1. Mensagem de Arménio Santos, ex-Fur Mil de Rec Inf, Aldeia Formosa, 1968/70, com data de 3 de Novembro de 2009:
Senhor Luís Graça
Permito-me enviar-lhe duas fotos e alguns dados relativos à minha condição de ex-combatente da Guiné, esperando que correspondam à V/praxe, e candidato a entrar no V/blogue.
A recomendação é do Prof. Jorge Cabral, da Universidade Lusófona.
Um abraço
Arménio Santos
Arménio Santos - Apresentação
Foi Furriel Miliciano, especializado em Informações e Acção Psicológica, destacado em Aldeia Formosa – Quebo, entre Outubro de 1968 e Novembro de 1970.
Esteve em rendição individual e, como responsável pelo SIM - Serviço de Informações Militares, trabalhou com os, então, Major Carlos Azeredo, Tenente Coronel Carlos Hipólito e os Majores Pezarat Correia e Mexia Leitão.
Fez a recruta na EPC – Santarém, em Julho de 1967 e a Especialidade em Reconhecimento e Informações no CISMI, em Tavira, Setembro de 1968.
Bancário, do BPA e do Millennium BCP, foi presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas.
Hoje é Deputado na Assembleia da República, pelo PSD, e Secretário-Geral dos TSD – Trabalhadores Social Democratas.
Reside em Oeiras.
Email: armeniosantosnaguine@gmail.com
Uma história
Aldeia Formosa era um aquartelamento onde se concentravam muitos efectivos militares. Primeiro era o COSAF – Comando Operacional do Sector de Aldeia Formosa e depois passou a sede de Batalhão, tinha várias unidades de milícias nativas e era placa giratória de tropas especiais envolvidas em operações na zona de Guilege – Gadamael – Salancaur Sul.
Havia, portanto, muitos militares.
O rancho nem sempre era famoso. Pelo contrário. E quando havia oportunidade para fazer um churrasco, especialmente furtivo, para além de se variar do prato habitual, era uma oportunidade fantástica para confraternizar, esquecer os riscos e o isolamento em que se vivia e partilhar pedaços da vida pessoal e familiar de cada um.
Só que, o churrasco nem sempre era conseguido pelas melhores vias. Algumas vezes lá ia uma vitela, um porco ou um cabrito à “revelia” do dono. O que era furtado tinha outro gosto.
Num desses casos, o Cherno Rachid, o chefe religioso dos Fulas, cuja influência ultrapassava as fronteiras da Guiné-Bissau e era reconhecida desde a Gâmbia à Costa do Marfim, com quem eu trabalhava estreitamente mercê da minha função, e com o qual as tropas portuguesas tinham as melhores relações, mandou o Bubacar Jaló chamar-me que desejava falar comigo.
Pensei que se tratava de mais um dos muitos contactos que tínhamos sobre as actividades do IN ou sobre os problemas na Tabanca.
Quando cheguei percebi logo que o assunto teria de ser outro. O Cherno Rachid não estava sozinho, como era normal naqueles casos de trabalho, estava rodeado por um grupo de “Homens Grandes” e uma bajuda. Bastante bonita, por acaso.
Que assunto pretendia tratar o Cherno Rachid? Simplesmente que eu resolvesse o problema de um dos “Homens Grandes” presentes, que tinha ficado sem uma vitela no dia anterior e que tinha sido comida no quartel.
Que provas tinha o “Homem Grande”?
A bajuda foi a fonte da informação, ingenuamente. Era lavadeira do Delfim, que era dos lados de Matosinhos, a quem ele dera um enorme pedaço de vitela, para ela e para a família, e a quem se vangloriara da sua façanha.
A bajuda tentou dizer alguma coisa, mas os olhos do Cherno e dos outros mantiveram-na no silêncio, tal como eu também não a questionei. Ela estava ali porque o marido, um dos “Homens Grandes” presentes, também tinha comido do naco de carne que o Delfim deu à bajuda. Só que - e aqui é que está o problema - a vitela que o Delfim tinha desviado era, nem mais nem menos, do “Homem Grande” da sua lavadeira.
Postas as coisas neste pé, falei com o Delfim.
Não havia outra coisa a fazer senão remediar o que ele e os seus amigos fizeram. O Delfim não negou e pagaram o triplo do valor normal da vitela, para exemplo.
O Cherno Rachid esteve presente quando acompanhei o Delfim a sua casa, para ele entregar o dinheiro ao dono da vitela.
Esse sentido de justiça foi registado pelo chefe religioso, o Delfim não gostou de pagar aquilo que já considerava uma “conquista”, mas, por mais estranho que pareça, ficou amigo do “Homem Grande” a quem desviara a vitela e ainda mais amigo ficou da sua bajuda lavadeira.
Só a mim o Delfim passou a chamar-me o “turra branco”. Mas também por pouco tempo. Umas cervejas e a camaradagem trouxeram ao de cima os traços de amizade que só num ambiente daqueles são cimentados.
2. Comentário de CV:
Caro camarada Arménio Santos
Em nome da tertúlia e em particular dos editores do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, estou a receber-te na nossa caserna virtual.
Cumpriste as rigorosas formalidades para ingresso, as fotos da praxe e a jóia, uma pequena história para apresentação.
Dizes que és amigo do nosso camarada Jorge Cabral. Por si só essa qualidade acarreta uma grande responsabilidade. Se não conheces, aconselho-te a ler todas as (mais de cinquenta) Estórias Cabralianas de sua autoria, publicadas no nosso blogue, para teres a percepção do que foi o outro lado da guerra, coisa que poucos de nós ou ninguém conhecia, porque Jorge Cabral só há um. Quem tem um amigo assim, não precisa de muitos mais.
Deves ter reparado que por aqui, pela Tabanca Grande, andamos perfeitamente à vontade. Nada de senhores, você para aqui, doutor para acolá. Porquê? Porque somos verdadeiros camaradas, daqueles que pisaram o mesmo chão barrento, alagado e minado; que beberam a mesma água salobra; que comeram o mesmo peixe da bolanha; que transpiraram aquele suor pegajoso e foram mordidos por aquela imensidão de mosquitos. Que mais poderemos ter em comum? Aquela amizade que nos torna naquilo que define esta palavra só nossa, camarigos. O nosso camarada e amigo Mexia Alves inventou esta palavra para definir o laço que nos une em volta de um passado comum e inesquecível.
Suponho que saberás que o fim último do nosso Blogue é criar um espólio de histórias e fotografias da nossa experiência enquanto combatentes da Guiné. Trocamos ideias, concordantes ou não, respeitando as diferenças, sejam elas de opinião, religião, política e outras.
Respeitamos a soberania da Guiné-Bissau não interferindo de modo nenhum na sua política interna, desejando sempre o melhor para aquele povo irmão, tão sofredor.
Porque somos bem recebidos quando lá vamos, por gente comum e autoridades, desejamos a todos, que o país saia o mais rapidamente possível daquela situação.
Caro Arménio, a tua actividade não permitirá muito tempo disponível para colaborares connosco, mas faz um esforço e não deixes que outros contem as tuas histórias. É uma variante de serviço público, este blogue. Repara no número de visitas. Somos muitos e... bons.
Em nome da tertúlia e dos editores, envio-te um abraço de boas-vindas.
O teu camarada
Carlos Vinhal
__________
Notas de CV:
Vd. último poste da série de 1 de Novembro de 2009 > Guné 63/74 - P5188: Tabanca Grande (184): Belmiro Tavares, ex-Alf Mil, CCAÇ 675 (Binta, 1964/65)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quinta-feira, 5 de novembro de 2009
Guiné 63/74 - P5215: Notas de leitura (33): Em Nome da Pátria, de João José Brandão Ferreira (Beja Santos)
1. Mensagem de Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, Comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Novembro de 2009:
Carlos e Luís,
Já fiz o meu dever cívico de ler esta chumbada, um libelo indescritível, supunha que já não havia gente capaz de manipular a história contemporânea.
Ando a ler livros curiosos, mas peço-vos compreensão para o meu silenciamento nas próximas semanas.
Se, por acaso, houver algum tertuliano que tenha lido estas 500 páginas e me queira interpelar, esclareço que estarei disponível dentro de poucas semanas.
Um abraço de estima para todos,
Mário
Em Nome da Pátria:
A nostalgia e o nacionalismo patético dos órfãos do Império
Por Beja Santos
As teses de “traição” e “abandono criminoso” do Império Colonial são muito caras aos nacionalistas (civis e militares) de diferentes matizes. Não se pense que se trata de uma coqueluche da extrema-direita. Frequentemente, os defensores dessas teses dão clamorosos tiros nos pés, a pretexto de uma data ou até do desaparecimento de uma figura insigne, ligada à Guerra Colonial. Quando faleceu o brigadeiro Hélio Felgas vi escrito em blogues louvores ao seu portuguesismo indefectível, à sua crença inabalável pela integridade ultramarina. Seguramente que os autores de tais laudes não leram tudo quando escreveu o oficial general. Pegaram em livros antigos ou em lições que ele deu na Academia Militar, colaram-no à Pátria heróica atacada por inimigos de Portugal (os oposicionistas ao regime, pois claro). Em 1995, surgiu o livro “Os últimos guerreiros do Império”, da Editora Erasmos, com a coordenação de Rui Rodrigues. Afinal, a tal sustentabilidade da guerra não era aceite por Hélio Felgas, como ele depõe: “No final de 1968, enviei um relatório ao general Spínola onde defendia que a concessão da independência à Guiné Portuguesa, não iria agravar, antes pelo contrário, a situação em qualquer das outras Províncias Ultramarinas”. Ele fazia o seguinte diagnóstico: “O inimigo está demasiado bem armado, bem apoiado pela população, bem organizado e bem enraizado num terreno que lhe é favorável... Há que abandonar radicalmente largos pedaços do território e concentrar os meios em áreas reduzidas que deverão ficar totalmente passadas a ferro... Há que empregar largamente os desfolhantes e outros agentes químicos que destruam as culturas”. E profetizava: “Estamos à espera que o IN adquira suficiente estatura e capacidade militar para correr connosco”.
É longa a bibliografia de todos aqueles, mais ou menos estrénuos defensores do regime de Salazar e Caetano, que escreveram sobre a traição inerente ao processo de descolonização. De um modo geral, como a historiografia recente tem posto a nu, as teses de sustentabilidade da guerra ou de “vitória traída” estão desmascaradas. Ter a desfaçatez de pegar em literatura antiquada, retorcer a argumentação e falar em rendição incondicional, é um puro “chapéu velho” à procura de saudosistas e náufragos do nacionalismo sem mestre nem bússola.
Um tenente-coronel piloto aviador pega em literatura paroquial gasta e põe-na ao serviço da tese do abandono das nossas províncias ultramarinas, dá como demonstrado que Portugal fez uma guerra justa e de que não soubemos merecer os nossos antepassados, abandonando da forma mais iníqua alguns pedaços da Pátria (“Em Nome da Pátria”, por José João Brandão Ferreira, Publicações Dom Quixote, 2009).
Para o autor, a compreensão de uma guerra justa, como aquela que travou Portugal entre 1961 e 1974, exige enquadramento geopolítico e geoestratégico a partir do fim da Segunda Guerra Mundial. O argumento científico toma-se como sério, à partida. Nada se pode entender na contemporaneidade sem perceber como emergiu uma atmosfera anticolonial dominada pelas superpotências. No entanto, o autor escreve calmamente falando de 1974 e a nossa Guerra Colonial: “A situação militar em Angola estava resolvida; em Moçambique havia alguma actividade guerrilheira, sobretudo nos distritos de Cabo Delgado e Tete; e na Guiné tinham surgido algumas dificuldades”. Como estou a escrever para gente crescida, que até combateu na Guiné, não adianto mais nada. O que o autor descreve sobre a situação interna portuguesa, nessa altura, podia ter sido editado pelo SNI. O regime de Salazar descrito por este oficial da Força Aérea vivia no melhor dos mundos possíveis, tinha ordem e um Presidente de Conselho com músculo. Foi Marcelo Caetano quem veio desaustinar a coesão ideológica, trouxe a perturbação de conceitos, dividiu os bons portugueses, deu argumentos aos inimigos da Pátria (a oposição, obviamente). Como se estivesse a fazer um relatório para a tropa, fala de um Ultramar risonho e de movimentos subversivos acantonados nos países limítrofes. Não havia nacionalistas nesses movimentos de libertação, só agentes da subversão espicaçados por Moscovo. Tudo isto é dito e escrito com estrofes de Os Lusíadas. Toda esta guerra foi de baixa intensidade, de custo muito barato, progressivamente africanizada, isto sem minimizar que havia cansaço, cepticismo e a descrença que gradualmente se instalou na metrópole. O autor não diz, foi pena não se ter debruçado sobre esse ponto, mas as altas figuras do regime tudo fizeram para obstar que os seus familiares dessem com o corpinho no teatro de operações. Com honrosas excepções, adiante-se.
O capítulo “Da justiça e do direito da guerra” não se desenvolverá aqui, por se tratar de matéria cultural de incontestável valor mas que não abona nem desabona para o desfecho da Guerra Colonial. Era a mesma coisa que escrever a história exaustiva dos diferentes movimentos anticolonialistas para demonstrar que todos eles tinham legítimos direitos a obter a independência dos territórios reivindicados. Não basta dizer que o Ultramar veio sempre consagrado nas constituições portuguesas. Interessava explicar, por exemplo, porque é que as constituições do século XIX não falavam da Guiné, falavam de Bissau e Cacheu; goste o autor ou não, mesmo que o facto ofenda o seu acrisolado nacionalismo, a presença portuguesa na Guiné foi sempre mínima, houve rebeliões até 1936, a colónia teve as últimas fronteiras definidas em 1886, e em 1950, quando a população já era superior a meio milhão, pelo menos 97 % não falava português.
