Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sábado, 2 de dezembro de 2017
Guiné 61/74 - P18035: Historiografia da presença portuguesa em África (104): Diogo Macedo e a arte africana (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 6 de Novembro de 2017:
Queridos amigos,
Para entender a importância do testemunho do escultor Diogo Macedo, figura marcante do primeiro modernismo português, é bom contextualizar que neste ano de 1942 os apelos raciais voavam muito alto, havia mesmo revistas pró-alemãs e estava vulgarizado o preconceito de que a arte africana era um primitivismo de bárbaros.
Diogo Macedo sabia perfeitamente que esta arte africana entusiasmara os cubistas e génios da escultura como Alexander Archipenko ou da pintura como Amedeo Modigliani.
Um abraço do
Mário
Diogo Macedo e a arte africana
Beja Santos
A revista Panorama, intitulada Revista Portuguesa de Arte e Turismo, editada a partir de 1941 pelo Secretariado de Propaganda Nacional, concebida por António Ferro e animada por um escol de artistas como Bernardo Marques, Paulo Ferreira, Ofélia Marques, com o concurso de grandes fotógrafos como Domingues Alvão ou Mário Novais, incluía em todos os números colaborações de reputados investigadores e intelectuais. Neste número 9, de 1942, com belíssima capa com um desenho de Bernardo Marques, colaboram personalidades como Gustavo de Matos Sequeira, Vitorino Nemésio ou Diogo Macedo. Este último era um dos mais conceituados escultores do primeiro modernismo, e veio a exercer as funções de Diretor do Museu Nacional da Arte Contemporânea, período em que obteve grandes consensos das diferentes escolas e movimentos, ao contrário do seu sucessor, Eduardo Malta, altamente contestado, tendo o regime até proibido um livro sobre a coleção do museu escrito pela mulher.
Diogo Macedo introduz uma singularidade na revista, traz um artigo intitulado “A arte dos negros de Portugal”, vem tomar partido pelo génio da arte africana, é frontal e nada lamechas na categorização destes trabalhos, começando logo por dizer que “As próprias missões religiosas têm tido a grandeza de coração, o respeito pelos dotes plásticos dos negros, de não se imiscuírem nas conceções elementares e particularíssimas da sua arte, do seu gosto, da sua interpretação caricatural ou realista, ou mesmo de fantasiosos simbolismos terroríficos ou benéficos dos elementos dos espíritos”.
E expressa um ponto de vista multicultural, bem raro nestes tempos assolados por fanatismos rácicos, que afetavam tendencialmente intelectuais da direita radical portuguesa:
“É necessário amar a arte, a imaginação pela imaginação, a originalidade pela originalidade, e da beleza plástica ter uma larga, anticonvencional e humana recetibilidade, para poder compreender e admirar essas artes exóticas de artistas incultos, instintivas, mas excessivamente expressivas, fantasistas e decorativas. Quem da arte tiver apenas a observação dos dogmas, dos vícios, das rotinas e da vulgaridade maior ou menor, de génio ou de repetição por sistema de princípios, não poderá olhar uma escultura africana sem sorrir com inferioridade, sem se quedar insensível aos misteriosos segredos dessa espontânea criação. E cairá no ridículo estado de mumificação assustadora e incapaz, que nem aqueles povos negros teriam, pois que perante qualquer objeto de beleza, seja ela de que terra for, vibram e são capazes de o adorar, como nós outros, segundo disse o Padre António Vieira”.
E procede a uma exaltação sobre os valores artísticos das colónias portuguesas, enaltece as máscaras, lembra a influência portuguesa na arte do Benim, a começar pelos marfins escultóricos. E justifica a exultação a que procede neste texto:
“Nesta revista de propaganda nacional, de turismo e de revelação aos portugueses das obras de gosto, naturais ou de mãos portuguesas, creio ficar bem esta exaltação pela arte nas nossas colónias em África, porque na realidade a obra daqueles negros, que são portugueses, também pode ser considerada portuguesa, embora a pretensão infeliz de certos colonizadores e certos artistas de mesquinha compreensão da arte humana, a tome por produto inferior em relação à arte sublime de outros povos. Arte africana, arte asiática, ate europeia, são artes irmãmente, mais ricas ou mais pobres, mais vivas ou mais cansadas, que por todos devem ser defendidas, compreendidas e amadas. A dos negros – juro – tem ainda virtudes virgens, que as outras irremediavelmente lastimam ter perdido. Admiremo-las, pois”.
E Diogo Macedo termina com a seguinte pergunta: “Quando se organizará em Portugal o primeiro museu de arte das nossas colónias?”. O escultor escolheu imagens de Angola e da Guiné, como se mostra.
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Nota do editor
Último poste da série de 23 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18007: Historiografia da presença portuguesa em África (103): António Estácio: O Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense - V (e última) Parte: (viI) conclusão, agradeciemntos, bibliografia e fiotos
Guiné 61/74 - P18034: Parabéns a você (1349): Herlander Simões, ex-Fur Mil Art da CART 2771 e CCAÇ 3477 (Guiné, 1972/74)
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Nota do editor
Último poste da série de 1 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18031: Parabéns a você (1348): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)
Nota do editor
Último poste da série de 1 de Dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18031: Parabéns a você (1348): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)
sexta-feira, 1 de dezembro de 2017
Guiné 61/74 - P18033: Manuscrito(s) (Luís Graça) (131): o 1º de dezembro no teu tempo de menino e moço
O 1º de dezembro
no teu tempo de menino e moço
por Luís Graça (*)
E no 1º de dezembro,
a banda da tua terra a tocar
o 'Ó ti Zé da Pera Branca',
que era o hino da Restauração (**),
e que um punhado de patriotas, monárquicos e republicanos,
fazia seu, na tua aldeia,
quiçá para acicatar o Franco de Espanha
quiçá para acicatar o Franco de Espanha
e o Salazar de Portugal,
e todos os traidores da pátria,
os lacaios que tinham servido os Filipes!
(Sabias lá tu quem era o Franco,
o Salazar e os demais grandes deste mundo!)
Fazia frio, de tremer o queixo,
o Salazar e os demais grandes deste mundo!)
Fazia frio, de tremer o queixo,
nas efemérides do 1º de dezembro de 1640,
e ias agarrado ao capote do teu pai,
com outros meninos e outros pais,
atrás da banda,
Rua Grande acima,
Rua Grande acima,
a gritar morte ao traidor Miguel de Vasconcelos (***):
- Vais Com Cuspo e Selo, Vasconcelos, Vais!
- Vais Com Cuspo e Selo, Vasconcelos, Vais!
Morte a Castela e aos seus serviçais!
(Sabias lá tu, meu menino, quem era a pátria,
(Sabias lá tu, meu menino, quem era a pátria,
e o pai e a mãe da pátria?!
E os seus heróis, os seus filhos,
E os seus heróis, os seus filhos,
mais do que homens, menos do que deuses,
sabias lá tu quem era eles, os heróis,
e os traidores,
e os progenitores da pátria,
os pais-fundadores!)
Sabias lá tu quem era
Sabias lá tu quem era
o senhor, professor, doutor, Salazar,
que nos tinha salvo da guerra,
só conhecias o rapa-tudo, a espátula
que nos tinha salvo da guerra,
só conhecias o rapa-tudo, a espátula
que a tua mãe usava na cozinha quando fazia bolos!
Não sabias, pois claro,
nem nunca tinhas saído da tua terra,
Não sabias, pois claro,
nem nunca tinhas saído da tua terra,
mas tinhas-lhe medo, ao cara de pau,
de nariz aquilino,
especado na parede da tua escola do Conde de Ferreira,
olhando-te de soslaio,
vigiando-te e punindo-te,
olhando-te de soslaio,
vigiando-te e punindo-te,
que os símbolos do poder eram
como o código de barras da zebra:
como o código de barras da zebra:
ou memorizas ou morres, logo à primeira,
mal nasças, ó zebrinha!
De um lado, o Craveiro Lopes,
mal nasças, ó zebrinha!
De um lado, o Craveiro Lopes,
que irá a marechal de opereta,
e do outro o Salazar,
ou era ainda o Óscar Carmona,
esse sim, o marechal de bigodes farfalhudos ?!
Não te esqueças dos nomes dos altos magistrados da Nação
esse sim, o marechal de bigodes farfalhudos ?!
Não te esqueças dos nomes dos altos magistrados da Nação
que te pode perguntar,
lá em Lisboa, no exame da admissão,
algum senhor professor de óculos de aros
de casca de tartaruga,
de casca de tartaruga,
e de nariz aquilino!
(Madruga, meu rapaz, madruga,
(Madruga, meu rapaz, madruga,
para um dia chegares a ser homem!)
