Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
segunda-feira, 14 de maio de 2018
Guiné 61/74 - P18632: (De)Caras (108): O "pilotaço" Mário Leitão, ex-fur mil farmácia (Luanda, 1971/73): tirou o brevê de piloto privado de avião (PPA) em 1977, tem 300 horas de voo e 800 aterragens... Além disso, é "cavaleiro do mar", mergulhador e instrutor de mergulho...
Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 > A mesa dos "gloriosos malucos das máquinas voadoras"... António Martins de Matos oferecendo o seu boné de piloto.aviador ao Mário Leitão... Dois "pilotaços"!
Foto (e legenda): © Mário Leitão (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mensagem de Antónioo Màrio Leitão, em resposta a um pedido do nosso editor Luís Graça para explicar melhor ou comentar a sua história de vida como "piloto privado de avião" (*)
Data: 14 de maio de 2018 às 01:59
Assunto: Pilotaços!
Boa noite, Luís! Ou boa madrugada!...
Estou a escrever sob pressão, porque a tipografia já anda atrás de mim! Por isso ando calado!...
Monte Real foi lindo! Parabéns pela organização e pela tua/vossa entrega a esta causa da conservação das nossas memórias guerreiras!
É estimulante e inspirador ver tantos Camaradas irmanados pelo mesmo sentimento de fraternidade e de preocupação pelo legado que vamos deixar aos vindouros!
Aquele gesto do nosso General [António Martins de Matos, ten gen pilav, reformado], ao oferecer-me o seu boné de piloto-aviador, foi um momento alto da minha vida, acredita!
Se eu não fosse aviador, não valorizaria essa oferta para além de uma gentileza espontânea, mas como sou piloto senti muito mais do que isso! Hei-de um dia arranjar as palavras correctas para descrever a emoção que senti e o orgulho que sinto por aquele gesto!
Sim, sou piloto-aviador, embora já não voe há uns anos. Tirei o brevet no Aeroclube de Braga em 1977, pela Direcção-Geral de Aeronáutica Civil, na classe PPA [, Piloto Privado de Avião]. Voei em Cessna, Paulistinha, Auster D5, e duas horas em DO-27.
Tenho umas trezentas horas, com umas 800 aterragens. Aterrei em Tires, Pedras Rubras, S. Jacinto, Bissaia Barreto, Palma de Maiorca, Suíça, Chaves, Vila Real, Espinho... e caí na Serra do Alvão! (Mas continuei a voar!)
Chegou e sobrou, porque já não tinha tempo para o mergulho, de que sou instrutor por três agências internacionais, além de monitor nacional pela Escola de Mergulhadores da Armada, e continuo "no activo".
Estou a escrever aventuras sobre isso, porque já mergulho há 42 anos e fui presidente da Assembelia Geral da FPAS [, Federação Portuguesa de Atividades Subaquáticas,] uns 14 anos.
Um dia terás material engraçado para publicar, porque tenho várias aventuras aéreas e muitas subaquáticas, bem dramáticas. (**)
Já tenho os olhos a piscar, Camarada!
Boa noite! Um abraço amigo!
PS - Enviado do meu iPhone segue uma foto tirada em Monte Real, no nosso convívio do dia 5 de maio de 2018
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Notas do editor:
(*) Vd. poste de 13 de maio de 2018 Guiné 61/74 - P18630: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (26): a oportunidade do limiano Mário Leitão conhecer pessoalmente três nomes míticos da FAP que atuaram no TO da Guiné, em 1972/74: António Martins de Matos, Miguel Pessoa e Giselda Antunes Pessoa
(**) Último poste da série de 28 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18573: (De)Caras (106): A minha guerra: o 'burro do mato' e como saí daqui vivo... Canquelifá, 3 de fevereiro de 1971 (Francsco Palma, ex-sold cond auto, CCAV 2748, 1970/72)
Guiné 61/74 - P18631: Notas de leitura (1066): “Tatuagens da Guerra da Guiné”, pelo Capitão Luís Riquito; Guerra e Paz Editores, 2018 (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Maio de 2018:
Queridos amigos,
O então Capitão Luís Riquito desembarcou em Bissau em 1965, andou a afeiçoar a sua CCaç 816 em territórios de inequívoca dureza, entre Bissorã e Olossato, e meses depois, quando o Olossato estava no centro do furacão, coube-lhe construir e reconstruir em Olossato, Ponte Maqué, desobstruir estradas e abrir caminho, ao tempo tão intimidativo, para a base do Morés.
Para surpresa de muitos leitores, aparece em relatos em que os grupos de combate se afoitam pela floresta e tratam gente que vive sob o controlo remoto da base do Morés e grupos incidentes. Foram reagrupados e de um modo geral não voltaram a fugir para o mato.
Um relato um tanto formal onde não se escondem dolorosas e também dulcificantes situações naquele contexto tão áspero em que o PAIGC firmava posições e era crucial afronta-lo, no dia-a-dia.
