terça-feira, 29 de setembro de 2009

Guiné 63/74 – P5027: Estórias do Fernando Chapouto (Fernando Silvério Chapouto) (6): As minhas memórias da Guiné 1965/67 – A morte do Fur. Mil. Tomé!

1. Continuamos a publicar as memórias do nosso Camarada Fernando Chapouto, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 1426, que entre 1965 e 1967, esteve em Geba, Camamudo, Banjara e Cantacunda. Este é o 6º poste desta sua série, continuando os postes P4877, P4890, P4924, P4948 e P4995:


AS MINHAS MEMÓRIAS DA GUINÉ 1965/67

A morte do Fur Mil Tomé!

Camamudo. Da esquerda para a direita: O Autor, o Furriel Tomé e o Amareleja (soldado da Secção do Furriel Tomé)

Em Março, entramos num programa de rotatividade entre Camamudo, Cantacunda, Banjara e Geba. Dois meses em cada lugar. Começamos por Camamaudo/Cantacunda, onde a vida era comer, dormir, caçar, jogar à bola e, de vez em quando, dar uma volta pelas Tabancas a fim de verificarmos se tudo estava normal e se era necessário alguma coisa da nossa parte.

Em princípios de Maio de 1966, seguimos para Banjara, mais umas operações, mais emboscadas do IN, sem quaisquer resultados práticos ou nefastos para as nossas tropas.

No perímetro exterior, em volta do destacamento, haviam inúmeras armadilhas colocadas pelo Furriel Tomé, para nossa segurança interna.

Por volta de meados deste mês a alimentação escasseou, pelo que, tivemos que recorrer à caça, chegando muitas vezes a irmos até Mansaina em busca de javalis da bolanha, mas, além de alguns rastos, nem vê-los.

Até que no dia 22JUN66 o pior aconteceu, por volta das 07h00/07h30 da manhã, o Furriel Tomé passou por mim, quando eu estava a escrever um “bate-estradas” para a família e me disse, para eu lhe guardar o pequeno-almoço (dado que era eu o responsável pela alimentação, além de estar sempre pronto para todo o serviço), dizendo-me que ia à caça.

Como era costume ele fazer essas saídas sozinho não me preocupei. Passados uns minutos largos, ouvi um forte rebentamento na direcção para o lado onde ele se tinha deslocado.

Eu saí cá fora e pensei: «O Tomé já se foi!».

Por volta das 10h00/10h30, ainda não havia qualquer sinal do Tomé. O Alferes disse-me: «O Tomé ainda não chegou, mas não há problemas pois já é hábito ele, só chegar tarde».

11h00 nada, 11h30 nada. Fui ter com o Alferes e disse-lhe: «Aquele rebentamento está-me a cheirar a esturro, temos que ir à procura dele.»

Nem uma resposta do Alferes. Ao meio-dia, ainda não havia qualquer sinal do Tomé.

Perante a passividade do Alferes, pedi-lhe autorização para ir à procura dele.


Com a sua anuência, chamei um elemento da secção que tinha andado com ele a armadilhar a periferia e, acompanhado da minha secção, da secção do Tomé e da do Furriel Catrola, que também se ofereceu para ir, fomos pela picada fora à sua procura.

A picada era pouco usada, encontrando-se coberta de mato alto e denso. Passados mais ou menos uns quinhentos metros, detectamos a primeira armadilha por ele montada e verifiquei que estava tudo em ordem. Continuamos a marcha em fila indiana, mais uns quinhentos metros em linha aproximadamente, a que se seguia uma curva. Eu ia na retaguarda e, a dado momento, vi todos os que seguiam à minha frente atirarem-se para o chão. Eu fiquei em pé sem saber o que se passava. Fui então ter com o pessoal mais avançado, que me disse que estava alguém deitado no chão, a uns duzentos e cinquenta metros.

Logo me apercebi que aquele vulto era o meu Camarada Tomé.

Combinei com o Catrola a estratégia a adoptar para nos acercarmos do corpo. Eu ia por um dos lados da picada, por dentro do mato, e ele ia pelo outro lado. A secção mais avançada ficou onde estava e só avançaria, se eu desse ordem nesse sentido, ou em caso de emergência, se fosse preciso, avançaria em nosso auxílio sem qualquer ordem.

Também ficou estabelecido que eu verificaria se o corpo estava armadilhado.

Iniciamos então a movimentação conforme o previsto e quando passei ao lado do corpo, pois fui mais até mais à frente um pouco bater a zona, verifiquei de imediato que o corpo era o do Furriel Tomé.

Como não detectei nada suspeito e depois de tomar todas as precauções necessárias à nossa segurança, desloquei-me até ao local onde estava o corpo prostrado e fiz uma pesquisa, em volta e por baixo do cadáver, a ver se encontrava alguma armadilha.

Não encontrei nada, pelo que passei à verificação se o corpo estava mal tratado e, para meu espanto, nem um arranhão se via, excepto um pequeníssimo orifício por baixo da orelha esquerda.

A bandoleira da G3 estava toda estilhaçada, mas a minha maior surpresa era a posição em que ele se encontrava, de joelhos com os braços em cima das pernas e a cabeça metida entre os joelhos.

Perguntei a mim mesmo como foi possível, cair numa armadilha colocada por ele próprio, o que só pode ser justificado pelo seu esquecimento do local da colocação.

Arranjaram-se uns voluntários para irem buscar uma maca e outros para transportarem o corpo.

Como a maca nunca mais chegava, carregamos o Tomé às costas até ao aquartelamento, ficando estendido na cave, em cima dumas tábuas o resto do dia e durante a noite, porque só no dia seguinte é que uma coluna o veio buscar.