Não te perguntaram por eles,
Não te perguntaram por eles,
pelos altos magistrados da Nação,
lá no liceu Dom João de Castro,
lá no liceu Dom João de Castro,
mas pelos reis de Portugal:
nomes, cognomes... e moradas!
Portugueses, celebremos
O dia da Redenção,
Em que valentes guerreiros
Nos deram livre a Nação.
A Fé dos Campos de Ourique
Coragem deu e valor
Aos famosos de Quarenta
Que lutaram com ardor.
P'rá frente! P'rá frente!
Repetir saberemos
As proezas portuguesas.
Avante! Avante!
É voz que soará triunfal
Vá avante, mocidade de Portugal!
Vá avante, mocidade de Portugal!
[Diz o blogue Avenida da Liberdade: "A autoria do hino, com data de 1861, é de Eugénio Ricardo Monteiro de Almeida (música) e de Francisco Duarte de Almeida Araújo e Francisco Joaquim da Costa Braga (poema original). Monteiro de Almeida era um compositor e professor do Conservatório Nacional (1826 - 1898). Almeida Araújo e Costa Braga eram os autores da peça de teatro musical em que o hino se incluía."...
A letra inicial, que fazia parte da peça "1640 ou a Restauração de Portugal”, estreada e publicada em 1861, já não é a mesma, sofreu alterações, no tempo da República, para se tornar "politicamente correta"... O hino (patriótico) tornou-se "viral", como díríamos hoje, e sobreviveu até agora, a 4 regimes...
(***) "Miguel de Vasconcelos (1590-1640):
Miguel de Vasconcelos foi nomeado escrivão da Fazenda do Reino em 1634 pelo Conde-Duque de Olivares. Um ano depois, a vice-rainha Margarida de Saboia (Duquesa de Mântua) nomeia-o Secretário de Estado [, equivalente a 1º ministro].
nomes, cognomes... e moradas!
Excerto:
In: Luís Graça - Autobiografia: com Bruegel, o Velho, domingo à tarde, 2005, c. 50 pp. (inédito)
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 28 de dezembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18021: Manuscrito(s) (Luís Graça) (130): Lisboa com suas casas, de Álvaro de Campos / Fernando Pessoa
(**) Letra do Hino da Restauração:
O dia da Redenção,
Em que valentes guerreiros
Nos deram livre a Nação.
A Fé dos Campos de Ourique
Coragem deu e valor
Aos famosos de Quarenta
Que lutaram com ardor.
P'rá frente! P'rá frente!
Repetir saberemos
As proezas portuguesas.
Avante! Avante!
É voz que soará triunfal
Vá avante, mocidade de Portugal!
Vá avante, mocidade de Portugal!
[Diz o blogue Avenida da Liberdade: "A autoria do hino, com data de 1861, é de Eugénio Ricardo Monteiro de Almeida (música) e de Francisco Duarte de Almeida Araújo e Francisco Joaquim da Costa Braga (poema original). Monteiro de Almeida era um compositor e professor do Conservatório Nacional (1826 - 1898). Almeida Araújo e Costa Braga eram os autores da peça de teatro musical em que o hino se incluía."...
A letra inicial, que fazia parte da peça "1640 ou a Restauração de Portugal”, estreada e publicada em 1861, já não é a mesma, sofreu alterações, no tempo da República, para se tornar "politicamente correta"... O hino (patriótico) tornou-se "viral", como díríamos hoje, e sobreviveu até agora, a 4 regimes...
(***) "Miguel de Vasconcelos (1590-1640):
Miguel de Vasconcelos foi nomeado escrivão da Fazenda do Reino em 1634 pelo Conde-Duque de Olivares. Um ano depois, a vice-rainha Margarida de Saboia (Duquesa de Mântua) nomeia-o Secretário de Estado [, equivalente a 1º ministro].
A deficitária economia do país e o constante favorecimento de Castela em detrimento dos interesses portugueses, fizeram eclodir em várias localidades do país revoltas e motins populares. O desprestígio das ações de Miguel de Vasconcelos neste contexto levou ao levantamento das massas em Évora e no Algarve em 1637, com ecos noutras zonas do país.
O culminar desses distúrbios deu-se a 1 de dezembro de 1640 (Restauração da Independência), quando um grupo de fidalgos invade o palácio real de Lisboa e mata a tiro o Secretário de Estado, lançando em seguida o seu corpo pela janela, para junto da multidão que se aglomerava no Paço da Ribeira."
Fonte: AR - Assembleia da República
Guiné 61/74 - P18032: Notas de leitura (1019): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (11) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 25 de Setembro de 2017:
Queridos amigos,
Acabou a I República, entrou-se na Ditadura Nacional. Na Guiné, vão operar-se mudanças e o BNU em Bolama está atento. O seu gerente aproveita o relatório anual para dar um panorama das potencialidades económicas o que urge desenvolver. É um período de escassez, como se verá no ofício aflitivo que o encarregado de Governo envia par o banco em Bolama. Continuam os sonhos das empresas agrícolas, umas já soçobraram, outras dão sinais de resistência e até de revigoramento como a Sociedade Agrícola do Gambiel. Mas é o ano em que a Associação Comercial de Guiné e a comissão urbana da cidade de Bolama abrem contencioso quanto às pretensões de Bissau vir a ser a capital da colónia.
É um extenso documento enviado ao ministro das colónias em 15 de Agosto de 1927. Vamos dedicar o próximo documento a tão importante exposição, carregada de elementos históricos.
Um abraço do
Mário
Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (11)
Beja Santos
O relatório de exercício de 1926 da filial de Bolama do BNU tem uma singularidade digna de registo, detalha com inusitado desenvolvimento o quadro económico da colónia. Destas memórias enviadas para Lisboa fica-nos por vezes a dúvida se em Bolama se tomava a parte pelo todo, isto é se os dados apresentados correspondiam efetivamente a um conhecimento de toda a colónia, se incorporavam informações da agência de Bissau sobre outras paragens a que chegavam negócios, empresas, mercadorias.
É manifesto que neste período, e com o desencravamento produzido pelas estradas de terra batida, se avançou para pontos até agora entregues à exclusiva economia de subsistência, onde era mínima ou inexistente a interferência colonial. Mas são os documentos que temos, é sobre eles que importa refletir. Vejamos então o quadro económico apresentado à luz de 1926:
“Agricultura – o indígena da Guiné cultiva quase exclusivamente milho, arroz e mancarra. Entre estes géneros só exporta a mancarra, em quantidades razoáveis. O arroz também figura na exportação: tem-se exportado excecionalmente para Cabo Verde.
Arroz e milho – estes cereais são a base da alimentação dos indígenas; além destes cereais outros há que se dá perfeitamente no solo ubérrimo desta província.
Mancarra – a mancarra tem de ser orientada na sua cultura pois acabando-se com os processos rotineiros com ela é cultivada e fazendo-se rigorosa seleção da sua semente a sua produção aumenta sucessivamente.
Cana-sacarina – dá-se maravilhosamente. Mas, apesar disso, só a Sociedade Agrícola do Gambiel, em Bafatá, e alguns cabo-verdianos em Farim se dedicam à sua cultura mas em pequena escala e unicamente para a destilação da aguardente. A sua cultura, bem orientada, daria perfeitamente para se fabricar açúcar em quantidade apreciável.
Algodoeiro – outra cultura naturalmente indicada para esta província, constitui nas colónias, e especialmente nas inglesas, uma das fontes principais da sua riqueza. Nesta província, porém, só o encontramos por entre as florestas, e do seu produto ninguém mais se aproveita se não o indígena para o fabrico de panos para seu uso, os quais tinge com tinta extraída do anil que cultiva em volta das suas cubatas.
Borracha e coconote – as árvores-da-borracha e a palmeira nascem espontaneamente, como o algodoeiro. Ninguém as cultiva. Encontram-se por toda a parte entre as matas.
Depois da mancarra, é o coconote que se exporta mais e, em alguns anos, tem-se exportado em maior quantidade do que a própria mancarra.
A cultura da palmeira deve merecer a melhor das atenções, pois os seus frutos, bem aproveitados, podem vir a ser, se não o principal, pelo menos uma das mais importantes fontes da riqueza desta província.
O coconote exportado resulta quase exclusivamente do aproveitamento do caroço que cai das palmeiras; não se aproveita a parte interior dos frutos, de que se podia extrair, em grande quantidade, o azeite de palma, se cuidassem das palmeiras devidamente.
As palmeiras, que se encontram disseminadas nesta província sem os carinhos e cuidados que elas encontram em muita parte do vasto continente africano, vão-se definhando aos poucos, fazendo antever a sua completa ruína.
