segunda-feira, 6 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4146: Parabéns a você (3): No dia 6 de Abril de 2009, ao camarigo Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, Guiné 1971/73 (Editores)

Joaquim Mexia Alves pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa).
A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74).



O nosso camarigo (*) Joaquim Mexia Alves está hoje de parabéns.

Falar dele é fácil e difícil. Fácil, porque não é preciso estar a inventar para enumerar as suas qualidades de cidadão e amigo. Difícil, porque acabamos por pecar por defeito.

Há poucos dias dizia ele que entre nós os dois se criou uma empatia muito grande, aquando da organização do último Encontro da Tertúlia. Foi fácil e aconteceu normalmente. Ele no terreno, contactando o restaurante e organizando tudo para que o Encontro corresse da melhor maneira, como correu, e eu apenas secretariando, organizando a papelada, parte para que ele, confessou, tinha pouco ou nenhum jeito.
O entendimento entre nós foi imediato, não sendo preciso mais que meia dúzia de telefonemas e alguns mails. Do resultado, melhor que o vosso testemunho não há.

O contacto que tivemos naquele dia e uma pequena tertúlia espontânea com alguns camaradas, acontecida numa esplanada de café, à noite, em Monte Real, deixou claro a pessoa que é, e como é fácil criar com ele amizade. Os presentes discutiram a guerra da Guiné e, aqui e ali discordaram, mas respeitaram-se e apertaram as mãos como verdadeiros camarigos.



Ortigosa, Monte Real, 17 de Maio de 2008 > III Encontro da Tertúlia do Blogue do Luís Graça & Camaradas da Guiné, brilhantemente organizado por Joaquim Mexia Alves

Pessoa leal no confronto verbal, não fugindo à polémica quando se trata de defender os seus pontos de vista, respeitador da opinião dos seus antagonistas de ocasião, extremamente correcto no trato, o Joaquim é uma pessoa agradável e afável. Sendo uma figura muito conhecida em Monte Real, onde a sua família tem tradição, não vi nele qualquer ar de vaidade. Foi preciso eu perguntar-lhe se o homenageado num memorial existente no Jardim de Monte Real era seu familiar. Respondeu que sim, que era o seu pai, mas sem entrar em pormenores quanto ao passado daquela figura marcante de Monte Real e do Distrito de Leiria.

Monte Real >Termas de Monte Real > O Joaquim Mexia Alves junto ao busto do fundador das termas, Olímpio Duarte Alves, que foi também governador civil de Leiria (1959-68). Na base do monumento lê-se: "A Olympio Duarte Alves, uma vida ao serviço destas termas que fundou e do termalismo nacional".

A sua colaboração no Blogue é tão extensa que pesquisar as suas intervenções é coisa complicada. Localizei uns quantos postes mais marcantes que poderão consultar. Destes é fácil derivar para outros não referenciados.

Deixo estas fotos relativas à sua passagem pela Guiné, onde como Alferes Miliciano, esteve ao serviço CART 3492, Pelotão de Caçadores Nativos 52 e CCAÇ 15.

Mato Cão > Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > Destacamento da Ponte dos Fulas > O Joaquim Mexia Alves, ex-alferes miliciano de operações especiais, que de Dezembro de 1971 a Dezembro de 1973 passou por três unidades no TO da Guiné: pertenceu originalmente à CART 3492 (Xitole / Ponte dos Fulas), antes de ingressar no Pel Caç Nat 52 (Bambadinca, Ponte Rio Udunduma, Mato Cão) e depois na CCAÇ 15 (Mansoa ). A CART 3492 pertencia ao BART 3873 (Bambadinca, 1971/74).

Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil Op Esp, CART 3942 (Xitole), Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e CCAÇ 15 (Mansoa)

Guiné > Arquipélago dos Bijagós > Ilha de Bolama > Bolama > CART 3492 > 1972 > "No jipe, frente para trás: Alf Canas, Alf Novais, Alf Lima (Secretaria?), Alf Rodrigues (meu camarada de curso, também que era da CCS e veio depois para o Xitole, por troca com o Alf Gonçalves Dias se não me engano), Alf Martins (CART 3493, Mansambo) e eu [, assinalado cum círculo]".

Lisboa > Sociedade de Geografia > 6 de Março de 2008 > Três históricos do Pel Caç Nat 52 > Joaquim Mexia Alves, à esquerda da foto, no lançamento do livro Diário da Guiné, 1968-1969: Na Terra dos Soncó, de Mário Beja Santos, que está ao centro. À direita, está o Henrique Matos que foi o 1.º Comandante do Pel Caç Nat 52. Desta vez, no lançamento do 2.º livro (Diário da Guiné, 1969-1970: O Tigre Vadio), este quadro não se vai repetir, devido à ausência do J. Mexia Alves.

Monte Real > Base Aérea n.º 5 > 25 de Fevereiro de 1988 > O Cap Pil Av Jaime Brandão, mais o seu amigo e conterrâneo Joaquim Mexia Alves, preparando-se para um passeio de... A7.

Talvez por ser um homem sensível, tem uma veia poética e musical que não se coíbe de demonstrar, principalmente quando está entre amigos, situação em que se sente como peixe na água.

Guiné > Zona Leste > Sector L1 > Xitole > CART 3942 / BART 3873 > 1972 > O nosso autor e cantor Joaquim Mexia Alves... Além da CART 3942 (Xitole), o J. Mexia Alves comandou, como Alf Mil Op Esp o Pel Caç Nat 52 (Mato Cão / Rio Udunduma) e e esteve ainda, na parte finald a sua comissão, na CCAÇ 15 (Mansoa )


Quinta do Paul, Ortigosa, Monte Real, Leiria > 17 de Maio de 2008 > III Encontro Nacional da Nossa Tertúlia > Um momento poético-musical: da esquerda para a direita, o J. Luís Vacas de Carvalho, o J. Mexia Alves e o David Guimarães


Fado da Guiné

Letra (original): © Joaquim Mexia Alves (2007)
Música: Pedro Rodrigues (Fado Primavera)

Lembras-te bem daquele dia
Enquanto o barco partia
E tu morrias no cais.

Braço dado com a morte,
Enfrentavas tua sorte,
Abafando os teus ais.
(bis)

Dobrado o Equador,
Ficou para trás o amor
Que então em ti vivia.

Da vida tens outra margem
Onde o medo é coragem
E a noite se quer dia.
(bis)

Aqui estás mais uma vez,
Forte, leal, português,
Sempre de cabeça erguida.

Não te deixas esquecer,
Nem aos que viste morrer
Nessa guerra em tempos ida.
(bis)

Que o suor do teu valor
Que vai abafando a dor
Que te faz manter de pé,

Seja massa e fermento
Desse nobre sentimento
Que nutres pela Guiné.
(bis)

Joaquim Mexia Alves
Monte Real,
18 de Agosto de 2007


Para o camarigo Mário Beja Santos
na véspera da apresentação do seu livro

Hoje fico assim,
Sentado a pensar.
Queria tanto que a memória
Se fizesse viva
E eu pudesse recordar.

Não,
Mais que recordar,
Viver
Aquele caminho do Mato Cão
E o cheiro daquele tarrafo
A agarrar-se-me ao coração.

Lembro-me agora
De quando ali cheguei
Ao pé deles
Os do 52
Ali na Ponte do Udunduma.
O medo entranhado
No suor quente,
Os pensamentos a correrem
Por aqueles espaços fora.

Todos me pareciam estranhos!
Não eram os meus homens
Aqueles que comigo embarcaram
Indecentemente,
Mesmo antes do Natal.
Não aqueles não eram a minha gente!

Confesso agora,
Tinha medo,
Muito medo!
Sei lá se sou capaz,
Sei lá se um dia à noite
No escuro silencioso do breu...
Sei lá!

Mas vá lá que és homem,
Mostra-te sem medo,
Levanta-te na tua altura,
Deixa que te meçam
E percebam que estás aqui
E não vais recuar.

Olha-os nos olhos,
Entrega-te por eles
De modo que eles percebam,
Para que também eles
Se venham a entregar por ti.

Sorri
O sorriso dos sem medo,
Ou melhor dos loucos,
Que já nem sequer pensam
Porque também não vale a pena
Já pensar.

E passa o tempo,
E as conversas chegam.
A empatia começa a nascer
E a confiança neles
E deles em mim
A tomar forma,
A criar raízes.

Já são a minha gente
E eu já sou deles também.
À volta da cadeira de verga
(Já falei dela uma vez),
Sentados pelo chão, (***).
Trocam-se recordações.
Surge um nome,
Um tal Tigre de Missirá!
Que raio tem o homem
Que eu não tenha!
Também já não interessa,
O homem já não mora cá.

Pois se deixaste um nome,
Se deixaste recordações,
Não penses tu,
Ó desconhecido,
Que não hei-de fazer melhor.

É assim que há muito,
Muito tempo,
Já povoavas os meus pensamentos!
Sabia lá eu um dia
Que te havia de encontrar,
Na guerra das palavras escritas,
Em que a arma
É uma caneta.

Hoje fico assim,
Sentado a pensar.
Será que o livro do Mário
Traz cheiros de bolanha molhada,
Barulhos de macaréu,
Gritos de macaco cão,
Cantares de humor duvidoso
De homens tisnados do sol,
Que cantam para espantar
O medo de não voltar.

Hoje fico assim
Sentado a pensar,
Que um livro pode trazer
Um abraço do passado
Para agora no presente
Viver, sonhar, recordar.

Hoje fico assim
Sentado a recordar...

