Metrópole–Biambe
2ª Parte
Biambe (I)
Entretanto o tempo foi-se passando em Bissorã até que por ter perdido a coluna militar para Bissau conforme relatei anteriormente no blogue e por conseguinte ainda ali me encontrar o meu Comandante aproveitou a minha estadia para me dizer que eu também ia participar na operação à base de Biambe e que o Gomes, meu substituto, não ia, pelo que não tive outro remédio que não fosse, como me foi ordenado, pedir-lhe que me devolvesse a G-3 e os carregadores.
Era costume estarmos presentes nos ”briefing" que antecediam às operações em que nos era permitido expor as nossas opiniões sobre os pormenores das mesmas, pelo que por norma era o único que alvitrava sempre outra alternativa à que era exposta, por me parecer que seria mais viável e menos perigosa, tanto mais que por hábito ia sempre no quarto ou quinto lugar da frente, dependia se levámos prisioneiro ou não, o que dava para perceber que era sempre do desagrado do comandante de Companhia que era Capitão de Artilharia, que não duvido seria óptimo naquela arma, mas não tanto a comandar pela primeira vez no terreno uma companhia de infantaria.
Neste curto “briefing” relativo ao golpe de mão àquela base, o Comandante indicou-nos que iam 4 africanos mas cujas funções não foram claramente mencionadas pelo que segui para a operação com a impressão de que eram 3 guias e 1 guia prisioneiro, por ser o único que se encontrava amarrado. Só depois de ler o relatório é que fiquei a saber que afinal eram 2 guias e 2 guias prisioneiros.
Embora a minha secção, a 1ª do 1º Pelotão, por norma seguisse sempre à testa da Companhia (da 2ª era o Cruz e da 3ª o Bragança), naquele dia, devido à ausência do meu comandante de Pelotão, o Alferes Ferreira que tinha sido ferido, tal como eu na operação em Cancongo mas com mais gravidade e encontrava-se hospitalizado, parti do princípio que no final da reunião o Comandante da Companhia ia dar ordem para um oficial seguir à frente com o respectivo pelotão.
Estava enganado pois deu-me instruções para seguir igualmente à frente da coluna levar um dos guia e o prisioneiro que estava amarrado acrescentando que quando chegasse a altura devia tomar as decisões que fossem necessárias.
Assim partimos para a operação às 23.15h.
Furriéis da CART 730 – Da esq. para a dir. Venda, Vira, Alcides, Cruz (minas e armadilhas -à frente), Almeida, Passos (transmissões) Parreira (operações especiais), Reis (manutenção auto) e Ribeiro (sapador).
Esta operação, embora o resultado esteja correcto, não foi exactamente, nem podia ser, como consta no relatório abaixo.
Na realidade apenas 5 homens incorporados na Companhia estiveram nas 12 casas de mato que faziam parte da referida base, conforme passo a descrever.
Seguíamos há várias horas pelo trilho em direcção ao que pensávamos ser o objectivo quando num certo ponto o guia que ia à frente da coluna, precedido pelo prisioneiro que ia amarrado com uma corda pela cintura e estava ao cuidado do Leitão, colocou-se ao lado do prisioneiro, trocou umas breves palavras e depois disse-me que nos estávamos a aproximar de uma Tabanca.
Dei ordem para prosseguir e quando a mesma estivesse visível que me avisasse.
Passado algum tempo apontou-me na direcção de uma enorme tabanca que se podia avistar não muito ao longe e disse-me que devia estar abandonada. Nesse momento parei e por conseguinte a coluna também, pelo que não querendo assumir a responsabilidade que me tinha sido dada por não se tratar da Base de Biambe disse ao soldado que seguia atrás de mim para ir rapidamente informar o Capitão que se estava a avistar uma Tabanca que pelo silêncio devia estar deserta pois não houve reacção nem fuga apressada à aproximação da Companhia e assim ficava a aguardar instruções, no pressuposto que o Comandante me ia chamar para trocar impressões ou então mandar dizer para evitar a Tabanca e seguir por outro trilho na direcção do objectivo.
Fiquei algum tempo à espera das instruções quando para minha surpresa sou ultrapassado por soldados que se encontravam atràs, pensando possívelmente que aquele era o objectivo e por ordem não sei de quem avançaram na direcção da Tabanca. Por outro lado, não compreendi a razão pela qual o Cruz e o Bragança também avançaram com as suas secções.
Continuei no mesmo sítio com os homens da secção até que, juntamente com os camaradas que passavam por mim dirigindo-se à Tabanca, apareceram os outros 2 guias que vinham algures na coluna (e que afinal um era guia prisioneiro, muito embora se encontrasse com liberdade de movimentos) que não avançaram e ficaram também ali parados a meu lado.
Tendo pela primeira vez no mato os 4 africanos na minha presença disse aos guias que perguntassem aos prisioneiros onde ficava a base. Falaram brevemente entre eles no dialecto local e de seguida disseram-me que um dos prisioneiros lhe garantira que a base de Biambe ficava a pouca distância dali, mas numa direcção diferente.
Na posse desta informação, e inconformado com a atitude do pessoal e perante a pacifidade dos restantes graduados perante a distorção da missão, disse à minha secção que aguardasse pois ia atrás falar com o Capitão Garcia.
Naquela altura já ele tinha começado a avançar e acompanhando-o disse-lhe que ali à frente não devia haver nada, conforme o tinha mandado informar, e que o objectivo inimigo que era a razão da missão que ele nos tinha indicado no quartel eram as casas de mato, na base de Biambe que ficavam noutra direcção segundo tinha acabado de dizer o prisioneiro e não aquelas palhotas, e que por conseguinte poderia ser mais conveniente e proveitoso esquecer a Tabanca e seguir.
No entanto não ligou às minhas palavras, que lhe foram dirigidas com boas intenções e disse-me irritado que ele é que era o Comandante da Companhia e que quem ordenava o que se devia fazer era ele. E de facto não estava errado, mas então não me desse instruções específicas antes de sairmos do aquartelamento e iniciarmos a progressão. Simplesmente a sua resposta seca, dura e autoritária na presença dos camaradas que estavam a seu lado tirando-me assim autoridade, suou-me como se tivesse sido atingido por uma chicotada pelo que como uma reacção silenciosa e com o espírito ainda desconhecido de quero, sei, posso, imediatamente me passou pela cabeça, que ia mesmo aventurar-me à procura do acampamento inimigo, apoiado por quem me quizesse acompanhar. Animado com a ideia que me tinha acabado de ocorrer acompanhei-o até ele ter chegado ao lugar onde eu tinha deixado os africanos e a secção.
O Capitão e os militares que com ele seguiam continuaram em frente eu fiquei ali e disse aos africanos para me levarem à Base e eles concordaram. Falei brevemente com os meus soldados que ainda ali continuavam no sentido de tentar persuadi-os para avançarmos para a base inimiga mas não se mostraram entusiasmados, dizendo-me que preferiam seguir também para a Tabanca o que me causou imensa frustração, contudo reconheci que estavam no seu direito de recusarem. Nestas condições e para não perder mais tempo pois deviam ser já perto das 4 horas da manhã disse ao João Maria Leitão a quem tinha sido entregue o prisioneiro amarrado, se se sentia com coragem para aquela digressão e ele disse-me que sim.
Foto com dois camaradas que sairam da minha secção na CART 730 e depois do 2º Curso ficaram na 1ª Equipa do Grupo Cmds Vampiros: António Paixão Ramalho 'Monte Trigo' e o João Maria Leitão ao lado do Alf Mil António Joaquim Pereira Vilaça (OE da CCAÇ 726), o Djamanca e o Justo. O João Leitão nos Comandos foi agraciado com a Medalha de Mérito Militar – 4ª Classe.(Da minha secção também saiu o Cândido Perna Tavares, o 'República' que ficou no mesmo Grupo mas noutra equipa).
Da Companhia sairam ainda o Furriel Joaquim Prates (que acabou por não frequentar o Curso e foi transferido para a CCAÇ 763 em Cufar, onde foi substituir outro Furriel que, por se encontrar doente, foi transferido para o QG em Bissau); o 1 Cabo Faustino dos Santos Viegas, dos 'Centuriões, que foi ferido em Jolmete em 3Ago65 e evacuado para o HMP e os soldados Jacinto da Conceição Venâncio e José de Oliveira Gonçalves, dos 'Apaches').
Desconheço os motivos pelos quais quizeram sair da CART 730 para frequentarem o 2 º. Curso de Comandos uma vez que todos nós os que o fizemos não tinhamos qualquer problema disciplinar, antes pelo contrário, o Comandante da Companhia exerceu alguma pressão para nos desencorajar, pelo que não sendo para seguirem as minhas pisadas deduzo que deva ter sido, como todos os que foram para os Comandos, pelo espírito mais acentuado de aventuras.
No meu caso não só foi pelo facto de ter sido ferido numa operação anterior - juntamente com outros camaradas e o Alf Ferreira, meu Cmdt Pelotão, ex-seminarista, que depois de ter sido também instruendo no CIOE onde era um dos melhores, uma vez chegado à Guiné desinteressou-se totalmente do exército, de tomar qualquer decisão ou dar qualquer opinião sobre as operações - mas também por ter sido abordado alguns dias antes pelo Capitão de Artilharia Aníbal Celestino Rocha, Oficial de Operações do Batalhão que eu não conhecia e que se tinha deslocado a Bissorã por razões que desconheço, que me veio falar dos Comandos, dizendo-me também que um dos Grupos em Brá precisava de pessoal.
Falso comando
É curioso mencionar que no almoço-convívio da Companhia realizado o ano passado encontrei um soldado que tinha no braço uma tatuagem a dizer Comandos-Guiné.
Como nunca o tinha visto em Brá perguntei-lhe a que Grupo pertencia, disse-me que tinha mandado fazer a tatuagem convicto que ia fazer provas para os Comandos e que iria ser aceite mas que o Capitão Garcia não o tinha deixado ir, dizendo-lhe que se deixasse ir todos os que queriam ficava com a Companhia desfalcada.
3º Curso Grupos - 3ª CCmds
Houve ainda um 3º Curso formado na Guiné que terminou em 28 de Abril de 1966. Em 30 Junho de 1966, ou seja menos de 2 meses depois de terminarem, chegou a Brá vindo da Metrópole a 3ª Companhia de Comandos.
Biambe (II)
Embrenhados num dos trilhos do mato a caminho do acampamento inimigo no último dia do mês de Fevereiro de 1965 fiquei convencido que os africanos não me estavam a enganar e que o guia prisioneiro que melhor sabia a localização não ia fugir, e que por isso iamos encontrar a Base que segundo a minha perspectiva o inimigo devia ter abandonado ao tomar conhecimento que a tropa andava por ali perto, e não teria tempo de se organizar para nos montar uma emboscada.
Naquele momento a adrenalina estava ao rubro, e pelo sim pelo não, dei instruções rigorosas aos guias para que a principal preocupação fosse a de avançarmos com todos os sentidos alerta e concentrados em pequenos pormenores que nos dessem a conhecer com a devida antecedência se o inimigo se encontrava mais à frente à nossa espera, e assim com os outros participantes iniciámos uma lenta e cuidadosa progressão.
Segundo me tinham dito a Base situava-se perto o que me fez pensar que me dava
tempo para ir e regressar à Companhia antes de terminarem de vasculhar e eventual-mente incendiarem a tabanca o que obviamente ia demorar algum tempo, ou que pelo menos não os faria esperar muito.
Estava redondamente enganado, pois por experiência própria fiquei a saber, durante os cerca de 20 anos que andei por países africanos, que para eles africanos era tudo perto, independentemente das distâncias.
Todavia há sempre um senão, e a operação não correu exactamento como tinha previsto, já que perto da madrugada mas ainda escuro vi repentinamente um vulto que em frente do único soldado que ia à minha frente saiu do trilho e correu para o mato. Apercebi-me de imediato que era o guia prisioneiro que tinha conseguido libertar-se da corda que tinha atada à cintura pelo que estando totalmente fora de questão tentar abatê-lo a tiro, como levava no bolso uma navalha espanhola instintivamente puxei por ela, abria-a o mais depressa que pude e atirei-a com toda a força na direcção onde ele tinha entrado no mato, mas claro que não lhe acertei.
Felizmente passado pouco tempo chegámos à base turra de Biambe que segundo contámos era composta por 12 casas de mato que de facto tinham sido abandonadas, possÍvelmente quando o inimigo tomou conhecimento onde a tropa se encontrava devido às labaredas das 26 palhotas que compunham a Tabanca que começavam a subir para o céu e se avistavam jà àquela distância.
Perante este panorama mandava a prudência que saissemos dali o mais rapidamente possível tanto mais que um prisioneiro que conhecia aquela zona tão bem como as palmas da mão tinha fugido e caso entrasse em contacto com os seus camaradas, que devia ser a sua intenção, iria pela certa denunciar a nossa presença com o intuito de nos capturarem ou abaterem e assim revistámos sumàriamente apenas algumas delas e encontrámos:
1 GMO-RG34;
4 carregadores de PM;
munições de 9mm (que depois de contadas mais tarde se veio a verificar que eram 134);
1 bolsa de pano;
1 sabre;
1 cinto de cabedal;
1 grade para GMO e vários documentos.
Para não alertar a nossa presença ao inimigo que andaria na zona e que sabia onde a tropa se encontrava mas não o nosso pequeno grupo pelo que o perigo poderia vir de um possível contacto do ex-prisioneiro dei instruções aos africanos para regressarmos com as mesmas precauções mas por um trilho diferente. Se tivessemos mais tempo e mais homens, sobretudo homens pois eramos apenas 2 militares, já que era de prever que os africanos mesmo que encontrassem não nos deviam dizer nada, teria sido possível efectuar uma busca meticulosa a todas elas e provàvelmente teriamos encontrado mais material.
Tendo a Companhia acabado de revistar e incendiar a Tabanca e querendo assim regressar, conforme vim a saber mais tarde, o Capitão mandou procurar os guias e os prisioneiros e então deu também pela minha falta, altura em que lhe disseram que
tinha seguido com eles para a base inimiga.
Dada a demora em regressarmos começaram a fazer conjecturas sobre o que nos teria acontecido, tendo então decidido dar ordem para 4 Secções irem à nossa procura. Sem nos terem encontrado pelo facto de terem seguido por uma direcção diferente, as Secções regressaram ao seio da Companhia primeiro do que nós, e òbviamente foram comunicar ao Capitão.
Quando passadas várias horas chegámos à zona da Tabanca já queimada onde a Companhia estava estacionada a aguardar o nosso eventual regresso, soldados da minha secção foram ao meu encontro, pelo que lhes perguntei onde se encontrava o Capitão para assim ir falar com ele e entregar-lhe o material capturado, e apontaram uma árvore que se situava do lado oposto onde tinhamos entrado. Quando me dirigia para a referida árvore vi de relance dois ou três soldados junto a outra árvore a apalparem uma bajuda já um pouco crescidita que talvez tivesse sido capturada na Tabanca, mas naquela altura era o que menos me interessava saber.
Postal com bajuda balanta - Mansoa
Durante o curto trajecto alguns soldados da minha secção acompanharam-me e aproveitaram para me informar que um dos assunto badalados durante a longa espera que tiveram que fazer era que o Furr. Parreira tinha saído com os guias e ninguém sabia em que direcção.
Um deles que estava bastante agitado referiu que esteve perto do Capitão que estava furioso e ouviu-o dizer aos outros oficiais que me ia levantar um processo discipinar.
Perante este facto, e devido ao perigo em que estávamos envolvidos, nem sequer me tinha passado pela cabeça essa possibilidade pelo que me deu então para perguntar se na Tabanca tinham apanhado algum material de guerra ou documentos e foi-me dito que não.
Almoço convívio em 5Mai07 em que o Cmdt. CArt 730 nos honrou com a sua presença, JP, Alf Orlando Valdez (Cmdt 2º Pelotão) Capitão Garcia e outros camaradas.
