sexta-feira, 25 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7998: (In)citações (29): Rádio Sol Mansi, com sede em Mansoa, ligada à Igreja Católica (diocese de Bissau e Bafatá), quer entrevistar antigos combatentes, portugueses e do PAIGC



1. Mensagem que recebemos em 24 do corrente, da Guiné-Bissau: 

De: Ampa Djamam [djamam@hotmail.com]
Data: 24 de Março de 2011 08:38
Assunto: Bom dia!

Bom dia!

A Rádio Sol Mansi quer colaboração dos Antigos combatentes portugueses no programa radiofónico Cultura e Alma do Povo, um programa informativo que fala da luta de libertação e das experiências positivas dos Ex-Combatentes.

O objectivo é de trazer, ao público-alvo, a imagem auditiva do que foi a luta armada que decorreu de 1963 a 1974. Neste contexto, o seu testemunho seria um enriquecimento para o nosso programa e, consequentemente, para os nossos ouvintes.

Podemos marcar uma entrevista no skype ou msn,  torna-se mais fácil e tem qualidade voz melhor do que telefone.

Sr. Luís,  pode nos ajudar a contactar com outros combatentes ? Podem ser seus amigos que tenham estado em diferentes partes da Guiné-Bissau,  para uma entrevista, pode ser você, Carlos Vinhal, Eduardo J. Magalhães Ribeiro, Virgínio Briote, Humberto Reis, Jorge Cabral, José Manuel Dinis, José Ferreira de Barros,  etc...para dar testemunho da luta na qualidade de antigo(s) combatente(s).

Obrigado, Sr. Luis
Deus te abençoe.

Adriano Djamam (Ampauramassol) [, técnico e apresentador de programas da Rádio Sol Mansi]
E-mail: adrianodjamam@yahoo.com.br
djamam@hotmail.com
Skype: ampadjamam
Cel: 00245 6649641 / 00245 5804646


2. O pedido de colaboração era acompanhado de dois documentos, que aqui se reproduzem (sendo um especificamente dirigido ao nosso co-editor Virgínio Briote):

2.1. Convite a  Sua Excelência Sr. Virgínio Briote
                            

Assunto: Solicitação de participação no programa Cultura e Alma do Povo

Excelentíssimo Senhor:

A Direcção da Rádio Sol Mansi vem, através desta, solicitar ao excelentíssimo senhor Virgínio Briote a colaboração e participação no programa radiofónico Cultura e Alma do Povo, um programa informativo que fala da luta de libertação e das experiências positivas dos Ex-Combatentes.

O objectivo é de trazer, ao público-alvo, a imagem auditiva do que foi a luta armada que decorreu de 1963 a 1974. Neste contexto, o seu testemunho seria um enriquecimento para o nosso programa e, consequentemente, para os nossos ouvintes.

Ciente de que esta solicitação irá merecer uma especial atenção de sua excelência, subscrevemo-nos com a mais alta consideração e estima.

Bissau, 22 de Março de 2011
                                                                                                                         
Atenciosamente. 
O apresentador 
José Mango 


2.2. Guião de entrevista ao ex-combatente [de um lado e doutro]

01. Quando? Como? e Motivo que o levou a ingressr na luta. Mobilizado por alguém? (pai, mãe, tio, amigo, colega, etc..)

02. Como se sentiu quando estava prestes a deixar o seu país ?

03. Qual era impressão da luta antes do ingresso, e depois ?

04. Como se sentiu ao pegar numa arma pela primeira vez ?

05. Onde e qual foi a primeira acção com uma arma na mão ?

06. O contacto com a família era fácil ou nunca mais ligou ?

07. Foi um sucesso ou um fracasso, o seu grupo de combate ?

08. Ao ver companheiro tombado, como se sentiu ?

09. Quantas vezes participou em acções  ofensivas ?

10. Foi alguma vez comandante? Porquê ?

11. Era fácil dirigir uma frente? Como compara,  em termos de armamentos,  a força inimiga ?

12. Sentiu-se alguma vez derrotado pelo inimigo e reconheceu essa derrota ?

13. Das batalhas  ou operações em que participou, qual delas foi a mais dificil ? E a mais fácil ? Porquê ?

13. Tem algum comandante ou combatente que admire ? Porquê ?

14. Sentiu-se alguma vez culpado pelas baixa sofridas entre os seus Camaradas ? Porquê ?

15. Sentiu-se alguma vez ameaçado ou foi castigado pelo seu comandante ? Porquê ?

15. Como era visto entre os seus Camaradas de armas ?

16. Como avalia a luta de libertação [, levada a cabo pelo PAIGC,], no seu ponto de vista ?

17. Chegou a pensar em ser ministro ou dirigente após independência da Guiné-Bissau ? Porquê? [Presume-se que seja uma pergunta a ser colocada aos antigos guerrilheiros do PAIGC]

18. O que gostaria de ver resolvido nas Forças Armadas [, presume-se, que sejam as da Guiné-Bissau] ? O que faltou (ou falta) ?

19. Sentiu-se arrependido por ter participado [, a favor ou contra, na luta pela independência? Porquê?

20. Mensagem aos outros combatentes. Falar da possivel viabilidade desta terra [, a Guiné-Bissau] ? (Alguns projectos)

21. Mensagem  aos militares ainda no activo [, em Portugal ou na Guiné-Bissau, conforme o entrevistado].

22. Abordar outros assuntos na sequência da conversa com o entrevistado.

[Revisão / adaptação / fixação de texto: L.G.]


3. Informação sobre a Rádio Sol Mansi, solicitada ao nosso amigo Pepito, director executivo da AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau:



Luís: Esta rádio está sedeada em Mansoa e começou por ser uma rádio comunitária [, foi fundada em 2000]. A Igreja Católica que sempre a apoiou decidiu transformá-la em radio nacional (cobre todo o país) e é ela que a controla. Têm o apoio da Radio Renascença. É uma rádio com muita audiência. Não conheço o Ampa Djaman.

abraço
pepito 



Segundo pesquisa feita no blogue da Rádio Sol Mansi, "actualmente [, Julho de 2007,] a Rádio Sol Mansi tem uma emissão diária de 12 horas. Com uma programação cada vez mais preocupada com os problemas sócio-políticos,  económicos e culturais que afectam o país.



"A nossa informação (formação) é pedagógica (educação, saúde, agricultura, direitos humanos,  programas para mulheres e as crianças,  educação para à Paz, o dialogo interreligioso, educação ambiental e ecologia, cultura tradicional…),  contanto cada vez mais reduzir a iliteracia, pois temos a noção dos efeitos de uma notícia.