Joaquim Mexia Alves
Monte Real, 10 de Novembro de 2008


Sentado na minha cadeira (2),
Cerveja na mão,
Fito os olhos no longe,
Tão longe,
Que vai para além do horizonte.
O Sol começa a descer ,
Lá ao fundo,
Para os lados do Enxalé,
E os seus raios de luz
Tocam a terra de sangue
E pintam o ambiente de vermelho.
O momento é mágico,
Porque não há nada mais bonito
Que o Pôr do Sol na Guiné.
Na bolanha,
Junto ao Geba
(Que se ouve a murmurar),
Passa um pequeno tornado.
Quase que o podia agarrar!
Ao meu lado,
O Furriel Bonito.
Deve estar a meditar
No que é que eu estarei...
A pensar!
Estou para aqui, isolado,
Vivendo como uma toupeira
Debaixo de terra,
Cercado de arame farpado.
A letargia da rotina diária
Toma conta de mim
E tanto me faz
Que o dia nasça
Como chegue ao fim.
Fecho os olhos por um momento.
Estou em Monte Real!
É fim de tarde,
Hora de banho
E vestir a preceito,
Que o meu pai não deixa
Que se jante no Hotel
Sem uma roupa de jeito.
Já lá vem o chefe de mesa
Que tem muito que contar,
Fala-me da carne e do peixe,
Tenho a boca a salivar.
Tocam-me no ombro!
Esfumou-se o meu sonho!
É o Mamadu que me diz,
Com o seu sorriso:
«Alfero,
O comer está pronto.»
O que lhe falta
Em smoking de profissão,
Excede em alegria
E dedicação.
Levanto-me,
Olho em redor.
Nas pequenas tabancas,
A luz das fogueiras
Ilumina a escuridão
Da falta de luz.
Abano a cabeça,
Para afastar o torpor,
E grito bem alto
Com a minha voz forte,
A afastar o temor:
«Pessoal,
vamos morfar,
que nunca se sabe,
quando isto vai acabar!»

Monte Real, 29 de Março de 2008
Poema (original): © Joaquim Mexia Alves (2007)


Ao nosso querido amigo, camarada, camarigo Joaquim Mexia Alves, os Editores Luís Graça, Virgínio Briote, Carlos Vinhal e os restantes 312 tertulianos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, desejam-lhe as maiores venturas para os próximos 40 anos que queremos sempre com boa saúde.
__________

Notas de CV:

(*) Camarigo - Palavra inventada por Joaquim Mexia Alves que significa mais que um amigo, mais que um camarada. Significa as duas coisas juntas, alguém que sendo camarada junta a particularidade de ser ao mesmo tempo amigo.

Da vasta colaboração de Joaquim Mexia Alves podem ver estes postes de:

7 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1056: Estórias avulsas (1): Mato Cão: um cozinheiro 'apanhado' (Joaquim Mexia Alves)

12 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1271: O cruzeiro das nossas vidas (1): O meu Natal de 1971 a bordo do Niassa (Joaquim Mexia Alves)

2 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1912: Um buraco chamado Mato Cão (Nuno Almeida, ex-mecânico de heli / Joaquim Mexia Alves, ex-Alf Mil, Pel Caç Nat 52)

25 de Julho de 2007 > Guiné 63/74 - P1997: Álbum das Glórias (22): O Alf Mil Pires, cmdt do Pel Caç Nat 63, em Mato Cão, na festa do meus 24 anos (Joaquim Mexia Alves)

15 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2179: Fado da Guiné (letra original de Joaquim Mexia Alves)

19 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2364: O meu Natal no mato (5): Mato Cão, 1972: Com calor, muito calor, e longe, muito longe do meu clã (Joaquim Mexia Alves)

13 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2631: Dando a mão à palmatória (5): Recado para uma ida à Guiné (Joaquim Mexia Alves)

30 de Março de 2008 > Guiné 63/74 - P2701: Blogpoesia (10): Olhando para uma foto minha, no Mato Cão, ao pôr do sol, com o Furriel Bonito... (Joaquim Mexia Alves)

15 de Maio de 2008 > Guiné 63/74 - P2845: A guerra estava militarmente perdida ? (4): Faço jus ao esforço extraordinário dos combatentes portugueses (Joaquim Mexia Alves)

19 de Junho de 2008 > Guiné 63/74 - P2961: O Nosso III Encontro Nacional, Monte Real, 17 de Maio de 2008 (11): Às vezes dá-me umas saudades da Guiné... (J. Mexia Alves)

1 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3261: Gloriosos Malucos das Máquinas Voadoras (7): o meu amigo e conterrâneo Jaime Brandão (J. Mexia Alves)

26 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3940: Sr. jornalista da Visão, nós todos fomos combatentes, não assassinos (2): J. Mexia Alves, ex-Alf Mil (Xitole, Mato Cão, Mansoa)

(*) Camarigo - Palavra inventada por Joaquim Mexia Alves para significar mais que amigo, mais que camarada. Camarigo significa as duas coisas juntas, alguém que sendo camarada junta a particularidade de ser ao mesmo tempo amigo.

Vd. postes da série Parabéns a você de:

20 de Dezembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2367: Parabéns a você (1): Humberto Reis, CCAÇ 12 (Bambadinca, 1969/71): born in Portugal, December 19th, 1946 (Luís Graça)
e
27 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4084: Parabéns a você (2): Carlos Vinhal, nosso co-editor, um rapaz de Leça, que desmontava minas em Mansabá (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P4145: Tabanca Grande (131): José Cortes, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito (1972/74)

1. No dia 2 de Abril de 2009, recebemos do nosso camarada Afonso Sousa esta mensagem:

Caro Carlos Vinhal

Tu como actual comandante da Tabanca Grande, na ausência temporária do Luis Graça, dá o devido encaminhamento a mais este tertuliano que localizei em Coimbra, no seguimento das pistas para encontrar o furriel Andrade.

2. Mensagem de José Cortes, com a mesma data, anexada à do Afonso:

Caro amigo Afonso Sousa

Recebi hoje o seu mail, que desde já agradeço, ontem mesmo entrei no site do companheiro Luis Graça, o qual achei espetacular, e para o qual vou começar a enviar também algumas histórias da minha comissão.

Eu fui Furriel Miliciano, Atirador de Infantaria, arma da qual me orgulho de ter pertencido.

Na Guiné não exerci a minha especialidade por contingência de serviço da Companhia, que não tinha Sargento que fosse reponsavél, pelo Material de Guerra, eu como Furriel Atirador com melhor nota, fiquei responsável pelo mesmo.

Mesmo assim não deixei de estar ligado a dois acontecimentos graves da Companhia, um acidente com um lança granadas de 6,5 no qual perdeu a vida o nosso soldado António Manuel, mais 4 soldados da Milícia, numa acção de Reordenamento no Sumbundo.

Outro, uma mina que provocou a morte do soldado José Jubilado dos Santos.

Estas histórias são para contar mais tarde.

Agora vou-me apresentar:

Sou José Augusto Cortes, ex-Furriel Miliciano da Companhia de Caçadores 3549, cumpri missão em Fajonquito, Leste da Guiné e pertencemos ao BCAÇ 3884, sediado em Bafatá.

Sou nascido e criado em Coimbra, onde resido na Freguesia de Santa Clara, lugar de Bordalo.

Ainda trabalho, sou funcionário do SUCH,(Serviço de Utilização Comum dos HospitaIs), faço serviço no Hospital da Universidade de Coimbra como Técnico de Manutenção.

Por isso se for preciso alguma coisa aqui de Coimbra estou as ordens.

Sem mais um abraço.
Cortes

José Cortes, ex-Fur Mil At Inf da CCAÇ 3549/BCAÇ 3884, Fajonquito, 1972/74

3. Há poucas horas de hoje, 5 de Abril de 2009, chegou esta mensagem do nosso novo camarada José Cortes:

Caros companheiros:

No seguimento das conversas com o companheiro Alfredo Sousa, venho candidatar-me à entrada na tertulia Tabanca Grande.

Não tenho grandes dotes de escritor, mas vou fazer os possiveis para agradar.

Sou José Augusto Cortes, tenho 58 anos, sou funcuinário do SUCH, (Serviço de Utilização Comum dos Hospitais), e trabalho no Hospital da Universidade de Coimbra, cidade de onde sou natural e resido.

Fui Furriel Miliciano na Guiné,zona leste em Fajonquito, na CCAÇ 3549, que pertencia ao Batalhão 3884, sediado em Bafatá.

Desembarcámos no aeroporto de Bissalanca no dia 26MAR72, fomos fazer o IAO, ao Cumeré, de onde seguimos em LDG, para o Xime e daí em viaturas cívis e militares, para Fajonquito.

Rendemos a CART 2742, que no dia de Páscoa desse ano 02ABR72, perdeu o Capitão Borges Figueiredo,e mais quatro militares, já connosco na Guiné no Cumeré.

Foi uma comissão que correu com alguns sobressaltos, desde termos 3 Comandantes de Companhia, 3 Primeiros Sargentos, 2 camaradas mortos e dois feridos graves.

São histórias para contar mais tarde.

Em anexo vão duas fotos para pagar a entrada.

Um Abraço
José Cortes
Ex-Fur Mil
NM 10977771
José Cortes em Fajonquito
José Cortes na actualidade

4. Comentário de CV:

Caro José Cortes, ainda bem que resolveste aderir à nossa Tertúlia, onde és bem-vindo.

Podes começar a escrever quando quiseres e não te preocupes por não teres grandes dotes de escritor. Eu também não tenho e até cheguei a editor deste Blogue. Costuma-se dizer: Quem não tem cão, caça com gato. Fora de brincadeira, não te preocupes que a gente sempre dá um jeito aos textos.

Queria pedir-te o favor de sempre que envies fotografias, as faças acompanhar sempre com legendas para todos ficarmos a saber a que se referem, tanto a local, como a acontecimento.

Dizes que fazes manutenção nos Hospitais de Coimbra. Eu tenho um amigo/camarada da Guiné chamado José Lourenço, que também é da Manutenção dos Hospitais aí em Coimbra. Mora na Mealhada e é electricista. Conhece-lo? Qual é a tua área profissional?

Termino, enviando-te, em nome da tertúlia, um abraço e que hoje seja o primeiro dia de muitos em que vais participar activamente no nosso Blogue.