Secção do Furriel Tomé (o quinto a contar da esquerda), na foto ajudando a construir o abrigo em Banjara, em DEZ1965, e que faleceu em 22JUN66, numa armadilha montada pelo próprio

Um forte abraço do,
Fernando Chapouto
Fur Mil Op Esp/Ranger da CCAÇ 1426

Fotos: © Fernando Chapouto (2009). Direitos reservados.
__________
Nota de MR:

Vd. postes anteriores desta série, do mesmo autor, em:

Guiné 63/74 - P5026: Parabéns a você (30): Manuel Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69 (Editores)

O nosso camarada Manuel Vieira Moreira (*), ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69, hoje dia 29 de Setembro de 2009, acrescenta mais um ano de vida na sua existência, que esperamos se prolongue por mais uns poucos de anos, digamos até aos 100, porque quando estivermos lá perto, será uma meta ao alcance do comum mortal.

Muito a sério, desejamos todos, que esta data festiva seja repetida por muitos e bons anos, com qualidade, junto de quem lhe quer bem..



Manuel Moreira apresentou-se à Tabanca em Novembro de 2008, assim:

Olá, Luis Graça.

Sou Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mecânico Auto da CART 1746 que esteve em Bissorã de Julho de 1967 a Janeiro de 1968 e Ponta do Inglês, onde fiz a "Canção da Fome" (**), enviada pelo meu grande amigo e conterrâneo Paulo Santiago (somos ambos de Aguada de Cima) e Xime de Janeiro de 1968 a Junho de 1969.

Teria muito gosto em saber o endereço do nosso amigo Sousa de Castro.

Um Grande Abraço.



(**)CANÇÃO DA FOME

Estamos num destacamento,
A favor de sol e vento,
Na Ponta do Inglês .
Não julguem que é enorme
Mas passamos muita fome,
Aos poucos de cada vez.

A melhor refeição
Que nos aquece o coração,
É de manhã o café;
Pão nunca comi pior
Nem café com mau sabor
Na Província da GUINÉ.

Ao almoço atum a rir
E um pouco de piri-piri,
Misturado com Bianda,
E sardinha p´ró jantar
E uma pinga acompanhar
Sempre com a velha manga.

Falando agora na luz
Que de noite nos conduz
As vistas par' ó capim:
Se o gasóleo não vem depressa,
Temos Turras à cabeça,
Não sei que será de mim.

Quando o nosso coração bole,
Passamos tardes ao Sol
Junto ao Rio, a esperar
De cerveja p'ra beber
E batatas p'ra comer
Que na lancha hão-de chegar.

A fome que aqui se passa
Não é bem p'ra nossa raça,
Isto não é brincadeira
E com isto eu termino
E desde já me assino

...MANUEL VIEIRA MOREIRA.
__________

Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

31 de Julho de 2006 > Guiné 63/74 - P1009: Cancioneiro do Xime (1): A canção da fome (Manuel Moreira, CART 1746)

24 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2066: Em busca de... (9): Malta da CART 1746, a unidade do Alf Mil Gilberto Madail e do 1º Cabo Manuel Moreira (J. M. OIiveira Pereira)

27 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3526: Tabanca Grande (99): Manuel Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69

12 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4177: Tabanca Grande (133): Manuel Vieira Moreira, ex-1.º Cabo Mec Auto da CART 1746, Bissorã, Ponta do Inglês e Xime, 1967/69

Vd. último poste da série de 29 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5025: Parabéns a você (29): António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66 (Editores)

Guiné 63/74 - P5025: Parabéns a você (29): António Bastos, ex-1.º Cabo do Pel Caç Ind 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66 (Editores)

Hoje, dia 29 de Setembro de 2009, está de parabéns o nosso camarada António Paulo Bastos (*), 1.º Cabo do Pel Caç 953, Teixeira Pinto e Farim, 1964/66.

Ao António Bastos, vimos através do nosso Blogue, desejar-lhe um dia muito feliz junto dos seus familiares e amigos, e que esta data seja festejada ainda por muitos anos, cheios de saúde e boa disposição

Recordemos um dos seus contactos com o nosso Blogue:

Amigos companheiros da Tabanca Grande, a todos um saudoso Natal e um próspero Ano Novo. Que o novo Ano lhes traga tudo de bom e que os companheiros que ainda não foram à Guiné, vão este Ano.

Amigo Carlos, perguntas-me se não quero fazer parte da Tabanca Grande? Pois meu amigo, eu agradeço o convite e vou aceitar, porque sou dos que não larga a Net, a procurar tudo que diga respeito à Guiné ou até à guerra.

Amigo, sobre mandar fotos da minha guerra e sobre as que fiz das vezes que lá voltei (3) poucas tenho, mas tenho alguns vídeos. Também te informo que sobre computador sou um autêntico analfabeto, sempre que preciso de alguma coisa tenho de pedir ajuda.
Mas vou tentar enviar algumas.

Vou falar sobre a minha vida militar.

No dia 12 de Janeiro 1964 assentei praça no RAAF de Queluz, depois fui transferido para uma Bateria que existia em Porto Btandão, aí fiz a recruta e jurei bandeira em Queluz. Depois foi para o RI1 na Amadora onde fiz a especialidade. Tinha como oficial comandante de pelotão, um Tenente que se chamava (já faleceu) Nuno Nest Arnout Pombeiro que era genro do Comandante da Unidade, Coronel Américo Mendonça Frazão (faleceu como General). Aí acabei a especialidade e fui mobilizado para a Guiné, incorporado num Pelotão Caçadores 953, independente.

Embarquei para a Guiné no dia 15 de Julho de 1964, onde cheguei a 21. Desembarquei e fui para Amura, aí permaneci duas horas, sendo depois escoltado pela Polícia Militar até João Landim, onde rendemos o Pelotão Caçadores independente 857.