Um abraço do
Mário
Nas terras do Oio, entre 1965 e 1966
Beja Santos
“Tatuagens da Guerra da Guiné”, pelo Capitão Luís Riquito, Guerra e Paz Editores, 2018, é um relato memorial de quem comandou a CCaç 816, que desembarcou em 26 de maio de 1965, o narrador dá pelo nome do Capitão Fernando Gonçalves, usa a terceira pessoa do singular e centra o essencial do seu registo em terras do Oio, mais concretamente Mansoa, Bissorã e Olossato. Para quem desconhece aquela floresta densa e fechada, o narrador fala-nos de várias campanhas de pacificação e dos seus povos. É informado das bases do PAIGC espalhadas pelo Oio: Morés, Iracunda, Cai, Cansambo, Cambajo (quatro bases de segurança periférica da base central), e de Maqué, de Biambi, de Queré e de Rua, bases regionais vocacionadas para o apoio logístico e o controlo das populações.
É uma peça de literatura memorial que obedece à estrutura de um relatório desdobrado em itens. Depois do que ele denomina treino operacional, esta Companhia independente chega em finais de setembro de 1965. Descreve o subsetor do Olossato e as missões de que está incumbida a sua Companhia. Era tudo trabalhoso e tanto, as forças do PAIGC não davam descanso: frequentes emboscadas às colunas da estrada para o Olossato; a estrada para Farim estava interdita, fora limpa e aberta em julho de 1965, não deixou de haver violência; destruição em 3 de agosto de 1965 da ponte de Maqué, onde foram implantadas minas antipessoal; abatises na estrada entre Mansoa e Bissorã, foram removidos; ataque à guarnição de Olossato, em 15 de agosto de 1965, e muito mais. Havia que reabilitar e construir infraestruturas, procurar e acolher populações transmalhadas, gerar boa convivência, patrulhar, intervir em operações, assistir e abastecer as populações dentro das suas tabancas. E tudo se descreve: a destruição de uma serração, um ponto estratégico onde as forças do PAIGC atacavam quem partia ou chegava ao Olossato; o diálogo com os Muçulmanos. E é dentro desta formalidade descritiva, um tanto seca e rígida, que surge um episódio emocionante, uma memória de Bacar Queba, este diligentíssimo combatente é atingido por uma mina, levado para a enfermaria, ficara cego, quer falar com o Capitão, e este regista a conversa pungente e transmite-nos uma dor universal:
- Esta mina era mesmo muito perigosa, Bacar, e tu conseguiste safar-te, pá. Aquela era para limpar quem apanhasse e tu safaste-te. Tiveste mesmo muita sorte, Bacar. Sabes como foi e como podia ter sido, pá! Dentro deste azar, tu sabes que tiveste muita sorte por continuares aqui a falar comigo e tens todos os teus amigos da OITO16 a rezar por ti, para que fiques bem e continuares a trabalhar por esta tua gente. Uma vez que chegaste aqui, o nosso furriel está a preparar tudo para seres transferido para o Hospital de Bissau e os médicos podem resolver e recuperar a tua vista, percebes?
- Pois é, Capitão, mas eu estou aqui sozinho mesmo, pá, e o que eu quero mesmo, mesmo, é voltar para aí! Para sentir isso aí fora, percebes Capitão? Dá cá a tua mão, para eu sentir outra vez isso aí fora, pá!
O Capitão estendeu a mão direita a Bacar que, ao segurar, a apertou com força, num cumprimento de esperança, de camaradagem e de amizade correspondida, e desabafou:
- Agora já sinto, Capitão, já sinto isso aí fora onde tu estás e estou a ver-te, mas eu estou longe, pá; mas agora assim estou melhor, já sei onde estou e a lembrar com quem estou a falar, sabes. Parece que voltei, Capitão, já sinto mesmo, pá.
Há um aspeto que seguramente emocionará o leitor, a integração das populações espalhadas pelo mato que em sucessivas ações os homens da CCaç 816 vão ao contacto, e trazem quase sempre com sucesso gente que é forçada a cultivar e a alimentar as forças do PAIGC. Um conjunto de descrições que deverá doravante merecer a atenção dos historiadores para situar naquele tempo ainda fortes debilidades no controlo remoto exercido por Morés sobre populações que viviam foram da base.
A batalha de Maqué, expressão usada pelo autor para esmiuçar todo o trabalho desenvolvido para beneficiar o destacamento e garantir a segurança da ponte de Maqué, não deixando de referir que para além destas reconstruções, a CCaç 816 foi envolvida num conjunto apreciável de operações, patrulhamentos, emboscadas a que não faltaram duros confrontos, abrindo-se caminho para ir mais destemidamente até ao núcleo central do Morés.