Biambe (III)
Quando, acompanhado pelo Leitão pelos três africanos e também por soldados da secção que por curiosidade deveriam querer saber em primeira mão qual o vaticínio final, me abeirei do Capitão que juntamente com os outros oficiais ainda se encontrava encostado à àrvore que me tinham referenciado pude constatar como é natural, que a sua expressão não era nada agradável. Sem o deixar falar perguntei-lhe de chofre se tinham apanhado algum material nas palhotas da tabanca e ele que não devia estar à espera que lhe perguntasse fosse o que fosse, muito pelo contrário, respondeu-me laconicamente que não.
Não lhe dando igualmente oportunidade para falar pois não estava para ouvir da sua boca qualquer reprimenda, sem lhe dar pormenores do que tinha acabado de fazer, disse-lhe calma e respeitosamente: “meu Capitão afinal esta operação não foi de todo infrutifera, pois trouxemos-lhe este material de guerra”.
Foi com tristeza que de seguida lhe tive que comunicar que o prisioneiro tinha fugido, porém ignorou tal facto e por conseguinte não fez qualquer comentário.
O material foi o mencionado no relatório, mas foi a Tabanca que foi incendiada pela Companhia e não as casas de mato, que eram 12 e não 8 conforme mencionou quem não esteve presente.
Foi reconfortante verificar que sendo um oficial amável no trato era todavia um militar exigente, mas também compreensivo pelo menos a meu ver,já que não me criticou e foi bastante benevolente pois a sua atitude mudou radicalmente, apesar de não me dirigir a palavra, limitando-se a dar de imediato ordem para a Companhia se pôr em movimento.
Seguidamente a este episódio fizemos uma batida à área de Chumbume onde localizámos um grupo com cerca de 25 elementos inimigos fardados de caqui amarelo novo, cambando a bolanha e armados de ESP Aut, PM e 1 LGF. etc.
Ataque IN a Bissorã
No dia seguinte das 00h05 as 03h00 o nosso aquartelamento e a vila de Bissorã sofreram fortes ataques IN. O IN atacou de todas as direcções excepto do lado de Binar (tabanca “da outra banda”). O IN fez uso de quase todos os tipos de armamento: P, PM, GM, Esp.aut. e repet,, ML, LGF, Mort 60 e 82. Caíram na área do aquartelamento várias granadas de morteiro e de LGF felizmente sem consequências. A forte reacção e posterior perseguição levaram o combate para longe das posições,
principalmente do lado da granja e bolanha entre as estradas de Bissorã-Mansoa e Bissorã-Binar. De madrugada consegui, a muito custo, convencer alguns soldados do pelotão para irem comigo fazer uma busca ao exterior do arame farpado, e apanhámos uma granada e um frasco de tintura. De manhã saíu um pelotão que apanhou mais material. Devido ao ataque recebemos nos nossos quartos uma bazooka e um telefone, e na parte da tarde fomos nas Mercedes buscar palmeiras para os abrigos.
Dois dias depois deslocou-se a Bissorã, o Tenente-Coronel Braancamp Sobral (conhecido como o 'Cavalo Branco') que Comandava o Quartel de Mansoa, e dava ordem de Operações. Contava depois de Biambe que mais dia menos dia houvesse coluna militar para Bissau e assim não ia fazer mais operações com a Companhia todavia assim não aconteceu.
Deste modo por ordem do meu Capitão que mais uma vez não me livrou de ir para o mato, apesar de ter um substituto, pelo que levei com mais duas operações, uma em Passe e outra em Binar.
Biambe – IV
Camaradas da m/secção da CART 730, no 4º Almoço-convívio realizado a 5Mai07, no Portal do Infante, na Marina de Lagos (de boné o 'República', GR Comds Vampiros)
No HMP e Anexo
Falando agora um pouco da secção que era composta pelos seguintes militares:
Nos 273/64 - 1º Cabo Francisco Dias
Sold 274 José Maria de Oliveira
292 António Paixão Ramalho
293 João Maria Leitão
294 Francisco José Pires
295 Armindo Jerónimo Barrelas
296 Cândido Perna Tavares
298 Jacinto Manuel Guerreiro
317 Custódio António Dias
Durante o período que dei instrução passou-se um episódio que nunca poderei esquecer.
A alegria dos soldados!!
Aquele dia estava destinado a um dos treinos de rastejar e decidi que o mesmo fosse efectuado em cima de vários objectos nada aconselháveis quando o mesmo teve que ser Interrompido devido a uma dôr súbita e muito aguda que senti na virilha direita e em que foi necessário chamarem um jipe para me levar de urgência para o Hospital Militar.
Perante o inesperado, estava eu a torcer-me com dores, mas mesmo assim não pude deixar de reparar no grande júbilo dos instruendos que se levantaram imediatamente e começaram a bater palmas de contentamento por a instrução ter terminado e, penso eu, não terem por uns tempos instrução tão árdua. A operação cirúrgica a que fui submetido decorreu bem pelo que fui transferido para o Anexo.
Estava quase a ter alta quando fui abusivamente provocado por outro dos internados pelo que, como reacção, saltei da cama e entrei numa vigorosa “guerra” de almofadas o que provocou que os pontos tivessem rebentado e como tal voltei à estaca zero. Foi durante o tempo que estive internado que se apresentaram do RAL 1 (Unidade Mobilizadora) em primeiro lugar o Alferes Ferreira e que iria ser o meu comandante de pelotão e mais tarde o Capitão Garcia Comandante da Companhia.
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 1 de agosto de 2007
Guiné 63/74 - P2019: Memória dos Lugares (1): de Elvas a Bissorã e de Lamego a Biambe, com a CART 730 (Parte I) (João Parreira)
co-editor vb:
Mensagem endereçada ao Luís Graça, do João Parreira, que a propósito do Encontro da CART 730, efectuado este ano no Algarve, aproveita para recordar o percurso nas casernas militares, em Elvas e Mafra, com passagem por Lamego até dar com os costados em Bissorã.
Missão da CART 730, ou o programa das festas
Antes de começar a minha prosa de hoje aproveito para dizer, embora o devesse ter já feito, de que desde que entrei para o teu excelente blogue, que em boa hora decidiste criar e editar em prol de todos nós que andámos pela Guiné naqueles anos difíceis, que a blogoterapia, como por vezes lhe chamamos, tem ajudado imenso já que, relatando através da escrita algumas das situações vividas aos vinte e poucos anos e nas quais nunca mais pensei, me sinta como que liberto dum certo peso, muito embora, e contra a minha vontade, não possa evitar alguma excitação ao procurar recordar em pormenor muitos daqueles momentos.
Bissorã
Tendo a CART 730 chegado a Bissorã há relativamente pouco tempo, aproveitei um dos dias de repouso e mais uma vez afastei-me do aquartelamento com um camarada, numa espécie de passeio e deparou-se-nos este macabro achado.
João Parreira, de pistola em punho para um esqueleto, algures na zona de Bissorã
Metrópole–Bissorã-(Biambe)
Iª Parte
Ao mesmo tempo que analisava o esqueleto puxei da pistola, e descontraído, pedi para ser fotografado. Depois pensei em dar uns tiros até cortar a corda, mas achei que não seria prudente pois iria alertar o IN ou alarmar as NT.
Parti do princípio que poderia ser de um africano que ajudava as NT e que, como exemplo, foi enforcado, razão pela qual ainda não o tinham tirado dali.
Antes de narrar os pormenores da operação a Biambe e uma vez que dentro de pouco tempo ia sair da Companhia e, como tal acabava-se todo um capítulo recheado de peripécias, gostaria de recuar uns meses.
No CIOE
Bem conhecido de alguns Camaradas tertulianos, já que alguns o frequentaram. Tomei a decisão a seguir descrita na operação, porque naquela altura ainda me sentia muito auto-confiante, talvez devido à aprendizagem de várias semanas que tinha recebido meses antes em Portugal nas duas fases do Curso, Mafra e Penude, que decidi frequentar, pois sabia de antemão que mais cedo ou mais tarde iria parar ao Ultramar.
Encontrava-me em Caçadores 8, em Elvas, donde seria enviado para uma Unidade Mobilizadora, pelo que antes que tal acontecesse ofereci-me para o Curso pensando que assim poderia ir melhor preparado para a guerra de guerrilha e, deste modo, salvar a pele.
Elvas, cidade militar, traz-me boas e más recordações, estando entre as primeiras as valentes farras que durante as folgas, na companhia do nosso novo tertuliano, Mário Fitas, fazíamos nas povoações vizinhas.
E entre as más, já agora porque não uma de caixão à cova? Bom. Estava de sargento de ronda, e como tal o condutor ia-me deixando à porta de cafés, bares, tascas, etc.,onde não deixava de beber aqui e ali um tinto ou uma cerveja até que a última que me lembro foi quando de regresso me encontrava a escassos metros do Quartel.
Na manhã seguinte quando acordei completamente nú no quarto que tinha alugado
num primeiro andar não me lembrava absolutamente de nada a não ser que tinha uma forte dor de cabeça devido à ressaca tendo pouco depois ficado apavorado ao reparar que não tinha a pistola, as botas, o bivaque e a farda. Enfim...
Nunca tendo tido a oportunidade de me encontrar com pessoal que frequentou o CIOE nos anos seguintes, e com o propósito de trocar recordações, aproveitei a presença no encontro do passado dia 28 de Abril em Pombal de um dos nossos camaradas da tertúlia, o Fernando Chapouto, que, para surpresa minha, me deu conhecimento que no final do ano de 1964, ou seja passados poucos meses, o curso foi alterado para uma só fase - e a razão da qual gostaria de saber- que foi ministrada em Lamego, ficando os instruendos instalados no Quartel daquela cidade.
O General Ranger Rodolfo Bacelar Begonha foi o 1º. Oficial português a frequentar o Curso de Ranger nos EUA em 1962.
Em Abril de 1960, com a extinção do Regimento de Infantaria 9, foi criado o Centro de Instrução de Operações Especiais, conhecido como Rangers e cujos cursos se iniciaram em 1963.
Como curiosidade, faço uma descrição muito sumária dum Curso iniciado em 4 de Maio 1964. Já se passaram mais que quatro décadas e nunca vi nada escrito sobre o assunto.
Naquele tempo, como se sabe, ainda não existiam Comandos formados em Portugal.
Depois de exames médicos efectuados no Hospital da Marinha e da respectiva selecção em Mafra, ficaram aprovados 41 instruendos para frequentar um dos primeiros cursos de Rangers, regressando os outros às suas Unidades.
No C.M.E.F.E.D. (Centro Militar de Educação Física e Desportos) em Mafra, onde decorreu uma das duas fases, foi-nos logo dito que ali era tudo em passo de corrida.
Aplicaram-nos uma disciplina férrea e uma mentalização constante reservando-nos para as manhãs um crosse diário e progressivo, vários exercícios físicos, que sem nos darem descanso, levavam uns ao desespero e outros até aos limites das suas forças.
Ficámos alojados em pequenos quartos no último andar do Convento de Mafra.
Quando era necessário ir mudar de roupa para novos exercícios davam-nos 5 minutos, caso demorássemos mais eramos obrigados a fazer o que nos mandavam e que geralmente eram flexões, cangurus, etc.
O cenário dos exercícios era a Tapada, a piscina, o tanque, o campo de tiro, as estradas, as praias e as escarpas.
Sobre o olhar atento de um instrutor os cabos milicianos aguardavam a sua vez para individualmente receberem instrução.
Da parte da tarde eram ministradas aulas teóricas sobre organização militar, táctica geral, organização do terreno, itinerários, patrulhas, coordenadas topográficas e militares, orientação da carta, sobrevivência, combate na selva, etc..
´
De vez em quando ao fim da tarde tínhamos prática de tiro, lançamento de granadas e exercícios de rastejar com a arma nos braços sobre a lama e por baixo de arame farpado, sobre o qual um sargento com uma metralhadora montada num tripé fazia fogo a rasar.
CIOE-Penude
Os 41 instruendos, sob a direcção do Cmdt. Ten-Cor. Flamínio Machado da Silveira, eram orientados por 5 instrutores e 7 monitores.
Ficámos isolados num monte e instalaram-nos em 2 tendas enormes, uma para os 2 Alfs.(Inf. e Cav.) e 19 Asps.of.mil. e a outra para os 20 1ºs. Cabos mil..
Um deste Alf., o de Inf. José Alberto Cardeira Rino, alcançou em 1999 o posto de Ten.General, Ranger, que em 2002 assumiu as funções de Comandante da Inspecção-Geral do Exército.
Em Penude e nas serras limítrofes éramos diariamente postos à prova e fizeram-nos aplicar os ensinamentos obtidos.
Uma patrulha de 4 parelhas, duas de aspirantes a oficial e duas de 1ºs. Cabos mil. devidamente armada!
O João Coroa Coelho (parelha) em cima do L da placa foi parar a Angola.
Para não perdermos o hábito, os castigos continuavam, mas para pior, pois como estávamos organizados por parelhas, quando durante a noite ou madrugada tocavam uma ou mais vezes para alinharmos na parada correctamente fardados e equipados, se um se demorava um pouco mais a chegar ou não se apresentava em condições na revista o outro era igualmente penalizado.
Por azar saiu-me na rifa o Coelho que era um sorna dos diabos.
Treino num acampamento que foi montado para 3 dias
Nos Domingos à tarde davam-nos um bónus, deixavam-nos vestir à civil, enfiavam-nos dentro de uma camioneta com destino a Lamego e no centro da cidade faziam-nos saltar em cambalhota com a viatura em movimento, o que nos enchia de prazer e de orgulho pois as miúdas da terra paravam e ficavam a ver e, como tal, podíamos ter a sorte de começar um namorico.
Em Lamego juntinho a uma garota da terra (à noite houve baile).
No final das cerca de 10 semanas e depois de tanto penarmos só foi concedido aproveitamento aos 2 Alf, 10 Asp Mil e 12 Cabos Mil.
Como recompensa, ofereceram-nos uma visita às Caves da Raposeira e um distintivo para o braço, que cada um passou a usar.
Passados poucos meses todos os que frequentaram o Curso foram mobilizados para Angola, Moçambique e Guiné.
Na Guiné faleceram em combate o Fur Mil Domingos Moreira Leite em 30Jan65 e o Alf Mil Mário Henrique Santos Sasso, em 5 de Dezembro de 1965.
(Continua).
Mensagem endereçada ao Luís Graça, do João Parreira, que a propósito do Encontro da CART 730, efectuado este ano no Algarve, aproveita para recordar o percurso nas casernas militares, em Elvas e Mafra, com passagem por Lamego até dar com os costados em Bissorã.
Missão da CART 730, ou o programa das festas
Antes de começar a minha prosa de hoje aproveito para dizer, embora o devesse ter já feito, de que desde que entrei para o teu excelente blogue, que em boa hora decidiste criar e editar em prol de todos nós que andámos pela Guiné naqueles anos difíceis, que a blogoterapia, como por vezes lhe chamamos, tem ajudado imenso já que, relatando através da escrita algumas das situações vividas aos vinte e poucos anos e nas quais nunca mais pensei, me sinta como que liberto dum certo peso, muito embora, e contra a minha vontade, não possa evitar alguma excitação ao procurar recordar em pormenor muitos daqueles momentos.
Bissorã
Tendo a CART 730 chegado a Bissorã há relativamente pouco tempo, aproveitei um dos dias de repouso e mais uma vez afastei-me do aquartelamento com um camarada, numa espécie de passeio e deparou-se-nos este macabro achado.
João Parreira, de pistola em punho para um esqueleto, algures na zona de Bissorã
Metrópole–Bissorã-(Biambe)
Iª Parte
Ao mesmo tempo que analisava o esqueleto puxei da pistola, e descontraído, pedi para ser fotografado. Depois pensei em dar uns tiros até cortar a corda, mas achei que não seria prudente pois iria alertar o IN ou alarmar as NT.
Parti do princípio que poderia ser de um africano que ajudava as NT e que, como exemplo, foi enforcado, razão pela qual ainda não o tinham tirado dali.
Antes de narrar os pormenores da operação a Biambe e uma vez que dentro de pouco tempo ia sair da Companhia e, como tal acabava-se todo um capítulo recheado de peripécias, gostaria de recuar uns meses.