Dali fomos para Bula, Comando de Batalhão 507, cujo Comandante era o Tenente Coronel Hélio Felgas (já falecido). Depois das apresentações fomos para Teixeira Pinto, onde ficámos adidos à Companhia de Artilharia 527, comandada pelo capitão António Amorim Varela Pinto.

Eram já 16 horas quando almoçámos, dali seguimos para Cacheu onde permanecemos até ao dia 9 de Março de 1965, regressando novamente a Bissau para seguirmos para Farim, via Mansoa e Mansabá. Jantámos e às quatro horas da manhã seguimos então para Farim.

Aí já nos esperava o BCav 490, comandada pelo Tenente Coronel Cavaleiro. Permanecemos lá uns dias.

No dia 23 de Março de 1965 deu-se a grande invasão de Canjambari onde a guarnição era composta pelas Companhias 487 e 488, Pelotão Morteiros 980, um Pelotão da 1.ª Companhia de Caçadores Africanos, um Pelotão Auto-metrelhadoras e o meu, o 953.

Eram 6,30 horas quando rebentou uma mina debaixo de uma GMC e começámos a embrulhar até às 16,00 horas. Quando os T6 largaram as bombas, o IN logo nos deixou, mas por poucos dias, porque depois começaram a atacar-nos no acampamento. Este era para ficar em Canjambari praça, mas o Comandante mandou-nos recuar para Canjambari Morcunda.

Começámos logo a fazer o aquartelamento com palmeiras. De dia trabalhava-se, de noite era um desassossego, porque vinham visitar-nos e fazer alguns tiritos. Também tínhamos as operações a nível de duas secções de brancos e uma de africanos. Infelizmente numa dessas operações tivemos duas baixas na 488. Os trabalhos e até a pista para a avioneta foram todos feitos à força de braço.

Com a saída do BCav 490, veio o 733, comandado por Tenente Coronel Glória Alves, que infelizmente nos deixou no dia 30 de Novembro. Passámos a descansar e viemos para Jumbembem onde permanecemos três meses, regressando um mês a Canjambari.

Em Maio de 1966 regressámos a casa.

Um pouco abreviado é esta a minha vida militar.

Amigos e companheiros desculpem-me alguns erros, mas foi uma 4.ª classe tirada a martelo.

Vou-me despedir e desejando a todos os amigos um Natal muito feliz.
Até breve
A.Paulo Bastos




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Notas de CV:

(*) Vd. postes de:

26 de Novembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3524: O Nosso Livro de Visitas (46): A. Paulo, Pel Caç 953, Guiné, 1964/66

12 de Dezembro de 2008 > Guiné 63/74 - P3610: Tabanca Grande (104): António Paulo Bastos, 1.º Cabo do Pel Caç 953 (Teixeira Pinto e Farim, 1964/66)

16 de Dezembro de 2008> Guiné 63/74 - P3637: Em busca de... (58): 2.º Sargento Coelho da 1.ª CCAÇ Africanos (Farim) (António Paulo Bastos)

3 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3837: Memória dos lugares (16): Cacheu, 1964 (António Paulo Bastos, Pel Caç 953, 1964/66)

14 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4187: Convívios (108): Pessoal dos Pelotões 953; 954; 955; 956 e 1.ª CCAÇ Africanos, em Azeitão, dia 2 de Maio de 2009 (António Bastos)

26 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4590: Controvérsias (21): O helicóptero do PAIGC, visto na zona do Cacheu pela 1ª vez na madrugada de 13/10/64 (António Bastos)

Vd. último poste da série de 27 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5017: Parabéns a você (28): Luís Borrega, ex-Fur Mil da CCAV 2749/BCAV 2922, Piche, 1970/72 (Os Editores)

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P5024: Da Suécia com saudade (13) (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (13): Portugal é um país de tolerância e humanismo

1. Mensagem de José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 14 de Setembro de 2009:

Caros Amigos e Camaradas!

Tão perto, e tão longe, dos fuzilamentos contínuos da guerra civil espanhola, Portugal libertou-se das ditaduras do antes e depois... sem um único fuzilamento, com tudo o que isso significa de tolerância e humanismo.

Estive presente na Assembleia do MFA, nas instalações da Manutenção Militar, em Lisboa aquando do rescaldo do 11 de Março, a tal em que alguns camaradas militares, mais exaltados, mas poucos, pediam o fuzilamento dos que bombardearam o RALIS, causando mortos.

O pêndulo movimentou-se, e, aquando do 25Nov75, numa reunião no Regimento de Comandos, foram de novo sugeridos fuzilamentos, mas agora para alguns da chamada esquerda do MFA.

Em AMBAS(!!!) as ocasiões, a esmagadora maioria dos presentes repudiou vivamente estas sugestões.

E, apesar de um Camarada e Amigo, militar-poeta, ter escrito:

- Quando reacontecer Abril... na madrugada anterior, prendam-se todos os cravos(!), quero continuar a acreditar que os nossos tão, injustamente ironizados, brandos costumes, mais não são que o fantástico resultado de uma maneira de estar na vida, tão característica do nosso querido Portugal!

Um abraço amigo do
José Belo
Estocolmo 14/9/09
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 16 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4965: Os Nossos Enfermeiros (6): Os Nossos Anjos da Guarda (Joseph Belo)

Vd. último poste da série de 20 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4709: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (12): O meu tecto mais não é que o soalho do vizinho

Guiné 63/74 – P5023: Filatelia(s) (4): Selos postais em circulação na GUINÉ - 1962/74 (Magalhães Ribeiro)


1. Do arquivo pessoal, do Eduardo José Magalhães Ribeiro, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da CCS do BCAÇ 4612/74, Cumeré, Brá e Mansoa 1974:

Camaradas,

Dando seguimento à série sobre a filatelia na Guiné, no período entre 1964 e 1974, contabilizei, num dos melhores catálogos da especialidade sobre selos postais das “Colónias portuguesas” do ano de 2008, emitido pela AFINSA de Portugal, que segundo indicação contou com a orientação técnica do Instituto de Expertização de Filatelia Portuguesa, 26 selos que foram postos em circulação entre 1964 e 1974, na então Guiné Portuguesa.

