1. Em mensagem de 18 de Março de 2015, o nosso camarada Joaquim Luís
Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66),
enviou-nos um poema da sua autoria, intitulado "Saio sempre de madrugada"
saio sempre de madrugada...
como o pescador
que vai para o mar.
sem bússola,
nem carta de marear.
só levo a rede fina
para pescar a maresia.
preciso inspirar o ar
que anda bailando
sobre as ondas.
me inflame as velas
e que meu barco vá
de vento em popa.
me chega um só poema,
seja belo,
mesmo sem rimas...
para eu levar à costa.
quero soltá-lo a bailar ao vento.
seja um regalo lindo
para toda a gente.
quem é que não gosta?...
Berlin, 18 de Março de 2015
8h46m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série de 21 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14393: Blogpoesia (406): "Tranquilidade das águas" e "O rio da história", dois poemas para o Dia Mundial da Poesia (J.L. Mendes Gomes)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
terça-feira, 24 de março de 2015
Guiné 63/74 - P14402: Parabéns a você (878): Braima Djaura, ex-Soldado Condutor Auto Rodas da CCAÇ 19 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 22 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14396: Parabéns a você (877): José Lino Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense do BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1974)
Nota do editor
Último poste da série de 22 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14396: Parabéns a você (877): José Lino Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense do BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1974)
segunda-feira, 23 de março de 2015
Guiné 63/74 - P14401: Convívios (660): Rescaldo do último Encontro da Magnífica Tabanca da Linha, levado a efeito no passado dia 19 de Março (José Manuel Matos Dinis)
1. Mensagem do nosso camarada José Manuel Matos Dinis (ex-Fur Mil da CCAÇ 2679, Bajocunda, 1970/71), actualmente Amanuense da Magnífica Tabanca da Linha, com data de 20 de Março de 2015:
No passado domingo, dia 15, recebi um surpreendente telefonema de um camarada muito estimado, cronista consagrado de estórias de antanho em confronto com a vida moderna de uma remota localidade transmontana, Brunhoso, mas também atento observador da vida moderna, em todos os seus contornos, não só rústicos, mas também cosmopolitas, onde se mostram as tendências de uma comunidade, e onde se acumulam as mais impertinentes manifestações de vaidade e inocuidade. O Francisco Baptista tem sabido lidar com as diferenças, e ainda poupa a sociedade moderna ao confronto com a sociedade de onde provém, onde se cultivavam valores e raízes.
No meio de um supermercado da capital tive a primeira oportunidade de manter uma animada conversa com ele. Falámos do Blogue, de alguns dos seus proeminentes membros, de encontros, e de matérias em que nos envolvemos. Mas também falámos de nós, do que nos anima e interessa, acabando com o desejo recíproco de provocarmos um encontro. Mas o que o Francisco queria dizer, é que tinha um grande desejo de vir ao encontro da Magnífica, mas as forças locais estavam a oferecer-lhe alguma resistência para a concessão da necessária autorização. Fronteiras do norte, claro!
Ontem, durante o encontro, citei várias outras mensagens ao pessoal, da parte de camaradas que não puderam comparecer, mas, amigavelmente, manifestaram votos de tudo decorresse com agrado geral. Foi o caso dos seguintes camaradas: o João Sacoto; o João José Martins; o Miguel Rocha, e, finalmente, o Marcelino da Mata que foi obrigado a desmarcar por força duma rara consulta médica para que foi convocado. Mereceram a atenção geral.
O dia estava bom, com temperatura agradável, que não era afectada pela suave brisa atlântica, e a luz era bastante clara, como que a sugerir a primavera que o encontro antecipou. Dois dias antes, por telefone, confirmei que estava tudo okay. Porém, na hora. veio a verificar-se que não estava, o que causou o desagrado geral, na medida em que o pessoal reivindica os direitos adquiridos sobre os mimos já alcançados, bom serviço, bom preço, e boa pinga, a célebre Esteva. O vinho sobre as mesas, com as garrafas já abertas, era da Casa Messias, mas do desagrado geral. Diligenciaram a substituição em poucos minutos provinda do Guincho, mas veio alguma coisa da região de Setúbal, um vinho escuro, áspero, só para pessoal de barba e palato rijo. Depois constatámos a falta de dois elementos, um na cozinha, outro na sala, a que se juntou uma outra confusão com a atribuição de uma dose para seis, numa mesa de 3, e vice-versa. O Senhor Comandante reagiu mal, pois até ele era afectado. A comida apresentou-se ao nível costumeiro. Logo se decidiu que o próximo encontro realizar-se-á noutro local.
Tiraram-se fotografias, e conviveu-se, com a dificuldade de serem convívios restritos à proximidade de cada mesa, e ao que era possível nos intervalos. Eu tive que sair mais cedo, 3 camaradas acompanharam-me, pois entreguei-lhes as chaves de casa para terem o que fazer, e fui avaliar a reparação de um estrago que fiz há dias atrás. Abalei preocupado, pois se os três gentios descobrissem onde guardo o melhor produto embotelhado, ficaria a chupar o dedo, dadas as evidentes facilidades de arrumação dos individuos, o João António e o Carlos Santa, apesar do perigo maior vir do perigoso lingrinhas To Zé Castanheira. Quando cheguei a casa, estavam encostados ao carro, no estacionamento, pois não tinham dado com as chaves acertadas. Já iam lindos, como se infere com facilidade. Mamaram um terço de uma Canadian Clube, deixaram-me para o jantar o equivalente a um copinho de Esteva, aberto na ocasião, e, tanto eu, como o João António, tomámos dois cálices de uma reserva Portal, que há una anos trouxe da adega. A minha psicóloga teve que ir perto de S. João das Lampas, no concelho de Sintra, buscar o neto que ali mora e frequenta a escola, pelo que ainda salvei uma boa parte dos líquidos disponibilizados. Avé!
Logo após os camaradas terem saído, telefonou-me o gerente do restaurante, que pediu desculpa pelas más ocorrências, e a quem comuniquei que vamos para outro azimute na próxima ocasião, mas, posteriormente, voltaremos ao contacto. É que uma mudança de ares pode fazer bem.
Assim, muito mal informado sobre os acontecimentos durante a minha ausência do encontro, não tive qualquer notícia desagradável, pelo que as coisas correram bem, e sei que houve pelo menos um encontro desde há 40 anos. Também tentei ligar ao Luís Graça, que teve a gentiliza de me enviar uma mensagem que só abri à posterior, mas não atendeu, e já era tarde na viragem do dia. Também falei com o Senhor Comandante que se referiu ao azar do serviço, e manifestou-me a preocupação se promoverem encontros mais garantidos, no sentido de proporcionar as melhores condições para convívio. Aceitou o argumento de que Oitavos vai sofrer uma punição, mas que oferece excelentes condições de localização, de estacionamento, de instalação, e tem sido uma excelente relação qualidade/preço. Verá-se, como dizia o outro.
Ainda me recomendou a transmissão de saudações para todos os camaradas do Blogue.
OBS: - Selecção das fotos da responsabilidade do editor
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Nota do editor
Último poste da série de 22 de Março de 2015 > Guiné 63/74 - P14398: Convívios (659): Encontro do pessoal da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato e Mansoa, 1965/67), dia 23 de Maio de 2015 em Fátima (Rui Silva)
No passado domingo, dia 15, recebi um surpreendente telefonema de um camarada muito estimado, cronista consagrado de estórias de antanho em confronto com a vida moderna de uma remota localidade transmontana, Brunhoso, mas também atento observador da vida moderna, em todos os seus contornos, não só rústicos, mas também cosmopolitas, onde se mostram as tendências de uma comunidade, e onde se acumulam as mais impertinentes manifestações de vaidade e inocuidade. O Francisco Baptista tem sabido lidar com as diferenças, e ainda poupa a sociedade moderna ao confronto com a sociedade de onde provém, onde se cultivavam valores e raízes.
No meio de um supermercado da capital tive a primeira oportunidade de manter uma animada conversa com ele. Falámos do Blogue, de alguns dos seus proeminentes membros, de encontros, e de matérias em que nos envolvemos. Mas também falámos de nós, do que nos anima e interessa, acabando com o desejo recíproco de provocarmos um encontro. Mas o que o Francisco queria dizer, é que tinha um grande desejo de vir ao encontro da Magnífica, mas as forças locais estavam a oferecer-lhe alguma resistência para a concessão da necessária autorização. Fronteiras do norte, claro!
Ontem, durante o encontro, citei várias outras mensagens ao pessoal, da parte de camaradas que não puderam comparecer, mas, amigavelmente, manifestaram votos de tudo decorresse com agrado geral. Foi o caso dos seguintes camaradas: o João Sacoto; o João José Martins; o Miguel Rocha, e, finalmente, o Marcelino da Mata que foi obrigado a desmarcar por força duma rara consulta médica para que foi convocado. Mereceram a atenção geral.
O dia estava bom, com temperatura agradável, que não era afectada pela suave brisa atlântica, e a luz era bastante clara, como que a sugerir a primavera que o encontro antecipou. Dois dias antes, por telefone, confirmei que estava tudo okay. Porém, na hora. veio a verificar-se que não estava, o que causou o desagrado geral, na medida em que o pessoal reivindica os direitos adquiridos sobre os mimos já alcançados, bom serviço, bom preço, e boa pinga, a célebre Esteva. O vinho sobre as mesas, com as garrafas já abertas, era da Casa Messias, mas do desagrado geral. Diligenciaram a substituição em poucos minutos provinda do Guincho, mas veio alguma coisa da região de Setúbal, um vinho escuro, áspero, só para pessoal de barba e palato rijo. Depois constatámos a falta de dois elementos, um na cozinha, outro na sala, a que se juntou uma outra confusão com a atribuição de uma dose para seis, numa mesa de 3, e vice-versa. O Senhor Comandante reagiu mal, pois até ele era afectado. A comida apresentou-se ao nível costumeiro. Logo se decidiu que o próximo encontro realizar-se-á noutro local.
Tiraram-se fotografias, e conviveu-se, com a dificuldade de serem convívios restritos à proximidade de cada mesa, e ao que era possível nos intervalos. Eu tive que sair mais cedo, 3 camaradas acompanharam-me, pois entreguei-lhes as chaves de casa para terem o que fazer, e fui avaliar a reparação de um estrago que fiz há dias atrás. Abalei preocupado, pois se os três gentios descobrissem onde guardo o melhor produto embotelhado, ficaria a chupar o dedo, dadas as evidentes facilidades de arrumação dos individuos, o João António e o Carlos Santa, apesar do perigo maior vir do perigoso lingrinhas To Zé Castanheira. Quando cheguei a casa, estavam encostados ao carro, no estacionamento, pois não tinham dado com as chaves acertadas. Já iam lindos, como se infere com facilidade. Mamaram um terço de uma Canadian Clube, deixaram-me para o jantar o equivalente a um copinho de Esteva, aberto na ocasião, e, tanto eu, como o João António, tomámos dois cálices de uma reserva Portal, que há una anos trouxe da adega. A minha psicóloga teve que ir perto de S. João das Lampas, no concelho de Sintra, buscar o neto que ali mora e frequenta a escola, pelo que ainda salvei uma boa parte dos líquidos disponibilizados. Avé!
Logo após os camaradas terem saído, telefonou-me o gerente do restaurante, que pediu desculpa pelas más ocorrências, e a quem comuniquei que vamos para outro azimute na próxima ocasião, mas, posteriormente, voltaremos ao contacto. É que uma mudança de ares pode fazer bem.
Assim, muito mal informado sobre os acontecimentos durante a minha ausência do encontro, não tive qualquer notícia desagradável, pelo que as coisas correram bem, e sei que houve pelo menos um encontro desde há 40 anos. Também tentei ligar ao Luís Graça, que teve a gentiliza de me enviar uma mensagem que só abri à posterior, mas não atendeu, e já era tarde na viragem do dia. Também falei com o Senhor Comandante que se referiu ao azar do serviço, e manifestou-me a preocupação se promoverem encontros mais garantidos, no sentido de proporcionar as melhores condições para convívio. Aceitou o argumento de que Oitavos vai sofrer uma punição, mas que oferece excelentes condições de localização, de estacionamento, de instalação, e tem sido uma excelente relação qualidade/preço. Verá-se, como dizia o outro.
Ainda me recomendou a transmissão de saudações para todos os camaradas do Blogue.
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OBS: - Selecção das fotos da responsabilidade do editor
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Nota do editor
Último poste da série de 22 de Março de 2015 > Guiné 63/74 - P14398: Convívios (659): Encontro do pessoal da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato e Mansoa, 1965/67), dia 23 de Maio de 2015 em Fátima (Rui Silva)
Guiné 63/74 - P14400: Notas de leitura (695): "Império Ultramarino Português", Empresa Nacional de Publicidade, 1950 (1) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 3 de Junho de 2014:
Queridos amigos,
Henrique Galvão e Carlos Selvagem são nomes de operativos coloniais e da boa escrita. Lançaram-se num empreendimento que foi a monografia do Império, injustamente esquecida.