No CIOE
Bem conhecido de alguns Camaradas tertulianos, já que alguns o frequentaram. Tomei a decisão a seguir descrita na operação, porque naquela altura ainda me sentia muito auto-confiante, talvez devido à aprendizagem de várias semanas que tinha recebido meses antes em Portugal nas duas fases do Curso, Mafra e Penude, que decidi frequentar, pois sabia de antemão que mais cedo ou mais tarde iria parar ao Ultramar.
Encontrava-me em Caçadores 8, em Elvas, donde seria enviado para uma Unidade Mobilizadora, pelo que antes que tal acontecesse ofereci-me para o Curso pensando que assim poderia ir melhor preparado para a guerra de guerrilha e, deste modo, salvar a pele.
Elvas, cidade militar, traz-me boas e más recordações, estando entre as primeiras as valentes farras que durante as folgas, na companhia do nosso novo tertuliano, Mário Fitas, fazíamos nas povoações vizinhas.
E entre as más, já agora porque não uma de caixão à cova? Bom. Estava de sargento de ronda, e como tal o condutor ia-me deixando à porta de cafés, bares, tascas, etc.,onde não deixava de beber aqui e ali um tinto ou uma cerveja até que a última que me lembro foi quando de regresso me encontrava a escassos metros do Quartel.
Na manhã seguinte quando acordei completamente nú no quarto que tinha alugado
num primeiro andar não me lembrava absolutamente de nada a não ser que tinha uma forte dor de cabeça devido à ressaca tendo pouco depois ficado apavorado ao reparar que não tinha a pistola, as botas, o bivaque e a farda. Enfim...
Nunca tendo tido a oportunidade de me encontrar com pessoal que frequentou o CIOE nos anos seguintes, e com o propósito de trocar recordações, aproveitei a presença no encontro do passado dia 28 de Abril em Pombal de um dos nossos camaradas da tertúlia, o Fernando Chapouto, que, para surpresa minha, me deu conhecimento que no final do ano de 1964, ou seja passados poucos meses, o curso foi alterado para uma só fase - e a razão da qual gostaria de saber- que foi ministrada em Lamego, ficando os instruendos instalados no Quartel daquela cidade.
O General Ranger Rodolfo Bacelar Begonha foi o 1º. Oficial português a frequentar o Curso de Ranger nos EUA em 1962.
Em Abril de 1960, com a extinção do Regimento de Infantaria 9, foi criado o Centro de Instrução de Operações Especiais, conhecido como Rangers e cujos cursos se iniciaram em 1963.
Como curiosidade, faço uma descrição muito sumária dum Curso iniciado em 4 de Maio 1964. Já se passaram mais que quatro décadas e nunca vi nada escrito sobre o assunto.
Naquele tempo, como se sabe, ainda não existiam Comandos formados em Portugal.
Depois de exames médicos efectuados no Hospital da Marinha e da respectiva selecção em Mafra, ficaram aprovados 41 instruendos para frequentar um dos primeiros cursos de Rangers, regressando os outros às suas Unidades.
No C.M.E.F.E.D. (Centro Militar de Educação Física e Desportos) em Mafra, onde decorreu uma das duas fases, foi-nos logo dito que ali era tudo em passo de corrida.
Aplicaram-nos uma disciplina férrea e uma mentalização constante reservando-nos para as manhãs um crosse diário e progressivo, vários exercícios físicos, que sem nos darem descanso, levavam uns ao desespero e outros até aos limites das suas forças.
Ficámos alojados em pequenos quartos no último andar do Convento de Mafra.
Quando era necessário ir mudar de roupa para novos exercícios davam-nos 5 minutos, caso demorássemos mais eramos obrigados a fazer o que nos mandavam e que geralmente eram flexões, cangurus, etc.
O cenário dos exercícios era a Tapada, a piscina, o tanque, o campo de tiro, as estradas, as praias e as escarpas.
Sobre o olhar atento de um instrutor os cabos milicianos aguardavam a sua vez para individualmente receberem instrução.
Da parte da tarde eram ministradas aulas teóricas sobre organização militar, táctica geral, organização do terreno, itinerários, patrulhas, coordenadas topográficas e militares, orientação da carta, sobrevivência, combate na selva, etc..
´
De vez em quando ao fim da tarde tínhamos prática de tiro, lançamento de granadas e exercícios de rastejar com a arma nos braços sobre a lama e por baixo de arame farpado, sobre o qual um sargento com uma metralhadora montada num tripé fazia fogo a rasar.
CIOE-Penude
Os 41 instruendos, sob a direcção do Cmdt. Ten-Cor. Flamínio Machado da Silveira, eram orientados por 5 instrutores e 7 monitores.
Ficámos isolados num monte e instalaram-nos em 2 tendas enormes, uma para os 2 Alfs.(Inf. e Cav.) e 19 Asps.of.mil. e a outra para os 20 1ºs. Cabos mil..
Um deste Alf., o de Inf. José Alberto Cardeira Rino, alcançou em 1999 o posto de Ten.General, Ranger, que em 2002 assumiu as funções de Comandante da Inspecção-Geral do Exército.
Em Penude e nas serras limítrofes éramos diariamente postos à prova e fizeram-nos aplicar os ensinamentos obtidos.
Uma patrulha de 4 parelhas, duas de aspirantes a oficial e duas de 1ºs. Cabos mil. devidamente armada!
O João Coroa Coelho (parelha) em cima do L da placa foi parar a Angola.
Para não perdermos o hábito, os castigos continuavam, mas para pior, pois como estávamos organizados por parelhas, quando durante a noite ou madrugada tocavam uma ou mais vezes para alinharmos na parada correctamente fardados e equipados, se um se demorava um pouco mais a chegar ou não se apresentava em condições na revista o outro era igualmente penalizado.
Por azar saiu-me na rifa o Coelho que era um sorna dos diabos.
Treino num acampamento que foi montado para 3 dias
Nos Domingos à tarde davam-nos um bónus, deixavam-nos vestir à civil, enfiavam-nos dentro de uma camioneta com destino a Lamego e no centro da cidade faziam-nos saltar em cambalhota com a viatura em movimento, o que nos enchia de prazer e de orgulho pois as miúdas da terra paravam e ficavam a ver e, como tal, podíamos ter a sorte de começar um namorico.
Em Lamego juntinho a uma garota da terra (à noite houve baile).
No final das cerca de 10 semanas e depois de tanto penarmos só foi concedido aproveitamento aos 2 Alf, 10 Asp Mil e 12 Cabos Mil.
Como recompensa, ofereceram-nos uma visita às Caves da Raposeira e um distintivo para o braço, que cada um passou a usar.
Passados poucos meses todos os que frequentaram o Curso foram mobilizados para Angola, Moçambique e Guiné.
Na Guiné faleceram em combate o Fur Mil Domingos Moreira Leite em 30Jan65 e o Alf Mil Mário Henrique Santos Sasso, em 5 de Dezembro de 1965.
(Continua).
Guiné 63/74 - P2018: Álbum das Glórias (23): O mestre-escola do Saltinho (Joaquim Guimarães, CCAÇ 3490, 1972/74)
Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > "Eu, mais o Augusto [,o burro, ] e o Mamadu Djaló, em 1972, em Galomaro, sede do batalhão"
Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > " A força do rio"
Guiné-Bissau > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > "O abrigo das transmissões"
Guiné-Bissau > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > "O abrigo da estiva"
Guiné-Bissau > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > Os professores dos Posto Escolares do Saltinho. [O Joaquim Guimarães é o tereceiro a contrar da esquerda]
Fotos (e legendas): © Joaquim Guimarães (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do com data de 21 de Fevereiro de 2007. Pendente do envio de fotos, que entretanto chegaram. Dos Sates, onde o Joaquim vive. Mais um camarada nosso da diáspora, que faz parte da nossa Tabanca Grande, desde Agosto de 2005 (1).
Caro Luís Graça:
Depois de uma pequena ausência, aqui estou. Não quer dizer que não veja o blogue diariamente, pois tornou-se numa necessidade imprescíndivel estas viagens a um passado muito presente.
Aqui te envio essas fotos [do Saltinho] já um pouco deslavadas mas sempre admiradas e guardadas no meu peito. Com tempo mandarei mais.
O meu nome completo é Joaquim Fernando da Silva Guimarães. Ex-soldado nº 108261-71, pertenci ao BCAÇ 3872, com sede em Galomaro(2). A minha companhia era a CCAÇ 3490 (Saltinho, 1971/74). Fui professor escolar do Saltinho (pele e osso).
Um grande abraço a todos
Guimarães
2. Comentário de L.G.: As fotos enviadas pelo Joaquim Guimarães estavam muito azuladas. Optou-se, na sua edição, pelo preto e branco. Embora lacónico, o Joaquim tem mantido contactos connosco. Ele é o nosso orgulhoso representante nos Estados Unidos da América. Depois desta primeira selecção de fotos do seu álbum (de que temos a senha de acesso, dada por ele), esperamos pelas estórias do mestre-escola do Saltinho. Good luck, my friend and comrade!
__________
Notas dos editores:
(1) O Joaquim Guimarães, minhoto, natural de Viana do Castelo, q vive actualmente nos EUA. Vd. post de 15 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXI: Saltinho, 1971/74... United States of America, 2005
(...) "Quando recebi o correio do Luis [Carvalhido] há uns tempos atrás fiquei vazio , não sabendo bem como reagir ao aceder à página da Tertúlia de ex-combatentes da Guiné (1963/74).
"O meu primeiro impulso foi enviar a notícia para os meus primos na França e Alemanha para saber como é que eles reagiriam a este extraordinário agrupamento de memórias. Até me recordei de coisas que estavam esquecidas há mais de trinta anos!
"Um muito obrigado e parabéns pela maneira como tudo isto está organizado. Desde já pedia-lhe o favor de acrescentar mais um nome à sua lista e de me manter actualizado. As fotos tiradas recentemente no Saltinho são as mesmas imagens tiradas em 71.Tenho fotos e histórias que quero contar. Até lá os meus maiores desejos de saúde e felicidades" (...).
(2) O Batalhão de Caçadores 3872, Galomaro – SPM 2188, editava em 1973 o jornal O Jantum. Director: o Cmdt,Ten Cor Castro e Lemos, natural do Porto. Vd. post de 31 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDIV: Batalhão de Caçadores 3872 (Galomaro, 1971/74) (Carlos Filipe Coelho)
(...) "Chamo-me Carlos Filipe, fui radiomontador, formei Batalhão em 20 de Novembro de 1971 em Abrantes. O Batalhão de Caçadores 3872 desembarcou em Bissau no dia 24 Dezembro de 1971. A minha CCS ficou sediada em Galomaro, mas antes estive aproximadamente um mês no QG em Bissau.
"Depois fiz o velho percurso do rio Geba, e depois estrada, do Xime … até Galomaro. Claro que ainda tenho recordações de Dulombi, Camcolim, Bafatá, Bambadinca, Saltinho, Sete Fontes (fonte de água para abastecimento), Bolama (aonde passei as minhas férias)" (...).
Guiné > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > " A força do rio"
Guiné-Bissau > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > "O abrigo das transmissões"
Guiné-Bissau > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > "O abrigo da estiva"
Guiné-Bissau > Zona Leste > Sector L5 (Galomaro) > Saltinho > CCAÇ 3490 (1972/74) > Os professores dos Posto Escolares do Saltinho. [O Joaquim Guimarães é o tereceiro a contrar da esquerda]
Fotos (e legendas): © Joaquim Guimarães (2007). Direitos reservados.
1. Mensagem do com data de 21 de Fevereiro de 2007. Pendente do envio de fotos, que entretanto chegaram. Dos Sates, onde o Joaquim vive. Mais um camarada nosso da diáspora, que faz parte da nossa Tabanca Grande, desde Agosto de 2005 (1).
Caro Luís Graça:
Depois de uma pequena ausência, aqui estou. Não quer dizer que não veja o blogue diariamente, pois tornou-se numa necessidade imprescíndivel estas viagens a um passado muito presente.
Aqui te envio essas fotos [do Saltinho] já um pouco deslavadas mas sempre admiradas e guardadas no meu peito. Com tempo mandarei mais.
O meu nome completo é Joaquim Fernando da Silva Guimarães. Ex-soldado nº 108261-71, pertenci ao BCAÇ 3872, com sede em Galomaro(2). A minha companhia era a CCAÇ 3490 (Saltinho, 1971/74). Fui professor escolar do Saltinho (pele e osso).
Um grande abraço a todos
Guimarães
2. Comentário de L.G.: As fotos enviadas pelo Joaquim Guimarães estavam muito azuladas. Optou-se, na sua edição, pelo preto e branco. Embora lacónico, o Joaquim tem mantido contactos connosco. Ele é o nosso orgulhoso representante nos Estados Unidos da América. Depois desta primeira selecção de fotos do seu álbum (de que temos a senha de acesso, dada por ele), esperamos pelas estórias do mestre-escola do Saltinho. Good luck, my friend and comrade!
__________
Notas dos editores:
(1) O Joaquim Guimarães, minhoto, natural de Viana do Castelo, q vive actualmente nos EUA. Vd. post de 15 de Agosto de 2005 > Guiné 63/74 - CLXXI: Saltinho, 1971/74... United States of America, 2005
(...) "Quando recebi o correio do Luis [Carvalhido] há uns tempos atrás fiquei vazio , não sabendo bem como reagir ao aceder à página da Tertúlia de ex-combatentes da Guiné (1963/74).
"O meu primeiro impulso foi enviar a notícia para os meus primos na França e Alemanha para saber como é que eles reagiriam a este extraordinário agrupamento de memórias. Até me recordei de coisas que estavam esquecidas há mais de trinta anos!
"Um muito obrigado e parabéns pela maneira como tudo isto está organizado. Desde já pedia-lhe o favor de acrescentar mais um nome à sua lista e de me manter actualizado. As fotos tiradas recentemente no Saltinho são as mesmas imagens tiradas em 71.Tenho fotos e histórias que quero contar. Até lá os meus maiores desejos de saúde e felicidades" (...).
(2) O Batalhão de Caçadores 3872, Galomaro – SPM 2188, editava em 1973 o jornal O Jantum. Director: o Cmdt,Ten Cor Castro e Lemos, natural do Porto. Vd. post de 31 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CDIV: Batalhão de Caçadores 3872 (Galomaro, 1971/74) (Carlos Filipe Coelho)
(...) "Chamo-me Carlos Filipe, fui radiomontador, formei Batalhão em 20 de Novembro de 1971 em Abrantes. O Batalhão de Caçadores 3872 desembarcou em Bissau no dia 24 Dezembro de 1971. A minha CCS ficou sediada em Galomaro, mas antes estive aproximadamente um mês no QG em Bissau.
"Depois fiz o velho percurso do rio Geba, e depois estrada, do Xime … até Galomaro. Claro que ainda tenho recordações de Dulombi, Camcolim, Bafatá, Bambadinca, Saltinho, Sete Fontes (fonte de água para abastecimento), Bolama (aonde passei as minhas férias)" (...).
Guiné 63/74 - P2017: Bibliografia (10): Beja Santos: una manera entre barroca y desencantada de evocar esos pasajes de guerra (Jorge, Chile)
1. O Beja Santos fez-nos chegar uma crítica chilena à sua escrita, assinada por um amigo de sua filha Joana. Acho que podemos e devemos dar seguimento esta pequena ternura de uma filha, publicitando o escrito de su amigo Jorge (a quem temos de ressalvar a falta de acentos):
Chère Joana:
Cautivante los textos de tu papa. Me llamo la atencion esa manera entre barroca y desencantada de evocar esos pasajes de guerra (Angola?, Guinea?), y ese lindo agradecimiento a Mamadu Camara. Y también me ha parecido percebir que es una prosa ligeramente ironica (por ejemplo, lo de la lectura de un libro sobre la Edad Media). No sé es algo propio a la lengua portuguesa, pero el texto de tu papa tiene ese dejo moroso que en otro idioma habria sido un defecto; la lectura me atrapo desde el comienzo, y la segui con un diccionario. Sé poco de la historia militar portuguesa Africa, salvo una que otra cosa sobre Angola, debido a la presencia cubana.
Es curioso como las Memorias son practicamente literatura: la evocacion de los hechos esta realzada por el lengua, el tono, la perspectiva, por casi todos los elementos de la escrictura de ficcion;
Gracias por el envio.