É evidente que nos primeiros anos de guerra deviam existir, quer em Bissau na estação central dos correios, quer nos estabelecimentos espalhados pelo território bastantes selos ainda dos anos 50.

Assim, segundo constava, era vulgar ver inúmeras cartas em circulação com selos desses anos.

Um dos fenómenos mais curiosos sobre a filatelia corrente, durante a estadia dos portugueses naquelas terras, de que me apercebi em 1974, foi o seguinte.

Nas suas breves passagens por Bissau, quer por encomendas posteriores via diversos meios, quer para seu uso pessoal, quer para desenrascar os amigos mais próximos, o pessoal que se deslocava para os diversos aquartelamentos no interior, adquiriam abastadas quantidades de selos, de modo a garantir a legalidade da sua correspondência habitual.

Depois, devido à falta de tempo para escrever às famílias, namoradas e amigos, e, ou, a desmotivações ou indisposições de diversas origens, como por exemplo dias e dias em acções repetitivas e rotineiras e por isso sem matérias inspiradoras, não utilizavam os mencionados selos.

Este fenómeno acontecia ainda que em 1974, pois eu cheguei a enviar muitas cartas para o Continente, com selos dos anos 60 e, mais curioso ainda, é que uma vez esgotados os selos postais, além de usar os aerogramas (quando os havia claro), eu, e não só, colávanos nas cartas selos da Assistência.

Engraçado é que nunca uma carta me foi devolvida, ou deixou de chegar ao destinatário por esse motivo.

Com os devidos agradecimentos à AFINSA Portugal, publico a seguir algumas das páginas do seu catálogo, em que são expostos os ditos selos e algumas das suas características identificativas.

Nesta última coluna do lado direito, podem ver-se selos da "Assistência", que eram utilizados pela tropa nacional como selos postais, vendo-se o nº 29 que circulou desde 1968 a 1974.

Um abraço Amigo,
Magalhães Ribeiro
Fur Mil Op Esp/RANGER da CCS do BCAÇ 4612/74

Documentos: © AFINSA Portugal (2009). Direitos reservados.
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Notas de M.R.:

Vd. postes anteriores desta série em:

12 de Setembro de 2009 >
Guiné 63/74 - P4940: Filatelia(s) (1): Amílcar Cabral (1924-1973), "fundador da nacionalidade" (João Lourenço)

15 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4952: Filatelia(s) (2): Envelopes e selos comemorativos da Proclamação do Estado da Guiné-Bissau - 1974 (Magalhães Ribeiro)

23 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 – P5000: Filatelia(s) (3): Selos emitidos pelo novo Estado da GUINÉ-BISSAU Após a Proclamação da Independência (Jorge Picado)

Guiné 63/74 - P5022: Meu pai, meu velho, meu camarada (15): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente,1941/43,1º Cabo Inf Luís Henriques (2) (Luís Graça)

Cabo Verde > S. Vicente > Parte setentrional da ilha > Excerto de mapa de 2007, da autoria de Francisco Santos. Imagem copyleft (Fonte: Wikipédia).

Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "Matiota e a sua baía que é a melhor de S. Vicente, aonde se passa um bocado divertido. Maio de 1943. L. Henriques". (*)

Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "A cidade do Mindelo e ao fundo o enorme Monte Verde [, 750 m]. Vê-se parte da baía da Galé. S. Vicente. Maio de 1943. Luís Henriques"

Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "Aspecto da cidade do Mindelo, tirado do Oeste [, ou seja, do lado do Lazareto]. Vê-se os importantes depósitos dos óleos (?) da Shell. Outubro de 1941".

Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo (ou Tibeira de Julião ?) > "Jantar em San Vicente. Nos tera. Nativos em festa. Recordação da minha estada em C. Verde (Expedição). 1941-1943. Luís Henriques".

Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "Dias depois da nossa chegada. O regresso do banho da linda Praia da Matiota em Agosto de 1941. S. Vicente, C. Verde. Luís Henriques".

Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "Em 18/5/43, junto às flores pois o mês indica ser primavera. Os 3 sinceros amigos são fotografados como recordando a sua expedição em C. Verde: António, José e Luís. Lazareto, S. Vicente".

Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "Os amigos juntos de umas tantas trincheiras perto do mar. Maio de 1942. Luís Henriques, em Vicente, Cabo Verde". [ Luís Henriques é o terceiro a contar da esquerda]

Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "No dia 1 de Julho de 1942, depois de alguns quilómetros em marcha feita pelo Batalhão até à Ribeira de S. Julião [no interior da ilha, a sul do Mindelo]. Alguns cabos da 3ª Companhia, reunidos junto à quinta. Entre eles, Luís Henriques. S. Vicente" [O me pai era um militar nuito activo: fazia natação, jogava futebol e voleibol, lia, escrevia todas as semanas dezenas de cartas para os seus camaradas analfabetos; para ocuopar o tempo e manter em alta o moral das tropas, as chefias militares organizavam torneios de futebol e voleibol - muito popular na época - entre militares de diferentes ramos e unidades; parte do batalhão do meu pai estava em S. Vicente, outra parte estava na ilha vizinha, Santo Antão].