Não é preciso ser-se agrónomo para se saber que as causas do seu definhamento residem essencialmente na falta da limpeza no palmeiral e na palmeira e, também, no abuso da extração do vinho de palma. De facto, as árvores, sejam de que natureza forem, estando aglomeradas num dado terreno, não podem tirar do solo em quantidades precisas as matérias nutritivas e, assim, torna-se-lhes impossível fazer com a atmosfera as trocas suficientes de gases vitais.
Da mesma forma, a extração do vinho de palma rouba à palmeira a seiva que naturalmente se destina à nutrição das flores e dos frutos, dando em resultado a produção enfezada e raquítica destes. A extração desse vinho, além de ser prejudicial às palmeiras, torna-se um perigo para os indígenas que com o abuso desta bebida se vão envenenando. Com o fim de evitar que o indígena continue a fazer um consumo exagerado do vinho de palma, e como proteção às palmeiras, foi publicada legislação atinente, elevando para vinte escudos a taxa da respetiva licença.
Este diploma foi revogado por outro em 1925, que extinguiu o referido imposto “como início e preparação de uma medida radical para a proibição da extração do chamado vinho de palma.
A borracha tem nesta província longo campo para a sua cultura intensiva e extensiva. Só é necessário incentivo para o seu fomento. A exportação da borracha atingiu no último ano 234 toneladas. Apesar disto, não se exporta tudo o que a natureza dá destes produtos porque o indígena só os colhe à medida das suas necessidades inadiáveis.
Cola – a cola que se importa em grandes quantidades da Serra Leoa podia ser aqui produzida abundantemente; Geba, Farim e Cacine já produzem, mas em quantidades insuficientes.
O Tenente Alberto Soares, proprietário da Ilha das Cobras, tem já ali uma boa plantação de árvores de cola e noutros pontos da província muitas se estão plantando.
O indígena da Guiné, sobretudo os Fulas e os Mandingas, têm na cola um dos seus principais alimentos; fomentar portanto a plantação desta árvore é fomentar a riqueza da província.
A árvore da cola começa em regra a produzir dos cinco para os seis anos, computando-se-lhe o seu rendimento, aos dez anos, em mil escudos.
Madeiras – tem esta província florestas onde se encontra o mogno, o ébano e muitas outras madeiras que, convenientemente estudadas e classificadas, podem constituir uma riqueza que não ficará muito aquém de tantas outras que a província possui sob o ponto de vista agrícola, não devendo contudo iludir ninguém a riqueza florestal desta província, pois uma grande parte destas florestas é constituída por pequenos arbustos e árvores de pouco valor.
Pecuária – se da flora económica passarmos à fauna, encontramos também um grande manancial e riquezas ainda por explorar, muito especialmente no que respeita aos gados. A população pecuária da Guiné é muito grande e maior seria se as epizootias não dizimassem anualmente centenas de cabeças. Atualmente há já na Guiné um médico veterinário.
Indústria – a par da sua riqueza em flora e fauna, esta província é talvez a única que, das nossas colónias africanas, apresenta tribos com certas engenhosidades não muito vulgares nos pretos. Dado o atraso de civilização em que se encontram, são de apreciar as obras que eles produzem, e com as quais mostram que são dotados de certas aptidões suscetíveis de aperfeiçoamento. Os Mandingas e os Fulas executam várias obras de ourivesaria como argolas e vários enfeites. Bordam também panos; fabricam vários instrumentos para a lavoura e mobiliário muito parecido com a mobília de verga; trabalham em couro com bastante perfeição, fabricam sandálias, bainhas para espadas e punhais e arreios de formato árabe. Os Balantas fabricam os instrumentos da sua lavoura e mais utensílios de ferro. Os Beafadas fabricam tecidos de algodão, servindo-se de teares muito primitivos.
Quanto à indústria temos a elétrica com uma geradora, a indústria destilatória e a nossa Fábrica de Cerâmica em Bandim".
Estas duas imagens foram extraídas da Panorama, revista portuguesa de arte e turismo, edição do Secretariado da Propaganda Nacional, Junho de 1944, reproduz uma escultura da arte Bijagó e uma Futa Fula Boé com penteado de gala
Estamos já no período da Ditadura Nacional. Agravam-se as condições de vida na Guiné. O encarregado de governo, António Saldanha, dirige-se em 4 de Janeiro ao gerente do BNU em Bolama nos seguintes termos:
“Encontrando-se atualmente esta província numa situação deveras angustiosa, proveniente da falta de numerário em cofre; e desejando satisfazer o pagamento de rações a presos, doentes, soldados e assalariados, e bem assim os vencimentos aos funcionários de categoria inferior a 1.º Oficial; rogo a V. Exa. se digno autorizar um adiantamento de 300 mil escudos, reembolsável com as primeiras receitas a entrarem, possivelmente, no corrente mês a fim de debelar a situação aflitiva em que se encontram os pequenos servidores do Estado entre os quais já lavra a fome. Saúde e fraternidade”.
(Continua)
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Nota do editor:
Vd. poste anterior de 24 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18009: Notas de leitura (1017): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (10) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 27 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18018: Notas de leitura (1018): "40 anos de impunidade na Guiné-Bissau", relatório da responsabilidade da Liga Guineense dos Direitos Humanos, publicado em 2013 (2) (Mário Beja Santos)
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Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba,
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Guiné 61/74 - P18031: Parabéns a você (1348): Ernestino Caniço, ex-Alf Mil Cav, CMDT do Pel Rec Daimler 2208 (Guiné, 1969/71)
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Nota do editor
Último poste da série de 26 de Novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18014: Parabéns a você (1347): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Guiné, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Guiné, 1971/73)
Nota do editor
Último poste da série de 26 de Novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18014: Parabéns a você (1347): Jorge Teixeira, ex-Fur Mil Art da CART 2412 (Guiné, 1968/70) e Manuel Lima Santos, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 3476 (Guiné, 1971/73)
quinta-feira, 30 de novembro de 2017
Guiné 61/74 - P18030: (De)Caras (100): J. Casimiro Carvalho, ex-fur mil op esp, CCAV 8530 (Guileje, 1972/73) e a "patrulha fantasma", massacrada em Gadamael, em 4/6/1973
Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > Núcleo Museológico Memória de Guiledje > c. 2011 > Restos do Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica.
Outra das baixas mortais da CCAV 8350 foi o alf mil art Artur José de Sousa Branco: foi morto em combate, em Gadamael, em 4/6/73, era natural de Lisboa, e está sepultado no cemitério do Alto de São João.
Foram duas das 9 baixas mortais dos "Piratas de Guileje" e dois dos 75 alferes que perderam a vida no CTIG.
Foto: © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados [. Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Foto: © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados [. Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Guiné > Bissau > c. 1973/74 > "Dos poucos momentos que passei em Bissau... Junto às LFG Orion, Lira e Argos (da esquerda para a direita)"
Foto: © J. Casimiro Carvalho (2017). Todos os direitos reservados [. Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
O J. Casimiro Carvalho, o nosso "ranger", ex-fur mil op esp, CCAV 8350, "Os Piratas de Guileje (Guileje, 1972/73), é membro sénior da Tabanca Grande, e tem já cerca de 8 dezenas de referências no nosso blogue.
Publicámos, em tempos, as suas "cartas do corredor da morte" mas há lacunas de informação sobre o período em que esteve em Gadamael (e onde foi ferido). Desde sempre o tratei, e muito justamente, como "herói de Gadamael". Nunca teve, ele e os outros "heróis de Gadamael", o devido reconhecimento público...
Não sei qual é a origem deste texto que o Francisco Godinho "recuperou". Trata-se, em todo o caso de um relato dramático, na primeira pessoa, da uma saída para o mato, nas imediações do quartel de Gadamael, sitiado por forças do PAIGC, que acabou tragicamente para 5 dos 12 integrantes da "patrulha fantasma". Temos o dever recordar, mais uma vez, a sua memória e a trágica circunstância da sua morte... (LG).
O J. Casimiro Carvalho administra, desde 2/2/2014, a página do Facebook Tabanca da Maia Tertúlia, reunindo já mais de meio milhar de membros, entre militares, ex-militares, familiares e amigos, com residência na Maia e imediações. É um grupo criado fundamentalmente "para convívio e para nos conhecermos" (sic). O grupo reúne-se, em almoço-convívio, no último sábado de cada mês. Além do administrador (J. Casimiro Carvalho), tem um moderador (António Silva). "Assuntos proibidos: religião, política e futebol"...