CV
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4140: Tabanca Grande (130): Cátia Félix, jovem estudante de Ciências Farmacêuticas, solidária e interessada pela Guerra Colonial

domingo, 5 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4144: O mundo é pequeno e a nossa Tabanca... é grande (2): Partiu vivo jovem forte/Voltou bem grave e calado... (Sophia) (Vasco da Gama)

1. Mensagem de Vasco da Gama, ex-Cap Mil da CCAV 8351, Os Tigres de Cumbijã, Cumbijã, 1972/74, com data de 2 de Abril de 2009, falando da sua presença e da do Zé Manel na Conferência sobre Poesia da Guerra Colonial, Uma Ontologia do "Eu" Estilhaçado, em Coimbra, no dia 30 de Março de 2009 (*):






Meus Caros Camaradas da Guiné,

Animado pelo nosso Comandante Luís Graça, logo secundado pelo nosso camarada José Brás, lá foi o Vasco menos preocupado até porque sabia que o nosso José Manuel de Mampatá também iria estar presente. Ora, dois ex-combatentes da Guiné, daqueles de fora do arame, ainda por cima amigos, são indestrutíveis.

Saí de casa com uma hora de antecedência e dirigi-me à Faculdade de Letras, onde a minha companheira leccionou durante vinte anos. Encontrei a D. Fátima da secretaria que, a par de outros funcionários, não sabia de nenhum colóquio.

Andar para cima, descer ao piso dois, procurar anfiteatros e... nada. Lá um iluminado se lembrou:

- É no CES, sabe onde eram as urgências do hospital velho?
- Sim - diz o velho Vasco! Tentei um sprint e constatei que estou mesmo arrumado. Pesadão, dores nos pés ao tentar caminhar mais depressa, dores no peito e fico-me por aqui...

Cheguei mesmo em cima da hora e ao entrar na sala logo o boné identificou o Zé Manel. Sentei-me junto a ele, passei os olhos por toda a sala, olhei bem para os elementos da mesa e ia começar a conferência. Disse com os meus botões :

- Somos os únicos combatentes! Enganei-me, havia também um senhor general.
O título da conferência acima referenciado era seguido de : UMA ONTOLOGIA DO "EU" ESTILHAÇADO.

Ontologia? Estou lixado! Se nem o significado de ontologia sabes; o que estás aqui a fazer? Estamos debaixo de fogo, temos de raciocinar com calma e rapidamente! Enquanto o primeiro conferencista ia avançando na sua intervenção, eram as costureirinhas a cantar, lá se fez luz no Tigre do Cumbijã:

- logos= conhecimento; onto= ser. Está visto que podes continuar a assistir.

Curiosamente procurei, ao chegar à Figueira, a palavra na enciclopédia e não a encontro.

Seguiu-se à primeira intervenção, não muito fácil de acompanhar, a Senhora Professora Dra. Margarida Calafate Ribeiro que fez uma intervenção, na minha perspectiva brilhante, sobre o tema Guerra, poesia e trauma: leituras da poesia da Guerra Colonial. Achei de tal forma interessante que lhe pedi o texto para o enviar para a nossa Tabanca. Prometeu fazê-lo, mas até hoje ainda nada chegou.

Após o intervalo para o café falou a Dra. Cristina Néry Monteiro. A meio do discurso tive de sair para colocar umas moedas no parquímetro. Perdi parte da intervenção, mas apanhei o final, ao qual se seguiu o debate.

Ao botar faladura falei, apaixonadamente, do nosso blogue, da qualidade dos nossos poetas, dos versos que destilam guerra pelos poros, como disse o Luís, do mérito e da qualidade literária de muitos deles, de gente que tem obra publicada e premiada a quem a Universidade se devia abrir e dirigir. Quem melhor do que quem viveu a guerra pode poeticamente descrever o que por lá se viveu? Há, no entanto, quem não o entenda assim.

O nosso camarada Josema também fez a sua intervenção, tendo-se emocionado ao ler um poema. Fui em seu auxílio e relatei aos presentes que poesia não eram só versos, poesia é o que os meus camaradas da Guiné, referindo o Zé Manel em particular, fazem ao deslocarem-se sem interrupção há não sei quantos anos à Guiné, levando material para os hospitais, distribuindo cadernos, livros e esferográficas pelas escolas, poesia são as sementes que carinhosamente os meus camaradas para lá enviaram e que hoje, desabrochadas, matam a fome a muita gente. Que poema mais bonito existe que o poema da solidariedade?

Fui almoçar com o Zé à Munique e regressámos para o debate da parte da tarde. Dois italianos teorizaram temas difíceis, fechados, espessos para quem não é entendido na matéria.

Depois dos comentários finais do senhor Professor Helder Macedo, íamos assistir à representação do Projecto IGNARA # Guerra Colonial pelo Grupo Teatro Mosca num outro espaço.

Nas conversas de bastidores, tive o imenso prazer de constatar que o Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, é lido, melhor, consultado pela intelectualidade que vem fazendo trabalhos de mestrado e doutoramento. Para além da Dra. Cristina, conheci uma outra doutoranda da Lusíada que está a fazer uma tese sobre os nossos camaradas nascidos na Guiné e que combateram ao nosso lado. Se o Briote, ou outro camarada qualquer, ler este texto poderá dar-me pistas nesse sentido?

Através da minha pessoa poderão enviar alguns poemas que eu farei chegar, eventualmente em mão, à Dra. Cristina, até para discutir com ela a problemática ANTOLOGIA/ARQUIVO e da possibilidade da Universidade dar um empurrão ao nosso mérito poético.

Voltando ao Teatro sobre a Guerra Colonial.

Dois moços e uma menina, todos filhos de ex-combatentes, formam o Teatro Mosca. Leram, "o trabalho de casa", com uma dicção perfeita. Começaram a sua pesquisa, pois filhos da guerra que são, pouco, muito pouco souberam dela pelos seus pais. Gostei da forma e no final perorei sobre o conteúdo. Disse que não podemos ficar pelos Massacres, pelo filme da Diana Andringa e pelo filme do Joaquim Furtado. Falo nestes três items, pois foram por eles referidos.
Disse-lhes que no meu modesto entender o texto podia e devia ser enriquecido com a referência ao sofrimento dos nossos camaradas que por aí andam de mão estendida, numa vivência ostracizada, dos que carecem de tratamento médico, de uma voz amiga e solidária que a sociedade lhes nega e também da solidariedade que os ex-combatentes da Guiné dedicam ao povo. Os risos, os sorrisos, os abraços, as lágrimas vertidas nos encontros dos ex-combatentes com o povo da Guiné não são Teatro, são Realidade, só possível pela grandeza enorme de toda a malta da Guiné.

Meus queridos camaradas vou encerrar para obras por uns dias.

Peço desculpa pela extensão do texto, mas vou terminar com um poema dedicado aos nossos camaradas mortos na Guiné, dentro ou fora do arame farpado.

Guerra ou Lisboa 72

Partiu vivo jovem forte
Voltou bem grave e calado
Com morte no passaporte

Sua morte nos jornais
Surgiu em letra pequena
É preciso que o país
Tenha a consciência serena

Sophia de Mello Breyner Andresen

Camaradas
Adeus e até ao meu regresso,
Vasco da Gama
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4093: Agenda Cultural (5): Poetas da guerra colonial em conferência internacional, Coimbra, CES/UC, 30/3/2009 (Cristina Néry)

2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4127: O mundo é pequeno e o nosso blogue... é grande (1): 4 anos, um milhão de páginas visitadas... (Luís Graça / Carlos Vinhal)

Guiné 63/74 - P4143: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (5): A Justiça Militar ou um processo... kafkiano

1. Mensagem de António Paiva (*), ex-Soldado Condutor no HM 241 de Bissau, 1968/70, com data de 1 de Abril de 2009:

Caros Luís, Carlos e Virgínio

Vou falar de mim.
António Paiva


A Justiça Militar ou um processo... kafkiano

Soldado e Furriel

Tendo regressado em Junho de 1970 a bordo do Carvalho Araújo com destino à disponibilidade, senti-me feliz, missão cumprida. Estou livre.

Em Novembro do mesmo ano, 5 meses depois, algo me surpreende, recebo em minha casa um postal do Ministério do Exército a notificar-me com apresentação obrigatória, dia tantos de tal, no Serviço de Justiça em Sapadores.
- Mau, que querem de mim, que fiquei a dever, que tenho para pagar?

Muitas perguntas fiz a mim próprio e não encontrei respostas.
Comecei a pensar:

- Como me apresentei com um dia de atraso no CICA 5 em Lagos e ouvi dizer que dava uns dias de prisão, o que não veio a acontecer, segui em frente ficando registado na caderneta como Refractário, apresar de estar registado na caderneta a data certa 18 de Setembro de 1967.

- Por cá, nada mais de anormal se passou, só fui uma vez ao Cais da Rocha e duas ao aeroporto, na segunda vez embarquei por ter faltado um Oficial.

- Na Guiné, em Novembro de 1969, a faltar poucos meses para fim de comissão, tive um acidente com um táxi na Estrada de Santa Luzia, mesmo atrás do Hotel Avenida (penso que era assim que se chamava) tendo o mesmo batido na porta do prédio, a meu lado levava um camarada que me tinha pedido boleia no QG até á Amura, grande amigo, que ficou com leve ferimento na testa por ter batido no pára-brisas, o qual partiu, mas foi-se embora dali para me evitar um Auto de corpo-delito.
No dia seguinte estava no Hospital o senhor António, à minha procura, dono do Restaurante que havia na estrada entre os Adidos e a BA12, onde íamos comer o bacalhau assado, para me informar que tinha ido ao QG assinar um termo de responsabilidade pelo acidente e que o processo iria ser arquivado. Este senhor era também dono do Táxi. Dias depois saiu no Boletim Informativo do Hospital o arquivamento.

- No dia 31 de Dezembro de 1969, não por culpa minha, mas sim do whisky, sou apanhado na estrada do aeroporto com excesso de velocidade, levo 10 dias de detenção, a minha sorte foi não soprar no balão, senão os dias eram mais. Era fim de ano.