O autor devia recusar-se a falar do que não sabe ou, pelo menos, nunca falar na verdade histórica. Marcello Caetano tinha uma governação que, no campo económico e financeiro, atingiu no final de Março de 1974, o inviável, com a inflação em dois dígitos gordos, o mais trágico desequilíbrio da balança de pagamentos de sempre, o patronato à bulha, os sindicatos em greves, etc. Não se está a falar nas tensões em que se envolveram as Forças Armadas, a Academia Militar sem cadetes, a descolagem definitiva de Nixon e Kissinger, os aliados ocidentais que nos deixaram ao abandono. A economia caminhava para a ruptura, e quem o escreveu foi Dias Rosas, Ministro da Economia e das Finanças de Caetano.
Mas também a diplomacia portuguesa já não podia estar à altura do seu melhor porque a conjuntura internacional era totalmente desfavorável a Portugal, até a Espanha e o Brasil tinham desertado. É patético pôr em cima da mesa as relações amigáveis de Portugal com a Etiópia, a Tailândia, as Filipinas e o Paquistão. É inacreditável escrever-se que mantínhamos os apoios indispensáveis, que os nossos inimigos eram constituídos pelos comunistas e pelo bloco afro-asiático: basta ver quem reconheceu, até 25 de Abril de 1974, a República da Guiné-Bissau. Uma guerra é militarmente insustentável quando não se tem equipamento/armamento, contingentes, tecnologia, comparáveis aos do inimigo, nem a perspectiva de ter. Não tínhamos perdido só a supremacia aérea na Guiné, estava em marcha um plano de abandono ou retirada de um elevado número de quartéis e povoações que não podiam corresponder ao fogo mortífero dos morteiros de 120 mm. Está escrito, mas o autor não é capaz de tirar conclusões. A guerra deixara de ser sustentável, económica e militarmente. Um Presidente de Conselho que dá luz verde a conversações secretas com o PAIGC para chegar rapidamente a um cessar-fogo e ao reconhecimento da independência da Guiné não está propriamente a viver nesse melhor mundo que o autor desenha para gáudio da sua volátil teoria de traição e abandono. Não desistimos da guerra, como toda a historiografia recente tem evidenciado, por causa do PCP, dos dois mortos por dia, das despesas militares ou pela subversão do pensamento de Salazar. Desistimos porque a causa da libertação dos povos africanos foi muito mais poderosa que os erros políticos praticados. Quanto mais erros, quando mais cegueira política, menor é o campo de manobra para negociar de forma a acautelar interesses legítimos, e houve muitos interesses legítimos que foram mal tratados no turbilhão dos acontecimentos posteriores ao 25 de Abril.
Brandão Ferreira escreveu mais de 500 páginas de uma obra parada no tempo, manipuladora, desajustada à compreensão dos factos conducentes tanto ao 25 de Abril como à descolonização. Ninguém invoca a verdade histórica e condiciona os testemunhos; ninguém substitui a verdade histórica para escrever um manual de catequese, recorrendo ao testemunho do inspector da PIDE que até insinua a importância de Os Protocolos dos Sábios de Sião na política internacional (como se sabe, é uma das mais execráveis do racismo). Se veio à procura do escândalo, desiluda-se, o mercado livreiro está cheio de chapéus velhos e ele não será o último autor inconformado com a “perda das colónias”. Não combateu, não ouviu nem consultou as diferentes fontes. Pode dar-se por contente por ter andado a escrever um livro ressabiado para um auditório de ressabiados que lhe vão bater as palmas, sem pedir contas pela verdade histórica.
__________
Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5198: Notas de leitura (32): A Marinha em África, Angola, Guiné e Moçambique, de John P. Cann (Beja Santos)
Carlos e Luís,
Já fiz o meu dever cívico de ler esta chumbada, um libelo indescritível, supunha que já não havia gente capaz de manipular a história contemporânea.
Ando a ler livros curiosos, mas peço-vos compreensão para o meu silenciamento nas próximas semanas.
Se, por acaso, houver algum tertuliano que tenha lido estas 500 páginas e me queira interpelar, esclareço que estarei disponível dentro de poucas semanas.
Um abraço de estima para todos,
Mário
Em Nome da Pátria:
A nostalgia e o nacionalismo patético dos órfãos do Império
Por Beja Santos
As teses de “traição” e “abandono criminoso” do Império Colonial são muito caras aos nacionalistas (civis e militares) de diferentes matizes. Não se pense que se trata de uma coqueluche da extrema-direita. Frequentemente, os defensores dessas teses dão clamorosos tiros nos pés, a pretexto de uma data ou até do desaparecimento de uma figura insigne, ligada à Guerra Colonial. Quando faleceu o brigadeiro Hélio Felgas vi escrito em blogues louvores ao seu portuguesismo indefectível, à sua crença inabalável pela integridade ultramarina. Seguramente que os autores de tais laudes não leram tudo quando escreveu o oficial general. Pegaram em livros antigos ou em lições que ele deu na Academia Militar, colaram-no à Pátria heróica atacada por inimigos de Portugal (os oposicionistas ao regime, pois claro). Em 1995, surgiu o livro “Os últimos guerreiros do Império”, da Editora Erasmos, com a coordenação de Rui Rodrigues. Afinal, a tal sustentabilidade da guerra não era aceite por Hélio Felgas, como ele depõe: “No final de 1968, enviei um relatório ao general Spínola onde defendia que a concessão da independência à Guiné Portuguesa, não iria agravar, antes pelo contrário, a situação em qualquer das outras Províncias Ultramarinas”. Ele fazia o seguinte diagnóstico: “O inimigo está demasiado bem armado, bem apoiado pela população, bem organizado e bem enraizado num terreno que lhe é favorável... Há que abandonar radicalmente largos pedaços do território e concentrar os meios em áreas reduzidas que deverão ficar totalmente passadas a ferro... Há que empregar largamente os desfolhantes e outros agentes químicos que destruam as culturas”. E profetizava: “Estamos à espera que o IN adquira suficiente estatura e capacidade militar para correr connosco”.
É longa a bibliografia de todos aqueles, mais ou menos estrénuos defensores do regime de Salazar e Caetano, que escreveram sobre a traição inerente ao processo de descolonização. De um modo geral, como a historiografia recente tem posto a nu, as teses de sustentabilidade da guerra ou de “vitória traída” estão desmascaradas. Ter a desfaçatez de pegar em literatura antiquada, retorcer a argumentação e falar em rendição incondicional, é um puro “chapéu velho” à procura de saudosistas e náufragos do nacionalismo sem mestre nem bússola.
Um tenente-coronel piloto aviador pega em literatura paroquial gasta e põe-na ao serviço da tese do abandono das nossas províncias ultramarinas, dá como demonstrado que Portugal fez uma guerra justa e de que não soubemos merecer os nossos antepassados, abandonando da forma mais iníqua alguns pedaços da Pátria (“Em Nome da Pátria”, por José João Brandão Ferreira, Publicações Dom Quixote, 2009).
Para o autor, a compreensão de uma guerra justa, como aquela que travou Portugal entre 1961 e 1974, exige enquadramento geopolítico e geoestratégico a partir do fim da Segunda Guerra Mundial. O argumento científico toma-se como sério, à partida. Nada se pode entender na contemporaneidade sem perceber como emergiu uma atmosfera anticolonial dominada pelas superpotências. No entanto, o autor escreve calmamente falando de 1974 e a nossa Guerra Colonial: “A situação militar em Angola estava resolvida; em Moçambique havia alguma actividade guerrilheira, sobretudo nos distritos de Cabo Delgado e Tete; e na Guiné tinham surgido algumas dificuldades”. Como estou a escrever para gente crescida, que até combateu na Guiné, não adianto mais nada. O que o autor descreve sobre a situação interna portuguesa, nessa altura, podia ter sido editado pelo SNI. O regime de Salazar descrito por este oficial da Força Aérea vivia no melhor dos mundos possíveis, tinha ordem e um Presidente de Conselho com músculo. Foi Marcelo Caetano quem veio desaustinar a coesão ideológica, trouxe a perturbação de conceitos, dividiu os bons portugueses, deu argumentos aos inimigos da Pátria (a oposição, obviamente). Como se estivesse a fazer um relatório para a tropa, fala de um Ultramar risonho e de movimentos subversivos acantonados nos países limítrofes. Não havia nacionalistas nesses movimentos de libertação, só agentes da subversão espicaçados por Moscovo. Tudo isto é dito e escrito com estrofes de Os Lusíadas. Toda esta guerra foi de baixa intensidade, de custo muito barato, progressivamente africanizada, isto sem minimizar que havia cansaço, cepticismo e a descrença que gradualmente se instalou na metrópole. O autor não diz, foi pena não se ter debruçado sobre esse ponto, mas as altas figuras do regime tudo fizeram para obstar que os seus familiares dessem com o corpinho no teatro de operações. Com honrosas excepções, adiante-se.
O capítulo “Da justiça e do direito da guerra” não se desenvolverá aqui, por se tratar de matéria cultural de incontestável valor mas que não abona nem desabona para o desfecho da Guerra Colonial. Era a mesma coisa que escrever a história exaustiva dos diferentes movimentos anticolonialistas para demonstrar que todos eles tinham legítimos direitos a obter a independência dos territórios reivindicados. Não basta dizer que o Ultramar veio sempre consagrado nas constituições portuguesas. Interessava explicar, por exemplo, porque é que as constituições do século XIX não falavam da Guiné, falavam de Bissau e Cacheu; goste o autor ou não, mesmo que o facto ofenda o seu acrisolado nacionalismo, a presença portuguesa na Guiné foi sempre mínima, houve rebeliões até 1936, a colónia teve as últimas fronteiras definidas em 1886, e em 1950, quando a população já era superior a meio milhão, pelo menos 97 % não falava português.
O autor devia recusar-se a falar do que não sabe ou, pelo menos, nunca falar na verdade histórica. Marcello Caetano tinha uma governação que, no campo económico e financeiro, atingiu no final de Março de 1974, o inviável, com a inflação em dois dígitos gordos, o mais trágico desequilíbrio da balança de pagamentos de sempre, o patronato à bulha, os sindicatos em greves, etc. Não se está a falar nas tensões em que se envolveram as Forças Armadas, a Academia Militar sem cadetes, a descolagem definitiva de Nixon e Kissinger, os aliados ocidentais que nos deixaram ao abandono. A economia caminhava para a ruptura, e quem o escreveu foi Dias Rosas, Ministro da Economia e das Finanças de Caetano.
Mas também a diplomacia portuguesa já não podia estar à altura do seu melhor porque a conjuntura internacional era totalmente desfavorável a Portugal, até a Espanha e o Brasil tinham desertado. É patético pôr em cima da mesa as relações amigáveis de Portugal com a Etiópia, a Tailândia, as Filipinas e o Paquistão. É inacreditável escrever-se que mantínhamos os apoios indispensáveis, que os nossos inimigos eram constituídos pelos comunistas e pelo bloco afro-asiático: basta ver quem reconheceu, até 25 de Abril de 1974, a República da Guiné-Bissau. Uma guerra é militarmente insustentável quando não se tem equipamento/armamento, contingentes, tecnologia, comparáveis aos do inimigo, nem a perspectiva de ter. Não tínhamos perdido só a supremacia aérea na Guiné, estava em marcha um plano de abandono ou retirada de um elevado número de quartéis e povoações que não podiam corresponder ao fogo mortífero dos morteiros de 120 mm. Está escrito, mas o autor não é capaz de tirar conclusões. A guerra deixara de ser sustentável, económica e militarmente. Um Presidente de Conselho que dá luz verde a conversações secretas com o PAIGC para chegar rapidamente a um cessar-fogo e ao reconhecimento da independência da Guiné não está propriamente a viver nesse melhor mundo que o autor desenha para gáudio da sua volátil teoria de traição e abandono. Não desistimos da guerra, como toda a historiografia recente tem evidenciado, por causa do PCP, dos dois mortos por dia, das despesas militares ou pela subversão do pensamento de Salazar. Desistimos porque a causa da libertação dos povos africanos foi muito mais poderosa que os erros políticos praticados. Quanto mais erros, quando mais cegueira política, menor é o campo de manobra para negociar de forma a acautelar interesses legítimos, e houve muitos interesses legítimos que foram mal tratados no turbilhão dos acontecimentos posteriores ao 25 de Abril.
Brandão Ferreira escreveu mais de 500 páginas de uma obra parada no tempo, manipuladora, desajustada à compreensão dos factos conducentes tanto ao 25 de Abril como à descolonização. Ninguém invoca a verdade histórica e condiciona os testemunhos; ninguém substitui a verdade histórica para escrever um manual de catequese, recorrendo ao testemunho do inspector da PIDE que até insinua a importância de Os Protocolos dos Sábios de Sião na política internacional (como se sabe, é uma das mais execráveis do racismo). Se veio à procura do escândalo, desiluda-se, o mercado livreiro está cheio de chapéus velhos e ele não será o último autor inconformado com a “perda das colónias”. Não combateu, não ouviu nem consultou as diferentes fontes. Pode dar-se por contente por ter andado a escrever um livro ressabiado para um auditório de ressabiados que lhe vão bater as palmas, sem pedir contas pela verdade histórica.
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Nota de CV:
Vd. último poste da série de 3 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5198: Notas de leitura (32): A Marinha em África, Angola, Guiné e Moçambique, de John P. Cann (Beja Santos)
Guiné 63/74 - P5214: O nosso blogue em números (1): Os cinco postes mais comentados do mês de Outubro de 2009
1. Texto do editor L.G.:
No mês transacto, publicaram-se 150 postes (do P5038 a P5187), o que dá uma média de 5 postes por dia (4,8).
No ano em curso já se publicaram até hoje 1520 postes, mais 233 do que em todo o ano transacto (n=1287), e quando ainda faltam 53 dias para terminar o 2009.
A média diária de postes publicados em 2009 é de 5 (4,9), superior à ano passado (3,5) e muito superior à de 2007 (2,7).
No período de 27/9 a 1/11/2009, a semana mais produtiva foi a de 4 a 10 de Outubro, com um total de 45 postes (6,4 por dia) (Gráfico 1).
Tome-se como termo de comparação as duas semanas do ano em curso, em que atingimos o máximo e o mínimo:
29/3 a 4/4/2009 - 50 postes
30/8 a 4/9/2009 - 20 postes
Relativamente aos postes publicados, de 1 a 31 de Outubro (n=150), fizeram-se 565 comentários, ou seja, menos de 4 por poste (3,8) e 18 por dia (18,2)... Os cinco postes mais comentados (*) constam do Gráfico 2.