2. (De) Caras > J. Casimiro Carvalho > Gadamael, 4 de Junho de 1973: "A Patrulha Fantasma”
Em Gadamael, a mortandade era tanta, a cadeia de comando rompeu-se e houve fugas para o mato e para o Rio Cacine.
De salientar a bravura do capitão Ferreira da Silva (Comando/Ranger) (*), que avocou a si o comando desse pequeno contingente [, que restava em Gadamael,] e debaixo de fogo coordenou os cerca de 30 ou quarenta, verdadeiros heróis, que até à chegada dos abnegados Paraquedistas [do BCP 12], aguentaram aquele apocalipse!
Não havia condutores, o pessoal andava atarantado... aterrorizado e sem chefias que chegassem. Era assim em Gadamael em 1973.
A enfermaria estava pejada de cadáveres, um cheiro nauseabundo, os mesmos eram constantemente regados com creolina, não haviam urnas, os bombardeamentos eram constantes, as granadas caíam com precisão dentro do quartel, se fugíamos para o rio, elas caíam no rio, se fugíamos para o parque auto, caíam aí, havia coordenação de tiro por parte do IN.
Cheguei a conduzir uma Berliet, dos paióis para as bocas de fogo, de tal forma que, quando havia saídas de fogo, nós já não as ouvíamos. Comigo andava um açoriano [, o 1.º cabo Raposo] (**), dois autênticos loucos varridos, saltávamos em andamento e, quando acabava o fogachal, voltávamos ao camião e seguíamos com o serviço.
Em Gadamael, a mortandade era tanta, a cadeia de comando rompeu-se e houve fugas para o mato e para o Rio Cacine.
De salientar a bravura do capitão Ferreira da Silva (Comando/Ranger) (*), que avocou a si o comando desse pequeno contingente [, que restava em Gadamael,] e debaixo de fogo coordenou os cerca de 30 ou quarenta, verdadeiros heróis, que até à chegada dos abnegados Paraquedistas [do BCP 12], aguentaram aquele apocalipse!
Não havia condutores, o pessoal andava atarantado... aterrorizado e sem chefias que chegassem. Era assim em Gadamael em 1973.
A enfermaria estava pejada de cadáveres, um cheiro nauseabundo, os mesmos eram constantemente regados com creolina, não haviam urnas, os bombardeamentos eram constantes, as granadas caíam com precisão dentro do quartel, se fugíamos para o rio, elas caíam no rio, se fugíamos para o parque auto, caíam aí, havia coordenação de tiro por parte do IN.
Cheguei a conduzir uma Berliet, dos paióis para as bocas de fogo, de tal forma que, quando havia saídas de fogo, nós já não as ouvíamos. Comigo andava um açoriano [, o 1.º cabo Raposo] (**), dois autênticos loucos varridos, saltávamos em andamento e, quando acabava o fogachal, voltávamos ao camião e seguíamos com o serviço.
Nessa altura, mais valia estar no mato, estávamos sitiados, e por isso, quando formaram uma patrulha "ad hoc" onde me incluíram, até fiquei contente. Nessa patrulha ia o alferes Artur Branco, que antes tinha dito que o mandaram para ali, e que ia morrer; iam dois putos que tinham vindo voluntários para a tropa (, dois meninos!), aos quais ordenei que ficassem no quartel, ao mesmo tempo que disse: "Sois muito novos para morrer" (ainda se lembram disso e sempre o repetem aos filhos, dizendo que me devem a vida); ia um negro (o "pica"), o cabo José Neves e os soldados F. Anselmo [Fernando Alberto Reis Anselmo, natural de Macedo de Cavaleiros]; e A. Serafim [António Mendonça Carvalho Serafim, natural do Cartaxo] (um destes soldados nunca saíra para o mato), e outros que desconheço. Era uma “patrulha fantasma”.
Saímos para a zona da pista abandonada de Gadamael, as ordens era para emboscar nessa zona, para prevenir aproximações IN. Fomos em fila indiana ao longo do rio Cacine junto ao tarrafo. Passámos por um sítio, onde se vislumbrava uma pequena clareira, de capim médio, e o pica disse: "Alfero, melhor ficar por aqui, boa zona para montar emboscada"... O alferes Branco retorquiu que as ordens eram ir para a pista velha, pelo que continuámos. Uns 200 metros à frente, o negro disse que a pista estava minada e armadilhada pela tropa anterior. Posto isto, o alferes reuniu comigo e chegámos a consenso: que o melhor era recuarmos.
Recuámos em silêncio e ordeiramente, até chegarmos à tal zona da clareira, e começámos a entrar na mesma, agachados para passarmos por baixo do tarrafo. Normalmente eu ia em 2.º ou 3.º nas patrulhas, e ao entrarmos nessa clareira, um dos militares deu-me passagem, e eu disse que não: "Ide entrando que 'eles' podem estar aí", num tom bonacheirão e em sussurro, e assim foi.
Uns seis já tinham passado, quando ouvi uns estalidos e, com gestos e murmúrios, dei a entender que estava ali algo. Todos pararam espaçados e em silêncio. Como mais nada se ouviu, eu disse: “Deve ser passarada, avancemos” .... logo a seguir, outra vez o estalar de ramos e mexer de vegetação. Imediatamente gritei: “Emboscada!”, coloquei a arma em modo de rajada, e atirei-me para o chão, não sem antes ver a cara do alferes desfeita por uma rajada, com sangue e ossos (?), a saltar.
Recuámos em silêncio e ordeiramente, até chegarmos à tal zona da clareira, e começámos a entrar na mesma, agachados para passarmos por baixo do tarrafo. Normalmente eu ia em 2.º ou 3.º nas patrulhas, e ao entrarmos nessa clareira, um dos militares deu-me passagem, e eu disse que não: "Ide entrando que 'eles' podem estar aí", num tom bonacheirão e em sussurro, e assim foi.
Uns seis já tinham passado, quando ouvi uns estalidos e, com gestos e murmúrios, dei a entender que estava ali algo. Todos pararam espaçados e em silêncio. Como mais nada se ouviu, eu disse: “Deve ser passarada, avancemos” .... logo a seguir, outra vez o estalar de ramos e mexer de vegetação. Imediatamente gritei: “Emboscada!”, coloquei a arma em modo de rajada, e atirei-me para o chão, não sem antes ver a cara do alferes desfeita por uma rajada, com sangue e ossos (?), a saltar.
Já no chão e com um fogachal tremendo, próprio de armas russas, com a cara de lado bem rente ao mato, passou-me a vida pelo cérebro, e a mente a pensar na “minha mãe”. Estou neste estertor, pensando se abria fogo ou não, pois iria denunciar a minha posição, imaginando um turra a disparar nas minhas costas, deitado.
Nestas fracções de segundos, ouço uma G-3 a disparar ao meu lado, o som era mesmo nosso, então comecei a dar rajadas de 3 ou 4 tiros, enquanto outro militar dava tiro a tiro, compassadamente. Freneticamente, tirei o carregador vazio e coloquei outro, disparando pequenas rajadas por cima da cabeça, que continuava “colada ao solo”. Ao pegar no 3.º carregador, o tiroteio IN parou abruptamente, quando vislumbro um turra no meio da vegetação que se levantou, e assim mesmo levou uma rajada minha que o “tombou” logo ali, depois uma gritaria infernal, por parte deles, e eu, sozinho com um militar ao meu lado, berrei para o mesmo: "Vamos, ou morremos aqui".
Ele gatinhou à minha frente, passámos pelo cadáver do cabo Neves [José Inácio Neves, natural de Alcobaça] e seguimos para o rio, em direcção ao quartel, sempre a olhar para trás a ver se algum IN nos mirava para nos abater. Larguei cinturão, com a ração de combate e os restantes carregadores, para melhor correr, fugindo da morte certa, levando apenas a G-3 sem carregador nem munições.
Chegado ao quartel, sozinho, o meu corpo colapsou, e todos pensaram que eu morrera ali mesmo. Fui recolhido por camaradas daquele inferno, tão aterrorizados como eu, e descansei um pouco, bebi água sofregamente, sem saber ao certo quantos morreram.
De seguida, saíram paraquedistas [da CCP 122, um Gr Comb, comandado pelo alf paraquedista Francisco Santos] e foram ao local (a 1200 metros) da emboscada, onde encontraram aquela cena traumatizante, derivado ao que os turras fizeram aos meus camaradas, que me dispenso de pormenorizar aqui, tal o horror.
Quando regressaram, eu quis ver os meus camaradas, que estavam numa Berliet, e não me deixaram. Peguei numa G-3, meti bala na câmara e berrei: “Ou vejo, ou varro esta merda toda”!... Claro que vi, e essa imagem persegue-me ainda hoje, como fantasmas do passado!
