais e as famílias, no período compreendido entre os anos de 1961 e 1974. Quero dar-te os meus sinceros parabéns.
Fui camarada do Carlos Vinhal, na CART 2732, que esteve em Mansabá, Guiné, entre 1970 e 1972. Só há cerca de dois meses consegui redescobri-lo, precisamente através do teu blogue. Desde então, temos mantido contactos regulares, através da internet e do Windows Live Messenger.
Tenho estado empenhado, também, em ajudar a que se faça justiça, relativamente à dívida de gratidão que o País tem para com os ex-combatentes. Refiro-me ao Complemento Especial de Pensão, previsto na Lei 9/2002. Neste sentido, criei o blogue Relembrar para Não Esquecer (http://guerracolonial.blogs.sapo.pt/) onde estão publicados os documentos que se relacionam com este tema.
Em breve irei precisar da tua colaboração para anunciar a recolha de assinaturas para o abaixo-assinado que, certamente, terá que ser feito, para acompanhar uma nova Petição, a dirigir à Assembleia da República.
Por agora, desejo que me consideres mais um elemento da tua tertúlia...
Para que fiques com alguns elementos a meu respeito, informo-te que fui 1.º Cabo de Art, com o n.º mec.º 06101569, sou oriundo da Madeira e que, como camarada do Carlos Vinhal, ambos vivenciámos episódios comuns, em Mansabá.
Oportunamente, far-te-ei chegar um pouco do que ainda se encontra na memória, sobre o período que correspondeu à estada na Guiné, conforme a vivi e entendi.
Envio-te duas fotos, conforme é solicitado.
Um grande abraço do
Inácio Silva
2. Comentário do co-editor, Carlos Vinhal:
Caro Inácio:
Como adivinhas, é com um enorme prazer que te dou as boas vindas ao nosso Blogue. É uma alegria ter um companheiro de luta, junto de mim.
Entre os tertulianos há alguns camaradas que são, entre si, colegas de Companhia, ou pelo menos de Batalhão. Eu estava só e com nenhumas perspectivas de ter alguém que me chamasse a atenção para um escrito menos verdadeiro, pois o tempo vai desvanecendo a memória e a realidade vai-se confundindo com a ficção.
Chegaste tu para contares estórias que eu não vivi, porque não estive em todas, felizmente.
És além de tudo um Madeirense, representante de um povo que eu desde a primeira hora neste Blogue, exaltei como destemido, humilde no melhor sentido da palavra e, acima de tudo, leal para com os seus superiores de ocasião. Nunca se pouparam a esforços para levarem a cabo as missões confiadas, muitas vezes com desprezo pela própria vida, imbuídos de um dever patriótico.
Em meu nome e no do Luís Graça, bem-vindo.
Fraternal abraço do camarada
Carlos Vinhal
terça-feira, 26 de junho de 2007
Guiné 63/74 - P1888: Tabanca Grande (19): Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf, CART 3492/BART 3873 (Xitole, 71/74)
Caro Luís Graça e caros camaradas tertulianos
O meu nome é Álvaro Basto, tenho 58 anos e, tal como vocês, não escapei ao Servicinho Militar Obrigatório em 70.
Após algumas cabulices no liceu, fui incorporado nas Caldas da Rainha e posteriormente em Lisboa no HMP - Hospital Militar Principal - vindo, após os 3 meses obrigatórios da especialidade, a ser integrado como enfermeiro no HMR (Hospital Militar Regional) do Porto onde sempre vivi e onde permaneci um ano inteiro (pertinho de casa, vejam lá a sorte e os maus hábitos que adquiri)...
No início de Dezembro de 1971 sou informado que iria embarcar no dia 18 seguinte para a Guiné (imaginem o choque lá em casa, filho único... há um ano praticamente em regime de emprego civil perto de casa; enfim, foi o drama, um drama afinal igual a tantos e tantos outros que na altura grassavam pelas famílias portuguesas...).
Não embarquei no dia 18 mas em 22 desse mesmo mês (acho que a explicação já foi aqui, na tertúlia, avançada por um camarada) e foi nessa viagem que conheci o Mexia Alves, o António Barroso e o Artur Soares, digníssimos tertulianos aqui presentes, integrado na CART 3492 (Xitole) do BART 3873 (Bambadinca).
Temos pois muitas estórias em comum e um acervo fotográfico interessante que, apesar do desgaste do colorido provocado pelo tempo, se tem mantido em condições razoáveis.
Logo após o regresso da Guiné que para mim, por ser Furriel Enfermeiro, durou até ao dia 1 de Abril de 1974 (dia de enganos, daí eu dizer sempre que só regressei de lá vivo por engano...), ainda mantive o contacto com alguns daqueles com quem mais tinha privado, mas o stress era tal que decidi afastar de vez da mente aquela época vivida longe, que teve muitos maus momentos, mas teve sobretudo um papel importantíssimo na minha formação social com os seus incontáveis momentos de alegria e descontracção, que em conjunto aí vivemos todos.
Tive entretanto, nos anos seguintes, conhecimento que havia encontros anuais dos antigos resistentes, especialmente da CCS de Bambadinca mas por uma razão ou por outra nunca apareci. O grande dinamizador era o Fur Enf da CCS (único elemento profissional já que todos nós enfermeiros éramos, além de milicianos na tropa, milicianos na enfermagem, isto para não dizer verdadeiros enfermeiros - proveta). A memória já não é o que era e, além de lhe ter perdido o rasto esqueci, para vergonha minha, até o seu nome...