- No dia em que cá cheguei, fui aos Adidos, não me aceitaram, teria de ir ao RSS em Coimbra por ser a Unidade a que pertencia e só lá podia passar à disponibilidade e entregar a restante farpela militar.
Tudo bem, fui para casa tomar banho, que bem precisava, almoçar com meus pais e depois parti para Coimbra, onde cheguei pelas l6h e 45m.
Azar, bati com o nariz na porta, a Companhia a que eu pertencia, Auto Macas, tinha fechado mais cedo, só lá estava o cabo com quem falei e lhe disse:
- Já que aqui estou, vou lá cima ao Norte ver a família, Castro Daire, e amanhã mais cedo passo por cá.
E assim fiz, às 15h do dia seguinte lá cheguei, fui ter com o cabo que prontamente me diz:
- Estás f…, o Sargento não me deixou fazer o espólio do que cá deixaste, que vinhas à civil e não te apresentaste a ninguém, tens de ir falar com ele e podes ter 15 dias de prisão à perna.
Quem teve o corpo todo, 33 meses e 7 dias, preso à vida militar, 15 dias à perna não seria grave.
Lá fui ter com o sargento, figura cativa do quadro.
Depois de dizer tudo o que tinha para dizer, ao fim de alguma conversa entre ambos, volta a olhar para os papéis, pensei que antes não os tinha visto bem, olhando para mim me diz:
- Os c… que vem da Guiné, vem malucos, vá-se embora.
- Obrigado. - Agradeci.
Lá fui com o cabo entregar o que tinha.

Tudo isto era os meus pensamentos até ao dia em que tinha de lá ir. Algo teria ficado mal e eu não tinha pago no tempo.

Chegado o dia, lá me dirigi à Secção de Justiça em Sapadores, onde fui recebido por um Capitão.
- Bom dia.
- Bom dia.
- Recebi este postal para me apresentar aqui.
- Sim, senhor. É o sr. António Duarte de Paiva?
- Sou.
- Com o numero mecanográfico O6243167?
- Sim.
- Esteve na Guiné?
- Estive.
- Veio cá de férias?
- Vim.
- Mas não voltou.
- Voltei, sim.
- Como pode ser, se você está aqui.
- Diga o que se passa.
- Você é Furriel, estava numa Companhia do Batalhão 1911 (penso ser este o número que ele disse) veio cá de férias e desertou, pode ficar detido.
- Se fui Furriel, o Estado deve-me dinheiro, recebi como Soldado, aqui tem minha caderneta.

O Senhor Capitão, examinou a Caderneta, só me disse:
- Desculpe, há aqui um lapso.
- Lapso não, erro e bem grande!

Resolvido o problema, lá vim embora em liberdade.

Será que esse Furriel existiu ou foi só imaginário? Se existiu, safou-se bem com o meu nome e nunca foi procurado.

O certo, é ter sido mais um erro dos muitos que se cometeram nesse tempo.

Um abraço
António Paiva


2. Comentário de CV:

É caso para dizer que um homem cumpre o seu tempo de comissão integralmente, já depois de estar a gozar a peluda, não merece apanhar um susto destes.

Sabendo nós como funcionam os burocratas, que logo pela manhã, quando começam a trabalhar, ligam a máquina de complicar e então na Tropa muito pior, devido a uma cadeia hierárquica, em que cada um pisa com prazer o de baixo, o nosso camarada António Paiva teve muita sorte em não ser graduado em Furriel, só para apanhar com a porrada destinada ao outro sortudo desenfiado.
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 20 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3917: Histórias de um condutor do HM 241 (António Paiva) (4): Não cobiçar a mulher do próximo

Guiné 63/74 - P4142: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (10): A propósito dos Bandos que pululavam na Guiné (José Teixeira)

1. Mensagem José Teixeira (*), ex-1.º Cabo Enfermeiro da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70, com data de 1 de Abril de 2009:

Camaradas
Estou a tentar digerir as palavras do General Almeida Bruno, mas não consigo.
Assim sendo junto mais um desabafo

José Teixeira



A propósito dos Bandos que pululavam pela Guiné

Depois de reler atentamente as palavras do General dos óculos escuros sobre os célebres bandos que se entretinham atrás do arame farpado à espera que o bandido os viesse visitar e os textos de legítimo repúdio de muitos camaradas, que como eu ficaram profundamente ofendidos, decidi-me a agir.

Comecei por um aluno do 3.º ano do 1.º Ciclo

O que é um Bando de homens? Perguntei.

- Um conjunto de bandidos, foi a célere resposta.

De seguida fiz a pergunta à Internet e a resposta foi ainda mais rápida:

Quadrilha, Associação de malfeitores, Bando de ladrões

E deu exemplos muito concretos: Polícia prende bando que assaltou...; Bando mantém família refém enquanto rouba residência...; Bando armado assalta bomba de gasolina, etc., etc.

E... para suavizar um pouco: Bando, simboliza grupo de amigos.

Aí fiquei feliz. Afinal formávamos grupo de amigos que se entretinham a jogar cartas e a beber uns copos enquanto aguardávamos a visita do inimigo. Se ele soubesse que não passávamos de um bando até podia entrar e beber connosco.

Porque é que os senhores de galões dourados de Bissau os enganavam pela rádio Guiné dizendo que nós estávamos zangados com eles!

Ainda hoje temos o Bando da Tabanca Grande, o Bando da Tabanca Pequena de Matosinhos e tantos outros bandos que pelo menos uma vez por ano se juntam para relembrar e re-viver os tempos em que eram bandos sem saber.

Mas...

Bando... bandido... bandoleiro... é isso mesmo, não passávamos de uns bandoleiros.

Não se lembram que os nossos instrutores até nos mandavam pôr a arma em bandoleira?

Fui um pouco mais longe.

Procurei no Dicionário. Simples e sintético. A palavra bando significa: Conjunto de pássaros, ajuntamento de pessoas ou animais e... companhia de malfeitores. Bolas , voltamos ao mesmo !

Insisti e fui consultar uma enciclopédia. Agora sim. Bando quer dizer: conjunto de aves da mesma espécie ou semelhante, por vezes às centenas que voam em grupo. Tal sucede em especial com gansos, pombos, galinholas , perdizes ou patos.

Isso mesmo, não passávamos de uns patinhos, armados de G3.

Confesso que é muita areia para a minha camioneta, um General afirmar categoricamente que os militares que estavam no interior da Guiné, não passavam de bandos dentro do arame farpado à espera que o inimigo os viesse atacar.

Mas quem decidia as operações e as controlava de avião ?

Quem decidia a divisão de uma Companhia Operacional em três e mandava colocar um Grupo de combate nesta e naquela tabanca, tirando toda a força operacional à Companhia ?

Quem mandava os bandos de várias companhias avançar em direcção a uma base inimiga e quando esta estava cercada, apareciam as tais forças de elite para fazer o ronco final ? (nota que nada tenha contra, pelo contrário devo-lhes muito e registo no coração a sua coragem e abnegação, quer a Páras, Comandos ou Fuzas com quem convivi irmamente)

Quem nos mandava fazer segurança na construção de estradas meses e meses, quantas vezes com saídas em contínuo.

Quem nos obrigava a fazer colunas, com as picadas transformadas em riachos, onde as minas escondidas pelo bandido eram o maior inimigo, porque traiçoeiras, já que nas emboscadas, em que caíamos, havia um frente a frente e vencia o mais rápido ou o mais esperto e... o que tinha mais sorte ou habilidade em fugir da bala ou estilhaço assassino.

Quem dava instruções para avançarmos para este ou aquele objectivo ?

Fico-me por aqui: Afinal não passávamos de uns bandos patinhos armados de G3, não é senhor general?

Zé Teixeira
__________

Nota de CV:

(*) Vd. poste de 29 de Março > Guiné 63/74 - P4103: Carta aberta ao sr. Gen Almeida Bruno (1): Sinto-me muito honrado em ter pertencido a um dos tais bandos (José Teixeira)

Vd. último poste da série de 3 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4133: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (9): Os livros não mudam o Mundo,... O Homem muda o mundo (José Martins)

Guiné 63/74 - P4141: Os Bu...rakos em que vivemos (2): Bula, CCCAÇ 2790 (António Matos)

1. Mensagem de António Matos (*), ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, com data de 1 de Abril de 2009: Caro Luís Graça, Perante o teu desafio, não podia deixar de me alistar de imediato na descrição de mais um buraco da Guiné, desde logo o único que conheci. Talvez o ideal fosse, antes de mais, definir o que entendo por buraco neste contexto. Assim, buraco, seria todo e qualquer local onde, o militar em comissão de serviço, se via confrontado, diariamente, a desenvolver a acção que lhe fora confiada com grande probabilidade de ser vítima atingida na sua integridade física ou moral durante aquela guerra. Nesse sentido, a Guiné, toda ela, era um imenso buraco. Não limitarei, portanto, a designação ao(s) local(ais) onde a intensidade das acções inimigas tivessem sido mais assíduas ou desferidas com maior acutilância. É, pois, com essa postura realista e humilde que reinvindico a minha zona de actuação como um buraco de dimensões enormes não esquecendo todos os outros camaradas que passaram as passas do Algarve em missões de grande stress e quantas vezes com a dor do ferro a trespassar-lhe a carne e a arancar-lhe pedaços... Estive em Bula cujos limites (grosseiros) seriam, a Norte o Cacheu (S. Vicente), a Oeste, Ponta Matar, a Este, Choquemone e a Sul o Mansoa.