Nestas fracções de segundos, ouço uma G-3 a disparar ao meu lado, o som era mesmo nosso, então comecei a dar rajadas de 3 ou 4 tiros, enquanto outro militar dava tiro a tiro, compassadamente. Freneticamente, tirei o carregador vazio e coloquei outro, disparando pequenas rajadas por cima da cabeça, que continuava “colada ao solo”. Ao pegar no 3.º carregador, o tiroteio IN parou abruptamente, quando vislumbro um turra no meio da vegetação que se levantou, e assim mesmo levou uma rajada minha que o “tombou” logo ali, depois uma gritaria infernal, por parte deles, e eu, sozinho com um militar ao meu lado, berrei para o mesmo: "Vamos, ou morremos aqui".
Ele gatinhou à minha frente, passámos pelo cadáver do cabo Neves [José Inácio Neves, natural de Alcobaça] e seguimos para o rio, em direcção ao quartel, sempre a olhar para trás a ver se algum IN nos mirava para nos abater. Larguei cinturão, com a ração de combate e os restantes carregadores, para melhor correr, fugindo da morte certa, levando apenas a G-3 sem carregador nem munições.
Chegado ao quartel, sozinho, o meu corpo colapsou, e todos pensaram que eu morrera ali mesmo. Fui recolhido por camaradas daquele inferno, tão aterrorizados como eu, e descansei um pouco, bebi água sofregamente, sem saber ao certo quantos morreram.
De seguida, saíram paraquedistas [da CCP 122, um Gr Comb, comandado pelo alf paraquedista Francisco Santos] e foram ao local (a 1200 metros) da emboscada, onde encontraram aquela cena traumatizante, derivado ao que os turras fizeram aos meus camaradas, que me dispenso de pormenorizar aqui, tal o horror.
Quando regressaram, eu quis ver os meus camaradas, que estavam numa Berliet, e não me deixaram. Peguei numa G-3, meti bala na câmara e berrei: “Ou vejo, ou varro esta merda toda”!... Claro que vi, e essa imagem persegue-me ainda hoje, como fantasmas do passado!
Passados uns dias, noutro bombardeamento, fui ferido, e evacuado pelos fuzos até à [LFG] Orion, para Cacine. No entanto, quando fiquei bom, ofereci-me para ir outra vez para o holocausto, onde os meus camaradas morriam.
Andei 20 anos sem sequer mencionar que andei na guerra, ainda que militar da GNR BT [, Brigada de Trânsito da Guarda Nacional Republicana].
Hoje, falo abertamente, sofro em silêncio e não só. A minha esposa encontra-me por vezes a chorar convulsivamente e já não diz nada: Ela sabe...
Décadas se passaram, e numa simples conversa, descobri quem era o herói que ao meu lado disparou até ao último segundo (o tal da decisão de viver... ou morrer): era o soldado Borges, da CCAV 8350 "Piratas de Guileje", o qual abracei chorando e soluçando, revivendo aquele tormento.
Por isso, agora, quem me vê, nas comezainas, convívios, com alegria: e a disparar sorrisos para todo o lado, lembre-se, é um hino à Vida e uma forma de esconjurar os fantasmas do passado. (**)
José Casimiro Carvalho
ex fur mil Op Esp
PS - Nunca poderei esquecer a LFG Orion, seus marinheiros, os fuzileiros, que desobedeceram ao Gen Spínola e acorreram aos militares que morreriam sem o seu socorro.
Os Paraquedistas... nem tenho mais adjectivos: os meus heróis.
Um excerto de "A Guerra": Episódio n.º 10 [Episódio 10 de 18]
Em Gadamael, no sul da Guiné, poderia ter ocorrido um grande desastre militar. Perante ataques do PAIGC, quase toda a guarnição se refugiou no rio, ficando um pequeno grupo a defender o quartel. Spínola ameaça afundar um bote com militares em fuga. Também proíbe o socorro dos náufragos, grande parte civis, mas a Marinha e os Fuzileiros não cumprem a ordem.
3. Comentários:
(i) Francisco Godinho [ex-Fur Mil da CCAÇ 2753, "Os Barões do K3)", Madina Fula, Bironque, K3 e Mansabá, 1970/72; é natural de Moura, vive no Seixal]
(iii) Tabanca Grande / Luís Graça:
Recorde-se que na tarde de 4 de junho de 1973, em Gadamael, o alf mil Branco sai com um reduzido grupo de combate (12 homens) para fazer um reconhecimento nas imediações do aquartelamento, na antiga pista, a cerca de 1 km do arame farpado. O grupo cai de imediato numa emboscada e só não foi totalmente aniquilado graças à pronta intervenção das tropas paraquedistas (CCP 122/BCP 12, acabada de chegar a Gadamael, na manhã de 3 de junho, sob o comando do cap paraquedista Terras Marques).
Um pelotão, sob o comando do alf paraquedista Francisco Santos, da CCP 122, vai em socorro do grupo do alf mil Branco e ainda consegue resgatar os corpos e os sobreviventes. "Os cadáveres tinham sido selvaticamente baleados, ainda estavam quentes e os fatos empapados de sangue" (José Moura Calheiros - A última missão, 1.ª ed. Caminhos Romanos: Lisboa, 2010, pp. 527/528).
Além do alf mil Artur José de Sousa Branco, morreram nesta ação os seguintes camaradas, todos eles sold cav da CCAV 8350 (entre parênteses, o concelho da sua naturalidade): António Mendonça Carvalho Serafim (Cartaxo); Fernando Alberto Reis Anselmo (Macedo de Cavaleiros); Joaquim Travessa Martins Faustino (Santarém); José Inácio Neves (Alcobaça).
____________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 1 de março de 2009 > Guiné 63/74 - P3954: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (6): A posição, mais difícil do que a minha, do Cap Cmd Ferreira da Silva (João Seabra)
(**) Vd. postes de:
15 de junho de 2006 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I) (Luís Graça)
Andei 20 anos sem sequer mencionar que andei na guerra, ainda que militar da GNR BT [, Brigada de Trânsito da Guarda Nacional Republicana].
Hoje, falo abertamente, sofro em silêncio e não só. A minha esposa encontra-me por vezes a chorar convulsivamente e já não diz nada: Ela sabe...
Décadas se passaram, e numa simples conversa, descobri quem era o herói que ao meu lado disparou até ao último segundo (o tal da decisão de viver... ou morrer): era o soldado Borges, da CCAV 8350 "Piratas de Guileje", o qual abracei chorando e soluçando, revivendo aquele tormento.
Por isso, agora, quem me vê, nas comezainas, convívios, com alegria: e a disparar sorrisos para todo o lado, lembre-se, é um hino à Vida e uma forma de esconjurar os fantasmas do passado. (**)
José Casimiro Carvalho
ex fur mil Op Esp
PS - Nunca poderei esquecer a LFG Orion, seus marinheiros, os fuzileiros, que desobedeceram ao Gen Spínola e acorreram aos militares que morreriam sem o seu socorro.
Os Paraquedistas... nem tenho mais adjectivos: os meus heróis.
Um excerto de "A Guerra": Episódio n.º 10 [Episódio 10 de 18]
Em Gadamael, no sul da Guiné, poderia ter ocorrido um grande desastre militar. Perante ataques do PAIGC, quase toda a guarnição se refugiou no rio, ficando um pequeno grupo a defender o quartel. Spínola ameaça afundar um bote com militares em fuga. Também proíbe o socorro dos náufragos, grande parte civis, mas a Marinha e os Fuzileiros não cumprem a ordem.
3. Comentários:
(i) Francisco Godinho [ex-Fur Mil da CCAÇ 2753, "Os Barões do K3)", Madina Fula, Bironque, K3 e Mansabá, 1970/72; é natural de Moura, vive no Seixal]
Não queria voltar a este assunto, nem de "evocar memórias passadas e tristes" e que não quero que voltem a ocorrer na história presente e futura deste País, que é o meu e o vosso, agora que, parece, está "cimentada" a liberdade e a democracia, (às vezes, fico em alerta, mas enfim) neste nosso rectângulozinho, à beira-mar plantado.
Repito, não para nos olharem como heróis, mas para, ao menos nos respeitarem e, principalmente, não esquecerem os sacrifícios e os "custos" que esta democracia, digamos, "impôs", para existir.
Mas, como conheço o assunto, o protagonista e actor principal, o José Casimiro Carvalho, que faço questão e tenho o orgulho em ter como camarada de armas e amigo, e como também, ainda, tenho pesadelos, ainda que não tão intensos como os dele, dada a dimensão dos acontecimentos que ele, o Casimiro, viveu. (Eu terei outros, talvez não tanto dramáticos, mas igualmente marcantes do ponto de vista psico-social-emocional).