Tantas vezes ele insistiu em vão que acabou por desistir de me contactar. Mais recentemente, e já com algum tempo livre, dado que estou reformado, decidi fazer uma daquelas arrumações que me ajudam a superar as neuras, e as caixas dos slides da Guiné lá estavam todas alinhadinhas e arrumadas num armário do escritório.... Lembrei-me.... e se eu digitalizasse isto tudo? E assim fiz...
Por ironia do destino, nesse dia recebo uma chamada telefónica do António Vilas Boas Barroso, daqui de Valadares, a perguntar que era feito de mim... Vejam lá, há 34 anos que não falávamos e aqui tão perto...
Foi ele que me falou do blogue e, a partir daí, tem sido um revirar e um revirar com a colher de pau no caldeirão das memórias.
Acho que lhe perdi o medo.-
Eu também estive no Quirafo.. Já só fui ajudar a identificar os mortos nos balneários do Saltinho. Fui de heli com o médico Dr. Azevedo (se não me engano, que isto da memória às vezes prega-nos partidas)... E imaginem como fiquei ao ler os relatos e testemunhos que aqui foram deixados sobre esse fatídico dia de Abril... Recordo sobretudo e infelizmente o Armandino e os pormenores mais macabros que me levaram a perder o sono durante muito tempo e a recorrer, de forma quase viciante, às diazepinas (valiuns) para dormir e sossegar a mente e o medo....
Quando após o 25 de Abril leio, uma bela manhã, na primeira página do Jornal de Notícias, do Porto, a reportagem do morto que, afinal, estava vivo, a visitar a sua campa no cemitério de S. Mamede Infesta com a namorada que afinal já tinha casado com outro porque se julgava livre, imaginem como fiquei!... Era mesmo o tal transmissões que foi alapando na emboscada do Quirafo. Durante anos guardei a reportagem do jornal mas acabei por deitá-la fora numa dessas minhas alucinadas crises de arrumação compulsiva... Como lamento hoje....
Queria terminar fazendo referência a um e-mail que aqui foi reproduzido de um tal Artur Pereira, cabo enfermeiro no Xitole em 72/74, há vinte e tal anos na Austrália e de quem o Mexia Alves já não se recordava a cara...Aqui vai uma foto dele. Escrevi-lhe um e-mail emocionado, pois era mesmo um os cabos enfermeiros da minha companhia, um alfacinha de gema, calmo e dedicado, e de quem guardo muitas e boas recordações.
Aproveito para enviar igualmente as fotos da praxe, o antes e o depois....
Finalizo agradecendo-te, Luís, o teu enorme ´(e trabalhoso) altruísmo neste verdadeiro Serviço Publico de nos ajudares a manter viva a memória de tempo, tão importantes na nossa vida e direi mesmo na nossa formação como homens.
O contributo que este Blogue representa para a Historia Verdadeira da Guerra do Ultramar (já que tem havido tantas vezes grandes doses de mistificação a este respeito um pouco ao sabor das políticas e dos interesses imediatos dos homens) é um valor de que serás seguramente lembrado pelas gerações vindouras.
Um grande bem hajas
Álvaro Basto
ex-FurMil Enfermeiro
Rua de Recarei, 158-5-Esq.
4465-725 Leça do Balio
Matosinhos
Tel.229554932/telem 965031310
2. Mensagem do co-editor do Blogue:
Caro Amigo e Camarada Álvaro:
Diz o ditado, mais vale (um pouco) tarde do que nunca. Tu, como outros camaradas, estiveram um pouco mais de tempo à espera de terem resposta às solicitações de entrada no nosso Blogue. Não se tratou de dar muita cerimónia ao assunto, nós somos todos muito simples e modestos, mas coincidiu com uma alteração de funcionamento interno do Blogue, com transferência de mensagens dos endereços pessoais do Luís para o Gmail. As nossas desculpas a ti e aos camaradas que só este mês tiveram resposta.
És mais um representante do Concelho de Matosinhos no Blogue do Luís Graça. Por aqui já marcam presença os camaradas Marques Lopes, José Teixeira, Albano Costa, Magalhães Ribeiro, Ernesto Ribeiro, Amaro Samúdio e este camarada que te escreve. Se me esqueci de alguém, peço perdão.
Aproveito para te pedir para usares preferencialmente o endereço luisgracaecamaradasdaguine@gmail.com para envio de textos e fotos para publicação no Blogue. Assim não haverá extravio de correspondência e longas demoras na obtenção de resposta.
Outro tipo de correspondência pode ser enviado, em alternativa, para os endereços pessoais do Luís ou meus, conforme o assunto a tratar.
Já agora, não uses o Gmail para envio de mails de diversão ou similares, para não congestionar e sobrecarregar o sistema. Claro que estas observações são válidas para toda a gente.
Em meu nome e no do Luís, sê bem-vindo.
Recebe um abraço fraterno do camarada
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira
Telem 916032220
Ex-Fur Mil Art MA
CART 2732/Mansabá
CTIGuiné 1970/72
Guiné 63/74 - P1887: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (3)... (Zé Teixeira)
Foto: © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do Zé Teixeira, também conhecido, no Faroeste, como o Esquilo Sorridente...
