sexta-feira, 12 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11833: Convívios (521): Factos e imagens do XXIII Encontro da CART 3494 – 2008 (Jorge Araújo / Sousa de Castro)



1. O nosso camarada Sousa de Castro (ex-1.º Cabo Radiotelegrafista, CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, 1971/74), enviou-nos uma interessante reportagem da autoria do nosso camarada Jorge Araújo (ex-Fur Mil Op Esp/Ranger da mesma unidade militar), sobre o seu 33º convívio: 

Factos e imagens do XXIII Encontro da CART 3494 (2008)



Camaradas,

Para além do valor intrínseco que ela encerra, pretendo com esta narrativa específica relacionada com os nossos Encontros Anuais (almoço/convívio) já instituídos, homenagear os pioneiros da ideia de juntar, pelo menos uma vez em cada ano, toda a família de ex-combatentes da CART 3494.

Segundo julgo saber, tudo começou em Junho de 1986 por iniciativa de um quarteto constituído por: João Machado (cozinheiro), Júlio Peixoto (condutor), Alcides Castro (cantineiro) e Lúcio Monteiro (1.º cabo atirador). O 1.º almoço/convívio, que contou com uma reduzida participação, decorreu no Restaurante “O Frangueiro”, em Aver-o-Mar – Póvoa de Varzim, pertença do João Machado, no dia 14 de Junho de 1986.

Os Pioneiros: Da esquerda  para direita: João Machado, Júlio Peixoto, Alcídes Castro e Lúcio Silva

Nos dois anos seguintes (1987 e 1988), também no mesmo mês e local, e sob a responsabilidade do sobredito quarteto, o evento foi repetido.

A partir desta informação, seria interessante reconstituir-se o quadro completo dos nossos Encontros, fazendo chegar as datas, os locais e organizadores de cada edição.

Aguardo notícias.

MEMÓRIAS DO XXIII ENCONTRO DA CART 3494

07 DE JUNHO DE 2008

Com cinco anos de atraso, mas como diz o provérbio que se utiliza nestas ocasiões,  “mais vale tarde do que nunca” ou “antes tarde do que nunca”, eis que tomei a iniciativa de vos dar conta, para que conste no nosso baú de memórias, do processo relacionado com a organização do XXIII ENCONTRO/CONVÍVIO DA COMPANHIA DE ARTILHARIA 3494, realizado em Almada (Costa da Caparica), no dia 07.Jun.2008, divulgando factos e imagens originais visando a sua perpetuação.

I – A DECISÃO DE ORGANIZAR O ENCONTRO

Quando em 09.Jun.2007, no Restaurante Grelha, em Telões (Amarante), os camaradas da CART 3494, companhia também conhecida por «Fantasmas do Xime», acompanhados pelos seus familiares (esposas, filhos, noras, genros e netos) participavam em fraterna e sã camaradagem no já tradicional convívio anual (o XXII), este organizado pelo camarada ex-Furriel Mendes Pinto, surgiu o convite/proposta para assumir um novo desafio: o de organizar o Encontro do ano seguinte, tendo a resposta saído pronta e afirmativa.

II – O PRIMEIRO CONTACTO – NATAL DE 2007 

Em função do que se tornou habitual, a comissão organizadora (se for mais de um elemento) ou o organizador (quando se trata de um só elemento) assume a responsabilidade de enviar votos de BOAS FESTAS, na quadra natalícia, a todos os seus pares recenciados na lista actualizada da Companhia.

No nosso caso, e com esse propósito, elaborámos um cartão alusivo com o seguinte teor:

Antes de mais, recebam os meus melhores cumprimentos.

Mantendo a tradição de juntar anualmente todos aqueles que, num período importante das nossas vidas e num contexto adverso, soubemos construir laços de amizade e de solidariedade que certamente nos acompanharão ao longo dos anos. 

Com efeito, e por decisão tomada no decorrer do último convívio realizado em Amarante, fui de novo indigitado para organizar o Encontro de 2008, o que farei com todo o prazer. Este terá lugar a sul do rio Tejo, em data a indicar oportunamente. 

Agora, porque estamos na época festiva de forte componente familiar, aproveito esta oportunidade para vos desejar um BOM NATAL e que o próximo ano seja, de facto, um BOM ANO.

Felicidades para vós e restantes familiares, particularmente (agora) param os netos.

Um grande abraço. J.A.

III – PROJECTO EDITORIAL - COLECTIVO 

Aproveitando este contacto de Natal, passei a escrito a ideia avançada durante o convívio anterior, ainda que de forma informal e superficial, visando a elaboração de um livro colectivo da CART 3494, explicando então, com maior detalhe, a sua metodologia e objectivos gerais, a saber:

Caros amigos:

No último encontro realizado em Amarante, e após ter sido indigitado para realizar o Convívio de 2008, lancei a ideia de editar um livro denominado:

«Memórias dos Fantasmas do Xime» – CART 3494 – Guiné: 1971/74

Este projecto editorial seria organizado nos seguintes termos:

– Cada um de vós escreveria um texto de uma página A4 (mínimo) sobre o tema.

– No início de cada texto, identificar-se-ia o seu autor com uma foto tipo passe, ou uma foto relacionada com a história (memória) contada.

– Escrito o texto, este seria remetido por correio ou enviado por e-mail, para o meu endereço, até ao princípio do mês de Março p.f., a fim de poder organizar a sua publicação, de modo a ser distribuída durante o almoço/2008.

O que acham deste projecto? 

Dêem notícias e/ou sugestões para o meu endereço electrónico.

Obrigado!

IV – O XXIII ENCONTRO/CONVÍVIO DA CART 3494 – 07.JUN.2008 

Respeitando a tradição, o Convívio de 2008 foi agendado para o primeiro sábado de Junho, ou seja, dia 07. Como local da sua realização foi seleccionado o Complexo Turístico do Hotel Orion, sito em Fernão Ferro (Quinta das Laranjeiras), na Estrada 378, Km 19, Seixal/Sesimbra, com quem tratámos pessoalmente, e em tempo útil, todos os pormenores relacionados com o evento, dando lugar à troca de correspondência em 14.Fev.08 e 09.Abr.08.

Porém, um mês depois do acordado entre as duas partes, a administração do Hotel Orion decidiu renunciar o contrato de forma unilateral, afirmando já não estar interessada em prestar este serviço de restauração aos ex-militares, por razões económicas.