"O funcionamento da Rádio é garantido por uma equipa de 12 funcionários e 17 voluntários, de diferentes etnias e religiões, que estão num processo de formação continua.


"Das pesquisas de audiometria feita por nós, em 2003, à Rádio Sol Mansi, é muito escutada nas zonas rurais, e em algumas cidades próximas de Mansoa. Conseguimos superar as emissões e audiências das estações de Bissau na nossa região e cada vez mais em Bissau somos identificados.


"A prioridade da Rádio Sol Mansi é de apoiar a actividade da Ecuménica e, de todas as confissões religiosas ou instituições ao serviço do Desenvolvimento e da Paz no nosso país". 

O Administrador da Rádio Sol Mansi é o  ARMANDO MUSSA SANI (foto acima, reproduzida com a devida vénia)





4. Comentário de L.G.:


Cada um de nós, antigos combatentes no TO da Guiné, tem a liberdade de contactar o Ampa Djamam e oferecer-se, eventualmente, para ser entrevistado, via Skype ou Messenger, para o referido programa,  Cultura e Alma do Povo, da Rádio Sol Mansi, com sede em Mansoa, região dio Oio. Daremos o apoio que nos for possível.

Ficamos, para já, com dúvidas sobre quem é o apresentador do programa, se é o Ampa Djamam ou o José Mango. De qualquer modo, é importante que as jovens gerações guineenses possam ouvir falar, em português, os antigos combatentes, portugueses, que estiveram na Guiné entre 1963 e 1974.


Cada entrevistado representar-se-á a si. As  declarações e opiniões emitidas por cada um dos eventuais entrevistados só responsabilizam os seus autores, e nunca o nosso blogue que, por ser colectivo e plural,  não tem (nem pode ter) resposta para as questões acima listadas no guião. Aconselhamos, no entanto, os nossos camaradas a passar ao papel as suas respostas, em bom português, de modo a tornar mais fácil, rigorosa, assertiva, segura e eficiente a comunicação com o entrevistador...  Alguns desses depoimentos poderão, inclusive, vir mais tarde a ser reproduzidos, por escrito, no nosso blogue (se houver consentimentos dos entrevistados e do responsável do programa).


Se as regras editorais do nosso blogue forem de algum utilidade para os nossos camaradas que vierem a ser entrevistados, aqui ficam, para os devidos efeitos:

"Neste espaço, de informação e de conhecimento, mas também de partilha e de convívio, decidimos pautar o nosso comportamento (bloguístico) de acordo com algumas regras ou valores, sobretudo de natureza ética: (i) respeito uns pelos outros, pelas vivências, valores, sentimentos, memórias e opiniões uns dos outros (hoje e ontem); (ii) manifestação serena mas franca dos nossos pontos de vista, mesmo quando discordamos, saudavelmente, uns dos outros (o mesmo é dizer: que evitaremos as picardias, as polémicas acaloradas, os insultos, a insinuação, a maledicência, a violência verbal, a difamação, os juízos de intenção, etc.); (iii) socialização/partilha da informação e do conhecimento sobre a história da guerra do Ultramar, guerra colonial ou luta de libertação (como cada um preferir); (iv) carinho e amizade pelo nossos dois povos, o povo guineense e o povo português (sem esquecer o povo cabo-verdiano!); (v) respeito pelo inimigo de ontem, o PAIGC, por um lado, e as Forças Armadas Portuguesas, por outro; (vi) recusa da responsabilidade colectiva (dos portugueses, dos guineenses, dos fulas, dos balantas, etc.), mas também recusa da tentação de julgar (e muito menos de criminalizar) os comportamentos dos combatentes, de um lado e de outro; (vii) não-intromissão, por parte dos portugueses, na vida política interna da actual República da Guiné-Bissau (um jovem país em construção), salvaguardando sempre o direito de opinião de cada um de nós, como seres livres e cidadãos (portugueses, europeus e do mundo) (e vice-versa); (viii) respeito acima de tudo pela verdade dos factos; (ix) liberdade de expressão (entre nós não há dogmas nem tabus); mas também direito ao bom nome; (x) respeito pela propriedade intelectual, pelos direitos de autor... mas também pela língua (portuguesa) que nos serve de traço de união, a todos nós, lusófonos".
_________________

Nota do editor:

Último poste da série > 22 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7981: (In)citações (31): Melhoria do porto fluvial de Cabedu, no extremo da península de Cubucaré, na margem direita do Rio Cacine (AD - Acção para o Desenvolvimento)

Guiné 63/74 - P7997: Parabéns a você (230): Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67) (Tertúlia / Editores)

PARABÉNS A VOCÊ

25 DE MARÇO DE 2011

RUI SILVA*

Caro camarada Rui Silva , a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia, desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
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Notas de CV:

- Rui Silva foi Fur Mil na CCAÇ 816 que esteve em Bissorã, Olossato, Mansoa nos anos de 1965/67

(*) Vd. poste de 5 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6044: Parabéns a você (90): Rui Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 816 (Os Editores)

Vd. último poste da série de 24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7991: Parabéns a você (229): Ibrahim Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Tertúlia / Editores)

quinta-feira, 24 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7996: Blogpoesia (132): A Minha Aldeia (Mário Fitas)


1. O nosso camarada Mário Fitas, ex-Fur Mil Op Esp/RANGER da CCAÇ 763, “Os Lassas”, Cufar, 1965/66, enviou-nos uma das suas poesias:

Camaradas,

Não sou poeta, mas de quando em vez sai alguma coisa.

Na poesia e alguns contos que tenho escrito, utilizo o pseudónimo de “Manel Piorna”. O Manel é alentejano e o Piorna deriva de alcunha muito antiga, dada à minha aldeia.

Um abraço.

A Minha Aldeia

Recordo-te!...
Nas desalinhadas calçadas
De pedra britada.
No Rossio terreiro
Ginásio da pequenada.

Contorno-te!...
Em cada Esquina
Pilar da tua memória.
Em cada largo
A pedra marco da história.

Descubro-te!...
Em cada casa
Orgulhosa de alva brancura.
Aldeia planície
Do coração saudosa procura.

Revejo-te!...
Aninhada, ao redor da Igreja
Em penitente oração.
Vila Fernando agora...
Voltando a Conceição.

Ouço-te!...
No anunciar da Natureza
Os diversos destinos.
Repicando em festa ou dobros saudade
Os teus sinos.

Suplico-te!...
Jardim de grisandras e chupa-méis
Horizonte sem serra.
Planície! Dá-me abrigo no teu ventre...
Amada terra!


Manel Piorna
__________
Nota de M.R.:

Vd. último poste desta série em:

24 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7995: Blogpoesia (131): Ai Guiné, Guiné (4) (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P7995: Blogpoesia (131): Ai Guiné, Guiné (4) (Albino Silva)









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Guiné > Zona leste > Sector L1 (Bambadinca, ao tempo do BART 2917, 1970/72) > Chão fula > Bajudas, meninos e mulheres grandes... Slides do Benjamim Durães (ex-Fur Mil Op Esp,  Pel Rec Inf, CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72)


Fotos: © Benjamim Durães (2010) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

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1. Quarto poste da série Ai Guiné, Guiné*, trabalho em verso do nosso camarada Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), enviado em mensagem do dia 21 de Março de 2011:


AI GUINÉ GUINÉ ( 4 )

Saudades da Mulher Grande,
das badjudas lavadeiras
e dos Chefes de Tabanca,
pescadores e pescadeiras...

As mulheres trabalhadeiras,
correndo para todo o lado
guardar galinhas e porcos
e tomar conta do gado...

Essas mulheres guineenses
suas tabancas zelavam,
iam à lenha para o lume
e a vianda cozinhavam...

Elas guardavam os filhos,
nas costas os transportavam,
puxando as mamas para trás,
assim de mamar elas davam...

O seu negrito contente
assim se sentia bem,
batendo com seu nariz
nas costas de sua mãe...

Mesmo pisando o arroz
e seu filho transportar,
esticava a mama para trás,
mesmo na bolanha a lavar...

Mas a mulher guineense,
alguma mesmo cansada.
fazia ainda horas extras
e de simples tudo nos dava...

Africanos da Guiné,
alguns que de nós gostavam,
em troca de um Peso novo
com nosso peso levavam...

Adeus, Guiné, eu lá disse
há muitos anos atrás,
as saudades que hoje guardo
do meu tempo de rapaz...

Eu gosto de falar de ti,
desse tempo e idade,
onde deixei na Guiné
parte da minha mocidade...

E como te sou sincero,
estou em ti a pensar
e sem te esquecer jamais
sempre te irei recordar...

Muita gente conheci,
por essa gente ainda sinto
Saudades te ti, Guiné,
Canchungo - Teixeira Pinto...

Guineenses que curei
com mesinho e não só,
Tabancas que visitei
lá para os lados de Caió...

Tantos mesinhos vos dei,
pois o destino assim quis,
das feridas que vos curei
hoje eu me sinto feliz...

Pois todo este passado
eu nunca o esquecerei,
Teixeira Pinto é saudade,
porque lá jamais voltei...

Meus amigos da Guiné,
Fonseca, Pandim e Mané,
Aliu, Cufá e Viriato,
Mamadu D’jaló e Baldé...

Na Guiné, o teu comércio,
tudo o que a malta comprava,
Teixeira Pinto ou Bissau,
lá havia a Casa Escada...

Rádios e gravadores,
Gira-discos sem comando,
Carpetes, muitos tapetes,  
tudo era em contrabando...

(continua)

[Revisão / fixação de texto: Editor]
____________

Nota de CV:

Vd. último poste da série de 23 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7988: Blogpoesia (130): Ai Guiné, Guiné (3) (Albino Silva)

Guiné 63/74 - P7994: Contraponto (Alberto Branquinho) (25): Memórias

1. Mensagem do nosso camarada Alberto Branquinho (ex-Alf Mil de Op Esp da CART 1689, , Catió, Cabedu, Gandembel e Canquelifá, 1967/69), com data de 22 de Março de 2011:

Caríssimo Carlos Vinhal
Junto vai o texto para o CONTRAPONTO (25), intitulado "Memórias".

Com um abraço do
Alberto Branquinho


CONTRAPONTO (25)

MEMÓRIAS

«Paro na “Vela Latina” e tomo um café... e um pastel de nata» - pensou.
Arrumou o carro. Aliviou o nó da gravata. Hesitou entre deixar a pasta no carro ou levar a pasta.
Colocou a pasta no porta-bagagens e, com o casaco sobre os ombros, encaminhou-se para a cafetaria, evitando os pequenos grupos de turistas, que, calmamente, sob o sol de Julho, aguardavam as indicações dos guias.

Sentou-se na esplanada, saboreou demoradamente o pastel de nata, observando os pardais que, assustadiços, debicavam gulosamente, os restos em cima de uma mesa, que acabava de ser abandonada.
Porque tinha, ainda, muito tempo. dirigia-se lentamente para o carro, quando lhe surgiu a ideia de ir ao Monumento aos Combatentes do Ultramar, ali perto, junto à Torre de Belém, para verificar se constava o nome de um soldado africano que pertencera à sua Companhia. Alguém lhe tinha telefonado, pedindo para fazer essa verificação. Parou e ficou a tentar recordar o nome completo. Não conseguia. Verificando as listagens dos anos de 1967, 1968 e l969, se constasse, iria recordar-se.

À medida que caminhava para o Monumento, deu consigo a dizer baixinho: « Mamadu..., Mamadu..., Mamadu... ». O resto do nome não saltava à memória. «Vou ver ano a ano todos os Mamadus e, se lá estiver, lembro-me concerteza».

Chegou. Estava nesse momento a decorrer o render das duas sentinelas permanentes ao Monumento. Por respeito pelos mortos vestiu o casaco e compôs a gravata. Seguiu olhando sobre a esquerda, até que deparou com o ano de 1967. Procurou a letra M. Leu a lista dos MM. Não estava ali. Procurava já o ano de 1968, quando, atrás de si, uma voz o interpelou:

- Você está à procura de nome de alguém ?

Voltou-se. Era um homem alto, com cerca de sessenta anos, que trazia pela mão uma garota de quatro ou cinco anos.

- Sim.

- E em que ano morreu ?

- Ora essa é que é a dificuldade. Ou em 67, que já vi e não está. Ou em 68 ou 69.

- E você estava lá ?

- Sim.

- Três anos ? Não pode ser. Só se você foi voluntário.

- Não. Foi do fim de 67 até princípios de 69.

- Ah ! E qual era o nome ?

- Esse é outro problema. Não me lembro do nome todo. Mamadu qualquer-coisa. Mas se o vir, lembro-me.

- Então você também esteve na Guiné ?

- Sim.

- Eu estive lá em 70 / 71. Nos páras. Mesmo agora, às vezes, ainda salto. Então você o que era? Furriel?