Jorge
ps: sigo con el problema de acentos.
Chère Joana:
Cautivante los textos de tu papa. Me llamo la atencion esa manera entre barroca y desencantada de evocar esos pasajes de guerra (Angola?, Guinea?), y ese lindo agradecimiento a Mamadu Camara. Y también me ha parecido percebir que es una prosa ligeramente ironica (por ejemplo, lo de la lectura de un libro sobre la Edad Media). No sé es algo propio a la lengua portuguesa, pero el texto de tu papa tiene ese dejo moroso que en otro idioma habria sido un defecto; la lectura me atrapo desde el comienzo, y la segui con un diccionario. Sé poco de la historia militar portuguesa Africa, salvo una que otra cosa sobre Angola, debido a la presencia cubana.
Es curioso como las Memorias son practicamente literatura: la evocacion de los hechos esta realzada por el lengua, el tono, la perspectiva, por casi todos los elementos de la escrictura de ficcion;
Gracias por el envio.
Jorge
ps: sigo con el problema de acentos.
terça-feira, 31 de julho de 2007
Guiné 63/74 - P2016: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (6): O grande ataque a Có, em 12 de Outubro de 1968
Guiné > Região do Cacheu > Pelundo > Có > CCAÇ 2402 (1968/70) >A tabanca de Có, incendiada, na sequência do segundo ataque ao aquartelamento, em 12 de Outubro de 1968.
Espólio do ataque do dia 12 de Outubro de 1968.
Spínola observando os destroços nas zonas atingidas.
Visita de Spínola à Missão e Escola locais.
Spínola falando à população, ladeado do Cap Vargas e do Cabo de Cipaios Dayan.
Da esquerda para a direita: Cap Vargas Cardoso, comandante da Companhia, Gen Spínola, Alf Mil Raul Albino e Alf Mil Caseiro.
A árvore onde embateu o projéctil, sendo visível o seu local de impacto, antes da cauda se dirigir ao refeitório.
Outra das instalações atingidas, o refeitório. Aqui encontrou a morte o soldado básico Oliveiros.
Caixão do soldado Oliveiros, com honras militares, junto à árvore fatídica.
A casa de banho dos oficais ficou neste lindo estado
Um abrigo atingido pelo violento fogo do IN.
Nem a prisão escapou...
O Sereti que estava a cumprir uma pena, conseguiu fugir e salvar-se de uma morta certa.
Fotos e legendas: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.
Mensagem do Raul Albino,enviado em 20 de Julho corrente:
Caro Luís, conforme prometi aqui vai o texto nº 6 da [história da] CCAÇ 2402. Descobri porque estou agora a levar mais tempo para adaptar os textos. O culpado é o blogue, porque não pára de nos oferecer textos interessantes que não são possíveis de ignorar e nos levam cada vez mais tempo a digeri-los, ou seja, a continuar assim, teremos de optar entre ler e escrever. É que o tempo que eu tinha reservado para escrever situações da guerra, estou a consumi-lo em leitura. Tempo, precisa-se !... Dá-se alvisseras a quem o encontrar.
Um grande abraço aos editores,
Raul Albino
Sexta parte das memórias de campanha de Raul Albino, ex-alf mil da CCAÇ 2402, pertencente ao BCAÇ 2851 (Có, Mansabá, Olossato, 1968/70), batalhão esse que embarcou no Uíge, em finais de Julho, juntamente com o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)(1) (Subtítulos da redsponsabilidade dos editores)
Segundo Ataque a Có
por Raul Albino
Coincidências a mais ou a minha teoria sobre o modus operandi do inimigo
Este ataque teve lugar no dia 12 de Outubro de 1968 e foi um dos mais violentos que a CCAÇ 2402 sofreu em toda a sua comissão. O ataque foi desencadeado pelas 19.45 horas. Excepção feita ao primeiro ataque, que foi desencadeado ao nascer do sol, este segundo ataque e todos os outros que se seguiram foram lançados antes do anoitecer.
Já nesta altura se começou a fortalecer uma convicção na minha mente que se veio a confirmar até ao fim da comissão, ou seja, o inimigo, preferencialmente, deslocava-se de dia para atingir o objectivo ao fim da tarde, enquanto as nossas tropas deslocavam-se de noite para atingir o objectivo ao amanhecer. O inimigo, perfeitamente conhecedor do terreno, sentia-se seguro a viajar de dia, enquanto nós sentíamo-nos mais seguros a viajar de noite para não sermos um alvo visível e podermos usufruir do factor surpresa.
Outra coincidência extraordinária, foi o facto de o comandante do quartel não se encontrar em Có neste dia. O futuro viria a confirmar que, também aqui, isto não acontecia por acaso. Eles tinham conhecimento prévio das ausências do comandante e escolhiam esses períodos para efectuarem os seus ataques, esperando que isso constituísse uma fraqueza na guarnição, o que, de certo modo, era verdade, porque o comandante é uma peça fundamental na defesa dum aquartelamento. Em grande parte dos ataques ao quartel, nomeadamente no Olossato, a ausência do comandante foi uma constante, grande demais para ser uma coincidência.
O nosso armamento: pouco e mau
Neste período da nossa comissão, o armamento que possuíamos era pouco e mau, perfeitamente insuficiente para as missões que nos atribuíam. Não existia, por exemplo, um morteiro 60 e uma bazuca por grupo de combate, para já não falar de metralhadoras de fita. Quando havia operações no exterior a dois grupos de combate, os morteiros e bazucas operacionais seguiam com esses grupos, deixando o quartel à sua sorte com o pouco material restante, onde realçava o morteiro 81, excessivamente pesado para ser transportado para o mato.´
Como um dos quatro grupos estava na Ilha de Jete, esse grupo teve de levar consigo as armas necessárias à sua protecção, porque estava isolado e não era fácil qualquer acção de socorro, salvo por via aérea, provocando assim o primeiro rombo no nosso precário arsenal. Parecendo desconhecer completamente esta realidade da nossa companhia, o Comando em Bula atribuía-nos missões de dois dias a dois grupos de combate, com uma regularidade impressionante, perfeitamente previsível mesmo sem informadores, chegando a atingir uma distância entre operações de 2/3 dias de intervalo.
Cheguei a rogar pragas ao Comando Operacional de Bula
Foi assim que, neste dia, dois grupos de combate (3º e 4º), saíram para a Operação Adregar com a duração de dois dias, ficando de serviço na defesa do quartel um único grupo (2º) com um armamento precário, pelas razões que acima se indicaram. O 1º grupo estava na Ilha de Jete.
A força em operação no exterior era comandada por mim. Durante todo o dia detectámos vestígios de pegadas do inimigo, fosse para que lado fossemos. Com tais sinais de movimentação, esperámos ao longo do dia que se nos deparasse uma emboscada do inimigo. Mas como tal não acontecia, eu comecei e desconfiar que alguma coisa não batia certo e passei a ficar preocupado.
O inimigo de facto não queria contacto com as nossas tropas no exterior, eles estavam lá sim, com o objectivo de atacar e ocupar o quartel e andaram-nos a enrolar até atingirem a hora planeada para o ataque, sabendo que os nossos dois grupos permaneceriam no exterior pelos habituais dois dias de operação, que o nosso inteligentíssimo comando caprichava em nos presentear. Devo confessar que durante algum tempo roguei pragas ao Comando Operacional sediado em Bula, pela sua pouca ou nenhuma clarividência em operações militares, próprias de autênticos maçaricos, como nós éramos quando cá chegámos.
Ao fim da tarde, em face da minha leitura da situação, tomei uma decisão. Esta operação não ia durar dois dias, iria durar um mais um dias, porque a noite iria ser passada no quartel. Cerca das 19,00 horas acercámo-nos do quartel e , a determinado ponto, foi combinado que eu e o 3º grupo seguiríamos já para o quartel e o 4º grupo seguiria a seguir, após ordem rádio, que seria dada logo que o 3º grupo estivesse instalado.
Entrámos no quartel pela porta da pista, junto à bolanha, porque me pareceu a mais discreta por estar situada numa zona que eu não escolheria para atacar o quartel. O inimigo também não escolheu essa frente, mas apercebeu-se da nossa manobra e precipitou o seu ataque de imediato. O 3º grupo de combate já estava lá dentro e com ele o armamento mínimo indispensável à defesa do aquartelamento. Pena que o 4º grupo ainda estivesse no exterior, mas isso não era forçosamente negativo, porque eles estavam em condições para envolver o inimigo e cortar-lhes a retirada, se tivessem permanecido no ponto de separação dos grupos conforme ficou combinado.
A minha consternação foi grande, quando me apercebi, via rádio, que o outro grupo, não obedecendo ou não entendendo as minhas directivas, enquanto o meu grupo se encaminhava para o quartel, eles seguiram as nossas pisadas a alguma distância e aguardaram no fim da pista, à beira da porta de entrada, a recepção do rádio com a ordem para o seu regresso. Em suma, o ataque deu-se de forma bastante violenta, e o quarto grupo não pode dar o seu contributo na reacção ao inimigo, porque a posição em que se encontrava não era consentânea com qualquer manobra e pouco mais puderam fazer além de aguardar o fim do tiroteio.
Em termos de reacção das nossas tropas ao ataque, devo sentir orgulho nestes militares pela sua bravura em combate. Em Có, o elemento que eu utilizava para fazer uso da bazuca era o soldado milícia Jaló, um excelente combatente, utilizador exímio desta arma, disciplinado e de uma bravura inexcedível. Foi ele que, junto à porta de armas, entrada principal do quartel, com os seus disparos certeiros, repeliu o inimigo que tentava forçar essa entrada, protegendo-se entre as tabancas limítrofes onde tinham escavado abrigos individuais. Acabou sendo ferido num dedo durante o confronto.
Os bravos defensores de Có
Além do Jaló que tinha acabado de entrar no quartel junto ao 3º grupo, outros elementos, também acabados de entrar foram o soldado Paulo, acompanhado do Cabo Rocha que, com o seu morteiro 60, fez tudo o que pode para repelir o inimigo.
A nossa principal arma de retaliação ao fogo do inimigo era o morteiro 81. Enquanto ele não começava a cantar, não se podia dizer que estávamos a responder ao fogo do inimigo. É que eles possuíam armas pesadas superiores às nossas, o que lhes permitia fazer fogo a uma distância considerável, protegidos que ficavam das nossas armas ligeiras. O nosso fogo, intenso e certeiro, foi bravamente coordenado pelo Sargento Ferreira que, logo aos primeiros tiros, se encaminhou rapidamente para o abrigo do morteiro 81, acompanhado de alguns militares que o ajudaram.
Todos estes actos de bravura que eu identifiquei, foram só alguns de entre tantos outros dos quais não tive conhecimento pessoal, mas que não deixaram de ser tão heróicos como aqueles que vos descrevi. Por isso, teriam sido altamente enriquecedores os relatos de outros intervenientes situados em posições diferentes durante o desencadear do ataque. A sua não participação com textos, originou que esta fosse a descrição possível e não a descrição completa.
A morte do soldado básico Oliveiros, escondido no refeitório
Sofremos um morto e cinco feridos, além de três feridos na população, tendo o quartel sido violentamente atingido com danos materiais nas instalações do Comando, Depósito de Géneros, Prisão, Cantina e Sala de Oficiais e Sargentos. O inimigo sofreu dois mortos e vários feridos confirmados, tendo sido capturado diverso material de guerra.
A nossa maior perda foi o soldado Oliveiros, auxiliar de cozinha, que se abrigou no interior do refeitório a um canto e aí foi atingido pela cauda de um projéctil que, ao rebentar numa árvore, projectou a sua cauda metálica na direcção do refeitório, atravessou os pés de bancos e mesas, indo atingir na barriga o infortunado Oliveiros, causando-lhe morte instantâne.
Analisando no local a trajectória do projéctil que sinistrou o nosso camarada Oliveiros, concluímos que tal tragédia tinha condições ínfimas de acontecer daquela maneira, mas aconteceu, como se aquele projéctil tivesse o seu nome marcado e nada fosse possível para o evitar. Todos lamentaram pesarosamente a morte do Oliveiros e o Capitão Vargas Cardoso tem feito questão em o relembrar em todos os almoços-convívio da companhia, que se têm realizado ao longo dos anos.
No dia seguinte, a visita do Comandante-Chefe, Gen Spínola
No dia seguinte ao ataque, recebemos a visita do General António de Spínola. Deslocou-se de helicóptero, trazendo consigo o nosso Capitão Vargas Cardoso que se encontrava em Bissau na altura do ataque.
Como era seu costume, procurou inteirar-se dos pormenores do ataque, missão essa que me coube a mim, como é patente na fotografia em cima. Pediu ainda para falar à população onde proferiu um discurso de incentivo ao povo local.
Estas deslocações do General aos locais atacados, tinham um efeito psicológico muito significativo, levantando o moral das tropas que viam assim o seu chefe máximo preocupar-se e interessar-se com a luta que todos travavam pela Pátria.
Era também uma oportunidade de lhe comunicar as nossas carências em armamento e condições de sobrevivência. Posso-lhes garantir que, na altura em que este ataque se deu, o armamento que possuíamos era caricato e inadequado, tínhamos mais homens que armas pesadas. Na segunda metade da comissão passou a dar-se o contrário, tínhamos falta de homens - devido a baixas em combate e por doença - e possuíamos armas pesadas de boa qualidade sem ninguém para as empunhar. Entenda-se aqui por armas pesadas, as armas semi-pesadas como o morteiro 60, metralhadoras de fita e lança granadas foguete, também conhecidas por bazucas.
Depoimentos
(i) António Coutinho da Silva (1º Gr Comb)
O dia que mais me marcou no cumprimento do meu serviço militar, foi quando saí em Có com o pelotão, para uma operação de patrulhamento em volta do quartel e passámos por detrás do inimigo que já estava emboscado para fazer um ataque ao quartel e quando estávamos a parar junto à bolanha para comunicar com o quartel que íamos entrar pelo posto de sentinela da bolanha, o inimigo começou a atacar o quartel e ao mesmo tempo ao nosso pelotão. Começámos a procurar abrigos para nos protegermos, mas os nossos companheiros do quartel, não sabendo da nossa posição, vendo os nossos movimentos julgaram que era o inimigo e começaram a fazer fogo sobre nós, ficando debaixo de dois fogos enquanto durou o ataque, felizmente sem termos ninguém ferido.
No final do ataque começámos a ver grande parte das tabancas a arder e começámos a pensar que o inimigo estava dentro do quartel. Falei nisso ao comandante do meu pelotão. Assim que ele entrou em contacto com o quartel e tivemos autorização para entrar, foi-me dada a ordem de ir à frente do pelotão, por ter dito que o inimigo estava dentro do quartel. Enfim lá fomos e felizmente só foi em pensamento.
Quando já estávamos dentro do quartel, foi-nos pedido para ajudarmos a população que tinha muitos feridos. Lá fomos com o Sargento Ferreira e ao passarmos junto da cantina, alguém tropeçou em algo. Ele apontou com a lanterna para o chão e junto do muro da cantina estava o nosso companheiro Oliveiros caído no chão, porque uma canhoada o tinha cortado ao meio - um homem que nem a roupa vinha trazer à porta de armas com medo do inimigo. Quando o ataque começou, ficou junto ao murro da cantina, talvez pensando que estava seguro, ficou ali à espera da morte, que infelizmente chegou, sem ter saído do quartel, enquanto o nosso pelotão, debaixo de dois fogos, não tivemos ninguém ferido. É o destino de cada um … PAZ À SUA ALMA!
A. Coutinho da Silva
(ii) Maurício Esparteiro (1º Gr Comb)
No ataque ao quartel de Có em 12 de Outubro de 1968, onde o nosso camarada Oliveiros morreu, encontrava-se nessa altura na prisão o nosso camarada Sereto a cumprir pena. Foi ele próprio que com pontapés conseguiu sair da prisão e escapar a uma morte certa.
O fogo do inimigo incidia especialmente sobre o abrigo do morteiro 81, a Enfermaria e o Bar do Soldado. Eu, Esparteiro, estava na Enfermaria a fazer fotografias quando se deu o ataque, não podendo correr para lado nenhum. Quando apareceu o Sargento Ferreira corremos para o abrigo do morteiro e começámos a meter granadas no morteiro 81, sobre a orientação do sargento. Só a partir desse momento o fogo do inimigo começou a fraquejar.