Perante esta decisão estranha e inqualificável fomos forçados, naturalmente, a mudar de rumo, recaindo a alternativa no Hotel Costa da Caparica, local já conhecido da maioria dos camaradas, por aí termos realizado o nosso primeiro Convívio, em 1998.

Esta alteração de última hora, de que fomos totalmente alheios e que nos deixou incrédulos, obrigou-nos a elaborar um comunicado, enviado a todo o colectivo, e com conhecimento à proprietária do Hotel Orion, com o seguinte conteúdo:

Comunicado:

De vez em quando (mais vezes do que seria espectável) somos confrontados com situações que nos suscitam muitas interrogações: - afinal onde estão os valores éticos e morais da actual sociedade?

E o presente exemplo prende-se com o processo relacionado com a realização do nosso almoço-convívio anual.

Como sabeis, o mesmo estava acordado realizar no Hotel Orion. Contudo, ontem, fomos confrontados pelo telefone na pessoa da sua proprietária que nos disse que a marcação do mesmo ficara sem efeito, em virtude de ter aceitado uma outra proposta mais favorável economicamente por parte de outro grupo. 

Depois de ter estabelecido com ela uma acesa discussão, fazendo apelo aos compromissos já assumidos connosco e de a ter ameaçado com um processo judicial (certamente muito moroso), esta reafirmou que a decisão estava tomada.

No sentido de resolver esta situação nada agradável para nós, decidimos avançar para o Hotel Costa da Caparica (local onde já realizámos um encontro), estando, assim, garantida e salvaguardada a realização do nosso almoço-convívio.

Para além da alteração de local, o custo unitário teve de ser ajustado ao novo contexto, passando agora a ser de 27,50€, mantendo-se em vigor o programa indicado na circular.

Lamentamos o sucedido, e esperamos a vossa concordância.

Até lá, um grande abraço do J.A. 

V – O PROGRAMA SOCIAL 

Garantido o local do convívio e definido o competente repasto, reflectimos sobre o que se poderia fazer de diferente, como mais-valia de uma deslocação a Lisboa que não acontece todos dias, em particular por parte de um número significativo de elementos constituintes da CART 3494, por terem a sua residência e/ou a sua actividade profissional em cidades do Centro e Norte do País.

Nesse sentido, e como meio de facilitar a logística relacionada com o transporte, o ex-Furriel Mendes Pinto liderou o processo de organização da deslocação colectiva nortenha, em autocarro, o que permitiu, por um lado, realizar uma viagem mais tranquila e mais económica e, por outro, ampliar os tempos de partilha e de convívio entre os elementos desse grupo. Como local de concentração, decidimos que o ponto de encontro mais favorável e acessível, no mapa dos diferentes itinerários a utilizar, seria o Santuário Nacional de Cristo Rei, vulgo Cristo Rei, ao qual se associavam três outras razões:

1.ª - Porque o santuário e monumento a Cristo Rei, este inaugurado em 17.05.1959 da autoria do madeirense (Mestre) Francisco Franco de Sousa (1885-1955), é a maior atracção turística do Município, exceptuando as praias da Costa.

2.ª - Porque este monumento, ex-libris da cidade de Almada, está situado a uma altitude de cento e treze metros acima do nível do Tejo, sendo por isso o melhor miradouro com vista para a cidade de Lisboa e zonas envolventes, incluindo o espelho de água do rio e a Ponte 25 de Abril.

3.ª – Porque foi exactamente em frente ao Cristo Rei, mas na margem direita do rio, no Cais de Alcântara, que zarpou em 22 de Dezembro de 1971, (+/-) trinta e sete anos antes, o N/M Niassa, rumo à Guiné (Bissau), transportando o contingente constituinte do Batalhão de Artilharia 3873, formado no Regimento de Artilharia Pesada n.º 2 (RASP 2), em Vila Nova de Gaia (Serra do Pilar), com a sua CCS e mais as suas três companhias operacionais: 3872; 3873 e 3874 (a nossa, com destino ao Xime).



Foto de família,  37 anos depois do embarque para o CTIGuiné


No sentido de concretizar a intenção expressa no ponto II do programa, que previa uma visita guiada ao Museu da Cidade, onde estava patente uma exposição relacionada com a história sobre as origens e o processo de construção do monumento a Cristo Rei (1949-1959), da responsabilidade da Câmara Municipal de Almada, tomámos a iniciativa de escrever uma carta ao Vereador do Pelouro de Desenvolvimento Social, solicitando apoio, nos seguintes termos:

Ofício remetido à C.M.A.

Caríssimo Vereador Eng.º António Matos,

Os meus melhores cumprimentos.

Os ex-combatentes da Companhia de Artilharia 3494 que serviram na Guiné, entre 1971/1974, têm por tradição organizarem um almoço-convívio anual, a realizar em distintas localidades do Norte e Centro do País.

Para a confraternização de 2008 - a XXIII - foi escolhida a Cidade de Almada e delegada a responsabilidade da sua organização no ex-militar residente nessa localidade.

Em conformidade com essa decisão, coube-me a tarefa de conceber um pequeno programa social de modo a ocupar um pouco do seu tempo livre dando a conhecer algo do património histórico da Cidade.

Considerando que o Cristo Rei foi o local escolhido para a concentração da comitiva, pela facilidade de acesso e pelo seu enquadramento paisagístico sobre a capital, e uma vez que está patente uma exposição, no Museu da Cidade, sobre o tema «Almada e o Cristo Rei – 1949/1959», faz todo o sentido, dizemos nós, completar o nosso programa com a visita guiada a esse testemunho histórico.

Face ao exposto, serve o presente para solicitar os bons ofícios da Autarquia, autorizando a realização da visita, assim como do enquadramento teórico por parte dos competentes técnicos dos Serviços do Museu.

Uma vez que só hoje ficou concluído o processo de inscrição no almoço, o número de elementos presentes cifra-se em 83 (oitenta e três), aos quais poderia ser interessante a oferta de alguns materiais de representação.

Para os devidos efeitos, junta-se um exemplar do programa do evento, que encerrará no Hotel da Costa da Caparica com a realização do almoço/convívio, para o qual está desde já convidado.

Na qualidade de organizador e representante da CART 3494, cumpre-me agradecer, antecipadamente, toda a atenção e apoios prestados.

Atentamente, J.A.

VI – AS IMAGENS

As imagens que seguidamente se apresentam são registos captados nos diferentes contextos do convívio: Cristo Rei, Museu da Cidade de Almada e Hotel Costa da Caparica.