Cabo Verde > S. Vicente > Mindelo > "Junho de 1943. Alguns internados do depósito dos convalescentes. Entre eles, estou também eu, sentado, lendo [o livro ] Os Bastidores da Grande Guerra. Luís Henriques , 1º Cabo nº 188/41, 1º Batalhão Expedicionário, R.I. nº 5. S. Vicente. C. Verde" [ O meu pai é o primeiro da 1ª primeira fila, do lado direito; se não me engano, ele esteve internado cerca de 4 meses, já no final da comissão, por doença de pulmões; a morbimortalidade entre os expedicionárias era elevada].


Fotos (e legendas) © Luís Graça (2009). Direitos reservadas

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste anterior da série: 27 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5021: Meu pai meu velho, meu camarada (14): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente, 1941/43, 1º Cabo Inf Luís Henriques (1) (Luís Graça)

domingo, 27 de setembro de 2009

Guiné 63/74 - P5021: Meu pai meu velho, meu camarada (14): Expedicionário no Mindelo, S. Vicente, 1941/43, 1º Cabo Inf Luís Henriques (1) (Luís Graça)

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "O belo porto de mar de São Vicente; ao centro, o ilhéu [dos Pássaros] que se confunde com um barco. Outubro de 1941" [Luís Henriques, 1º cabo nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão, Regimento de Infantaria nº 5, Cabo Verde, Ilha de São Vicente, Mindelo, 1941/1943].

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > Parada do Batalhão expedicionário (?) do R. I. nº 5. Lazareto, 1/12/41. S. Vicente, Cabo Verde. Ao fundo a linda baía com o seu belo porto de mar. Luís Henriques"

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "4 metralhadoras pesadas fazendo fogo anti-aéreo para balões de papel. No dia da festa de aniversário. 23 de Julho de 1942. No Lazareto, S. Vicente, Cabo Verde" [O 1º Batalhão Expedicionário do R.I. 5 tinha chegado ao Mindelo há precisamente um ano ]

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "As peças anti-aéreas do Monte Sossego; fotografia oferecida pelo meu amigo [e conterrâneo, da Lourinhã] Boaventura [Horta] em 21/3/43. Mindelo, S. Vicente. Luís H."

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Oficiais do Exército e da Marinha nas posições da Anti-Aérea no Monte Sossego, S. Vicente. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura, em Mindelo, 21/3/43. Luís Henriques". [O Monte Sossego fica a nordeste da cidade do Mindelo, sobranceiro à Ponta de João Ribeiro].

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > "Oficiais do Exército e da Marinha nas peças do Monte Sossego. Ao fundo a linda Baía com o [NPR] Pedro Nunes à vista. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura em 21/3/43. Mindelo. Luís Henriques". [O Monte Sossego fica a nordeste da cidade do Mindelo, sobranceiro à Ponta de João Ribeiro].


Luís Henriques: Nascido em 19 de Agosto de 1920, na Lourinhã, foi 1º cabo nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão, RI 5 - Regimento de Infantaria nº 5 (Caldas da Rainha). Esteve como expedicionário em Cabo Verde, na Ilha de São Vicente, na cidade do Mindelo, entre Julho de 1941 e Setembro de 1943, "26 meses a comer pó" e à espera do "invasor" (que tanto podiam ser os ingleses como os alemães...). Casou em 2 de Fevereiro de 1946 com Maria da Graça. O seu primeiro filho, Luís Manuel da Graça Henriques, nasceu a 29 de Janeiro de 1947. (*)

Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservadas

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Nota de L.G.:

(*) Vd. poste de: 20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4059: Meu pai, meu velho, meu camarada (1): Memórias de Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43 (Luís Graça)

Vd. também poste mais recente desta série > 27 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5019: Meu pai, meu velho, meu camarada (13): Mindelo, ontem e hoje ( Lia Medina / Nelson Herbert / Luís Graça)

Guiné 63/74 – P5020: Ser solidário (39): Ajuda humanitária à Clínica de Bor e EuroMilhões (Álvaro Basto)


1. O nosso Camarada Álvaro Basto, (Xitole) do BART 3873 (Bambadinca), 1971/74, enviou-nos uma mensagem que diz o seguinte:

Ajuda humanitária à Clínica de Bor e EuroMilhões

Boa tarde,

Depois de mais uma quarta-feira bem animada, desta vez com o aniversário dos 35 anos da libertação do Batista como pano de fundo, aqui estamos para vos dar conta da aposta para esta semana no EuroMilhões, do rol dos participantes no almoço da última quarta-feira e da tesouraria do nosso fundo de benemerência.

E a propósito de tesouraria, gostaríamos de fazer uma rápida ressalva a um lapso nas referidas contas, em que um donativo entrado do Dr. Moutinho, no valor de 5,00 €, foi erradamente registado como uma saída. Como poderão verificar, esta semana a correcção já se encontra efectuada e o saldo final atinge o valor de 495,00 €, que se encontram totalmente à disposição da Clínica Pediátrica de Bor, assim eles o queiram aplicar.

Esta semana surgiu igualmente a ideia de se criar uma ONG com carácter mais formal. Para isso contaremos com a ajuda do Dr. Moutinho, nosso camarada fiel Tertuliano e advogado ainda em exercício.

Vamos estudar a melhor forma de nos apresentarmos à sociedade e ponderar os custos e os benefícios, que uma formalização deste tipo nos trará.

Aproveito igualmente para reforçar um esclarecimento, por diversas vezes já ventilado aqui, mas que convêm fique claro a fim de evitar situações de dúvida como as que se manifestaram na última quarta feira.

1 - O custo da participação no nosso almoço semanal é no mínimo de 15,00 €, estando englobados neles, o custo do almoço, o valor da gorjeta, o custo da aposta no EuroMilhões e a contribuição semanal, para o Fundo de Ajuda à Clínica Pediátrica de Bor.

2 - Desde sempre que ao António Batista foi atribuída a faculdade de almoçar todas as quartas feiras connosco sem pagar o referido valor.