- Não. Alferes.

- Eh pá, o meu alferes morreu com uma rajada no peito. E eu quando o vi naquele estado, saltei para cima dele, quer dizer, com um pé de cada lado, a disparar, a disparar para a mata. Então, comecei aos berros:

- Cabrões, cabrões (era para a minha malta ), dêem aqui uma ajuda.

Vieram tês ou quatro, a rastejar, porque o fogo era muito forte e protegeram-no com o corpo. E vai nisto, vejo a ramagem do poilão a mexer, a mexer, dei um salto para trás, agachei-me e comecei a disparar de rajada. Caíu de lá um cabrão de um turra, que, quando caíu no chão, parecia que tinha molas. Levantou-se logo e desapareceu, aos zigue-zagues, no capim. Foi o cabrão que disparou lá de cima e...

- Oh homem, oiça. Todos nós tivemos as nossas guerras, todos nós tivemos as nossas histórias. Tenha calma. – disse o ex-alferes para o homem, que falava descontroladamente, com duas bolas de saliva nos cantos da boca. Ajoelhava-se, deitava-se, fazendo menção de estar a disparar e, esbracejando, berrando em várias direcções.

A garota, que o acompanhava, chorava, sentada e encostada ao muro do Monumento. Deixou cair o chapéu e foi aninhar-se nos degraus da escada de acesso a uma porta que está, mais ou menos, no centro do Monumento, chorando mais e mais.

- E vai o alferes, já a falar muito baixinho, diz-me assim:

- Vocês deixem-me e sigam… Saiam daqui. E eu disse-lhe:

- Não senhor, se formos daqui, vamos todos. Eu ainda não tinha dito isto e vai um dos meus camaradas, que estavam ali ao pé, esticou-se ao comprido, ficou de costas, que até parecia um saco de batatas, com a cabeça aberta e os miolos espalhados no chão. Os cabrões rebentaram-lhe com a caixa dos pirolitos. E vai, eu arrastei o meu alferes para uma vala que havia ali, assim de rastos e ainda lhe falei ao ouvido para lhe dar alma, mas já estava sem pinga de sangue. Foi-se. Você alguma vez...

- Oh homem, tenha calma. Olhe a a sua neta - neta, não é? – que está ali a chorar, coitadinha.

O ex-paraquedista olhou na direcção da garota sem manifestar qualquer peocupação e tentava continuar a ser ouvido, espumando da boca e com os braços hirtos e esticados para a frente, como que empunhando uma arma.

- Mas você já viu...

- Oh homem, todos nós tivemos as nossas histórias que nos marcaram...

- Mas você que...

O ex-alferes deixou-o a falar só e aproximou-se da criança, que continuava a chorar, sentada num dos degraus, tapando o rosto com as mãos. Pôs-se de cócoras e tentou tocar-lhe. Ela, chorando sempre, berrou:

- Não!

O ex-paraquedista aproximou-se, de lenço aberto nas mãos, tomou-a ao colo, limpando-lhe as lágrimas. O ex-alferes apanhou o chapéu e pô-lo na cabeça da garota. Então encaminhou-se para a listagem dos mortos do ano de 1968, mas, perturbado, não encontrava os nomes com M. Respirou fundo, olhou sobre a direita e procurou de novo:

- Mamadu... Mamadu... ». Lá estava.

O homem aproximava-se, com a neta ao colo, que berrava:

- Quero ir para casa. Vamos embora.

- Está bem, Tânia, vamos já. Você já encontrou o nome ?

- Sim, está aqui.

E colocou um dedo em cima.

- Olhe, o meu alferes está aqui... 1971... 1971... É este. Não o conhecia ?

- Não. Era miliciano ?

- Não sei.

- Era difícil eu conhecê-lo. Devia ser mais novo uns três anos.

- Já viu como o número de mortos aumentou em 71, 72 e 73 ?

A criança berrava desesperada:

- Vamos embora! Vamos!

- É verdade. Nunca tinha notado isso.

- Eu gostava de falar consigo sobre isso do meu alferes, do falecido e outras coisas.

- Pois. Todos nós passámos os nossos maus bocados, mas eu, agora, tenho que ir. Tenho que fazer.

Estendeu-lhe a mão. O outro demorou largos segundos a consumar o cumprimento de despedida.

- Adeus, Tânia.

Tentou passar-lhe com a mão na cabeça, mas a garota, chorosa, evitou-o.

Foto © Hugo Moura Ferreira (2007). Direitos reservados.

************

Cerca de quinze anos mais tarde, um casal de namorados passeava em frente à Torre de Belém, quando o rapaz olhou na direcção do Monumento aos Combatentes do Ultramar, que o sol de Primavera iluminava, fazendo brilhar o mármore.

- Olha. O que é aquilo ? Vamos lá ver.

- Não.

- Porquê ?

- Não. Se queres, vai tu. Eu não vou.

- Está bem. Mas porque é que não queres vir, Tânia ?

- Eu já conheço. Fui lá muitas vezes com o meu avô.
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 2 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7886: Contraponto (Alberto Branquinho) (24): Fronteira portuguesa? Ainda?

Guiné 63/74 - P7993: 16 de Março de 2011, lançamento do novo livro de Beja Santos, Mulher Grande (Temas & Debates / Círculo de Leitores, 2011) (2): Vídeo com excerto da apresentação feita pela escritora Lídia Jorge



 Lisboa > Livraria Bertrand Chiado > 10 de Março de 2011 > 18h30 > Sessão de lançamento do novo livro do nosso camarada e amigo Mário Beja Santos, Mulher Grande, editado pela Temas & Debates e pelo Círculo de Leitores (2011).  


A apresentação esteve a cargo da escritora Lídia Jorge, de que apresentamos aqui um longo excerto.  Tinha à sua direita o autor e à sua esquerda a Guilhermina Gomes, representante  da editora. Sobre Lídia Jorge pode ler-se o seguinte no seu sítio:


"Nasceu no Algarve, passou alguns anos decisivos em Angola e Moçambique, formou-se em Filologia Românica na Universidade de Lisboa, deu aulas, escreveu quinze livros editados em várias línguas, entre eles, romances, antologias de contos, uma peça de teatro.
"Contrato Sentimental, apresentado no dia 4 de Setembro no Teatro Aberto, é o seu mais recente lançamento.Combateremos a Sombra, o seu romance apresentado em Março de 2007 na Casa Fernando Pessoa, esteve na origem do Grande Prémio da Sociedade Portuguesa de Autores/Millenium BCP, que lhe foi entregue no dia 25 de Novembro de 2007."