Mais tarde quando o Capitão Vargas Cardoso perguntou pelo Sereto, o Sargento Ferreira disse-lhe que ele estava na Enfermaria, não por ter sido ferido, mas porque lhe doía os pés e os braços. Vendo o estado em que ficou a prisão, muita sorte teve ele nesse dia.
Maurício Esparteiro
(iii) José A. P. Rocha (3º Gr Comb)
No dia 12 de Outubro de 1968, tinha acabado de entrar no quartel e estava ao lado do soldado Paulo, que tinha à sua guarda um morteiro 60.
Quando o ataque começou, eu, 1º Cabo Rocha do 3º pelotão, devido ao pequeno número de granadas que possuíamos por termos acabado de chegar de uma operação no exterior, mandei o Paulo procurar o guarda do paiol para trazer material. Não o tendo encontrado, eu disse-lhe para arrombar a porta e foi o que ele fez. Só que, por capricho do destino, ele em vez de trazer granadas explosivas, trouxe granadas incendiárias. O resultado foi que as tabancas começaram a arder, iluminando a área onde o inimigo estava escondido.
Vendo-se assim a descoberto e sob o fogo de resposta das nossas tropas, eles começaram a retirar, para nossa sorte. Na prática, estas granadas trazidas por engano produziram melhor resultado que as explosivas. Como as coisas são …
José A. P. Rocha
(iv) José Manuel Oliveira (Cozinheiro das Messes)
No dia 12/10/68, durante o ataque a Có, como era cozinheiro não tinha arma distribuída. Impossibilitado de fazer frente ao inimigo, refugiei-me no abrigo junto à porta de armas, deitado entre as camas, em tronco nu.
Enquanto os meus camaradas faziam fogo de metralhadora, os invólucros das balas iam caindo em cima de mim. Tal foi o medo que naquele momento não senti nada. Algumas horas depois verifiquei que tinha o corpo com algumas queimaduras. Ferido em combate, o Cabo Cozinheiro Fucinhaças , era assim que os meus camaradas me chamavam.
Nunca esqueci esse dia em que morreu o meu amigo Oliveiros.
José Manuel Oliveira
(v) António Joaquim Rodrigues (4º Gr Comb)
Quem poderá esquecer o ataque que tivemos ao quartel de Có?
Depois de um longo dia de operação no exterior, em que participaram dois pelotões, o meu regressou à noite ao quartel e ainda bem. É que nessa época, um pelotão estava destacado na Ilha de Jete e no quartel havia poucos camaradas, estando muitos deles doentes com paludismo.
Após alguns momentos fomos atacados e eu e o Veríssimo pegámos no morteiro 60 e num cunhete de granadas, e, debaixo de fogo, atravessámos o quartel porque o fogo era mais do lado da população.
Apesar do nosso Capitão não estar presente, defendemos o quartel com heroicidade. Foi nesse dia que tivemos a primeira baixa mortal e sofremos pesados danos materiais. O meu Alferes chegou a dizer que eu e o Veríssimo merecíamos ser condecorados, assim como foi o nosso Sargento Ferreira que foi para o morteiro pesado 81.
António Joaquim Rodrigues
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Nota dos editores:
(1) Vd. post anteriores:
15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira
6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN
12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga
13 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1658: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (4): Uma emboscada em Catora e um Lobo Mau pouco predador
28 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1790: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (5): Protecção a uma coluna logística Bula/Có
Espólio do ataque do dia 12 de Outubro de 1968.
Spínola observando os destroços nas zonas atingidas.
Visita de Spínola à Missão e Escola locais.
Spínola falando à população, ladeado do Cap Vargas e do Cabo de Cipaios Dayan.
Da esquerda para a direita: Cap Vargas Cardoso, comandante da Companhia, Gen Spínola, Alf Mil Raul Albino e Alf Mil Caseiro.
A árvore onde embateu o projéctil, sendo visível o seu local de impacto, antes da cauda se dirigir ao refeitório.
Outra das instalações atingidas, o refeitório. Aqui encontrou a morte o soldado básico Oliveiros.
Caixão do soldado Oliveiros, com honras militares, junto à árvore fatídica.
A casa de banho dos oficais ficou neste lindo estado
Um abrigo atingido pelo violento fogo do IN.
Nem a prisão escapou...
O Sereti que estava a cumprir uma pena, conseguiu fugir e salvar-se de uma morta certa.
Fotos e legendas: © Raul Albino (2007). Direitos reservados.
Mensagem do Raul Albino,enviado em 20 de Julho corrente:
Caro Luís, conforme prometi aqui vai o texto nº 6 da [história da] CCAÇ 2402. Descobri porque estou agora a levar mais tempo para adaptar os textos. O culpado é o blogue, porque não pára de nos oferecer textos interessantes que não são possíveis de ignorar e nos levam cada vez mais tempo a digeri-los, ou seja, a continuar assim, teremos de optar entre ler e escrever. É que o tempo que eu tinha reservado para escrever situações da guerra, estou a consumi-lo em leitura. Tempo, precisa-se !... Dá-se alvisseras a quem o encontrar.
Um grande abraço aos editores,
Raul Albino
Sexta parte das memórias de campanha de Raul Albino, ex-alf mil da CCAÇ 2402, pertencente ao BCAÇ 2851 (Có, Mansabá, Olossato, 1968/70), batalhão esse que embarcou no Uíge, em finais de Julho, juntamente com o BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/70)(1) (Subtítulos da redsponsabilidade dos editores)
Segundo Ataque a Có
por Raul Albino
Coincidências a mais ou a minha teoria sobre o modus operandi do inimigo
Este ataque teve lugar no dia 12 de Outubro de 1968 e foi um dos mais violentos que a CCAÇ 2402 sofreu em toda a sua comissão. O ataque foi desencadeado pelas 19.45 horas. Excepção feita ao primeiro ataque, que foi desencadeado ao nascer do sol, este segundo ataque e todos os outros que se seguiram foram lançados antes do anoitecer.
Já nesta altura se começou a fortalecer uma convicção na minha mente que se veio a confirmar até ao fim da comissão, ou seja, o inimigo, preferencialmente, deslocava-se de dia para atingir o objectivo ao fim da tarde, enquanto as nossas tropas deslocavam-se de noite para atingir o objectivo ao amanhecer. O inimigo, perfeitamente conhecedor do terreno, sentia-se seguro a viajar de dia, enquanto nós sentíamo-nos mais seguros a viajar de noite para não sermos um alvo visível e podermos usufruir do factor surpresa.
Outra coincidência extraordinária, foi o facto de o comandante do quartel não se encontrar em Có neste dia. O futuro viria a confirmar que, também aqui, isto não acontecia por acaso. Eles tinham conhecimento prévio das ausências do comandante e escolhiam esses períodos para efectuarem os seus ataques, esperando que isso constituísse uma fraqueza na guarnição, o que, de certo modo, era verdade, porque o comandante é uma peça fundamental na defesa dum aquartelamento. Em grande parte dos ataques ao quartel, nomeadamente no Olossato, a ausência do comandante foi uma constante, grande demais para ser uma coincidência.
O nosso armamento: pouco e mau
Neste período da nossa comissão, o armamento que possuíamos era pouco e mau, perfeitamente insuficiente para as missões que nos atribuíam. Não existia, por exemplo, um morteiro 60 e uma bazuca por grupo de combate, para já não falar de metralhadoras de fita. Quando havia operações no exterior a dois grupos de combate, os morteiros e bazucas operacionais seguiam com esses grupos, deixando o quartel à sua sorte com o pouco material restante, onde realçava o morteiro 81, excessivamente pesado para ser transportado para o mato.´
Como um dos quatro grupos estava na Ilha de Jete, esse grupo teve de levar consigo as armas necessárias à sua protecção, porque estava isolado e não era fácil qualquer acção de socorro, salvo por via aérea, provocando assim o primeiro rombo no nosso precário arsenal. Parecendo desconhecer completamente esta realidade da nossa companhia, o Comando em Bula atribuía-nos missões de dois dias a dois grupos de combate, com uma regularidade impressionante, perfeitamente previsível mesmo sem informadores, chegando a atingir uma distância entre operações de 2/3 dias de intervalo.
Cheguei a rogar pragas ao Comando Operacional de Bula
Foi assim que, neste dia, dois grupos de combate (3º e 4º), saíram para a Operação Adregar com a duração de dois dias, ficando de serviço na defesa do quartel um único grupo (2º) com um armamento precário, pelas razões que acima se indicaram. O 1º grupo estava na Ilha de Jete.
A força em operação no exterior era comandada por mim. Durante todo o dia detectámos vestígios de pegadas do inimigo, fosse para que lado fossemos. Com tais sinais de movimentação, esperámos ao longo do dia que se nos deparasse uma emboscada do inimigo. Mas como tal não acontecia, eu comecei e desconfiar que alguma coisa não batia certo e passei a ficar preocupado.
O inimigo de facto não queria contacto com as nossas tropas no exterior, eles estavam lá sim, com o objectivo de atacar e ocupar o quartel e andaram-nos a enrolar até atingirem a hora planeada para o ataque, sabendo que os nossos dois grupos permaneceriam no exterior pelos habituais dois dias de operação, que o nosso inteligentíssimo comando caprichava em nos presentear. Devo confessar que durante algum tempo roguei pragas ao Comando Operacional sediado em Bula, pela sua pouca ou nenhuma clarividência em operações militares, próprias de autênticos maçaricos, como nós éramos quando cá chegámos.
Ao fim da tarde, em face da minha leitura da situação, tomei uma decisão. Esta operação não ia durar dois dias, iria durar um mais um dias, porque a noite iria ser passada no quartel. Cerca das 19,00 horas acercámo-nos do quartel e , a determinado ponto, foi combinado que eu e o 3º grupo seguiríamos já para o quartel e o 4º grupo seguiria a seguir, após ordem rádio, que seria dada logo que o 3º grupo estivesse instalado.
Entrámos no quartel pela porta da pista, junto à bolanha, porque me pareceu a mais discreta por estar situada numa zona que eu não escolheria para atacar o quartel. O inimigo também não escolheu essa frente, mas apercebeu-se da nossa manobra e precipitou o seu ataque de imediato. O 3º grupo de combate já estava lá dentro e com ele o armamento mínimo indispensável à defesa do aquartelamento. Pena que o 4º grupo ainda estivesse no exterior, mas isso não era forçosamente negativo, porque eles estavam em condições para envolver o inimigo e cortar-lhes a retirada, se tivessem permanecido no ponto de separação dos grupos conforme ficou combinado.
A minha consternação foi grande, quando me apercebi, via rádio, que o outro grupo, não obedecendo ou não entendendo as minhas directivas, enquanto o meu grupo se encaminhava para o quartel, eles seguiram as nossas pisadas a alguma distância e aguardaram no fim da pista, à beira da porta de entrada, a recepção do rádio com a ordem para o seu regresso. Em suma, o ataque deu-se de forma bastante violenta, e o quarto grupo não pode dar o seu contributo na reacção ao inimigo, porque a posição em que se encontrava não era consentânea com qualquer manobra e pouco mais puderam fazer além de aguardar o fim do tiroteio.
Em termos de reacção das nossas tropas ao ataque, devo sentir orgulho nestes militares pela sua bravura em combate. Em Có, o elemento que eu utilizava para fazer uso da bazuca era o soldado milícia Jaló, um excelente combatente, utilizador exímio desta arma, disciplinado e de uma bravura inexcedível. Foi ele que, junto à porta de armas, entrada principal do quartel, com os seus disparos certeiros, repeliu o inimigo que tentava forçar essa entrada, protegendo-se entre as tabancas limítrofes onde tinham escavado abrigos individuais. Acabou sendo ferido num dedo durante o confronto.
Os bravos defensores de Có
Além do Jaló que tinha acabado de entrar no quartel junto ao 3º grupo, outros elementos, também acabados de entrar foram o soldado Paulo, acompanhado do Cabo Rocha que, com o seu morteiro 60, fez tudo o que pode para repelir o inimigo.
A nossa principal arma de retaliação ao fogo do inimigo era o morteiro 81. Enquanto ele não começava a cantar, não se podia dizer que estávamos a responder ao fogo do inimigo. É que eles possuíam armas pesadas superiores às nossas, o que lhes permitia fazer fogo a uma distância considerável, protegidos que ficavam das nossas armas ligeiras. O nosso fogo, intenso e certeiro, foi bravamente coordenado pelo Sargento Ferreira que, logo aos primeiros tiros, se encaminhou rapidamente para o abrigo do morteiro 81, acompanhado de alguns militares que o ajudaram.
Todos estes actos de bravura que eu identifiquei, foram só alguns de entre tantos outros dos quais não tive conhecimento pessoal, mas que não deixaram de ser tão heróicos como aqueles que vos descrevi. Por isso, teriam sido altamente enriquecedores os relatos de outros intervenientes situados em posições diferentes durante o desencadear do ataque. A sua não participação com textos, originou que esta fosse a descrição possível e não a descrição completa.
A morte do soldado básico Oliveiros, escondido no refeitório
Sofremos um morto e cinco feridos, além de três feridos na população, tendo o quartel sido violentamente atingido com danos materiais nas instalações do Comando, Depósito de Géneros, Prisão, Cantina e Sala de Oficiais e Sargentos. O inimigo sofreu dois mortos e vários feridos confirmados, tendo sido capturado diverso material de guerra.
A nossa maior perda foi o soldado Oliveiros, auxiliar de cozinha, que se abrigou no interior do refeitório a um canto e aí foi atingido pela cauda de um projéctil que, ao rebentar numa árvore, projectou a sua cauda metálica na direcção do refeitório, atravessou os pés de bancos e mesas, indo atingir na barriga o infortunado Oliveiros, causando-lhe morte instantâne.
Analisando no local a trajectória do projéctil que sinistrou o nosso camarada Oliveiros, concluímos que tal tragédia tinha condições ínfimas de acontecer daquela maneira, mas aconteceu, como se aquele projéctil tivesse o seu nome marcado e nada fosse possível para o evitar. Todos lamentaram pesarosamente a morte do Oliveiros e o Capitão Vargas Cardoso tem feito questão em o relembrar em todos os almoços-convívio da companhia, que se têm realizado ao longo dos anos.
No dia seguinte, a visita do Comandante-Chefe, Gen Spínola
No dia seguinte ao ataque, recebemos a visita do General António de Spínola. Deslocou-se de helicóptero, trazendo consigo o nosso Capitão Vargas Cardoso que se encontrava em Bissau na altura do ataque.
Como era seu costume, procurou inteirar-se dos pormenores do ataque, missão essa que me coube a mim, como é patente na fotografia em cima. Pediu ainda para falar à população onde proferiu um discurso de incentivo ao povo local.
Estas deslocações do General aos locais atacados, tinham um efeito psicológico muito significativo, levantando o moral das tropas que viam assim o seu chefe máximo preocupar-se e interessar-se com a luta que todos travavam pela Pátria.
Era também uma oportunidade de lhe comunicar as nossas carências em armamento e condições de sobrevivência. Posso-lhes garantir que, na altura em que este ataque se deu, o armamento que possuíamos era caricato e inadequado, tínhamos mais homens que armas pesadas. Na segunda metade da comissão passou a dar-se o contrário, tínhamos falta de homens - devido a baixas em combate e por doença - e possuíamos armas pesadas de boa qualidade sem ninguém para as empunhar. Entenda-se aqui por armas pesadas, as armas semi-pesadas como o morteiro 60, metralhadoras de fita e lança granadas foguete, também conhecidas por bazucas.
Depoimentos
(i) António Coutinho da Silva (1º Gr Comb)
O dia que mais me marcou no cumprimento do meu serviço militar, foi quando saí em Có com o pelotão, para uma operação de patrulhamento em volta do quartel e passámos por detrás do inimigo que já estava emboscado para fazer um ataque ao quartel e quando estávamos a parar junto à bolanha para comunicar com o quartel que íamos entrar pelo posto de sentinela da bolanha, o inimigo começou a atacar o quartel e ao mesmo tempo ao nosso pelotão. Começámos a procurar abrigos para nos protegermos, mas os nossos companheiros do quartel, não sabendo da nossa posição, vendo os nossos movimentos julgaram que era o inimigo e começaram a fazer fogo sobre nós, ficando debaixo de dois fogos enquanto durou o ataque, felizmente sem termos ninguém ferido.