Bula > Mercado Foto: © Luís Faria (2009). Direitos reservados De 1970 a 1972 foi uma zona de grande actividade guerrilheira com passagens constantes de Este para Oeste e vice-versa a desencadear constante perseguição da nossa parte e originando-nos diversas baixas. Na tentativa de minorar essa movimentação do IN, foi montado o maior campo de minas de todo o ultramar (cerca de 16.000 minas) em cuja equipa de técnicos me encontrava na qualidade de alferes atirador e minas e armadilhas. A montagem demorou bastante tempo e o desgaste físico e psicológico a que fomos submetidos leva-me a confrontar essa realidade com qualquer outra na Guiné. Lá, vi caírem vários camaradas de pernas decepadas; Lá, vivi momentos de inolvidável apreensão ao temer flagelações sem hipótese de grandes defesas, pois não estávamos armados uma vez que se tornava incompatível o transporte da G3 com aquela actividade; Lá, vi indígenas igualmente vítimas daqueles engenhos; Lá, voei com o sopro da deflagração duma mina que tinha sido accionada por outro camarada; De lá, falei com o meu Deus a implorar protecção; Do meio de todo aquele inferno lembrava os pais, irmãos, namorada... Naquele campo de ferros e trotil alienei parte da minha capacidade de ser inteligente para sobreviver e poder, um dia, vir a um blog contar como foi... Os dias começavam bem cedo para que o calor não perturbasse tanto os movimentos cirúrgicos que as nossas mãos executavam... Quantas vezes, mal chegados à arena, regressávamos de imediato fruto de acidente com um camarada... No dia seguinte, qual trapezista que cai do seu equilíbrio e se estatela no chão, voltávamos, maquinalmente, estranhamente calmos, sem reinvindicar nada, até que (quantas vezes, meu Deus!) o PUM se ouvisse e os gritos nos dilacerassem as entranhas... E os dias sucediam-se... E os acidentes também... E os erros que se cometiam aquando de deslocações pelo campo a fim de permitir operações que nos eram atribuídas... E com que trágicos resultados... E quantas vezes, depois de regressar ao quartel após esse part-time eu tomava o comando do meu Pelotão para o acompanhar em operações de maior melindre... Mas nem só de minas era constituído o nosso dia-a-dia! No nosso buraco cabíam outras realidades... O nosso camarada António Matos manuseando uma mina portuguesa. Foto: © António Matos (2009). Direitos reservados Estive destacado em Augusto Barros cuja população, hostil por excelência, era verruminosa. Às nossas ofertas de arroz e mão de obra para a construção de tabancas, agradeciam com flagelações. A essas, respondíamos com galhardia e de todas saímos vencedores e impusemos a autoridade. As picadas de acesso a Bula cedo se tornaram suportáveis pela adopção de critérios psicologicamente traumatizantes: as viaturas da frente eram cheias com as mulheres e crianças que necessitavam de se deslocar aproveitando as disponibilidades militares. Porém, a hipótese de contacto era sempre admitida e o ambiente tornava-se fechado, de dentes cerrados, olhos prescutando o inimigo e o mergulho para o chão estava à distância de um clique. Quando os mísseis assobiaram por cima das nossas cabeças, a dimensão da guerra tomou outra envergadura. Quando as Panhards demoravam mais um bocado e a luta tomava foros de coisa de homem-a-homem, a nossa meninice perdia mais uns pontos e os homens iam-se formando com a bitola das leis da selva. E quantas vezes era solicitado o heli-canhão que, ao aparecer, permitia que muitos soldados chorassem de alívio e Lhe agradecessem a benesse de continuarem vivos... E para culminar a configuração do buraco, chegados ao quartel, quantas vezes encarávamos uma hierarquia militarmente incompetente, balofa, désputa e estúpida! Esta hierarquia que perguntava pelos estragos materiais e esquecia os mortos e os feridos! Isto não são figuras de retórica, sr. Almeida Bruno! Se do alto do seu pedantismo tiver dúvidas (não as devia ter, falando como fala!) recordo-lhe o 19 de Janeiro de 1971 na estrada Bula-S.Vicente. Documente-se e limpe-se a esse guardanapo, meu caro senhor! Nem só de Guileje viveu a guerra da Guiné! E heróis, houve-os nas mais insignificantes situações! Nos mais miseráveis e recônditos buracos desabrocham estórias dum dramatismo incomensurável que a morte, só por si, deveria fazer erguer monumentos individualizados a cada uma das vítimas! (in http://sekanevasse.blog.com/). Camarada Luís Graça, por aqui me fico na identificação do meu buraco na expectativa de que esta prosa, pouco cuidada, possa ser motivadora de outras fotografias que envergonhem os homens do ar condicionado, calcanhares em cima da mesa, arrotando estrondosa e etilicamente nas reuniões da socialite! Um grande abraço, António __________ Notas de CV: (*) Vd. último poste de António Matos de 4 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4139: Comentários que merecem ser Postes (1) As vacinas da tropa ou as doses cavalares (António Matos) Vd. Primeiro poste da série de 31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4115: Os Bu... rakos em que vivemos (1): Banjara, CART 1690 (Parte I) (António Moreira/Alfredo Reis/A. Marques Lopes)

Guiné 63/74 - P4140: Tabanca Grande (130): Cátia Félix, jovem estudante de Ciências Farmacêuticas, solidária e interessada pela Guerra Colonial

Vamos receber hoje, formalmente, na nossa Tabanca Grande a Cátia Félix, uma jovem que serviu de elo de ligação entre Cidália Nunes, viúva do malogrado camarada António Ferreira que caiu em combate na tristemente célebre emboscada do Quirafo e o nosso Blogue.

Ela socorreu-se de nós para ajudar a apagar as dúvidas que subsistiam na nossa amiga Cidália Nunes de que o seu jovem marido não tivesse morrido naquele trágico dia 17 de Abril de 1972.

Vamos lembrar alguns passos que levaram ao dia de hoje.

1. No poste Guiné 63/74 - P4046: Ainda a atroz dúvida da Cidália, 37 anos depois: O meu marido morreu mesmo na emboscada do Quirafo ? (Paulo Santiago), lê-se a determinada altura:

Mensagem, com data de ontem, do nosso camarada e amigo Paulo Santiago
Assunto - A Guerra e o luto continua presente

Luís, Briote,Vinhal

Recebi em 3 de Março passado um mail, que reencaminho, enviado por uma jovem, Cátia Félix, a pedido de Cidália Nunes, viúva do 1º Cabo Radiotelegrafista António Ferreira, morto em combate em 17/04/1972 na emboscada do Quirafo (*).

Como imaginam, ao receber aquele mail, dois sentimentos brotaram de mim: satisfação e tristeza. Satisfação pelo que escrevi sobre a Tragédia do Quirafo, satisfação, também, por existir este blogue que o Luís em boa hora lançou, permitindo aos ex-combatentes da Guiné contarem a verdade que, a maior parte das vezes, não vem nos documentos oficiais. Tristeza, porque adivinhei que por trás daquele mail estava um luto com quase trinta e sete anos. Tanto tempo...

Há poucos minutos, tive um longo telefonema da Cidália, onde pressenti uma imensa saudade e uma imensa resignação, ainda que ponteada por algumas dúvidas, sendo a principal "O meu marido morreu naquela emboscada ?"
[...]

e mais à frente

Mail enviado ao Paulo Santiago, em 3 de Março último, por Cátia Félix

Assunto - As histórias da Guiné...

Caro Paulo Santiago

Sou leitora assídua do blog dos ex-combatentes da Guiné pois apesar da minha tenra idade (25 anos) sempre me suscitou muito interesse as histórias verídicas por todos vocês vividas.

De tudo o que li, a Tragédia do Quirafo foi sem dúvida a que mais me impressionou, talvez por conviver com uma família de um militar da CCAÇ 3490. Possivelmente já ouviu falar desse militar, António Ferreira (Porto), que era das Transmissões (radiotelegrafista) dessa companhia.
Estou a enviar-lhe este email a pedido e em nome da esposa do Ferreira, Cidália Cunha, que gostaria imenso de entrar em contacto consigo para trocarem impressões, pois apesar de já terem passado muitos anos as histórias da Guiné permanecem na vida de todos.

Porquê enviar um email ao Paulo? Porque de tudo o que lemos, sentimos que se tem dedicado imenso a todas as causas mal explicadas que se passaram naquelas terras áridas.

Desde já agradecemos imenso todo o seu empenho e sabedoria na forma como consegue transmitir na perfeição todos os assuntos relacionados consigo e com os seus camaradas.

Ficamos a aguardar uma resposta.

Com os melhores cumprimentos
Cátia Félix
(P'la Cidália Cunha)



2. No poste Guiné 63/74 - P4050: (Ex)citações (21): A esperança de que o António Ferreira ainda esteja vivo...(Cátia Félix), pode ler-se:

Cátia Félix, amiga da viúva de António Ferreira, Cidália Cunha, deixou o seguinte comentário ao poste de 18 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4046: Ainda a atroz dúvida da Cidália, 37 anos depois: O meu marido morreu mesmo na emboscada do Quirafo ? (Paulo Santiago)

Boa noite, amigos

Desde já apresento-me...sou a Cátia, amiga da Cidália Cunha (viúva), que entrei em contacto com o Paulo Santiago (um SENHOR). Agradeço imenso a dedicação de todos, acreditem que tudo o que fizerem fará a diferença.

Tenho uma relação com a Cidália como mãe/filha e numa das nossas muitas confissões ela contou-me toda a sua história. O casamento de sonho com o grande amor da sua vida e o desabar de tudo nas terras da Guiné.

Esta grande Mulher que desde sempre fez frente aos "grandes" do exercito à procura de respostas que nunca conseguiu ter.
[...]


3. No poste Guiné 63/74 - P4117: A tragédia do Quirafo: 37 anos para fazer o luto pelo António Ferreira (Paulo Santiago / Cátia Félix)

Camarada Vinhal:

Após ter estado no Sábado, juntamente com o Santos Oliveira, com a Cidália, viúva do 1º Cabo Radiotelegrafista António Ferreira, e com a Cátia, pensei em escrever um poste mais ou menos longo. Hoje, recebido o mail que reencaminho, acho que terei muito poucas palavras a dizer. O mail da Cátia tem lá tudo.

Em todo o caso, tenho algo que deverá ser dito agora. Começo pela Cátia, que nos encantou, a mim e ao Santos Oliveira. Esta jovem, também bonita, dá uma lição de Solidariedade que fascina. Ela não tem ligações familiares com a Guerra Colonial, não é uma estudante de História ( frequenta Ciências Farmacêuticas ) que tivesse vindo ao nosso blogue para se documentar para os seus estudos, não, ela vem ao blogue porque está Solidária connosco, ex-combatentes na Guiné, vive as nossas angústias e também as nossas alegrias. Ela tem uma relação fraternal com a Cidália e foi ela que desencadeou toda esta acção em que nos envolvemos.
[...]


4. Luís Graça achou que devia convidar a Cátia Félix a fazer parte da Tertúlia e no dia 31 de Março de 2009 publicou um comentário no poste P4117:

Acho que a Cátia faz falta no nosso blogue, na Tabanca Grande... Convido-a a juntar-se, formalmente a nós. Ela é um elo de ligação ao António e à Cidália... Ela conseguiu um pequeno milagre, ajudou - com o apoio do Paulo, do Santos Oliveira e do nosso blogue - a ultrapassar o difícil processo de luto patológico da Cidália...