Claro que estes dados estatísticos, relativos à nossa produção bloguística, são uma mera curiosidade. Dão, em todo o caso, uma ideia do nível de participação dos amigos e camaradas da Guiné, sem contudo poderem revelar a qualidade dos nossos escritos e o elevado civismo, tolerância e camaradagem de que todos os dias damos aqui provas. É uma lição para a blogosfera lusófona e até para muitos sectores da vida política e social portuguesa... Um ou outro comentário mais destemperado é apenas a excepção que confirma a regra. E a verdade é que é raro os editores usaram a perrogativa que têm, de eliminar os comentários que não obedecem às nossas regras de convívio.
À nossa Tabanca Grande, aos membros do nosso blogue, aos nossos leitores, a todos os que nos visitam, lêem e escrevem, aos nossos editores: um especial OSCAR BRAVO (obrigado). Aos autores mais comentados, os meus parabéns. LG
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Nota de L.G.:
(*) Vd. postes:
6 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5058: In Memoriam (33): Alferes Henrique Ferreira de Almeida, morto em combate em 14JUL68 em Cabedu (J.A. Pereira da Costa)
19 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5132: Humor de caserna (13): Rambo uma vez, rambo para sempre (Joaquim Mexia Alves)
30 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5183: Notas de leitura (31): Notícias da Pátria e dos que a invocam, em vão ou não (António Matos)
12 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 – P5098: Estórias do Mário Pinto (Mário Gualter Rodrigues Pinto) (25): As armas proibidas que nós utilizámos
3 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5046: Parabéns a você (31): Hélder Sousa, ex-Fur Mil TRMS TSF, Piche e Bissau (1970/72) (Editores)
Guiné 63/74 - P5213: Recortes de Imprensa (22): Atlântico Expresso-Arsénio Puim foi convidado de honra... (José Câmara/Carlos Cordeiro)
1. Mensagem de José da Câmara*, ex-Fur Mil da CCAÇ 3327 e Pel Caç Nat 56, Guiné, 1971/73, com data de 24 de Outubro de 2009:
Caro amigo,
Não sei até que ponto esta notícia tem interesse para o blogue. De qualquer forma passo a informação.
Infelizmente não soube que o nosso camarada tinha estado cá. Embora longe tinha dado um saltinho a Hudson, MA.
Um bom fim de semana com muita saúde para ti e para os teus familiares,
José Câmara
Comunidade
Naturais de Santo Espírito reuniram em Hudson
Arsénio Chaves Puim foi convidado de honra e lançou o livro “As Ribeiras de Santa Maria”
Os naturais da freguesia de Santo Espírito da ilha de Santa Maria reuniram no Clube Português de Hudson, que dispões das mais modernas e funcionais instalações em organizações lusas em terras americanas.
Os lucros destes encontros revertem em favor do clube e aqui se pode ver o entusiasmo e orgulho que os marienses têm daquela digna presença de Portugal na América.
Depois do jantar, entrega de bolsas de estudo, lançamento de um livro, seguiu-se folclore, cantares regionais, e música para dançar.
Um convívio que entrou no programa de actividades comunitárias de onde se avizinha grande sucesso tendo em conta a adesão das gentes de Santa Maria, amigos e familiares.
José Figueiredo foi uma vez mais o grande impulsionador do encontro que se revestiu de grande sucesso.
“Temos uma adesão de 450 pessoas neste 5º convívio dos naturais de Santo Espírito, ilha de Santa Maria que anualmente tem por palco o sumptuoso Clube Português de Hudson.
Este ano temos como convidado de honra Arsénio Chaves Puím, natural de Santa Maria, freguesia de Santo Espírito e qu já escreveu três livros sobre a sua ilha: Um sobre o tema da pesca à baleia, outro que tem a ver com o falar e vivência dos marienses e um terceiro lançado no verão passado em Vila do Porto sob o tema “As Ribeiras de Santa Maria, sua história e seus percursos” livro interessantíssimo porque com cada ribeira vem uma lenda, vem uma história tudo muito acarinhado pelo autor”.
“Isto é um convívio de portas abertas a todos quantos se queiram juntar a nós”
“Se bem que a maioria dos presentes seja da freguesia de Santo Espírito da ilha de Santa Maria, que curiosamente tem aqui mais radicados em Hudson, dos que os existentes na terra de origem, já contamos com a adesão de gente de outras ilhas, mesmo do continente, vindos dos mais diversos estados.
Isto é um convívio de portas abertas a todos quantos se queiram juntar a nós. A finalidade é o apoio ao clube e bolsas de estudo. Hoje vão ser entregues quatro no valor de 2 mil dólares.
Estes convívios já canalizaram um apoio superior a 40 mil dólares para o clube”.
“Se mais lugares tivessemos mais gente estaria presente”
“A adesão foi de tal forma este ano que tivemos de deixar gente sem poder estar presente. O salão divide-se em três. Com receio de não encher reservamos dois e o terceiro ficou alugado para um casamento. Se tivéssemos reservado os três teriamos enchido tudo”, diz J. Figueiredo, para acrescentar: “Vamos ter bailados do grupo do professor Dinis Frias, alunos do liceu de Hudson, música para dançar e o grupo de Nossa Senhora das Candeias.
As presenças no salão são gente proveniente de Taunton, East Providence de outras comunidades da Nova Inglaterra e Canadá”, concluiu José Figueiredo.
Falar das origens. Escrever sobre as origens. Recordar as origens é trabalho de pesquisadores, que se sentem atraídos pelos promenores da vivência das gentes, da história a até das ribeiras, tal como Arsénio Chaves Puím, que lançou mais um livro durante o convívio.
“Aqui estou em Hudson no meio dos meus conterrâneos marienses para lhes apresentar mais um livro sobre Santa Maria, integrado neste convívio das gentes de Santo Espírito”, começou por dizer Arsénio Chaves Puim, adiantando:
“Já tenho três livros escritos. Um sobre a Pesca à Baleia na ilha de Santa Maria em 2001, escrevi outro sobre “Falares e Vivências do Povo de Santa Maria” em 2007 e escrevi um terceiro em 2009 “As Ribeiras de Santa Maria seus percursos e história”. Relacionado com as ribeiras há todo uma história das gentes das nossas gentes, dado que estas desempenharam um papel importantíssimo no seu dia a dia. Recolhi factos, histórias, acontecimentos que se vêm enquadrando na vida daqueles cursos de água”.
“Os padres de Santa Maria poderá ser tema para um próximo livro”
“Dado que estamos no ano sacerdotal determinado pelo Papa,e como se tem falado muitos do párocos que passaram por Santa Maria. Deste modo sou capaz de iniciar a recolha de dados sobre os padres naturais de Santa Maria.
Formei-me no seminário de Angra do Heroísmo. Fui padre vários anos. A formação que tinhamos no seminário era muito mais orientada para as letras do que para as ciências.
Naturalmente recebi a formação de um seminário. Depois vim para as paróquias onde junto do povo comecei a encontrar muito curioso a cultura os costumes as tradições.
Inicialmente sem qualquer intenção de escrever livros. Em princípio comecei publicar os meus escritos no jornal de Santa Maria. As pessoas começaram a entusiasmar-me para colocar todo o trabalho recolhido em livro. Sendo assuntos da nossa ilha os meus livros têm tido a maior aceitação.
Este último livro é uma edição do Baluarte de Santa Maria e teve grande aceitação no lançamento nas origens. Aqui no seio da comunidade dos EUA vamos ver o que vai acontecer”, concluiu Arsénio Chaves Puím.
Freguesia de Santo Espírito
A freguesia de Santo Espírito fica situado na parte sudeste da ilha de Santa Maria. Em 1960, esta freguesia tinha uma população de três mil habitantes.
Hoje, tem menos de oitocentos habitantes dado que muitos procurarem novas terras entre as quais os que se radicaram em Hudson.
Reza a tradição que a primeira missa nos Açores em honra do Espírito Santo foi celebrada na freguesia de Santo Espírito.
Este artigo "Comunidades" está inserido na página "Comunidades" do prestigiado "Portuguese Times" que se publica, semanalmente, em New Bedford, MA.
O seu director é Adelino Ferreiro, natural da Ilha de São Miguel, que foi Furriel Miliciano em Angola.
JC
__________
2. Mensagem do nosso tertuliano Carlos Cordeiro**, (ex-Fur Mil At Inf - Centro de Instrução de Comandos - Angola, 1969/71), professor de História em Ponta Delgada, com data de 2 de Novembro de 2009:
Caros Carlos e Luís,
O semanário "Atlântico Expresso", de Ponta Delgada, publicou hoje uma notícia sobre o camarada Arsénio Puim. Como tenho notado o carinho e admiração com que diversos camaradas a ele se referem ao relembrar os seus tempos de Alferes Capelão na Guiné, envio um resumo da notícia, para vosso conhecimento.
Um abraço amigo do
Carlos
Na reunião de naturais da freguesia de Santo Espírito residentes em Hudson (EUA), foi convidado de honra Arsénio Puim, natural daquela freguesia e a viver na paradisíaca freguesia das Furnas (S. Miguel). Na ocasião, Arsénio Puim lançou o seu terceiro livro: "As Ribeiras de Santa Maria": seus percursos e história. Os anteriores têm por título "Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria" (2001) e "Falares e Vivências do Povo de Santa Maria" (2007).
Cheio de vigor e entusiasmo pela história e cultura das suas gentes, conta publicar em breve o quarto livro, sobre os padres naturais de Santa Maria. O número de convivas que quiseram abraçar o nosso camarada e prestar-lhe a devida homenagem ultrapassou todas as expectativas.
Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão do BART 2917 (Bambadinca)
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5153: Controvérsias (31): Afinal quem saiu derrotado na guerra da Guiné? (José da Câmara)
(**) Vd. poste 5 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5055: Tabanca Grande (177): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil At Inf (Centro de Instrução de Comandos - Angola, 1969/71)
Sobre o Arsénio Puim, hoje enfermeiro reformado, a viver na Ilha de S. Miguel, Açores, vd. postes de:
21 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4989: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71)(3): De Bissau a Bambadinca, a cova do lagarto
14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4521: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/ Mai 71) (1): No RAP 2, V.N. Gaia, onde fez mais de 60 funerais
10 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4666: Memorias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71) (2): De Viana do Castelo a Bissau
3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 – P4455: Estórias cabralianas (50): Alfero, de Lisboa p'ra mim um Fato de Abade (Jorge Cabral)
26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4416: Memória dos lugares (26): Bambadinca, CCS/BART 2917, 1970/72 (Arsénio Puim, ex-capelão)
25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971
25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4410: Cancioneiro de Bambadinca (4): Romance do Padre Puim (Carlos Rebelo † )
23 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4404: CCS do BART 2917: a emoção do reencontro, 38 anos depois (Arsénio Puim)
19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)
18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)
17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)
Vd. último poste da série de 14 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5107: Recortes de Imprensa (21): Revista da Liga dos Combatentes - Homenagens aos Combatentes (Ribeiro Agostinho)
Caro amigo,
Não sei até que ponto esta notícia tem interesse para o blogue. De qualquer forma passo a informação.
Infelizmente não soube que o nosso camarada tinha estado cá. Embora longe tinha dado um saltinho a Hudson, MA.
Um bom fim de semana com muita saúde para ti e para os teus familiares,
José Câmara
Comunidade
Naturais de Santo Espírito reuniram em Hudson
Arsénio Chaves Puim foi convidado de honra e lançou o livro “As Ribeiras de Santa Maria”
Os naturais da freguesia de Santo Espírito da ilha de Santa Maria reuniram no Clube Português de Hudson, que dispões das mais modernas e funcionais instalações em organizações lusas em terras americanas.
Os lucros destes encontros revertem em favor do clube e aqui se pode ver o entusiasmo e orgulho que os marienses têm daquela digna presença de Portugal na América.
Depois do jantar, entrega de bolsas de estudo, lançamento de um livro, seguiu-se folclore, cantares regionais, e música para dançar.
Um convívio que entrou no programa de actividades comunitárias de onde se avizinha grande sucesso tendo em conta a adesão das gentes de Santa Maria, amigos e familiares.
José Figueiredo foi uma vez mais o grande impulsionador do encontro que se revestiu de grande sucesso.
“Temos uma adesão de 450 pessoas neste 5º convívio dos naturais de Santo Espírito, ilha de Santa Maria que anualmente tem por palco o sumptuoso Clube Português de Hudson.
Este ano temos como convidado de honra Arsénio Chaves Puím, natural de Santa Maria, freguesia de Santo Espírito e qu já escreveu três livros sobre a sua ilha: Um sobre o tema da pesca à baleia, outro que tem a ver com o falar e vivência dos marienses e um terceiro lançado no verão passado em Vila do Porto sob o tema “As Ribeiras de Santa Maria, sua história e seus percursos” livro interessantíssimo porque com cada ribeira vem uma lenda, vem uma história tudo muito acarinhado pelo autor”.
“Isto é um convívio de portas abertas a todos quantos se queiram juntar a nós”
“Se bem que a maioria dos presentes seja da freguesia de Santo Espírito da ilha de Santa Maria, que curiosamente tem aqui mais radicados em Hudson, dos que os existentes na terra de origem, já contamos com a adesão de gente de outras ilhas, mesmo do continente, vindos dos mais diversos estados.
Isto é um convívio de portas abertas a todos quantos se queiram juntar a nós. A finalidade é o apoio ao clube e bolsas de estudo. Hoje vão ser entregues quatro no valor de 2 mil dólares.
Estes convívios já canalizaram um apoio superior a 40 mil dólares para o clube”.
“Se mais lugares tivessemos mais gente estaria presente”
“A adesão foi de tal forma este ano que tivemos de deixar gente sem poder estar presente. O salão divide-se em três. Com receio de não encher reservamos dois e o terceiro ficou alugado para um casamento. Se tivéssemos reservado os três teriamos enchido tudo”, diz J. Figueiredo, para acrescentar: “Vamos ter bailados do grupo do professor Dinis Frias, alunos do liceu de Hudson, música para dançar e o grupo de Nossa Senhora das Candeias.