No final do ataque começámos a ver grande parte das tabancas a arder e começámos a pensar que o inimigo estava dentro do quartel. Falei nisso ao comandante do meu pelotão. Assim que ele entrou em contacto com o quartel e tivemos autorização para entrar, foi-me dada a ordem de ir à frente do pelotão, por ter dito que o inimigo estava dentro do quartel. Enfim lá fomos e felizmente só foi em pensamento.
Quando já estávamos dentro do quartel, foi-nos pedido para ajudarmos a população que tinha muitos feridos. Lá fomos com o Sargento Ferreira e ao passarmos junto da cantina, alguém tropeçou em algo. Ele apontou com a lanterna para o chão e junto do muro da cantina estava o nosso companheiro Oliveiros caído no chão, porque uma canhoada o tinha cortado ao meio - um homem que nem a roupa vinha trazer à porta de armas com medo do inimigo. Quando o ataque começou, ficou junto ao murro da cantina, talvez pensando que estava seguro, ficou ali à espera da morte, que infelizmente chegou, sem ter saído do quartel, enquanto o nosso pelotão, debaixo de dois fogos, não tivemos ninguém ferido. É o destino de cada um … PAZ À SUA ALMA!
A. Coutinho da Silva
(ii) Maurício Esparteiro (1º Gr Comb)
No ataque ao quartel de Có em 12 de Outubro de 1968, onde o nosso camarada Oliveiros morreu, encontrava-se nessa altura na prisão o nosso camarada Sereto a cumprir pena. Foi ele próprio que com pontapés conseguiu sair da prisão e escapar a uma morte certa.
O fogo do inimigo incidia especialmente sobre o abrigo do morteiro 81, a Enfermaria e o Bar do Soldado. Eu, Esparteiro, estava na Enfermaria a fazer fotografias quando se deu o ataque, não podendo correr para lado nenhum. Quando apareceu o Sargento Ferreira corremos para o abrigo do morteiro e começámos a meter granadas no morteiro 81, sobre a orientação do sargento. Só a partir desse momento o fogo do inimigo começou a fraquejar.
Mais tarde quando o Capitão Vargas Cardoso perguntou pelo Sereto, o Sargento Ferreira disse-lhe que ele estava na Enfermaria, não por ter sido ferido, mas porque lhe doía os pés e os braços. Vendo o estado em que ficou a prisão, muita sorte teve ele nesse dia.
Maurício Esparteiro
(iii) José A. P. Rocha (3º Gr Comb)
No dia 12 de Outubro de 1968, tinha acabado de entrar no quartel e estava ao lado do soldado Paulo, que tinha à sua guarda um morteiro 60.
Quando o ataque começou, eu, 1º Cabo Rocha do 3º pelotão, devido ao pequeno número de granadas que possuíamos por termos acabado de chegar de uma operação no exterior, mandei o Paulo procurar o guarda do paiol para trazer material. Não o tendo encontrado, eu disse-lhe para arrombar a porta e foi o que ele fez. Só que, por capricho do destino, ele em vez de trazer granadas explosivas, trouxe granadas incendiárias. O resultado foi que as tabancas começaram a arder, iluminando a área onde o inimigo estava escondido.
Vendo-se assim a descoberto e sob o fogo de resposta das nossas tropas, eles começaram a retirar, para nossa sorte. Na prática, estas granadas trazidas por engano produziram melhor resultado que as explosivas. Como as coisas são …
José A. P. Rocha
(iv) José Manuel Oliveira (Cozinheiro das Messes)
No dia 12/10/68, durante o ataque a Có, como era cozinheiro não tinha arma distribuída. Impossibilitado de fazer frente ao inimigo, refugiei-me no abrigo junto à porta de armas, deitado entre as camas, em tronco nu.
Enquanto os meus camaradas faziam fogo de metralhadora, os invólucros das balas iam caindo em cima de mim. Tal foi o medo que naquele momento não senti nada. Algumas horas depois verifiquei que tinha o corpo com algumas queimaduras. Ferido em combate, o Cabo Cozinheiro Fucinhaças , era assim que os meus camaradas me chamavam.
Nunca esqueci esse dia em que morreu o meu amigo Oliveiros.
José Manuel Oliveira
(v) António Joaquim Rodrigues (4º Gr Comb)
Quem poderá esquecer o ataque que tivemos ao quartel de Có?
Depois de um longo dia de operação no exterior, em que participaram dois pelotões, o meu regressou à noite ao quartel e ainda bem. É que nessa época, um pelotão estava destacado na Ilha de Jete e no quartel havia poucos camaradas, estando muitos deles doentes com paludismo.
Após alguns momentos fomos atacados e eu e o Veríssimo pegámos no morteiro 60 e num cunhete de granadas, e, debaixo de fogo, atravessámos o quartel porque o fogo era mais do lado da população.
Apesar do nosso Capitão não estar presente, defendemos o quartel com heroicidade. Foi nesse dia que tivemos a primeira baixa mortal e sofremos pesados danos materiais. O meu Alferes chegou a dizer que eu e o Veríssimo merecíamos ser condecorados, assim como foi o nosso Sargento Ferreira que foi para o morteiro pesado 81.
António Joaquim Rodrigues
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Nota dos editores:
(1) Vd. post anteriores:
15 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1282: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (1): duas baixas de vulto, Beja Santos e Medeiros Ferreira
6 de Dezembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1343: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (2): O primeiro ataque ao quartel de Có, os primeiros revezes do IN
12 de Fevereiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1516: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (3): Combatentes, trolhas e formigas bagabaga
13 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1658: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (4): Uma emboscada em Catora e um Lobo Mau pouco predador
28 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1790: História da CCAÇ 2402 (Raul Albino) (5): Protecção a uma coluna logística Bula/Có
Guiné 63/74 - P2015: Pereira da Silva, Passos Ramos e Magalhães Osório, a fina flor dos militares de Spínola (Afonso M. F. Sousa)
Guiné > Bissau > c. 1969 > O Afonso Sousa, Fur Mil Trms, CART 2412 (1968/70), junto à estátua do Capitão Teixeira Pinto, o "pacificador da Guiné (1912-1915)".
Foto: © Afonso M.F. Sousa (2006). Direitos reservados.
1. Mensagem do Afonso M.F. Sousa:
Caríssimo Virgínio:
No texto do teu mail (1) perpassa a tua frescura de memória e grande clareza da expressão escrita. Todos os testemunhos têm um valor relevante, porque é pela conjugação e cruzamento de todos que se atinge um certo grau de exactidão e de confiança dos testemunhos e a objectividade nos factos narrados.
Quanto ao Pereira da Silva, tive oportunidade de falar com 3 elementos da família o ano passado e constatei tratar-se de uma família de preceitos, onde a educação e a beleza do trato imperavam.
Aliás, Spínola, para o grande empreendimento da mudança da estratégia da guerra, a começar no Chão Manjaco, redeou-se da fina flor dos militares do CTIG. Todos são unânimes em afirmar que estes 3 oficiais superiores eram, praticamente, insuperáveis sobre todos os pontos de vista.
Este teu testemunho é importante, porque mesmo falando de um, no fundo reconfirmas as qualidades dos três. E um com quem tiveste o privilégio de conviver em Bissau, mesmo que de forma fortuita e algo fugaz. É este tipo de depoimentos que por vezes faltam e que encaixam e ilustram tão bem estas estórias.
Quanto ao Fonseca - Solar dos 10, sim, penso que terei lá comido, em mesa na esplanada...e o costumado grande bife com batatas fritas ! E por curiosidade, um dia vi lá (a fazer o mesmo) o 1º Cabo Marco Paulo (o cançonetista) !...
Aqui vai um abraço
Afonso
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Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 30 de Julho de 2007 > 30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2010: O Major Pereira da Silva que eu conheci, em 1966, no QG de Santa Luzia (Virgínio Briote)
Guiné 63/74 - P2014: O Idálio Reis, a CCAÇ 2317, Gandembel e os pára-quedistas do BCP 12 (Victor Tavares)
1. Mensagem, de 8 de Julho de 2007, do Victor Tavares (ex-1º Cabo Pára-Quedista, CCP 121 / BCP 12, Guiné 1972/74):
Estimado amigo Luís:
Li com especial atenção o texto do nosso camarada Idálio Reis relativo a Gandembel (1), aonde conviveu com os Pára-quedistas durante algum tempo em situação difícil e é nestas [situações] que se vêem as capacidades de actuação e o companheirismo leal e fraterno das nossas diferentes forças.
Já tinha conhecimento de parte do texto, porque nas viagens do passado dia 23 de Maio, dia dos Pára-quedistas, entre a Mealhada e Tancos e no regresso daqui, aonde o Idálio me deu o prazer de me acompanhar, ele foi contando algumas passagens ali vividas com os Pára-quedistas.
Sabendo eu que o Idálio gostaria de encontrar alguns dos meus camaradas que com ele privaram naquelas difíceis circunstâncias e porque sabia que os iria lá encontrar, convidei-o a ir, ele aceitou e penso ter ficado satisfeito pois, tambem os Generais Bação da Costa Lemos, Avelar de Souza e Almeida Martins gostaram de o rever.
Estes estavam na tribuna de honra durante as cerimónias militares a acompanhar o Chefe do Estado Maior do Exército que presidiu às mesmas. No final fomos ter com eles ao sairem da tribuna, comprimentei-os e apresentei-lhes o nosso camarada Idálio, eles pura e simplesmente esqueceram-se do CEME, ficando à conversa connosco durante algum tempo e recordando várias passagens tidas em Gandembel com o Idálio. Enfim, são os mesmos homens simples e afáveis como sempre o foram.
Despeço-me com um abraço.
Victor Tavares
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Nota dos editores:
(1) Vd. post de 8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1935: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (8): Pára-quedistas em Gandembel massacram bigrupo do PAIGC, em Set 1968
Estimado amigo Luís:
Li com especial atenção o texto do nosso camarada Idálio Reis relativo a Gandembel (1), aonde conviveu com os Pára-quedistas durante algum tempo em situação difícil e é nestas [situações] que se vêem as capacidades de actuação e o companheirismo leal e fraterno das nossas diferentes forças.
Já tinha conhecimento de parte do texto, porque nas viagens do passado dia 23 de Maio, dia dos Pára-quedistas, entre a Mealhada e Tancos e no regresso daqui, aonde o Idálio me deu o prazer de me acompanhar, ele foi contando algumas passagens ali vividas com os Pára-quedistas.
Sabendo eu que o Idálio gostaria de encontrar alguns dos meus camaradas que com ele privaram naquelas difíceis circunstâncias e porque sabia que os iria lá encontrar, convidei-o a ir, ele aceitou e penso ter ficado satisfeito pois, tambem os Generais Bação da Costa Lemos, Avelar de Souza e Almeida Martins gostaram de o rever.
Estes estavam na tribuna de honra durante as cerimónias militares a acompanhar o Chefe do Estado Maior do Exército que presidiu às mesmas. No final fomos ter com eles ao sairem da tribuna, comprimentei-os e apresentei-lhes o nosso camarada Idálio, eles pura e simplesmente esqueceram-se do CEME, ficando à conversa connosco durante algum tempo e recordando várias passagens tidas em Gandembel com o Idálio. Enfim, são os mesmos homens simples e afáveis como sempre o foram.
Despeço-me com um abraço.
Victor Tavares
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Nota dos editores:
(1) Vd. post de 8 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1935: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (8): Pára-quedistas em Gandembel massacram bigrupo do PAIGC, em Set 1968
Guiné 63/74 - P2013: Questões politicamente (in)correctas (31): o racismo e a disciplina militar (Beja Santos)
Guiné > Zona Leste > Sector L1 (Bambadinca) > Fá Mandinga > Pel Caç Nat 52 > Natal de 1970 > Comentário do BS: A fotografia chegou-me a Lisboa depois do Natal de 1970. Tem escrito Recebe um abraço do Nelson Reis, Fá, Natal de 1970. Parti do Xime para Bissau a 4 de Agosto desse ano. O Nelson Wahnon Reis chegara meia dúzia de dias antes. Creio que se cometeu um erro tremendo com a sua nomeação para um pelotão de fulas e mandingas, felizmente que tudo acabou em bem. A seu tempo falarei desse período na Operação Macaréu à Vista. Agradeci as notícias, mas logo informei que estava a preparar exames, o que não era bem verdade. Estava tomada a decisão de cortar radicalmente o contacto, tinha aqui os estropiados, e chegaram mais, nos anos seguintes. O Nelson está ao centro, de pé. Tem a sua direita, já bem gordinho, o Cabo Queirós, o 81 ( ajudava-me no morteiro, nos dias de festa...), sentado à direita, de mão no queixo o meu inesquecível guarda-costas, Tcherno Suane. Comentário do L.G.: O Alf Mil Nelson Wahnon Reis, que foi substituir o Beja Santos, no comando do Pel Caç Na52 (entretanto transferido para Fá Mandinga, por troca com o Pel Caç Nat 63, do Jorge Cabral, que foi para Missirá) era natural de Cabo Verde.
Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
Texto do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):
Disparidade de Critérios: Cabo metropolitano ou cabo guineense?
por Beja Santos
Luís, tu questionaste-me se a minha reacção face ao comportamento repreensível do Cabo Benjamim Lopes da Costa (ver episódio "Mataste uma mulher, branco assassino!") (1) teria sido idêntica caso tivesse ocorrido com um Furriel ou Cabo metropolitano. Desculpa só hoje responder, foi só por pura falta de tempo.
Respondo sem hesitar: sim, teria sido a mesma. A minha relação com e Cabos não tinha distinção, orientei-me sempre pela dedicação, motivação e competência. Para falar só de Benjamim, meses mais tarde sobre esta triste ocorrência, ele foi louvado por "ter demonstrado excepcionais condições de trabalho, desembaraço e entusiasmo em todos os serviços de quem tem sido encarregado... Abnegado e competente, também nas actividades operacionais se revelou um elemento cumpridor e com quem se podia contar".
Em 1971, tinha já a guerra acabado para os dois, convidou-me para padrinho de casamento (assistiu e participou na boda do meu casamento, em Abril de 1970), não podia nem queria aceitar, enviei-lhe a prenda que ele me pediu, as alianças. Através do irmão, o Benicío Lopes da Costa (foi secretário-geral da Assembleia Nacional Popular e brilhante aluno de Filosofia da Cristina) fui sempre tendo notícias e estivemos juntos em 1991, por várias vezes. Veio a morrer num estúpido acidente de automóvel.
Tu, que conheces melhor que ninguém o volume publicado no blogue, não encontras discriminação nos tratamentos. Havia três Furriéis, aparece sempre o Casanova e o Pires, nunca escrevo sobre o Pina, que adoptou connosco um estranho comportamento de um desenfianço permanente (terá direito ao episódio "O dedo mindinho do Furriel Pina"). No entanto, ele será transferido para o [Pel Caç Nat] 63 e receberemos o Furriel Vitorino Ocante, um guineense, um homem afável, cumpridor e competente.
Não te esqueças igualmente que eu sempre tratei o Cabo Costa como o mais culto dos meus colaboradores. Era um papel de Bissau, frequentou o liceu e tinha uma preparação cultural muito acima da média. Na emboscada de Malandim (1), produto das circunstâncias, certamente por ser a primeira vez que via sangue, o Benjamim fraquejou. Ou eu cortava a direito ou o sentido de justiça que é crucial na comunicação com a tropa guineense estava definitivamente perdido e os meus créditos arruinados. Vi assim, sentia assim, se voltasse atrás teria procedido assim.
Beja Santos
________
Nota de L.G.
20 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P1978: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (56): Mataste uma mulher, branco assassino!
Comentário ao post:
Luís Graça disse...
Meu caro Mário e restantes camaradas da Guiné: Uma das regras de ouro do nosso blogue é: Ninguém condena ninguém!... Nenhum camarada que fez a guerra da Guiné diz para outro camarada de armas, a esta distância (de 33 a 44 anos): Foste herói, ou foste coberde, ou foste assassino, ou foste criminoso de guerra... Ninguém, nesta caserna, está em condições de dizer, olhos nos olhos, a outro camarada: Procedeste bem, procedeste mal...
Nenhum de nós quer ser ou pode ser juiz em causa própria: Mal ou bem, estivémos num lado da barricada; lutámos ou fingimos que lutámos; matámos (por muito que nos custe admiti-lo); destruímos aldeias, meios de vida, gado; envenenámos poços; regámos culturas de arroz com napalm... Como em todas as guerras, defendemos e atacámos. E, como muito bem nos lembra o Briote, fizémos escolas, abrimos centros médicos, mobilizámos milhares de jovens guineenses, criámos a ilusão da Guiné Melhor... Enfim, fomos capazes de fazer a paz, em condições dífíceis...
Há guineenses, hoje - não posso quantificar - que guardam boas recordações de nós; outros nem tanto... Na realidade, a guerra colonial foi também uma guerra civil, em que valia tudo (ou quase tudo), incluindo a demagogia...
Serve este preâmbulo para saudar o Mário Beja Santos pela sua coragem e honestidade intelectual. Toda a gente sabia, na Bambadinca do meu tempo, que ele montava emboscadas, à noite, às gentes de Madina (leia-se: às forças do PAIGC) que vinham abastecer-se nas aldeias ribeirinhas do Rio Geba, de etnia balanta, que por sua vez faziam as suas trocas comerciais com os comerciantes (brancos) de Bambadinca...
Alguns de nós, como eu, não apreciavam muito o comportamento (militar) do Tigre de Missirá que levava a sua missão até ao extremo limite das suas forças... Por isso, ele teve a sua cabeça a prémio... Mas na véspera de acabar a sua comissão, quando escapou por um triz de uma mina, os seus camaradas da CCAÇ 12 e da CCS do BCAÇ 2852, e de outras unidades, atravessaram a bolanha de Finete, de noite, para ir em seu socorro... Ele era nosso camarada. E eu também estive lá. Eu, o Humberto, o Carlão e tantos outros.
Hoje, ao ler os seus escritos, que temos vindo a publicar ao longo de um ano, eu entendo melhor os terríveis dilemas morais de um homem só, a quem foi confiada uma missão hercúlea, quase impossível...
Não vou julgá-lo, não tenho esse direito, a respeito do que se passou na emboscada de Malandin, no dia 3 de Agosto de 1969, às 19h...
Quero apenas acrescentar que também sou capaz de entender (compreender, o que não implica nenhum juízo de valor) o comportamento do 1º cabo Costa, papel, oriundo de Bissau...
Gostava de perguntar ao Mário, qual teria a sua reacção, se em vez do Costa, tivésse sido outro cabo, metropolitano, ou até um dos seus furriéis, o Pires ou o Casanova o autor das terríveis palavras "Assassino, mataste ua mulher"!... É uma mera hipótese teórica, mas a questão é interessante para suscitar uma reflexão (crítica) entre todos os camaradas que fizeram aquela guerra e que tinham, nas suas fileiras, militares guineenses, como foi o caso do Pel Caç Nat 52, do Beja Santos, do Pel Caç Nat 53, do Paulo Santiago, do Pel Caç Nat 63, do Jorge Cabral, da CCAÇ 13, do Carlos Fortunato ou da CCAÇ 12, do Luís Graça, do Humberto Reis, do Joaquim Fernandes, do Tony Levezinho, do Abel Rodrigues ...
Como é que eu ou qualquer um de nós teria reagido se houvesse, nas nossas fileiras, alguém, camarada, a gritar-nos na cara: "Assassino, mataste uma mulher!"...
Retomando as palavras de Jesus Cristo, quem de nós, hoje, está em condições de lançar a primeira pedra a um camarada que foi capaz de pôr o seu nome por baixo de um texto portentoso e ao mesmo tempo perturbante como este, que acaba de ser publicado no nosso blogue ?
Luís Graça
Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.
Texto do Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70):
Disparidade de Critérios: Cabo metropolitano ou cabo guineense?
por Beja Santos
Luís, tu questionaste-me se a minha reacção face ao comportamento repreensível do Cabo Benjamim Lopes da Costa (ver episódio "Mataste uma mulher, branco assassino!") (1) teria sido idêntica caso tivesse ocorrido com um Furriel ou Cabo metropolitano. Desculpa só hoje responder, foi só por pura falta de tempo.
Respondo sem hesitar: sim, teria sido a mesma. A minha relação com e Cabos não tinha distinção, orientei-me sempre pela dedicação, motivação e competência. Para falar só de Benjamim, meses mais tarde sobre esta triste ocorrência, ele foi louvado por "ter demonstrado excepcionais condições de trabalho, desembaraço e entusiasmo em todos os serviços de quem tem sido encarregado... Abnegado e competente, também nas actividades operacionais se revelou um elemento cumpridor e com quem se podia contar".
Em 1971, tinha já a guerra acabado para os dois, convidou-me para padrinho de casamento (assistiu e participou na boda do meu casamento, em Abril de 1970), não podia nem queria aceitar, enviei-lhe a prenda que ele me pediu, as alianças. Através do irmão, o Benicío Lopes da Costa (foi secretário-geral da Assembleia Nacional Popular e brilhante aluno de Filosofia da Cristina) fui sempre tendo notícias e estivemos juntos em 1991, por várias vezes. Veio a morrer num estúpido acidente de automóvel.
Tu, que conheces melhor que ninguém o volume publicado no blogue, não encontras discriminação nos tratamentos. Havia três Furriéis, aparece sempre o Casanova e o Pires, nunca escrevo sobre o Pina, que adoptou connosco um estranho comportamento de um desenfianço permanente (terá direito ao episódio "O dedo mindinho do Furriel Pina"). No entanto, ele será transferido para o [Pel Caç Nat] 63 e receberemos o Furriel Vitorino Ocante, um guineense, um homem afável, cumpridor e competente.
Não te esqueças igualmente que eu sempre tratei o Cabo Costa como o mais culto dos meus colaboradores. Era um papel de Bissau, frequentou o liceu e tinha uma preparação cultural muito acima da média. Na emboscada de Malandim (1), produto das circunstâncias, certamente por ser a primeira vez que via sangue, o Benjamim fraquejou. Ou eu cortava a direito ou o sentido de justiça que é crucial na comunicação com a tropa guineense estava definitivamente perdido e os meus créditos arruinados. Vi assim, sentia assim, se voltasse atrás teria procedido assim.
Beja Santos
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Nota de L.G.
20 de Julho de 2007 >Guiné 63/74 - P1978: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (56): Mataste uma mulher, branco assassino!
Comentário ao post:
Luís Graça disse...
Meu caro Mário e restantes camaradas da Guiné: Uma das regras de ouro do nosso blogue é: Ninguém condena ninguém!... Nenhum camarada que fez a guerra da Guiné diz para outro camarada de armas, a esta distância (de 33 a 44 anos): Foste herói, ou foste coberde, ou foste assassino, ou foste criminoso de guerra... Ninguém, nesta caserna, está em condições de dizer, olhos nos olhos, a outro camarada: Procedeste bem, procedeste mal...
Nenhum de nós quer ser ou pode ser juiz em causa própria: Mal ou bem, estivémos num lado da barricada; lutámos ou fingimos que lutámos; matámos (por muito que nos custe admiti-lo); destruímos aldeias, meios de vida, gado; envenenámos poços; regámos culturas de arroz com napalm... Como em todas as guerras, defendemos e atacámos. E, como muito bem nos lembra o Briote, fizémos escolas, abrimos centros médicos, mobilizámos milhares de jovens guineenses, criámos a ilusão da Guiné Melhor... Enfim, fomos capazes de fazer a paz, em condições dífíceis...
Há guineenses, hoje - não posso quantificar - que guardam boas recordações de nós; outros nem tanto... Na realidade, a guerra colonial foi também uma guerra civil, em que valia tudo (ou quase tudo), incluindo a demagogia...
Serve este preâmbulo para saudar o Mário Beja Santos pela sua coragem e honestidade intelectual. Toda a gente sabia, na Bambadinca do meu tempo, que ele montava emboscadas, à noite, às gentes de Madina (leia-se: às forças do PAIGC) que vinham abastecer-se nas aldeias ribeirinhas do Rio Geba, de etnia balanta, que por sua vez faziam as suas trocas comerciais com os comerciantes (brancos) de Bambadinca...
Alguns de nós, como eu, não apreciavam muito o comportamento (militar) do Tigre de Missirá que levava a sua missão até ao extremo limite das suas forças... Por isso, ele teve a sua cabeça a prémio... Mas na véspera de acabar a sua comissão, quando escapou por um triz de uma mina, os seus camaradas da CCAÇ 12 e da CCS do BCAÇ 2852, e de outras unidades, atravessaram a bolanha de Finete, de noite, para ir em seu socorro... Ele era nosso camarada. E eu também estive lá. Eu, o Humberto, o Carlão e tantos outros.
Hoje, ao ler os seus escritos, que temos vindo a publicar ao longo de um ano, eu entendo melhor os terríveis dilemas morais de um homem só, a quem foi confiada uma missão hercúlea, quase impossível...
Não vou julgá-lo, não tenho esse direito, a respeito do que se passou na emboscada de Malandin, no dia 3 de Agosto de 1969, às 19h...
Quero apenas acrescentar que também sou capaz de entender (compreender, o que não implica nenhum juízo de valor) o comportamento do 1º cabo Costa, papel, oriundo de Bissau...
Gostava de perguntar ao Mário, qual teria a sua reacção, se em vez do Costa, tivésse sido outro cabo, metropolitano, ou até um dos seus furriéis, o Pires ou o Casanova o autor das terríveis palavras "Assassino, mataste ua mulher"!... É uma mera hipótese teórica, mas a questão é interessante para suscitar uma reflexão (crítica) entre todos os camaradas que fizeram aquela guerra e que tinham, nas suas fileiras, militares guineenses, como foi o caso do Pel Caç Nat 52, do Beja Santos, do Pel Caç Nat 53, do Paulo Santiago, do Pel Caç Nat 63, do Jorge Cabral, da CCAÇ 13, do Carlos Fortunato ou da CCAÇ 12, do Luís Graça, do Humberto Reis, do Joaquim Fernandes, do Tony Levezinho, do Abel Rodrigues ...
Como é que eu ou qualquer um de nós teria reagido se houvesse, nas nossas fileiras, alguém, camarada, a gritar-nos na cara: "Assassino, mataste uma mulher!"...
Retomando as palavras de Jesus Cristo, quem de nós, hoje, está em condições de lançar a primeira pedra a um camarada que foi capaz de pôr o seu nome por baixo de um texto portentoso e ao mesmo tempo perturbante como este, que acaba de ser publicado no nosso blogue ?
Luís Graça
segunda-feira, 30 de julho de 2007
Guiné 63/74 - P2012: Em busca de... (7): Meu irmão, Guido de Ponte Brazão da Silva, alferes, morto em Canquelifá, em 1970 (Conceição Brazão)
1. Mensagem, com data de 16 de Junho de 2007, enviada por Conceição Brazão
Exmo. Senhor, Dr. Luís Graça,
Venho muito respeitosamente parabenizar por este blogue tão especial.
Peço desculpa por a minha ousadia, mas venho pedir qualquer informação que
saiba sobre o meu irmão, Guido de Ponte Brazão da Silva, natural da Boaventura, Madeira, Alferes do RC 3, falecido em Canquelifá, Guiné, no dia 22-10-1970, que teve como Comandante o Capitão Castro Neves, SPM 6493, e um amigo, Alferes Paiva Nunes, que julgo fazer parte da mesma Companhia.
Lamento não ter mais qualquer dado, que se justifica por ser um tema muito penoso para qualquer diálogo com os meus pais. Infelizmente o meu pai já faleceu em 1977 e à minha mãe por respeito com a sua dor ainda hoje muito sentida, nunca o poderei saber.
Antecipadamente grata, por toda a v/atenção dispensada.
Apresento os meus melhores cumprimentos,
Maria da Conceição de Ponte Brazão da Silva Ramos
2. Comentário de L.G.:
Cara amiga: Faz todo o sentido procurar notícias da antiga unidade militar a que pertenceu o seu irmão, nosso camarada, morto em plena juventude no nordeste da Guiné, em Canquelifá, junto à fronteira com o Senegal (veja a respectiva carta ou mapa). Você tem o direito a saber a verdade, toda a verdade, sobre as circunstâncias em que morreu o seu irmão. Como noutros casos, sempre dolorosos, o Exército deu a terrível notícia, aos seus pais, da maneira habitual: impessoal, telegráfica, seca e desumana...
Infelizmente não temos muita informação sobre Canquelifá desse tempo, mas seguramente que vamos fazer o nosso melhor para satisfazer o seu pedido. Vamos tentar falar com camaradas do seu irmão, depois de identificarmos o Batalhão e a Companhia a que ele pertencia. Há um Batalhão de Cavalaria (BCAV 2922) e uma companhia (CCAV 2748) que estiveram em (ou passaram por) a região de Canquelifá, entre 1970 e 1972. Esse batalhão tinha a sede em Piche.
Um camarada nosso que esteve sete meses adido a esse batalhão, em Piche, foi o Helder Sousa > Vd. post de 26 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1702: A guerra também se ganhava (ou perdia) nas ondas hertzianas (Helder Sousa, Centro de Escuta e de Radiolocalização, Bissau).
Temos mais uma notícia sobre esse batalhão, no post de 13 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1067: Morreu o major Mendes Paulo (BCAV 2922, Piche, 1970/72) (José Martins)
O Major de Cavalaria João Luís Laia Nogueira Mendes Paulo foi Oficial de Informações e Operações no Batalhão de Cavalaria nº 2922, e era oriundo do Regimento de Cavalaria nº 3 de Estremoz, tal como o seu irmão. Pode ser que o nosso camarada José Martins possa averiguar ago mais sobre este assunto. Vamos desejar boa sorte para as nossas buscas.
Exmo. Senhor, Dr. Luís Graça,
Venho muito respeitosamente parabenizar por este blogue tão especial.
Peço desculpa por a minha ousadia, mas venho pedir qualquer informação que
saiba sobre o meu irmão, Guido de Ponte Brazão da Silva, natural da Boaventura, Madeira, Alferes do RC 3, falecido em Canquelifá, Guiné, no dia 22-10-1970, que teve como Comandante o Capitão Castro Neves, SPM 6493, e um amigo, Alferes Paiva Nunes, que julgo fazer parte da mesma Companhia.
Lamento não ter mais qualquer dado, que se justifica por ser um tema muito penoso para qualquer diálogo com os meus pais. Infelizmente o meu pai já faleceu em 1977 e à minha mãe por respeito com a sua dor ainda hoje muito sentida, nunca o poderei saber.
Antecipadamente grata, por toda a v/atenção dispensada.
Apresento os meus melhores cumprimentos,
Maria da Conceição de Ponte Brazão da Silva Ramos
2. Comentário de L.G.:
Cara amiga: Faz todo o sentido procurar notícias da antiga unidade militar a que pertenceu o seu irmão, nosso camarada, morto em plena juventude no nordeste da Guiné, em Canquelifá, junto à fronteira com o Senegal (veja a respectiva carta ou mapa). Você tem o direito a saber a verdade, toda a verdade, sobre as circunstâncias em que morreu o seu irmão. Como noutros casos, sempre dolorosos, o Exército deu a terrível notícia, aos seus pais, da maneira habitual: impessoal, telegráfica, seca e desumana...
Infelizmente não temos muita informação sobre Canquelifá desse tempo, mas seguramente que vamos fazer o nosso melhor para satisfazer o seu pedido. Vamos tentar falar com camaradas do seu irmão, depois de identificarmos o Batalhão e a Companhia a que ele pertencia. Há um Batalhão de Cavalaria (BCAV 2922) e uma companhia (CCAV 2748) que estiveram em (ou passaram por) a região de Canquelifá, entre 1970 e 1972. Esse batalhão tinha a sede em Piche.
Um camarada nosso que esteve sete meses adido a esse batalhão, em Piche, foi o Helder Sousa > Vd. post de 26 de Abril de 2007 > Guiné 63/74 - P1702: A guerra também se ganhava (ou perdia) nas ondas hertzianas (Helder Sousa, Centro de Escuta e de Radiolocalização, Bissau).
Temos mais uma notícia sobre esse batalhão, no post de 13 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1067: Morreu o major Mendes Paulo (BCAV 2922, Piche, 1970/72) (José Martins)
O Major de Cavalaria João Luís Laia Nogueira Mendes Paulo foi Oficial de Informações e Operações no Batalhão de Cavalaria nº 2922, e era oriundo do Regimento de Cavalaria nº 3 de Estremoz, tal como o seu irmão. Pode ser que o nosso camarada José Martins possa averiguar ago mais sobre este assunto. Vamos desejar boa sorte para as nossas buscas.
Guiné 63/74 - P2011: Vamos ajudar o António Batista, ex-Soldado da CCAÇ 3490/BART 3872 (Júlio César / Paulo Santiago / Álvaro Basto / Carlos Vinhal)
Maia > 21 de Julho de 2007 > O encontro com o António da Silva Batista (ao centro): à esquerda, o Álvaro Basto, ex-Fur Mil Enf da CART 3492, Xitole, 1971/74) ; à direita, o Paulo Santiago (ex-Alf Mil, Cmdt do Pel Caç Nat 53, Saltinho, 1970/72)
Foto: © João Santiago (2007). Direitos reservados.
1. O nosso tertuliano Júlio César , enviou uma mensagem ao Editor Luís Graça, com data de 25 de Julho, comentando o caso do nosso desafortunado camarada Batista:
Luís:
Li, como um misto de perplexidade e revolta, o que aconteceu (e está a acontecer) ao nosso amigo e camarada Batista, prisioneiro de guerra, desprezado por aqueles que mais lhe devem (1).
Acho muito bem e apoio a entrada deste camarada na Tabanca Grande (que nunca se tornará pequena, pois ela é do tamanho do mundo, que é quanto mede o coração de um ex-combatente da Guiné).
Tudo quanto possamos fazer para minorar o sofrimento deste nosso camarada nunca será demais.
Percebe-se, pela entrevista, que é um homem simples, como simples eram a grande maioria dos ex-combatentesda Guiné. Não tem ódios, nem rancores e, se calhar, por isso mesmo, é que tem sido desprezado.
Preciso de saber o seguinte: O DL 170/2004, de 16 de Julho, que revoga o DL 34/98, de 18 de Julho, que tinha sido regulamentada pelo DL 161/2001, de 22 de Maio, estabelece uma Pensão pecuniária no valor de 100 euros mensais, que serão actualizados anualmente, para todos os prisioneiros de guerra, desde que apresentem comprovativo dessa situação.
Quer dizer... como na Caderneta Militar do nosso camarada Batista, não vem mencionada a sua situação de Prisioneiro de Guerra (nem tão pouco - como vimos - a sua passagem pela Guiné???), pergunto: será que esta pensão lhe foi atribuída? Seria o cúmulo da filha da putice, mas é questão a colocar...
Cumprimentos para todos os Tertulianos e um abraço de solidariedade ao nosso camarada Batista.
Júlio César Ferreira
Ex. 1º cabo 70/71 C. Caç. 2659
Cacheu
2. Em 27 do mesmo mês o co-editor Carlos Vinhal enviou ao Álvaro Basto e ao Paulo Santiago a seguinte mensagem:
Camaradas Álvaro Basto e Paulo Santiago
Querem fazer algum comentário a este mail do camarada Júlio César?
Um abraço do
Carlos Vinhal
3. No mesmo dia Paulo Santiago comentava:
Carlos : Este mail do Júlio César vem ainda tornar mais chocante a situação do Batista.
Não conhecia estes Decretos Leis, sendo assim o António Batista, além de não ter a Caderneta Militar, a que tinha direito, está a ser ROUBADO, visto não receber qualquer pensão.
É, de facto, o cúmulo da filha-da-putice, como diz o camarada Júlio.
Um abraço do
Paulo Santiago
4. No dia 28 Álvaro Basto em mensagem dirigida ao co-editor CV, dizia:
Olha, Carlos.
Estou estupefacto.
Claro que há que urgentemente averiguar a aplicabilidade deste Dec. Lei ao Baptista.
Eu próprio irei falar com um advogado meu amigo (que por sinal esteve em Jumbembem também) para se fazer uma averiguação cuidada, pois a confirmar-se isto é bem provavel que o Baptista tenha direito não só à pensão não paga, mas a uma indemnização por danos morais e patrimoniais pela omissão da sua real situação militar pelos serviços competentes do Exército.
Logo que saiba alguma coisa mais eu volto comunicar
Um abraço a todos
Álvaro Basto
5. Comentário do co-editor CV:
Estamos perante um caso quase irreal.
Um simples mortal é mobilizado contra sua vontade para combater numa guerra longe da sua terra natal, numa Guiné de que só ouvira falar nos bancos da escola, é feito prisioneiro e a recompensa que lhe dão é pura e simplesmente fazer de conta que não se passou nada?
Pena que durante estes anos não tenha aparecido alguém que ajudasse o Batista a reinvidicar os seus direitos.
Esperemos para ver o que o Álvaro vai conseguir em termos de obtenção de informações.
Provavelmente vamos ter de arranjar, junto dos seus antigos camaradas, testemunhos comprovativos da sua actividade operacional e do acto que deu origem à sua captura.
Desgraçadamente não haverá entre nós nenhum companheiro de Companhia ou Batalhão do António Batista, excepção do Joaquim Guimarães que julgo estar radicado nos EUA ?
Camaradas, temos que unir forças para que as injustiças de que vamos tendo conhecimento, sejam banidas e as pessoas lesadas, ressarcidas.
Muitos camaradas Batistas andarão por aí.
Aceitam-se sugestões de todos os camaradas, especialmente dos que estão ligados às diversas organizações de antigos combatentes existentes. Todos poderão dar uma ajuda preciosa, para se traçar uma linha de acção concertada.
Vamos todos ajudar o Batista. Temos que ser solidários.
_______________________
Notas do co-editor CV:
(1) Vd. Posts de:
3 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1986: António da Silva Batista, o morto-vivo do Quirafo: um processo kafkiano que envergonha o Exército Português (Luís Graça)
22 de Julho de 2007:Guiné 63/74 - P1983: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (1) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)
22 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1985: Prisioneiro do PAIGC: António da Silva Batista, ex-Sold At Inf, CCAÇ 3490 / BCAÇ 3872 (2) (Álvaro Basto / João e Paulo Santiago)
24 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1990: Carta aberta ao Cor Ayala Botto: O caso Batista: O que fazer para salvar a sua honra militar ? (Paulo Santiago)
24 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1991: O Simplex, o Kafka e o Batista ou a Estória do Vivo que a Burocracia Quer como Morto (João Tunes)
Guiné 63/74 - P2010: O Major Pereira da Silva que eu conheci, em 1966, no QG de Santa Luzia (Virgínio Briote)
1. Texto do Virgínio Briote, nosso co-editor:
Caro Luís,
Espero que te tenhas reconfortado com os ares do Marco. Que belas terras e que vinhos, Deus meu!
Tenho acompanhado com muito interesse o estudo que o Afonso (1) tem vindo a fazer sobre o caso. Também, quando vi a foto, vi que havia uma troca na identificação dos majores P. da Silva e P. Ramos. Enviei-lhe a mensagem, que podes ler abaixo. Embora ciente do erro, pedi-lhe que verificasse a legenda. Porque o Afonso é o mais interessado na procura da verdade, devia ser ele, penso eu, a proceder à rectificação. Ainda não respondeu, pode dar-se o caso de estar ausente. Assim, proponho esperar mais um ou dois dias e, caso não haja qualquer resposta, substituir a foto pela outra que existe no blogue, esse sim correcta.
Um abraço,
vb
Afonso, caro Camarada,
Antes de mais, cumprimentos pelo notável trabalho que tens vindo a fazer, no esforço em desvendar até ao limite o caso dos assassinados na zona de Teixeira Pinto. É uma obra, sem necessidade de sabujices, como então se dizia nos nosso tempos, uma obra, escrevia eu, com muito interesse e, que os investigadores futuros sobre a colonialização/descolonização da Guiné não podem esquecer. Parabéns pelo teu trabalho, Afonso, é o mínimo que te posso dizer.
Uma questão que convém tu repensares, é a legenda da foto. Eu conheci o major Pereira da Silva. Nos finais da minha comissão, Set/Dez 66, estive no QG a fazer nada, andava por ali, a esperar que os 24 meses acabassem.
O major P. da Silva, um dia, no final de um almoço, abeirou-se de mim, deu-se a conhecer, falou-me de assuntos que me diziam pessoalmente respeito, mostrou estar bem informado, para minha surpresa. Daquele encontro na messe de Santa Luzia, ficou-me me a recordação de um homem culto, inteligente, a que eu, confesso, não estava muito habituado a ver nos oficiais do QP.
Naqueles últimos meses, nos finais de 66, convivemos quase diariamente, mais que uma vez viemos até à cidade, demos as voltas do costume pelas montras de Bissau, jantámos 2 ou 3 vezes no Fonseca (Solar dos 10, não sei se este restaurante te diz alguma coisa). Isto para te dizer que conheci de perto o P. da Silva.
Ao Passos Ramos, se a memória não me está a trair, apresentaram-mo uma vez.
De qualquer das formas, fala com outras pessoas que o tenham conhecido, como, por exemplo o Tunes, que privou bem de perto com os três.
Um abraço, Afonso, e até um dia destes,
vb
2. Comentário: Obrigado, Virgínio, o assunto está esclarecido (1). Fica também aqui, para conhecimento dos nossos acamaradas e amigos, o teu apreço pelo trabalho do Afonso M.F. Sousa que, possivelmente, estará de férias.
______
Nota de L. G.:
(1) Vd. posts de
27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2004: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (Anexo A): Depoimento de Fur Mil Lino, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1970)
30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2008: Dando a mão à palmatória (1): A fotografia dos saudosos majores Pereira da Silva, Passos Ramos e Osório (João Tunes / Editores)
Caro Luís,
Espero que te tenhas reconfortado com os ares do Marco. Que belas terras e que vinhos, Deus meu!
Tenho acompanhado com muito interesse o estudo que o Afonso (1) tem vindo a fazer sobre o caso. Também, quando vi a foto, vi que havia uma troca na identificação dos majores P. da Silva e P. Ramos. Enviei-lhe a mensagem, que podes ler abaixo. Embora ciente do erro, pedi-lhe que verificasse a legenda. Porque o Afonso é o mais interessado na procura da verdade, devia ser ele, penso eu, a proceder à rectificação. Ainda não respondeu, pode dar-se o caso de estar ausente. Assim, proponho esperar mais um ou dois dias e, caso não haja qualquer resposta, substituir a foto pela outra que existe no blogue, esse sim correcta.
Um abraço,
vb
Afonso, caro Camarada,
Antes de mais, cumprimentos pelo notável trabalho que tens vindo a fazer, no esforço em desvendar até ao limite o caso dos assassinados na zona de Teixeira Pinto. É uma obra, sem necessidade de sabujices, como então se dizia nos nosso tempos, uma obra, escrevia eu, com muito interesse e, que os investigadores futuros sobre a colonialização/descolonização da Guiné não podem esquecer. Parabéns pelo teu trabalho, Afonso, é o mínimo que te posso dizer.
Uma questão que convém tu repensares, é a legenda da foto. Eu conheci o major Pereira da Silva. Nos finais da minha comissão, Set/Dez 66, estive no QG a fazer nada, andava por ali, a esperar que os 24 meses acabassem.
O major P. da Silva, um dia, no final de um almoço, abeirou-se de mim, deu-se a conhecer, falou-me de assuntos que me diziam pessoalmente respeito, mostrou estar bem informado, para minha surpresa. Daquele encontro na messe de Santa Luzia, ficou-me me a recordação de um homem culto, inteligente, a que eu, confesso, não estava muito habituado a ver nos oficiais do QP.
Naqueles últimos meses, nos finais de 66, convivemos quase diariamente, mais que uma vez viemos até à cidade, demos as voltas do costume pelas montras de Bissau, jantámos 2 ou 3 vezes no Fonseca (Solar dos 10, não sei se este restaurante te diz alguma coisa). Isto para te dizer que conheci de perto o P. da Silva.
Ao Passos Ramos, se a memória não me está a trair, apresentaram-mo uma vez.
De qualquer das formas, fala com outras pessoas que o tenham conhecido, como, por exemplo o Tunes, que privou bem de perto com os três.
Um abraço, Afonso, e até um dia destes,
vb
2. Comentário: Obrigado, Virgínio, o assunto está esclarecido (1). Fica também aqui, para conhecimento dos nossos acamaradas e amigos, o teu apreço pelo trabalho do Afonso M.F. Sousa que, possivelmente, estará de férias.
______
Nota de L. G.:
(1) Vd. posts de
27 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2004: Dossiê O Massacre do Chão Manjaco (Afonso M.F. Sousa) (Anexo A): Depoimento de Fur Mil Lino, CCAÇ 2585 (Jolmete, 1970)
30 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P2008: Dando a mão à palmatória (1): A fotografia dos saudosos majores Pereira da Silva, Passos Ramos e Osório (João Tunes / Editores)
Guiné 63/74 - P2009: Blogpoesia (3): Explorador? Mineiro? Não, um Soldado ! (Jorge Cabral)
Guiné > Região de Tombali > Gandembel > CCAÇ 2317 (1968/69) > 1968 > Início da construção do aquartelamento > No comments! (As grandes fotografias dispensam legendas) (1)
Foto: © Idálio Reis (2007). (Editada por L.G.). Direitos reservados.
1. Texto do Jorge Cabral:
Querido Amigo,
Cá continuo e como sempre voluntariamente na margem. Do Tejo? Do Geba? Ou da vida?
Gozando, e gozando-me, aponto os muitos reis que vão, invariavelmente, nus.
Aproveitarei o teu conselho para pôr a escrita em dia. Tenho tanto para comentar… Entretanto, e como sou um prosador demorado, mas um poeta repentista, envio poema provocado pela exemplar fotografia do Idálio.
Boas férias para ti e toda a
Tabanca,
Jorge
Explorador? Mineiro? Não, um Soldado!
A pá como viola a dedilhar.
Vê-se que está cansado
Do fado, sempre o mesmo, aguentar.
É muito cedo. Parece madrugada.
Chuva, calor, vermelha a terra.
Que pensa ele? Na namorada?
Na mãe? Ou no porquê da Guerra?
Tão jovem, apenas um rapaz
No meio de tantos perigos.
Oxalá ainda viva e sempre em Paz
Sem ter de construir novos abrigos.
Jorge Cabral
_________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1973: Gandembel/Ponte Balana: homenagem aos bravos combatentes de um lado e doutro (Idálio Reis)
Foto: © Idálio Reis (2007). (Editada por L.G.). Direitos reservados.
1. Texto do Jorge Cabral:
Querido Amigo,
Cá continuo e como sempre voluntariamente na margem. Do Tejo? Do Geba? Ou da vida?
Gozando, e gozando-me, aponto os muitos reis que vão, invariavelmente, nus.
Aproveitarei o teu conselho para pôr a escrita em dia. Tenho tanto para comentar… Entretanto, e como sou um prosador demorado, mas um poeta repentista, envio poema provocado pela exemplar fotografia do Idálio.
Boas férias para ti e toda a
Tabanca,
Jorge
Explorador? Mineiro? Não, um Soldado!
A pá como viola a dedilhar.
Vê-se que está cansado
Do fado, sempre o mesmo, aguentar.
É muito cedo. Parece madrugada.
Chuva, calor, vermelha a terra.
Que pensa ele? Na namorada?
Na mãe? Ou no porquê da Guerra?
Tão jovem, apenas um rapaz
No meio de tantos perigos.
Oxalá ainda viva e sempre em Paz
Sem ter de construir novos abrigos.
Jorge Cabral
_________
Nota de L.G.:
(1) Vd. post de 19 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1973: Gandembel/Ponte Balana: homenagem aos bravos combatentes de um lado e doutro (Idálio Reis)
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