Entendeu-se que a Tabanca Pequena de Matosinhos lhe prestaria esta espécie de pequena homenagem de solidariedade, face aos especiais antecedentes de que foi vítima na Guiné. Esta situação prevaleceria, pelo menos, até ele começar a receber a pensão de prisioneiro de guerra que, entretanto, alguns de nós o ajudaram a reivindicar do Estado.

Feitas estas ressalvas finalizaríamos como vem sendo habitual. Tenham um bom resto de semana e na próxima quarta-feira compareçam no restaurante Milho Rei. Acreditem que vale a pena. Os nossos encontros são verdadeiros banhos de rejuvenescimento de tal modo a juventude é lembrada e relembrada.

Álvaro Basto
Zé Teixeira
Armando Ribeiro
João Rocha
Pimentel
BarrosoÁlvaro Basto
Rolando Basto
Zé Pires
Mesquita
D. Guimarães
Armando Campos
Moutinho
Batista
Barbosa
Carvalho
Xico Allen
António Matos
Germano Sousa
Man. Teixeira
Joaquim Soares
António Matos
Tomas Rocha
Jorge Cruz
Victor Silva
Carmelita
Santos
Nelson
Zacarias
Aníbal Oliveira
Man. Almeida
Xico Dias

Contas da tesouraria do nosso fundo de benemerência:

04-09-2009 DHL-Transp.medic. p/ Bissau............................185,00 €.....350,00 €
09-09-2009 Liq. Participantes almoço (35x15,00).....525,00 €....................875,00 €
09-09-2009 Custo almoço (36x12,00)..................................432,00 €.....443,00 €
09-09-2009 Gorjeta almoço................................................8,00 €.....435,00 €
09-09-2009 Donativo Moutinho.............................5,00 €....................440,00 €
10-09-2009 EuroMilhões...................................................10,00 €.....430,00 €
16-09-2009 Liq. Participantes almoço (30x15,00).....450,00 €....................880,00 €
16-09-2009 Custo almoço (31x12,00)...................................372,00 €....508,00 €
16-09-2009 Gorjeta almoço.................................................8,00 €....500,00 €
16-09-2009 Donativo Moutinho.............................5,00 €....................505,00 €
16-09-2009 EuroMilhões....................................................10,00 €....495,00 €

O boletim do EuroMilhões

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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

Guiné 63/74 - P5019: Meu pai, meu velho, meu camarada (13): Mindelo, ontem e hoje ( Lia Medina / Nelson Herbert / Luís Graça)

















Cabo Verde >Ilha de São Vicente > 2006 > Ponta João Ribeiro > Restos do quartel das forças expedicionárias portuguesas, ali estacionadas durante a II Guerra Mundial. Estas posições de bateria de anti-costa protegiam a baía do Mindelo. A Ponta João Ribeiro fica hoje a 3 km da cidade do Mindelo. Em frente, a uns escassos 600/800 metros, situa-se o ilhéu dos Pássaros.

Fotos: © Lia Medina  (2009) / Blogue Luís Graça & Caranaras da Guine. Todos os direitos  reservados
Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1943 > "As peças antiaéreas do Monte Sossego [monte sobranceiro a João Ribeiro, pelas indicações que o meu pai me dá; também havia artilharia contra-costa]. Fotografia oferecido pelo meu amigo Boaventura em 21/7 (?)/43 em Mindelo. S. Vicente. Luís Henriques" [1º cabo nº 188/41, 1º Pelotão, 3ª Companhia, 1º Batalhão do Regimento de Infantaria nº 5, expedicionário em Cabo Verde, na Ilha de São Vicente, cidade do Mindelo, de 1941 a 1943]. Portugal, receoso das intenções dos beligerantes, mobilizou alguns milhares de homens para defender as suas ilhas do Atlântico, em especial os arquipélagos dos Açores e de Cabo Verde, para os quais havia planos (secretos) de ocupação por parte dos ingleses (na hipótese da invasão alemã da Península Ibérica, com a cumplicidade do Franco).

Cabo Verde > Ilha de São Vicente > Mindelo > 1943 > "Posição das peças anti-áereas no Monte Sossego, São Vicente, Cabo Verde. Fotografia oferecida pelo meu amigo Boaventura [ Horta, natural da Lourinhã, já falecido, pai dos meus amigos de infância Carlos, Olga e Elisa ] em 21/3/43. Luís Henriques".

Fotos: © Luís Graça (2009). Direitos reservados


1. Mensagem, com data de 8 de Junho de 2009, enviada por Lia Medina:

Assunto - Militares portugueses em São Vicente [, Cabo Verde]

Dr. Luís Graça

Chamo-me Lia Medina e sou cabo-verdiana, filha duma portuguesa com um cabo-verdiano. Sou professora em algumas instituições de ensino superior aqui na ilha de São Vicente, e a minha formação também é sociologia, pela Universidade de Coimbra.

Há uns dias atrás, a realizar pesquisas na Internet, descobri num dos seus vários blogs algumas informações e fotografias sobre a presença de militares portugueses aqui na ilha, durante a segunda guerra mundial, incluindo o seu pai (se não me engano).

Estou-lhe a escrever pelo seguinte, tenho uma turma do 1º ano de turismo cujos alunos desconhecem os dois quartéis militares de Alto de Bomba(ou Paiol de São João) e o de João Ribeiro. Então, resolvi fazer uma visita de estudo com estes alunos aos pontos de defesa da Baía do Porto Grande. Contudo, como vim a descobrir, não existem cá documentos com informações como as datas de construção e desactivação, etc.

Entrei em contacto com o comando militar aqui da ilha, onde fui informada de que os documentos, que existiam em Cabo Verde sobre a presença militar portuguesa nas ilhas, foram quase todos queimados, e os que sobreviveram às fogueiras estão desaparecidos.