Olá, gente boa.
Creio que nós trouxemos da Guiné todo um conjunto de palavras e frases que reflectem uma mistura de crioulo com as diversas linguas autóctenes, assimiladas em função dos locais por onde íamos passando.
A propósito, não resisto a contar uma cena vivida há cerca de três meses, num casamento em que tive o prazer de reencontrar um velho amigo da minha juventude, que viveu num Lar para jovens trabalhadores no Porto, onde eu tinha estado antes de ir para a Guerra e para onde voltei após o regresso - o Lar de S. Paulo.
Após alguma hesitação reconhecemo-nos e ele dirige-se a mim com a seguinte frase:
Corpo di bó ?
Pensei: Olha, mais um que foi lá bater com as costelas... E ripostei:
- Manga di fome, bianda cá tem, bariga eh na dê... - E continuei:
- Na pinda, tanala, talifanala . . .(bom dia, suponho que em Fula).
Seguiu-se o abraço para abafar as saudades tendo ele continuado:
- Cabeça di bó suma a cabeça di burro de Bafatá.
Onde estiveste ? Eu ? Nem à tropa fui. Tu, quando regressaste, quase não falavas português connosco. Era esta linguagem esquisita e brindou-me com um conjunto de frases: djarama anani, jametum, bianda cá tem, ó curame bianda, o curame kote, parte catota e outras.
Para enriquecer o nosso dicionário aí vão mais algumas:
Bariga eh ná dê - Estou com dores de barriga
Cabeça grandi - bébado, maluco
Djarama anani - Obrigado
Irmão de ontem - anteontem
Irmão da manhã - Depois de amanhã
Manga di chocolate - Barulho, grande ataque, com muitas morteiradas.
Manga di ronco - Que espectáculo !
Na pinda, tanalá, talifanalá - Bom dia, como está a família, as vacas, as galinhas..
O´curame - Dá-me
Parte - Dá-me
Ramassa - Diarreia
Sabe sabe - Gostoso
Suma - Igual a, parece-se com (Ketá suma cabeça grandi -Ketá está bébado , parece maluco)
Tem manga di sabe sabe - Muito gostoso
Turse - Tosse
. . . e para a próxima há mais, se me lembrar.
Um fraternal abraço.
J.Teixeira
_________
Nota de L.G.:
(1) Vd. posts de:
23 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1872: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (1)...(Luís Graça)
24 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1874: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (2)... (António Pinto / Joaquim Mexia Alves)
(2) Vd. alguns sítios com expressões em crioulo e outras línguas da Guiné-Bissau:
(i) Bantaba - Guiné -Bissau, sítio de José Canas> Arte e cultura
Línguas da Guiné-Bissau
Lista de Provérbios
Textos crioulos
(ii) Portal da Universidade de Brasília > Crioulística , página de Hildo Honório do Couto (3) > Provérbios crioulo-guineenses
(3) Hildo Honório do Couto é autor do livro O CRIOULO PORTUGUÊS DA GUINÉ-BISSAU, publicado em Hamburgo pela editora Helmut Buske Verlag, na série Kreolische Bibliotheke, n. 14, em 1994. Contacto:
Hildo Honório do Couto
Departamento de Lingüística
Universidade de Brasília
70910-900 Brasília, DF, Brasil.
email: hiho@unb.br
Guiné 63/74 - P1886: Tabanca Grande (18): Luís A. Camões de Matos, Op Cripto da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, Mansoa (1969/71)
Apresenta-se e pede autorização para entrar na Tabanca Grande o 1º Cabo Operador Cripto 13926268 Luis A. Camões de Matos, nome de guerra Cripto Camões, da CCAÇ 2589/BCAÇ 2885, do sector de MANSOA onde permaneceu de Maio de 69 até fim de Fevereiro de 71. Cripto mas não secreto desde 71.
Como já não existem mensagens secretas nem confidenciais, tenho algum material para enviar.
Sou amigo pessoal do Gabriel Gonçalves (GG) e do Fernando Franco, com quem tenho partilhado alguns comentários do blogue.
Um forte abraço
Luís Camões
As fotos de antes e depois que o camarada Luís Camões enviou para a nossa fotogaleria
2. Comentário do co-editor do Blogue
Caro Luís Camões, bem-vindo. És mais um elemento do BCAÇ 2885, já representada pelo César Dias no nosso Blogue. ´
Durante o tempo em que estivemos adstritos ao CCAÇ 2885, a CART 2732 e as vossas Companhias fizeram algumas Operações em conjunto, o que valorizou muito a nossa operacionalidade.
Assim adquirimos conhecimentos que nos foram muito úteis durante o resto da nossa Comissão de Serviço.
Esperamos de ti estórias e fotos dos teus tempos de Mansoa, onde passei muitas vezes e onde fui mordido sem dó nem piedade pelos mosquitos, bem mais bravos que os de Mansabá.
CV
Guiné 63/74 - P1885: Tabanca Grande (17): Manuel Henrique Quintas de Pinho, Marinheiro Radiotelegrafista, LDM 301 e 107 (Guiné, 1971/73)
Amigo Luís Graça:
O meu nome é MANUEL HENRIQUE QUINTAS DE PINHO, habito em Chave, uma freguesia do Concelho de Arouca, Distrito de Aveiro. Prestei serviço militar na Marinha de Guerra Portuguesa e estive na antiga província da Guiné desde Setembro de 1971 a Junho de 1973, embarcado nas lanchas de desembarque médio, primeiro na LDM 301 (que foi abatida ao efectivo por ser muito antiga e estar desactualizada, pois teria vindo da América), e depois na LDM 107, fabrico português.
Durante este período sofremos apenas um ataque directo no Rio Cacheu, perto da clareira de Olossato, a montante de Ganturé, que, embora muito forte, não causou estragos nem vítimas, felizmente. Foi no dia 26 de Janeiro de 1972, às 18.00h.
Percorri toda a Guiné, via fluvial, desde o Rio Cacine, passando pelo Rio Cumbijã até Bedanda, Tombali, Buba, Rio Geba até Porto Gole, Rio Mansoa até Mansoa, Encheia e Rio Cacheu até norte de Farim. Tenho algumas fotografias mas não consigo enviá-las. Se puder diga-me como hei-de proceder.
De qualquer modo, gosto de navegar por este Blogue, pois traz aquela saudade que ainda hoje se sente pelos bons e até menos bons momentos que lá passei. Sem outro assunto, apresento os meus cumprimentos e não podemos parar.
Henrique Pinho
Marinheiro Radiotelegrafista N.º 850/70.
2. Comentário de C.V., co-editor do blogue:
Meu caro Manuel Henrique:
A tua entrada na nossa tertúlia esteve um pouco 'enguiçada', em grande parte por causa das fotos que mandaste, num formato (pdf) que não é compatível com o nosso blogue. De qualquer modo, eu já tinha feito a tua apresentação interna. Ficamos todos mais ricos com a presença de mais um Marinheiro. Ficamos ansiosos por conhecer algumas das tuas andanças pelos rios e braços de mar da Guiné. De futuro, manda-nos as tuas fotos, de preferência em formato jpg. Recebe um grande abraço meu e do Luís Graça.
CV
Guiné 63/74 - P1884: Tabanca Grande (16): Mário Fitas, ex-Fur Mil da CCAÇ 763 (Cufar, 1965/66)
Guiné > Região de Tomboli > Cufar > CCAÇ 763 (Fev 1965/ Nov 1966) > A suite do Mário Fitas...
1. Mensagem do Carlos Vinhal, co-editor do blogue:
Amigos e camaradas: Já vos apresentei, internamente, o novo membro da nossa tertúlia ou Tabanca Grande, como quiserem... Trata-se do Mário Fitas, ex-Fur Mil que esteve na Guiné entre 1965/66 e com quem já tive o prazer de conversar pelo telefone e dar as boas vindas, em nome do Luís Graça e de todos nós.
Transcrevo uma recente mensagem dele (há outras pendentes, que ficarão a aguardar a sua vez para publicação):
2. Nome: Mário Vicente Fitas Ralheta
Posto: Furriel miliciano.
Unidade: CCAÇ 763, Guiné, Cufar, Fevereiro 1965/Novembro 1966. A minha Companhia foi a construtora do 1º aquartelamento em Cufar.
Já editei dois livros sobre a Guiné. O último Pami na Dondo a Guerrilheira, ofereço a quem desejar, basta contactar:
Mário Fitas
Rª D. Bosco 1106
2765-129 Estoril.
Gostava de entrar no vosso grupo e trocar conhecimentos sobre a Guiné. Envio, como solicitado, dados e fotografias para fazer parte com imenso gosto da Tabanca Grande. Na 1ª foto, vê-se a primeira suite no Aquartelamento de Cufar. Na 2ª foto, ficam a conhecer o jovem de hoje.
Sobre a família Brandão (1), recordo-me de um rapaz de estatura média, usando óculos que abriu uma casa de comércio em Cufar em 1966.
Com os melhores cumprimentos,
Mário Fitas
_________
Nota de C.V.:
(1) Vd. post de 6 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1819: De Catió a Lisboa, de menina a Mulher Grande ou uma história triste com final feliz (Gilda Pinho Brandão / Luís Graça)
Guiné 63/74 - P1883: Da Suécia com saudade (2) (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (2): Periquitos, no Rio Cacheu, sem munições...
Foto: © Francisco Allen & Zélia Neno (2006). Direitos reservados
Guiné > Região do Cacheu > Ingoré > 1968 > O 1º cabo enfermeiro Teixeira, da CCAÇ 2831 (1968/70), posando em cima de uma autrometralhadora Daimler, a famosa Massiel, referida do texto do José Belo. Os Maiorais estiveram cerca de 3 meses em Ingoré, onde a companhia fez o seu treino operacional, tendo depois, no final de Julho de 1968, para Buba e Quebo (Aldeia Formosa). Massiel foi a cantora espanhola que ganhou o Eurofestival da Canção de 1968, com La, Lá, Lá...(ou Tá, Tá, Tá, para o Maioral Zé Teixeira).
Foto: © José Teixeira (2007). Direitos reservados
1. Segundo texto do José Belo, ex-alf mil da CCAÇ 2381 - Os Maiorais. O texto foi escrito em Estocolmo, em Setembro de 1981, e chegou às nossas mãos através do Zé Teixeira. O autor vive na Suécia, desde 1976.