– CRISTO REI

As imagens recolhidas no Complexo do Santuário Nacional do Cristo Rei dão conta das diferentes emoções e afectos partilhados durante aproximadamente uma hora, por efeito da objectiva ter disparado em várias direcções e de forma aleatória. Desde pequenos grupos organizados ad hoc, passando por fotos familiares mais ou menos românticas, até camaradas em amena cavaqueira ou em marcha descontraída, temos de tudo um pouco, não fazendo, então, qualquer sentido adjectivar.

Em cada uma delas os sinais são, inquestionavelmente, esclarecedores. 





– MUSEU DA CIDADE


Chegados ao Museu da Cidade de Almada, fomos recebidos pelo Senhor Vereador do Pelouro de Desenvolvimento Social, Eng.º António Matos, que, em seu nome e em nome do executivo autárquico, dirigiu uma saudação amiga de boas vindas aos ex-militares e a seus familiares.

Numa curta intervenção, porque não viveu a experiência ultramarina, questionou-se sobre o modo como cada um dos seus compatriotas ali presentes viveu o seu dia-a-dia no contexto da guerra de guerrilha, das superações que obrigatoriamente tiveram de ocorrer, das privações contabilizadas e experienciadas e da ausência física dos seus familiares mais próximos, compensada apenas com a leitura de algumas linhas que lhes chegavam de forma mais ou menos regular, sendo a escrita o principal canal de comunicação então existente.

De seguida, apresentou os diferentes projectos autárquicos no âmbito da cultura, da educação e do desporto, em particular das actividades do Museu e do seu papel na área educativa, por via da organização de diferentes exposições temáticas relacionadas com o importante espólio histórico existente na área do Município, mobilizando a comunidade escolar através de visitas guiadas, na qual se incluía, justamente, a exposição sobre «Almada e o Cristo Rei – 1949/1959».

Concluída a sua intervenção, aproveitamos a oportunidade que agradecer a forma hospitaleira como fomos recebidos, referindo-lhe, em síntese, um pouco da história colectiva da CART 3494.

Antes do início da visita guiada a cargo dos técnicos do Museu, organizada em exclusivo para nós, fomos convidados a tomar um café reforçado com buffet de pastelaria.




– HOTEL COSTA DA CAPARICA


Depois do “aquecimento” no Cristo Rei e do “banho” de História no Museu da Cidade, eis que a comitiva chega completa ao Hotel da Costa da Caparica para cumprir o último acto do programa: o sempre tão desejado Almoço /Convívio, concretizando-se, deste modo, a promessa do ano anterior, ou seja, tentar avançar um pouco mais sobre o que não houve tempo para dizer, o que ainda não se contou ou dar-se início à narrativa de outras (novas) histórias que ainda não são do domínio colectivo.




Porque almoço/convívio não é almoço sem música… no final do banquete o nosso Grupo Musical Privativo (Jesus, Correia, Dias & Cª.) fez a sua aparição/ actuação e, com a competência que se lhe reconhece, deu mais vida à vida, fazendo-nos recordar outros tempos, também eles muito difíceis… .


Agora que cheguei ao fim de mais uma história, para mais tarde recordar, espero que tenham gostado de saber outros factos e imagens do Encontro de 2008.

Boas Férias e um forte abraço para todos, com muita saúde e energia.

Um forte abraço para todos os Fantasmas do Xime.

Os meus melhores cumprimentos.

Jorge Alves Araújo, 
ex-Furriel Mil Op Esp/ Ranger, 
CART 3494 (Xime e Mansambo, 1972/1974)
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Nota de M.R.: 

Vd. último poste desta série em:



Guiné 63/74 - P11832: Notas de leitura (499): A "Guiné" na literatura portuguesa de viagens (séc. XV-XVII), por Julião Soares Sousa (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 27 de Março de 2013:

Queridos amigos,
Felizmente que fui bafejado pela solicitude do historiador Julião Soares Sousa, teve a gentileza de me enviar uma cópia da sua dissertação de mestrado, trabalho muito sério e rigoroso, ele espera em breve dá-lo à estampa, como merece.
Fica-nos a incógnita das teses de mestrado e doutoramento que jazem nas estantes da bibliotecas de instituições universitárias de toda a sorte, qualquer dia alguém lembra-se de fazer uma tese de doutoramento sobre este riquíssimo acervo que acumula pó em tais estantes…
Quem sabe se não estarão reservadas grandes surpresas…

Um abraço do
Mário


A «Guiné» na literatura portuguesa de viagens (séc. XV-XVII)

Beja Santos

Julião Soares Sousa, nome cimeiro da historiografia luso-guineense, teve a amabilidade de me oferecer cópia da sua dissertação de mestrado apresentada na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra. Logo me alertou para o facto de se tratar de documento que ele está interessado em rever e beneficiar e dá-lo à estampa como livro, convindo pois encarar este documento à luz da sua provisoriedade.

Pegando nos clássicos da literatura de viagens como André Álvares d’Almada, Luís de Cadamosto, Francisco de Lemos Coelho, André Donelha, André de Faro, Valentim Fernandes, Diogo Gomes, Fernão Guerreiro, Duarte Pacheco Pereira, Gomes Eanes de Azurara, isto sem esquecer o Padre Manuel Álvares, a Monumenta Missionária Africana do Padre António Brásio, entre outros, dá-nos imagens vivacíssimas do espaço e dos homens, interpela o sagrado e o espetáculo no poder real, de acordo com relatos por vezes de uma rara beleza, detalha os diferentes instrumentos do Governo (aparelhos administrativo, militar e judicial) com tal pormenor que o leitor se entristece, tal a curiosidade em querer saber mais…

A literatura de viagens de Quatrocentos assenta na necessidade de obter informações: quem controlava comercialmente as ricas regiões auríferas do Sudão, qual a natureza do poderio mouro, já que a Coroa pretendia impedir a expansão dos mouros na “terra dos negros”, o mesmo é dizer que se apostava num esforço de missionação que travasse a islamização; acresce que a Coroa tinha em mente estabelecer relações com os reinos do interior de África, não havia condições para instalar assentamentos de grande porte, não havia população suficiente para tal, desejavam-se relações pacíficas para que o comércio não ficasse turbulento ou sujeito a razias para as quais não havia resposta.

Continua sem se saber a origem do topónimo “Guiné” e qual o seu verdadeiro âmbito geográfico, se bem que exista hoje entendimento que o termo designava um vasto espaço geográfico que ia do Cabo Não aos confins de África, com o tempo fixou-se no limite superior do rio Senegal. Sendo o significado de Guiné “terra dos negros”, o autor escolhe como âmbito geográfico a região entre o Senegal e os baixos de Santa Ana, em plena Serra Leoa. E recorda que, segundo João de Barros, o termo deriva de guinauhá, expressão berbere para designar negros ou terra calcinante. Conhecido o significado do termo Guiné, os portugueses em contacto com gente de cor negra alteraram o âmbito geográfico do topónimo, fixando novo limite. Cita Duarte Pacheco Pereira: “aquy [rio Senegal] he o principio dos ethiopios & homens negros…”, portanto Guiné ou Etiópia inferior ou ocidental.

Este âmbito geográfico foi conhecendo alterações entre os séculos XV e XVII, mercê de vários fatores, como sejam: o falhanço das tentativas de penetração pelo rio Senegal, o que dificultou a aproximação ao país do ouro, principalmente de Bambuk; a inexistência de rios suficientemente navegáveis muitas léguas no espaço entre o Senegal e o Gâmbia; a incapacidade em manter o monopólio devido à concorrência dos holandeses, franceses e ingleses, cujas naus frequentavam com alguma assiduidade toda a região do Senegal. A despeito destas dificuldades, há dados fiáveis sobre a presença portuguesa no comércio da região, aqui se resgatavam escravos, 10 ou 12 por um cavalo, como relatou Duarte Pacheco Pereira no princípio do século XVI; André de Donelha registará o mesmo panorama quanto ao comércio do rio da Gâmbia e S. Domingos, resgatavam-se escravos mas também cera e marfim por vinho, panos, algodão ou cavalos. Com a intensificação do comércio negreiro, os portugueses passaram a comercializar os seus produtos entre o rio Casamansa e o rio Camponi, âmbito geográfico que virá a ser designado por rios da Guiné.

E vêm as descrições à volta desta multidão de povos, uma enormidade de reinos e nações, alvo preferencial desta literatura de viagens. Logo na segunda metade do século XIV, Diogo Gomes escrevia que a Guiné era povoada por uma multidão de povos que custa a acreditar. Segue-se a descrição minuciosa destes reinos, o seu regime alimentar, a indumentária, as tatuagens, as indústrias, o mercadejar, a natureza da habitação, as práticas religiosas, a disposição espacial destes povos, incluindo os Bijagós. A sucessão e simbologia do poder real é também objeto da atenção destes escritores de viagens. Por exemplo, a propósito do regime de sucessão foram identificados pelo menos três sistemas: o sistema matrilinear, em que entravam na sucessão sobrinhos, filhos da irmã mais velha; sucessão por eleição, e regime rotativo.

Esta Guiné encontrava-se, no período em análise, politicamente organiza em numerosos reinos e senhorios. André Álvares de Almada escrevia, nos finais do século XVI, que pelo menos no reino da Gâmbia em “cada 20 léguas havia um rei sujeito a outro denominado Farões/Farins, título de maior dignidade que rei”. Nos reinos da Senegâmbia havia o costume de contratar djidius ou judeus para com as suas canções animarem as guerras como todo o efeito psicológico que isso podia causar nas hostes. E também os exércitos são descritos, bem como os mercenários e os comerciantes, estes reinos irão conhecer uma profunda desintegração no século XVII, o que vai levar à diminuição substancial dos efetivos militares. Os escritores referem uma arma temível, as flechas envenenadas com veneno de origem vegetal (provavelmente o acónico), eram as flechas “ervadas”. A guerra não se fazia só com armas e em terra, o mar e o leito dos rios foram palco de reencontros militares, frotas de embarcações feitas a partir de troncos de grandes árvores (poilões) estas embarcações ficaram conhecidas na literatura de viagens por almadias, algumas havia que tinham capacidade para transportar de 100 a 120 homens de guerra.

Julião Soares Sousa [foto à direita] observa que esta diversidade de povos constituía uma unidade civilizacional que se refletia a vários níveis: na alimentação feita à base de milho, arroz, leguminosas e carne de diferentes animais a que se juntava o vinho de palma, a bebida preferida; o vestuário contribuía para marcar a profunda diferenciação social entre a classe dirigente e os de baixa condição; é no domínio do poder que melhor se espelha a unidade civilizacional, aqui se incluindo a sacralidade e o espetáculo. Os exércitos destes povos começaram por utilizar armas de madeira, mas nos finais do século XVI já há notícia de armas de fogo, o que significa que se fez comércio com portugueses e os seus concorrentes. O uso da cavalaria na região da Senegâmbia também ficou registado. Os reis assumiam um papel de juízos supremos, o aparelho judiciário vergava-se à sua vontade.

Como conclusão maior, escreve o autor, “do ponto de vista sincrónico e diacrónico, pode-se concluir que não há alterações dignas de registo no espaço estudado, séculos XV a XVII”.
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Nota do editor

Último poste da série de 8 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11814: Notas de leitura (498): Guineidade e Africanidade, por Leopoldo Amado (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 63/74 - P11831: Efemérides (134): Comemorações do 205º aniversário da Batalha do Vimeiro (Eduardo Ferreira)


1- O nosso Camarada Eduardo Jorge Ferreira, ex-Alf Mil da Polícia Aérea (BA12, 1973/74) enviou-nos a seguinte mensagem.

 Comemorações do 205º aniversário da Batalha do Vimeiro


Caro Luís,

Envio o programa das Comemorações deste ano que vão ter lugar no último fim-de-semana deste mês de julho. 



Um belo pretexto para uma visita ao Vimeiro que a par do programa possui outros encantos nomeadamente a paisagem, com o mar tão perto, e a boa gastronomia da região.



Para aguçar o apetite seguem umas fotos da última recriação da batalha realizada em 2008. Nunca será demais relembrar que a Batalha do Vimeiro constituiu a primeira derrota em terra do exército de Napoleão e pôs fim à primeira invasão francesa do nosso Portugal.



Farás com esta notícia e os seus anexos o que entenderes nomeadamente dar dela conhecimento aos nossos camarigos a quem saúdo.


Para ti uma boa viagem a Luanda e boas férias.

Abraço
Eduardo Jorge Ferreira

Guiné 63/74 - P11830: Agenda cultural (279): O grande Kimi Djabaté, músico de Tabatô e do Mundo, dia 26 de julho, 6ª feira, às 22h30, na Casa da Música, Porto... A não perder, cambada!... O nosso blogue apoia a música da Guiné-Bissau!


Página na Net da Casa da Música, Porto. amunciando o concerto do grande Kimi Djabaté, no dia 26 de julho, às 22h30, no Palco Super Bock. A não perder, malta do Grande Porto & Arredores!... Ver aqui uma atuação ao vivo,  no B.Leza, em Lisboa, em 2/9/2011 (Vídeo de 3' 44'',  carregado pelo Teatro do Bairro)...

Recorde-se que o Kimi Djabé é um músico nascido e crescido nesse grande viveiro de talentos que é a tabanca de Tabató. A nossa Tabanca Grande apoia os músicos da Guiné-Bissau. Por favor, divulguem. E obrigado ao "passa-palavra" da minha jovem amiga Inês Salselas, do Porto, recém doutorada, por uma universidade catalã, com a tese  "Explorando as interações entre música e linguagem durante o início do desenvolvimento da cognição musical. Uma abordagem de modelagem computacional"... (LG)


Capa do álbum Karam [Educação, em mandinga], de Kimi Djabaté. Julho de 2009. Editora: Cumbancha. Cortesia de Cumbancha


Kimi Djabaté é um músico ligado à tradição mandinga da Guiné Bissau. Na voz, na guitarra e no balafon, canta a realidade social do seu povo e deixa-se influenciar por géneros como o gumbé, o afro-beat e a morna, além do jazz e blues. 

Após Teriké (2005), o seu segundo álbum Karam (2009) alcançou o 2º lugar na World Music Charts Europe. (Fonte: Casa da Música).
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Nota do editor:

Último poste da série > 11 de jukho de 2013 >  Guiné 63/74 - P11826: Agenda cultural (278): Estreia hoje, nos cinemas, em Lisboa (Nimas) e Porto (Medeia Cine Estúdio do Teatro Campo Alegre), o filme "A batalha de Tabatô", de João Viana. Os Super Camarimba, banda afromandinga do nosso amigo Mamadu Baio, atuam hoje no Espaço Nimas, em Lisboa

Guiné 63/74 - P11829: Os filhos do vento (12): "Em busca do pai tuga" ou "Os filhos que os portugueses deixaram para trás"... Reportagem de Catarina Gomes, Manuel Roberto e Ricardo Rezende, a sair no Público, domingo, dia 14






Guiné-Bissau > região de Tombali > Iemberém > Simpósio Internacional de Guileje (Bissua, 1-7 de março de 2008) > 2 de março de 2008 > Visita, inesperada, de duas irmãs, que vieram de longe (, de Bedanda, garante o Zé Teixeira), para estar com os tugas.

Estas duas mulheres, de olhar triste, irmãs, vieram de longe procurar-nos, uma delas com um filho às costas... Estariam na casa dos 30 e muitos anos... Queriam saber notícias de um tal Furriel Mil Mecânico Auto, de apelido Barros, que terá estado em Cacine em 1971/72... e que seria de origem madeirense ou açoriana. Por essa altura, entre 20 de Maio de 1970 até 15 de Fevereiro de 1972, sabe-se que passou por Cacine a CCaç 2726... Não fixei os seus nomes, nem soubei ao certo onde viviam, mas prometi divulgar as suas fotos, o que fiz na altura.  A jornalista do Público, Catarina Gomes, voltou a encontrá-las, em março de 2013, no sul da Guiné, carregadas de filhos...

Fotos  (e legenda): © Luís Graça (2008). Todos os direitos reservados.


1. Mensagem que a jornalista do Público, Catarina Gomes, nos mandou, ontem, às 17h44, chamando atenção para uma reportagem que vai sair no Público, de domingo, dia 14, sobre o tema dos "filhos do vento". Ela deslocou-se recentemente á Guiné-Bissau, para efeitos deste trabalho de investigação e teve o apoio do nosso blogue e de diversos camaradas (como o Zé Saúde) e de amigos (como o Cherno Baldé). Está também a escrever um livro sobre o tema. Ela própria é filha de um ex-camarada nosso, alferes milicano, que esteve em Angola no final da guerra, e já falecido.

Boa tarde,

Só para vos avisar que já há na página do público, www.publico.pt, um videozinho de apresentação do projecto, que também terá 3 vídeos e uma página para debate e informações sobre os filhos que os portugueses deixaram para trás:

 http://www.publico.pt/multimedia/video/os-filhos-que-os-portugueses-deixaram-para-tras-20130711-142901

Mais uma vez, muito obrigada pela ajuda

Cumprimentos,

Catarina





Fotogramas do vídeo Em Busca do Pai Tuga, disponível desde ontem na página  Público Multimédia


"Em busca do pai tuga" é o título de uma série de reportagens que levou os enviados especiais Catarina Gomes, Manuel Roberto e Ricardo Rezende à Guiné-Bissau para contar as histórias de filhos que os ex-combatentes portugueses tiveram com mulheres guineenses e que ficaram para trás depois da guerra colonial ter terminado. Não tinham nascido ou eram crianças quando os pais deixaram o país, hoje têm entre os 40 a 50 anos e um sonho: conhecer o pai tuga. A reportagem foi feita no âmbito do projecto PÚBLICO+".

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Nota do editor:

Vd. aqui alguns dos muitos postes (, para além de centenas de comentários) que foram já publicados, no nosso blogue,  sobre a temática dos "filhos do vento" e do "sexo em tempo de guerra":

5 de julho de 2013 > Guiné 63/74 – P11807: Memórias de Gabú (José Saúde) (30): Rescaldo da apresentação de “As Minahs Memórias de Gabu", em Beja.



18 de maio de 2013 > Guiné 63/74 - P9919: Memórias da minha comissão (João Martins, ex-alf mil art, BAC 1, Bissum, Piche, Bedanda e Guileje, 1967/69): Parte V : Depois de Piche: de novo em Bissau e Mansoa, a dar instrução a artilheiros, antes de ir para o sul (Bedanda, Gadamael e Guileje)

12 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11377: (Ex)citações (218): Sexo em tempo de guerra... e brancos mpelelé no pós-independência (Cherno Baldé / José Teixeira / António Rosinha)

8 de abril de 2013 > Guiné 63/74 - P11360: (Ex)citações (217): Lavadeiras... e favores sexuais na Empada do meu tempo (José Teixeira / Arménio Estorninho, "maiorais" da CCAÇ 2381, 1968/70)
25 de março de 2013 > Guiné 63/74 – P11313: Guiné 63/74 – P11313: Memórias de Gabú (José Saúde) (26): Sexo em tempo de guerra. Tabu?
12 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8897: Filhos do vento (11): A filha da minha lavadeira (António Bastos)

11 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8888: Filhos do vento (9): Tenho por mim que são mais as vozes que as nozes (António Costa)


29 de setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8838: Filhos do vento (7): O infanticício não era uma prática tão generalizada quanto se pensa... O caso doBalanta-Tuga, de Bedanda (Cherno Baldé)




24 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8816: Filhos do Vento (2): Duas mães que eu conheci: Binta de Chamarra e Binta Bobo de Mampatá (José Teixeira)

23 de Setembro de 2011 > Guiné 63/74 - P8813: Filhos do Vento (1): Nem branquear os casos nem culpabilizar ninguém (José Saúde)

29 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1900: Estórias cabralianas (25): Dois amores de guerra e uma declaração: Não sou pai dos 'piquinos Alferos Cabral' (Jorge Cabral)

Guiné 63/74 - P11828: Parabéns a você (601): António Dâmaso, Sargento-Mor Paraquedista das CCP 122 e 123/BCP 12 (Guiné)

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Nota do editor

Último poste da série de 9 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11818: Parabéns a você (600): Adriano Moreira, ex-Fur Mil Enf da CART 2412 (Guiné, 1968/70); Arménio Estorninho, ex-1.º Cabo Mec Auto da CCAÇ 2381 (Guiné, 1968/70) e Joaquim Carlos Peixoto, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3414 (Guiné, 1971/73)

quinta-feira, 11 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11827: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (5): Do "insucesso" do PAIGC à reacção das NT (Manuel Vaz)

1. Quinta e penúltima parte do trabalho elaborado e enviado, para publicação no nosso Blogue, pelo nosso camarada Manuel Vaz (ex-Alf Mil da CCAÇ 798, Gadamael Porto, 1965/67). 

Lembremos a sua mensagem de apresentação:
Este trabalho que vai ser publicado em 6 Postes, correspondentes a outros tantos subtítulos, foi concebido como "peça única". 
Posteriormente foi seccionado e ilustrado, sem perder as caraterísticas iniciais.

Um abraço
Manuel Vaz 

UMA VISÃO ALARGADA DO ATAQUE A GADAMAEL

DOS ANTECEDENTES ÀS CONSEQUÊNCIAS

5 - DO "INSUCESSO DO PAIGC À REACÇÃO DAS NT

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Nota do editor

Último poste da série de 28 DE JUNHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11774: Uma visão alargada do ataque a Gadamael - Dos antecedentes às consequências (4): Os Paraquedistas Desembarcam e Resolvem (Manuel Vaz)

Guiné 63/74 - P11826: Agenda cultural (278): Estreia hoje, nos cinemas, em Lisboa (Nimas) e Porto (Medeia Cine Estúdio do Teatro Campo Alegre), o filme "A batalha de Tabatô", de João Viana. Os Super Camarimba, banda afromandinga do nosso amigo Mamadu Baio, atuam hoje no Espaço Nimas, em Lisboa




1. Estreia hoje nos cinemas, em Lisboa e Porto, "A batalha de Tabatô", segundo informação recolhida na respectiva página do Facebook, bem como Cinecartaz do Público.

Ver aqui o trailer oficial:  http://www.abatalhadetabato.com/pt_home.html

2. Ficha Técnica:

A Batalha de Tabatô
Título original:A Batalha de Tabatô
De: João Viana
Com: João Viana, Mamadu Baio, Fatu Djebaté, Imutar Djebaté
Género: Drama
Classificação: M/12
Outros dados: POR, 2013, Cores, 78 min.

Sinopes: "Depois de anos a viver em Portugal, o pai de Fatu regressa a África para assistir ao casamento da filha com Idrissa Djebaté. Ela é professora universitária e seu futuro marido é um músico conhecido. A festa de casamento é em Tabatô, um lugar extraordinário onde todos os seus habitantes são, há 500 anos, músicos djidius, cantores-poetas que narram contos e lendas representativos da vida africana. No caminho até lá, à medida que as recordações se avivam, o velho senhor começa a revelar traumas esquecidos da sua juventude, enquanto soldado mandinga na guerra colonial, décadas antes. Filmado na Guiné- Bissau, é a primeira longa-metragem de ficção de João Viana, que foi distinguido com uma menção honrosa na edição de 2012 do Festival Internacional de Cinema de Berlim."

Fonte: Público > Cinecartaz (Reproduzido com a devida vénia...)

Sessões:

Lisboa > Nimas >  Sala: Sala 1 >

 Sessões: 15h30, 18h30, 21h30

Av. 5 Outubro, 42B 1000-20 (GoogleMaps)

Telefone para Marcações: 213574362 >

Sessões: 18h30, 22h.

Morada: R. das Estrelas 4150-13 (GoogleMaps)

Telefone para Marcações: 226063000 > 

3. Concerto:

A banda Super Camarimba  (dirigida pelo nosso amigo Mamadu Baio, foto à direita) dá entretanto mais 2 concertos, em Lisboa,  hoje e no próximo dia 1 de agosto. 

11 de Julho > ESPAÇO NIMAS  (Avenida 5 de Outubro 42B - Lisboa, 1050-057 Lisboa, telef 21 357 4362)

1 de Agosto > B.LEZA

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Nota do editor:

Último poste da série > 6 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11677: Agenda cultural (277): Lançamento do livro "Gente Com Coragem", do nosso camarada Castro Ferreira - Padrão, em Espinho, dia 22 de Junho. Convite.

Guiné 63/74 - P11825: (In)citações (53): Bem haja quem fundou o blogue, bem haja quem apreciou as crónicas do meu pai, e tu, pai, continua a escrever, peço-te. Da filha que te adora (Paula Ferreira)


Guiné > Bissau > 17 de dezembro de 1966 > O Veríssimo Ferreira, a esposa  e a filha Paula, de 2 anos e meio



Loures > Casa da família Ferreira > O pai, a mãe e a filha em dia de aniversário da filha-mais-que-tudo... Sabemos que ele é pai e avô babado. Escreveu ela, a Paula, aliás, Titau Ferreira,  na sua página do Facebook, no dia 6 deste mês: "50 anos - a responsabilidade de eu cá estar é destes senhores"... (Paula: o batalhão da Tabanca Grande, a 600 vozes, canta-te os Parabéns a Você, com uns dias de atraso!...Que sejam 50 anos de prata, ouro e diamante, a comemorar ao longo do 2º semestre de 2013!... Por outro lado,  há uma frase nossa que, contigo, ainda faz mais sentido: "Os filhos dos nossos camaradas, nossos filhos são!").

Fotos: © Veríssimo Ferrea«iora (2013). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem:  L.G.]


1. Comentário da nossa leitora Paula Ferreira ao poste P11821 (*)

Eu sou a menina que está na foto e que tinha dois anos e meio quando esteve na Guiné.

Sempre tive muito orgulho em dizer que o meu pai foi um combatente: não só na Guerra do Ultramar mas também na vida. Nunca nada lhe foi dado de mão beijada .Sempre trabalhou e lutou para ter alguma coisa na vida. É um exemplo de dignidade, integridade e muitos outros valores que tentei transmitir aos seus netos para quem ele é um ídolo e uma referência.

Não deixes de escrever, pai. Estas crónicas ajudam a exorcitar o passado cruel, e ajudam-nos a conhecer-te melhor. Respeitamos muito o sofrimento e a dor da guerra dos ex-combatentes, mas é importante que essas memórias sejam partilhadas para ficarem para as futuras gerações.

Ao meu pai, e a todos os que escrevem neste blogue deixo o pedido: continuem a escrever a història. Para os vossos filhos, netos e bisnetos. Só quem lá esteve a pode contar.

Bem haja quem fundou o blogue, bem haja quem apreciou as crónicas do meu pai, e tu, pai, continua a escrever. Peço-te. Da filha que te adora. Paula Ferreira. (**)

2. Comentário de Hélder Sousa (*):

(...)  A "cereja em cima do bolo" vem exactamente de onde certamente não esperavas, especialmente por aqui (confesso que também não esperava, fiquei até com alguma emoção), veio de uma tal 'menina' Paula que,  de uma forma cheia de amor filial, com grande empolgamento e com toda a razão, escreve as palavras certas e que subscrevo totalmente.

Já conhecia a foto da família em Bissau através do Facebook e aproveito a ocasião para te render homenagem quanto ao facto de teres podido proporcionar à tua família (existente à data) a possibilidade de conhecerem esse pedaço de África, mesmo em tempos de incerteza, para que pudessem "crescer", em conhecimento e riqueza interior.

Presumo que,  mesmo muito jovem, terá ficado alguma coisa na memória de infância que permita ter agora uma 'filtragem' quando surgem notícias depreciativas sobre a Guiné, as suas terras e suas gentes.

Caro amigo Veríssimo, dá-te uma 'folga', recupera o fôlego e sempre que possas e queiras... escreve! (...)

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Guiné 63/74 - P11824: Os nossos médicos (64): A propósito do nosso anedotário médico militar... (Rui Silva)


1. Mensagem do nosso camarada Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, BissorãOlossatoMansoa, 1965/67), com data de 3 de Julho de 2013: 

Estimados caros amigos Luís, Vinhal e Magalhães Ribeiro: 

Recebam um grande abraço e os maiores votos da continuação de uma boa forma para a sustentação deste querido Blogue.
Rui Silva



A propósito de médicos militares na Guiné

Ultimamente tem-se “falado” no Blogue de médicos incorporados nas tropas na Guiné e então fez-me lembrar um episódio; episódio que tem o valor que tem, ou que lhe queiram dar.

Não indico, por razões de princípio e óbvias, os nomes dos principais protagonistas: Médico psiquiatra no Olossato e Furriel com a cisma do “Paludismo crónico”.

A minha Companhia era das ditas independentes. Independente de quê, não cheguei a saber. Era, era bem dependente do Batalhão. Primeiro do BArt 645 os “Águias Negras” (águias com 3 cabeças!) e depois deste vir embora passou para a alçada do BCaç 1857.

Um e outro com sede em Mansoa. Zona de Ação: Oio, ou grande parte deste.

As Companhias ditas independentes eram assim como Companhias bastardas e ao que parecia as mais sacrificadas, para fazer jus ao epíteto. As do próprio Batalhão eram mais protegidas. Isto era o que bem parecia e o que se dizia. Terá sido bem assim? Bom, que a minha Companhia era quase sempre o Grupo de Assalto…

Não, não. Não pretendo fazer juízos de valor, e então lembrar-me dos que andaram por exemplo na operação Tridente, dos que estiveram em Guileje, Guidage, na fase final da guerra, entre outros lugares… Irra (!) por bons sítios ainda andei eu, afinal.

A minha Companhia não tinha médico próprio e, em Bissorã, quando estávamos ali com a 643 (Companhia de BArt 645) julgo que ali havia um clínico permanente e que pertencia ao efetivo do Batalhão. Não tenho a certeza porque, felizmente, não tive necessidade dos seus préstimos, isto em cerca de 5 meses que a Companhia 816 ali esteve.

No Olossato onde a Companhia 816 trabalhava já sozinha, a visita do médico era esporádica, mas, mais ou menos regular, convenhamos.

A messe dos Furriéis no Olossato. As portas da fachada, são as do refeitório e a primeira janela do lado esquerdo é a do meu quarto, onde ficava com mais 3 camaradas. Ali, no refeitório, comia-se menos mal, escreviam-se os aerogramas, ouvia-se a toda a hora o Roberto Carlos (quase sempre “Quero que todo o mais vá pr’ó inferno”) e jogava-se a batota à noite, e às vezes com batatada pelo meio (só ameaços).
Foto do álbum fotográfico do meu amigo José Augusto Ribeiro, ex-Furriel mil. da 566, que aqui reproduzo com a devida vénia.

E por falar de saúde, aqui se ilustra e se interroga se estávamos a tratar da saúde ou a dar cabo dela. Depois das “operações vaca” não faltavam uns miolos fritos bem regados com cerveja (bebia-se tipo trompete).  Era um pitéu que acontecia muitas vezes e ao meio da manhã. E tão bem que sabia! Dimais! Travessa e pratos da época: alumínio engelhado. Copos? não me lembro!

Estávamos então uns poucos de Furriéis na nossa messe no Olossato quando chega um Furriel camarada, da consulta no médico.
Perguntamos-lhe então qual era o problema.
- “O que é que o médico disse?”
- “Ele respondeu que isto passava, que, do que eu me queixo, ele anda bem pior, mas que não dá importância, que isso passa”.
- “Disse-lhe que me doía a barriga e ele aponta-me o sítio: “É aqui.?” “É mesmo aí Sr. Doutor”, ao qual ele me reponde: “É exatamente como eu, ando aí com umas dores…, mas, nem ligo, é melhor não tomar nada, que isto passa.”
- “Bom, como vi que o médico afinal ainda andava igual ou pior do que eu, vim resignado”.