Vídeo (10' 54''): Alojado em You Tube < Nhabijoes  

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Nota do editor:





©  Luís Graça (2011) / Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné. Todos os direitos reservados

Guiné 63/74 - P7992: Tabanca Grande (272): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Enfermeiro da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72

1. Mensagem do nosso camarada José Martins Rodrigues (ex-1.º Cabo Enfermeiro da CART 2716/BART 2917, Xitole, 1970/72), com data de 22 de Março de 2011:

Caro Amigo Carlos Vinhal
Conforme conversa que mantivemos há dias, e cumprindo um desejo que tardava em concretizar, aqui te envio em anexo uma foto minha, tirada no espaço territorial do Xitole em 1970/72 para que assim possas integrar-me na grande família do Blogue de Luís Graça e Camaradas da Guiné.

Aproveito para confirmar a minha autorização para a utilização que consideres adequada, das crónicas “Conversas à Mesa com Camaradas Ausentes” que entretanto publiquei no blogue da Tabanca Pequena de Matosinhos, bem como das que estou a escrever nesta data com o titulo “Crónicas das Minhas Viagens à Guiné – A Primeira Viagem – 1998”.

Aproveito ainda para salvaguardar o facto dos meus escritos serem baseados nos registos que guardo na memória, pelo que, qualquer falha que porventura possa existir advém desse facto e, não representar qualquer intenção de deturpação dos factos que pretendi registar.

Aceita um Cordial Abraço de Amizade
José Martins Rodrigues
1º Cabo Enf da CART 2716
XITOLE - 1970/72

Xitole > 1.º Cabo Enfermeiro José Martins Rodrigues


2. Comentário de CV:

Caro amigo Zé Rodrigues
Quem nos nossos 11/12 anos havia de dizer que a guerra do ultramar havia de propiciar que nos nossos 63 anos estivéssemos a ter esta conversa.

Alguns acontecimentos cruzaram as nossas vidas, desde sermos da mesma turma no Ciclo Preparatório na Escola Industrial e Comercial de Matosinhos, pelo facto de casarmos com duas vizinhas e amigas de infância, sermos contemporâneos na Guiné, até ao extremo de teres salvo a vida a um camarada que esteve comigo no Curso de Sargentos Milicianos de Vendas Novas.

A velha amizade mantém-se, e a Guiné ainda mais nos aproximou, assim como a outros companheiros de Escola que como nós calcorrearam aquela terra avermelhada não só pela natureza, mas também pelo sangue de muitos dos nossos camaradas e amigos de sempre. Estou a lembrar-me, assim de repente, do nosso colega Avelino Tavares, que ao serviço da Força Aérea Portuguesa, tombou na Guiné em 1971.

Cabe a nós tudo fazer para que os seus nomes jamais sejam esquecidos. No próximo dia 9 de Abril será prestada homenagem aos nossos conterrâneos caídos nos três Teatros de Operações, mas só desarmaremos quando houver reconhecimento público do esforço de todos os matosinhenses, mortos e vivos naquela maldita guerra.

Quanto a ti, Zé, não te vais baldar só porque vou ao Blogue da Tabanca de Matosinhos buscar os teus textos para publicar aqui. Tens que nos apresentar as tuas histórias e fotos, e sei que tens muitas, não só do teu tempo de Cabo Enfermeiro, mas das tuas recentes idas à Guiné, acompanhado quase sempre pela tua esposa Luísa, já tão "apanhada" quanto tu.

Recebe por meu intermédio um abraço de boas-vindas da Tertúlia e Editores, e a certeza de que a partir de hoje fazes parte desta grande família do Blogue Luís Graça e Camaradas da Guiné, onde os nossos amigos Amaro Samúdio, António Maria e José Albino há muito contam.
Também te esperamos em Monte Real, como me deste a entender.

Para ti, um abraço meu do tamanho de Matosinhos.
Carlos Vinhal
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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 20 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7969: Tabanca Grande (271): Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux de Enfermagem (CCAV 3366/BCAV 3846, Suzana e Varela, 1971/73)

Guiné 63/74 - P7991: Parabéns a você (229): Ibrahim Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Tertúlia / Editores)


PARABÉNS A VOCÊ

24 DE MARÇO DE 2011

Braima Djaura*

Caro camarada Ibrahim a Tabanca Grande solidariza-se contigo nesta data festiva.

Assim, vêm os Editores, em nome de toda a Tertúlia,  desejar-te um feliz dia de aniversário junto dos teus familiares e amigos.

Que esta data se festeje por muitos anos, repletos de saúde, tendo sempre por perto aqueles que amas e prezas.

Na hora do brinde não esqueças os teus camaradas e amigos do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, que irão erguer também uma taça pela tua saúde e longevidade.
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 24 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6040: Parabéns a você (89): Ibrahim Djaura, ex-Soldado Condutor Auto da CCAÇ 19 (Os Editores)

Vd. último poste da série de 17 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7954: Parabéns a você (228): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil Trms da CCS/BART 2917, Bambadinca, 1970/72 (Tertúlia / Editores)

Guiné 63/74 - P7990: Convívios (302): Encontro do pessoal da CCS e da CCAÇ 2366/BCAÇ 2845, dias 21 e 28 de Maio de 2010 na Mealhada (Albino Silva)

1. Mensagem nosso camarada Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), com data de 22 de Março de 2011:

Carlos Vinhal
Como mais um ano me toca a mim organizar estes convívios, seja o Convívio da CCS, ARMADOS PARA A PAZ, que é no dia 7 de Maio na Quinta dos Três Pinheiros na Mealhada com o programa aqui anexo, e ainda o Convívio da CCaç 2367 - VAMPIROS, que é no dia 21 de Maio também no mesmo local conforme o programa também aqui anexado.

Também no mesmo local e no dia 28 de Maio vai ser lá realizado o Convivio da CCaç 2366, PERIQUITO ATREVIDO, já confirmado, mas com outra Organização.

Agradeço pois que toda a Tabanca saiba, já que há muitos camaradas em especial no estrangeiro, que procuram na nossa Tabanca estes encontros.

Por tudo isto e pelo trabalho que tenho dado nestes dias, o meu muito obrigado.

Um Abraço,
Albino Silva

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Nota de CV:

Vd. último poste da série de 19 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7966: Convívios (217): 14º ENCONTRO-CONVÍVIO da CART 2715/BART 2917, no dia 28 de Maio, em Cacia (Benjamim Durães)

Guiné 63/74 - P7989: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (86): Fazer um filho, plantar uma árvore e escrever um livro...