Imaginem, amigos e camaradas, o sofrimento de 37 anos, devido à dúvida (atroz) que perseguia a Cidália...
- Serei eu viúva? O meu António ainda estará vivo?

A somatização deste sofrimento pode ter consequências brutais na saúde física e mental de qualquer pessoa. Se puderes, Paulo, e tu, Santos Oliveira, se puderem vão à missa do dia 17 de Abril. Em nome de todos os amigos e camaradas da Guiné.

Um Alfa Bravo, a todos vós, Cidália, Cátia, Paulo, Oliveira. Que o António descanse finalmente em paz.

LG



5. Finalmente, Cátia Félix, em mensagem do dia 1 de Abril de 2009, dava a sua concordância a que a considerássemos uma das nossas.

Caro Luís

Fiquei muito sensibilizada com as suas nobres palavras. É com muito gosto que me juntarei a todos vós formalmente, apenas tem de me dizer como. Sei, no entanto, que a minha experiência de vida é muito petiz em relação a todos vós, mas no que puder opinar no vosso blog assim o farei.

"Camaradas" mais uma vez muito obrigado por todo o empenho neste caso. Sei que perceberam o quanto era importante e também comovente para esta família tudo o que se pudesse saber acerca de tudo o que se tinha passado naquele trágico dia 17 de Abril de 1972. Porque o LUTO, mais cedo ou mais tarde, teria de ser feito...
Porque já que militares e civis não são devidamente respeitados pelo governo, que o sejam entre amigos e camaradas.

Já o disse ao Paulo e ao Oliveira e volto a citar, fico muito grata e feliz por saber que existem pessoas como todos vocês. Que apesar de a guerra colonial não ser do "meu tempo", é no meu tempo que quero dizer a todos da minha idade que existem homens que honraram a nossa pátria...

Cumprimentos sinceros
Cátia Félix


6. Comentário de CV

Cátia, desculpa a expressão, uma das nossas, mas é mesmo assim que te consideramos a partir de hoje.

Peço-te que percas uns minutos a ler o lado esquerdo da nossa página, onde entre outras coisas ficarás a saber que nos tratamos todos por tu, independentemente dos nossos antigos postos militares, idade e posições (sempre subjectivas) sociais.

Poderás e deverás intervir no nosso Blogue sempre que aches que tens algo a acrescentar. Como digo muitas vezes, nós os ex-combatentes regemo-nos pelo coração, mais que pela razão, enquanto que as pessoas que não sofreram na pele o flagelo daquele guerra, têm um distanciamente que lhes permite uma visão mais calma, mais fria, talvez mais ponderada das situações. Não é por acaso que se diz que a história alguém a há-de escrever. A nós cabe deixar os relatos e os testemunhos para estudo futuro.

Agradecemos as bonitas palavras que nos dirigiste e aceitámo-las com alguma vaidade. Gostei particularmente que nos chamasses camaradas. Talvez não te apercebas do quão profundo é o sentimento de camarada. Muito mais que amigo, quase tanto como irmão. Irmão, mas de sangue diferente.

Tens as formalidades de admissão muito facilitadas, porque não tens que enviar as fotos da praxe (fardada e civil), nem contar uma história sobre a tua Unidade. Isso são coisa para nós, os mais velhotes.

Queremos sim que entres e faças companhia a estas senhoras nossas tertulianas: Adelaide Gramunha Marques, Ana Paula Ferreira, Diana Andringa, Gilda Brás, Manuela Gonçalves (Nela), Maria Clarinda, Paula Salgado e Zélia Neno. Queira Deus que não me tenha esquecido de alguma senhora. Claro que para comandar esta equipa feminina, não vamos propôr um homem, temos uma senhora, melhor, um dos nossos queridos Anjos da Guarda, a nossa camarada Giselda Pessoa, ex-Enfermeira Pára-quedista. Como vês estás bem acompanhada.

Desta vez não vou deixar um abraço da Tertúlia, mas sim um beijinho. Sê muito bem-vinda.

CV
__________

Notas de CV:

Sobre a tragédia do Quirafo e a morte do nosso saudoso camarada António Ferreira, vejam os postes de:

15 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1077: A tragédia do Quirafo (Parte V): eles comem tudo! (Paulo Santiago)

18 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4046: Ainda a atroz dúvida da Cidália, 37 anos depois: O meu marido morreu mesmo na emboscada do Quirafo ? (Paulo Santiago)

19 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4050: (Ex)citações (21): A esperança de que o António Ferreira ainda esteja vivo...(Cátia Félix)

31 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4117: A tragédia do Quirafo: 37 anos para fazer o luto pelo António Ferreira (Paulo Santiago / Cátia Félix)

Vd. último poste da série de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4098: Tabanca Grande (129): Manuel José Ribeiro Agostinho, ex-Sold Radiotelefonista, Condutor Auto e Escriturário, QG/Bissau, 1968/70

sábado, 4 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4139: (Ex)citações (20): As vacinas da tropa ou as doses cavalares (António Matos)

1. Comentário deixado por António Matos (*), ex-Alf Mil da CCAÇ 2790, Bula, 1970/72, no poste 4075, no dia 25 de Março de 2009:

Caro Mexia Alves,
Depois de vir à janela da Tabanca ver como iam as modas, deparei com este teu texto sobre o dia de ida às sortes e deu-me ganas de escrever.

Não me irei debruçar sobre idêntica ocasião pois o meu caso foi vulgar de Lineu.
Entrei por um lado, saí pelo outro, e atribuíram-me a placa APROVADO, bem à semelhança das inspecções dos automóveis com mais de 4 anos.
Sorte a deles pois não era côxo ou cego o que provocaria um grande barrete uma vez que, julgo, nem para mim olharam.

Não sendo, portanto, motivo de história, falarei do dia da vacinação conhecida como de dose de cavalo pois dava para tudo e mais um prego.

Foi uma cerimónia com pompa e circunstância uma vez que mobilizou, não um Pelotão ou uma Companhia, mas sim um Regimento!
Estava em Mafra e o frio invernal (Outubro) provocava um bater de dentes parecido com um sapateado flamengo...
Íamo-nos aproximando da enfermaria em grupos de pelotão e uma vez lá, sentávamo-nos num banco corrido em grupos de 15.
De tronco nu, e de olhos esbugalhados com os exemplos das anteriores vítimas, preparámo-nos para a carnificina.

O cortejo abria com um enfermeiro transportando debaixo do braço e demasiado perto do sovaco, uma terrina cheia de agulhas.
Essa terrina servia, à hora das refeições, para transportar a sopa para as mesas.

Atrás vinha um 2.º enfermeiro que, com um maço de algodão a imitar uma esfregona, besuntava as omoplatas com tintura de iodo.

Depois aparecia a figura sinistra do espetador de agulhas!
À medida que se aproximava, iam-se esclarecendo as dúvidas de alguns sons que entretanto se ouviam.
Antes de enfiar o ferro, dava um chapadão nas costas do paciente e não raras eram as vezes em que o desgraçado voava literalmente estatelando-se no chão!

Aquilo eram verdadeiras bandarilhas e as semelhanças com uma tourada só não eram completas porque aquela malta não tinha idade para ser boi, além de que faltavam os olés!

Finalmente, eis que aparece um 4.º enfermeiro com a seringa!
Esta mais parecia uma para enseminar vacas e a distribuição das doses pareceu-me feita a olho o que provocava que o último do banco não levava a dose completa.

Retiradas as farpas, seguiu-se um fim de semana horroroso de dores e febres de 40's que nos prostou na cama com dispensa de qualquer actividade.

Nesse fim de semana houve um problema qualquer num quartel que pôs a malta de prevenção e lamentei a sorte deste país cuja segurança nos foi pedida !!!!
Hoje posso dizer que a dose era mesmo cavalar pois fiz todo o período militar sem constipações, enxaquecas, paludismos ou afim.

Um abraço
António Matos


2. Comentário de CV:

"Comentários que merecem ser Postes" vai ser uma série destinada aos comentários mais extensos e que contenham uma história interessante. O critério será o seguido com o exemplo de hoje. Nunca ninguém tinha aflorado este momento marcante da nossa vida de militares.

Lembro que qualquer tertuliano que queira publicar um comentário mais extenso, poderá enviá-lo directamente para nós que o publicaremos como poste autónomo.
__________

Nota de CV

(*) Vd. poste de 29 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4091: Bandos... A frase, no mínimo infeliz, de um general (3): Fui desrespeitado de maneira ignóbil (António Matos)

sexta-feira, 3 de abril de 2009

Guiné 63/74 - P4138: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (20): Vultos na noite

1. Mensagem de Alberto Branquinho, ex-Alf Mil da CArt 1689, Guiné 1967/69, com data de 24 de Fevereiro de 2009:

Caros Editores

Agora que o Carnaval está quase passado e ninguém (?) teria levado a mal a sua publicação, venho dizer-vos que retiro o anterior texto que enviei para o UMBIGO 20 ("A QUESTÃO EM JOGO") como anexo ao mail de 10 de Fevereiro.
Em sua substituição vai, em anexo a este, o seu substituto e, por essa razão, terá o nº. 20 ("VULTOS na NOITE).

Três abraços
Alberto Branquinho


NÃO VENHO FALAR DE MIM… NEM DO MEU UMBIGO (20)

VULTOS NA NOITE


Era a segunda ou a terceira noite seguidas passadas na mata, retomando a caminhada ao amanhecer.

Instalaram-se, como habitualmente, dois a dois, deitados atrás das árvores de troncos mais grossos ou de uma ou outra baga-baga, Em quadrado não muito perfeito, cada lado feito com cada um dos quatro pelotões.

A lua estava em quarto crescente ou quarto minguante, do tamanho de uma unha, entrevista no meio da folhagem. A bicharada estava já queda e calada, o que era bom sinal.

Ao longe, muito ao longe, tinham-se ouvido sons de tiro a tiro, intercalados com rajadas curtas.