Mas, para que a memória dos portugueses/portuguesas, não se apague, não se deixe embalar em "cantilenas", e também porque, de vez em quando, (como ele muito bem diz) é preciso "exorcizar os nossos fantasmas", aqui vos deixo, para reflexão e "amadurecimento de memória", este pungente "relato real" de uma situação vivida por um jovem (tal como eu, na altura) soldado (, somos todos soldados, naqueles momentos) do Exército Português.
Repito, não para nos olharem como heróis, mas para, ao menos nos respeitarem e, principalmente, não esquecerem os sacrifícios e os "custos" que esta democracia, digamos, "impôs", para existir.
Um abraço tamanho do mundo, José Casimiro Carvalho, e até ao próximo encontro da nossa Tabanca Grande.
(ii) Manuel [Augusto] Reis [ex-Alf Mil da CCAV 8350, (Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74; vive em Aveiro]:
Fui testemunha "in loco" de tudo o que relata o José Casimiro. Foi de uma violência tremenda essa emboscada e foram bravos esses homens que foram obrigados a efectuar esse patrulhamento. Eram 11 homens, mal equipados e mal armados, que partiram do aquartelamento sob os berros e ameaças do comandante de companhia.
Não calei a minha revolta e indignação pelo sucedido, o que me valeu uma despromoção de 2.º comandante, o que para mim constituiu um prémio. Acabei por ser massacrado com tentativas de aliciamento para depor num determinado sentido, caso fosse aberto um inquérito.
Permanece viva a imagem do alf Branco, chegado há dois dias à companhia e, na hora da partida, olhou para mim, incrédulo, como que a perguntar o que devia fazer. Nada disse, mas apeteceu-me gritar: Não vás! Coube-me a mim partilhar este sofrimento e dor imensa com a pobre mãe. Não gosto de recordar esta situação, mas o José Carvalho merece uma palavra amiga pela sua abnegação e doação ao próximo. Sem a sua bravura ninguém regressaria do mato. Bem hajas. [****)
(ii) Manuel [Augusto] Reis [ex-Alf Mil da CCAV 8350, (Guileje, Gadamael, Cumeré, Quinhamel, Cumbijã e Colibuia, 1972/74; vive em Aveiro]:
Fui testemunha "in loco" de tudo o que relata o José Casimiro. Foi de uma violência tremenda essa emboscada e foram bravos esses homens que foram obrigados a efectuar esse patrulhamento. Eram 11 homens, mal equipados e mal armados, que partiram do aquartelamento sob os berros e ameaças do comandante de companhia.
Não calei a minha revolta e indignação pelo sucedido, o que me valeu uma despromoção de 2.º comandante, o que para mim constituiu um prémio. Acabei por ser massacrado com tentativas de aliciamento para depor num determinado sentido, caso fosse aberto um inquérito.
Permanece viva a imagem do alf Branco, chegado há dois dias à companhia e, na hora da partida, olhou para mim, incrédulo, como que a perguntar o que devia fazer. Nada disse, mas apeteceu-me gritar: Não vás! Coube-me a mim partilhar este sofrimento e dor imensa com a pobre mãe. Não gosto de recordar esta situação, mas o José Carvalho merece uma palavra amiga pela sua abnegação e doação ao próximo. Sem a sua bravura ninguém regressaria do mato. Bem hajas. [****)
(iii) Tabanca Grande / Luís Graça:
O alf mil art Artur José de Sousa Branco, da CCAV 8350, foi morto em combate, em Gadamael, em 4/6/73. Era natural de Lisboa, e está sepultado no cemitério do Alto de São João.
Recorde-se que na tarde de 4 de junho de 1973, em Gadamael, o alf mil Branco sai com um reduzido grupo de combate (12 homens) para fazer um reconhecimento nas imediações do aquartelamento, na antiga pista, a cerca de 1 km do arame farpado. O grupo cai de imediato numa emboscada e só não foi totalmente aniquilado graças à pronta intervenção das tropas paraquedistas (CCP 122/BCP 12, acabada de chegar a Gadamael, na manhã de 3 de junho, sob o comando do cap paraquedista Terras Marques).
Um pelotão, sob o comando do alf paraquedista Francisco Santos, da CCP 122, vai em socorro do grupo do alf mil Branco e ainda consegue resgatar os corpos e os sobreviventes. "Os cadáveres tinham sido selvaticamente baleados, ainda estavam quentes e os fatos empapados de sangue" (José Moura Calheiros - A última missão, 1.ª ed. Caminhos Romanos: Lisboa, 2010, pp. 527/528).
Além do alf mil Artur José de Sousa Branco, morreram nesta ação os seguintes camaradas, todos eles sold cav da CCAV 8350 (entre parênteses, o concelho da sua naturalidade): António Mendonça Carvalho Serafim (Cartaxo); Fernando Alberto Reis Anselmo (Macedo de Cavaleiros); Joaquim Travessa Martins Faustino (Santarém); José Inácio Neves (Alcobaça).
____________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 1 de março de 2009 > Guiné 63/74 - P3954: Dossiê Guileje / Gadamael 1973 (6): A posição, mais difícil do que a minha, do Cap Cmd Ferreira da Silva (João Seabra)
(**) Vd. postes de:
15 de junho de 2006 > Guiné 63/74 - P878: Antologia (42): Os heróis desconhecidos de Gadamael (Parte I) (Luís Graça)
15 de junho de 2006 > Guiné 63/74 - P879: Antologia (43): Os heróis desconhecidos de Gadamael (II Parte) (Luís Graça)
(***) Último poste da série > 14 de novembro de 2017 > uiné 61/74 - P17971: (De) Caras (100): Saia uma sandocha de "cabrito pé de rocha, manga di sabe" (Vitor Junqueira, ex-alf mil, CCAÇ 2753, Madina Fula, Bironque, Saliquinhedim / K3, Mansabá, 1970/72; médico reformado, Pombal)
(***) Vd. poste de 2 de dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - P310: No corredor da morte (CCAV 8350, Guileje e Gadamael, 1972/73)
(...) "Nas reuniões anuais da nossa Companhia muitos falam dos actos de bravura deste furriel, desde, debaixo de fogo, conduzindo uma Berliet se deslocar aos paióis para municiar não só as bocas de fogo de artilharia, como para os morteiros, fazer ainda parte duma patrulha onde morreram vários militares ficando ele e outro a aguentar a situação, até serem socorridos, e ter sido ferido, evacuado para Cacine, o que não invalidou que passados poucos dias se tenha oferecido para voltar para junto dos camaradas no verdadeiro inferno em Gadamael. (...)
Vd. também poste de 17 de maio de 2016 > Guiné 63/74 - P16099: O nosso blogue como fonte de informação e conhecimento (37): O nosso Blogue e a sua importância (Manuel Augusto Reis, ex-Alf Mil da CCAV 8350)
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Guiné 61/74 - P18029: Agenda cultural (614): Comemorações do 1º de Dezembro: 6º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas, Av Liberdade, Lisboa, 15h00-17h00: 1 grupo de percussão, 1 banda nacional militar e 32 bandas filarmónicas civis, c. 1900 músicos
1. Evento > 1 Dezembro de 2017 > 6º Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas "1º de Dezembro" > Convite e programa
É possível realizá-lo graças ao apoio da Câmara Municipal de Lisboa e à capacidade de organização da EGEAC. A iniciativa conta também com o endosso da SHIP - Sociedade Histórica da Independência de Portugal, que o incluiu no Programa Oficial das Comemorações do 1º de Dezembro, e com a parceria da CMP – Confederação Musical Portuguesa. Agradecemos também o apoio facultado pelo "Recheio" e pelo "Amanhecer".
O Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas "1º de Dezembro" foi um êxito em 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016. Será êxito maior em 2017.
13h30 - Concentração junto ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra, na Avenida da Liberdade (ao Cinema S. Jorge)
15h00 - Início do Desfile
16h30 - Concentração final, na Praça dos Restauradores, e Apoteose Final com interpretação conjunta por 1.900 músicos dos três hinos: Hino da Maria da Fonte, Hino da Restauração e Hino Nacional.