1. Mensagem de Fernando Gouveia (ex-Alf Mil Rec e Inf, Bafatá, 1968/70), com data de 22 de Março de 2011:

Carlos:
No rescaldo da publicação de NA KONTRA KA KONTRA gostaria que, inserido no tema "A Guerra Vista de Bafata", fosse publicado o agradecimento que se segue, bem como a capa do livro em causa.

Um abraço
Fernando Gouveia


Fazer um filho, plantar uma árvore e escrever um livro…

Finda a publicação de NA KONTRA KA KONTRA*, estória que escrevi debaixo da adrenalina acumulada durante a minha visita à Guiné-Bissau, em Março de 2010, cumpre-me agradecer a todos os camaradas que ao longo da postagem dos episódios, por comentários ou outras formas, me apoiaram e me incentivaram a continuar.

Tendo ao longo destes dois anos, escrito para o blogue várias estórias sobre a minha vivência na Guiné, de 1968 a 1970, podem crer que até tornar a ir lá, faz agora um ano, nunca me tinha passado pela cabeça escrever algo que pudesse vir a dar um livro. Penso fazê-lo. Não me considero escritor e esse será provavelmente o meu primeiro e último livro.

Foram as diversas pessoas que, através dos referidos comentários, me “convenceram” a levar para a frente a publicação em livro. Só lamento não estar nas minhas mãos a questão do filme ou telenovela, como também muitos amigos sugerem.

Fazendo fé em tudo aquilo que o título supra encerra, tendo dois filhos, tendo plantado umas quantas árvores, só me faltava publicar um livro.

É o que espero, venha a acontecer.

Como já há projecto da respectiva capa, ele aí vai:


Um abraço a todos.
Fernando Gouveia
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Nota de CV.

(*) Vd. poste de 17 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7956: A guerra vista de Bafatá (Fernando Gouveia) (85): Na Kontra Ka Kontra: 49.º e último episódio

quarta-feira, 23 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7988: Blogpoesia (130): Ai Guiné, Guiné (3) (Albino Silva)

1. Terceiro poste da série Ai Guiné, Guiné*, trabalho em verso do nosso camarada Albino Silva (ex-Soldado Maqueiro da CCS/BCAÇ 2845, Teixeira Pinto, 1968/70), enviado em mensagem do dia 21 de Março de 2011:


AI GUINÉ GUINÉ ( 3 )

Ó Guiné gosto de ti
e quando aí eu estava,
para saber tanto de ti
aos Guineenses perguntava...

Eu assim ia sabendo
tudo aquilo que queria,
Guineenses me contavam
e aos poucos eu já sabia...

Ó Guiné, eu sou sincero
no que digo, não me engano,
antes de ir para a Guiné
eu tinha sido Africano...

Por isso gosto de ti ,
sem exagero ou mania,
o lidar com Africanos
isso eu já bem conhecia...

Mesmo em guerra, ó Guiné,
bem cedo me apercebi
que ao pisar o teu solo
iria de gostar de ti ...

Desde logo comecei
a lidar com essas massas,
na Guiné aonde havia
muitas e muitas raças...

Então em Teixeira Pinto
era onde me encontrava,
naquele solo Manjaco
mas que na verdade gostava...

Manjacos e Fulacundas,
Futa Fulas também é
das Raças que lá havia
nessas terras da Guiné...

Eu também conheci Fulas,
Mandingas e muito mais,
na Guiné eram diferentes
mas para nós eram iguais...

S. Domingos junto à fronteira,
já perto do Senegal, sim,
o Cacheu não era longe,
mais longe era Farim...

O Bachil e Bassarel
sem ser longe do Cacheu,
Jolmete, Pelundo, Caió,
em Teixeira Pinto estava eu...

De Teixeira Pinto ao Cacheu,
Ó Guiné, metia dó,
de tanta porrada que havia 
entre o Pelundo e Có...

E lá em Teixeira Pinto
onde muito ouvia falar
do Guilege e Gandembel,
com tanta tropa a lutar...

Pois toda a terra tremia,
quase por toda a Guiné,
Bafatá, Nova Lamego 
e Madina do Boé...

Mas nem tudo era mau,
apesar daquela terra,
no tempo que estive lá
ser só tempo de Guerra...

A malta se habituou
e com o tempo a passar,
Portugal e a Guiné
lado a lado a lutar...

Tantas lanchas lá havia
nesses rios entre matas,
barcos e tantas canoas
como também as fragatas...

Nesse tempo sem ter paz,
Ó Guiné , é bem verdade,
com tantos anos passados
hoje até temos saudades...

(Continua)
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 22 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7982: Blogpoesia (128): Ai Guiné, Guiné (2) (Albino Silva)

Vd. último poste da série de 22 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7983: Blogpoesia (129): O Futuro em construção (José Teixeira)

Guiné 63/74 - P7987: Ser solidário (104): A ONGD Ajuda Amiga manda contentor de 40 pés para Bissau, incluindo 25 mil livros (Carlos Silva)




O Contentor  2011, da Ajuda Amiga, que seguiu para a Guiné em 2 de Fevereiro passado.

1. Segundo informação constante da página do nosso camarigo Carlos Silva [, foto à esquerda], a Ajuda Amiga enviou no mês passado,  de através da Portline, o seu contentor com ajuda humanitária e de apoio ao desenvolvimento, no navio HISPANIA VG 1107, o qual partiu de Setúbal para Bissau justamente a 2 de Fevereiro. O contentor, de 40’ HC, tinha o número GLDU 715147/9 e ia consignado à Embaixada de Portugal na Guiné-Bissau.

O contentor levou o tipo de bens que é habitual a Ajuda Amiga recolher durante o ano: livros, roupas, calçado, brinquedos, etc. "Temos procurado intensificar todos os anos o nosso apoio ao ensino e à cultura, assim em 2009 enviamos 10.000 livros, em 2010, 20.000 e em 2011 serão 25.000 livros", diz o Carlos Silva, que este ano não se deslocou à Guiné-Bissau.

 O mail que dele recebemos, ontem, diz o seguinte:

"Luís e Carlos: Eu [desta vez] não fui à Guiné. (...) O Pepito ficou com pena, mas enfim... Da nossa malta conhecida, foi o Fortunato. Eles partiram Domingo. Hoje descarregaram o contentor de 40 pés e o maior beneficiado foi o Pepito.
Estive a falar com o Fortunato [, foto à direita,], de manhã, pois estavam a carregar o camião dos donativos com destino ao meu Sector,  Farim.

"Não há [informação sobre esta operação] no Site da Ajuda Amiga, apenas há no meu Site quanto ao carregamento do contentor no dia 26/1 e que partiu a 2/2. Sobre a distribuição, apenas haverá material quando eles regressarem. Nessa altura lançarei o trabalho e faço um pequeno artigo para o Blogue. (...)

"Já agora aproveito. Marquem 2 lugares para Monte Real - Carlos Silva e Germana Silva, Massamá. Há dias enviaste um mail, pedindo boleia para o nosso amigo Estácio. Eu não me ofereci, porque vou de véspera e passo o fim de semana na minha casa de campo em Alcaria,  Porto de Mós.

"Recebam um abraço, Carlos Silva"

2. Declaração de IRS solidária

No seu site, o Carlos Silva, dirigente da Ajuda Amiga convida-nos para, a partir de 2011, passarmos a "fazer uma declaração de IRS solidária, que irá ajudar os mais desfavorecidos e não tem quaisquer custos para quem a faz, mas que permitirá à Ajuda Amiga, a consignação de 0,5% do IRS que liquidar(mos)"... 

Assim na declaração de IRS, no modelo 3, anexo H, campo 9 (campo reservado à consignação fiscal), basta indicar o NIPC 508 617 910, e marcar um “X” assinalando que se trata de uma Pessoa Colectiva de Utilidade Pública



9
Consignação de 0,5% do Imposto (Lei nº 16/2001, de 22 de Junho)
Entidades Beneficiárias do IRS Consignado
NIPC

Instituições Religiosas – (art. 32, nº 4)
901

 508 617 910
X
Instituições Particulares de Solidariedade Social ou Pessoas Colectivas de Utilidade Pública (art. 32, nº 6)

____________

Nota do editor:

Último poste da série > 23 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7985: Ser solidário (103): Assembleia-Geral Ordinária da Associação “Tabanca Pequena" (Matosinhos), em 2 de Abril de 2011, na Maia, antecedida de almoço de solidariedade

Guiné 63/74 - P7986: Memórias do Chico, menino e moço (Cherno Baldé) (24): Versos da juventude (Kiev, 1987/90; Bissau, 1990) (Cherno Baldé)


1. Mensagem do nosso amigo Cherno Baldé [, foto à esquerda, em Kiev, Ucrânia, quando jovem estudante], com data de 21 do corrente, enviada já ao fim do dia:

Estimado amigo e irmão Luís Graça: Hoje ao entrar no blogue da Tabanca Grande, deparei-me com o vosso convite por ocasião do Dia Mundial da Poesia e nesse âmbito aproveito enviar alguns versos da minha juventude que espero ainda tenham algum sentido poético e possam interessar para publicação.

Com um grande abraço de saudação para si e aos demais editores da TG.


2. Versos de juventude (1987/1990), de Cherno Baldé 




Pensar

Acontece-me pensar…Pensar…pensar…
Como aos poetas, sonhar.

No denso sepulcro da memória,
No despertar inadiável da vida,
O caminho ainda longo.
Acontece-me querer voltar ao passado longínquo da origem.


Sempre presente em silêncio.
No passo das minhas pegadas, mal varridas pela erosão do tempo,
Medir a força das lianas, razões de tropeço na caminhada.

Acontece-me pensar, acontece-me querer voltar 
Aos tempos primeiros da infância,
A altura daquelas montanhas agrestes, sulcadas pela corrente de suor, 
Do meu corpo na luta,
Uma vista de olhos passar a Baobab que eterniza a tabanca,
Berço dos meus sonhos, 
Sentir no corpo e na alma a brisa que embalou a infância, 
A voz da floresta em pranto e o gosto amargo das raízes violadas.

Lá, mais para oeste …
De El-miná ou Ouida,
De Badagry ou N´goré.
O caminho do mar,
Em ondas lacrimosas da viagem sem regresso.

(Kiev, Dezembro de 1987)
_________________________


Quando puder julgar 
A mente que não soube amar
Na certeza divina da origem genuína,
Quando puder julgar o passo desmedido do intruso
Destruindo sonhos alheios ainda agora nascidos.
 
Quando puder julgar o brilho feroz d´espada,
A tirania herdada e todo o sucesso da obediência forçada.

Enquanto puder lembrar-me do caminho percorrido,
O vento eterno, parte do destino ainda não esquecido.

Enquanto é tempo para as lágrimas soltas no santuário profano
Que criou o mito da verdade eterna,
Enquanto é tempo para isolar,
Enquanto é tempo para (re) criar 
O vírus da loucura, sentença suprema do espírito rebelde.

Enquanto houver sangue no corpo ainda escravo,
Enquanto houver razão, o olhar preso no horizonte,
Enquanto houver luz… 
Enquanto houver luz… 

(Bissau, Dezembro de 1990)
_________________________

SERÁ QUE BASTA?

Será que basta …? 
Ser homem…? 
O harém pedindo presença, 
A liberdade do poiso perverso, 
Basta o corpo e as formas 
Ao sabor do tempo irreal? 
Basta o preceito do olhar ausente 
Pedindo prazer para não sofrer? 
Basta…? 
O espaço mítico criado 
Para preencher o vazio ideal? 
Será que basta…? 
Será que basta…? 

(Kiev-1989) 
________________

OBSERVADOR 


Observador, 
Espectador, 
Nos parques,
O mundo a renascer 
Em cada primavera.

Nas ruelas, 
Em compassos lentos 
Dos pares e dos sonhos floridos.

E tu desvairado, aonde vais? Ao “magazin" (1)? 
Não! Eu vou para Magadan (2), 
Ainda antes do Buran (3), 
Antes do voo e das vozes do mundo, 
Que estão por nascer. 

(Kiev, Abril de 1990) 
___________________

Notas do autor: 

1- Magazin – Loja, mercearia de produtos de primeira necessidade 
2- Magadan – Localidade Russa situada algures na Sibéria oriental 
3- Buran – Vaivém Espacial Soviético inaugurado em finais da década de 80 

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Nota do editor:

Guiné 63/74 - P7985: Ser solidário (103): Assembleia-Geral Ordinária da Associação “Tabanca Pequena" (Matosinhos), em 2 de Abril de 2011, na Maia, antecedida de almoço de solidariedade


1. Recebemos da tertúlia da Tabanca Pequena, com sede em Matosinhos, o seguinte pedido de divulgação da sua próxima Assembleia-Geral:


ASSEMBLEIA-GERAL ORDINÁRIA
da
Associação “TABANCA PEQUENA-GRUPO DE AMIGOS DA GUINÉ-BISSAU - Apoio e Cooperação ao Desenvolvimento Africano”

CONVOCATÓRIANos termos do artigo 22º dos Estatutos, convoco a ASSEMBLEIA-GERAL ORDINÁRIA prevista no artº 21º, nº 2 – 1º parte – dos mesmos Estatutos, que terá lugar no dia 02 de Abril de 2011, sábado, no Salão anexo ao “Bar/Restaurante do Jardim Zoológico da Maia”, sito na Rua Padre José Pinheiro Duarte, nº 161, na Maia, (ao lado da Junta de Freguesia da Maia - Rua da Igreja), pelas 15,00 horas, com a seguinte:


ORDEM DE TRABALHOS:
Ponto Um – Informações do Conselho de Administração;
Ponto Dois – Apreciação e votação do Relatório e Contas do Conselho de Administração, e do Parecer do Conselho Fiscal referentes ao ano de 2010;
Ponto Três – Assuntos Diversos.


A Assembleia-Geral reunirá á hora marcada estando presente a maioria dos sócios, e meia hora depois, com qualquer número.


OBS:
1. O Voto por procuração é exercido através de carta/credencial dirigida ao Presidente da Mesa, em que seja identificado o sócio seu representante, podendo ser-lhe enviada como de um email para a “caixa de correio electrónico” da Associação: tabancapequena@gmail.com ou para a “caixa” pessoal moutinhosantos@net.novis.pt
2. Os Estatutos da associação estão transcritos no blogue da associação: http://www.tabancapequenadematosinhos.blogspot.com/ (Post 267).

Leça do Balio e sede da Associação, 11 de Março de 2011

O Presidente da Mesa da Assembleia-Geral
(Eduardo Moutinho Santos)

Fonte: Tabanca de Matosinhos e Camaradas da Guiné (com a devida vénia...)
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Nota de M.R.:

terça-feira, 22 de março de 2011

Guiné 63/74 - P7984: Memórias de Mansabá (22): A construção da estrada Cutia-Mansabá e a defesa dos seus pontões (José Barros)

1. Mensagem de José Ferreira de Barros* (ex-Fur Mil At Cav, CCav 1617/BCav 1897, Mansoa, Mansabá e Olossato, 1966/68), com data de 18 de Março de 2011:

Caro camarada e amigo Carlos Vinhal:
Obrigado pela rectificação do nome da zona do pontão.

Junto uma fotografia de um dos pontões rebentado pelo IN. A esta distância já não consigo dizer se era o de Mamboncó ou algum dos anteriores.
Durante muito tempo foi o pão nosso de cada dia. Nós construíamos, eles destruíam, era o jogo do rato e do gato.

Já depois da estrada toda construída até Mansabá, o rebentamento do pontão de Mamboncó era frequente.

Ouve necessidade de ter naquela zona uma actividade operacional muito grande, sobre tudo emboscadas. Eram feitas por um Grupo de Combate que era rendido de oito em oito horas, durante muitas semanas. Foi um período muito desgastante para a nossa gente. Nesta actividade nunca tivemos feridos, mas houve muita “pólvora”.

Junto ainda duas fotografias da entrada de Mansabá que farás com elas e com a do pontão aquilo que bem entenderes.

Obrigado pela foto do memorial do meu Batalhão. Penso que foi construído na traseira do edifício do Comando.

Já agora, não te querendo maçar, gostaria de saber se a história do menino JM contada por um camarada que andou por aquelas andanças nos anos 65/67, não esteve em Mansabá com a CCav 1617 e por conseguinte com o BCav 1897.

Um grande abraço de amizade para ti e para todos os camaradas.
J.Barros


Um dos vários pontões existentes ao longo da estrada Cutia-Mansabá.

Tanto quanto me lembro, uma vez que não foi enviada legenda para esta foto, a casa que se vê à esquerda era o estabelecimento da Casa Gouveia que tinha como gerente um cabo-verdiano que nos deixava nervosos sempre apanhava boleia nas nossas colunas para se afastar de Mansabá. Dá para perceber. Lá ao fundo na confluência da estrada para Farim, ficava o abrigo do Castelo.
Fotos © José Barros (2011). Direitos reservados  de José Barros
Legendas de CV

Localização do Memorial do BCAV 1897, localizado junto ao Refeitório dos Praças que no tempo desta Unidade talvez ainda não tivesse sido construído.
Foto © César Dias (2011). Direitos reservados.
Legenda de Carlos Vinhal
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 21 de Março de 2011 > Guiné 63/74 – P7974: Blogpoesia (121): Canção ao Lavrador Desconhecido, de António Cabral (José Barros)

Vd. último poste da série de 18 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7811: Memórias de Mansabá (10): Fotos da bolanha de Mansabá, a nossa praia (Ernesto Duarte)

Guiné 63/74 - P7983: Blogpoesia (129): O Futuro em construção (José Teixeira)

1. Mensagem de José Teixeira* (ex-1.º Cabo Enf.º da CCAÇ 2381, Buba, Quebo, Mampatá e Empada, 1968/70), com data de 22 de Março de 2011:


O Futuro em construção

Homem do mundo de hoje.
Geração rasca do ontem que já passou,
E de novo nada deixou.
Que procuras, quantas vezes, o saber,
No álcool, na droga.
No espaço,"vazio", dum café.
O prazer, pelo prazer, para sobreviver,
E não o SER para VIVER
A  Esperança, base da Fé.
Põe a mão, na mão do jovem em criação,
Para que sinta, o calor, a confiança, a calma.
Aprende com ele, a construir.
O SER.
Uma alma nova.
Para o Mundo que há-de vir.
Bebe as suas ideias.
Alimenta o seu cantar. O sorrir.
Dá força.
Alimenta suas veias,
Para que vá onde quer ir.
Fá-lo sentir que já é gente.
A fim de que tente...
...tente.
Sê o irmão mais velho, e não,
O “pai” carrancudo, cansado, velho, mudo.
De resposta seca. Vazia.
Contradição.
Para ti, ele tem de ser tudo,
Porque ele é o futuro em construção.

Zé Teixeira
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Notas de CV:

(*) Vd. poste de 14 de Fevereiro de 2011 > Guiné 63/74 - P7783: Ser solidário (102): Sementes e água potável - Um projecto inovador (José Teixeira)

Vd. último poste da série de 22 de Março de 2011 > Guiné 63/74 - P7982: Blogpoesia (128): Ai Guiné, Guiné (2) (Albino Silva)