É uma obra de divulgação que denota trabalho muito sério. Atenda-se à bibliografia, e veja-se como os dois escritores não descuraram as obras de maior interesse para a época. A única estranheza é não terem ido à atualidade, findaram a sua história da Guiné com o fim das guerras de ocupação, em 1936. Ora, Sarmento Rodrigues já estava a fazer uma obra de grande importância, tanto no campo da urbanização e obras públicas como na cultura, foi ele quem pôs a Guiné no mapa, subtraindo-a da obscuridade extrema em que se encontrava.
Deixa-se para outro texto o olhar destes dois autores sobre os aspetos parcelares daquele território que foi a colónia mais antiga do mundo moderno.
Um abraço do
Mário
Império Ultramarino Português (1)
(Monografia do Império), por Henrique Galvão e Carlos Selvagem
Beja Santos
A Empresa Nacional de Publicidade publicou em 1950, em quatro volumes, uma ousada obra de divulgação, uma detalhada monografia do Império. Assombra rarissimamente ver esta obra referida na bibliografia do Império Ultramarino: tem teoria que permite aferir as múltiplas conceções sobre o império, o que já não é pouco; e possui uma incontestável informação que nos leva a crer tratar-se de uma obra de divulgação ímpar, sem rival. Os autores esclarecem logo à entrada: “Obra de informação geral sobre o Império, objetiva, escrupulosa, completa – e, ao mesmo tempo, mais um subsídio de cultura média a amparar e guiar a consciência colonial do país”. Como se compreenderá, iremos falar exclusivamente da Guiné, matéria tratada nos dois primeiros volumes.
Convém registar o que estes dois autores, nomes conceituados até dentro do regime, escreveram sobre o projeto henriquino: “O projeto de atingir por mar os fabulosos reinos do interior de África, de onde vinha o oiro, o marfim, as especiarias, os escravos negros, germinou no cérebro do Infante depois da sua ida à conquista de Ceuta pelas informações que ali veio a ter do intenso comércio das caravanas árabes e berberes através do Sara, vinda do grande empório de Tombuctu, dos Mandingas do Império de Melli (Mali) e de outros reinos negros de Gemach e Cantor”.
À luz dos conhecimentos da época, o Saara era um mar arenoso que dividia os homens brancos e os homens pretos. No imaginário dos homens, havia a Ocidente o reino dos Guinéus, ao centro a Líbia inferior e no remoto Oriente a Etiópia, da qual começava o mar que levava às índias e às terras do Preste João.
Ultrapassado o Cabo Bojador, o projeto tornara-se irreversível. Em 1441, Antão Gonçalves atinge o Cabo Branco, capturaram-se azenegues que deram informações sobre o comércio do oiro e sobre os habitantes do Sudão. Nesse ano, a Coroa enviou um embaixador a Roma para obter do Papa a doação perpétua das terras descobertas para a Coroa de Portugal, por dever considerar-se um esforço de cruzada. Da embaixada a Roma resultou a Bula a Rex Regum, de 1443. Nesse ano, Nuno Tristão chega à ilha de Arguim e Lançarote Esteves, Almoxarife de Lagos, organizou uma frota de seis navios que partiu para Arguim e depois para a Ilha de Tider, de onde trouxeram para o reino 235 cativos – os primeiros escravos. Talvez em 1444, Dinis Dias atinge o Rio Senegal, dobra o Cabo Verde (não confundir com o arquipélago) e chegou ao Cabo dos Mastros na Baía de Goreia. Em 1446, Nuno Tristão, que já descobrira o Cabo Branco e a Ilha de Arguim, chega numa caravela à foz de um largo rio (Gâmbia? Geba?) onde veio a falecer numa refrega com nativos.
Faz-se depois um interregno que irá durar até 1456, por motivo de questões internas. Nesta data, Cadamosto faz o reconhecimento da costa desde o Cabo Roxo até ao arquipélago dos Bijagós. Criou-se a capitania e feitoria da Ilha de Arguim, na Costa da Guiné.
Com o contrato com o arrendatário Fernão Gomes, em 1469, começou a exploração do monopólio real do comércio africano. A região entre o Rio Senegal e a Serra Leoa passou a denominar-se os Rios da Guiné, ficando reservada ao comércio dos moradores do arquipélago de Cabo Verde. E começam a existir relatos sobre as populações autóctones. Ao Sul do Casamansa habitavam os Felupes, os Cassangas, encravados entre os Mandingas do interior e os Brames do Sul. As margens do Rio Cacheu eram povoadas pelos Papéis, que ocupavam também a Ilha de Bissau, do outro lado do Geba ficavam os Balantas que se estendiam até ao reino de Cantor, terra dos Mandingas. Confinando com os Mandingas estava a terra de Guinala, povoada pelos Beafadas. No extremo Sul, até ao Rio Nuno, habitavam os Nalus.
Os autores descrevem com minúcia a presença dos lançados, que acabaram por ter um papel de primordial importância como bandeirantes e até comerciantes. D. João II, não havendo qualquer sinal da ocupação portuguesa na região, tratou da ocupação militar, mandou construir uma fortaleza na foz do Rio Senegal, projeto que não teve seguimento. No início do século XVI, os escravos já eram o principal produto do comércio da Guiné e Cabo Verde, a que se seguia, com muito menos importância, o marfim, o arroz, o algodão, a cera e a malagueta. A prosperidade deste comércio despertou a cobiça de holandeses, ingleses, franceses e espanhóis. Depois da destruição da Invencível Armada, Portugal ficou desprovido de navios, o que precipitou a decadência do comércio. Em 1622, o comércio nos rios da Guiné era dominado pelos estrangeiros. Em 1628, o Governador e Capitão Geral Corte Real foi à Guiné e conseguiu expulsar os holandeses de Bezeguichor (Goreia) mas, por falta de recursos, os holandeses cedo regressaram. As únicas entidades que exerciam funções públicas nos Rios da Guiné eram os feitores.
Cacheu principiou a formar-se em 1588 quando um cabo-verdiano, Lopes Cardoso, obteve autorização do régulo brame para fundar uma aldeia e fortificá-la com algumas peças de artilharia. Cacheu será o núcleo embrionário da futura colónia da Guiné. Durante o domínio filipino a presença portuguesa nos Rios da Guiné que outrora ia do Cabo Branco até à Costa da Mina, ficou muito limitada: em 1640 ia da faixa do rio Casamansa até à foz do Bolola. De recuo em recuo, a presença portuguesa na costa da Guiné ia-se aproximando das fronteiras que irão ser desenhadas pela Convenção Luso-Francesa de 1886.
Com a Restauração, procurou recuperar-se o tempo perdido. Gonçalo Gamboa d’Ayala foi nomeado em 1641 Capitão-Mor de Cacheu, é no seu tempo que fundam Farim e Zinguichor. A partir de 1678, a administração portuguesa dos Rios da Guiné sofre uma nefasta transformação pelo estabelecimento da Companhia de Cacheu, com poderes majestáticos, criada à semelhança das companhias inglesas, francesas e holandesas. Foram tempos de abusos inomináveis que provocaram a revolta dos naturais, que atacaram a praça. A causa fundamental de todos estes distúrbios, hostilidade de indígenas e europeus, era a proibição de comércio com os estrangeiros, e estes pagavam melhor.
Bissau começou então a ganhar importância, com um núcleo de comerciantes cabo-verdianos e indígenas cristianizados, os Grumetes. Como continuasse a falta de recursos, fundou-se a Companhia de Cacheu e Cabo Verde, mas sem o exclusivo do comércio. Nova operação ruinosa.
A fortaleza de Bissau foi concluída em finais de 1697 e demolida em 1708. Em 1753, fez-se uma nova fortaleza que durou pouco. Em 1776, começou a construção da terceira fortaleza, com o nome de S. José. Com todas as suas obras de manutenção e restauro, é a fortaleza da Amura que conhecemos hoje.
Vive-se uma nova época de decadência com a malograda Sociedade de Comércio das Ilhas de Cabo Verde. Assim se chegou a 1792, ano em que uma sociedade filantrópica de Londres tentou estabelecer na costa da Guiné uma colónia europeia, com o fim de pôr em prática um regime de produção que dispensasse a escravatura e apenas se servisse de trabalhadores negros e livres. Vai começar um contencioso que ficará conhecido na história como a Questão de Bolama.
O início do século XIX é marcado pelos ataques dos Fulas ao velho Império Mandinga. A partir de 1815, um novo facto veio modificar o regime económico da Guiné – as restrições no comércio de escravos. Parecia que se ia abrir um novo ciclo de decadência. Mas uma importante viragem chegou com a nomeação de Honório Pereira Barreto como governador do distrito da Guiné (1837). Barreto irá firmar a soberania portuguesa em vários pontos da colónia, estabelecerá acordos com régulos e comprará vários territórios para a Coroa na margem esquerda do Rio Casamansa. Barreto irá escrever um documento incontornável para a compreensão da presença portuguesa, “Memória sobre o estado atual da Senegâmbia Portuguesa”.
A história moderna da Guiné inicia-se pela Carta de Lei de 18 de março de 1879 que transformou a Guiné em província ultramarina, o 1.º Governador será o Coronel Agostinho Coelho.
As rebeliões não param, envolvem Fulas, Beafadas, Papéis… autoridades e comerciantes vivem circunscritos num número reduzido de praças e presídios. Será o Capitão João Teixeira Pinto quem irá inverter essa situação através de um conjunto de campanhas que levaram a que a Guiné Continental perdesse a beligerância ativa.
Em 1928, com base no modelo holandês, a colónia é dividida administrativamente em 4 Intendências e 12 Residências, sistema que se revelou pouco eficaz, pelo que, a partir de 1933, a Guiné passou a compreender dois concelhos – Bolama e Bissau – e as 7 circunscrições civis de Cacheu, Farim, Mansoa, Bafatá, Gabu, Buba e Bijagós. Com a campanha de pacificação de Canhambaque, a partir de 1936, desapareceram os focos de rebelião da Guiné.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14391: Notas de leitura (694): Mapas da Guiné: existem muitos e estão mal estudados (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Henrique Galvão e Carlos Selvagem são nomes de operativos coloniais e da boa escrita. Lançaram-se num empreendimento que foi a monografia do Império, injustamente esquecida.
É uma obra de divulgação que denota trabalho muito sério. Atenda-se à bibliografia, e veja-se como os dois escritores não descuraram as obras de maior interesse para a época. A única estranheza é não terem ido à atualidade, findaram a sua história da Guiné com o fim das guerras de ocupação, em 1936. Ora, Sarmento Rodrigues já estava a fazer uma obra de grande importância, tanto no campo da urbanização e obras públicas como na cultura, foi ele quem pôs a Guiné no mapa, subtraindo-a da obscuridade extrema em que se encontrava.
Deixa-se para outro texto o olhar destes dois autores sobre os aspetos parcelares daquele território que foi a colónia mais antiga do mundo moderno.
Um abraço do
Mário
Império Ultramarino Português (1)
(Monografia do Império), por Henrique Galvão e Carlos Selvagem
Beja Santos
A Empresa Nacional de Publicidade publicou em 1950, em quatro volumes, uma ousada obra de divulgação, uma detalhada monografia do Império. Assombra rarissimamente ver esta obra referida na bibliografia do Império Ultramarino: tem teoria que permite aferir as múltiplas conceções sobre o império, o que já não é pouco; e possui uma incontestável informação que nos leva a crer tratar-se de uma obra de divulgação ímpar, sem rival. Os autores esclarecem logo à entrada: “Obra de informação geral sobre o Império, objetiva, escrupulosa, completa – e, ao mesmo tempo, mais um subsídio de cultura média a amparar e guiar a consciência colonial do país”. Como se compreenderá, iremos falar exclusivamente da Guiné, matéria tratada nos dois primeiros volumes.
Convém registar o que estes dois autores, nomes conceituados até dentro do regime, escreveram sobre o projeto henriquino: “O projeto de atingir por mar os fabulosos reinos do interior de África, de onde vinha o oiro, o marfim, as especiarias, os escravos negros, germinou no cérebro do Infante depois da sua ida à conquista de Ceuta pelas informações que ali veio a ter do intenso comércio das caravanas árabes e berberes através do Sara, vinda do grande empório de Tombuctu, dos Mandingas do Império de Melli (Mali) e de outros reinos negros de Gemach e Cantor”.
À luz dos conhecimentos da época, o Saara era um mar arenoso que dividia os homens brancos e os homens pretos. No imaginário dos homens, havia a Ocidente o reino dos Guinéus, ao centro a Líbia inferior e no remoto Oriente a Etiópia, da qual começava o mar que levava às índias e às terras do Preste João.