Passaram duas ou três horas. O pessoal começou a acomodar-se, aproveitando o macio dos tufos de ervas, a vegetação rasteira e os requebros do terreno. Não demorou muito tempo para se começar a ouvir ressonar a solo e, logo a seguir, em dueto, próximo e do lado direito do furriel Nero. O furriel fez uma bola de terra e arremessou-a na direcção dos executantes. Acordaram em espanto e susto, atordoados, fazendo “hum...hu…hu…” Soergueram-se e colocaram-se de ombros encostados à árvore.

O furriel, que se levantara, voltou para o seu lugar, junto do cabo enfermeiro. Pouco depois, estavam já os mesmos a ressonar – primeiro um (que, entretanto, parou) e, depois, ambos, executando, de novo, a peça em dueto, alternadamente. Estava a preparar a segunda bola de terra, quando detectou sobre a sua esquerda, mas um pouco mais longe, outro dueto ou, talvez, um grupo coral, emitindo idênticos sons guturais.

Deixou em paz os do lado direito e, agachado, dirigiu-se para o lado esquerdo da instalação. Acordou-os com pontapés nas pernas.

- Que merda é esta? – sussurrou. – Valia mais termos trazido o clarim.

Em pé e apurando o ouvido, do lado do outro pelotão, instalado sobre a esquerda, também havia outro coro. Voltou ao seu lugar, mas, antes, foi acordar, de novo, os primeiros executantes.

Deitou-se preocupado, olhando fixamente em frente, com a G-3 colocada paralelamente ao corpo, do lado direito.

Ciciou para o enfermeiro: - Estes gajos são inconscientes. Parece que estão na caserna.

- O nosso capitão, que está lá no meio, não ouvirá esta merda?
- Sei lá.
- Se calhar também está a dormir.
- Pode estar, mas um a dormir e outro alerta.
- Pois.
- Vê lá se queres dormir. Depois chamo-te.

O enfermeiro acomodou-se, usando a mala como almofada.

Tenso e preocupado com a “sinfonia”, o furriel Nero continuou olhando em frente, procurando detectar qualquer ruído ou movimento. Olhava de cabeça junto ao chão, oscilando-a contínua e suavemente para a esquerda e para a direita, aproveitando a pouca luminosidade do céu estrelado e da lua, já mais alta, por entre as árvores. Assim esteve por longo tempo.

Num repente teve um sobressalto. Pareceu-lhe entrever um vulto agachado. Depois dois ou três, que se movimentavam lentamente, com um leve restolhar. Começava a ter medo. A sua própria respiração ofegante não lhe permitia confirmar os ruídos. Já “via” uma avantesma negra, caminhando lenta e pesadamente para ele. Esfregou os olhos. Voltou a olhar e lá estavam os vultos agachados, a movimentarem-se lentamente, muito lentamente. Acordou o enfermeiro: - Eh pá, estou a ver ali uns gajos agachados e a mexerem-se. – segredou-lhe ao ouvido.

- Onde? Não estou a ver nada.
- Ali, caralho! – agarrou-lhe na cabeça e pôs-lhe um dedo indicador à frente do nariz.
- São dois… três… gajos. – gaguejou o enfermeiro.
- Ai porra! Se vêm para o corpo a corpo estamos fodidos, com estes gajos todos a dormir.

Retirou uma granada ofensiva do cinto, tirou a cavilha, soergueu-se e BBUUUUUM!!!

Imediatamente rebentou um fogachal doido. Logo a seguir saíram duas bazucadas quase ao mesmo tempo.

O furriel Nero apercebeu-se que não havia fogo inimigo e começou a andar em volta e berrando:

- Pára!!! Pára fogo!!!

Os tiros foram diminuindo gradualmente até cessarem. Ouvia-se o capitão a berrar no meio da instalação:

- Os nossos alferes!! Os nossos alferes venham aqui!

Então o furriel Nero disse para o enfermeiro:

- Agora vamos nós dormir…

Ao amanhecer, quando retomaram a marcha, viram dois porcos-de-mato mortos.

Alberto Branquinho
__________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 5 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3845: Não venho falar de mim... nem do meu umbigo (Alberto Branquinho) (19): O aniversário do Cabo Tomé

Guiné 63/74 - P4137: PAIGC: Congresso de Cassacá, 13-17 Fev 1964: A 15 km, a sul de Cacine: o depoimento de Luís Cabral (Carlos Silva)

PAIGC > Documentos > "Amílcar Cabral e outros companheiros, a bordo de uma canoa, a caminho do I Congresso do PAIGC, Cassacá, 1964. Fotografia de Luís Cabral. [05359.000.020] · Documentos Amílcar Cabral (12/23)" (*).

Foto (e legenda): © Fundação Mário Soares > Dossiers >
Guiledje · Simpósio Internacional · Bissau, Guiné-Bissau · 1 a 7 de Março de 2008 > Fotografias (com a devida vénia...)

Sublinhados a vermelho de Sul para Norte temos: 1 - ilha de Canefaque; ¸ 2 – Cassabetche; 3 – Campeane. O ponto representa Cassacá; 4 – Cameconde; 5 - Cacine .

Sublinhados a vermelho de Sul para Norte temos: 1 – Campeane; 2 – Campo, 3 – Cassacá no rectângulo; 4 - Cabonepo.

Infografia: Carlos Silva (2009).


1. Mensagem do Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548/BCAÇ 2879 (Farim e Jumbembem, 1969/71), que esteve recentemente na Guiné-Bissau na qualidade de Presidente da Assembleia Geral da Associação Ajuda Amiga:


Amigos
Luís, Briote e Carlos Vinhal

A propósito do Post 4122 (*), sobre a localização onde foi realizado o 1º Congresso do PAIGC, segue uma transcrição de excertos do Livro de Luís Cabral – Crónica da Libertação (LIsboa: O jornal, 1ª edição 1984(, da qual resulta de forma inequívoca onde foi efectivamente realizado o Congresso, que foi a sul de Cacine em em Cassacá.

Podem, assim, publicar o artigo, enquanto está a passar o mencionado Post 4122, para melhor esclarecimento dos nossos camaradas bloguistas e outros leitores do blogue.
Com um abraço

Carlos Silva



Assunto - Local e realização do “Congresso do PAIGC algures nas proximidades de Cassacá”

A propósito do Post 4122 (**), sobre a realização do 1º Congresso do PAIGC realizado nos dias 13 a 17 de Fevereiro de 1964 no Sul da Guiné e que erradamente vem indicado numa infografia, relativa à Operação Tridente (In: Carlos de Matos Gomes e Aniceto Afonso: Os Anos da Guerra Colonial, Volumne 5: 1964 - Três teatros de operações. Lisboa Quidnovi. 2009. 17), como tendo sido realizado num local também chamado Cassacá, na Ilha do Como.

Para melhor elucidação dos camaradas bloguistas e outros leitores, na verdade, o 1º Congresso do PAIGC teve lugar numa mata próxima da tabanca de Cassacá, situada a 15 kms a Sul de Cacine, junto à estrada que segue de Cacine a Campeane, entre Cabonepo (a norte) e Campo (a sul).

Para confirmar que de facto assim foi, não há nada como ir à fonte verdadeira e não errada, para no futuro não suscitar dúvidas, caso o erro acima invocado não seja corrigido de forma inequívoca e, como refere o José Colaço, para os nossos vindouros historiadores ou não, que venham a ter algum interesse em estudar o tema que é designado por “Guerra Colonial”, não sejam confrontados com uma situação errada, pois estou convicto que não foi intenção dos autores, que conheço pessoalmente, fazer passar tal mensagem deliberada e conscientemente, na medida em que deve ter havido um mero lapso.

Deste modo, sobre a realização e local do citado congresso, Luís Cabral, testemunha e protagonista do mesmo, no seu livro Crónica da Libertação, refere:

Antecedentes ao Congresso – Visita de Luís Cabral à zona de Quitáfine e Tabanca de Cassacá.

“… A primeira área visitada por mim foi a zona de Quitáfine que fazia fronteira com a República da Guiné. Foi em fins de 1963….. pág 154

… Depois deste encontro com as populações iniciámos a marcha para a base central desta zona, em Cassacá, que ficava a cerca de 30 kms da fronteira. Foi a minha primeira grande marcha… pág 155

… Em Cassacá, esperava-me o comandante do sector, Manuel Saturnino. Com 19 anos de idade, era um dos mais jovens chefes da guerrilha…. Pág 155

A sede do posto administrativo colonial estava em Cacine, pequeno centro comercial e porto para barcos de cabotagem. Em Cacine fora instalado o primeiro quartel das forças coloniais que, pouco antes da minha visita, e com o desenvolvimento da luta, tinham feito um novo acampamento no pequeno porto de Gadamael, mais ao norte….pág 156

… A base, ligeiramente afastada da tabanca de Cassacá, estava bem protegida por grandes árvores que também lhe asseguravam a frescura e a tranquilidade das florestas guineenses.

Antes da nossa luta, a penetração do homem em muitas florestas era proibida: consideradas sagradas segundo a tradição, e nelas viviam, os irãs ou deuses da floresta… pág 156

… A figura predominante da vida militar na base de Cassacá, era dum antigo cabo do exército colonial, a quem os camaradas chamavam de “Antigamente”… pág 157

… A visita a Quitáfine foi muito proveitosa para mim….

… Foi com certa pena que deixei a base de Cassacá e tomei o caminho de regresso… pág 158

… As informações recolhidas em Quitáfine, enriquecidas pelos combatentes chegados das frentes, levaram o Amilcar à conclusão de que era necessária uma reunião geral dos quadros responsáveis do Partido, para se poder discutir e aprofundar esta grave questão, de maneira a tirar dela todas as lições para o futuro.

Os camaradas aceitaram imediatamente a minha proposta para que a reunião se realizasse numa área libertada da Guiné, para que o seu impacto fosse maior junto das nossas populações…. Pág 161



- Face às informações e proposta de Luís Cabral foi deliberado a realização e local do Congresso - Fevereiro de 1964 deslocação para o local do fórum:

“… Preparámo-nos para a partida. Desta vez a viagem realizou-se numa embarcação a motor que havia pertencido a uma empresa colonial de Bissau e que, depois de desviada por militantes do partido, passou a chamar-se “ Unidade”.