As presenças no salão são gente proveniente de Taunton, East Providence de outras comunidades da Nova Inglaterra e Canadá”, concluiu José Figueiredo.
Falar das origens. Escrever sobre as origens. Recordar as origens é trabalho de pesquisadores, que se sentem atraídos pelos promenores da vivência das gentes, da história a até das ribeiras, tal como Arsénio Chaves Puím, que lançou mais um livro durante o convívio.
“Aqui estou em Hudson no meio dos meus conterrâneos marienses para lhes apresentar mais um livro sobre Santa Maria, integrado neste convívio das gentes de Santo Espírito”, começou por dizer Arsénio Chaves Puim, adiantando:
“Já tenho três livros escritos. Um sobre a Pesca à Baleia na ilha de Santa Maria em 2001, escrevi outro sobre “Falares e Vivências do Povo de Santa Maria” em 2007 e escrevi um terceiro em 2009 “As Ribeiras de Santa Maria seus percursos e história”. Relacionado com as ribeiras há todo uma história das gentes das nossas gentes, dado que estas desempenharam um papel importantíssimo no seu dia a dia. Recolhi factos, histórias, acontecimentos que se vêm enquadrando na vida daqueles cursos de água”.
“Os padres de Santa Maria poderá ser tema para um próximo livro”
“Dado que estamos no ano sacerdotal determinado pelo Papa,e como se tem falado muitos do párocos que passaram por Santa Maria. Deste modo sou capaz de iniciar a recolha de dados sobre os padres naturais de Santa Maria.
Formei-me no seminário de Angra do Heroísmo. Fui padre vários anos. A formação que tinhamos no seminário era muito mais orientada para as letras do que para as ciências.
Naturalmente recebi a formação de um seminário. Depois vim para as paróquias onde junto do povo comecei a encontrar muito curioso a cultura os costumes as tradições.
Inicialmente sem qualquer intenção de escrever livros. Em princípio comecei publicar os meus escritos no jornal de Santa Maria. As pessoas começaram a entusiasmar-me para colocar todo o trabalho recolhido em livro. Sendo assuntos da nossa ilha os meus livros têm tido a maior aceitação.
Este último livro é uma edição do Baluarte de Santa Maria e teve grande aceitação no lançamento nas origens. Aqui no seio da comunidade dos EUA vamos ver o que vai acontecer”, concluiu Arsénio Chaves Puím.
Freguesia de Santo Espírito
A freguesia de Santo Espírito fica situado na parte sudeste da ilha de Santa Maria. Em 1960, esta freguesia tinha uma população de três mil habitantes.
Hoje, tem menos de oitocentos habitantes dado que muitos procurarem novas terras entre as quais os que se radicaram em Hudson.
Reza a tradição que a primeira missa nos Açores em honra do Espírito Santo foi celebrada na freguesia de Santo Espírito.
Este artigo "Comunidades" está inserido na página "Comunidades" do prestigiado "Portuguese Times" que se publica, semanalmente, em New Bedford, MA.
O seu director é Adelino Ferreiro, natural da Ilha de São Miguel, que foi Furriel Miliciano em Angola.
JC
__________
2. Mensagem do nosso tertuliano Carlos Cordeiro**, (ex-Fur Mil At Inf - Centro de Instrução de Comandos - Angola, 1969/71), professor de História em Ponta Delgada, com data de 2 de Novembro de 2009:
Caros Carlos e Luís,
O semanário "Atlântico Expresso", de Ponta Delgada, publicou hoje uma notícia sobre o camarada Arsénio Puim. Como tenho notado o carinho e admiração com que diversos camaradas a ele se referem ao relembrar os seus tempos de Alferes Capelão na Guiné, envio um resumo da notícia, para vosso conhecimento.
Um abraço amigo do
Carlos
Na reunião de naturais da freguesia de Santo Espírito residentes em Hudson (EUA), foi convidado de honra Arsénio Puim, natural daquela freguesia e a viver na paradisíaca freguesia das Furnas (S. Miguel). Na ocasião, Arsénio Puim lançou o seu terceiro livro: "As Ribeiras de Santa Maria": seus percursos e história. Os anteriores têm por título "Pesca à Baleia na Ilha de Santa Maria" (2001) e "Falares e Vivências do Povo de Santa Maria" (2007).
Cheio de vigor e entusiasmo pela história e cultura das suas gentes, conta publicar em breve o quarto livro, sobre os padres naturais de Santa Maria. O número de convivas que quiseram abraçar o nosso camarada e prestar-lhe a devida homenagem ultrapassou todas as expectativas.
Arsénio Puim, ex-Alf Mil Capelão do BART 2917 (Bambadinca)
__________
Notas de CV:
(*) Vd. poste de 24 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5153: Controvérsias (31): Afinal quem saiu derrotado na guerra da Guiné? (José da Câmara)
(**) Vd. poste 5 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5055: Tabanca Grande (177): Carlos Cordeiro, ex-Fur Mil At Inf (Centro de Instrução de Comandos - Angola, 1969/71)
Sobre o Arsénio Puim, hoje enfermeiro reformado, a viver na Ilha de S. Miguel, Açores, vd. postes de:
21 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P4989: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71)(3): De Bissau a Bambadinca, a cova do lagarto
14 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4521: Memórias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/ Mai 71) (1): No RAP 2, V.N. Gaia, onde fez mais de 60 funerais
10 de Julho de 2009 >Guiné 63/74 - P4666: Memorias de um alferes capelão (Arsénio Puim, BART 2917, Dez 69/Mai 71) (2): De Viana do Castelo a Bissau
3 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 – P4455: Estórias cabralianas (50): Alfero, de Lisboa p'ra mim um Fato de Abade (Jorge Cabral)
26 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4416: Memória dos lugares (26): Bambadinca, CCS/BART 2917, 1970/72 (Arsénio Puim, ex-capelão)
25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4412: Dando a mão à palmatória (20): O Arsénio Puim, capelão do BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), só foi expulso em Maio de 1971
25 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4410: Cancioneiro de Bambadinca (4): Romance do Padre Puim (Carlos Rebelo † )
23 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4404: CCS do BART 2917: a emoção do reencontro, 38 anos depois (Arsénio Puim)
19 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4378: Arsénio Puim, o regresso do 'Nosso Capelão' (Benjamim Durães, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)
18 de Maio de 2009 > Guiné 63/74 - P4372: Convívios (131): CCS / BART 2917 (Bambadinca, 1970/72), com o Arsénio Puim e os filhos do Carlos Rebelo (Benjamim Durães)
17 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1763: Quando a PIDE/DGS levou o Padre Puim, por causa da homília da paz (Bambadinca, 1 de Janeiro de 1971) (Abílio Machado)
Vd. último poste da série de 14 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5107: Recortes de Imprensa (21): Revista da Liga dos Combatentes - Homenagens aos Combatentes (Ribeiro Agostinho)
Guiné 63/74 - P5212: Ser solidário (42): Em Marcha a Expedição Humanitária Portugal/Guiné-Bissau 2010 (José Moreira, Memórias e Gentes, Coimbra)
Viajardemoto.com > O portal de quem viaja de moto.... A malta das motas (popular e carinhosamente conhecida por motoqueiros) está crescentemente a aderir à Expedição Humanitária Portugal/Guiné-Bissau, por terra... Segundo o José Moreira, haverá já 9 motociclistas que irão integrados na caravana automóvel habitual (6 a 8 viaturas todo o terreno). Na edição de 2010, a partida já marcada: Coimbra, 25 de Fevereiro de 2010. O nosso blogue vai a maior força possível aos todos amigos e camaradas da Guiné que já estão, no terreno, a trabalho para o sucesso desta causa humanitária e lusófona.
“O sorriso enriquece os recebedores sem empobrecer os doadores" (Paulo Quintana)
Instituição de Utilidade Pública / Reconhecimento e registo como ONGD
pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros
Natureza jurídica: Pessoa colectiva de direito privado, sem fins lucrativos, inserida no regime do mecenato social previsto no Estatuto Benefícios Fiscais,
matriculada na C.R.C.de Coimbra / NIPC 508 343 461
Sede: R Prof Guilherme Tomé (instalações J.F.Taveiro)
Apartado 45
3046-801 TAVEIRO (COIMBRA)
Contacto: E-mail:
j.moreira@sapo.pt ou mailto:guine@coimbraeventos.com~
Telem.: 964 028 040
Parceiro especializado da LIGA DOS COMBATENTES para acções humanitárias
1. Mensagem do José Moreira, presidente da direcção da Associação Humanitária Memórias e Gentes:
Coimbra, 22 de Outubro de 2009
Camarada e amigo Luis Graça,
Em tempos formulastes o pedido, para descrevermos o percurso das nossas expedições à Guiné-Bissau.
Finalmente ele aqui vai numa espécie de Diário, com os dias de viagem, horas, quilómetros parcelares e totais até à Guiné-Bissau. Presumo ser uma informação útil para todos os camaradas do Blogue que, eventualmente, queiram um ano destes participar connosco nesta viagem que, ininterruptamente se faz há 5 anos a esta parte.
Uma curiosidade: Analisando os quilómetros já percorridos e adicionando os da próxima expedição, esta Associação vai atingir os 100.000 Kms. (ida e volta), ao volante pela lusofonia.
Com dedicação, empenhamento, sacrifício e espírito solidário de TODOS, tivemos o merecimento, por parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros, através do IPAD – Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, do reconhecimento e registo como ONGD, nos termos da Lei nº 66/98, de 14 de Outubro, tendo adquirido automaticamente a natureza de pessoa colectiva de Utilidade Pública.
Muito embora o reconhecimento oficial agora conferido nos traga outras valências, vamos continuar como até agora, isto é, a sustentabilidade da expedição ser a expensas de cada um, porque os eventuais apoios (?) serão aplicados num projecto que esta Associação tanto deseja implementar na Guiné.
Em anexo, segue um pedido a todos os camaradas para que nos apoiem nesta missão, tentando-se, assim, restabelecer a esperança e resgatar a dignidade daqueles que as perderam na injustiça social..
Na próxima expedição, para além do número de carros habituais (6/8), temos para já 9 motociclistas, de entre os quais levam as mulheres, portanto, estamos a conseguir em cada ano que passa mais gente jovem e dinâmica. Se fores ao link http://www.viajardemoto.com/forums/showthread.php?t=4939 , verificarás que esta “malta das motas” não brinca em serviço!
Cumprimentos,
Presidente da Direcção
2. Apelo aos membros do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné:
Coimbra, 22 de Outubro de 2009
CAMARADAS DA TABANCA GRANDE
Começamos a trabalhar para a Expedição Humanitária Portugal - Guiné-Bissau/2010. (*)
Esta Associação (de todos nós) precisa da colaboração de toda a gente, fundamentalmente de vós, que tão bem conhecem a realidade daquelas gentes, sobretudo as crianças, deficientes e doentes. Vamos, uma vez mais, alegrar aquelas Instituições (que têm rosto e que são credíveis) minimizando as suas carências.
Tenho a certeza que vão empenhar-se para que esta missão seja mais um marco das nossas vidas “fazendo o bem”.
Temos local de armazenamento, temos pessoas para encaixotar, temos transporte, temos grua e temos contentor… por isso, a ordem é: VAMOS ENCHER UM CONTENTOR!!!
Não interessa quem vai ou quem não pode ir, pretende-se, isso sim, da colaboração de todos vós, para mais esta nobre missão.
É desejo de todos, que o contentor esteja já no mar ou em Bissau, quando sairmos de Portugal (25-2-2010), para isso, é urgente começar a angariar bens de todo o tipo, inclusivamente, bens alimentares “duradouros”, até 15 de Dezembro próximo.
Apelo aos meus amigos que não fiquem expectantes… peçam aos vizinhos, aos amigos, às empresas, às instituições (inclusivamente hospitalares), enfim, vamos pedir a toda a gente (pois não estamos a pedir para nós).
A nível de secretariado (cartas, e-mail`s, etc) cá estarei para tratarmos em conjunto.
Conto convosco, pois sei que são sensíveis a estas causas!
Cumprimentos,
Presidente da Direcção
José Moreira
(Ex-Furriel Miliciano da CCaç 1565,
1966/68)
3. Comentário de L.G.:
As expedições humanitárias organizadas pela Memórias e Gentes, sob a liderança do José Moreira, têm sido um êxito, em toda a linha, desde a logística ao impacto social. Os nossos camaradas de Coimbra vêem agora reconhecido o estatuto da sua associação, como ONGD.(*)
Sabemos que a ajuda humanitária que chega à Guiné-Bissau é uma gota no oceano, para as necessidades de um país que está no fundo da escala do desenvolvimento humano. Mas também sabemos que as doações que são feitas pelos portugueses, através da Memória e Gentes, são-no com muito carinho, e são entregues no local, ao beneficiário final. Não correm, por isso, o risco de irem parar às mãos dos urubus, os intermediários, os especuladores, os burocratas, os comerciantes de Bandim...
O Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné associa-se, mais uma vez, a esta iniciativa, antes de demais divulgando-a e apoiando-a em termos mediáticos. Não tendo uma estrutura logística, gostaríamos de poder ter 3 (três) voluntários, para a regiões de Lisboa, Porto e resto do país, que pudessem trabalhar com articulação com o José Moreira e a sua equipa, na angariação de ajudas. Esse trabalho tem que ser feito impreterivelmente até 15 de Dezembro. Julgo que o problema maior, fora de Coimbra, é o transporte e a armazenagem dos bens doados, e o seu posterior encaminhamento para o armazem central em Coimbra. Mas estas são questões logísticas a resolver com o José Moreira.
Por sua vez, a Ajuda Amiga - Associação de Solidariedade e Apoio ao Desenvolvimento, outra ONG fundada e dirigida por antigos combatentes (como é o caso dos nossos camaradas e amigos Carlos Fortunato, e Carlos Silva), também tem em marcha a campanha humanitária de ajuda à Guiné-Bissau, de 2010. A Ajuda Amiga dispõe já de alguns centros logísticos aqui no sul (Amadora, Caldas da Raínha...).