17h00 - Fecho e desmobilização das bandas
Nesta 6ª edição, desfilarão as seguintes bandas e grupos, aqui ordenados por géneros e por ordem alfabética dos distritos e concelhos respectivos:
GRUPOS DE PERCUSSÃO:
Tocá Rufar (Seixal)
BANDA NACIONAL:
Banda da Armada
BANDAS FILARMÓNICAS:
· Banda Musical de Figueiredo (Arouca)
· Sociedade Recreativa e Filarmónica 1º de Janeiro de Castro Verde (Castro Verde)
· Banda da Sociedade Filarmónica União Mourense "Os Amarelos" (Moura)
· Banda de Música da Carvalheira (Terras de Bouro)
· Associação Filarmónica Retaxense (Castelo Branco)
· Associação Recreativa Musical Covilhanense | Banda da Covilhã (Covilhã)
· Sociedade Filarmónica Oleirense (Oleiros)
· Banda Filarmónica da União de Aldeia de João Pires (Sociedade Recreativa e Musical) (Penamacor)
· Sociedade Filarmónica Aurora Pedroguense (Sertã, Pedrógão Pequeno)
· Sociedade Filarmónica de Educação e Beneficência Fratelense (Vila Velha de Ródão)
· Sociedade Musical Recreativa de Alqueidão / Filarmónica do Alqueidão (Figueira da Foz)
· Filarmónica Instrução e Recreio de Abrunheira (Montemor-o-Velho)
· Sociedade Filarmónica Sangianense (Oliveira do Hospital)
· Banda Filarmónica Simão da Veiga da Casa do Povo de Lavre (Montemor-o-Novo)
· Sociedade Filarmónica Portimonense (Portimão)
· Sociedade Recreativa e Musical Loriguense (Seia)
· Sociedade Filarmónica Avelarense (Ansião)
· Sociedade Artística Musical 20 de Julho de Santa Margarida do Arrabal (Leiria)
· Sociedade Filarmónica Pedroguense (Pedrógão Grande)
· Associação Musical e Artística Lourinhanense (Lourinhã)
· Banda da Escola de Música da Juventude de Mafra (Mafra)
· Banda Juvenil do Município de Gavião (Gavião)
· Sociedade Musical Nisense (Nisa)
· Sociedade Recreativa Musical Alegretense (Portalegre)
· Sociedade Filarmónica de Crestuma (Gaia)
· Sociedade Filarmónica Gualdim Pais (Tomar)
· Sociedade Filarmónica Progresso Matos Galamba (Alcácer do Sal)
· Banda Municipal do Barreiro (Barreiro)
· Banda Nova de Barroselas (Associação Banda Escuteiros de Barroselas) (Viana do Castelo)
· Banda Marcial de Tarouquela e Municipal de Cinfães (Cinfães)
· Banda de Música de São Cipriano “A Nova” (Resende)
· Sociedade Filarmónica Fraternidade de São João de Areias (Santa Comba Dão)
Será um total de 34 entidades, integrando 1 grupo de percussão, 1 banda nacional militar e 32 bandas filarmónicas civis.
Serão cerca de 1900 músicos, provenientes dos mais diversos pontos do país, que irão descer a Avenida da Liberdade para celebrar Portugal, a Independência e a Restauração, através de uma merecida homenagem a esta prática musical e à importante acção formativa e cívica das bandas filarmónicas.
Tendo como ponto de partida o monumento aos Mortos da Grande Guerra, o desfile descerá até à Praça dos Restauradores, para uma interpretação conjunta final das Bandas participantes, sob a direcção do Maestro Capitão-Tenente Délio Gonçalves, da Banda da Armada.
Ao longo do desfile, serão interpretadas várias marchas, bem como o Hino da Restauração. O alinhamento do momento colectivo conta também, além do Hino da Restauração, com a interpretação dos Hino da Maria da Fonte e Hino Nacional.
Assim não chova! Será um grande sucesso.
O Desfile Nacional de Bandas Filarmónicas "1º de Dezembro" foi um êxito em 2012, 2013, 2014, 2015 e 2016. Será êxito maior em 2017.
13h30 - Concentração junto ao Monumento aos Mortos da Grande Guerra, na Avenida da Liberdade (ao Cinema S. Jorge)
15h00 - Início do Desfile
16h30 - Concentração final, na Praça dos Restauradores, e Apoteose Final com interpretação conjunta por 1.900 músicos dos três hinos: Hino da Maria da Fonte, Hino da Restauração e Hino Nacional.
17h00 - Fecho e desmobilização das bandas
Nesta 6ª edição, desfilarão as seguintes bandas e grupos, aqui ordenados por géneros e por ordem alfabética dos distritos e concelhos respectivos:
GRUPOS DE PERCUSSÃO:
Tocá Rufar (Seixal)
BANDA NACIONAL:
Banda da Armada
BANDAS FILARMÓNICAS:
· Banda Musical de Figueiredo (Arouca)
· Sociedade Recreativa e Filarmónica 1º de Janeiro de Castro Verde (Castro Verde)
· Banda da Sociedade Filarmónica União Mourense "Os Amarelos" (Moura)
· Banda de Música da Carvalheira (Terras de Bouro)
· Associação Filarmónica Retaxense (Castelo Branco)
· Associação Recreativa Musical Covilhanense | Banda da Covilhã (Covilhã)
· Sociedade Filarmónica Oleirense (Oleiros)
· Banda Filarmónica da União de Aldeia de João Pires (Sociedade Recreativa e Musical) (Penamacor)
· Sociedade Filarmónica Aurora Pedroguense (Sertã, Pedrógão Pequeno)
· Sociedade Filarmónica de Educação e Beneficência Fratelense (Vila Velha de Ródão)
· Sociedade Musical Recreativa de Alqueidão / Filarmónica do Alqueidão (Figueira da Foz)
· Filarmónica Instrução e Recreio de Abrunheira (Montemor-o-Velho)
· Sociedade Filarmónica Sangianense (Oliveira do Hospital)
· Banda Filarmónica Simão da Veiga da Casa do Povo de Lavre (Montemor-o-Novo)
· Sociedade Filarmónica Portimonense (Portimão)
· Sociedade Recreativa e Musical Loriguense (Seia)
· Sociedade Filarmónica Avelarense (Ansião)
· Sociedade Artística Musical 20 de Julho de Santa Margarida do Arrabal (Leiria)
· Sociedade Filarmónica Pedroguense (Pedrógão Grande)
· Associação Musical e Artística Lourinhanense (Lourinhã)
· Banda da Escola de Música da Juventude de Mafra (Mafra)
· Banda Juvenil do Município de Gavião (Gavião)
· Sociedade Musical Nisense (Nisa)
· Sociedade Recreativa Musical Alegretense (Portalegre)
· Sociedade Filarmónica de Crestuma (Gaia)
· Sociedade Filarmónica Gualdim Pais (Tomar)
· Sociedade Filarmónica Progresso Matos Galamba (Alcácer do Sal)
· Banda Municipal do Barreiro (Barreiro)
· Banda Nova de Barroselas (Associação Banda Escuteiros de Barroselas) (Viana do Castelo)
· Banda Marcial de Tarouquela e Municipal de Cinfães (Cinfães)
· Banda de Música de São Cipriano “A Nova” (Resende)
· Sociedade Filarmónica Fraternidade de São João de Areias (Santa Comba Dão)
Será um total de 34 entidades, integrando 1 grupo de percussão, 1 banda nacional militar e 32 bandas filarmónicas civis.
Serão cerca de 1900 músicos, provenientes dos mais diversos pontos do país, que irão descer a Avenida da Liberdade para celebrar Portugal, a Independência e a Restauração, através de uma merecida homenagem a esta prática musical e à importante acção formativa e cívica das bandas filarmónicas.
Tendo como ponto de partida o monumento aos Mortos da Grande Guerra, o desfile descerá até à Praça dos Restauradores, para uma interpretação conjunta final das Bandas participantes, sob a direcção do Maestro Capitão-Tenente Délio Gonçalves, da Banda da Armada.
Ao longo do desfile, serão interpretadas várias marchas, bem como o Hino da Restauração. O alinhamento do momento colectivo conta também, além do Hino da Restauração, com a interpretação dos Hino da Maria da Fonte e Hino Nacional.
Assim não chova! Será um grande sucesso.
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Nota do editor:
Guiné 61/74 - P18028: Tabanca Grande (453): Jaime da Silva Mendes, ex-Soldado Atirador de Art.ª da CART 1742 (Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), 762.º Tabanqueiro
Emblema da CART 1742 - Os Panteras
1. Apostado em trazer até nós toda a sua Companhia, o Abel Santos enviou-nos a inscrição de mais um candidato a ingressar na nossa tertúlia, desta feita trata-se do Soldado Atirador Art.ª Jaime da Silva Mendes, também ele da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69).
Jaime da Silva Mendes é natural de Braga, nascido a 31-07-1946.
Foi o electricista da CART 1742 e continuou a exercer esta profissão pela vida fora.
Este nosso novo camarada e amigo tem endereço de e-mail pelo que contamos com a sua colaboração na feitura da nossa memória colectiva de combatentes da Guiné.