Saímos de Boké, de maneira a chegar ao sector de Quitáfine de noite e podermos, já com a maré alta, desembarcar na ilha de Canefaque…pág 162

Às primeiras horas da noite, chegámos a a Canefaque. O barco acostou mesmo ao lado da pequena base encarregada da vigilância da costa. O chefe da base informou-nos, logo após o desembarque, que os responsáveis do Partido só nos esperavam no dia seguinte. Em presença do Amilcar, que pela primeira vez chegava àquele sector, todos falavam em voz baixa e com ar conspirativo…

Avisámos o chefe da base que queríamos seguir para Cassacá desde que a escolta estivesse pronta. Pág 162

… Estava uma bela noite de Fevereiro. Caminhávamos sem pressas. Envolvia-nos um silêncio tranquilizante, cortado de tempos a tempos pelo grito de um animal de mato. O Amílcar, o Aristides e eu íamos completamente distraídos, procurando andar aos passos cadenciados dos combatentes que nos precediam….pág 163

O porto de embarque para Cassabetche, não estava muito longe da base e, em pouco tempo, chegámos e sentámo-nos para esperar a canoa…pág 163

… Pouco depois vieram avisar-nos de que a canoa encontrava-se na outra banda. Precisamente porque só nos esperavam no dia seguinte….pág 163

… O Amilcar não gostou deste contratempo, que vinha provar uma falta de coordenação nos preparativos dessa importante missão…pág 163…


“ … O Renascimento do PAIGC

Andávamos a passo acelerado, quando, pouco depois, passávamos ao longo da tabanca de Cassabetche, a caminho de Cassacá… pág 164

… O nosso grupo ia aumentando à mediada que nos aproximávamos de Cassacá.. pág 164…

A pequena tabanca de Cassacá, destroçada pela aviação e ressurgida nas gentes que a habitavam, estava em festa! Viam-se pessoas saindo dos cantos da floresta, enquanto outras passavam na estrada e se detinham para ver e saudar o Secretário-Geral do Partido. Caminhávamos em direcção ao local onde ia realizar-se a nossa reunião, deixando a estrada e continuando por um pequeno trilho perfeitamente escondido pelas árvores. Ao aproximar-nos da base, o silêncio era impressionante. Os sons variados saídos habitualmente dos pontos onde se encontravam os homens da guerrilha com elementos do povo, tinham-se apagado completamente como por encanto.

Chegámos à entrada da base….

Depois desta saudação colectiva, o Amilcar, seguido do Aristides e de mim avançou em direcção aos camaradas vindos das várias zonas do país. O abraço do PAIGC, de cada um dos lados do ombro, marcou o reencontro, naquele canto libertado da nossa terra, do Secretário-Geral do Partido, com os jovens a quem confiara a grande responsabilidade de estar à frente das nossas populações, na primeira fase da luta pela independência, Domingos Ramos, Osvaldo Vieira, Chico Mendes e Rui Djassi, eram os principais responsáveis de entre todos esses combatentes. À parte Nino Vieira, que ainda não chegara, Vitorino Costa era o ausente, o único dos quadros superiores da guerrilha que tinha tombado na primeira fase da mobilização e preparação para a luta armada….

Pág 165

… O Amílcar foi reconduzido com grande ovação nas suas funções de Secretário-Geral do Partido.

Encontrávamo-nos no fim do terceiro dia de trabalhos, a 15 de Fevereiro de 1964… pág 174

… Às 6H00 da manhã do dia dezasseis, o Amilcar deu por terminados os trabalhos desta ultima sessão…pág 180

… Convencemo-lo a dar por terminados os inquéritos e a realizarmos a sessão de encerramento do Congresso naquela manhã, para podermos deixar Cassacá. Com efeito, a nossa reunião prolongara-se muito mais do que o previsto. A menos de 15 quilómetros do quartel de Cacine, perto da fronteira, onde o inimigo tinha vários agentes, era imprudente continuarem ali reunidos os principais responsáveis do Partido… pág 185

… À partida, o povo de Cassacá, os combatentes e os elementos da população que os acompanharam, todos gritavam com força e entusiasmo renovado, vivas ao PAIGC e ao seu Secretário-Geral, vivas ao I Congresso do nosso grande Partido…pág 187

In, Cabral, Luís – Crónica da Libertação, O jornal, 1ª edição, 1984.


Vd também: Aristides Pereira, Guiné-Bissau e Cabo Verde – Uma luta, um partido, dois países – Notícias Editorial pág 172 a 176

Do atrás transcrito, resulta claramente que o designado “Congresso de Cassacá” foi realizado nas matas próximas da tabanca de Cassacá a menos de 15 kms a sul de Cacine.


Massamá, 3 de Abril de 2009

Carlos Silva

PS - Para se aperceberem da localização, inserem-se acima dois recortes dos respectivos mapas
_________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 24 de Outubro de 2008 > Guiné 63/74 - P3354: PAIGC - Docs (1): Comunicado de 27 de Abril de 1964 sobre a vitória na batalha do Como (Amílcar Cabral)

(**) Vd. poste de 1 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4122: PAIGC, 1º Congresso, 13-17 Fev 64: Onde fica(va) Cassacá ? Não na Ilha do Como, mas a sul de Cacine (Luís Graça)

Guiné 63/74 - P4136: As Unidades que passaram por Fajonquito (José Martins)

1. A propósito da tentativa de encontrar o Furriel Andrade e, a pedido do nosso editor Luís Graça, para que soubesse quais as Unidades que estiveram em Fajonquito, José Martins dizia-nos:

Caro Luis e Carlos

Pelas fichas só se identificam os comandantes. De posse da unidade é possivel, no Arquivo Histórico, consultar a listas dos elementos que compunham as unidades.
De qualquer das formas, junto relação das unidades que, no 7.º volume indicam como tendo estado em Fajonquito.

Um abraço
José Martins


AS COMPANHIAS DE FAJONQUITO

Companhia de Caçadores n.º 674, comandada pelo Capitão de Infantaria José Rosado Castelo Rio, unidade mobilizada em Évora no Regimento de Infantaria n.º 16, assumiu a responsabilidade do subsector, então criado, em 08 de Julho de 1964, vindo a ser substituída pela CCaç 1497 em 12 de Abril de 1966.

Companhia de Caçadores n.º 1497, comandada pelo Capitão de Infantaria Carlos Alberto Coelho de Sousa e, posteriormente, pelo Capitão Miliciano de Artilharia Carlos Manuel Morais Sarmento Ferreira, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 1876, mobilizada em Abrantes no Regimento de Infantaria n.º 2, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 674, em 12 de Abril de 1966, vindo a ser substituída pela CCaç 1501 em 26 de Janeiro de 1967.

Companhia de Caçadores n.º 1501, comandada pelo Capitão de Infantaria Rui Antunes Tomaz, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 1877, mobilizada em Tomar no Regimento de Infantaria n.º 15, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 1497, em 26 de Janeiro de 1967, vindo a ser substituída pela CCaç 1685 em 19 de Setembro de 1967.

Companhia de Caçadores n.º 1685, comandada pelo Capitão de Infantaria Alcino de Jesus Raiano, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 1912, mobilizada em Évora no Regimento de Infantaria n.º 16, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 1501, em 19 de Setembro de 1967, vindo a ser substituída pela CCaç 2435 em 14 de Dezembro de 1968.

Companhia de Caçadores n.º 2435, comandada pelo Capitão de Infantaria José António Rodrigues de Carvalho e, posteriormente, pelo Capitão de Infantaria Raul Afonso Reis, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 2856, mobilizada em Abrantes no Regimento de Infantaria n.º 2, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 1685, em 07 de Dezembro de 1968, vindo a ser substituída pela CCaç 2436 em 20 de Abril de 1970.

Companhia de Caçadores n.º 2436, comandada pelo Capitão de Infantaria José Rui Borges da Costa, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 2856, mobilizada em Abrantes no Regimento de Infantaria n.º 2, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 2435, em 20 de Abril de 1970, vindo a ser substituída pela CArt 2742 em 13 de Agosto de 1970.

Companhia de Artilharia n.º 2742, comandada pelo Capitão de Artilharia Carlos Borges de Figueiredo e, posteriormente, pelo Alferes Miliciano de Artilharia Baltazar Gomes da Silva, unidade orgânica do Batalhão de Artilharia n.º 2920, mobilizada em Penafiel no Regimento de Artilharia Ligeira n.º 5, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 2436, em 13 de Agosto de 1970, vindo a ser substituída pela CCaç 3549 em 21 de Maio de 1972.


Companhia de Caçadores n.º 3549, comandada pelo Capitão Quadro especial de Oficiais José Eduardo Marques Patrocínio e, posteriormente, pelo Capitão Miliciano Graduado de Infantaria Manuel Mendes São Pedro, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 3884, mobilizada em Chaves no Batalhão de Caçadores n.º 10, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CArt 2742, em 27 de Maio de 1972, vindo a ser substituída pela 2.ª Companhia do BCaç 4514/72 em 15 de Junho de 1974.


2.ª Companhia do BCaç 4514/72, comandada pelo Capitão Miliciano de Infantaria Ramiro Filipe Raposo Pedreiro Martins, unidade orgânica do Batalhão de Caçadores n.º 4514/72, mobilizada em Tomar no Regimento de Infantaria n.º 15, assumiu a responsabilidade do subsector, rendendo a CCaç 3549, em 15 de Junho de 1974, vindo a iniciar o deslocamento para Bissau a partir de 30 de Agoosto de 1974, tendo um pelotão efectuado a desactivação e entrega, ao PAIGC, do aquartelamento em 01 de Setembro de 1974.

José Martins
31 de Março de 2009

Comentário de CV

Aqui ficam as Unidades que passaram por Fajonquito, a quem possa interessar. Era engraçado termos os crachás de todas estas Companhias para ilustramos este poste. Se alguém quiser e puder colaborar, pode enviar os que tiver, que a todo o tempo os vamos colocando junto à respectiva resenha.