Transcrevo aqui as palavras do Zé Teixeira, em mensagem que nos mandou com data de 15 de Maio último:
"Costa Belo, Alferes do Grupo de combate onde estive integrado. pertenceu ao MFA, foi oficial de segurança em Beirolas e esteve preso em Custóias, na sequência do 25 de Novembro. Após libertado, e reintegrado, decidiu abandonar o exército, perante as traições e compadrios que lá se viviam (palavras dele) e emigrou para a Suécia, onde reorganizou a sua vida. Há cerca de um mês através da Net, localizou-me e temos trocado correspondência (...)(1).
Neste segundo texto, o José Belo "consegue de forma magistral demonstrar como nós, a tropa macaca, qual carne para canhão, éramos lançados às feras, sem dó nem piedade" (Zé Teixeira).
A chegada da CCAÇ 2381 à Guiné: periquitos, sozinhos na margem direita do Rio Cacheu, sem munições, à espera de escolta para Ingoré
por José Belo
Informaram-nos que, cedo pela manhã, a Companhia transbordava directamente do Niassa para uma lancha de desembarque [LDG] que seguiria para local algures no rio Cacheu.
As horas foram curtas para os preparativos, e as despedidas dos amigos que tomariam outros rumos.
Após arrumação das bagagens e controlo do pessoal, procurei lugar cómodo no banco de um Unimog que seguia na lancha, caindo logo em profundo sono.
O calor do Sol fez-me acordar. Choque! As cores, a vegetação, a densidade da mata, a imensidão do rio, o odor a madeiras, as ervas húmidas, as folhas apodrecidas, as aves barulhentas, o Sol trespassando as copas das árvores gigantescas e reflectindo-se, em manchas de luz, no rio.
África!
Depois de sete dias de alto-mar, não sei quantos minutos passei, imóvel, devorando, literalmente, o espectáculo majestoso. O Alferes, sentado a meu lado, acordou também.
- Porra! Parece um filme do Tarzan! - Foram as suas primeiras palavras históricas neste renovar constante de séculos, dos contactos entre as gerações lusas e as áfricas-épicas!
Depois de saudável (?) pequeno almoço de atum de conserva, cebola crua, pedaço de casqueiro duro com margarina manutensão-militar, regado com cerveja Sagres, somos finalmente informados que, dentro de uma hora desembarcaríamios numa pequena enseada na margem esquerda do rio (*).
Aí, deveria aguardar-nos a Companhia de Ingoré que nos iria acompanhar nas primeiras semanas de treino verdadeiramente operacional.
No ponto estabelecido a lancha abicou à margem e nós, com olímpica calma feita de total inexperiência, desembarcámos.
Primeira surpresa: Ninguém se encontrava no local a aguardar-nos. Segunda surpresa:
Devido à grande amplitude das marés, e outras razões de ordem operacional(???) invocadas, o Comandante da lancha esclareceu ter que abandonar o local de imediato. Segundo ele, não haveria problemas de maior, pois informara pela rádio a outra Companhia da nossa chegada.
Havia algo de imensamente ridículo, de cómico, em toda a situação. Cerca de duzentos homens, com bagagens, viaturas, abastecimentos, tudo amontoado em clareira junto ao rio.
Antevia-se, ao longe, na orla da mata densa e pantanosa, uma picada, que cerca de cem metros à frente, se perdia de vista. Estaria minada?
Deslocar um pelotão em reconhecimento?(Sentíamo-nos tão verdes) Aguardar?
E o tempo ia passando!
A nossa presença por certo já estaria detectada pelos guerrilheiros. A lancha fizera uma barulheira incrível ao penetrar no tarrafo, assim como as viaturas ao procurarem desatolar-se na margem.
Por fim, alguém sugeriu que talvez fosse conveniente... montar um arremedo de
segurança, enquanto íamos aguardando.
Bruscamente, naquela pasmaceira paisana à beira-rio plantada, surgiram vozes
enérgicas de comando. Secas. Directas. Objectivas. Montaram-se morteiros, metralhadoras de bipé, e até a pesada Breda, relíquia de guerras passadas! Deslocaram-se secções de atiradores para locais estratégicos.
Após curto espaço de tempo tínhamos algum pessoal instalado defensivamente, empoeirando os camuflados virgens, em arremedos de instruções recebidas nas calmas planuras de Santa Margarida.
O tempo continuava a passar. À medida que as horas iam correndo, e a noite se aproximava, um pesado silêncio começava a surgir. Quando ninguém já se atrevia a conversar, ouviu-se voz perplexa de um Furriel, gritando de uma das secções instaladas, de armas belicamente empunhadas:
- Mas.....NINGUÉM TEM MUNIÇÕES!
Não é a Companhia que nos vem buscar que as há-de trazer para nós? Outra voz (esta em cerrado dialecto Portuense):
- Carago! Lembrem-se de Aljubarrota! Forma-se já um quadrado!
Maio, 1968, Margens do Cacheu
José Belo
_______________
Nota do Zé Teixeira
(*) S. Vicente no Rio Cacheu.
2. Comentário do Zé Teixeira:
Este texto do Belo trouxe-me à memória muita coisa. Efectivamente a nossa entrada no teatro de guerra foi (dito hoje) um tanto hilariante, para quem sabia que ia entrar numa guerra totalmente desconhecida, onde a história recente apontava todos os dias nos jornais mortes e mais mortes. De facto, somos deixados na berma de um rio onde a mosquitagem desde logo começou a tomar conta do nosso corpo e nem uma bala para poder disparar se o IN nos fosse cumprimentar à sua maneira. Ele que com toda a certeza estava avisado da chegada dos periquitos.
E há tantas outras situações vividas e sentidas por cada, um à sua maneira. Eu, à chegada a S.Vicente, só pensei em encostar-me a uma árvore e deixar o pensamento vaguear pelo passado recente, a família, a namorada e o medo do futuro.
O Belo ajudou-me a recordar a angústia que sentimos quando alguém disse qualquer coisa do género: "Se os turras atacarem, morremos aqui todos"... e a alegria que sentimos quando ouvimos o roncar dos motores e nos aparece uma viatura estranha com uma arma que não conhecia, um branco em cima a acenar.
Era uma Daimler cujo nome numa mais me esqueceu, Massiel, o que correspondia ao nome da cantora espanhola que nesse ano tinha ganho a canção da Eurovisão com uma cantiga cuja estrofe era Lá, Lá, Lá . Tenho ainda uma foto da cuja, que no reverso tem escrito por mim: "!Esta em vez de cantar Lá,Lá lá lá, canta Tá,tá tá, Tá" (2).
Toda a velhada gritava Piu ! Piu! Piu !Piu Piu!, ... Mas o que é isto ? Não sabem receber-nos com uma cantilena diferente !?
Pelo caminho, tomamos contacto com os jagudis, no alto das palmeiras, que bichos feios, horrendos mesmo. São assim os pássaros da Guiné ?
Mais além, dois pretos de minitanga, cuja côr se desconhecia tal era o sujo e a catana que ambos levavam (Balantas, descobri uns tempo depois). Será que ainda estamos na guerra da catana? Mas então porque não os matamos, antes que nos cortem o pescoço ? A terra vermelha, o calor no fim de tarde, a forma como os velhinhos se colocavam no terreno, o silêncio cortado pelo grito estranho de pássaros ainda mais estranhos, a selva fechada, outras vezes grandes espaços de palha seca, capim e uma G3 na mão sem balas . . .
Este desencanto quebrou-se quando ao longe vimos umas palhotas de palha, como nos filmes e uma revoada de crianças negras, sujas, esfarrapadas, a correr ao nosso encontro. Depois uns tantos homens, descalços, meios fardados, de Mauser às costas: quem eram? amigos ? inimigos ? porque estavam ali ?
A mulher com os peitos até ao umbigo e aquela criança a chupar a teta tão mirrada!
As outras mulheres de peito ao léu, com as crianças às costas e o melhor da festa as bajudas de mama, redondinha e firme, bonitas como eu nunca tinha imaginado uma preta, semi escondidas atrás das mulheres, com o seu sorriso deslumbrante.
E veio a noite. Camas para dormir, o cimento do chão da caserna (durante dois meses) e depois vieram as histórias dos velhinhos, aterradoras. Feridos, mortos, emboscadas, ataques ao quartel. São capazes de aparecer por cá hoje. Chegaram os periquitos e nós sem munições ! Que belo começo !
Impressionante memória a do Belo, que não pode deixar escapar estes e tantos outros pormenores que agora no aproximar da velhice nos vem à memória de forma acutilante. Precisamos de construir a nossa história, a verdadeira história de uma classe em extinção, a dos antigos combatentes
J.Teixeira (3)
Esquilo Sorridente
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Notas de L.G.:
(1) Vd. post de 6 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1818: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (1): Hino à Guiné que nós conhecemos
(2) Acho que o título mais apropriado para este posta,s eria (o espaço não o permite): Periquitos, na margem direita do Rio Cacheu, sem munições, à espera de Massiel...
Há um vídeo no You Tube com a exibição da guapa Massiel, no Festival da Eurovisão de 1968, cantando a referida canção, que esteve originalmente para ser interpretada pelo catalão Joan Manuel Serrat, obrigado entretanto a fugir do país... O ditador Franco ainda era vivo e poderoso. Portugal, representado por Carlos Mendes e a canção Verão, ficou em 11º posição, com cinco pontos...
(3) Vd., entre outros, os seguintes textos do Zé Teixeira:
15 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCLXXIII: CCAÇ 2381 (Buba e Empada, 1968/70) (José Teixeira)
4 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXX: Pensando... A Guiné que em (re)(vi)vi (2005) (José Teixeira)
3 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXVIII: Pensando... A Guiné que eu (vi)vi (1968/70) (José Teixeira)
1 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDX: O meu diário (José Teixeira, CCAÇ 2381) (1): Buba, Julho de 1968
segunda-feira, 25 de junho de 2007
Guiné 63/74 - P1882: A Bissau do nosso tempo: o Forte da Amura, a loja do Sr. Mário Lima, o Café Bento... (António Estácio / David Guimarães)
Foto: © David J. Guimarães (2005). Direitos reservados.
1. Mensagem de António Estácio, enviada ao nosso camarada David Guimarães:
Exmo. Senhor:
Sou natural da Guiné, tendo nascido em Bissau (1947) e lá vivido até 1964.
Ao procurar informação sobre a Guiné-Bissau, deparei com um erro na foto do seguinte modo identificada: Guiné-Bissau > Bissau > 2001 > Praceta junto ao Forte da Amura (construção militar setecentista), por detrás do antigo Café Bento ou a famosa 5ª Repartição no tempo da guerra colonial
O erro reside no facto de não ser "... detrás do antigo Café Bento ou a famosa 5ª Repartição no tempo da guerra colonial ", mas sim a loja pertencente ao Sr. Mário Lima, loja essa situada numa esquina e que dava para a Praceta triangular junto à fortaleza da Amura e a Avenida que daí (Praceta) se estendia até ao Quartel de Santa Lúzia, passando pelo antigo Hospital Central de Bissau.
Atenciosamente me subscrevo, agradecendo a rectificação da legenda.
António Estácio
Guiné-Bissau > Bissau > Mapa pós-independência > Segundo o António Estácio, a loja do Sr. Mário Lima situava-se numa esquina, dando para a Praceta triangular junto à fortaleza da Amura e para Avenida [hoje Pansau Na Isna]que se estendia até ao Quartel de Santa Lúzia, passando pelo antigo Hospital Central de Bissau [, hoje Hospital Nacioanl Simão Mendes]. Assinala-se,a azul, a praceta triangular (LG).
Foto: © A. Marques Lopes (2005). Direitos reservados.
Em caso de dúvida ou de contestação no que afirmo, poderei ser directamente contactado pelos telef. 21-9229058 (casa) ou 96-2696155.
2. Resposta do David Guimarães:
Caríssimo amigo,
Venho junto do meu amigo então agradecer o pormenor - porque não mais se trata de um pormenor, embora interessante... É verdade o que está a dizer, contudo o café Bento, a parte detrás, ficava naquelas imediações, como sabe. Nem nós agora saberíamos a existência da loja do Sr. Mário Lima, nem tão pouco de um sapateiro rápido (e até creio que havia por aí - em que a senhora era de Bragança)... Como sabe ou sabemos, efectivamente as traseiras do café Bento ficava mais para a rua que subia ali acima ... e que tive oportunidade de em 2001 percorrer a pé... No entanto este é o ponto de referência daí...
De qualquer das formas agradeço a rectificação do pormenor, em nome pessoal, sendo que não fui eu que redigi, por inteiro, a legenda... Tudo nos fica em memória ou ficou e agora embora falível, como é natural, andamos sempre muito próximos da realidade... Importam também comentários como o seu, prezado amigo, que muito nos ajudará a fazer deste projecto, na Net , em que estamos embrenhados, um acervo documental cada vez mais rico...
Aquela zona ali era muito conhecida por nós, como sabe, pois dali apanhávamos boleia para o QG [ Quartel General] que ficava para os lados de Santa Luzia...
Obrigado pelo pormenor da loja do Sr. Mário Lima de que não tenho qualquer ideia. Naturalmente, em 2001 quando fui lá, não existia, a não ser o local. Aliás, Bissau é uma cidade de portas fechadas, infelizmente.
Um abraço,
David Guimarães
Guiné 63/74 - P1881: História de vida (1): N.R., aliás, Nuno Rodrigues, nascido em 62, filho de sargento do BCP 12, aluno do liceu Honório Barreto
Guiné > Bissau > Anos 50 > "O novo liceu Honório Barreto. O antigo liceu funcionava no edifício da praça do Império que era também museu e biblioteca. Esse edifício, que ainda lá está embora quase arruinado, era por nós apelidado de “chapéu de palhaço” pela semelhança que o torreão central tinha com o dito chapéu" (Mário Dias) (1).
Foto e legenda: © Mário Dias (2006). Direitos reservados
Comentário de NR ao post de 24 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1874: Abreviaturas, siglas, acrónimos, gíria, calão, expressões idiomáticas, crioulo (2)... (António Pinto / Joaquim Mexia Alves)
NR é Nuno Rodrigues, mas não se pode identificar como camarada (no bom sentido em uso no blogue). Só veio ao mundo em 62, altura em que os camaradas já andavam nestas andanças. Mesmo assim é capaz de bater alguns em tempo de serviço: uma comissãozita na Guiné, entre 69 e 74, antecedidade de outra de 2 anos em Angola mas da qual nada se lembra (aliás, 2 anos devia ser também a idade nessa altura).
Porém completou o 3ª ano no Liceu Honório Barreto (o antigo 3º ano), o que lhe deu manga de experiência no crioulo e nas bajudas... é uma idade danada, nada se esquece.
O camarada era o pai, 2º sargento pára-quedista que estava no BCP 12.
Vai daí que por arrasto passava o tempo nos mesmos circuitos (excepto no mato, claro), frequentava os mesmos hospitais, bares (só podia beber Coca-Cola ou 7UP), cinemas (também não havia muitos, o do da Base e do da UDIB) e festas.
Embora com menos vitalidade, muitos dos camaradas do Liceu dessa altura também ainda se mantêm em contacto, fazem blogs e outras coisas do género e discutem e recordam esses tempos... aliás, é por isso que vasculhamos o blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
Seria alguma coisa do clima?
Um abraço a todos
A ver se as memórias não se perdem!
2. Comentário de L.G.
Nuno, filho de camarada nosso, nosso camarada é... Venham para cá essas estórias de Bissau, de Bissalanca, do UDID, do Honório Barreto... Por outro lado, já reparaste que há malta no nosso blogue, que pertenceu ao BCP 12, nomeadamente o Victor Tavares (que era da CCP 121, 1972/74) ? Espero que o teu velhote ainda esteja em boa forma. Dá-lhe um abração. L.G.
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 15 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXX: Memórias do antigamente (Mário Dias) (3): O progresso chega a Bissau
O Liceu Honório Barreto foi criado em 1958/59, segundo foi informado pela a página da AD - Acção para o Desenvolvimento > Guiné-Bissau > História e Dados Económicos:
(...) Em 1942 a capital muda de Bolama para Bissau, que já então era, de facto, a 'capital económica' da Guiné.
Em 1950, dos 512.255 residentes só 8320 eram considerados civilizados (2273 brancos, 4568 mestiços, 1478 negros e 11 indianos) e destes, 3824 eram analfabetos (541 brancos, 2311 mestiços e 772 negros).
Em 1959, 3525 alunos frequentavam o ensino primário, 249 o Liceu Honório Barreto (criado em 1958-59) e 1051 a Escola Industrial e Comercial de Bissau (...).
Guiné 63/74 - P1880: Uma farda universal para miliciano se identificar (Beja Santos)
Bilhete de identidade militar do Aspirante Miliciano Mário Beja Santos, emitido pelo Ministério do Exército em 16 de Dezembro de 1967.
Foto: © Beja Santos Beja Santos (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem de Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):
Quando vi o Matos Francisco (1) fardado, até tive a ilusão que ele comprara uma farda com o seu número, tão perfeita é a adequação entre o homem e a indumentária. Para quem não se recorda, quando íamos ao fotógrafo posar para o bilhete que, creio, só servia para os transportes, para a polícia militar e para entrar no Casão, havia dois modelos à escolha, o destinado aos altos e aos baixos. Nada de contemplações com os magros, os macrocéfalos, braços longos ou curtos. Havia gente dentro da bitola e os que escapavam.
Olhando à distância de 40 anos, logo me veio à presença um chapéu estreitíssimo e uma roupa cheia de chumaços que me tornou um atleta, eu fiquei contente porque não mostrei os meus braços de símio, era um magrizelas transformado em atleta e até gostei do meu ar de sargento da polícia. Aquelas fardas estavam ligeiramente sebentas, tais e tantas fotografias tiraram de gente estranha ao equipamento universal.
Para que conste...
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)
Guiné 63/74 - P1879: Henrique Matos Francisco, brindo à tua chegada e à memória do nosso Pel Caç Nat 52 (Beja Santos)
Em louvação dos nossos camaradas, da sua estima, do seu esforço e da nossa memória
Meu Querido Henrique Matos Francisco (1), eu posso imaginar amanhã a estupefacção e a alegria do Queta quando, no dealbar da manhã, eu lhe mostrar a tua foto e o teu ingresso no blogue. Vai haver risada pela certa, o Queta é muito disciplinado, sabe que a nossa agenda de trabalho tem a ver com a ida ao Enxalé, o patrulhamento dos piriquitos da CCAÇ 12 perto de Madina, os trabalhos em Finete nos finais de Julho de 69 e a dolorosa emboscada em Malandim onde alguém me chamou branco assassino (sic).
Mas tenho quase a certeza que o Queta te vai mandar um grande abraço, tu fazes parte do imaginário do Cuor, nas noites de narrativa oral o teu nome vinha à baila, vai ser bom colarmos a existência do 52 aos seus diferentes comandantes, a começar por ti. Quando, no sábado, depois de ler os resumos do Guardian e do El Pais, entrei na nossa pátria de recordações e tu apareceste, quero que saibas que me escorreram algumas lágrimas por ver vincar-se a memória das nossas lutas, tornar-se possível ler a história do combate dos nossos soldados e saber que tu estás bem.
A outra alegria que tive foi saber que tu és jorgense, ilha onde passei férias na região da Calheta. Deves ter orgulho nas belezas naturais do teu chão, não há hortênsias com azul mineral mais intenso que aquelas que vi entre a Calheta e o Topo. E para quem não sabe, a Caldeira do Espírito Santo é uma formusura de lava que transcende todos os espaços mágicos dos ambientes vulcânicos.
Tens aqui no blogue toda a história que se iniciou a 4 de Agosto de 68, tu não estavas, há meses que o Saiegh comandava o 52. Dentro em breve, estaremos em Agosto de 69, aqui findará, mas sem interrupção, o primeiro ano do meu diário de bordo, continuam as idas a Mato de Cão, volto ao Xime, caio novamente doente a ponto de ditar as minhas cartas mais íntimas, assistirei ao desmoronamento psíquico do meu lugar-tenente, farei mais emboscadas, Missirá continuará a sofrer pequenas flagelações, como eu esperava Finete será dura e longamente flagelada, teremos depois uma mina anti-carro não muito longe onde se volatizou um burrinho do pelotão do Zagalo (a propósito, nunca chegaste à fala com o Zagalo?) e por aí adiante.
Amanhã à tarde o teu nome será falado na comunidade guineense que se reúne no Rossio. Depois, pelo telefone, farei constar ao Cherno que Matos Francisco existe e tem coisas para contar. Ele irá a Missirá dar a notícia ao régulo Bacari Soncó. Brindo à tua chegada, desejo-te longa vida e quero contar contigo e o Mexia Alves e o Nelson Wahnon Reis para que a história do 52 fique na memória de Portugal e da Guiné-Bissau.
Recebe um abraço do
Mário Beja Santos.
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 22 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1871: Tabanca Grande (15): Henrique Matos, ex-Comandante do Pel Caç Nat 52 (Enxalé, 1966/68)