Gostariamos de poder publicitar no nosso blogue o nome das pessoas, individuais e colectivas, que este ano vão ajudar a encher o(s) contentor(es) da próxima expedição humanitária à Guiné-Bissau. Tanto o José Moreira como o Carlos Fortunato podem dispor das páginas do nosso blogue.
Um Alfa Bravo. Luís Graça
PS -Obrigado, José Moreira, pela cópia do teu diário de bordo. Será oportunamente publicado.
___________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes de:
28 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4873: Ser solidário (36): Assoc. Humanitária Memórias e Gentes reconhecida como ONG desde 26 de Junho de 2009 (José Moreira)
2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4130: Ser solidário (34): O contentor da Ajuda Amiga (Carlos Silva)
22 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3924: Expedição Humanitária 2009 (5): Ei-los que partem, do Largo da Portagem, Coimbra... a caminho de Bissau (José Moreira)
“O sorriso enriquece os recebedores sem empobrecer os doadores" (Paulo Quintana)
Instituição de Utilidade Pública / Reconhecimento e registo como ONGD
pelo Ministério dos Negócios Estrangeiros
Natureza jurídica: Pessoa colectiva de direito privado, sem fins lucrativos, inserida no regime do mecenato social previsto no Estatuto Benefícios Fiscais,
matriculada na C.R.C.de Coimbra / NIPC 508 343 461
Sede: R Prof Guilherme Tomé (instalações J.F.Taveiro)
Apartado 45
3046-801 TAVEIRO (COIMBRA)
Contacto: E-mail:
j.moreira@sapo.pt ou mailto:guine@coimbraeventos.com~
Telem.: 964 028 040
Parceiro especializado da LIGA DOS COMBATENTES para acções humanitárias
1. Mensagem do José Moreira, presidente da direcção da Associação Humanitária Memórias e Gentes:
Coimbra, 22 de Outubro de 2009
Camarada e amigo Luis Graça,
Em tempos formulastes o pedido, para descrevermos o percurso das nossas expedições à Guiné-Bissau.
Finalmente ele aqui vai numa espécie de Diário, com os dias de viagem, horas, quilómetros parcelares e totais até à Guiné-Bissau. Presumo ser uma informação útil para todos os camaradas do Blogue que, eventualmente, queiram um ano destes participar connosco nesta viagem que, ininterruptamente se faz há 5 anos a esta parte.
Uma curiosidade: Analisando os quilómetros já percorridos e adicionando os da próxima expedição, esta Associação vai atingir os 100.000 Kms. (ida e volta), ao volante pela lusofonia.
Com dedicação, empenhamento, sacrifício e espírito solidário de TODOS, tivemos o merecimento, por parte do Ministério dos Negócios Estrangeiros, através do IPAD – Instituto Português de Apoio ao Desenvolvimento, do reconhecimento e registo como ONGD, nos termos da Lei nº 66/98, de 14 de Outubro, tendo adquirido automaticamente a natureza de pessoa colectiva de Utilidade Pública.
Muito embora o reconhecimento oficial agora conferido nos traga outras valências, vamos continuar como até agora, isto é, a sustentabilidade da expedição ser a expensas de cada um, porque os eventuais apoios (?) serão aplicados num projecto que esta Associação tanto deseja implementar na Guiné.
Em anexo, segue um pedido a todos os camaradas para que nos apoiem nesta missão, tentando-se, assim, restabelecer a esperança e resgatar a dignidade daqueles que as perderam na injustiça social..
Na próxima expedição, para além do número de carros habituais (6/8), temos para já 9 motociclistas, de entre os quais levam as mulheres, portanto, estamos a conseguir em cada ano que passa mais gente jovem e dinâmica. Se fores ao link http://www.viajardemoto.com/forums/showthread.php?t=4939 , verificarás que esta “malta das motas” não brinca em serviço!
Cumprimentos,
Presidente da Direcção
2. Apelo aos membros do blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné:
Coimbra, 22 de Outubro de 2009
CAMARADAS DA TABANCA GRANDE
Começamos a trabalhar para a Expedição Humanitária Portugal - Guiné-Bissau/2010. (*)
Esta Associação (de todos nós) precisa da colaboração de toda a gente, fundamentalmente de vós, que tão bem conhecem a realidade daquelas gentes, sobretudo as crianças, deficientes e doentes. Vamos, uma vez mais, alegrar aquelas Instituições (que têm rosto e que são credíveis) minimizando as suas carências.
Tenho a certeza que vão empenhar-se para que esta missão seja mais um marco das nossas vidas “fazendo o bem”.
Temos local de armazenamento, temos pessoas para encaixotar, temos transporte, temos grua e temos contentor… por isso, a ordem é: VAMOS ENCHER UM CONTENTOR!!!
Não interessa quem vai ou quem não pode ir, pretende-se, isso sim, da colaboração de todos vós, para mais esta nobre missão.
É desejo de todos, que o contentor esteja já no mar ou em Bissau, quando sairmos de Portugal (25-2-2010), para isso, é urgente começar a angariar bens de todo o tipo, inclusivamente, bens alimentares “duradouros”, até 15 de Dezembro próximo.
Apelo aos meus amigos que não fiquem expectantes… peçam aos vizinhos, aos amigos, às empresas, às instituições (inclusivamente hospitalares), enfim, vamos pedir a toda a gente (pois não estamos a pedir para nós).
A nível de secretariado (cartas, e-mail`s, etc) cá estarei para tratarmos em conjunto.
Conto convosco, pois sei que são sensíveis a estas causas!
Cumprimentos,
Presidente da Direcção
José Moreira
(Ex-Furriel Miliciano da CCaç 1565,
1966/68)
3. Comentário de L.G.:
As expedições humanitárias organizadas pela Memórias e Gentes, sob a liderança do José Moreira, têm sido um êxito, em toda a linha, desde a logística ao impacto social. Os nossos camaradas de Coimbra vêem agora reconhecido o estatuto da sua associação, como ONGD.(*)
Sabemos que a ajuda humanitária que chega à Guiné-Bissau é uma gota no oceano, para as necessidades de um país que está no fundo da escala do desenvolvimento humano. Mas também sabemos que as doações que são feitas pelos portugueses, através da Memória e Gentes, são-no com muito carinho, e são entregues no local, ao beneficiário final. Não correm, por isso, o risco de irem parar às mãos dos urubus, os intermediários, os especuladores, os burocratas, os comerciantes de Bandim...
O Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné associa-se, mais uma vez, a esta iniciativa, antes de demais divulgando-a e apoiando-a em termos mediáticos. Não tendo uma estrutura logística, gostaríamos de poder ter 3 (três) voluntários, para a regiões de Lisboa, Porto e resto do país, que pudessem trabalhar com articulação com o José Moreira e a sua equipa, na angariação de ajudas. Esse trabalho tem que ser feito impreterivelmente até 15 de Dezembro. Julgo que o problema maior, fora de Coimbra, é o transporte e a armazenagem dos bens doados, e o seu posterior encaminhamento para o armazem central em Coimbra. Mas estas são questões logísticas a resolver com o José Moreira.
Por sua vez, a Ajuda Amiga - Associação de Solidariedade e Apoio ao Desenvolvimento, outra ONG fundada e dirigida por antigos combatentes (como é o caso dos nossos camaradas e amigos Carlos Fortunato, e Carlos Silva), também tem em marcha a campanha humanitária de ajuda à Guiné-Bissau, de 2010. A Ajuda Amiga dispõe já de alguns centros logísticos aqui no sul (Amadora, Caldas da Raínha...).
Gostariamos de poder publicitar no nosso blogue o nome das pessoas, individuais e colectivas, que este ano vão ajudar a encher o(s) contentor(es) da próxima expedição humanitária à Guiné-Bissau. Tanto o José Moreira como o Carlos Fortunato podem dispor das páginas do nosso blogue.
Um Alfa Bravo. Luís Graça
PS -Obrigado, José Moreira, pela cópia do teu diário de bordo. Será oportunamente publicado.
___________
Nota de L.G.:
(*) Vd. postes de:
28 de Agosto de 2009 > Guiné 63/74 - P4873: Ser solidário (36): Assoc. Humanitária Memórias e Gentes reconhecida como ONG desde 26 de Junho de 2009 (José Moreira)
2 de Abril de 2009 > Guiné 63/74 - P4130: Ser solidário (34): O contentor da Ajuda Amiga (Carlos Silva)
22 de Fevereiro de 2009 > Guiné 63/74 - P3924: Expedição Humanitária 2009 (5): Ei-los que partem, do Largo da Portagem, Coimbra... a caminho de Bissau (José Moreira)
quarta-feira, 4 de novembro de 2009
Guiné 63/74 - P5211: Efemérides (32): 1 de Novembro de 1965 – Relatório Oficial da Carnificina em Farim (António Paulo Bastos)
1. O nosso Camarada António Paulo Bastos, que foi 1º Cabo do PEL CAÇ 953 (Teixeira Pinto e Farim, 1964/66), recebemos a seguinte mensagem, em 29 de Outubro de 2009:
Camaradas,
Como prometi e respondendo às solicitações, que me foram enviadas, envio então o relatório referente à “Carnificina de Farim”, de que resumidamente vos havia falado, no poste P5203.
Recordo que tudo aconteceu no dia 1 de Novembro de 1965, no decorrer de uma festa na tabanca do Bairro da Morocunda, tendo provocado 27 mortos e 70 feridos graves.
Creio que deve ter sido um dos graves incidentes do género, que se registaram em tempo de guerra, entre 1961 e 1974.
Este envio é a rogo, à minha sobrinha, pois eu sou um analfabeto em coisas de computadores e, por isso, completamente dependente nesta matéria.
No relatório falam de um agente da PIDE. O seu nome era Prodízio (nunca mais me esqueci) e, em conversa com a Cáti (ou Cádi não me lembro exactamente), ela confirmou-me que, depois de recuperada dos graves ferimentos que sofreu, regressou a Farim, tendo sido empregada na casa dele.
No mês de Março de 2008, ao passear com a Cáti em Farim, ela disse-me onde tinha morado o tal PIDE e onde trabalhava.
Sobre relatórios, tenho em meu poder, ainda, os do BART 733 e do BCAV 490, pois foram os batalhões onde estive adido.
Clicar nos documentos para permitir a sua leitura
Sempre ao dispor, com um abraço,
António P. Bastos,
1º. Cabo Pel Caç 953
___________
Notas de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
3 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5203: Efemérides (26): 1 de Novembro de 1965 - Carnificina em Farim (António Paulo Bastos)
Vd. também poste, que contém extractos sobre esta matéria do livro “Memórias do Colonialismo e da Guerra da autoria de Dalila C. Mateus, em:
18 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2060: Bibliografia de uma guerra (14) : o testemunho de Pedro Pinto Pereira. Memórias do Colonialismo e da Guerra (Dalila C. Mateus)/vb
(...) Que assistira ao fabrico de uma bomba. Quando eles (PIDE) é que tinham deitado uma bomba em Farim, onde mataram muita gente (**).
(...) (quem lançou a bomba?) Foi a PIDE que mandou, tenho a ceteza disso. Lançou a bomba para depois dizer que nós até matávamos africanos. Ali não havia quartéis, só havia casas comerciais, onde era fácil lançar bombas e fugir. Porque é que não lançavam as bombas nos quiosques, frequentados pelos militares portugueses? E iam deitar onde só estava a população?Queriam arranjar pretexto para fazer prisões. Havia, então, uma festa numa tabanca e morreram mais de cem pessoas. Isto passou-se no dia 1 de Novembro de 1965.
(**) Confirmado o incidente, a PIDE, em mensagem por rádio existente nos arquivos de Salazar, afirma que, no dia 1 de Novembro de 1965, cerca das 20 horas, fora lançado um engenho explosivo para o meio dos africanos que se encontravam num batuque em Farim. A explosão teria provocado 63 mortos e feridos, na sua maioria mulheres e crianças.
Foi detida meia centena de pessoas. Confissões obtidas levaram à detenção de um tal Issufo Mané, que declarou pretender atingir militares (?). Para o fazer, teria recebido 14 contos de Júlio Lopes Pereira, o qual, por seu lado, actuara por indicação do chefe da Alfândega de Farim, Nelson Lima Miranda. E este teria vindo a declarar que a bomba fora lançada a mando da direcção do PAIGC.
(AOS/CO/UL- 50-A, Informações da PIDE, 1965-1966, 86 subdivisões, pasta 2, fls. 636, 637, 638, 641 e 642).
O interessante é que Pedro Pinto Pereira, um adepto do regime e admirador de Salazar, atribua o incidente à própria PIDE. Aliás, fazendo-se eco da versão que, na altura, circulou entre a população africana, como o reconhece a própria Polícia (DCM).
Guiné 63/74 - P5210: Nas eleições legislativas de Outubro de 1969, eu estava em... (1) Candamã (Torcato Mendonça)
Guiné > Zona Leste > Subsector de Galomaro > 2º Gr Comb da CART 2339 (Julho/Agosto de 1969) > Fotos Falantes II (9) e I (20) > Aspectos da vida do 2º Gr Comb, vindo de Mansambo, destacado em Julho/Agosto de 1969, para o reforço do subsector de Galomaro, incluindo as tabancas em autodefesa de Cansamba e Candamã. O Serra, guarda-costas do Alf Mil Torcato Mendonça, em cima, de toalha ao ombro na Tabanca de Candamã (FII, 9).
O Gr Comb do Torcato voltaria a Candamã, já no final da Comissão, em Outubro de 1969, no mês em que se realizaram as eleições para a Assembleia Nacional... Alguns militares foram votar a Bafatá, duas semanas da data, 26/10/1969, em que, no Continente, se realizava o acto eleitoral.
Foto: © Torcato Mendonça (2009). Direitos reservados.
1. Provoquei/desafiei o José:
José: Onde é que estavas nas eleições [legislativas] de 26/10/1969 ? Já em Bissau, à espera de embarque, estafando os últimos pesos ou acertando as contas da companhia ?... E será que votaste ? Estavas recenseado ? Lê o poste do João Tunes (*)... Abraço. Luís
2. Eu, por mim, já tinha explicado o meu caso, de expedicionário na Guiné, ainda periquito, de 5 meses, e já porrada q.b., à guisa de comentário ao poste do João:
(...) Os únicos que poderiam exercer o direito de voto, estando recenseados, seriam os funcionários públicos, civis e militares... No caso da tropa, os oficiais e os sargentos do quadro. Na minha companhia, a CCAÇ 12, que só tinha 50 quadros e especialistas, de origem metropolitana, não tenho ideia de os dois 2ºs sargentos, o Piça e o Videira, terem votado em 26/10/1969. Tenho ideia que em 50 cidadãos portugueses, só 3(!) eram ou foram eleitores (6%): o Capitão, eu e um cabo, o Quadrado (se não me engano). No entanto, posso estar a ser traído pela memória...
Noutras companhias e batalhões, o panorama não deveria ser melhor... Deveria manter-se a proporção de 6 para 100... A generalidade da população portuguesa não votava nem podia votar (havia limitações no que dizia respeito à capacidade eleitoral)... Por outro lado, num sistema de partido único e de "liberdade condicional", as oposições só podiam aparecer, timidamente, no curto período das campanhas eleitorais...
Os cadernos eleitorais, a campanha, o acesso aos jornais, à rádio e à TV, a organização de comícios e reuniões, a fiscalizaçáo do acto eleitoral, etc., deixavam muito a desejar... Mesmo em 1969, com a "primavera marcelista", que permitiu a eleição, na lista do partido do poder (a Acção Nacional Popular, substituta da União Nacional) de uma "ala liberal" (Pinto Leite, Sá Carneiro, Francisco Balsemão, etc.).
Os portugueses que nasceram em democracia, já depois do 25 de Abril, não são capazes de imaginar como eram esses tempos (...).
3. Primeira mensagem do José, que é a educação em pessoa:
Eu estava em Candamã. Tenho um texto publicado (estórias do José, um ou dois) é o P 2055, de 17 de Agosto de 2007 (**)
Recebi propaganda, devidamente disfarçada evidentemente e muita palavra cruzada eu teria que fazer...! Só embarquei a 4 de Dezembro de 69. Não me era permitido votar por razões óbvias e que escuso referir.
Votei, pela primeira vez no meu País Livre, a 25 de Abril de 1975. Não me envergonho de dizer que estava nervoso e limpei os olhos mais que uma vez. O meu filho mais velho ia fazer um ano em finais de Julho e eu tudo faria para a implementação da democracia. Há locais do meu País (nosso) onde, ainda hoje, me recuso a ir.
Já li [o poste] ao correr do rato. Aquele emblema... há igual aí em casa. Mas continuo a ser Republicano... Socialista (de certo PS) e... actualmente e, desde 30 do corrente aposentado... mas vou andar por aí!!!
Abraços, caro Luís... por certas "coisas" prezo tanto a Liberdade.
4. Segunda provocação do Luís:
José: Isto merecia um poste, se for um pouco mais desenvolvido/trabalhado... Pode ser ?
5. Segunda mensagem do José, sempre cúmplice, generoso, irónico, desconcertante, intimista:
Bem, isto era uma resposta à questão colocada.
Se vou escrever entro na política ou parece bazófia. No poste 2055 foco levemente e se for "colado"...??? Os militares votantes vinham perguntar-me porque eu não votava. Que respondia eu? Não posso abandonar isto. E quem é James Pinto Bull ?.. É um patriota que vai lutar na Assembleia Nacional, em Lisboa, por este Povo... Votem, bebam umas cervejas, comam e cuidado com as quecas, em Bafatá...
Oh camarada de armas e afins, se escrevo mais pareço que quero estar na montra...
Faz como quiseres. Disse o mesmo ao Vinhal e ainda anda por aí tanto escrito meu sem ver o prelo. Já nem tenho a certeza. Mas este tema tem interesse. Como as lutas académicas de 62 ou o Santa Maria em 61, andava eu , no 6º ou o avião a lançar panfletos e a PIDE à porta do Liceu de Beja a ver os sacos... O Reitor Galante de Carvalho não os deixou entrar porque, entre as pernas, tinha tomates...
E esta heim??? com que então a falar de politica....E o convite, recente da Ana, a minha, para ir a uma ilha...aí? Não!
Tantas estórias de minha vida. Agora vou sair e ver os gambozinos...é que houve uma batidela de carros e fiquei com dúvidas.
Abraços, caro Luís, do Torcato
6. Obrigado, José, utilizei métodos pidescos para obter o teu depoimento, mas agora já estás... fichado. Mas é público e notório que foste, durante antes, um cidadão empenhado no governo da tua cidade, eleito da lista do PS para a assembleia municipal do Fundão... Não tens que te explicar, muito menos pedir desculpa: o teu exemplo de cidadania, pelo contrário, só nos enobrece, a nós, antigos combatentes... Fico também a saber que, pela releitura do teu poste, que o acto eleitoral terá sido antecipado, na Guiné, talvez duas semanas antes do 26/10/1969, e que a tua rapaziada foi votar a Bafatá, como eu.
E quanto ao convite da Ana, da tua Ana, para ir à tal ilha, não hesites, José, que a vida é bela demais para a gente ficar a olhar para trás, a carpir o passado, e a ficar petrificado pela destruição de Sodoma & Gomorra... Vai, em boa hora, e manda-nos um postal ilustrado.
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 4 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5206: Efemérides (27): as eleições de 26/10/1969, as oposições democráticas (CDE e CEUD) e a escalada da guerra (João Tunes)
(**) Vd. poste de 17 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2055: Estórias de Mansambo (Torcato Mendonça) (7): Eleições à vista...
(...) Talvez, na segunda semana de Outubro, recebi uma mensagem da Companhia. Dia, talvez 10 ou 11, soldados… indicava quais… abandonam esse e serão rendidos por igual número idos deste. Motivo: participação na votação para as eleições a 13 do corrente...
Ainda me perguntaram porque não ia (só votei em 25 de Abril de 75) e o que haviam de fazer… votem, bebam uns copos em Bafatá e etc…
Chegado o dia, vieram uns e foram os votantes. Creio que no dia seguinte, estávamos em época de chuvas, levantou-se tremenda tempestade. Chuva, trovoada a merecer abrigo rápido. Fui para a tabanca dos géneros, enfermaria e mais o que fosse preciso. Estávamos a conversar, de repente ouviu-se um estrondo enorme. Parecia que o céu desabava e a terra abanava. Seguem-se sons menores e o grito – ataque. Fuga para valas e abrigos, ligeira confusão, gritos, dois ou três militares caídos no chão junto á árvore grande. Ao longe, correndo na nossa direcção, a gritar, vinha o furriel Rei e outros. Mau. Alto e para o ataque.
Que tinha acontecido? Uma descarga eléctrica, enviada pelo S. Pedro, bate na árvore – que protegia a cozinha, posto de sentinela, o meu refeitório e escritório, etc – faz ricochete, ou gera um campo eléctrico, destrói a antena horizontal do rádio, desce e, depois de o queimar, vai pelos fios accionando, em simultâneo, os seis fornilhos. Por isso aquele tremendo barulho. No abrigo só estavam granadas de RPG2 e outras munições não eléctricas. As da Bazuca 8,9 estavam noutro abrigo ou em Afiá. Sorte a nossa. (...)
(...) Saímos de Candamã a 24 de Outubro [de 1969 ] e não mais voltámos. Apesar das más condições, principalmente na época de chuvas, recordo aquela gente com saudade. (...)
Guiné 63/74 - P5209: Ser solidário (41): Obrigado, Catarina Furtado, Sra. Embaixadora da Boa Vontade, no Gabu (Torcato Mendonça)
1. Mensagem, com data de 1 de Novembro, do nosso histórico Torcato Mendonça, que vive no Fundão, mas já construiu e habitou bunkers (em Mansambo, sector L1, Bambadinca, Zona Leste, Guiné, 1968/69, no tempo em que foi Alf Mil Art, CART 2339, e em que andava na guerra colonial):
Meus Caríssimos Editores, camaradas e amigos:
Não sei ao certo se viram o documentário que eu acabei de ver, Dar a Vida sem Morrer. (*)
É o segundo que vejo. O primeiro foi há bastante tempo. Este agora visa fundamentalmente dar à mulher Guineense melhores condições de vida, visando reduzir a mortalidade materna e neonatal.
A esperança média de vida é de 47 anos, vive-se com um Euro e Meio por dia e acredita-se, olham as câmaras com os olhos de antigamente, olham-nos fundo, tão fundo e nós arrepiamo-nos por dentro, bem lá no fundo e vemos o hoje, recordando o ontem de há décadas.
Pergunto a mim se este Povo, esta Gente não vive hoje pior. Mas acredita, canta, sorri e do pouco faz a esperança. Com tão pouco, tão pouco e uma Mulher, Catarina Furtado, continua a dar esperança, a contactar directamente no terreno com Técnicos e com o Povo. Eu espero que olvide caciques e certas organizações e beneméritos.
E o Homem Grande falava e as suas palavras eram traduzidas para a língua oficial, o português, e mais uma menina nascia, uma Catarina, e a mãe olhava com o olhar de sempre, o agradecimento nesse olhar e a cesariana feita porque o Hospital de Gabu tem um gerador. Raio, um gerador...e a a mulher dá uma vida sem morrer.
Eu só agradeço à Catarina Furtado (**) e a todos os que partilharam neste projecto, portugueses, guineense e sei lá quem mais.
Sinto aquele Povo de uma maneira muito minha e nem palavras encontro. A escrita que fique para outros mais dotados, mais frios e menos emotivos.
Eu fico agora quieto, vou ficar um pouco só e, á minha maneira, vou estar com eles na penumbra de minha varanda.
Fico por aqui, espero que tenham visto o que eu vi... A Guiné mexe connosco, não mexe?
A cada trinta segundos uma morte com malária? Eu percebi bem? Oxalá - queira Alá, o Deus da maioria daquele Povo - tenha percebido mal!
Não vos aborreço mais, não vou reler e espero que tenham visto o documentário.
Um abração do Torcato
2. Mensagem de hoje, novamente do Torcato:
Assunto - P5204 (sem critica - só dar "razão" à não publicação do e-mail. E daí...) (**)
Era noite de lua cheia. Diz-me o relógio. Vantagens de viver no interior. Mas:
Meu Caro Carlos Vinhal (e Editores mesmo não sabendo da conversa por nós tida) : como vês, eu tinha razão. A idade traz, como tudo na vida, a vantagem e a desvantagem ou o bem e mal...
Sempre apareceu um texto sobre o tema, uma reflexão, um chamar de atenção e, qual cereja em cima do bolo, Beethoven e Sonata Moonlight.
Eu, se estivesse na varanda a varrer fantasmas, como (te ou vos) escrevi, preferia a 5ª Sinfonia. Mais chama, melhor no aplacar da raiva então sentida. Raiva? Não! Ia na 9ª, isso, a nona.
Pensava então nas mulheres, nos meninos, na doença, na carência, no esforço da Catarina Furtado e tanta gente de bem a aplacar a ignomínia...e pensava também nos "Senhores e dos seus Amores" a virem a Lisboa pôr o botox, tratar do calo ou de outro mal e, porque não, a Paris, La Belle, ou logo ali a Dakar.
Ah, eu vi através destes documentários e não esqueço. Questiono-me: Independência para tanta dependência e traição - palavra talvez forte demais - antes negação... aos ideais dos que lutaram pela Liberdade e muitos por ela deram a vida.
Pois é, camarada e amigo no singular ou com sss no plural, pois é...
Por uma Guiné melhor, por um Mundo mais justo e fraterno.
Um abração para ti e para todos do Torcato (acabei por fazer cc)
3. Comentário de L.G.:
Por ti, pelos guineenses, nossos irmãos e amigos, sobretudo por essas Extraordinárias e Heróicas Mulheres Guineenses, por todos nós, amigos e camaradas da Guiné,pela Catarina Furtado e tantos outros homens e mulheres de boa vontade, o teu mail deveria ter sido automatica, instantaneamente publicado... Just in time... Mas a gente ainda não tem essa capacidade, técnica e humana... Os mails ficam na fila de espera, na linha de edição, à espera de um editor de serviço...
José, não é tarde. E eu fico sensibilizado por, dentro da nossa Tabanca Grande, haver pessoas como tu e o António Matos, e tantos outros, capazes de ter tempo e sensibilidade para escutar os outros, que sofrem, que estão doentes, que precisam de ajuda, lá nessa terra vermelha que também é um pouco nossa, pelas memórias e afectos, e para ser solidários, quanto mais não seja através da escrita, do testemunho, da indignação...
Num mundo, numa sociedade (na Europa, em Portugal, na Guiné-Bissau) onde impera o individualisno, o cinismo, a infiderença, o eu-eu-eu-e-o-resto-que-se-foda, eu só posso, José, enviar-te daqui um quebra-costelas valente, daqueles que são mesmo para consertar os ossos e mexer com as nossas emoções e os nossos neurónios... Também estive a ver o programa com o meu filho, João, médico, que vai à Guiné em Dezembro, quinze dias, dedicando uma semana à assistência médica da população de Iemberém. Temos a obrigação de passar o melhor dos nossos valores (e ainda temos alguns!) aos nossos filhos e netos... Um Alfa Bravo. Luís
_________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 29 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 – P5181: Ser solidário (40): Dar a vida sem morrer, Domingo, 1 de Novembro, na RTP1, às 21h30 (Torcato Mendonça)
(**) Embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA)
Vd. UNPF > 24 June 2009 > Goodwill Ambassador Catarina Furtado Finds Progress on Maternal Health during her Visit to Guinea-Bissau
Vd. também Africanidade > 2/6/2009 > Catarina Furtado, embaixadora da Boa Vontade, visita a Guiné-Bissau
(***) Vd. poste de 3 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5204: Controvérsias (34): Os guineenses têm uma esperança de vida de 47 anos! (António Matos)
Meus Caríssimos Editores, camaradas e amigos:
Não sei ao certo se viram o documentário que eu acabei de ver, Dar a Vida sem Morrer. (*)
É o segundo que vejo. O primeiro foi há bastante tempo. Este agora visa fundamentalmente dar à mulher Guineense melhores condições de vida, visando reduzir a mortalidade materna e neonatal.