Os motivos que me levam a escrever são dois. Um primeiro para lhe pedir autorização para usar fotografias e alguns dados, que consegui encontrar num dos seus blogs, na preparação da visita de estudo. E um segundo, para lhe perguntar se, por acaso não terá mais informações ou mesmo mais histórias sobre a presença dos militares portugueses aqui em Cabo Verde, que me possam ser úteis ou interessantes.

Muito obrigada pela sua atenção.
Os meus cumprimentos.
Lia Medina

2. Resposta de L.G., no mesmo dia:

Minha cara amiga:

Pode utilizar todos os materiais do nosso blogue para efeitos didácticos... A nossa missão também é essa, preservar e divulgar a memória dos portugueses e de outros povos lusófonos, com interesse historiográfico, socioantropológico, linguístico, cultural... Prendem-me, além disso, laços afectivos a Cabo Verde, onde tenho amigos e antigos alunos, e por onde passou o meu pai...

Gostaria que me autorizasse a publicação do seu mail...Em contrapartida, tenho mais fotos e histórias que irei publicar, sobre a presença de expedicionários portugueses em Cabo Verde, nomeadamente durante a II Guerra Mundial...

Essa memória corre um sério risco de se perder... O meu pai, por exemplo, tem já 89 anos. Há um amigo dele, que já morreu, e que tinha também um belo álbum fotográfico... No verão vou ver se consigo recuperar algumas e digitalizá-las... O pai do Nelson Herbert, editor sénior da Voz da América (serviço português para África) - caboverdiano que emigrou e casou na Guiné - também esteve no Mindelo, nos anos 40... Vou também publicar a sua história...

A Lia podia fazer a ponte connosco... Se assim o entender, pode juntar-se aos já 340 membros do nosso blogue, fazendo parte de uma tertúlia a que chamamos Tabanca Grande, uma metáfora, que dá uma ideia da nossa pluralidade e multiculturalidade...

Mantenhas para si. Luís Graça

(Na Tabanca Grande, tratamo-nos todos por tu...)

3. No mesmo dia, recebemos a seguinte mensagem do Nelson Herbert:


Bem hajam, os vrios tentáculos do blogue !

O meu velho está aí a chegar, aos Estados Unidos, no próximo dia 19 de Junho... Pedi aos meus irmãos em Cabo Verde, que com a ajuda dele, vasculhassem os arquivos fotográficos desse período específico da vida dele... Em todo o caso, a vinda dele é já uma boa oportunidade para o registo dos seus depoimentos e experiência durante esse período !

Haver vamos se é desta ..tal como reza o ditado português.. que os santos da casa [não] fazem milagres...

Mantenhas

NHL

4. Resposta da Lia Medina, com data de 9 de Junho:

Olá, Luís

Claro que tem a minha autorização para publicar o email.

É com muito gosto que farei parte da vossa comunidade. E sempre que necessitarem de alguma coisa, daqui das ilhas, estejam à vontade.

Muito obrigada por tudo.
Um abraço.

5. Em 9 de Junho o editor L.G. tinha pedido à Lia (e ao Nelson) para identificar alguns dos locais referidos no poste P4926 (*):

Lia e Nelson): Se puderem confirmar ou identificar os locais, óptimo... Por exemplo, chã de Alecrim (*) hoje está integrado na cidade (digo eu, que não conheço o Mindelo in loco). Abraço.


6. Resposta do Nelson:

Chã de Alecrim ou Lecrim (em crioulo) foi e é de facto um bairro, a norte da cidade do Mindelo..sempre fez parte da cidade e onde esteve instalado o comando militar, isto desde a época colonial...

Com a independência do país, o quartel foi ainda herdado e com mesma finalidade pelas Forçaas Armadas caboverdianas...

Uma outra metade, já nos anos 90 e durante a minha gestão (director geral da Televiso de Cabo Verde), foi recuperada para a instalação do centro de produção da televisão nacional caboverdiana, para as ilhas do Barlavento ...Ainda hoje lá funciona !

Nas instalações dos oficiais daquele quartel, funcionou ou funciona ainda hoje o Hotel 5 de Julho que chegou a pertencer ao BANA... a voz cabovediana.

Chã de Alecrim é hoje um dos modernos bairros de Mindelo...

Quanto ao quartel, acredito que deixou de existir como tal !


7. Resposta da Lia Medina:

Olá, Luís

Gostei muito das fotografias (*). Acho que nunca tinha visto nenhuma delas.

Hoje Chã de Alecrim faz parte da cidade, sim, mas penso que o quartel já não deve existir pois nunca vi lá nenhuma construção do género das fotografias.

Vou ver se consigo saber junto das pessoas mais idosas se consigo identificar pelo menos o local exacto do quartel.

Um abraço.

Ps- mando umas fotografias actuais do quartéis de Ponta de João Ribeiro.


8. Novo mail da Lia Medina, de 10/9/2009:

Aqui vão mais fotografias. A número 50 ainda é do quartel de João Ribeiro. São de 2006, as de João Ribeiro continuam na mesma, já o quartel de Monte Sossego está muito mal.

Como os acessos a este quartel são melhores a população já desmontou quase todos os canhões (só ficou um) e a câmara destruiu muitas das construções para evitar que pessoas fossem lá morar.

As fotografias são todas de Pedro Marcelino, um amigo meu.

Um abraço.
Lia

9. A Lia Medina passa a integrar a nossa Tabanca Grande, tendo respondido amavelmente ao nosso convite, em 9 de Junho último:

Olá Luís

Claro que tem a minha autorização para publicar o email [, de 8 de Junho].

É com muito gosto que farei parte da vossa comunidade. E sempre que necessitarem de alguma coisa daqui das ilhas estejam à vontade.

Muito obrigada por tudo.