Ultrapassado o Cabo Bojador, o projeto tornara-se irreversível. Em 1441, Antão Gonçalves atinge o Cabo Branco, capturaram-se azenegues que deram informações sobre o comércio do oiro e sobre os habitantes do Sudão. Nesse ano, a Coroa enviou um embaixador a Roma para obter do Papa a doação perpétua das terras descobertas para a Coroa de Portugal, por dever considerar-se um esforço de cruzada. Da embaixada a Roma resultou a Bula a Rex Regum, de 1443. Nesse ano, Nuno Tristão chega à ilha de Arguim e Lançarote Esteves, Almoxarife de Lagos, organizou uma frota de seis navios que partiu para Arguim e depois para a Ilha de Tider, de onde trouxeram para o reino 235 cativos – os primeiros escravos. Talvez em 1444, Dinis Dias atinge o Rio Senegal, dobra o Cabo Verde (não confundir com o arquipélago) e chegou ao Cabo dos Mastros na Baía de Goreia. Em 1446, Nuno Tristão, que já descobrira o Cabo Branco e a Ilha de Arguim, chega numa caravela à foz de um largo rio (Gâmbia? Geba?) onde veio a falecer numa refrega com nativos.
Faz-se depois um interregno que irá durar até 1456, por motivo de questões internas. Nesta data, Cadamosto faz o reconhecimento da costa desde o Cabo Roxo até ao arquipélago dos Bijagós. Criou-se a capitania e feitoria da Ilha de Arguim, na Costa da Guiné.
Com o contrato com o arrendatário Fernão Gomes, em 1469, começou a exploração do monopólio real do comércio africano. A região entre o Rio Senegal e a Serra Leoa passou a denominar-se os Rios da Guiné, ficando reservada ao comércio dos moradores do arquipélago de Cabo Verde. E começam a existir relatos sobre as populações autóctones. Ao Sul do Casamansa habitavam os Felupes, os Cassangas, encravados entre os Mandingas do interior e os Brames do Sul. As margens do Rio Cacheu eram povoadas pelos Papéis, que ocupavam também a Ilha de Bissau, do outro lado do Geba ficavam os Balantas que se estendiam até ao reino de Cantor, terra dos Mandingas. Confinando com os Mandingas estava a terra de Guinala, povoada pelos Beafadas. No extremo Sul, até ao Rio Nuno, habitavam os Nalus.
Os autores descrevem com minúcia a presença dos lançados, que acabaram por ter um papel de primordial importância como bandeirantes e até comerciantes. D. João II, não havendo qualquer sinal da ocupação portuguesa na região, tratou da ocupação militar, mandou construir uma fortaleza na foz do Rio Senegal, projeto que não teve seguimento. No início do século XVI, os escravos já eram o principal produto do comércio da Guiné e Cabo Verde, a que se seguia, com muito menos importância, o marfim, o arroz, o algodão, a cera e a malagueta. A prosperidade deste comércio despertou a cobiça de holandeses, ingleses, franceses e espanhóis. Depois da destruição da Invencível Armada, Portugal ficou desprovido de navios, o que precipitou a decadência do comércio. Em 1622, o comércio nos rios da Guiné era dominado pelos estrangeiros. Em 1628, o Governador e Capitão Geral Corte Real foi à Guiné e conseguiu expulsar os holandeses de Bezeguichor (Goreia) mas, por falta de recursos, os holandeses cedo regressaram. As únicas entidades que exerciam funções públicas nos Rios da Guiné eram os feitores.
Cacheu principiou a formar-se em 1588 quando um cabo-verdiano, Lopes Cardoso, obteve autorização do régulo brame para fundar uma aldeia e fortificá-la com algumas peças de artilharia. Cacheu será o núcleo embrionário da futura colónia da Guiné. Durante o domínio filipino a presença portuguesa nos Rios da Guiné que outrora ia do Cabo Branco até à Costa da Mina, ficou muito limitada: em 1640 ia da faixa do rio Casamansa até à foz do Bolola. De recuo em recuo, a presença portuguesa na costa da Guiné ia-se aproximando das fronteiras que irão ser desenhadas pela Convenção Luso-Francesa de 1886.
Com a Restauração, procurou recuperar-se o tempo perdido. Gonçalo Gamboa d’Ayala foi nomeado em 1641 Capitão-Mor de Cacheu, é no seu tempo que fundam Farim e Zinguichor. A partir de 1678, a administração portuguesa dos Rios da Guiné sofre uma nefasta transformação pelo estabelecimento da Companhia de Cacheu, com poderes majestáticos, criada à semelhança das companhias inglesas, francesas e holandesas. Foram tempos de abusos inomináveis que provocaram a revolta dos naturais, que atacaram a praça. A causa fundamental de todos estes distúrbios, hostilidade de indígenas e europeus, era a proibição de comércio com os estrangeiros, e estes pagavam melhor.
Bissau começou então a ganhar importância, com um núcleo de comerciantes cabo-verdianos e indígenas cristianizados, os Grumetes. Como continuasse a falta de recursos, fundou-se a Companhia de Cacheu e Cabo Verde, mas sem o exclusivo do comércio. Nova operação ruinosa.
A fortaleza de Bissau foi concluída em finais de 1697 e demolida em 1708. Em 1753, fez-se uma nova fortaleza que durou pouco. Em 1776, começou a construção da terceira fortaleza, com o nome de S. José. Com todas as suas obras de manutenção e restauro, é a fortaleza da Amura que conhecemos hoje.
Vive-se uma nova época de decadência com a malograda Sociedade de Comércio das Ilhas de Cabo Verde. Assim se chegou a 1792, ano em que uma sociedade filantrópica de Londres tentou estabelecer na costa da Guiné uma colónia europeia, com o fim de pôr em prática um regime de produção que dispensasse a escravatura e apenas se servisse de trabalhadores negros e livres. Vai começar um contencioso que ficará conhecido na história como a Questão de Bolama.
O início do século XIX é marcado pelos ataques dos Fulas ao velho Império Mandinga. A partir de 1815, um novo facto veio modificar o regime económico da Guiné – as restrições no comércio de escravos. Parecia que se ia abrir um novo ciclo de decadência. Mas uma importante viragem chegou com a nomeação de Honório Pereira Barreto como governador do distrito da Guiné (1837). Barreto irá firmar a soberania portuguesa em vários pontos da colónia, estabelecerá acordos com régulos e comprará vários territórios para a Coroa na margem esquerda do Rio Casamansa. Barreto irá escrever um documento incontornável para a compreensão da presença portuguesa, “Memória sobre o estado atual da Senegâmbia Portuguesa”.
A história moderna da Guiné inicia-se pela Carta de Lei de 18 de março de 1879 que transformou a Guiné em província ultramarina, o 1.º Governador será o Coronel Agostinho Coelho.
As rebeliões não param, envolvem Fulas, Beafadas, Papéis… autoridades e comerciantes vivem circunscritos num número reduzido de praças e presídios. Será o Capitão João Teixeira Pinto quem irá inverter essa situação através de um conjunto de campanhas que levaram a que a Guiné Continental perdesse a beligerância ativa.
Em 1928, com base no modelo holandês, a colónia é dividida administrativamente em 4 Intendências e 12 Residências, sistema que se revelou pouco eficaz, pelo que, a partir de 1933, a Guiné passou a compreender dois concelhos – Bolama e Bissau – e as 7 circunscrições civis de Cacheu, Farim, Mansoa, Bafatá, Gabu, Buba e Bijagós. Com a campanha de pacificação de Canhambaque, a partir de 1936, desapareceram os focos de rebelião da Guiné.
(Continua)
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14391: Notas de leitura (694): Mapas da Guiné: existem muitos e estão mal estudados (Mário Beja Santos)
domingo, 22 de março de 2015
Guiné 63/74 - P14399: Brunhoso há 50 anos (3): Festejos do Entrudo (Francisco Baptista, ex-Alf Mil da CCAÇ 2616 e CART 2732)
Brunhoso - Com a devida vénia
1. Em mensagem do dia 17 de Março de 2015, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), fala-nos dos festejos do Caranaval de antigamente da sua terra, Brunhoso.
Brunhoso há 50 anos
3 - Festejos do Entrudo
Como em quase todas as terras do nordeste transmontano e provavelmente na maioria das aldeias do interior do país, em Brunhoso celebravam-se três festas anuais: o Carnaval, o Natal e festa a um santo que nem sempre coincidia com o santo padroeiro.
No Carnaval, festa do tempo frio de Fevereiro, comia-se em excesso, sobretudo ao almoço, era o tempo das casulas com o bulho, noutras terras chamado butelo, o pé de porco, a orelha, a linguiça, tudo cozido numa grande panela de ferro à lareira. Bebia-se em excesso sobretudo vinho, durante o dia e noite, até as forças e as pernas o permitirem.
Os rapazes todos os anos faziam um grande boneco, com roupas velhas, que enchiam de palha, muitos deles vestiam-se com roupas de mulher ou disfarçados doutras formas, eram os caretos, passeavam pela aldeia, esse boneco, que era o Entrudo, num carro de vacas ou às costas de uns e outros, ao som de quadras improvisadas referidas ao dia e à figura, com muitas bombas de carnaval e bombas de lágrimas coloridas (rasca-pés na gíria do povo). Essa figura, da qual desconheço a origem e a idade, ganhou tanta importância que só recentemente entendi por que é que os meus conterrâneos falavam sempre no dia de Entrudo e não no dia de Carnaval. No Carnaval o rei era o Entrudo, um rei maltratado com violência física e verbal.
Acredito que quase toda a aldeia perdeu a memória da palavra Carnaval para se fixar somente no Entrudo, essa figura trágica, tão maltratada. O Carnaval ou Entrudo que dizem alguns eruditos terá origens em cultos anteriores ao cristianismo, tem um pouco de todos esses excessos dalgumas festas gregas, celtas, romanas e doutros povos, é pois natural que tenha uma origem muito antiga. Sendo uma festa popular, de brincadeiras, excessos vínicos e outros, sobretudo masculinos, pois era uma festa de rapazes e homens.
Festa que as mulheres toleravam e em que passivamente participavam, mostrando bastante medo, real ou ficticio pelo Entrudo e pelos caretos, e na alimentação melhorada em doces e petiscos que faziam, sabendo que estavam a contribuir para melhorar essa grande farra que era sobretudo deles, dos seus homens e dos seus filhos.
Caretos de Trás-os-Montes
O trabalho era muito, era duro, quase não havia dias de folga, os homens tinham direito a esse dia de descontração e de abandono das regras a que essa vida dura os obrigava. A Igreja, embora contrariada, também tolerava essa festa que não era dedicada a nenhum Deus ou Santo do seu calendário. A Quaresma estava à porta e os homens seriam obrigados a cumprir muitas penitências.
O antigo regime sendo tão austero e pouco tolerante com manifestações populares, sempre admitiu esse desvario, esse excesso com tanto álcool, bombas e arruaças.
Nunca se deve impedir a respiração da alma de um povo, Salazar, um ditador bastante erudito, criado junto do povo, compreendeu isso. A democracia, oxalá se mantenha, tem procurado acabar com o Carnaval. Para mim isso é das ofensas mais mesquinhas que têm tentado fazer ao povo, e estou a falar do povo mais humilde, que é o que mais se diverte nesse dia. É muito grave tirar-lhe o pão, mais grave ainda é querer tirar-lhe a alma e a alegria de viver.
Quem quis ou quem quer acabar com o Carnaval, nunca bebeu um copo de vinho numa roda na praça de uma aldeia, a passar de boca em boca, nunca conheceu nem amou esse povo simples e trabalhador.
Quando se fala tanto e se promovem patrimónios materiais e imateriais de Portugal para turista estrangeiro ver, ouvir, apreciar, porquê querer destruir a alma de um povo naquilo que ela tem de mais antigo, tão antigo, que ele encontra e abraça, uma multidão de parentes e amigos, que consigo vêm confraternizar nessa grande festa, nesse convívio tão pleno de emoções, tão alargado aos que partiram para longes terras, aos que continuam a sobreviver lá, em condições cada vez mais difíceis e aos que partiram para lá da vida.
VIVA O CARNAVAL! VIVA O ENTRUDO!
Saudações Transmontanas!
Um abraço
Francisco Baptista
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Nota do editor
Último poste da série de 18 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14381: Brunhoso há 50 anos (2): As Autoridades - Continuação (Francisco Baptista)
Guiné 63/74 - P14398: Convívios (659): Encontro do pessoal da CCAÇ 816 (Bissorã, Olossato e Mansoa, 1965/67), dia 23 de Maio de 2015 em Fátima (Rui Silva)
1. Mensagem do nosso camarada Rui Silva (ex-Fur Mil da CCAÇ 816, Bissorã, Olossato, Mansoa, 1965/67), com data de 17 de Março de 2015:
Caros e considerados amigos Luís, Vinhal e Magalhães Ribeiro
Recebam os maiores votos de uma boa saúde e também de uma boa forma (sempre) para sustentar este extraordinário Blogue.
Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.
Queiram publicar no Blogue o anúncio de mais uma Festa anual da Companhia de Caçadores n.º 816 - Guiné Portuguesa 1965 / 67, e do qual se junta em anexo.
Passem bem (!) e daqui vai também um grande abraço.
Rui Silva
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Nota do editor
Último poste da série de 18 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14382: Convívios (658): Almoço do pessoal da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, dia 18 de Abril de 2015 em Vila Real (António Nobre)
Caros e considerados amigos Luís, Vinhal e Magalhães Ribeiro
Recebam os maiores votos de uma boa saúde e também de uma boa forma (sempre) para sustentar este extraordinário Blogue.
Como sempre as minhas primeiras palavras são de saudação para todos os camaradas ex-Combatentes da Guiné, mais ainda para aqueles que de algum modo ainda sofrem de sequelas daquela maldita guerra.
Queiram publicar no Blogue o anúncio de mais uma Festa anual da Companhia de Caçadores n.º 816 - Guiné Portuguesa 1965 / 67, e do qual se junta em anexo.
Passem bem (!) e daqui vai também um grande abraço.
Rui Silva
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Nota do editor
Último poste da série de 18 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14382: Convívios (658): Almoço do pessoal da CCAÇ 2464/BCAÇ 2861, dia 18 de Abril de 2015 em Vila Real (António Nobre)
Guiné 63/74 - P14397: Libertando-me (Tony Borié) (9): Este fui eu
Nono episódio da série "Libertando-me" do nosso camarada Tony Borié, ex-1.º Cabo Operador Cripto do CMD AGR 16, Mansoa, 1964/66.
Esta personagem fui eu, mas penso que, talvez em parte, também eras tu, que nasceste entre os anos trinta e cinquenta do século passado ou talvez até antes ou depois, andaste por aí, sobreviveste e hoje até tens a pachorra de me estar a ler.
Isto não é impressionante? Sobrevivemos, sendo filhos de mães que não se alimentavam com todas aquelas proteínas necessárias para o bom funcionamento do organismo, comiam queijo e toucinho gorduroso, andavam de “de barriga à boca”, até ao último dia, sempre a trabalhar na agricultura, sujas, com as pernas cheias de “varizes”, que eram umas veias saídas nas pernas, muito perigosas, devido ao esforço despendido e, talvez não só, algumas bebiam álcool, enquanto estavam grávidas, sem nunca fazerem um simples teste de diabetes. Nascemos. Fomos colocados para dormir, em berços ou numa simples canastra, cobertos com cobertores, farrapos ou panos feitos com tintas coloridas, feitas à base de chumbo, à base de brilhantes, de barriga para baixo ou para cima, um farrapo borrado e molhado por horas, chorando, às vezes chupando num pano molhado em água de açúcar, ou quando as nossas mães queriam trabalhar sem ouvir o nosso choro, nos colocavam um pouco de pão molhado em vinho, na boca, para assim, “adormecermos”.
Ouviam-te chorar. Talvez com dores em qualquer parte do corpo, embalavam-te por alguns momentos e calavas-te, não te administrando qualquer medicamento.
Mais tarde. Com a tal baba e ranho no nariz, às vezes sujo e com pouca roupa no corpo, pois normalmente usavas o resto da roupa dos teus irmãos, ou até do teu pai, fazendo chuva, frio ou calor, vias as outras pessoas andarem de bicicleta, sem capacetes ou outros utensílios de segurança, os que andavam de carro, não usavam cintos de segurança, as crianças não tinham assentos especiais, os pneus estavam carecas, não havia “air bags” e às vezes nem travões.
Bebíamos água dos ribeiros, das fontes, dos poços ou das minas e, não da garrafa.
Compartilhávamos um “pirolito” com quatro amigos, bebendo da mesma garrafa e ninguém realmente morreu por isso.
Comíamos biscoitos, broa, pão branco, manteiga real, toucinho, batatas, nabos, couves, feijão, arroz, mal ou bem cozinhado, bem ou mal lavados, na tal panela de três pernas, comunitária, que cozinhava para a família, às vezes para os vizinhos e entalava alguns legumes para os animais, tudo temperado às vezes com sal “amarelo e rançoso”, que se tirava da caixa, a que se chamava “salgadeira”, onde se guardava a carne salgada do porco, laranjadas ou pirolitos, feitos de água com açúcar, o que queríamos era “encher a barriga” e, nunca estávamos acima do peso.
Porquê? Porque estávamos sempre a brincar, ou a trabalhar na agricultura, lá fora, pois saíamos de casa pela manhã e andávamos lá fora o dia todo, estávamos de volta quando o sol desaparecia. Chegámos até aos dias de hoje, talvez porque passávamos horas construindo os nossos brinquedos, como por exemplo carrinhos de madeira com rodas de toros de pinheiros e, montá-los ladeira abaixo, sem travões, caindo e levantando-nos sem nunca nos queixarmos, aprendendo assim a resolver os nossos problemas.
E claro, aprendemos o “a, e, i, o, u”, ou a “a, b, c”, naquela “lousa” de pedra preta, onde um lápis era um “riscador”, também de pedra preta, sabíamos a “tabuada” de cor e salteado, nas salas de aula não havia tecto, víamos as telhas onde fazia frio no inverno e eram quentes a partir de Maio e, estava lá, ao lado daquele quadro, que nos parecia muito grande, uma cana comprida para manter o respeito, não tínhamos Playstations, Nintendos, jogos de vídeo, 150 canais na TV a cabo, não havia filmes de vídeo ou DVDs, com som surround, telefones celulares, computadores pessoais, com Internet.
Mas tínhamos amigos, era só vir à rua e encontrá-los. Só havia dois modelos de corte de cabelo, era comprido, de vários meses, talvez até anos, sem nunca ter sido cortado, onde havia os tais insectos a que nós chamávamos “lendias e piolhos”, ou rapado, onde o barbeiro deixava uma “franginha” na frente a cobrir parte da testa, caíamos das árvores, ficávamos magoados, quebrávamos os ossos ou até os dentes e não se ia ao hospital, nem havia acções contra as companhias de seguros por esses acidentes.
Comíamos vermes, terra e lama, enquanto brincávamos em terreno sujo e, os vermes não continuavam a viver em nós por toda a vida. Pelo nosso aniversário nunca nos deram brinquedos, tais como cópias de armas modernas, como pistolas e metralhadorasdo último modelo, mas sim brinquedos feitos por familiares, com paus ou bolas de trapos.
Aprendíamos a lidar com a decepção, se não éramos escolhidos para a equipa de futebol da nossa rua ou bairro.
Era inédita a ideia que os nossos pais iam socorrer-nos se por acaso quebrássemos a lei, pois eles realmente estavam sempre do lado da lei.
A nossa geração passou, entre outras, pela Segunda Guerra Mundial, por aquela maldita Guerra do Ultramar, produziu alguns dos melhores inventores, tendo sido em parte, uma explosão de inovação, nasceram líderes, claro, com algumas excepções, que têm solucionado a maior parte dos problemas que vão afectando o mundo de hoje, num mundo onde cada vez existem mais facilidades para alguns, mas muito mais dificuldades de sobrevivência, pelo menos para nós, os tais que nascemos entre aquelas datas, alguns até antes ou depois e, tanto no fracasso como no sucesso, sempre assumimos a nossa responsabilidade, os nossos compromissos, a palavra dada, para nós conta e aprendemos a lidar com tudo isso, embora agora, como já mencionámos antes, com muito mais dificuldade.
Se tu, que me estás a ler, és um deles, PARABÉNS. Tenta sobreviver, companheiro de jornada.
Tony Borie, Abril de 2014
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Nota do editor
Último poste da série de 15 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14368: Libertando-me (Tony Borié) (8): Retire da Terra o que é necessário para viver e nada mais
Esta personagem fui eu, mas penso que, talvez em parte, também eras tu, que nasceste entre os anos trinta e cinquenta do século passado ou talvez até antes ou depois, andaste por aí, sobreviveste e hoje até tens a pachorra de me estar a ler.
Isto não é impressionante? Sobrevivemos, sendo filhos de mães que não se alimentavam com todas aquelas proteínas necessárias para o bom funcionamento do organismo, comiam queijo e toucinho gorduroso, andavam de “de barriga à boca”, até ao último dia, sempre a trabalhar na agricultura, sujas, com as pernas cheias de “varizes”, que eram umas veias saídas nas pernas, muito perigosas, devido ao esforço despendido e, talvez não só, algumas bebiam álcool, enquanto estavam grávidas, sem nunca fazerem um simples teste de diabetes. Nascemos. Fomos colocados para dormir, em berços ou numa simples canastra, cobertos com cobertores, farrapos ou panos feitos com tintas coloridas, feitas à base de chumbo, à base de brilhantes, de barriga para baixo ou para cima, um farrapo borrado e molhado por horas, chorando, às vezes chupando num pano molhado em água de açúcar, ou quando as nossas mães queriam trabalhar sem ouvir o nosso choro, nos colocavam um pouco de pão molhado em vinho, na boca, para assim, “adormecermos”.
Ouviam-te chorar. Talvez com dores em qualquer parte do corpo, embalavam-te por alguns momentos e calavas-te, não te administrando qualquer medicamento.
Mais tarde. Com a tal baba e ranho no nariz, às vezes sujo e com pouca roupa no corpo, pois normalmente usavas o resto da roupa dos teus irmãos, ou até do teu pai, fazendo chuva, frio ou calor, vias as outras pessoas andarem de bicicleta, sem capacetes ou outros utensílios de segurança, os que andavam de carro, não usavam cintos de segurança, as crianças não tinham assentos especiais, os pneus estavam carecas, não havia “air bags” e às vezes nem travões.
Bebíamos água dos ribeiros, das fontes, dos poços ou das minas e, não da garrafa.
Compartilhávamos um “pirolito” com quatro amigos, bebendo da mesma garrafa e ninguém realmente morreu por isso.
Comíamos biscoitos, broa, pão branco, manteiga real, toucinho, batatas, nabos, couves, feijão, arroz, mal ou bem cozinhado, bem ou mal lavados, na tal panela de três pernas, comunitária, que cozinhava para a família, às vezes para os vizinhos e entalava alguns legumes para os animais, tudo temperado às vezes com sal “amarelo e rançoso”, que se tirava da caixa, a que se chamava “salgadeira”, onde se guardava a carne salgada do porco, laranjadas ou pirolitos, feitos de água com açúcar, o que queríamos era “encher a barriga” e, nunca estávamos acima do peso.
Porquê? Porque estávamos sempre a brincar, ou a trabalhar na agricultura, lá fora, pois saíamos de casa pela manhã e andávamos lá fora o dia todo, estávamos de volta quando o sol desaparecia. Chegámos até aos dias de hoje, talvez porque passávamos horas construindo os nossos brinquedos, como por exemplo carrinhos de madeira com rodas de toros de pinheiros e, montá-los ladeira abaixo, sem travões, caindo e levantando-nos sem nunca nos queixarmos, aprendendo assim a resolver os nossos problemas.
E claro, aprendemos o “a, e, i, o, u”, ou a “a, b, c”, naquela “lousa” de pedra preta, onde um lápis era um “riscador”, também de pedra preta, sabíamos a “tabuada” de cor e salteado, nas salas de aula não havia tecto, víamos as telhas onde fazia frio no inverno e eram quentes a partir de Maio e, estava lá, ao lado daquele quadro, que nos parecia muito grande, uma cana comprida para manter o respeito, não tínhamos Playstations, Nintendos, jogos de vídeo, 150 canais na TV a cabo, não havia filmes de vídeo ou DVDs, com som surround, telefones celulares, computadores pessoais, com Internet.
Mas tínhamos amigos, era só vir à rua e encontrá-los. Só havia dois modelos de corte de cabelo, era comprido, de vários meses, talvez até anos, sem nunca ter sido cortado, onde havia os tais insectos a que nós chamávamos “lendias e piolhos”, ou rapado, onde o barbeiro deixava uma “franginha” na frente a cobrir parte da testa, caíamos das árvores, ficávamos magoados, quebrávamos os ossos ou até os dentes e não se ia ao hospital, nem havia acções contra as companhias de seguros por esses acidentes.
Comíamos vermes, terra e lama, enquanto brincávamos em terreno sujo e, os vermes não continuavam a viver em nós por toda a vida. Pelo nosso aniversário nunca nos deram brinquedos, tais como cópias de armas modernas, como pistolas e metralhadorasdo último modelo, mas sim brinquedos feitos por familiares, com paus ou bolas de trapos.
Aprendíamos a lidar com a decepção, se não éramos escolhidos para a equipa de futebol da nossa rua ou bairro.
Era inédita a ideia que os nossos pais iam socorrer-nos se por acaso quebrássemos a lei, pois eles realmente estavam sempre do lado da lei.
A nossa geração passou, entre outras, pela Segunda Guerra Mundial, por aquela maldita Guerra do Ultramar, produziu alguns dos melhores inventores, tendo sido em parte, uma explosão de inovação, nasceram líderes, claro, com algumas excepções, que têm solucionado a maior parte dos problemas que vão afectando o mundo de hoje, num mundo onde cada vez existem mais facilidades para alguns, mas muito mais dificuldades de sobrevivência, pelo menos para nós, os tais que nascemos entre aquelas datas, alguns até antes ou depois e, tanto no fracasso como no sucesso, sempre assumimos a nossa responsabilidade, os nossos compromissos, a palavra dada, para nós conta e aprendemos a lidar com tudo isso, embora agora, como já mencionámos antes, com muito mais dificuldade.
Se tu, que me estás a ler, és um deles, PARABÉNS. Tenta sobreviver, companheiro de jornada.
Tony Borie, Abril de 2014
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Nota do editor
Último poste da série de 15 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14368: Libertando-me (Tony Borié) (8): Retire da Terra o que é necessário para viver e nada mais
Guiné 63/74 - P14396: Parabéns a você (877): José Lino Oliveira, ex-Fur Mil Amanuense do BCAÇ 4612/74 (Guiné, 1974)
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Nota do editor
Último poste da série de 17 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14375: Parabéns a você (876): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil TRMS do BART 2917 (Guiné, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 17 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14375: Parabéns a você (876): José Armando F. Almeida, ex-Fur Mil TRMS do BART 2917 (Guiné, 1970/72)
sábado, 21 de março de 2015
Guiné 63/74 - P14395: (In)citações (74): Fotos que por acaso não são da minha motorizada nem de uma outra portuguesa (Henrique Cerqueira)
1. Mensagem do nosso camarada Henrique Cerqueira (ex-Fur Mil da 3.ª CCAÇ/BCAÇ 4610/72, Biambe e Bissorã, 1972/74), com data de 17 de Março de 2015:
Caro camarada Luís Graça
Desta vês lanças o desafio das motos que tínhamos na Guiné e de preferência as Portuguesas.
Ora muito bem, aí vão umas fotos que por acaso não são da minha moto nem de uma Portuguesa.
O meu Miguel era um exímio condutor. As fotos ilustram o seu percurso. Ou seja, ele começou aos dois anos (aconselhável a todos os próximos condutores) a aprender a conduzir.
Começou por aprender em carrinho de rolamentos, depois passou para veículos militares, mais propriamente os “Mercedes militares” e então, como era a sua maior aspiração, passou às motos de Muito Alta Cilindrada, tão alta que a sua moto, como está representada, dava para tirar o motor enquanto estava parada, não fosse outro qualquer motar qualquer se servir dela.
Desculpem lá mas sinto muito orgulho de ter um filho que aos dois anos já era um excelente praticante das grandes velocidades.
Agora a falar a sério. Eu achei por bem enviar este escrito só para brincar um pouco.
Em Bissorã havia um menino mimado, que creio que era sobrinho do Amílcar Cabral, que tinha uma moto, mas esse preferia as Japonesas (Honda) penso até que era moda lá dos meninos bem da Guiné da altura. Nada de ressentimentos, mas às veses custava um pouco ter de fazer colunas de proteção para esses meninos se deslocarem a Mansoa ou Bissau.
Já a moto do Miguel, que penso que era uma BSA ou Triunf, era altamente ecológica porque gastava zero aos cem (sem motor).
Convém não esquecer que o Miguel nas suas lides motorizadas era sempre supervisionado pelo fiel amigo Inhatna Biofa. Nunca correu perigo de transgressão.
Malta um abraço e desculpem lá qualquer coisinha.
Henrique Cerqueira
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de janeiro de 2015 > Guiné 63/74 - P14136: (In)citações (73): Vive la Liberté! Vive la France" (Francisco Baptista, ex-alf mil, inf, CCAÇ 2616, Buba, 1970/71, e CART 2732, Mansabá, 1971/72)]
Guiné 63/74 - P14394: Memórias da CCAÇ 1546 (Domingos Gonçalves) (10) - Reportagens da Época (1967): Operação Cernelha
1. Mensagem do nosso camarada Domingos Gonçalves, (ex-Alf Mil da CCAÇ 1546/BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68) com data de 17 de Março de 2015:
Braga, 15/03/2015Prezado Luís Graça:
Envio mais alguns dados, de vivências da Guiné, após sobre os mesmos terem passado 47 anos.
Com um abraço amigo,
Domingos Gonçalves
MEMÓRIAS DA CCAÇ 1546 (1967)
REPORTAGENS DA ÉPOCA
10 - Operação Cernelha
Binta, 17/03/1967
São 15 horas. O Sol queima. A estrada até Guidage vai desfazer-se em pó.
Sinto medo.
A operação é arriscada.
Mesmo assim vou.
Todos vamos.
Em mim o temor e a esperança quase se confundem. Mas vou. Melhor, vamos.
Pouco depois das quatro horas da tarde a coluna partiu rumo a Guidage. O destino final chama-se Sambuiá.
Às dezoito horas chegou-se ao destacamento de Guidage.
Às 24, iniciou-se a marcha para o objectivo, seguindo pela estrada que vai por Facã, rumo à base turra de Sambuiá.
É a operação “Cernelha” que está em marcha.
Isto, de facto, não passa de uma tourada. De uma tourada que se repete muitas vezes, mas onde não se percebe muito bem quem são os touros, e quem são os toureiros. É que, às vezes, fica-me a sensação de que desempenhamos aqui um duplo papel: conforme as circunstâncias, tanto toureamos, como até somos toureados.
Dia 18
Pelas três da madrugada, entre Facã e a estrada de Bigene, fizemos uma pequena paragem para descansar.
Até os habitantes da selva sofrem com a guerra, que não respeita os seus habitats naturais, e o sossego de que deveriam beneficiar.
Após o rebentamento de cada granada, que as peças de artilharia disparam, cai sobre a selva um silêncio soturno, enorme, como que de protesto contra esta agressão, de que a própria natureza é vítima.
Pelas três e meia prosseguimos a marcha. Pelas quatro, atravessámos a estrada de Bigene.
Pelas cinco horas passou-se a ocidente da antiga tabanca de Sambuiá. Às seis horas atacou-se o objectivo.
O fogo foi intenso, e prolongado. Durante cerca de meia hora as nossas armas, e as deles, dispararam um pouco ao acaso, orientadas mais pelo ruído dos tiros do adversário, do que pela localização de um objectivo concreto. Foi uma tempestade de tiros de armas ligeiras, de granadas de morteiro, de bazookadas e roketadas.
E não se conseguiu entrar na base do inimigo. Os gajos têm, ao que parece, abrigos subterrâneos, o que lhes permite uma boa defesa. Para além disso, ninguém conhece muito bem a localização da base.
Por certo que o local onde nos barraram a passagem com fogo bem conduzido e certeiro, está ainda a uma considerável distância do local onde pretendíamos chegar.
Braga, 15/03/2015Prezado Luís Graça:
Envio mais alguns dados, de vivências da Guiné, após sobre os mesmos terem passado 47 anos.
Com um abraço amigo,
Domingos Gonçalves
MEMÓRIAS DA CCAÇ 1546 (1967)
REPORTAGENS DA ÉPOCA
10 - Operação Cernelha
Binta, 17/03/1967
São 15 horas. O Sol queima. A estrada até Guidage vai desfazer-se em pó.
Sinto medo.
A operação é arriscada.
Mesmo assim vou.
Todos vamos.
Em mim o temor e a esperança quase se confundem. Mas vou. Melhor, vamos.
Pouco depois das quatro horas da tarde a coluna partiu rumo a Guidage. O destino final chama-se Sambuiá.
Às dezoito horas chegou-se ao destacamento de Guidage.
Às 24, iniciou-se a marcha para o objectivo, seguindo pela estrada que vai por Facã, rumo à base turra de Sambuiá.
É a operação “Cernelha” que está em marcha.
Isto, de facto, não passa de uma tourada. De uma tourada que se repete muitas vezes, mas onde não se percebe muito bem quem são os touros, e quem são os toureiros. É que, às vezes, fica-me a sensação de que desempenhamos aqui um duplo papel: conforme as circunstâncias, tanto toureamos, como até somos toureados.
Dia 18
Pelas três da madrugada, entre Facã e a estrada de Bigene, fizemos uma pequena paragem para descansar.
A essa hora a artilharia de Bigene começou de novo a bombardear a zona onde ao amanhecer deveríamos actuar.
Mete impressão, durante o silêncio da madrugada, só quebrado pela voz da fauna selvagem, o ruído causado pelo detonar das granadas, que deixa, por breves momentos, um silêncio soturno e breve instalar-se em todo este mundo naturalmente belo, e bom.
Até os habitantes da selva sofrem com a guerra, que não respeita os seus habitats naturais, e o sossego de que deveriam beneficiar.
Após o rebentamento de cada granada, que as peças de artilharia disparam, cai sobre a selva um silêncio soturno, enorme, como que de protesto contra esta agressão, de que a própria natureza é vítima.
Pelas três e meia prosseguimos a marcha. Pelas quatro, atravessámos a estrada de Bigene.
Pelas cinco horas passou-se a ocidente da antiga tabanca de Sambuiá. Às seis horas atacou-se o objectivo.
Posições relativas de Binta / Guidage / Sambuiá
O fogo foi intenso, e prolongado. Durante cerca de meia hora as nossas armas, e as deles, dispararam um pouco ao acaso, orientadas mais pelo ruído dos tiros do adversário, do que pela localização de um objectivo concreto. Foi uma tempestade de tiros de armas ligeiras, de granadas de morteiro, de bazookadas e roketadas.
E não se conseguiu entrar na base do inimigo. Os gajos têm, ao que parece, abrigos subterrâneos, o que lhes permite uma boa defesa. Para além disso, ninguém conhece muito bem a localização da base.
Por certo que o local onde nos barraram a passagem com fogo bem conduzido e certeiro, está ainda a uma considerável distância do local onde pretendíamos chegar.
Só uma coluna de blindados teria condições para avançar no terreno, e conseguir alguns resultados, sem ficar sujeita a sofrer muitas baixas humanas.
Porém, aqui, os únicos blindados que temos são feitos de carne e osso. Um material tão precioso quanto vulnerável.
As nossas forças sofreram dois mortos, pertencentes à milícia de Binta, e vários feridos, um dos quais com bastante gravidade. Os feridos pertenciam aos “roncos” de Farim.
Durante a retirada, quando fazíamos com paus, e folhas de palmeira, macas para melhor transportar os feridos e os mortos, detectámos uma emboscada dos gajos. Conseguimos abrir fogo primeiro do que eles, e não tivemos qualquer azar.
Pouco depois das nove horas fomos sobrevoados por uma avioneta. Era o comandante que, como de costume nestas ocasiões, vinha dirigir lá de cima os acontecimentos. Pelas dez horas apareceram os bombardeiros, a escoltar os helicópteros que vinham evacuar os feridos e os mortos.
Chegaram depois de estarmos à volta de quatro horas à espera deles. Se por acaso tivéssemos necessitado de apoio aéreo para sair do local onde se iniciou o ataque, bem tramados estávamos. O apoio aéreo é eficaz e moralizador para as tropas terrestres. Porém, raras vezes aparece a tempo e horas, nos locais onde faz falta.
O regresso a Binta fez-se pela estrada que segue de Bigene para Farim. Atravessou-se, a pé, o rio Sambuiá, dado que a ponte que era de madeira foi queimada, já lá vai muito tempo.
Junto à ponte de Boborim estavam as viaturas à nossa espera.
Esta operação, em que participaram as companhias 1546, 1547, 1585 e os “Roncos” de Farim, apenas deu porrada para a nossa Companhia, e para os “Roncos” que seguiam integrados na nossa unidade.
Logo que cheguei a Binta, apesar de fatigado, ainda fui sobrevoar Sambuiá, de avioneta, em missão de reconhecimento.
Mais uma vez fui e regressei.
Enquanto isto acontecer, todos os sacrifícios, e todos os riscos, serão sempre pequenos.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 14 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14361: Memórias da CCAÇ 1546 (1967) - Reportagens da Época (Domingos Gonçalves) (9): Golpe de mão à casa de mato de Mampatás
As nossas forças sofreram dois mortos, pertencentes à milícia de Binta, e vários feridos, um dos quais com bastante gravidade. Os feridos pertenciam aos “roncos” de Farim.
Durante a retirada, quando fazíamos com paus, e folhas de palmeira, macas para melhor transportar os feridos e os mortos, detectámos uma emboscada dos gajos. Conseguimos abrir fogo primeiro do que eles, e não tivemos qualquer azar.
Pouco depois das nove horas fomos sobrevoados por uma avioneta. Era o comandante que, como de costume nestas ocasiões, vinha dirigir lá de cima os acontecimentos. Pelas dez horas apareceram os bombardeiros, a escoltar os helicópteros que vinham evacuar os feridos e os mortos.
Chegaram depois de estarmos à volta de quatro horas à espera deles. Se por acaso tivéssemos necessitado de apoio aéreo para sair do local onde se iniciou o ataque, bem tramados estávamos. O apoio aéreo é eficaz e moralizador para as tropas terrestres. Porém, raras vezes aparece a tempo e horas, nos locais onde faz falta.
O regresso a Binta fez-se pela estrada que segue de Bigene para Farim. Atravessou-se, a pé, o rio Sambuiá, dado que a ponte que era de madeira foi queimada, já lá vai muito tempo.
Junto à ponte de Boborim estavam as viaturas à nossa espera.
Esta operação, em que participaram as companhias 1546, 1547, 1585 e os “Roncos” de Farim, apenas deu porrada para a nossa Companhia, e para os “Roncos” que seguiam integrados na nossa unidade.
Logo que cheguei a Binta, apesar de fatigado, ainda fui sobrevoar Sambuiá, de avioneta, em missão de reconhecimento.
Mais uma vez fui e regressei.
Enquanto isto acontecer, todos os sacrifícios, e todos os riscos, serão sempre pequenos.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 14 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14361: Memórias da CCAÇ 1546 (1967) - Reportagens da Época (Domingos Gonçalves) (9): Golpe de mão à casa de mato de Mampatás
Guiné 63/74 - P14393: Blogpoesia (406): "Tranquilidade das águas" e "O rio da história", dois poemas para o Dia Mundial da Poesia (J.L. Mendes Gomes)
1. Em mensagem de 19 de Março de 2015, o nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66), enviou-nos dois poemas da sua autoria para publicação no Dia Mundial da Poesia que se comemora hoje.
Tranquilidade das águas…
Gosto de sair à rua
E sentir minha alma calma.
Sem uma névoa ou sombra negra.
Tudo certinho.
De nada dever.
Nem pró corpo,
Nem para o ser.
Sentir a paz
De quem não fez mal.
A ninguém ou a mim.
E o conforto
De quem ajudou.
Naquela hora exacta
Em que foi preciso.
Sei que não sou anjo.
E sou de barro.
Mas se sanar meus erros,
Reparando a dor,
E pedir desculpa,
Posso caminhar de pé
E cabeça erguida.
Viver tranquilo
Amando a vida.
Berlin, 17 de Novembro de 2014
22h30m
Joaquim Luís Mendes Gomes
O rio da história…
A história é um rio.
Longo.
Ninguém conhece onde ela nasce,
Muito menos onde é a foz.
Tem cascatas. Cachoeiras.
Afluentes e confluentes.
Muitos meandros.
Ora largos.
Quase mares.
Ora estreitos.
Quase laços.
Não tem margens.
Nem tem leito.
Ela banha todo o mundo.
Povoados.
Espaços ermos.
Florestas.
Por desertos.
Sempre a descer.
Não volta atrás.
Inundações.
Convulsões.
Muitas vagas.
Muita tormenta.
Tem lezírias.
Planuras.
A perder de vista.
Muitas barragens.
Dinastias.
Histórias de sangue.
Muitas guerras.
Muitas derrotas.
Muita luz.
Muitas vitórias.
E qual o fim?
Só no fim,
Se irá saber…
O termómetro continua a descer…
Berlim, 18 de Novembro de 2014
7h49m
Joaquim Luís Mendes Gomes
____________
Nota do editor
Último poste da série de 20 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14392: Blogpoesia (405): Paranóia ou lamentos de veterano - Ah! se eu tivesse uma G3! (Juvenal Amado)
Tranquilidade das águas…
Gosto de sair à rua
E sentir minha alma calma.
Sem uma névoa ou sombra negra.
Tudo certinho.
De nada dever.
Nem pró corpo,
Nem para o ser.
Sentir a paz
De quem não fez mal.
A ninguém ou a mim.
E o conforto
De quem ajudou.
Naquela hora exacta
Em que foi preciso.
Sei que não sou anjo.
E sou de barro.
Mas se sanar meus erros,
Reparando a dor,
E pedir desculpa,
Posso caminhar de pé
E cabeça erguida.
Viver tranquilo
Amando a vida.
Berlin, 17 de Novembro de 2014
22h30m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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O rio da história…
A história é um rio.
Longo.
Ninguém conhece onde ela nasce,
Muito menos onde é a foz.
Tem cascatas. Cachoeiras.
Afluentes e confluentes.
Muitos meandros.
Ora largos.
Quase mares.
Ora estreitos.
Quase laços.
Não tem margens.
Nem tem leito.
Ela banha todo o mundo.
Povoados.
Espaços ermos.
Florestas.
Por desertos.
Sempre a descer.
Não volta atrás.
Inundações.
Convulsões.
Muitas vagas.
Muita tormenta.
Tem lezírias.
Planuras.
A perder de vista.
Muitas barragens.
Dinastias.
Histórias de sangue.
Muitas guerras.
Muitas derrotas.
Muita luz.
Muitas vitórias.
E qual o fim?
Só no fim,
Se irá saber…
O termómetro continua a descer…
Berlim, 18 de Novembro de 2014
7h49m
Joaquim Luís Mendes Gomes
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14392: Blogpoesia (405): Paranóia ou lamentos de veterano - Ah! se eu tivesse uma G3! (Juvenal Amado)
sexta-feira, 20 de março de 2015
Guiné 63/74 - P14392: Blogpoesia (405): Paranóia ou lamentos de veterano - Ah! se eu tivesse uma G3! (Juvenal Amado)
1. Mensagem do nosso camarada Juvenal Amado (ex-1.º Cabo Condutor Auto Rodas da CCS/BCAÇ 3872, Galomaro, 1971/74), com data de 14 de Março de 2015:
Carlos e Luís
Vivo num país que não me faz chorar, faz-me enraivecer.
Na verdade esta frase do Pacifico dos Reis(*) na mensagem do José Marcelino Martins encerra um grito surdo. 26% dos portugueses não mexeriam uma palha para defender o nosso país.
Situação que espelha o desgosto, a falta de perspectivas em nos vemos mergulhados e o mau trabalho que a nível de educação se tem feito quanto ao verdadeiro valor da Pátria .
Depois nos jornais lemos que os jovens têm que emigrar para terem futuro, que reformados estão a ser despejados das suas casas, que se comem não podem comprar os remédios, famílias carenciadas com com filhos deficientes que lhes são retirados os subsídios, porque um dos conjugues arranjou um emprego e pasme-se com o ordenado mínimo etc, etc., etc..
Depois temos classe politica em que deixamos de acreditar. Agora pergunto eu, valerá a pena lutar por este país?
Eu, acredito acabaríamos por voltar a lutar, porque o sentimento de nacionalidade, e a defesa do que é a terra dos nossos antepassados, nos levaria novamente a isso.
Juvenal Amado
PARANÓIA OU LAMENTOS DE VETERANO
Ah! se eu tivesse uma G3!
Porque sou ignorado?
Mal tratado pelo o meu país
Dizem que sou parvo
E que sou maluco
Ninguém me leva a sério
Vozes de burro não chegam ao Céu
Eu lhes dava a maluqueira se tivesse uma G3!
Dizem que bebo demais
Que mal posso com as botas
Que falo sempre do mesmo
Que sabem da dor que tenho no peito?
Esta dor é como a injustiça, nunca passa
Eu é que sei onde o sapato me aperta
Mas eu lhes mostraria se tivesse uma G3!
Sem préstimo dizem
Que não mereço o chão que piso
A sombra que me protege
O pão que como
Que vontade tenho de partir
Não sabem o peso que carrego
Estou farto de palmilhar estrada
Também não sei para onde ir
Tenho as costas contra a parede
Não vejo horizontes
Ninguém ouve o meu lamento
Ninguém me leva a sério
Mas se eu tivesse uma G3 outro galo cantaria
Ah! mas se eu tivesse uma G3 iam ver
Se eu tivesse uma G3...
Juvenal Amado
____________
Notas do editor
(*) Vd. poste de 13 de março de 2015 > Guiné 63/74 – P14357: Divagações de reformado (Pacífico dos Reis) (7): Vivo num país que não me faz chorar, faz-me enraivecer
Último poste da série de 19 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14386: Blogpoesia (404): No dia do pai, um poema escolhido pelo camarada Armando Faria, "Ter um Pai", de Florbela Espanca (1894-1930)
Carlos e Luís
Vivo num país que não me faz chorar, faz-me enraivecer.
Na verdade esta frase do Pacifico dos Reis(*) na mensagem do José Marcelino Martins encerra um grito surdo. 26% dos portugueses não mexeriam uma palha para defender o nosso país.
Situação que espelha o desgosto, a falta de perspectivas em nos vemos mergulhados e o mau trabalho que a nível de educação se tem feito quanto ao verdadeiro valor da Pátria .
Depois nos jornais lemos que os jovens têm que emigrar para terem futuro, que reformados estão a ser despejados das suas casas, que se comem não podem comprar os remédios, famílias carenciadas com com filhos deficientes que lhes são retirados os subsídios, porque um dos conjugues arranjou um emprego e pasme-se com o ordenado mínimo etc, etc., etc..
Depois temos classe politica em que deixamos de acreditar. Agora pergunto eu, valerá a pena lutar por este país?
Eu, acredito acabaríamos por voltar a lutar, porque o sentimento de nacionalidade, e a defesa do que é a terra dos nossos antepassados, nos levaria novamente a isso.
Juvenal Amado
************
PARANÓIA OU LAMENTOS DE VETERANO
Ah! se eu tivesse uma G3!
Porque sou ignorado?
Mal tratado pelo o meu país
Dizem que sou parvo
E que sou maluco
Ninguém me leva a sério
Vozes de burro não chegam ao Céu
Eu lhes dava a maluqueira se tivesse uma G3!
Dizem que bebo demais
Que mal posso com as botas
Que falo sempre do mesmo
Que sabem da dor que tenho no peito?
Esta dor é como a injustiça, nunca passa
Eu é que sei onde o sapato me aperta
Mas eu lhes mostraria se tivesse uma G3!
Sem préstimo dizem
Que não mereço o chão que piso
A sombra que me protege
O pão que como
Que vontade tenho de partir
Não sabem o peso que carrego
Estou farto de palmilhar estrada
Também não sei para onde ir
Tenho as costas contra a parede
Não vejo horizontes
Ninguém ouve o meu lamento
Ninguém me leva a sério
Mas se eu tivesse uma G3 outro galo cantaria
Ah! mas se eu tivesse uma G3 iam ver
Se eu tivesse uma G3...
Juvenal Amado
____________
Notas do editor
(*) Vd. poste de 13 de março de 2015 > Guiné 63/74 – P14357: Divagações de reformado (Pacífico dos Reis) (7): Vivo num país que não me faz chorar, faz-me enraivecer
Último poste da série de 19 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14386: Blogpoesia (404): No dia do pai, um poema escolhido pelo camarada Armando Faria, "Ter um Pai", de Florbela Espanca (1894-1930)
Guiné 63/74 - P14391: Notas de leitura (694): Mapas da Guiné: existem muitos e estão mal estudados (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Março de 2015:
Queridos amigos,
Temos falado de tudo: das nossas fotografias, da nossa correspondência, das nossas lembranças, dos nossos vivos e dos nossos mortos.
Ao tempo em que combatemos até tínhamos cartas fiáveis, dos anos 1950, as povoações que não encontrávamos tinham-se volatizado entre 1963 e 1964, mas tinham existido.
Os mapas imperiais, com especial relevo a partir do século XIX, referiam as etnias predominantes e os mapas para uso escolar reproduziam-nas por vezes com omissões e besteiras de bradar aos céus. Tome-se como exemplo este mapa que, estou absolutamente convicto, encerado e com réguas, estava pendurado na parede da minha escola primária. E temos que questionar o silêncio dos estudiosos e dos curiosos, como é que engolimos todas estas disparidades e incongruências.
A quem aproveitam? Cabe-vos responder.
Um abraço do
Mário
Mapas da Guiné: existem muitos e estão mal estudados
Beja Santos
O nosso blogue tem várias riquezas, que vão desde os mapas, passam pelo acervo fotográfico e chegam aos testemunhos, únicos e irrepetíveis. Possuímos todas as cartas daquela Guiné onde combatemos, e a sua fiabilidade é indiscutível, vieram a seguir os soviéticos e o seu mapeamento tem erros de palmatória, hoje servem para pouca coisa. No que toca à história, temos um alfobre que vai desde a Sociedade de Geografia de Lisboa às inúmeras publicações que esta instituição alberga, bem como o Arquivo Histórico Ultramarino e centros de estudos africanos de algumas universidades. Posso testemunhar que quando andei à procura de cartas pouco ou nada conhecidas, encontrei na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa e pude usar no Roteiro que escrevi com Francisco Henriques da Silva a Carta da Guiné Portugueza de 1902 e a Carta Hydrographica da Guiné Portugueza de 1844. Para o meu livro em preparação sobre a história da Guiné, graças à amável deferência daqueles solícitos técnicos dessa biblioteca já tenho imagens que não foram divulgadas ao público.
Comprei há dias num leilão um mapa de Portugal Insular e Ultramarino, coordenado por J. R. Silva, creio que na escola primária que eu frequentei havia uma versão encerada, é seguramente um mapa ou do fim dos anos 1940 ou elaborado em plena década de 1950. Se formos ao Google é possível encontrar mapas muito semelhantes, por exemplo de 1934, vê-se à légua que se trata de versões escolares. O que para mim é um mistério é ausência de estudos de índole científica (antropologia, sociologia…) sobre o que esses mapas dizem, se eram conformes às realidades que diziam transmitir. Queria só recordar que em tempos fiz referência a uma brochura que era distribuída na Feira Popular de Lisboa, então em Palhavã, em 1945, em que o que ali se mostrava era pouco mais do que a Guiné dos presídios e praças, do século XIX. No Leste, nem uma só uma menção a populações fronteiriças, nem uma palavra sobre o Boé ou o Gabu. Geba tinha mais importância que Bafatá; escarrapacha-se o nome de Sambel Nhantá, no regulado do Cuor, nesse tempo já não existia; toda a região do Corubal era puramente omitida, como o Xime; a região Centro-Norte não mencionava Mansoa, Bula, Bissorã ou Mansabá quando, a este tempo, eram já vilas com algum desenvolvimento; não há uma referência à cidade de Bolama no arquipélago dos Bijagós; no Sul, falava-se de Bolola, certamente por influência do passado e não há uma só menção a Catió, Fulacunda, Bedanda ou Gadamael, que de facto existiam.
Vamos agora ao mapa da Guiné, coordenado por J. R. Silva, não tenho dúvidas que estava na minha sala de aula, era ali que se exaltava o Império. Pois faz uma grande diferença, e para muito melhor, do mapa da Feira Popular de 1945. Já existe o Gabu, já se fala de Nova Lamego, Buruntuma e Sonaco, bem como de Pirada e de Canquelifá (na versão de Cam Quelifá). Quem olha para o mapa vê um predomínio de Mandingas e com menos relevo aparecem Futa Fulas, ora na verdade as diferentes etnias Fulas tinham nestes anos de 1950 já uma expressão predominante. Há nomes de regulados totalmente anacrónicos. No que toca à região de Bafatá, há menção dos regulados de Joladú, Gussará, Xime, Bololi, Cossé, Corubal e junto ao Senegal Sam Corlá (noutra versão Sancorlá). Aqui predominam os Fulas Pretos e refere-se a presença de Futa Fulas, o que é inverosímil na medida em que os Mandingas e os Balantas tinham já grande expressão. No Sul, revela-se a presença dos Nalus, nessa altura já em grande apagamento. Na região de Cacheu destacam-se os Manjacos e depois os Brames, estes eram praticamente inexpressivos. Na fronteira Norte, na parte Oriental, são referidos os Felupes, Baiotes, os Banhuns e os Cassangas, não que não fosse verdade a sua presença neste território, mas o predomínio era Felupe e depois Balanta.
Isto para dizer o quê? Que não é possível estudar história e dar-lhe verossimilhança sem clarificar estes mapas entre o século XIX e o século XX. Não o fazendo, estamos a ficcionar um mosaico étnico, depois desproporcionado aos relatos dos governadores, aos testemunhos dos militares e às cartas que escrevemos para as nossas famílias, pelo menos.
Em resumo, apela-se aos estudiosos da Guiné-Bissau e de Portugal que olhem para estes mapas e cartas confrontando-os com o que se escreveu nos livros de história, pondo dentro do território os seus verdadeiros territórios. A despeito de impetuosas migrações que houve na Guiné, particularmente no século XIX, houve etnias que perderam relevo, caso dos Beafadas, dos Nalus, dos Brames e dos Cassangas, e o peso dos Balantas não surgiu da noite para o dia, decorre de uma evolução e de uma capilaridade na ocupação do território. O resto passa pela beleza de olhar para estes mapas e supor que estavam próximos da verdade… O que é pura fábula. Mas que eram bonitos, eram, esta Guiné era a exótica babel cantada por plumitivos dos anos 1930 e 1940. E era assim que se confundia a Guiné fabulosa e a sua terra ardente com a Guiné das suas verdadeiras gentes.
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Nota do editor
Último poste da série de 18 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14385: Notas de leitura (693): "Neste mar é sempre inverno", romance de Tibério Paradela (edição de autor, 2014) (Parte II): a pesca do bacalhau e o paralelismo com a tropa e a guerra... (Luís Graça)
Queridos amigos,
Temos falado de tudo: das nossas fotografias, da nossa correspondência, das nossas lembranças, dos nossos vivos e dos nossos mortos.
Ao tempo em que combatemos até tínhamos cartas fiáveis, dos anos 1950, as povoações que não encontrávamos tinham-se volatizado entre 1963 e 1964, mas tinham existido.
Os mapas imperiais, com especial relevo a partir do século XIX, referiam as etnias predominantes e os mapas para uso escolar reproduziam-nas por vezes com omissões e besteiras de bradar aos céus. Tome-se como exemplo este mapa que, estou absolutamente convicto, encerado e com réguas, estava pendurado na parede da minha escola primária. E temos que questionar o silêncio dos estudiosos e dos curiosos, como é que engolimos todas estas disparidades e incongruências.
A quem aproveitam? Cabe-vos responder.
Um abraço do
Mário
O Mapa pode ser ampliando clicando em cima
Mapas da Guiné: existem muitos e estão mal estudados
Beja Santos
O nosso blogue tem várias riquezas, que vão desde os mapas, passam pelo acervo fotográfico e chegam aos testemunhos, únicos e irrepetíveis. Possuímos todas as cartas daquela Guiné onde combatemos, e a sua fiabilidade é indiscutível, vieram a seguir os soviéticos e o seu mapeamento tem erros de palmatória, hoje servem para pouca coisa. No que toca à história, temos um alfobre que vai desde a Sociedade de Geografia de Lisboa às inúmeras publicações que esta instituição alberga, bem como o Arquivo Histórico Ultramarino e centros de estudos africanos de algumas universidades. Posso testemunhar que quando andei à procura de cartas pouco ou nada conhecidas, encontrei na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa e pude usar no Roteiro que escrevi com Francisco Henriques da Silva a Carta da Guiné Portugueza de 1902 e a Carta Hydrographica da Guiné Portugueza de 1844. Para o meu livro em preparação sobre a história da Guiné, graças à amável deferência daqueles solícitos técnicos dessa biblioteca já tenho imagens que não foram divulgadas ao público.
Comprei há dias num leilão um mapa de Portugal Insular e Ultramarino, coordenado por J. R. Silva, creio que na escola primária que eu frequentei havia uma versão encerada, é seguramente um mapa ou do fim dos anos 1940 ou elaborado em plena década de 1950. Se formos ao Google é possível encontrar mapas muito semelhantes, por exemplo de 1934, vê-se à légua que se trata de versões escolares. O que para mim é um mistério é ausência de estudos de índole científica (antropologia, sociologia…) sobre o que esses mapas dizem, se eram conformes às realidades que diziam transmitir. Queria só recordar que em tempos fiz referência a uma brochura que era distribuída na Feira Popular de Lisboa, então em Palhavã, em 1945, em que o que ali se mostrava era pouco mais do que a Guiné dos presídios e praças, do século XIX. No Leste, nem uma só uma menção a populações fronteiriças, nem uma palavra sobre o Boé ou o Gabu. Geba tinha mais importância que Bafatá; escarrapacha-se o nome de Sambel Nhantá, no regulado do Cuor, nesse tempo já não existia; toda a região do Corubal era puramente omitida, como o Xime; a região Centro-Norte não mencionava Mansoa, Bula, Bissorã ou Mansabá quando, a este tempo, eram já vilas com algum desenvolvimento; não há uma referência à cidade de Bolama no arquipélago dos Bijagós; no Sul, falava-se de Bolola, certamente por influência do passado e não há uma só menção a Catió, Fulacunda, Bedanda ou Gadamael, que de facto existiam.
Vamos agora ao mapa da Guiné, coordenado por J. R. Silva, não tenho dúvidas que estava na minha sala de aula, era ali que se exaltava o Império. Pois faz uma grande diferença, e para muito melhor, do mapa da Feira Popular de 1945. Já existe o Gabu, já se fala de Nova Lamego, Buruntuma e Sonaco, bem como de Pirada e de Canquelifá (na versão de Cam Quelifá). Quem olha para o mapa vê um predomínio de Mandingas e com menos relevo aparecem Futa Fulas, ora na verdade as diferentes etnias Fulas tinham nestes anos de 1950 já uma expressão predominante. Há nomes de regulados totalmente anacrónicos. No que toca à região de Bafatá, há menção dos regulados de Joladú, Gussará, Xime, Bololi, Cossé, Corubal e junto ao Senegal Sam Corlá (noutra versão Sancorlá). Aqui predominam os Fulas Pretos e refere-se a presença de Futa Fulas, o que é inverosímil na medida em que os Mandingas e os Balantas tinham já grande expressão. No Sul, revela-se a presença dos Nalus, nessa altura já em grande apagamento. Na região de Cacheu destacam-se os Manjacos e depois os Brames, estes eram praticamente inexpressivos. Na fronteira Norte, na parte Oriental, são referidos os Felupes, Baiotes, os Banhuns e os Cassangas, não que não fosse verdade a sua presença neste território, mas o predomínio era Felupe e depois Balanta.
Isto para dizer o quê? Que não é possível estudar história e dar-lhe verossimilhança sem clarificar estes mapas entre o século XIX e o século XX. Não o fazendo, estamos a ficcionar um mosaico étnico, depois desproporcionado aos relatos dos governadores, aos testemunhos dos militares e às cartas que escrevemos para as nossas famílias, pelo menos.
Em resumo, apela-se aos estudiosos da Guiné-Bissau e de Portugal que olhem para estes mapas e cartas confrontando-os com o que se escreveu nos livros de história, pondo dentro do território os seus verdadeiros territórios. A despeito de impetuosas migrações que houve na Guiné, particularmente no século XIX, houve etnias que perderam relevo, caso dos Beafadas, dos Nalus, dos Brames e dos Cassangas, e o peso dos Balantas não surgiu da noite para o dia, decorre de uma evolução e de uma capilaridade na ocupação do território. O resto passa pela beleza de olhar para estes mapas e supor que estavam próximos da verdade… O que é pura fábula. Mas que eram bonitos, eram, esta Guiné era a exótica babel cantada por plumitivos dos anos 1930 e 1940. E era assim que se confundia a Guiné fabulosa e a sua terra ardente com a Guiné das suas verdadeiras gentes.
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Nota do editor
Último poste da série de 18 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14385: Notas de leitura (693): "Neste mar é sempre inverno", romance de Tibério Paradela (edição de autor, 2014) (Parte II): a pesca do bacalhau e o paralelismo com a tropa e a guerra... (Luís Graça)
Guiné 63/74 - P14390: Agenda cultural (384): Apresentação do livro "Nós, Enfermeiras Paraquedistas", dia 26 de Março de 2015, pelas 18h00, no Auditório do Centro Cultural e de Congressos de Aveiro, Cais da Fonte Nova, Aveiro (Miguel Pessoa)
1. Mensagem do nosso camarada Miguel Pessoa (ex-Ten Pilav, BA 12,
Bissalanca, 1972/74, hoje Coronel Pilav Ref), com data de 19 de Março de 2015:
Informámos aqui anteriormente que estão previstas para já duas apresentações deste livro editado pela "Fronteira do Caos Editores", a primeira em Aveiro, a segunda no Porto.
Da primeira apresentação deixamos-vos aqui o respectivo convite. A sessão decorrerá no auditório do Centro Cultural e de Congressos de Aveiro, pelas 18H00 do próximo dia 26 de Março. Uma oportunidade para o pessoal daquela região (e arredores...) estar presente.
Refira-se que esta sessão conta com a presença, para além de várias das co-autoras (enfermeiras paraquedistas), do Professor Adriano Moreira (autor do prefácio do livro) e do TCor. Aparício, que já tinha igualmente feito a apresentação da obra no Estado Maior da Força Aérea, no final de Novembro do ano passado.
Quanto à segunda apresentação, prevista para a Messe de Oficiais da Batalha, no Porto, aguardamos ainda a confirmação da data inicialmente programada, 9 de Abril. Aqui daremos informação logo que possível.
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14340: Agenda cultural (387): Conversas na Lua com... António Graça de Abreu, dia 13 de Março, às 19h00, na Livraria Lua de Marfim, Amadora
Informámos aqui anteriormente que estão previstas para já duas apresentações deste livro editado pela "Fronteira do Caos Editores", a primeira em Aveiro, a segunda no Porto.
Da primeira apresentação deixamos-vos aqui o respectivo convite. A sessão decorrerá no auditório do Centro Cultural e de Congressos de Aveiro, pelas 18H00 do próximo dia 26 de Março. Uma oportunidade para o pessoal daquela região (e arredores...) estar presente.
Refira-se que esta sessão conta com a presença, para além de várias das co-autoras (enfermeiras paraquedistas), do Professor Adriano Moreira (autor do prefácio do livro) e do TCor. Aparício, que já tinha igualmente feito a apresentação da obra no Estado Maior da Força Aérea, no final de Novembro do ano passado.
Quanto à segunda apresentação, prevista para a Messe de Oficiais da Batalha, no Porto, aguardamos ainda a confirmação da data inicialmente programada, 9 de Abril. Aqui daremos informação logo que possível.
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Nota do editor
Último poste da série de 10 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14340: Agenda cultural (387): Conversas na Lua com... António Graça de Abreu, dia 13 de Março, às 19h00, na Livraria Lua de Marfim, Amadora
quinta-feira, 19 de março de 2015
Guiné 63/74 - P14389: Pensamento do dia (24): No Dia do Pai... Mensagem ao meu pai, esse homem duro e autoritário que morreu aos 59 anos para grande pena minha (Francisco Baptista)
1. Em mensagem de hoje 19 de Março de 2015, o nosso camarada Francisco Baptista (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 2616/BCAÇ 2892 (Buba, 1970/71) e CART 2732 (Mansabá, 1971/72), fala-nos assim de seu pai:
O meu Pai
As mães são sempre tão sábias, tão carinhosas que desde meninos desarmam as nossas maldades e malandrices. De corpo e alma fomos moldados por elas, para elas não temos segredos. Sofrem muito quando nos desviamos dos bons caminhos que devíamos percorrer mas também sabem que os filhos, pela sua natureza, estão sempre sujeitos a esses desvios.
Os nossos pais com menor conhecimento da nosso intimo e das nossas inclinações, fazem um esforço maior para nos compreender e erram mais nas suas relações connosco. Fazem um grande esforço físico e mental para nos agradar, mas estão sempre em desvantagem em relação às mães que nos moldaram e se sabem moldar para nos aconchegar.
Com os pais há sempre mais choques sobretudo quando somos também homens em competição com eles e não gostamos muito de ser comandados de qualquer forma. Em relação ao meu pai, procuro ser comedido para não entrar em descrédito, tão criticado dentro de portas pelo seu autoritarismo e intolerância, pelos filhos mais velhos (homens) e tão respeitado em toda aldeia, em todo o concelho e fora dele, pela sua honra, pela sua palavra, pela sua verticalidade.
Produtor de cortiça, era por tradição familiar que tinha herdado do seu pai e do seu avô também negociante da mesma. As relações comerciais da minha família com os fabricantes de Lourosa remontam já há mais de um século. Na família conta-se a estória, que eu nunca lhe ouvi, pois ele nunca se vangloriava de nada, que em ano de pouca cortiça, ele conseguiu juntar uma boa rima dela.
Um dia passou por lá um grande fabricante, hoje um dos maiores ricos deste país e lhe disse para lhe pedir um preço, pois ele estava disposto a pagá-la bem. Ele terá respondido, que a ele não lha venderia por preço nenhum, já que ele tinha amigos em Lourosa que lhe compravam a cortiça em anos bons e em anos maus. Nunca enriqueceu, trabalhou muito e poupou muito, deu toda a educação escolar possível aos filhos.
Morreu cedo, aos 59 anos, para grande pena minha, nunca consegui fazer com ele as pazes que gostaria, depois de tantos choques e desavenças, motivados pelo seu autoritarismo e pelo meu orgulho.
Nunca esqueci, as primeiras lágrimas que lhe vi, quando me fui despedir dele, antes de partir para a Guiné.
Esta mensagem ao meu pai, esse homem duro e autoritário, foi o regedor de Brunhoso, mas que me comoveu tanto nessa partida, foi inspirada na mensagem do José Carlos Gabriel, ao pai dele, tão contida, tão profunda tão sentida, que me sensibilizou tanto.
Obrigado José Gabriel por me ajudares a fazer alguma justiça ao meu pai.
Um abraço
Francisco Baptista
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de Março de 2015 > Guiné 63/74 - P14387: Pensamento do dia (23): No dia do pai... "Meu pai, estejas onde estiveres, saberás que te amo muito e te perdoei o nos teres deixado tão prematuramente" (José Carlos Gabriel, ex-1º cabo cripto, 2ª CCaç / BCaç. 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)
O meu Pai
As mães são sempre tão sábias, tão carinhosas que desde meninos desarmam as nossas maldades e malandrices. De corpo e alma fomos moldados por elas, para elas não temos segredos. Sofrem muito quando nos desviamos dos bons caminhos que devíamos percorrer mas também sabem que os filhos, pela sua natureza, estão sempre sujeitos a esses desvios.
Os nossos pais com menor conhecimento da nosso intimo e das nossas inclinações, fazem um esforço maior para nos compreender e erram mais nas suas relações connosco. Fazem um grande esforço físico e mental para nos agradar, mas estão sempre em desvantagem em relação às mães que nos moldaram e se sabem moldar para nos aconchegar.
Com os pais há sempre mais choques sobretudo quando somos também homens em competição com eles e não gostamos muito de ser comandados de qualquer forma. Em relação ao meu pai, procuro ser comedido para não entrar em descrédito, tão criticado dentro de portas pelo seu autoritarismo e intolerância, pelos filhos mais velhos (homens) e tão respeitado em toda aldeia, em todo o concelho e fora dele, pela sua honra, pela sua palavra, pela sua verticalidade.
Produtor de cortiça, era por tradição familiar que tinha herdado do seu pai e do seu avô também negociante da mesma. As relações comerciais da minha família com os fabricantes de Lourosa remontam já há mais de um século. Na família conta-se a estória, que eu nunca lhe ouvi, pois ele nunca se vangloriava de nada, que em ano de pouca cortiça, ele conseguiu juntar uma boa rima dela.
Um dia passou por lá um grande fabricante, hoje um dos maiores ricos deste país e lhe disse para lhe pedir um preço, pois ele estava disposto a pagá-la bem. Ele terá respondido, que a ele não lha venderia por preço nenhum, já que ele tinha amigos em Lourosa que lhe compravam a cortiça em anos bons e em anos maus. Nunca enriqueceu, trabalhou muito e poupou muito, deu toda a educação escolar possível aos filhos.
Morreu cedo, aos 59 anos, para grande pena minha, nunca consegui fazer com ele as pazes que gostaria, depois de tantos choques e desavenças, motivados pelo seu autoritarismo e pelo meu orgulho.
Nunca esqueci, as primeiras lágrimas que lhe vi, quando me fui despedir dele, antes de partir para a Guiné.
Esta mensagem ao meu pai, esse homem duro e autoritário, foi o regedor de Brunhoso, mas que me comoveu tanto nessa partida, foi inspirada na mensagem do José Carlos Gabriel, ao pai dele, tão contida, tão profunda tão sentida, que me sensibilizou tanto.
Obrigado José Gabriel por me ajudares a fazer alguma justiça ao meu pai.
Um abraço
Francisco Baptista
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Nota do editor
Último poste da série de 19 de Março de 2015 > Guiné 63/74 - P14387: Pensamento do dia (23): No dia do pai... "Meu pai, estejas onde estiveres, saberás que te amo muito e te perdoei o nos teres deixado tão prematuramente" (José Carlos Gabriel, ex-1º cabo cripto, 2ª CCaç / BCaç. 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)
Guiné 63/74 - P14388: Carta aberta a... (12): ...aos meus netos, neste Dia do Pai (José Martins)
1. Mensagem do nosso camarada José Marcelino Martins (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude,
1968/70), com uma carta aberta aos seus netos, neste dia do Pai:
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13879: Carta aberta a... (11): Jornalista Sousa Tavares, a propósito do seu artigo no jornal Expresso do dia 8 de Novembro passado (Manuel Luís Lomba)
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Nota do editor
Último poste da série de 12 de novembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13879: Carta aberta a... (11): Jornalista Sousa Tavares, a propósito do seu artigo no jornal Expresso do dia 8 de Novembro passado (Manuel Luís Lomba)
Guiné 63/74 - P14387: Pensamento do dia (23): No dia do pai... "Meu pai, estejas onde estiveres, saberás que te amo muito e te perdoei o nos teres deixado tão prematuramente" (José Carlos Gabriel, ex-1º cabo cripto, 2ª CCaç / BCaç. 4513, Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74)
1. Mensagem de José Carlos Gabriel, com data de hoje:
Amigos Luis Graça e Carlos Vinhal.
Sendo hoje o dia do pai não pude deixar de escrever algumas palavras relacionadas com esta data que marca um pouco a minha vida.
Se acharem interessante podem publicar.
Um abraço.
Sendo hoje o dia do pai não pude deixar de escrever algumas palavras relacionadas com esta data que marca um pouco a minha vida.
Se acharem interessante podem publicar.
Um abraço.
José Carlos Gabriel
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[Foto à esquerda: Guiné > Região de Tombali > Setor S2 (Aldeia Formosa) > Nhala > 2ª CCaç / BCaç. 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973-74) > Nhala, JUN73 > O 1º cabo cripto Gabriel no desempenho de funções, Foto (e legenda) : © José Carlos Gabriel (2011). Todos os direitos reservados]
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Carlos Gabriel, meu pai - Um anigo de pouco tempo
Pela primeira vez na vida vou falar sobre o meu pai. A razão é porque o perdi quando tinha apenas 9 anos e de uma maneira que considero inapropriada (mas que foi consciente da sua parte).
Mas quem sou eu para o julgar?
Dos poucos anos de vida juntos tenho mais boas recordações que o contrário. Não terá sido um pai perfeito pois para o ser não nos teria deixado sozinhos tão cedo (eu com 9 anos a minha irmã com 11 e a minha mãe com 32, mãe que dedicou o resto da sua vida aos filhos e que ainda vive junto a nós).
Mas será que eu como pai também fui o pai perfeito? E será que ele existe?
Penso que não existe o pai perfeito por muito que nos esforcemos. Aos olhos dos nossos filhos existe sempre algo que eles acham que falhamos.
Tinha-lhe um respeito enorme e que me recorde só uma vez me deu uma palmada em cada mão e muito bem dadas.
Tinha-lhe feito um pedido ao qual não acedeu e eu feito esperto pedi á minha mãe que acabou por ceder sem saber do antecedente. O meu pai ao ver que passado umas horas eu já tinha o que queria simplesmente me perguntou se eu tinha tirado ou se tinha pedido e claro confirmei que tinha pedido á mãe tendo-me interrogado:
- EU NÃO TE TINHA DITO QUE NÃO?
Foi nessa altura que me abriu a porta da escada que dava acesso
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Carlos Gabriel, meu pai - Um anigo de pouco tempo
Pela primeira vez na vida vou falar sobre o meu pai. A razão é porque o perdi quando tinha apenas 9 anos e de uma maneira que considero inapropriada (mas que foi consciente da sua parte).
Mas quem sou eu para o julgar?
Dos poucos anos de vida juntos tenho mais boas recordações que o contrário. Não terá sido um pai perfeito pois para o ser não nos teria deixado sozinhos tão cedo (eu com 9 anos a minha irmã com 11 e a minha mãe com 32, mãe que dedicou o resto da sua vida aos filhos e que ainda vive junto a nós).
Mas será que eu como pai também fui o pai perfeito? E será que ele existe?
Penso que não existe o pai perfeito por muito que nos esforcemos. Aos olhos dos nossos filhos existe sempre algo que eles acham que falhamos.
Tinha-lhe um respeito enorme e que me recorde só uma vez me deu uma palmada em cada mão e muito bem dadas.
Tinha-lhe feito um pedido ao qual não acedeu e eu feito esperto pedi á minha mãe que acabou por ceder sem saber do antecedente. O meu pai ao ver que passado umas horas eu já tinha o que queria simplesmente me perguntou se eu tinha tirado ou se tinha pedido e claro confirmei que tinha pedido á mãe tendo-me interrogado:
- EU NÃO TE TINHA DITO QUE NÃO?
Foi nessa altura que me abriu a porta da escada que dava acesso
José Carlos Gabriel, hoje |
á nossa casa e aí deu-me uma palmada em cada mão mandando-me de castigo para casa.
Não me recordo de outra situação deste género nestes curtos 9 anos de convivência.
Com a idade a avançar cada vez mais sinto a sua falta. Sinto tristeza por não ter dado oportunidade á vida para conhecer a neta e os 2 bisnetos.
Existem datas que me são muito difíceis de ultrapassar a sua ausência tais como: O seu aniversário o meu e o Natal.
Esteja onde estiver saberá que o amo muito e lhe perdoei o nos ter deixado tão prematuramente.
José Carlos Gabriel
PS - Carlos Gabriel a bold e sublinhado é intencional pois era o nome pelo qual o meu pai era conhecido.
Não me recordo de outra situação deste género nestes curtos 9 anos de convivência.
Com a idade a avançar cada vez mais sinto a sua falta. Sinto tristeza por não ter dado oportunidade á vida para conhecer a neta e os 2 bisnetos.
Existem datas que me são muito difíceis de ultrapassar a sua ausência tais como: O seu aniversário o meu e o Natal.
Esteja onde estiver saberá que o amo muito e lhe perdoei o nos ter deixado tão prematuramente.
José Carlos Gabriel
PS - Carlos Gabriel a bold e sublinhado é intencional pois era o nome pelo qual o meu pai era conhecido.
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Nota do editor:
Último poste da série > 9 de março de 2015 > Guiné 63/74 - P14336: Pensamento do dia (22): Aprendi na guerra a pôr um pé à frente do outro e continuar a caminhada, mesmo quando tudo era difícil (José Belo)
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