A esperança média de vida é de 47 anos, vive-se com um Euro e Meio por dia e acredita-se, olham as câmaras com os olhos de antigamente, olham-nos fundo, tão fundo e nós arrepiamo-nos por dentro, bem lá no fundo e vemos o hoje, recordando o ontem de há décadas.
Pergunto a mim se este Povo, esta Gente não vive hoje pior. Mas acredita, canta, sorri e do pouco faz a esperança. Com tão pouco, tão pouco e uma Mulher, Catarina Furtado, continua a dar esperança, a contactar directamente no terreno com Técnicos e com o Povo. Eu espero que olvide caciques e certas organizações e beneméritos.
E o Homem Grande falava e as suas palavras eram traduzidas para a língua oficial, o português, e mais uma menina nascia, uma Catarina, e a mãe olhava com o olhar de sempre, o agradecimento nesse olhar e a cesariana feita porque o Hospital de Gabu tem um gerador. Raio, um gerador...e a a mulher dá uma vida sem morrer.
Eu só agradeço à Catarina Furtado (**) e a todos os que partilharam neste projecto, portugueses, guineense e sei lá quem mais.
Sinto aquele Povo de uma maneira muito minha e nem palavras encontro. A escrita que fique para outros mais dotados, mais frios e menos emotivos.
Eu fico agora quieto, vou ficar um pouco só e, á minha maneira, vou estar com eles na penumbra de minha varanda.
Fico por aqui, espero que tenham visto o que eu vi... A Guiné mexe connosco, não mexe?
A cada trinta segundos uma morte com malária? Eu percebi bem? Oxalá - queira Alá, o Deus da maioria daquele Povo - tenha percebido mal!
Não vos aborreço mais, não vou reler e espero que tenham visto o documentário.
Um abração do Torcato
2. Mensagem de hoje, novamente do Torcato:
Assunto - P5204 (sem critica - só dar "razão" à não publicação do e-mail. E daí...) (**)
Era noite de lua cheia. Diz-me o relógio. Vantagens de viver no interior. Mas:
Meu Caro Carlos Vinhal (e Editores mesmo não sabendo da conversa por nós tida) : como vês, eu tinha razão. A idade traz, como tudo na vida, a vantagem e a desvantagem ou o bem e mal...
Sempre apareceu um texto sobre o tema, uma reflexão, um chamar de atenção e, qual cereja em cima do bolo, Beethoven e Sonata Moonlight.
Eu, se estivesse na varanda a varrer fantasmas, como (te ou vos) escrevi, preferia a 5ª Sinfonia. Mais chama, melhor no aplacar da raiva então sentida. Raiva? Não! Ia na 9ª, isso, a nona.
Pensava então nas mulheres, nos meninos, na doença, na carência, no esforço da Catarina Furtado e tanta gente de bem a aplacar a ignomínia...e pensava também nos "Senhores e dos seus Amores" a virem a Lisboa pôr o botox, tratar do calo ou de outro mal e, porque não, a Paris, La Belle, ou logo ali a Dakar.
Ah, eu vi através destes documentários e não esqueço. Questiono-me: Independência para tanta dependência e traição - palavra talvez forte demais - antes negação... aos ideais dos que lutaram pela Liberdade e muitos por ela deram a vida.
Pois é, camarada e amigo no singular ou com sss no plural, pois é...
Por uma Guiné melhor, por um Mundo mais justo e fraterno.
Um abração para ti e para todos do Torcato (acabei por fazer cc)
3. Comentário de L.G.:
Por ti, pelos guineenses, nossos irmãos e amigos, sobretudo por essas Extraordinárias e Heróicas Mulheres Guineenses, por todos nós, amigos e camaradas da Guiné,pela Catarina Furtado e tantos outros homens e mulheres de boa vontade, o teu mail deveria ter sido automatica, instantaneamente publicado... Just in time... Mas a gente ainda não tem essa capacidade, técnica e humana... Os mails ficam na fila de espera, na linha de edição, à espera de um editor de serviço...
José, não é tarde. E eu fico sensibilizado por, dentro da nossa Tabanca Grande, haver pessoas como tu e o António Matos, e tantos outros, capazes de ter tempo e sensibilidade para escutar os outros, que sofrem, que estão doentes, que precisam de ajuda, lá nessa terra vermelha que também é um pouco nossa, pelas memórias e afectos, e para ser solidários, quanto mais não seja através da escrita, do testemunho, da indignação...
Num mundo, numa sociedade (na Europa, em Portugal, na Guiné-Bissau) onde impera o individualisno, o cinismo, a infiderença, o eu-eu-eu-e-o-resto-que-se-foda, eu só posso, José, enviar-te daqui um quebra-costelas valente, daqueles que são mesmo para consertar os ossos e mexer com as nossas emoções e os nossos neurónios... Também estive a ver o programa com o meu filho, João, médico, que vai à Guiné em Dezembro, quinze dias, dedicando uma semana à assistência médica da população de Iemberém. Temos a obrigação de passar o melhor dos nossos valores (e ainda temos alguns!) aos nossos filhos e netos... Um Alfa Bravo. Luís
_________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 29 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 – P5181: Ser solidário (40): Dar a vida sem morrer, Domingo, 1 de Novembro, na RTP1, às 21h30 (Torcato Mendonça)
(**) Embaixadora da Boa Vontade do Fundo das Nações Unidas para a População (UNFPA)
Vd. UNPF > 24 June 2009 > Goodwill Ambassador Catarina Furtado Finds Progress on Maternal Health during her Visit to Guinea-Bissau
Vd. também Africanidade > 2/6/2009 > Catarina Furtado, embaixadora da Boa Vontade, visita a Guiné-Bissau
(***) Vd. poste de 3 de Novembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5204: Controvérsias (34): Os guineenses têm uma esperança de vida de 47 anos! (António Matos)
Guiné 63/74 - P5208: Da Suécia com saudade (14): Spínola, uma história de h pequeno dentro da História com H grande (José Belo)
1. Mensagem de José Belo (*), ex Alf Mil Inf da CCAÇ 2381, Ingoré, Buba, Aldeia Formosa, Mampatá e Empada, 1968/70, actualmente Cap Inf Ref, a viver na Suécia, com data de 14 de Setembro de 2009:
Assunto - Análise das mentalidades dos nossos oficiais superiores. O Aspirante António de Spínola, uma pequena "história" para a História!
Para evitar as mínimas dúvidas de interpretação(!), gostaria de esclarecer alguns dos camaradas que fui Spinolista incondicional na Guiné. Tive o profundo desgosto pessoal de acabar por vir a lutar,literalmente de armas na mão, nos muros do RALIS contra o General Spínola de um projecto político com que me não identificava.
É uma pequena história que diz algo do carácter do General,que gostaria de compartilhar com os camaradas, pedindo desculpa dos detalhes "pessoalistas" da mesma, a que sou obrigado para a situar.
O meu pai era então médico particular do General reformado Pereira Coutinho,e tinha por ele grande amizade e respeito. Ao saber-me mobilizado para a Guiné, o General desejou despedir-se de mim. Em conversa em sua casa, surge o facto de Spínola ter sido Aspirante no Regimento então comandado por Pereira Coutinho. Creio que era o Regimento de Lanceiros, na Calçada da Ajuda, em Lisboa.
Chegado de novo ao Regimento, e como oficial menos antigo, foi, por escala, nomeado responsável pelo rancho da Unidade. Aparentemente, sempre aconteceu muito "à volta" dos alimentos e respectivas verbas, que os Srs. Coronéis-Comandantes, pairando ás alturas que pairavam, tinham dificuldades prácticas(!?) em resolver. Facto é que o Aspirante Spínola, passadas as quatro semanas no cargo, e depois de por todas as maneiras ter tentado lutar contra tais... moínhos de vento, apresentou, por escrito, ao seu comandante, o pedido de demissão de Oficial do Exército.
Este, como mais experiente nas tais lutas contra moínhos de vento, tentou demovê-lo de tal requerimento, logo no início da sua carreira militar. Perante o categórico "não" de Spínola, resolveu acabar por guardar o papel na gaveta da secretária,sem lhe dar seguimento.
Algumas conversas exaltadas terá havido sempre que Spínola lhe perguntava pelo despacho do requerimento, até que um dia, por rotação normal, Spínola acabaria por ser colocado noutra Unidade.
Muitas vezes a HISTÓRIA com "H" seria bem diferente, se estas histórias de "h" pequeno tivessem outros finais.
Um abraço amigo do José Belo.
Estocolmo, 3/11/09
____________
Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 28 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5024: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (13): Portugal é um país de tolerância e humanismo
Vd. também poste de 29 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5178: Humor de caserna (16): Ui!Ui!... A minha despedida da Tabanca Grande... com saída pela porta do cavalo! (José Belo, Suécia)
(**) Esta história deve-se ter passado por volta de 1933/34... Vd. poste de
4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2239: Tugas - Quem é quem (2): António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe (1968/73)
(...) Colocado inicialmente, em 1928, no Regimento de Cavalaria 4, irá exercer as funções de instrutor, durante seis anos, no Regimento de Cavalaria 7, a partir de 1933, já como alferes.
Em 1939, exercerá as funções de ajudante-de-campo do comandante da GNR (Guarda Nacional Republicana), general Monteiro de Barros, seu sogro, e dará início à sua colaboração na Revista de Cavalaria de que é co-fundador. (...)
Assunto - Análise das mentalidades dos nossos oficiais superiores. O Aspirante António de Spínola, uma pequena "história" para a História!
Para evitar as mínimas dúvidas de interpretação(!), gostaria de esclarecer alguns dos camaradas que fui Spinolista incondicional na Guiné. Tive o profundo desgosto pessoal de acabar por vir a lutar,literalmente de armas na mão, nos muros do RALIS contra o General Spínola de um projecto político com que me não identificava.
É uma pequena história que diz algo do carácter do General,que gostaria de compartilhar com os camaradas, pedindo desculpa dos detalhes "pessoalistas" da mesma, a que sou obrigado para a situar.
O meu pai era então médico particular do General reformado Pereira Coutinho,e tinha por ele grande amizade e respeito. Ao saber-me mobilizado para a Guiné, o General desejou despedir-se de mim. Em conversa em sua casa, surge o facto de Spínola ter sido Aspirante no Regimento então comandado por Pereira Coutinho. Creio que era o Regimento de Lanceiros, na Calçada da Ajuda, em Lisboa.
Chegado de novo ao Regimento, e como oficial menos antigo, foi, por escala, nomeado responsável pelo rancho da Unidade. Aparentemente, sempre aconteceu muito "à volta" dos alimentos e respectivas verbas, que os Srs. Coronéis-Comandantes, pairando ás alturas que pairavam, tinham dificuldades prácticas(!?) em resolver. Facto é que o Aspirante Spínola, passadas as quatro semanas no cargo, e depois de por todas as maneiras ter tentado lutar contra tais... moínhos de vento, apresentou, por escrito, ao seu comandante, o pedido de demissão de Oficial do Exército.
Este, como mais experiente nas tais lutas contra moínhos de vento, tentou demovê-lo de tal requerimento, logo no início da sua carreira militar. Perante o categórico "não" de Spínola, resolveu acabar por guardar o papel na gaveta da secretária,sem lhe dar seguimento.
Algumas conversas exaltadas terá havido sempre que Spínola lhe perguntava pelo despacho do requerimento, até que um dia, por rotação normal, Spínola acabaria por ser colocado noutra Unidade.
Muitas vezes a HISTÓRIA com "H" seria bem diferente, se estas histórias de "h" pequeno tivessem outros finais.
Um abraço amigo do José Belo.
Estocolmo, 3/11/09
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Nota de L.G.:
(*) Vd. poste de 28 de Setembro de 2009 > Guiné 63/74 - P5024: Da Suécia com saudade (José Belo, ex-Alf Mil, CCAÇ 2381, 1968/70) (13): Portugal é um país de tolerância e humanismo
Vd. também poste de 29 de Outubro de 2009 > Guiné 63/74 - P5178: Humor de caserna (16): Ui!Ui!... A minha despedida da Tabanca Grande... com saída pela porta do cavalo! (José Belo, Suécia)
(**) Esta história deve-se ter passado por volta de 1933/34... Vd. poste de
4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2239: Tugas - Quem é quem (2): António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe (1968/73)
(...) Colocado inicialmente, em 1928, no Regimento de Cavalaria 4, irá exercer as funções de instrutor, durante seis anos, no Regimento de Cavalaria 7, a partir de 1933, já como alferes.
Em 1939, exercerá as funções de ajudante-de-campo do comandante da GNR (Guarda Nacional Republicana), general Monteiro de Barros, seu sogro, e dará início à sua colaboração na Revista de Cavalaria de que é co-fundador. (...)
Guiné 63/74 - P5207: Agenda Cultural (40): Os nossos camaradas Giselda Pessoa, V. Barata e M. Rebocho, hoje, 16h, RTP1, Portugal no Coração
1. Reprodução, com a devida vénia, de notícia do blogue Especialistas da Base Aérea 12, Guiné 65/74 > 30 de Outubro de 2009 > VOO 1248 OS ESPECIALISTAS DA FAP NA RTP
Companheiros:
A convite da RTP 1, programa 'Portugal no Coração' vamos estar presentes na emissão do dia 4 (próxima 4ªFeira), pelas 16H.
O Programa reporta-se as Combatentes da Guerra Colonial e tem como participantes,a Ex Sarg Enf Paraq Giselda Pessoa,os Ex-Esp FAP Victor Barata e Nuno Almeida(Poeta),Ex-Sarg Mor Paraq Prof Dr Manuel Rebocho, Ex-Cor Exer Silvério e Ex-Cap Méd Exer Dr Américo.
Como se pode observar,os ZÉS ESPECIAIS vão estar presentes e representados pelos nossos companheiros Victor Barata e Nuno Almeida.
É pena que o programa seja tão curto, pois muito havia para dizer,mas talvez a curto prazo esse momento nos chegue.
Victor Barata
Companheiros:
A convite da RTP 1, programa 'Portugal no Coração' vamos estar presentes na emissão do dia 4 (próxima 4ªFeira), pelas 16H.
O Programa reporta-se as Combatentes da Guerra Colonial e tem como participantes,a Ex Sarg Enf Paraq Giselda Pessoa,os Ex-Esp FAP Victor Barata e Nuno Almeida(Poeta),Ex-Sarg Mor Paraq Prof Dr Manuel Rebocho, Ex-Cor Exer Silvério e Ex-Cap Méd Exer Dr Américo.
Como se pode observar,os ZÉS ESPECIAIS vão estar presentes e representados pelos nossos companheiros Victor Barata e Nuno Almeida.
É pena que o programa seja tão curto, pois muito havia para dizer,mas talvez a curto prazo esse momento nos chegue.
Victor Barata
Guiné 63/74 - P5206: Efemérides (31): as eleições de 26/10/1969, as oposições democráticas (CDE e CEUD) e a escalada da guerra (João Tunes)
1. Mensagem do nosso camarada e amigo João Tunes, um histórico da nossa tertúlia (está cá desde Setembro de 2005) (*).
Para os periquitos, que ainda o não conhecem , eu costumo apresentá-lo como engenheiro químico reformado, ex-Alf Mil Trms, do meu tempo de Guiné. De 1969 a 1971, andou por desvairadas terras: Pelundo, Canchungo (ou Teixeira Pinto), Catió, Guileje, Bissau... (Na foto, à esquerda, o João é o condutor do jipe... Pelundo, Dezembro de 1969).
Está, todos os dias, no seu posto de trabalho, o blogue Água Lisa. Faz parte também da redacção dos Caminhos da Memória, juntamente com Diana Andringa, entre outros membros da Associação «Não Apaguem a Memória!».
Caro Luís,
Como te lembrarás bem, pouco tempo tinha passado desde que chegámos à Guiné em Maio de 1969, realizaram-se “eleições” para a Assembleia Nacional (a votação foi a 26/10/69, portanto há 40 anos), precedida de uma “campanha eleitoral” em que a oposição se apresentou dividida, através da CEUD (só concorreu em três distritos) e a CDE.
A posição face à guerra colonial era um dos temas fortes que dividiam as posições políticas perante o “marcelismo” por parte das duas forças oposicionistas. Essa clivagem, bem analisada numa interessante entrevista com José Tengarrinha (http://caminhosdamemoria.wordpress.com/2009/10/26/entrevista-com-jose-tengarrinha/), marcou não só a campanha como os “resultados” da CEUD e da CDE.
Já nas últimas “eleições” realizadas antes da queda do regime, em 1973, a oposição, que então não foi a votos, se apresentou unida, sob a sigla da CDE, e com uma posição frontal de condenação da guerra colonial.
Para quem, como nós, estava enfiado no mato durante um destes “períodos eleitorais”, esta problemática passava-se “longe” e dele só recebíamos eco pela correspondência da família, nas férias ou pela leitura de um ou outro jornal ou revista que, quando nos chegavam, era tarde e a más horas.
No entanto, as campanhas da CDE (e os Congressos da Oposição em Aveiro, 1969 e 1973), particularmente no que concerne à guerra colonial, tiveram grande impacto significativo e progressivo sobre o posicionamento de vários oficiais do quadro permanente, o que foi ampliado pela influência de milicianos que tinham sido mobilizados para a guerra depois de fazerem o seu estágio político (antifascista e anticolonialista) nas lutas estudantis em Lisboa, Porto e Coimbra. E a génese do MFA, a sua radicalização e a acção revolucionária vitoriosa de 1974, como depois a descolonização, não são alheias a estas influências determinantes.
Por tudo isto, o tema não me parece que deva passar ao lado de um blogue centrado nas memórias vivas e lúcidas de antigos combatentes na guerra colonial na Guiné. E julgo que seria interessante que os membros desta animada web-tertúlia dessem conta da forma como os ecos das “campanhas” de 69 e 73 chegavam (ou não chegavam) a cada um enfiado no seu “cú de judas” situado algures no mato da Guiné.
Na linha do que disse, se os editores considerarem interessante o post que dediquei a este tema no meu blogue (http://agualisa6.blogs.sapo.pt/1573943.html), estão desde já autorizados a dele fazerem transcrição. E outros que digam o que lhes aprouver pois a memória não deve ser amarrada com tabus. João Tunes.
2. Água Lisa, blogue de João Tunes > 1 de Novembro de 2009 > 1969, as "eleições" e a guerra
Os curiosos sobre as “eleições” de 1969, particularmente acerca das razões porque a “oposição” se apresentou dividida (CDE/CEUD), têm disponível para consultarem aqui uma entrevista com José Tengarrinha, então um quadro do PCP e da cúpula da CDE. As fracturas tiveram sobretudo a ver com as expectativas existentes relativamente à “abertura” de Marcello Caetano, marcando depois e naturalmente os discursos eleitorais.
A guerra colonial, então particularmente acesa em Moçambique e na Guiné, era o principal separador das posições das duas agregações oposicionistas – a CDE reproduzia o posicionamento do PCP e apostava forte na denúncia máxima e possível da guerra colonial com partido implícito pelos movimentos de libertação, a CEUD evitava referir o tema e quando este era incontornável procurava um posicionamento não radical sobre a guerra e punha em cima da mesa a quimera retórica de defesa de “autonomias”. Nas “eleições” seguintes, as de 1973, já a oposição se apresentou unificada e o posicionamento acerca da guerra colonial, entretanto agravada, retomou o essencial das posições da CDE de 1969.
A guerra colonial era, para o regime, a grande questão política tabu. Caetano, por convicção e pela pressão dos ultras nacional-colonialistas entrincheirados atrás do Presidente Tomás, continuava o dogma-mito herdado de Salazar: “não discutir o Ultramar”, continuar a guerra. Então, colocar sequer a questão da guerra colonial, discutindo saídas para ela, mesmo que tímidas, configurava uma traição à pátria. Tal não era sequer permitido durante as “campanhas eleitorais” (se tal fosse feito, e normalmente era-o no último discurso, o representante das “autoridades” intervinha e fazia terminar a sessão, a que se seguia, por regra, uma carga policial).
Mas Caetano não só prosseguiu a guerra colonial, como o fez recorrendo a “operações sujas” e outras em larga escala perante o progressivo agravamento das situações militares em Moçambique e na Guiné, gerando uma dinâmica de “tudo ou nada”. E, nesta via, aprofundou-se a “fusão”, na máquina de guerra colonial, entre a polícia política (PIDE) e o exército colonial.
Logo no início de 1969, pouco tempo depois de Caetano suceder a Salazar, o então líder da Frelimo (Moçambique), Mondlane, foi assassinado na Tanzânia através de uma encomenda-bomba, o que desencadeou não só uma crise na Frelimo como uma atribulada luta pela sucessão na liderança. E, no ano seguinte, Kaulza de Arriaga (comandante-chefe) montou uma das operações militares mais gigantescas e recheadas em meios humanos e militares ocorridas na guerra colonial, a operação “nó górdio”. Em resultado final, a Frelimo expandiu a sua área de intervenção guerrilheira em Moçambique.
Na Guiné, Caetano deu luz verde a Spínola e à PIDE para uma das mais vastas e custosas operações de tentativa de aliciar e corromper uma das frentes do PAIGC, ocorridas no norte no “chão manjaco”, e que terminou em Abril de 1970 quando os guerrilheiros atraíram a uma cilada um grupo de elite dos oficiais do exército português, massacrando-o.
Spínola e a PIDE, com o acordo prévio de Caetano, reagiram no final de 1970 através de uma operação com grandes meios (“mar verde”) de invasão da Guiné-Conacry e que tinha, entre os objectivos, assassinar o Presidente deste país (Sekou Touré) e colocar um “partido amigo” no poder, assassinar Amílcar Cabral e o núcleo dirigente do PAIGC (sediado em Conacry), destruir a força aérea e a frota naval guineense, libertar os prisioneiros militares portugueses. Só o último objectivo foi alcançado.
Em 1973, como culminar de uma operação de infiltração da PIDE, foi conseguido o velho objectivo de assassinar Amílcar Cabral. A este desaire, a perda do seu líder carismático, o PAIGC respondeu, através de novo e sofisticado armamento, com a prática neutralização do domínio do espaço aéreo pelo exército colonial e declarar a independência unilateral da Guiné-Bissau, rapidamente reconhecida por dezenas de países membros da ONU.
Todos estes factos, na sua maioria iniciativas de “guerra suja” desenvolvidas em íntima colaboração entre a PIDE e as forças armadas e apoiadas por Caetano, pelos seus fracos ou nulos resultados, quando não fazendo pender a balança da guerra ainda mais para o lado dos guerrilheiros, tornaram grande número de oficiais profissionais não só descrentes quanto à possibilidade de saídas para a guerra e colocando as derrotas no horizonte, como receptivos a uma argumentação política contra a guerra colonial e que recebiam de duas fontes: uma, a das “campanhas” da CDE de 1969 e 1973; outra, a influência e agitação de muitos oficiais milicianos colocados na guerra colonial e que tinham adquirido posições frontais relativamente a estes conflitos nas referidas “campanhas da CDE” e nas lutas estudantis.
O MFA e a Revolução foram questões de decantação e tempo. Afinal, a campanha contra a guerra colonial, limitada mas valentemente veiculada pela CDE, sobretudo nos “períodos eleitorais” de 1969 (**) e 1973, que a CEUD não quis em 1969 e Caetano mandou a PIDE reprimir sempre, acabou por chegar aos seus destinatários principais – os capitães e majores que faziam a guerra em África, transformando, num curto período de tempo, oficiais colonialistas em militares revolucionários.
Nota pela memória: Um dos paradoxos cruéis deste contexto vivi-o em proximidade. Colocado em 1969 no “chão manjaco” da Guiné, conheci e tornei-me amigo do oficial mais brilhante da “nata militar” que Spínola tinha ali colocado na atrás referida operação de corrupção do PAIGC (Major Passos Ramos, oficial de Artilharia e do Corpo de Estado Maior). Era, não só um dos oficiais mais brilhantes do exército português, um homem culto, generoso e cordial, como um oposicionista declarado ao fascismo e ao colonialismo.
Enquanto na metrópole decorriam as “eleições de 69”, sempre que nos encontrávamos em Teixeira Pinto, trocávamos as informações que cada um tinha disponíveis pelo correio com as famílias ou obtidas em férias sobre o andamento da campanha da CDE. Metidos no mato profundo da Guiné, alimentávamos assim uma espécie de tertúlia oposicionista que acompanhava a luta dos que na metrópole defrontavam o regime na “farsa eleitoral” e demarcados dos crentes nas “boas intenções” de Caetano.
Passos Ramos foi um dos oficiais portugueses barbaramente chacinados pelo PAIGC em Abril de 1970 perto do Pelundo. Como profissional militar de elite, cumpria ordens de chefias que lhe repugnavam politicamente. Era contra a guerra e fazia a guerra, como tantos outros até que a resolução da contradição levasse até à conquista do Carmo. Estando desarmado, Passos Ramos, juntamente com mais três outros oficiais, baqueou de uma forma indigna que nenhum homem merece - arrastado, esfaqueado, retalhado e metralhado - às mãos do inimigo que profissional e militarmente queria vencer servindo um regime que politicamente combatia. Não só as revoluções, também a guerra procura devorar os melhores.
João Tunes
3. Comentário de L.G.:
Querido amigo e camarada João: Que bom saber de ti!... De tempos a tempo, vou espreitar o teu blogue ou os Caminhos da Memória. Estive há tempos, no DocLisboa 2009, com a Diana que me apresentou o José Augusto Rocha... Vou republicar, com autorização dele e da Diana, o texto sobre a Guiné, já inserido no blogue Caminhos da Memória...
Quanto ao teu texto, estou inteiramente de acordo: Não podemos deixar de celebrar a efeméride... Tenho bem presente essa data: numa companhia de 50 mecos (brancos, da CCAÇ 12), só eu, o Capitão (do quadro, Carlos Brito) e o alentejano Quadrado, 1º Cabo Apontador de Armas Pesadas, é que estávamos recenseados (posso estar a cometer uma injustiça, omitindo alguém, mas julgo que não)...
Votei em branco, claro, mas votei. Já estava recenseado desde 1965, quando a oposição democrática levantou, pela primeira vez, o tabu da guerra colonial... Caiu o Carmo e a Trindade... Participei, nessa época, com 18 anos, na minha primeira campanha eleitoral que foi abortada logo pela desistência da oposição, e o terror da repressão (estive ligado ao sempre combativo e corajoso Catanho de Menezes, advogado da família do Humberto Delgado, e amigo íntimo do Soares, e futuro fundador do PS, precocemente desaparecido depois do 25 de Abril e hoje miseravelmente esquecido: tem apenas o nome de uma avenida na minha terra, Lourinhã; na biblioteca dele, no solar da família, no Toxofal, tinha acesso, pela primeira vez, em 1965, a títulos da imprensa estrangeira como o Le Monde ou o Nouvel Observateur).
Agradeço a tua gentileza. E fica também o teu desafio, para a malta deixar o seu testemunho dos eventuais ecos, no CTIG, da "campanha eleitoral" de 1969 (mas também das "eleições" de 1965 e de 1973)... Temos, além disso, esse dever de memória. Quanto a tabus, no nosso blogue, sabes que não os há (ou não devia haver...). Recordo-te um das dez regras de convívio da nossa Tabanca Grande: "(ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus)"... Um Alfa Bravo. Luís.
___________
Notas de L.G.:
(*) Vd. poste de 22 de Julho de 2009 > Guiné 63/74 - P4722: Depois da guerra, o stresse... da paz (4): Os dois piores anos da minha vida (João Tunes)
(**) Cartazes de propaganda política, da CDE - Comissão Democrática Eleitoral, usados na campanha eleitoral de 1969. Fonte: Cortesia de EPHEMERA, Biblioteca e Arquivo de José Pacheco Pereira
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