Para ele o nosso abraço de boas-vindas
Ficha da CART 1742
Reprodução da pág. 451 do 7.º Volume - Fichas das Unidades - TOMO II - Guiné, da Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974) - Edição do Estado-Maior do Exército - Comissão para o Estudo das Campanhas de África
(Com a devida vénia)
O editor
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Nota do editor
Último poste da série de 20 de Novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P17993: Tabanca Grande (452): Carlos Vieira, ex-Fur Mil do Pel Mort 4580 (Bafatá, 1973/74), 761.º Tabanqueiro
Guiné 61/74 - P18027: (D)o outro lado do combate (14): A Igreja Católica na vida dos prisioneiros de guerra: o caso do Geraldino Marques Contino, 1º cabo op cripto, CART 1743, Tite, 1967/69 - Parte I (Jorge Araújo)
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Nota do editor:
Último poste da série > 25 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17905: (D)o outro lado do combate (13): Jovens recrutas do PAIGC... (Jorge Araújo)
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quarta-feira, 29 de novembro de 2017
Guiné 61/74 - P18026: Estórias avulsas (88): Recordações da minha passagem por terras da Guiné, vaca morta junto ao arame farpado (Abel Santos, ex-Soldado Atirador Art.ª)
Camajabá, 1968 - Abel Santos junto ao memorial à CCAÇ 1418/BCAÇ 1856
1. Em mensagem do dia 20 de Novembro de 2017, o nosso camarada Abel Santos, (ex-Soldado Atirador da CART 1742 - "Os Panteras" - Nova Lamego e Buruntuma, 1967/69), enviou-nos esta memória da sua passagem por terras da Guiné, mais propriamente por Camajabá.
Recordações da minha passagem por terras da Guiné Portuguesa
Depois de uma imensa actividade operacional na zona Leste 1 - Nova Lamego, a qual calcorreamos de Norte a Sul, Leste a Oeste, a CART 1742, a partir de 23 de Abril de 1968, foi deslocada para Buruntuma, ficando com a responsabilidade da vigilância do subsector de Camajabá e Ponte do rio Caiúm.
De Camajabá guardo algumas recordações, umas boas outras menos boas.
Estando eu a chegar ao aquartelamento, ido da Ponte Caiúm onde passei um mês destacado, surge um convite do responsável do subsector, Furriel Miliciano Amaro, do qual guardo gratas recordações, para gerir o depósito de géneros, mas com uma condição, fazer um reforço por semana, o que aceitei de imediato.
Foi uma experiência enriquecedora para mim, pois teria de saber dosear os géneros disponíveis para alimentação dos meus camaradas, tinha uma outra responsabilidade acrescida, que se baseava no apoio à população, em Camajabá havia um pelotão de milícia, homens recrutados na própria tabanca, e treinados pela tropa Portuguesa, aos quais éramos obrigados a fornecer os géneros alimentícios para sua alimentação. Este contacto directo com a população levou-me a perceber o que aquela gente pretendia, e não era a guerra, sentiam segurança junto da tropa, trabalhavam as suas terras, semeando e colhendo o fruto do seu trabalho, mas também sabiam que de um momento para o outro podiam ficar sem nada, sendo surripiado o esforço do seu trabalho, por aqueles que se diziam seus defensores.
Localização da Camajabá, estrada Buruntuma-Piche
Recordo um facto do qual fui protagonista, acontece que um dia os géneros alimentícios já eram escassos, a refeição do jantar era bianda (arroz) com salsicha, mas insuficiente para alimentar os meus camaradas, que todos os dias tinham serviços a desempenhar, como a ida à água e à lenha, e patrulhar a área envolvente ao destacamento. Eu e o furriel Amaro achámos por bem comprar na tabanca frangos para complemento do jantar, que depois de assados na brasa pelo cozinheiro Silva, foram degustados pela malta, e eu como responsável da cantina, ofereci meio barril de vinho que desapareceu pelas gargantas sequiosas, ainda hoje alguns camaradas me recordam esse dia.
Mas nessa noite fiz reforço como estava combinado, e lá fui cumprir o meu dever de militar para o posto de vigia que me estava destinado, e aqui é que foram elas, eu que já estava um pouco toldado pelo néctar do barril, ouvi barulho junto ao arame farpado e, não estou com meias medidas, faço fogo gritando ao mesmo tempo: "são eles, são eles", provocando o caos no destacamento.
Camajabá, 1968 - Abel Santos, de cócoras, com o Cabo Costa, filtrando água
De manhã, quando acordo, reparo que estou todo enlameado, não me lembrando do que tinha acontecido, mas fui logo informado que o inimigo era, “tinha sido”, uma vaca. Eu retorqui: "Ainda bem, pois o almoço vai ser melhorado, bifes com batata frita, com um copo de vinho para cada um".
Escusado será dizer que a tropa milícia também teve direito à metade do animal, cuja morte veio mesmo na altura ideal, devido à escassez de géneros.
Esta é uma das muitas peripécias passadas aquando da minha passagem por terras de África.
Um abraço para todos os combatentes.
Abel Santos
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Nota do editor
Último poste da série de 7 de fevereiro de 2017 > Guiné 61/74 - P17030: Estórias avulsas (87): Tudo começou a 9 de Janeiro de 1967 (Abel Santos, ex-Soldado Atirador Art.ª)
Guiné 61/74 - P18025: Agenda cultural (613): Amanhã, 30, pelas 18h30, na famosa Livraria Filigranes, em Bruxelas, apresentação da obra "Aristides de Sousa Mendes: memórias de um neto". Convite da Embaixada Portuguesa em Bruxelas e do Camões, I.P.
Convite da Embaixada de Portugal em Bruxelas e do Camões I.P. [Instituto da Cooperação e da Língua, Ministério dos Negócios Estrangeiros, Portugal] |
1. Mensagem. com data de 21 do corrente, que nos chega da editora Desassossego (nova chancela do Grupo Saída de Emergência):
(...) É com muita satisfação que vemos o livro Aristides de Sousa Mendes. Memória de um Neto escrito por António Moncada de Sousa Mendes (**) ser apresentado em Bruxelas. (***)
Se quiser falar com o autor sobre esta grande viagem que foi percorrer as memórias do seu avó e transformá-las em livro, por favor, contacte-me. Obrigada!
Margarida Damião
Diretora de Comunicação | Communication Director
GRUPO SAÍDA DE EMERGÊNCIA
Taguspark - Rua Prof. Dr. Aníbal Cavaco Silva,
Edifício Qualidade - Bloco B3, Piso 0, Porta B
2740-296 Porto Salvo, Portugal
Tel: +351 214 583 772
Tlm: +351 963 441 979
www.sde.pt
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Notas do editor:
(*) Último poste da série > 24 de novembro de 2017 > Guiné 61/74 - P18010: Agenda cultural (612): Ílhavo, Biblioteca Municipal, domingo, 26 de novembro, 17h00, lançamento de "O Livro das Santinhas de Apegar: textos poéticos", de Ábio de Lápara (pseudónimo literário do nosso amigo José António Paradela, arquiteto)
(**) Vd. poste de 25 de outubro de 2017 > Guiné 61/74 - P17904: Agenda cultural (600): lançamento do livro "Aristides de Sousa Mendes: memórias de um neto", de António Moncada S. Mendes. Lisboa, 31 do corrente, 3ª feira, às 18h30, no Salão Nobre do Palácio da Independência. Apresentação a cargo da historiadora Irene Pimentel.
(***) A conferência será em português, aqui na famosa Librairie Filigranes, em cuja página, na Net, se diz o seguinte sobre o evento:
Aristides de Sousa Mendes, Memórias de um neto
Memórias de um neto
O percurso corajoso e inspirador de um homem que salvou a vida de milhares de inocentes A história do cônsul Aristides de Sousa Mendes, e de como desafiou as ordens de Salazar para salvar as vidas de 30.000 refugiados durante a II Guerra Mundial, é hoje um legado de coragem e nobreza que constitui um orgulho para todos os portugueses. Mas quem era Aristides de Sousa Mendes? Por trás da figura heroica esconde-se um homem complexo, profundamente íntegro e religioso, devoto à família e ao país, e que foi forçado a fazer uma escolha terrível entre a sua consciência e o dever profissional, sabendo que as consequências para si seriam implacáveis.
Com recurso a um extenso arquivo fotográfico e documental, em grande parte inédito, o seu neto, António Moncada S. Mendes, desvenda o lado pessoal do cônsul e da sua família, lançando assim uma nova luz sobre a figura de um diplomata que se sacrificou para salvar a vida de muitos inocentes. (...)
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