Aqui então é que se despoletou a discussão.
- “Oh(!) caramba!!,” - disse outro após aquela queixa e ulterior resultado:
- “Ele também disse que andava pior do que eu. Queixei-me das costas e após algumas perguntas sobre outros sintomas ele diz-me”: 
- ” Olhe, eu também ando exatamente como você e não me queixo. Isto passa.”

Outros ratificaram o diagnóstico/ terapêutica quase taxativo do médico, sobre os seus casos, e chegamos à conclusão que era uma boa maneira psicológica de tratar os pacientes. Podia era não chegar. Não havia drogas, o que dava um certo conforto, e o pessoal queixoso esquecia o seu mal.

- “Afinal quando o médico se queixa mais do que eu…”. Nem sequer sinal dos tais comprimidos que “saravam tudo”.

Aqueles comprimidos brancos de cerca de um centímetro de diâmetro que eram dados dois, embrulhados num papel, que nos davam na tropa na metrópole. Os comprimidos LM. Estava ali tudo neles, o que era preciso para curar, tudo (ou quase tudo).

Na Guiné não dei por eles. Os micróbios, fungos, parasitas e outros seres microscópicos que por ali andavam eram bem outros e mais variados (à la carte).

- “Porque é que estes seres não são visíveis para que a gente possa dar conta deles antes que eles nos “cosam?” - como dizia um camarada meu, ajuntando que era um defeito da natureza.

Curiosa a imagem seguinte e legenda subsequente obtida e aqui reproduzida, com a devida vénia, do Blogue http://bart1914.blogspot.pt

Por que foi que deixaram de fabricar os comprimidos "LM"?... Acudiam a tudo - diarreias, cefaleias, bicos de papagaio, panaríssios, enjoos, malária, gripes, tremideiras, eu sei lá mais o quê?

Após alguma pesquisa viemos a saber que o médico ali no Olossato era um Psiquiatra.

Bom, de Psiquiatra também precisávamos e não era pouco, pois os neurónios da malta não andavam bem sincronizados, naquela situação, mas precisávamos mais alguma coisa da medicina, obviamente. E então de erupções na pele havia para todos os gostos. Logo as virilhas com a “flor do congo” à cabeça. Manga de erupções cutâneas, em forma de borbulhas de rosetas, de manchas, etc.

Aqui, os enfermeiros, com o 1214, também resolviam boa parte dos problemas de pele. Os alérgicos à tintura de iodo (raros), às vezes ficavam era ainda bem pior. O Ásterol era bom mas dava para chamar “oh da guarda!!”
Só que o 1214 não sarava tudo, o que era na pele, claro.

Mas que o Dr. Psiquiatra diagnosticou e “terapeuticou” muita gente, à custa de “boas palavras” e com (no mínimo) razoáveis resultados, lá isso foi uma boa verdade.

Tive um colega meu (julgo que o único caso do foro), que cismou que tinha o Paludismo crónico. Chegou a acordar-me alta madrugada com o “Simpósium terapêutico” na mão a apontar-me os sintomas do Paludismo crónico. E que era isso mesmo que tinha.
Os sintomas, que o livro preconizava, coincidiam precisamente c’os dele, isto na sua maneira de ver, claro. Chegou a comprar um termómetro e a andar com ele no bolso.

Um dia, em Bissau, andávamos juntos a passear, quando a certa altura dei por a falta dele ao meu lado. Olho para trás e ele estava encostado a uma árvore a medir a temperatura na axila.
Ao ler, olha para mim e diz-me:
- “Vês? Há pouco tinha 37.2 e agora já tenho 37.4. Vês? É uma característica do Paludismo crónico: oscilação da temperatura. Estou f…..”

Sei que após algum tempo recuperou, não sei se foi o aludido Psiquiatra que o curou. Se calhar até foi!

Passem bem!
Rui Silva
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Nota do editor:

Último poste da série de 9 DE JULHO DE 2013 > Guiné 63/74 - P11820: Os nossos médicos (63): O dr. Sousa Fernandes, o VCC de Guileje, era de Coimbra e infelizmente já nos deixou em 2000 (José Crisóstomo Lucas)

Guiné 63/74 - P11823: Blogpoesia (349): O milagre do pão (J. L. Mendes Gomes)



Marco de Canaves > Paredes de Viadores > Candoz  > Quinta de Candoz > 1 de setembro de 2012 > O forno do pão que no passado também era "calafetado com bosta de boi"... E onde se coze o pão também se assa o anho...

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.



Lourinhã > Atalaia > Festa do Pão do Moinho > 1 de julho de 2012 > O famoso pão de milho com sardinhas, típico do oeste estremenho de há 50 anos atrás... São sabores da infância de muitos de nós...

Foto: © Luís Graça (2012). Todos os direitos reservados.


O milagre do pão...


por J.L. Mendes Gomes


Desde pequeno, assistia de graça,
a um milagre semanal.
Quando minha Mãe,
que Deus tenha em bom lugar,
com um montão de farinha milha,
água da fonte, mexia...mexia...
e fazia uma pasta branca,
na gamela de madeira,
parecia um barco.

Juntava-lhe um pedaço doutra,
a que chamava fermento,
e voltava a mexer... a mexer.
Deixava-a a dormir,
em silêncio profundo,
durante um certo tempo.
Com uma cruz de bênção...

O forno de barro ardia em chamas...
até ficar rubro ao fundo.


Sobre uma pá de madeira,erguia montes de massa
que colocava lá dentro.
Até encher.
Fechava o forno com uma porta
e betonava bem,
com bosta de boi...


Depois era só esperar.Um milagre à vista ia romper:
Aqueles montões de massa,
quando se abria a porta,
tinham crescido tanto...
Que lindas boroas de pão
surgiam cheirosas...
Eram o nosso pão
p’rá semana inteira!...

Berlim, 10 de Julho de 2013, 
15h00

Joaquim Luís Mendes Gomes

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Nota do editor:

Último poste da série > 24 de junho de 2013 > Guiné 63/74 - P11759: Blogpoesia (348): Pedir desculpa é pouco (Ernesto Duarte)