Um abraço.

Lia


10. Comentário, posterior, ao Poste 5022, de Carlos Cordeiro, professor de História Contemporânea em Ponta Delgada, irmão do malogrado Cap Pára-quedista João Manuel da Costa Cordeiro da CCP 123. É um leitor atento do nosso Blogue. Ele próprio foi, salvo erro, combatente em Angola, durante a guerra colonial:

Um espólio formidável que o blogue tem aqui arquivado. É de destacar este trabalho exigente de pesquisa e divulgação. Veja-se que, no caso concreto, Luís Graça procurou responder a uma solicitação de uma professora caboverdiana para apoiar uma acção pedagógica. É de louvar vivamente.

Quanto à participação de Portugal na Guerra, os historiadores falam em "neutralidade colaborante". E sobre o caso específico de Cabo Verde, António José Telo ("Os Açores e o Controlo do Atlântico", p. 280) diz o seguinte: "Ao longo de 1941, foram enviados cerca de 5000 soldados para o arquipélago [de Cabo Verde], mas que só têm praticamente armamento ligeiro. A defesa do vital porto de S. Vicente continua a basear-se quase só em três peças de 150 mm, reforçadas em 1941 com quatro peças antiaéreas, 12 metralhadoras e uma secção de morteiros de 81 mm. O cônsul americano em Cabo Verde garante que, caso se dê um desembarque no arquipélago, a resistência será meramente simbólica".

Saudações, Carlos Cordeiro


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Notas de L.G.:

(*) Vd. último poste da série:

9 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4926: Meu pai, meu velho, meu camarada (12): 1º cabo Ângelo Ferreira de Sousa, S. Vicente, 1943/44 (Hélder Sousa)

Vd. postes anteriores desta série:

20 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4059: Meu pai, meu velho, meu camarada (1): Memórias de Cabo Verde, São Vicente, Mindelo, 1941/43 (Luís Graça)

21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4060: Meu pai, meu velho, meu camarada (2): Militar de carreira, herói da 1ª Grande Guerra, saiu do RAP 2 como eu (David Guimarães)

21 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4062: Meu pai, meu velho, meu camarada (3): No Dia Mundial da Poesia (António Graça de Abreu)

24 de Maio de 2009> Guiné 63/74 - P4407: Meu pai, meu velho, meu camarada (4): Não é um elogio fúnebre que te quero dedicar... (António G. Matos)

26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4420: Meu pai, meu velho, meu camarada (5): A minha família e o RAP2 (Vila Nova de Gaia) (David Guimarães)

16 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4694: Meu pai, meu velho, meu camarada (6): Ex-Cap Pára João Costa Cordeiro, CCP 123/ BCP 12 (Pedro M. P. Cordeiro / Manuel Rebocho)

17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4700: Meu pai, meu velho, meu camarada (7): Cap Pára João Costa Cordeiro: Um homem de carácter (António Santos / Carlos Matos Gomes)

17 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4703: Meu pai, meu velho, meu camarada (8): Sobre o Capitão-Pára João Costa Cordeiro (Manuel Peredo)

18 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4705: Meu pai, meu velho, meu camarada (9): Testemunho do Coronel Pára Sílvio Araújo sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (João Seabra)

18 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4706: Meu pai, meu velho, meu camarada (10): Depoimento e fotos sobre o Cap-Pára João Costa Cordeiro (Miguel Pessoa)

24 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4731: Meu pai, meu velho, meu camarada (11): Mensagem do filho do Cap-Pára João Costa Cordeiro (Pedro Miguel Pereira Cordeiro)

Guiné 63/74 – P5018: Em busca de... (93): Procuro qualquer informação sobre o pessoal da CART 3567 "Os Insaciáveis". – 1972/74, (Paula Sofia Ferreira)

1. O nosso Camarada Luís Graça recebeu uma mensagem/apelo de Paula Sofia Ferreira, filha de um Camarada-de-armas nosso, o Manuel Henrique Ferreira, da CART 3567 "Os Insaciáveis" – 1972/74, que passamos a divulgar e diz o seguinte:

APELO
CART 3567

Caro Luís Graça,

É com muito gosto que tomo conhecimento do seu blogue!

O meu pai, Manuel Henrique Ferreira, foi combatente no Ultramar. Como certamente adivinha, não passa dia nenhum que não haja uma história nova para ouvirmos... mesmo que não seja nova, o prazer de ouvir o meu pai é sempre GRANDE!

O meu pai regressou do Ultramar em 1974 e como todos os combatentes, continuou a lutar pela sua vida... no início não foi fácil; devido a algumas dificuldades tornou-se impossível o meu pai acompanhar os almoços convívio com os camaradas. Acabou por perder o contacto...

Por várias vezes tenho tentado pesquisar (net), na esperança de conseguir novidades, mas não tenho tido muita sorte.

Hoje, e ao fim de alguma insistência, conseguimos convencer o meu pai a ir à Liga dos Combatentes... porque como sabe tão bem... os anos passam mas as marcas da guerra ficam para sempre...

Chegou a casa muito motivado em voltar!

Ele referiu o facto de ter imenso gosto em partilhar com os camaradas, os convívios anuais. A dona Teresa (liga dos Combatentes) deu o seu blogue como referencia para a possível busca e encontro de novidades daquilo que procuramos: camaradas da companhia a que o meu pai pertencia.

Como calcula, adorava surpreender o meu pai com o contacto de algum camarada! Tenho como referencia: CART 3567 "Os Insaciáveis".

Conto com a sua ajuda e agradeço desde ja a disponibilidade. Se forem necessários outros dados agradecia que me comunicasse!

Atentamente,
Paula Sofia Ferreira

Emblemas de colecção: © Carlos Coutinho (2009). Direitos reservados.
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Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em: