1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 7 de Abril de 2015:
Queridos amigos,
Aqui vai mais uma dose comprimida de uma viagem a Bruxelas e arredores.
Fui a Lovaina, lindíssima cidade, aqui ficam uns disparos. Percebo aqueles que me dizem que aqui tudo é sombrio e o que se salva é a boa comida, não têm razão, nem sempre é sombrio, Bruxelas tem uma atividade cultural turbilhonante, é só escolher entre o étnico e o clássico, há imensos concertos gratuitos, exposições gratuitas também não faltam. E os parques são encantadores. E gostos não se discutem, também é verdade.
Um abraço do
Mário
Bruxelles, mon village (4)
Beja Santos
Hoje o dia é passado em Lovaina, estamos a falar da velha Lovaina, com universidade prestigiada desde a Idade Média, rica em património, venho também visitar gente conhecida, vou começar pela beguinage, uma relíquia consagrada como património da Humanidade, aqui viviam velhos solteiros ou viúvos e, como se pode ver pelas imagens, devem ter vivido com o conforto possível da época, são tempos de uma Flandres próspera.
Hoje a beguinage é exclusivamente habitada por professores e alunos, a manutenção é irrepreensível, a imagem também não é muito boa mas permite ver o tamanho de uma das muitas ruas deste conjunto habitacional de que restam poucos exemplares de toda a Europa.
Para mais informações, o prezado leitor tem esta inscrição em francês e inglês, com um bocadinho de esforço pode aumentar-se e fica-se com dados elementares sobre estes complexos habitacionais flamengos.
Temos aqui uma reabilitação à maneira, é bem possível que as casas medievais fossem assim, achei este edifício uma beleza, toca de o mostrar, pode muito bem acontecer que futuros visitantes da Bélgica se sintam atraídos por uma vida doméstica que foi recuperada e tem verdadeira ocupação, cheguei numa altura em que professores e estudantes regressavam a penates, por volta do meio-dia almoça-se. Tive sorte, era um dia friorento mas havia claridade, estas cores existem realmente.
Um dos desfrutes deste “condomínio” são os canais murmurantes, as árvores a florir, vi as magnólias já em botão, nesta altura devem ser um espetáculo de garridice, a contrariar céus tão tristonhos.
Esta gente não brincou com o restauro, veja-se esta fonte, parecem-me figuras do Renascimento, é um primor, sentei-me em frente, gosto cada vez mais das gentes que não enjeitam o seu passado e sabem aproveitar as técnicas de hoje para zelar pelo seu património. Isto não é só dinheiro, é respeito pelo pretérito, não se deita fora o trabalho desvelado dos ancestrais. Ponto final.
Lá vou vagarosamente a caminho da saída da beguinage, tudo cuidado à entrada e à saída, o que a UNESCO consagrou é motivo de zelo. Pois bem, passado o portão, tenho direito a nova surpresa, o “parque automóvel” está cheio…
Palavras para quê? Enquanto deambulava pela beguinage ouvia as campainhas, ciclistas a anunciar-se, tudo em grande correção. Está na hora de sentar à mesa, esta Lovaina é plana, vamos saboreá-la, a visita continua.
Este aparatoso Hotel de Ville não cabe todo na maquineta do fotógrafo amador, disparei várias vezes, é imagem que me parece mais elucidativa para dar as dimensões de altura e largura. Construção de muito bom gosto, luxo e aparato para que nunca ninguém dissesse que por aqui não passou a grandeza, o sentido do fausto.
Em frente ao Hotel de Villes está a Igreja de S. Pedro, outra desmesura, o fotógrafo amador bem se esforçou por captar uma imagem compatível, nada feito, o que se apanhava em altura perdia-se nos detalhes da pedra. Assunto de pouca importância, há muita riqueza no interior, olhem só para esta imagem, um exemplo carinhoso do tardo-gótico, o recamado do manto é de excecional beleza e vê-se que o menino está radiante de contente ao colo de sua mãe.
Outra desmesura, este púlpito é deslumbrante, nunca vi coisa assim, juro. Mas é impossível captar o todo, ao menos aqui fica o registo da base, é um trabalho escultórico extraordinário, tive um raio de sorte porque a igreja subitamente encheu-se de luz, é assim o tempo belga, escurece e depois temos umas nesgas de luminosidade. Cortou-se me o fôlego, nem acreditei no que estava a ver, estes tons acastanhados criam ainda mais a ilusão do movimento, tenho a impressão que se trata de S. Paulo quando caiu do cavalo, na estrada de Damasco.
Está na hora de ir visitar Christiane Zeghers e Hein Severijns, ela ceramista ele modelador de porcelana, ambos exímios, deles falarei mais tarde, já chega de inflação de imagens. Vim à procura de ranúnculos, margaridas e algumas tulipas. Gosto muito desta orgia de cores, pedi licença ao florista, ele respondeu que tinha muito orgulho em que mostrasse o colorido do seu estaminé. Aqui fica.
Faz de conta que já voltei a Bruxelas. Em passeata anterior esqueci esta imagem, com a câmara do Luís Graça, era certo e seguro que teríamos aqui a melhor panorâmica de Bruxelas. O sítio chama-se Mons des Arts, é uma escadaria soberba, vê-se a agulha do Hotel de Ville, o que se perde em amplitude dá-me a consolação de um céu tranquilo, azul, indiferente às nuvens sombrias que tenho por trás e que escurecem a imagem. No momento em que captei, e mal, a Bruxelas antiga, estava regalado porque tinha isto a portentosa retrospetiva Chagall. Mais tarde poremos a escrita em dia.
(Continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 29 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14542: Os nossos seres, saberes e lazeres (91): Bruxelles, mon village (Parte 3) (Mário Beja Santos)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
quarta-feira, 6 de maio de 2015
Guiné 63/74 - P14575: Convívios (675): 38º Encontro da CCaç 3547/BCAÇ 3884, “Os Répteis de Contuboel”... Leiria, 31/05/2015
1. O nosso Camarada Manuel Oliveira Pereira, da CCAÇ 3547/BCAÇ 3884 (Contuboel, 1972/74), solicitou-nos a publicação do seguinte convite para o convívio anual da sua Unidade:
Agradecemos a divulgação no nosso 38.º Encontro/Convívio que terá lugar no próximo dia 30 (último sábado) de Maio, em Leiria.
Gratos pela atenção,
Atentamente,
Manuel OLIVEIRA PEREIRA
38º Encontro/Convívio CCAÇ 3547/BCAÇ 3884
2. A História da CCAÇ 3547, transcrita, com a devida vénia da sua página no Facebook [Companhia de Caçadores Répteis].
CCAÇ 3547: Chaves (Portugal) e Guiné (Contuboel, Sonaco, Bambadinca Tabanca, Sare Bacar, Nova Lamego, Madina Mandinga; Galomaro e Dulombi).
A CCaç.3547) era uma subunidade do BCAÇ 3884, com origem no BC10, unidade militar sediada na cidade de Chaves (Portugal).
A mobilização e a missão das novas unidades operacionais tinham por destino o teatro de guerra na então província ultramarina da Guiné. Quase em simultâneo também Angola e Moçambique combatiam a política colonial portuguesa na busca das respectivas independências, o que viria a acontecer, não sem antes deixar um rasto de morte e muitas outras sequelas (...).
O Batalhão partiu para a Guiné no fim de Março de 72. Aí chegado, foi aquartelado no Cumeré para fazer a IAO que durou cerca de um mês.
Terminada a formação, as unidades partiram para os “seus perímetros de acção”, o Leste da Guiné, a saber: (i) CCS e Comando Operacional do BCaç 3884 em Bafatá; (ii) a CCaç 3547 em Contuboel; (iii) a CCaç 3548 em Geba; e (iv) a CCaç.3549 em Fajonquito.
A CCaç 3547 foi logo rebatizada pelos seus membros de “Os Répteis de Contuboel” e pela rádio do PAIGC como “As Almas Brancas”. Para além da sua sede – Contuboel – , tinha na vila de Sonaco um “destacamento”, composto por um Grupo de Combate e um pelotão de Milícias.
Por força (?) da sua boa localização (um subsetor sem guerra), a Companhia ficou, logo no iníci, e até ao fim da comissão, mutilada nos seus efectivos, por ausência quase permanente, de dois dos seus "grupos de combate", em destacamento/reforço de outras Companhias, nomeadamente Bafatá, Bambadinca Tabanca, Sare Bacar, Nova Lamego, Madina Mandinga, Galomaro e Dulombi.
Cedeu igualmente alguns dos seus graduados para as Companhias de Caçadores Africanas e Delegado/Agente de ligação para, em representação de todo o Batalhão junto das Direcções de Serviços e Quartel Mestre General, providenciar toda a logistica necessária à actividade do Batalhão.
A Companhia, na sua sede, funcionou como Centro de Instrução de Milícias (forças paramilitares), cujos formandos tinham por missão dar apoio e defesa local às populações nativas.
Ao longo da sua Missão e, apesar de teoricamente a área de actuação ser um paraíso, a Companhia, não conseguiu sair incólume aos efeitos da Guerra. Logo no início, num estúpido acidente de viação um dos seus homens ficou gravemente ferido, de que resultou numa paraplegia. Outras mazelas surgiram mas sem consequências de maior, porém, se a "missão" começou mal, terminou ainda da pior maneira; mesmo na recta final e a escassos dias de completarmos 24 meses, uma traiçoeira mina “rouba”, na plenitude da juventude, a vida a um dos nossos melhores!...
A Companhia regressa em fins de Junho de 1974 e termina a sua “missão”. A desmobilização vem a acontecer no dia 30 de Julho de 1974
___________
Nota de M.R.:
Vd. último poste desta série em:
terça-feira, 5 de maio de 2015
Guiné 63/74 - P14574: A bianda nossa de cada dia (1): histórias do pão e do vinho... precisam-se!
Guiné > Região de Quínara > Gampará > CCAÇ 4142 (1972/74) > O sold cozinheiro Soviano Teixeira, com mais dois camaradas (ajudantes), à volta do tacho...
Foto: © Joviano Teixeira (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
1. Camaradas:
Acaba de entrar para a Tabanca Grande um camarada cozinheiro... Não é um acontecimento vulgar...Por isso o Joviano Teixeirra merece as nossas palmas. E para mais é o primeiro representante da CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74).
Recorde-se que na tropa (e na guerra) também havia o "front office" e o "back office", como se diz hoje nas empresas (banca, seguros, saúde...). Havia os operacionais e os serviços de apoio... Temos falado pouco dos que trabalhavam para alimentar o "ventre da guerra" (intendência, reabastecimentos, vaguemestria, cozinha...). Temos falado pouco dos nossos cozinheiros que trabalhavam em duras condições físicas, em cozinhas (?) improvisadas ou atamancadas, e a quem era pedido que fizessem milagres todos os dias... Em suma, temos falado pouco da "bianda nossa de cada dia"...
Dar de comer, no TO da Guiné, todos os dias, a 150/200 homens, numa unidade de quadrícula, isolada no mato, com problemas sérios de reabastecimento... era obra! Em geral, havia dois cozinheiros (um 1º cabo e um soldado) e dois auxiliares de cozinheiro (soldados).
Temos falado aqui dos nossos crónicos problemas de alimentação mas não tanto dos nossos camaradas que trabalhavam nas cozinhas... Ora, eles bem merecem uma palavra de apreço!... Eles também eram filhos de Deus, de Alá e dos bons irãs!
Fotos e histórias à volta da nossa bianda de cada dia, precisam-se!... E quanto ao Joviano, já lhe dei as boas vindas. Um alfabarvo para todos/as...
2. Por outro lado, o nosso camarada António José Pereira da Costa também nos acaba de contar hoje uma história que eu achei deliciosa, à volta do vinho que bebíamos e que dá pano para mangas (**)... Estou interessado em desenvolver este outro tema no nosso blogue... De resto, relacionado com a bianda... O casqueiro e o tintol, a par do correio, eram elementos importantes para manter o moral da tropa...
A questão que se pode pôr é a seguinte: Afinal, o vinho que nos chegava à mesa, no mato, era ou não uma variante do "vinho pró preto" ?...
O mercado ultramarino teve um papel importante no escoamento da nossa produção vinícola... Recorde-se que havia, ao tempo da guerra colonial, um problema de excesso de produção e falta de qualidade...
Dizia-se que Salazar dizia que beber vinho era dar de comer a um milhão de portugueses... O que em parte era verdade: antes do êxodo rural nos anos 60, a vitivinicultura dava trabalho a um exército de mão de obra barata nas aldeias... Em 1940, a vinha ocupava mais de 320 mil hectares e havia cerca de 337 mil produtores!... (Em termos de exportação de produtos agrícolas, só a cortiça ultrapava o vinho).
De facto, o trabalho na vinha ocupava muitos trabalhadores ao longo do ano... Recordo-me quando era puto, em meados dos anos 50, de assistir à vinda de enormes ranchos de trabalhadores sazonais, homens e mulheres, para a minha zona (Lourinhã, Estremadura), na altura das vindimas... Eram os "ratinhos", vinham da Beira!... Tempos de miséria!...
Em resumo, seria interessante saber mais sobre o vinho que a metrópole (Lisboa() nos mandava dava... A tropa era um segmento de mercado precioso... O que é que a malta sabe mais sobre isto ?
Em boa verdade, a generalidade dos nossos camaradas, no TO da Guiné, não se podia dar ao luxo de dizer o provérbio popular: "pão que sobre, carne que baste e vinho que farte"... Muitas vezes, faltava o pão, a carne e o vinho... Em quantidade e qualidade... Mas também se diz que "a fome é a melhor cozinheira"...
PS - Que fique claro: não estão aqui em causa os nossos camaradas da Intendência que deram o seu melhor (e alguns morreram) no cumprimento da missão que lhes cabia no TO da Guiné...
________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 5 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14568: Tabanca Grande (463): Joviano Teixeira, grã-tabanqueiro nº 687... É natural de Tavira, e pertenceu à CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)
(**) Vd. poste de 5 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14572: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (13): Uma da nossa Intendência
Guiné 63/74 - P14573: Agenda cultural (395): Estórias Abensonhadas, exposição de Joana Graça, Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro, Telheiras, Lisboa, até 19 de maio
Joana Graça é: (i) contadora de estórias na associação Estórias de se Tirar do Chapéu; e (ii) ilustradora e artista plástica na empresa A Lua Mora Aqui.
Contactos:
joana_graca@yahoo.com
https://joanagraca.carbonmade.com
www.facebook.com/aluamoraaqui
A Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro fica em Telheiras, Lisboa, com metro à porta,
"Desde cedo que as estórias a fascinaram... Depois do curso de piscologia, imaginou personagens que ganharam vida nos seus cadernos, quadros e agendas e, depois, como contadora de estórias (atualmente na Associação Estórias de se Tirar do Chapéu).
"Foi autodidata durante alguns anos, mas depois o seu interesse pela ilustração fê-la procurtar mais estímulos e aprendizagens na FBAUL - CIEAM e na SNBA.
"Também descobriu a pintura, motivada pelo seu impulso mais inconsciente e transcendente.
"São linguagens diversas, mas em tudo gosta de colocar o seu traço: em caixas de estórias, objetos tridimensionais, quartos e paredes, cadeiras e mobiliário, pintura de murais.
"Bem vindos à Lua Mora Aqui... desejo que este mundo vos abensonhe!"
(Do catálogo, com a devida vénia)
___________________
Nota do editor:
Último poste da série > 2 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14553: Agenda cultural (394): Apresentação do livro "Guerra na Bolanha - De Estudante, a Militar e Diplomata", de Francisco Henriques da Silva, dia 5 de Maio de 2015, pelas 18h00, no Palácio da Independência, Largo de São Domingos, Lisboa (Francisco Henriques da Silva)
Guiné 63/74 - P14572: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (13): Uma da nossa Intendência
1. Em mensagem do dia 28 de Abril de 2015, o nosso camarada António José Pereira da Costa (Coronel de Art.ª Ref, ex-Alferes de Art.ª na CART 1692/BART 1914, Cacine, 1968/69; ex-Capitão de Art.ª e CMDT das CART 3494/BART 3873, Xime e Mansambo, e CART 3567, Mansabá, 1972/74), enviou-nos mais um texto para publicarmos na sua série "A minha guerra a petróleo:
A MINHA GUERRA A PETRÓLEO
13 - Uma da Nossa Intendência
Vou contar esta história tal como me foi contada no longínquo ano de 1968. Não tive possibilidade de verificar se foi assim que tudo se passou, embora tivesse sido contemporâneo, em Cacine, da CART 1659. Por isso corro o risco de exagerar um ou outro pormenor ou, talvez pelo contrário, de deixar para trás algo que foi importante.
A CArt ocupava Gadamael e era comandada pelo Cap. Mil.º Art.ª Mansilha, advogado de profissão, mas que, pelas vicissitudes a tantos outros sucedidas, ali fora parar. Nesse tempo a Intendência fornecia vinho às unidades em dois tipos de embalagens: barris de 50 litros ou garrafões de vidro – transparentes, para o branco, e verdes-escuros, para o tinto – com 10 litros de capacidade, rolhados com uma tampa de plástico, e protegidos por uma espécie de grandes aparas de madeira muito fina e ligadas por arames. Depois de vazios, estes invólucros não eram devolvidos e, por isso, eram frequentemente usados em funções decorativas. Os barris, desmontados e devidamente serradas as suas aduelas, serviam para a construção de pequenas mesas, cadeiras (por vezes de braços), bancos e outros “móveis” que embelezavam e tornavam mais cómodas as “salas de convívio”, “quartos”, “refeitórios”, etc.. Aos garrafões estava consignado um papel mais decorativo, especialmente aos transparentes que, depois de pintados por dentro, serviam de jarrões com pinturas “modernistas”. Quer uns, quer outros, podiam depois receber na estreita boca, folhas de palmeira ou outros arranjos de flores secas e constituir motivos de decoração. A técnica de pintura era, como é de calcular improvisadamente engenhosa. As tintas eram cuidadosamente introduzidas na boca do garrafão e ficavam a escorrer lentamente na parede interior deste e, consoante a posição em que o garrafão fosse posto, surgia uma decoração a várias cores e com formatos que o “pintor” não controlava, mas que lhe permitia obter um efeito muito original.
Ao que parece o vinho de garrafão era debitado a um preço mais elevado que o do barril, mas tenho para mim que a qualidade de ambos os produtos se equivalia e não era possível detectar pelo paladar a embalagem de origem do néctar em apreço.
Por razões que não consegui determinar a CArt 1659 não consumia vinho de barril.
Era frequente surgirem pequenas falcatruas com o vinho durante o transporte, muitas vezes só detectáveis já no momento da distribuição. Quem observasse o interior de um pipo podia, às vezes encontrar pequenos pauzitos, espécie de palitos, cravados em locais “estratégicos” entre as aduelas dos barris que tinham permitido a saída de algum líquido para uma ou outra garganta mais sequiosa.
A violação dos garrafões era mais difícil. Só pela cápsula de plástico que cobria a rolha e uma boa parte do gargalo. Era, porém possível abri-lo, consumi-lo na totalidade e voltar a rolhá-lo com engenho e entregá-lo como genuíno chá de parreira. Era uma técnica mais difícil de aplicar e daí talvez a opção de fornecimento da unidade de Gadamael/Ganturé.
Porém, um dia aconteceu o impensável. Alguns garrafões apareceram rigorosamente atestados… de água. Que fazer neste caso? Havia a possibilidade de se realizar um auto que já não seria de recepção e que, portanto, a Intendência dificilmente aprovaria. No fundo, era a palavra da Unidade contra a do Órgão Logístico distribuidor, cuja palavra, à partida, faria fé.
Mas a CArt não terá seguido apenas esse caminho.
O capitão Mansilha ordenou o envio dos garrafões com a água para a delegação do Laboratório Militar, em Bissau, pedindo uma análise ao respectivo conteúdo. O laboratório, não sabendo a origem do produto remetido, deverá ter pensado que se tratava de água proveniente de alguma fonte ou poço situado na zona de acção da companhia e, pouco tempo depois, respondeu que se tratava de água imprópria para consumo e com matérias orgânicas pútridas em suspensão.
O capitão Mansilha escrevia bem, ou não fosse advogado, e redigiu uma nota a reclamar junto da Intendência contra o fornecimento que esta fizera, nomeadamente informando que o estômago do seu pessoal não era propriamente um tubo de ensaio.
Claro que a “insolência” teve resposta através da ameaça de que, se se voltasse a repetir uma situação idêntica, seria dado conhecimento superior, para o correspondente procedimento disciplinar.
De novo a clarividência e a argúcia do advogado brilhou com uma resposta que, em linhas gerais, podemos sintetizar assim:
- Não há necessidade de incómodo para apresentação do assunto a instâncias superiores pois, da próxima vez – se tal se verificar – será a própria companhia que o fará.
Volto a dizer que não tenho qualquer elemento que me prove que as coisas se passaram exactamente assim. Todavia, algo de parecido terá sucedido, uma vez que o “Jornal da Caserna” publicação satírica que se publica em todas as guerras e mais ainda nas “guerras a petróleo”, registou o evento, o que dá um certo fundamento à notícia que nunca terá chegado a ser uma informação de boa classificação.
Mem-Martins 28 de Abril de 2015
JAPC
____________
Nota do editor
Último poste da série de 13 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13493: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (12): Como vejo o 10 de Agosto de 1972
A MINHA GUERRA A PETRÓLEO
13 - Uma da Nossa Intendência
Vou contar esta história tal como me foi contada no longínquo ano de 1968. Não tive possibilidade de verificar se foi assim que tudo se passou, embora tivesse sido contemporâneo, em Cacine, da CART 1659. Por isso corro o risco de exagerar um ou outro pormenor ou, talvez pelo contrário, de deixar para trás algo que foi importante.
A CArt ocupava Gadamael e era comandada pelo Cap. Mil.º Art.ª Mansilha, advogado de profissão, mas que, pelas vicissitudes a tantos outros sucedidas, ali fora parar. Nesse tempo a Intendência fornecia vinho às unidades em dois tipos de embalagens: barris de 50 litros ou garrafões de vidro – transparentes, para o branco, e verdes-escuros, para o tinto – com 10 litros de capacidade, rolhados com uma tampa de plástico, e protegidos por uma espécie de grandes aparas de madeira muito fina e ligadas por arames. Depois de vazios, estes invólucros não eram devolvidos e, por isso, eram frequentemente usados em funções decorativas. Os barris, desmontados e devidamente serradas as suas aduelas, serviam para a construção de pequenas mesas, cadeiras (por vezes de braços), bancos e outros “móveis” que embelezavam e tornavam mais cómodas as “salas de convívio”, “quartos”, “refeitórios”, etc.. Aos garrafões estava consignado um papel mais decorativo, especialmente aos transparentes que, depois de pintados por dentro, serviam de jarrões com pinturas “modernistas”. Quer uns, quer outros, podiam depois receber na estreita boca, folhas de palmeira ou outros arranjos de flores secas e constituir motivos de decoração. A técnica de pintura era, como é de calcular improvisadamente engenhosa. As tintas eram cuidadosamente introduzidas na boca do garrafão e ficavam a escorrer lentamente na parede interior deste e, consoante a posição em que o garrafão fosse posto, surgia uma decoração a várias cores e com formatos que o “pintor” não controlava, mas que lhe permitia obter um efeito muito original.
Ao que parece o vinho de garrafão era debitado a um preço mais elevado que o do barril, mas tenho para mim que a qualidade de ambos os produtos se equivalia e não era possível detectar pelo paladar a embalagem de origem do néctar em apreço.
Por razões que não consegui determinar a CArt 1659 não consumia vinho de barril.
Era frequente surgirem pequenas falcatruas com o vinho durante o transporte, muitas vezes só detectáveis já no momento da distribuição. Quem observasse o interior de um pipo podia, às vezes encontrar pequenos pauzitos, espécie de palitos, cravados em locais “estratégicos” entre as aduelas dos barris que tinham permitido a saída de algum líquido para uma ou outra garganta mais sequiosa.
A violação dos garrafões era mais difícil. Só pela cápsula de plástico que cobria a rolha e uma boa parte do gargalo. Era, porém possível abri-lo, consumi-lo na totalidade e voltar a rolhá-lo com engenho e entregá-lo como genuíno chá de parreira. Era uma técnica mais difícil de aplicar e daí talvez a opção de fornecimento da unidade de Gadamael/Ganturé.
Porém, um dia aconteceu o impensável. Alguns garrafões apareceram rigorosamente atestados… de água. Que fazer neste caso? Havia a possibilidade de se realizar um auto que já não seria de recepção e que, portanto, a Intendência dificilmente aprovaria. No fundo, era a palavra da Unidade contra a do Órgão Logístico distribuidor, cuja palavra, à partida, faria fé.
Mas a CArt não terá seguido apenas esse caminho.
O capitão Mansilha ordenou o envio dos garrafões com a água para a delegação do Laboratório Militar, em Bissau, pedindo uma análise ao respectivo conteúdo. O laboratório, não sabendo a origem do produto remetido, deverá ter pensado que se tratava de água proveniente de alguma fonte ou poço situado na zona de acção da companhia e, pouco tempo depois, respondeu que se tratava de água imprópria para consumo e com matérias orgânicas pútridas em suspensão.
O capitão Mansilha escrevia bem, ou não fosse advogado, e redigiu uma nota a reclamar junto da Intendência contra o fornecimento que esta fizera, nomeadamente informando que o estômago do seu pessoal não era propriamente um tubo de ensaio.
Claro que a “insolência” teve resposta através da ameaça de que, se se voltasse a repetir uma situação idêntica, seria dado conhecimento superior, para o correspondente procedimento disciplinar.
De novo a clarividência e a argúcia do advogado brilhou com uma resposta que, em linhas gerais, podemos sintetizar assim:
- Não há necessidade de incómodo para apresentação do assunto a instâncias superiores pois, da próxima vez – se tal se verificar – será a própria companhia que o fará.
Volto a dizer que não tenho qualquer elemento que me prove que as coisas se passaram exactamente assim. Todavia, algo de parecido terá sucedido, uma vez que o “Jornal da Caserna” publicação satírica que se publica em todas as guerras e mais ainda nas “guerras a petróleo”, registou o evento, o que dá um certo fundamento à notícia que nunca terá chegado a ser uma informação de boa classificação.
Mem-Martins 28 de Abril de 2015
JAPC
____________
Nota do editor
Último poste da série de 13 de agosto de 2014 > Guiné 63/74 - P13493: A minha guerra a petróleo (ex-Cap Art Pereira da Costa) (12): Como vejo o 10 de Agosto de 1972
Guiné 63/74 - P14571: Convívios (674): XIII Encontro do pessoal da CART 2520 (Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71), dia 30 de Maio de 2015 em Mira de Aire (José Nascimento)
1. O nosso camarada José Nascimento (ex-Fur Mil Art da CART 2520, Xime, Enxalé, Mansambo e Quinhamel, 1969/71) pede-nos para publicitar o XIII Encontro do pessoal da sua Unidade a levar a efeito no próximo dia 30 de Maio de 2015 em Mira de Aire:
Caro Amigo Carlos Vinhal,
Agradeço a publicação no blogue, do 13º. convívio da Cart 2520, que esteve no Xime e Quinhamel e que irá realizar-se no dia 30 de Maio de 2015, em Mira de Aire.
As honras da casa serão realizadas pelo grande operacional e excelente apontador de morteiro 60, o 1.º Cabo José Manuel Vitória Cordeiro.
Com um grande abraço
José Nascimento
____________
Nota do editor
Último poste da série de 5 DE mAIO DE 2015 > Guiné 63/74 - P14569: Convívios (673): XI Encontro do pessoal da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), no próximo dia 30 de Maio de 2015, em Viana do Castelo (Abel Santos)
Caro Amigo Carlos Vinhal,
Agradeço a publicação no blogue, do 13º. convívio da Cart 2520, que esteve no Xime e Quinhamel e que irá realizar-se no dia 30 de Maio de 2015, em Mira de Aire.
As honras da casa serão realizadas pelo grande operacional e excelente apontador de morteiro 60, o 1.º Cabo José Manuel Vitória Cordeiro.
Com um grande abraço
José Nascimento
____________
Nota do editor
Último poste da série de 5 DE mAIO DE 2015 > Guiné 63/74 - P14569: Convívios (673): XI Encontro do pessoal da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), no próximo dia 30 de Maio de 2015, em Viana do Castelo (Abel Santos)
Guiné 63/74 - P14570: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (3): Reunião com o Gen Spínola e início do IAO em Bolama
1. Mensagem do nosso camarada António Murta, ex-Alf Mil Inf.ª Minas e Armadilhas da 2.ª
CCAÇ/BCAÇ 4513 (Aldeia Formosa, Nhala e Buba, 1973/74), com data de 28 de Abril de 2015:
Luís Graça e Carlos Vinhal, Camaradas amigos.
Antes de mais, quero felicitar-vos pelo sucesso do X Encontro em Monte Real. Com muito mérito vosso e dos demais organizadores, acho que esteve à altura da dimensão e prestígio da Tabanca Grande. Então, pode dizer-se que todos estamos de parabéns.
Junto em anexo mais um texto das minhas memórias. Noutro mail que enviarei já de seguida, segue novo texto.
Um abraço fraterno para ambos,
A. Murta
[Recapitulando o anterior poste: 23-03-1973 – Chegada a Bolama; 1ªs impressões; Início da IAO; Boas vindas do Gen. Spínola ao Batalhão 4513; Desfile das tropas perante o CMDT-Chefe e demais individualidades].
Concluídas as cerimónias, enquanto a maioria debandava, todos os oficiais e sargentos estavam convocados para uma reunião com o General num salão do Hotel Turismo, actual messe de oficiais. Durou duas horas, esta reunião.
(Do que se passou naquela sala soturna e constrangida, creio que já em tempos aflorei (ou dei mesmo conta?) no nosso blogue. Na dúvida, e por uma questão prática transcrevo do meu diário):
Acomodados todos os presentes, fixaram-se as atenções na mesa presidida pelo Gen. Spínola, ladeado por todo o Comando do Batalhão e outros oficiais da sua comitiva. Era notória a frieza do General para com o Comandante do Batalhão, votado ao ostracismo e visivelmente incomodado.
O General, depois de palestrar para todos sobre o retrato da situação na Guiné e do papel que nos cabia a nós no evoluir dessa situação, deu por encerrada a primeira parte da reunião e convidou os sargentos e furriéis a saírem. Prosseguiu de imediato a reunião apenas com os oficiais. Estava muito interessado em saber o que pensávamos nós sobre aquela guerra e sobre a nossa acção nela e junto das populações.
Para meu azar, aponta-me o dedo e diz:
- O nosso alferes que pensa de tudo o que já aqui foi exposto?
Surpreso, levantei-me com todas as atenções concentradas em mim e, num ápice, percebi que não iria falar apenas para ele, tendo de decidir rapidamente que versão escolheria entre várias hipóteses a considerar. Então, muito contrafeito e cobardemente, (sensatamente?), recitei-lhe a cartilha oficial, a que me ensinaram, sem introduzir originalidades nem virtuosismos, enfim, pensando que era o que ele queria ouvir (e não era), mesmo se o meu pensamento estava nos antípodas do que lhe dizia, devido à minha formação política, muito anterior à entrada para o Exército. O General ouviu-me em silêncio e depois mandou-me sentar. E eu a ler-lhe o pensamento: Mais um idiota!
Depois interpelou o Alf. Capelão com a mesma questão.
Quando este começou a falar, sem tibiezas e com uma audácia a roçar o desaforo, para as circunstâncias e para a época, eu não sabia onde me havia de enfiar... Foi então que o Gen. Spínola o interrompeu para o pôr à vontade, dizendo-lhe:
- O nosso Alferes pode falar à vontade, dizer o que pensa, porque daquela porta - e apontou - não sairá uma palavra. (O Comandante do Batalhão, enfiado, transpirava e bufava...).
E ele continuou, pondo em dúvida o colonialismo e a legitimidade de tudo aquilo que a maioria entende por legítimo, natural, a ordem das coisas..., mas também questionando o estado social da colónia, em pleno século XX, depois de 500 anos de colonização. Falou bastante tempo sem ser interrompido. Era um valente. (E não apenas intelectualmente: vi-lhe dar um murro nos queixos a um soldado que apalpou o rabo a uma adolescente estudante de Bolama que seguia à nossa frente no passeio, que ele até voou! Éramos amigos e com muito respeito mútuo: ele era padre católico e eu ateu empedernido. Desapareceu depois de uma distribuição clandestina de panfletos à tropa sobre, creio, a má alimentação que era distribuída aos soldados, - ou a toda a tropa?).
O General pareceu ter gostado do que ouviu ao Alferes Capelão e disse para o seu Ajudante-de-Campo tomar nota de que lhe devia enviar, de oferta, o seu livro “Portugal e o Futuro”, ainda não publicado. (Só mais tarde, quando o livro saiu, e com a polémica à sua volta, percebi o seu interesse em auscultar os militares a propósito da situação na Guiné e do seu desfecho político e militar, pois que ele preconizava uma solução diferente para a colónia. Adquiri o livro muitos anos depois).
9 de Abril de 1973 – (segunda-feira) – Início da 1ª semana de campo no interior de Bolama
Deslocámo-nos muito para o interior da ilha e acampámos numa zona elevada e, de certo modo, aprazível. Na nossa frente e em baixo podia ver-se o mar, ainda que a grande distância. Na verdade é o canal marítimo entre a ilha de Bolama e o continente. Próximo deste local fica uma pequena tabanca de etnia Mancanha ou Brames, não recordo, mas são as etnias maioritárias em Bolama. Da Guiné que eu conheci, foi o único local em que vi as mulheres usarem uma tanguinha de palha de arroz sem mais nada sobre o corpo. Excepção para a cidade de Bolama e, aqui na tabanca, num caso ou outro. Parece que é comum esta forma de “vestir” em todo o arquipélago dos Bijagós.
Pouco depois da nossa chegada fiz uma visita à tabanca e fiquei encantado, embora visse nos homens-grandes alguma desconfiança e agressividade. Talvez tenham razões para isso: já por aqui passaram muitos tropas e, por certo, nem todos respeitadores. Mas as bajudas e as crianças são adoráveis: à noite, quando acendemos fogueiras no acampamento para afastar os mosquitos e a horrível – e chata! – mosquinha do capim, aparecem de mansinho algumas bajudas e, pasme-se!, sentam-se no chão como nós, no meio das nossas pernas, encostadas a nós e viradas para a fogueira. Imagine-se, vestidas só de tanguinha e de um sorriso doce..., mas sem qualquer maldade. Perante este afecto e inocência, também da nossa parte estava fora de questão qualquer maldade. São miúdas com idades, talvez, a partir dos 13, 14 e 17 no máximo. Falam um português razoável, mercê, talvez, da proximidade da cidade de Bolama e, quem sabe, do já longo contacto com a tropa.
As mais velhitas não costumam aparecer à noite mas vamos encontrá-las de dia na fonte. Eu e o meu amigo J. R. já tínhamos bajudas “dedicadas”... A fonte era uma espécie de centro de convívio, (felizmente não era hábito aparecerem outros camaradas), para onde nos escapávamos nos tempos livres e aí íamos encontrar também as mulheres-grandes, sisudas e desconfiadas.
Quando abalavam, carregadas de cabaças e alguidares com água à cabeça, as bajudas mais velhitas começavam as suas higienes, largavam as tangas e pegavam no sabão e nas “esponjas” feitas de raízes secas e muito finas. Ensaboavam-se até onde chegavam e depois estendiam-nos as “esponjas” para que as lavássemos por trás. Aí, a nossa lascívia misturava-se com a falsa naturalidade e, era certo, com uma grande dose de maldade. Elas correspondiam com risadas e sensualidade, mas não se passava dali. Até que um dia... (talvez, de caminho, venha a contar um episódio lamentável, fruto da nossa ousadia e irresponsabilidade, mas que agora não cabe aqui).
Fiz junto desta população amizades fortes, especialmente com as crianças: um rapazito e três bajudinhas de uma doçura enorme. Quando chegou a hora de os deixarmos de vez, no momento da despedida até me beijaram. Só tive um caso em que me zanguei deveras: foi com um velho que não falava bem o português e que embeiçou com a minha faca de mato. Só quando lha passei para as mãos percebi que queria ficar com ela. Foi um problema para a reaver e receei ter que usar a força.
Havia na ilha, (na pequena parcela que me foi dado conhecer), outros encantos e outros prazeres. Um deles, era cruzar-me a meio da manhã, numa picada exuberante, com um vendedor de vinho de palma em marcha acelerada rumo à cidade. Distinguia-se ao longe, bamboleante, com a sua carga suspensa da vara que carregava ao ombro: de cada extremidade da vara pendia um grande garrafão. Parava, satisfeito, e nós enchíamos os cantis daquele líquido aromático e fresco, que se bebia de um fôlego, até se aprender como era enganadora aquela suave frescura... O homenzinho partia de novo na sua marcha, mais aliviado da carga que, a partir de agora, carregaria a nossa cabeça... Cabeça-grande, já se vê.
O treino militar propriamente dito, e era para isso que ali estávamos, foi muito desagradável. Não se esperava que fosse agradável, mas foi difícil a adaptação àquelas condições: manhãs muito frias, zonas de capim orvalhado e muito alto, (mais alto que um homem), e infestado de uma mosquinha minúscula que nos envolvia, metendo-se nas narinas, nos ouvidos, enfim... era com este incómodo e com os camuflados encharcados que fazíamos as emboscadas, os golpes de mão e as restantes peripécias do treino, incluindo ser-mos abatidos pelo “IN” num meio tão adverso. Mas já dava para antecipar o que nos esperava no cenário real da nossa futura actividade. Se este treino tinha como objectivo preparar-nos melhor para ela e compensar a deficiente preparação da Metrópole, então havia que aguentar e aproveitar ao máximo, sendo certo que não iria resolver o desnível da preparação dos graduados em relação aos soldados. Imaginava já os custos altos com que, gradualmente no mato ganhariam a prática que agora lhes faltava, frente a um inimigo experimentado e motivado. Não devia valer. Estava a chegar ao fim a primeira semana de campo.
15 de Abril de 1973 (Domingo) – Fim-de-semana em Bolama
Fomos passar o fim-de-semana a Bolama. Nesta data já sabia que em 24 de Abril partiria para Nhala, uma pequena povoação no interior e a sul da Guiné. Sem mais pormenores. Será aí que, finalmente, ficaremos a cumprir a comissão.
Foi um fim-de-semana em cheio. Retemperar forças, fazer higienes adequadas mas, principalmente, comer bem. Havia que aproveitar os derradeiros dias de relativa tranquilidade. Avizinhavam-se tempos difíceis e incertos. Nesta quase noite de domingo, foi um “fartar vilanagem”! Fomos à Pensão do Zeca, um tipo de Coimbra aqui radicado há 25 anos. Ostras! Queríamos ostras! Era uma mesa enorme bem composta de comensais. Eu estava sentado ao lado Alferes Capelão que, enquanto esperávamos pelo pitéu, se pegou com o camarada da frente por este, com simulacros de mau gosto, o ter provocado. Acho que era o Alferes M., sempre muito divertido mas que teve a ideia peregrina de fazer hóstias com miolo de pão e pôr-se para lá a benzê-las à frente do Capelão. A coisa esteve mesmo para azedar... Comemos, pois, muitas ostras. Mas no fim o estômago ainda reclamava. Mandaram-se fazer omeletes de carne com batatas fritas e, parecia, tudo se recompunha em definitivo. Mas, aproximava-se a hora do jantar (!) e já dali não saímos: aguardava-nos um leitão que havíamos encomendado com antecedência e ele chegou mesmo na hora.
(continua)
Texto: © António Murta
____________
Nota do editor
Poste anterior da série de 8 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14446: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (2): Partida para Bolama, IAO e visita do General Spínola
Luís Graça e Carlos Vinhal, Camaradas amigos.
Antes de mais, quero felicitar-vos pelo sucesso do X Encontro em Monte Real. Com muito mérito vosso e dos demais organizadores, acho que esteve à altura da dimensão e prestígio da Tabanca Grande. Então, pode dizer-se que todos estamos de parabéns.
Junto em anexo mais um texto das minhas memórias. Noutro mail que enviarei já de seguida, segue novo texto.
Um abraço fraterno para ambos,
A. Murta
CADERNO DE MEMÓRIAS
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74
A. MURTA – GUINÉ, 1973-74
[Recapitulando o anterior poste: 23-03-1973 – Chegada a Bolama; 1ªs impressões; Início da IAO; Boas vindas do Gen. Spínola ao Batalhão 4513; Desfile das tropas perante o CMDT-Chefe e demais individualidades].
3 - REUNIÃO DE GRADUADOS COM O GEN. SPÍNOLA
Concluídas as cerimónias, enquanto a maioria debandava, todos os oficiais e sargentos estavam convocados para uma reunião com o General num salão do Hotel Turismo, actual messe de oficiais. Durou duas horas, esta reunião.
(Do que se passou naquela sala soturna e constrangida, creio que já em tempos aflorei (ou dei mesmo conta?) no nosso blogue. Na dúvida, e por uma questão prática transcrevo do meu diário):
Acomodados todos os presentes, fixaram-se as atenções na mesa presidida pelo Gen. Spínola, ladeado por todo o Comando do Batalhão e outros oficiais da sua comitiva. Era notória a frieza do General para com o Comandante do Batalhão, votado ao ostracismo e visivelmente incomodado.
O General, depois de palestrar para todos sobre o retrato da situação na Guiné e do papel que nos cabia a nós no evoluir dessa situação, deu por encerrada a primeira parte da reunião e convidou os sargentos e furriéis a saírem. Prosseguiu de imediato a reunião apenas com os oficiais. Estava muito interessado em saber o que pensávamos nós sobre aquela guerra e sobre a nossa acção nela e junto das populações.
Para meu azar, aponta-me o dedo e diz:
- O nosso alferes que pensa de tudo o que já aqui foi exposto?
Surpreso, levantei-me com todas as atenções concentradas em mim e, num ápice, percebi que não iria falar apenas para ele, tendo de decidir rapidamente que versão escolheria entre várias hipóteses a considerar. Então, muito contrafeito e cobardemente, (sensatamente?), recitei-lhe a cartilha oficial, a que me ensinaram, sem introduzir originalidades nem virtuosismos, enfim, pensando que era o que ele queria ouvir (e não era), mesmo se o meu pensamento estava nos antípodas do que lhe dizia, devido à minha formação política, muito anterior à entrada para o Exército. O General ouviu-me em silêncio e depois mandou-me sentar. E eu a ler-lhe o pensamento: Mais um idiota!
Depois interpelou o Alf. Capelão com a mesma questão.
Quando este começou a falar, sem tibiezas e com uma audácia a roçar o desaforo, para as circunstâncias e para a época, eu não sabia onde me havia de enfiar... Foi então que o Gen. Spínola o interrompeu para o pôr à vontade, dizendo-lhe:
- O nosso Alferes pode falar à vontade, dizer o que pensa, porque daquela porta - e apontou - não sairá uma palavra. (O Comandante do Batalhão, enfiado, transpirava e bufava...).
E ele continuou, pondo em dúvida o colonialismo e a legitimidade de tudo aquilo que a maioria entende por legítimo, natural, a ordem das coisas..., mas também questionando o estado social da colónia, em pleno século XX, depois de 500 anos de colonização. Falou bastante tempo sem ser interrompido. Era um valente. (E não apenas intelectualmente: vi-lhe dar um murro nos queixos a um soldado que apalpou o rabo a uma adolescente estudante de Bolama que seguia à nossa frente no passeio, que ele até voou! Éramos amigos e com muito respeito mútuo: ele era padre católico e eu ateu empedernido. Desapareceu depois de uma distribuição clandestina de panfletos à tropa sobre, creio, a má alimentação que era distribuída aos soldados, - ou a toda a tropa?).
O General pareceu ter gostado do que ouviu ao Alferes Capelão e disse para o seu Ajudante-de-Campo tomar nota de que lhe devia enviar, de oferta, o seu livro “Portugal e o Futuro”, ainda não publicado. (Só mais tarde, quando o livro saiu, e com a polémica à sua volta, percebi o seu interesse em auscultar os militares a propósito da situação na Guiné e do seu desfecho político e militar, pois que ele preconizava uma solução diferente para a colónia. Adquiri o livro muitos anos depois).
9 de Abril de 1973 – (segunda-feira) – Início da 1ª semana de campo no interior de Bolama
Deslocámo-nos muito para o interior da ilha e acampámos numa zona elevada e, de certo modo, aprazível. Na nossa frente e em baixo podia ver-se o mar, ainda que a grande distância. Na verdade é o canal marítimo entre a ilha de Bolama e o continente. Próximo deste local fica uma pequena tabanca de etnia Mancanha ou Brames, não recordo, mas são as etnias maioritárias em Bolama. Da Guiné que eu conheci, foi o único local em que vi as mulheres usarem uma tanguinha de palha de arroz sem mais nada sobre o corpo. Excepção para a cidade de Bolama e, aqui na tabanca, num caso ou outro. Parece que é comum esta forma de “vestir” em todo o arquipélago dos Bijagós.
Pouco depois da nossa chegada fiz uma visita à tabanca e fiquei encantado, embora visse nos homens-grandes alguma desconfiança e agressividade. Talvez tenham razões para isso: já por aqui passaram muitos tropas e, por certo, nem todos respeitadores. Mas as bajudas e as crianças são adoráveis: à noite, quando acendemos fogueiras no acampamento para afastar os mosquitos e a horrível – e chata! – mosquinha do capim, aparecem de mansinho algumas bajudas e, pasme-se!, sentam-se no chão como nós, no meio das nossas pernas, encostadas a nós e viradas para a fogueira. Imagine-se, vestidas só de tanguinha e de um sorriso doce..., mas sem qualquer maldade. Perante este afecto e inocência, também da nossa parte estava fora de questão qualquer maldade. São miúdas com idades, talvez, a partir dos 13, 14 e 17 no máximo. Falam um português razoável, mercê, talvez, da proximidade da cidade de Bolama e, quem sabe, do já longo contacto com a tropa.
As mais velhitas não costumam aparecer à noite mas vamos encontrá-las de dia na fonte. Eu e o meu amigo J. R. já tínhamos bajudas “dedicadas”... A fonte era uma espécie de centro de convívio, (felizmente não era hábito aparecerem outros camaradas), para onde nos escapávamos nos tempos livres e aí íamos encontrar também as mulheres-grandes, sisudas e desconfiadas.
Quando abalavam, carregadas de cabaças e alguidares com água à cabeça, as bajudas mais velhitas começavam as suas higienes, largavam as tangas e pegavam no sabão e nas “esponjas” feitas de raízes secas e muito finas. Ensaboavam-se até onde chegavam e depois estendiam-nos as “esponjas” para que as lavássemos por trás. Aí, a nossa lascívia misturava-se com a falsa naturalidade e, era certo, com uma grande dose de maldade. Elas correspondiam com risadas e sensualidade, mas não se passava dali. Até que um dia... (talvez, de caminho, venha a contar um episódio lamentável, fruto da nossa ousadia e irresponsabilidade, mas que agora não cabe aqui).
Fiz junto desta população amizades fortes, especialmente com as crianças: um rapazito e três bajudinhas de uma doçura enorme. Quando chegou a hora de os deixarmos de vez, no momento da despedida até me beijaram. Só tive um caso em que me zanguei deveras: foi com um velho que não falava bem o português e que embeiçou com a minha faca de mato. Só quando lha passei para as mãos percebi que queria ficar com ela. Foi um problema para a reaver e receei ter que usar a força.
Havia na ilha, (na pequena parcela que me foi dado conhecer), outros encantos e outros prazeres. Um deles, era cruzar-me a meio da manhã, numa picada exuberante, com um vendedor de vinho de palma em marcha acelerada rumo à cidade. Distinguia-se ao longe, bamboleante, com a sua carga suspensa da vara que carregava ao ombro: de cada extremidade da vara pendia um grande garrafão. Parava, satisfeito, e nós enchíamos os cantis daquele líquido aromático e fresco, que se bebia de um fôlego, até se aprender como era enganadora aquela suave frescura... O homenzinho partia de novo na sua marcha, mais aliviado da carga que, a partir de agora, carregaria a nossa cabeça... Cabeça-grande, já se vê.
O treino militar propriamente dito, e era para isso que ali estávamos, foi muito desagradável. Não se esperava que fosse agradável, mas foi difícil a adaptação àquelas condições: manhãs muito frias, zonas de capim orvalhado e muito alto, (mais alto que um homem), e infestado de uma mosquinha minúscula que nos envolvia, metendo-se nas narinas, nos ouvidos, enfim... era com este incómodo e com os camuflados encharcados que fazíamos as emboscadas, os golpes de mão e as restantes peripécias do treino, incluindo ser-mos abatidos pelo “IN” num meio tão adverso. Mas já dava para antecipar o que nos esperava no cenário real da nossa futura actividade. Se este treino tinha como objectivo preparar-nos melhor para ela e compensar a deficiente preparação da Metrópole, então havia que aguentar e aproveitar ao máximo, sendo certo que não iria resolver o desnível da preparação dos graduados em relação aos soldados. Imaginava já os custos altos com que, gradualmente no mato ganhariam a prática que agora lhes faltava, frente a um inimigo experimentado e motivado. Não devia valer. Estava a chegar ao fim a primeira semana de campo.
15 de Abril de 1973 (Domingo) – Fim-de-semana em Bolama
Fomos passar o fim-de-semana a Bolama. Nesta data já sabia que em 24 de Abril partiria para Nhala, uma pequena povoação no interior e a sul da Guiné. Sem mais pormenores. Será aí que, finalmente, ficaremos a cumprir a comissão.
Foi um fim-de-semana em cheio. Retemperar forças, fazer higienes adequadas mas, principalmente, comer bem. Havia que aproveitar os derradeiros dias de relativa tranquilidade. Avizinhavam-se tempos difíceis e incertos. Nesta quase noite de domingo, foi um “fartar vilanagem”! Fomos à Pensão do Zeca, um tipo de Coimbra aqui radicado há 25 anos. Ostras! Queríamos ostras! Era uma mesa enorme bem composta de comensais. Eu estava sentado ao lado Alferes Capelão que, enquanto esperávamos pelo pitéu, se pegou com o camarada da frente por este, com simulacros de mau gosto, o ter provocado. Acho que era o Alferes M., sempre muito divertido mas que teve a ideia peregrina de fazer hóstias com miolo de pão e pôr-se para lá a benzê-las à frente do Capelão. A coisa esteve mesmo para azedar... Comemos, pois, muitas ostras. Mas no fim o estômago ainda reclamava. Mandaram-se fazer omeletes de carne com batatas fritas e, parecia, tudo se recompunha em definitivo. Mas, aproximava-se a hora do jantar (!) e já dali não saímos: aguardava-nos um leitão que havíamos encomendado com antecedência e ele chegou mesmo na hora.
(continua)
Texto: © António Murta
____________
Nota do editor
Poste anterior da série de 8 de abril de 2015 > Guiné 63/74 - P14446: Caderno de Memórias de A. Murta, ex-Alf Mil da 2.ª CCAÇ/BCAÇ 4513 (2): Partida para Bolama, IAO e visita do General Spínola
Guiné 63/74 - P14569: Convívios (673): XI Encontro do pessoal da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), no próximo dia 30 de Maio de 2015, em Viana do Castelo (Abel Santos)
1. Conforme foi solicitado pelo nosso camarada Abel Santos (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), estamos a dar conhecimento do XI Encontro do pessoal da sua Unidade, a levar a efeito no próximo dia 30 de Maio de 2015, em Viana do Castelo.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 3 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14562: Convívios (672): Almoço Convívio do CART 2479, no Vimeiro, Lourinhã, no dia 30 de Maio (Valdemar Queirós)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 3 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14562: Convívios (672): Almoço Convívio do CART 2479, no Vimeiro, Lourinhã, no dia 30 de Maio (Valdemar Queirós)
Guiné 63/74 - P14568: Tabanca Grande (463): Joviano Teixeira, grã-tabanqueiro nº 687... É natural de Tavira, e pertenceu à CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)
Foto nº 13 > Foto de grupo: os cozinheiros e ajudantes de cozinha da CCAÇ 4142 (Gampará, 1972/74)
Foto nº 1 > Joviano Teixeira
Foto nº 2 > O Joviano é o primeiro de pé, do lado direito
Foto nº 3 > Sentado num cais, o Joviano é o primeiro, do lado direito
Foto nº 4 > O Joviano é o primeiro do lado direito
Foto nº 5 > O Joviano, junto ao monumento às forças ao serviço do COP 7 (Bafatá) que ocuparam e construíram a partir de 1972 o aquartelamento de Gampará, desalojando o PAIGC da margem esquerda da foz do Rio Corubal (península de Gampará, região de Quinara, habitada sobretudo por beafadas): entre outras unidades, a CART 3417 (Magalas de Gampará), vários DFE - Destacamentos de Fuzileiros Especiais (4, 8, 13, 21, 22), a CCP 121/BCP 12, a 2ª CCAÇ - Companhia de Comandos Africanos, o Pel Art 29, o Pel Mil 331, e a 38.ª CComandos
Foto nº 6 > O Joviano em cima da cobertura de um abrigo...
Foto nº 7 > O Joviano é o primeiro do lado direito
Foto nº 8 > Num bagabaga, o Joviano é o primeiro do lado direito (1)
Foto nº 9 > Num bagabaga, o Joaviano é o primeiro do lado direito (2)
Foto nº 10 > Foto de grupo: esfolando uma vaca
Foto nº 11 > O Joviano à volta dos tachos e panelas (1)
Foto nº 12 > O Joviano à volta dos tachos e panelas (2)
1. Mensagem enviada, em 8 de abril último, pelo nosso camarada Joviano Teixeira, natural de Tavira [, foto à direita,] que passa ser o grã-tabanqueiro nº 687:
Boa noite Graça
Venho enviar algumas fotos da minha companhia, a CCAÇ 4142, "Herdeiros de Gampará" (Gampará, 1972/74), no sentido das mesmas poderem ser publicadas no blogue, o qual acho muito útil porque se trata de um recurso muito importante.
Anexo as fotos:
Abraço,
Joviano Neto Mendonça Teixeira
Nascido a 16 de março de 1951
Luz de Tavira, Tavira
PS - Vou tentar legendar as fotos e identificar os camaradas que me lembrar.
Agradecido
Guiné > Região de Quinara > Fulacunda > Mapa de Fulacunda (1956) > Escala 1/50 mil > Posição relativa de Gampará e da Ponta do Inglês na Foz do Rio Corubal
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013)
2. Resposta do editor, no mesmo dia:
(...) De: Joviano Teixeira
Joviano: Recordas-te do nosso convite para integrares a nossa Tabanca Grande ? (*) Na altura escrevemos: "O ideal era termos duas fotografais tuas, uma atual e outra do teu tempo de Guiné, para a malta te poder reconhecer e contactar. Ficas, desde já, convidado a integrar a nossa magnífica Tabanca Grande. Entre camaradas e amigos da Guiné, vivos, somos já cerca de seis centenas. Serás bem vindo, tanto mais que não temos ninguém que represente os 'Herdeiros de Gampará'. Por outro lado, sobre Gampará também só temos nove referências. Espero que nos contes histórias do teu tempo de Gampará."...
Hoje estamos a caminho dos 700... E tu passas a ser o nº 686 (**)... Enfim, demoraste algum tempo a responder-nos... De qualquer modo, diz-nos algo mais sobre ti... Julgo que estavas ligado à cozinha, a avaliar por algumas fotos que nos mandas... Se puderes, completa as legendas: diz-nos onde e em que data as fotos foram tiradas, quem são os teus camaradas, etc. A maior parte deve ser de Gampará. As fotos foram editadas e melhoradas por mim, foram também renumeradas... As mais recentes, que me mandaste, serão publicadas oportunamente. Desse lote é a nº 13.
Aqui fica, para já, a tua apresentação formal à Tabanca Grande. Espero notícias tuas em breve.
Um alfabravo.
Luís Graça.
Aqui fica, para já, a tua apresentação formal à Tabanca Grande. Espero notícias tuas em breve.
Um alfabravo.
Luís Graça.
PS1 - Fiz tropa em Tavira e voltei lá há pouco tempo... Bela terra!...
PS2 - Leitor do nosso blogue, é o Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau, há mais de 2 décadas; foi alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74; continuamos a aguardar que ele nos mande uma foto desses tempos heróicos para o apresentar formalmente à Tabanca Grande.
3. Mensagem recente (8 de abril) do nosso camarada Virgílio Valente
Caro Luís Graça, olá!
PS2 - Leitor do nosso blogue, é o Virgílio Valente [Wai Tchi Lone, em chinês], que vive e trabalha em Macau, há mais de 2 décadas; foi alf mil, CCAÇ 4142, Gampará, 1972/74; continuamos a aguardar que ele nos mande uma foto desses tempos heróicos para o apresentar formalmente à Tabanca Grande.
3. Mensagem recente (8 de abril) do nosso camarada Virgílio Valente
Caro Luís Graça, olá!
Também me comprometi contigo e ainda não cumpri. Tenho fotos dos "Herdeiros de Gampará" que vou tentar enviar, depois de fazer um scan. Também tenho a história oficial da Companhia, do arquivo militar, donde constam os nomes dos camaradas que por lá passaram!
Infelizmente estes últimos dois anos têm sido árduos e o tempo tem escasseado, mas vou cumprir o que te prometo. Mais vale tarde que nunca.
Abraço de Macau.
Virgílio Valente
«Se quer ir depressa, vá sozinho! Se quer ir longe, vá junto!» (Provérbio Africano)
«If you want to go fast, go alone! If you want to go far, go together!» (African Proverb)
_____________
Notas do editor:
(*) 15 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11941: Em busca de... (227): Pessoal da CCAÇ 4142, "Herdeiros de Gampará", Gampará, 1972/74 (Joviano Teixeira, residente em Tavira)
Virgílio Valente
«Se quer ir depressa, vá sozinho! Se quer ir longe, vá junto!» (Provérbio Africano)
«If you want to go fast, go alone! If you want to go far, go together!» (African Proverb)
_____________
Notas do editor:
(*) 15 de agosto de 2013 > Guiné 63/74 - P11941: Em busca de... (227): Pessoal da CCAÇ 4142, "Herdeiros de Gampará", Gampará, 1972/74 (Joviano Teixeira, residente em Tavira)
(...) De: Joviano Teixeira
Data: 11 de Agosto de 2013 às 16:27
Assunto: Pedido
Boa tarde, camarada
Desde que voltei da Guiné que não sei nada dos meus camaradas. Apenas sei que quase todos eram da região norte: Lamego, Mondim de Basto, Viana do Castelo, Porto etc.
Pertenci à CCÇ 4142, "Herdeiros de Gampará", Gampará, Guiné. 1972/74.
Se te for possível localizar alguém, nomeadamente saber o local e data do próximo encontro, agradeço.
Resido em Tavira e, como disse, nunca mais soube da malta.
Obrigada pela dedicação (já visitei o blogue e gostei).
Cumprimentos, Joviano.
(**) Último poste da série > 4 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14566: Tabanca Grande (462): Arnaldo Guerreiro, sold cond, Pel Rec AML 2024, "Cavalos de Aço" (Bula, 1968/69)... Grã-tabanqueiro n.º 686
Assunto: Pedido
Boa tarde, camarada
Desde que voltei da Guiné que não sei nada dos meus camaradas. Apenas sei que quase todos eram da região norte: Lamego, Mondim de Basto, Viana do Castelo, Porto etc.
Pertenci à CCÇ 4142, "Herdeiros de Gampará", Gampará, Guiné. 1972/74.
Se te for possível localizar alguém, nomeadamente saber o local e data do próximo encontro, agradeço.
Resido em Tavira e, como disse, nunca mais soube da malta.
Obrigada pela dedicação (já visitei o blogue e gostei).
Cumprimentos, Joviano.
(**) Último poste da série > 4 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14566: Tabanca Grande (462): Arnaldo Guerreiro, sold cond, Pel Rec AML 2024, "Cavalos de Aço" (Bula, 1968/69)... Grã-tabanqueiro n.º 686
Marcadores:
38ª CCmds,
CART 3417,
CCAÇ 4142/72,
Destacamento de Fuzileiros Especiais,
Gampará,
Joviano Teixeira,
Macau,
Tabanca Grande,
Virgílio Valente
Guiné 63/74 - P14567: Parabéns a você (900): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 2317 (Guiné, 1968/69)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 4 de Maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14563: Parabéns a você (899): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)
Nota do editor
Último poste da série de 4 de Maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14563: Parabéns a você (899): José Martins Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enf da CART 2716 (Guiné, 1970/72)
segunda-feira, 4 de maio de 2015
Guiné 63/74 - P14566: Tabanca Grande (462): Arnaldo Guerreiro, sold cond, Pel Rec AML 2024, "Cavalos de Aço" (Bula, 1968/69)... Grã-tabanqueiro n.º 686
1. Mensagem do novo grã-tabanqueiro, Arnaldo Guerreiro [, foto de 2006, à esquerda[:
Louvor atribuído ao sold cav condutor de AML Arnaldo José Fialho Guerreiro, saído na Ordem de Serviço , n.º 305, de 21/12/1968, do BCAV 1915 (Guiné, 1967/69).
Fotos: © Arnaldo Guerreiro (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
_____________
Data: 3 de maio de 2015 às 16:43
Assunto: Guiné 68-69
Primeiro, tens como slogan "Nunca é tarde para aprender", o que é encorajante para muitos camaradas da tua/nossa geração, e que fizeram a guerra da Guiné, mas sentem-se pouco ou nada à vontade para comunicar connosco, através da Internet... Ora este blogue é teu e é deles. Este blogue é de todos os amigos e camaradas da Guiné que queiram dar a cara, como tu. O que nós queremos é não perder as memórias da nossa geração, a começar pelas fotos dos nossos álbuns. E, naturalmente, reforçar os laços de amizade e camaradagem que nos unem, desde então. Como camaradas que fomos (e somos), tratamo-nos por tu.
Assunto: Guiné 68-69
Junto envio algumas fotos para serem incluídas no Blogue da Tabanca Grande.
A minha passagem pela Guiné foi entre janeiro de 68 e outubro de 69, (regressei alguns meses antes, evacuado com hepatite, não mais voltando à Guiné).
Fui soldado condutor AML Panhard. Estive em Bula com o Pel Rec AML 2024, mais tarde incluído no Batalhão de Cavalaria 1915.
Fui soldado condutor AML Panhard. Estive em Bula com o Pel Rec AML 2024, mais tarde incluído no Batalhão de Cavalaria 1915.
No caso de quererem mais alguma foto ainda tenho.
Arnaldo Guerreiro
2. Comentário dos editores:
Arnaldo, és vem vindo à Tabanca Grande. Pelo teu perfil, no Google +, sabemos que trabalhaste na Martins & Rebello, SA, frequentaste em 2011 a Escola Secundária Martinho Árias, "vives em Portugal" (sic) e és um pai e avô. E vê-se que és feliz, a avaliar pelo teu perfil no Google Mais:
Arnaldo Guerreiro
2. Comentário dos editores:
Arnaldo, és vem vindo à Tabanca Grande. Pelo teu perfil, no Google +, sabemos que trabalhaste na Martins & Rebello, SA, frequentaste em 2011 a Escola Secundária Martinho Árias, "vives em Portugal" (sic) e és um pai e avô. E vê-se que és feliz, a avaliar pelo teu perfil no Google Mais:
Primeiro, tens como slogan "Nunca é tarde para aprender", o que é encorajante para muitos camaradas da tua/nossa geração, e que fizeram a guerra da Guiné, mas sentem-se pouco ou nada à vontade para comunicar connosco, através da Internet... Ora este blogue é teu e é deles. Este blogue é de todos os amigos e camaradas da Guiné que queiram dar a cara, como tu. O que nós queremos é não perder as memórias da nossa geração, a começar pelas fotos dos nossos álbuns. E, naturalmente, reforçar os laços de amizade e camaradagem que nos unem, desde então. Como camaradas que fomos (e somos), tratamo-nos por tu.
Por outro lado, na tua apresentação dizes que és natural de Évora, vives em Espírito Santo, Soure... E mais: "Motivos de orgulho: Já sobrevivi a duas guerras, Guerra do Ultramar (Guiné) e enfarte do miocárdio". Achamos que sim, que mereces mais um louvor por teres sabido e podido fintar a morte!... E, já agora, conta-nos como é que lidaste com a hepatite que, na altura, era uma doença tramada que dava direito imediato a evacuação para a metrópole... Deves ter sido tratado no Hospital Militar de Doenças Infecto-Contagiosas (HMDIC), o Hospital Militar de Belém, que era então autónomo (em relação ao Hospital Militar Principal).
Em suma, camarada, tens todo o direito de te sentares à sombra do mágico e fraterno poilão da Tabanca Grande. E para nós, que já cá estamos, alguns há 11 anos (!), é um honra poder receber-te. Passas ser o n.º 686 (*)...
Do Pel Rec AML 2024 temos apenas um camarada teu, se não erramos, o ex-fur mil cav Bernardino Cardoso (**)... Mas vais descobrir mais malta do teu tempo de Bula. Manda mais fotos, com legendas, dos sítios por onde passaste. E divulga o nosso blogue entre os teus camaradas de cavalaria. (Sobre o BCAV 1915, temos ainda poucas referências).
O sold cav condutor de AML Arnaldo José Fialho Guerreiro
Louvor atribuído ao sold cav condutor de AML Arnaldo José Fialho Guerreiro, saído na Ordem de Serviço , n.º 305, de 21/12/1968, do BCAV 1915 (Guiné, 1967/69).
Fotos: © Arnaldo Guerreiro (2015). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: LG]
_____________
Notas dos editores:
(*) Último poste da série > 4 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14565: Tabanca Grande (461): José Maria Pinela (DFA), ex-1.º Cabo TRMS da CCÇ/BCAV 3846 (Ingoré, 1971/73) - Tabanqueiro n.º 685
(**) 16 de julho de 2012 > Guiné 63/74 - P10156: Tabanca Grande (350): Bernardino Cardoso, ex-fur mil, Pel Rec Panhard 2024 (Bula, jan 1968/dez 1969), grã-tabanqueiro nº 567
Guiné 63/74 - P14565: Tabanca Grande (461): José Maria Pinela (DFA), ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BCAV 3846 (Ingoré, 1971/73) - Tabanqueiro n.º 685
1. Mensagem do nosso camarada e novo tertuliano, José Maria Pinela (DFA), ex-1.º Cabo TRMS da CCS/BCAV 3846, que esteve em Ingoré entre 1971 e 1973, com data de 29 de Abril de 2015:
Olá boa tarde caros camaradas da Tabanca Grande,
Sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande onde há sempre lugar disponível para mais um camarada ou amigo da Guiné. É com prazer que te recebemos.
Pelo que nos acabas de contar, foste um dos desafortunados que não conseguiram passar incólumes por aquela guerra. Tiveste a infelicidade de ser ferido durante uma emboscada, tendo ficado marcado fisicamente para sempre. Esperamos que a incapacidade que referes não te impeça de fazeres uma vida "normal", considerando este conceito o mais lato possível.
Já sabes que ficamos ao teu dispor para receber as tuas memórias escritas e/ou fotográficas que ficarão a ser espólio de guerra para consulta futura. É este um dos nossos objectivos. Outros serão a troca de impressões e conhecimentos baseados na experiência de cada um de nós, salvaguardando uma ou outra imprecisão, fruto do tempo já decorrido. Entre todos havemos de deixar algo que seja útil quando nós já cá não estivermos.
Ficaremos ao teu dispor para qualquer esclarecimento, mas na aba esquerda da nossa página podes consultar: "O que nós (não) somos... Em dez pontos" e "Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: Política editorial".
Resta-me deixar em nome dos editores e da tertúlia deste Blogue um abraço de boas vindas.
O teu camarada
Carlos Vinhal
____________
Nota do editor
Último poste da série de 2 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14554: Tabanca Grande (460): Nuno Nazareth Fernandes, que foi alf mil do BENG 447 e radialista em Bissau, 1972/74... Senta-se à sombra do nosso poilão, cabendo-lhe o lugar nº 684
Olá boa tarde caros camaradas da Tabanca Grande,
Sendo meu desejo aderir ao grupo, venho assim pedir a minha adesão, se para isso reunir as condições.
Vou anexar as fotos da praxe, assim como um pequeno texto para de apresentação, não sei se é o suficiente ou não.
Deixo á vossa consideração.
Abraços
José Maria Pinela
2. Camarada Luís Graça
Permite-me um abraço de apresentação.
O meu nome é José Maria Pinela e sou ex-combatente da Guiné, BCAV 3846, 1971/73.
É então no intuito de entrar para o grupo Luís Graça & Camaradas da Guiné que hoje resolvi pedir a adesão uma vez que sou visitante quase diário do Blogue e, desde já, quero elogiar o trabalho desenvolvido.
Assim sendo vou passar a descrever o meu percurso militar como prova de apresentação.
Assentei praça em Elvas, BC 8, na 3.ª Companhia de Instrução do 3.º Turno de 1970, onde fiz a Recruta. Finda esta segui para Lisboa, BC 5, onde fiz a Especialidade de Transmissões de Infantaria. Terminada seta segui para Portalegre, BC 1, onde permaneci até à mobilização (por sinal no dia dos meus 22 anos, 16 de Fevereiro) de onde parti para Estremoz, BC 3, a fim de formar Batalhão na CCS do BCAV 3846, como 1.º Cabo de Transmissões.
Na madrugada do dia 3 de Abril de 1971, rumámos a Lisboa, Cais de Alcântara, onde nos esperava o navio Angra do Heroísmo, que cerca do meio-dia rumou à Guiné, onde chegámos no dia 9 de Abril de 1971.
Depois de um mês no Cumeré, para o IAO, partimos para a nossa zona operacional, ou seja, duas Companhias para o Ingoré, onde eu estive incluído, outra para São Domingos e outra para Susana-Varela.
Decorreu o resto do ano de 1971 conforme se pôde, até que entrou o ano de 1972 que começou mal como o ano anterior. A 14 de Maio caímos numa emboscada, onde fui ferido e evacuado de helicóptero para o HM 241, em Bissau, onde permaneci durante cerca de dois meses, de onde acabei por ser evacuado por via aérea para o Hospital Militar, Anexo em Campolide, de onde saí como DFA, no dia 6 de Abril de 1973, dado como incapaz para todo o serviço militar e apto parcialmente para o trabalho.
O pessoal que restou do Batalhão regressou à Metrópole a 13 de Março de 1973, com o qual vou mantendo contacto até hoje através do convívio anual que se realiza no domingo mais próximo do dia 13 de Março, data de aniversário da chegada.
Foi este o meu percurso militar
José Maria Pinela
3. Comentário do editor
Caro camarada Pinela:
Abraços
José Maria Pinela
************
2. Camarada Luís Graça
Permite-me um abraço de apresentação.
O meu nome é José Maria Pinela e sou ex-combatente da Guiné, BCAV 3846, 1971/73.
É então no intuito de entrar para o grupo Luís Graça & Camaradas da Guiné que hoje resolvi pedir a adesão uma vez que sou visitante quase diário do Blogue e, desde já, quero elogiar o trabalho desenvolvido.
Assim sendo vou passar a descrever o meu percurso militar como prova de apresentação.
Assentei praça em Elvas, BC 8, na 3.ª Companhia de Instrução do 3.º Turno de 1970, onde fiz a Recruta. Finda esta segui para Lisboa, BC 5, onde fiz a Especialidade de Transmissões de Infantaria. Terminada seta segui para Portalegre, BC 1, onde permaneci até à mobilização (por sinal no dia dos meus 22 anos, 16 de Fevereiro) de onde parti para Estremoz, BC 3, a fim de formar Batalhão na CCS do BCAV 3846, como 1.º Cabo de Transmissões.
Na madrugada do dia 3 de Abril de 1971, rumámos a Lisboa, Cais de Alcântara, onde nos esperava o navio Angra do Heroísmo, que cerca do meio-dia rumou à Guiné, onde chegámos no dia 9 de Abril de 1971.
Depois de um mês no Cumeré, para o IAO, partimos para a nossa zona operacional, ou seja, duas Companhias para o Ingoré, onde eu estive incluído, outra para São Domingos e outra para Susana-Varela.
Decorreu o resto do ano de 1971 conforme se pôde, até que entrou o ano de 1972 que começou mal como o ano anterior. A 14 de Maio caímos numa emboscada, onde fui ferido e evacuado de helicóptero para o HM 241, em Bissau, onde permaneci durante cerca de dois meses, de onde acabei por ser evacuado por via aérea para o Hospital Militar, Anexo em Campolide, de onde saí como DFA, no dia 6 de Abril de 1973, dado como incapaz para todo o serviço militar e apto parcialmente para o trabalho.
O pessoal que restou do Batalhão regressou à Metrópole a 13 de Março de 1973, com o qual vou mantendo contacto até hoje através do convívio anual que se realiza no domingo mais próximo do dia 13 de Março, data de aniversário da chegada.
Foi este o meu percurso militar
José Maria Pinela
Cais de Ingoré
Foto: © Arménio Estorninho
3. Comentário do editor
Caro camarada Pinela:
Sê bem-vindo à nossa Tabanca Grande onde há sempre lugar disponível para mais um camarada ou amigo da Guiné. É com prazer que te recebemos.
Pelo que nos acabas de contar, foste um dos desafortunados que não conseguiram passar incólumes por aquela guerra. Tiveste a infelicidade de ser ferido durante uma emboscada, tendo ficado marcado fisicamente para sempre. Esperamos que a incapacidade que referes não te impeça de fazeres uma vida "normal", considerando este conceito o mais lato possível.
Já sabes que ficamos ao teu dispor para receber as tuas memórias escritas e/ou fotográficas que ficarão a ser espólio de guerra para consulta futura. É este um dos nossos objectivos. Outros serão a troca de impressões e conhecimentos baseados na experiência de cada um de nós, salvaguardando uma ou outra imprecisão, fruto do tempo já decorrido. Entre todos havemos de deixar algo que seja útil quando nós já cá não estivermos.
Ficaremos ao teu dispor para qualquer esclarecimento, mas na aba esquerda da nossa página podes consultar: "O que nós (não) somos... Em dez pontos" e "Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné: Política editorial".
Resta-me deixar em nome dos editores e da tertúlia deste Blogue um abraço de boas vindas.
O teu camarada
Carlos Vinhal
____________
Nota do editor
Último poste da série de 2 de maio de 2015 > Guiné 63/74 - P14554: Tabanca Grande (460): Nuno Nazareth Fernandes, que foi alf mil do BENG 447 e radialista em Bissau, 1972/74... Senta-se à sombra do nosso poilão, cabendo-lhe o lugar nº 684
Subscrever:
Mensagens (Atom)