Luís Riquito muniu-se de informação sobre as campanhas de pacificação, leu René Pélissier, Luís Cabral, Amílcar Cabral, seguramente que guardou arquivo de todas as atividades da CCaç 816, a não ser todo este arquivo não nos poderia dar com tal grau de minúcia as intervenções no Oio e no Morés. E destaca aquela coroa de glória que foi a Operação Castor, onde intervieram a CCaç 816 com um grupo de combate da CCAÇ 1418 e Caçadores Nativos do Olossato, saíram do Olossato em 19 de fevereiro de 1966 e apanharam muitíssimo material e algumas emboscadas pelo caminho.
Em 27 de julho de 1966 a CCaç 816 deixa o Olossato e vai para Mansoa, passa a intervenção e fica-se igualmente com um relato das operações por onde andaram. A memória detalhada do Capitão Luís Riquito culmina com um grande desastre ocorrido no quartel novo de Mansoa, o Capitão procurou evitar mais graves danos humanos e materiais, houve para ali um forte litígio verbal e não-verbal com um camarada de armas.
O documento termina com a orgânica da CCaç 816, os seus mortos e feridos e louvores.
Uma peça a considerar para o estudo da guerra da Guiné na zona crucial de Morés, entre 1965 e 1966.
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Nota do editor
Último poste da série de 11 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18622: Notas de leitura (1065): Os Cronistas Desconhecidos do Canal do Geba: O BNU da Guiné (34) (Mário Beja Santos)
domingo, 13 de maio de 2018
Guiné 61/74 - P18630: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (26): a oportunidade do limiano Mário Leitão conhecer pessoalmente três nomes míticos da FAP que atuaram no TO da Guiné, em 1972/74: António Martins de Matos, Miguel Pessoa e Giselda Antunes Pessoa
Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 > A mesa dos "gloriosos malucos das máquinas voadoras"... Miguel Pessoa, António Martins de Matos, Mário Leitão e Giselda Pessoa...E por auqi também passou o paraquedista, do BCP 21 (Angola, 1970(72), Jaime Bonifácio Marques da Silva... Um quinteto de luxo
Fotos (e legendas): © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Ficámos a saber que o Mário Leitão está longe de ser um "infilrado" na Tabanca Grande... Ele está de pleno direito na nossa Tabanca Grande: foi furriel miliciano de farmácia, em Luanda, em 1971/74... e tem estado a escrever as biografias de todos os bravos limianos (em nº 52), que morreram, no perído da guerra do ultramar, incluindo no TO da Guiné.
É um camarada generoso, caloroso e afável. Além disso, foi piloto civil, amadpr, com 300 e tal horas de voo, até ao dia em que teve um acidente e teve de pagar uma pipa de massa por causa dos estragos da máquina.. (Ele um dia pode-nos contar melhor esta história que eu só apanhei por alto) (*)
O Mário Leitão fez questão de conhecer pessoalmente, além do António Martins de Matos, "o casal mais strelado do mundo", o Miguel e a Giselda.
Já aqui lembrámos que o nosso grã-tabanqueiro Mário Leitão, de Ponte de Lima, é hoje farmacêutico reformado, tendo sido por outro lado professor na Escola Superior de Enfermagem de Viana do Castelo. Foi piloto civil, amador (com 300 e tal horas de voo)... Não sabemos se ainda o é, depois do grave acidente sofrido há uns anos. Continua a ter uma grande paixão pelos aviões. E é sobre eles que fala com os seus ocasionais companheiros de mesa, nas fotos que acima reproduzimos,,, (**)
Já aqui lembrámos que o nosso grã-tabanqueiro Mário Leitão, de Ponte de Lima, é hoje farmacêutico reformado, tendo sido por outro lado professor na Escola Superior de Enfermagem de Viana do Castelo. Foi piloto civil, amador (com 300 e tal horas de voo)... Não sabemos se ainda o é, depois do grave acidente sofrido há uns anos. Continua a ter uma grande paixão pelos aviões. E é sobre eles que fala com os seus ocasionais companheiros de mesa, nas fotos que acima reproduzimos,,, (**)
Em Monte Real, teve agora a oportunidade de conhecer ao vivo uma das lídimas represemtantes do corpo de enfermeiras paraquedistas que estiveram em África. Neste caso, uma das mais novas... Leia-se a dedicatória que escreveu à Giselda no exemplar do livro que lhe ofereceu, "História do Dia do Combatente Limiano":
"Monte Real, 5/maio/2018: À enfª Giselda Antunes Pessoa, com a grande emoção de conhecer pessoalmente uma enfermeira paraquedista da guerra do ultramar. Com um abraço do Mário Leitão (Fur Mil Farmácia de Luanda, 71/73)".
"Ao Pil Aviador, Miguel Pessoa, mítico tenente strelado de um Fiat G 91 em lem [...]"-
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Notas do editor
(*) Vd. poste de 7 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18613: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (23): um paraquedista, uma enfermeira paraquedista e um maluquinho das máquinas voadoras... O que faziam em Monte Real, no sábado, dia 5 de maio ?
(**) Último poste da série > 11 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18624: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (25): Monte Real, 5 de maio de 2018: o olhar do fotógrafo 'strelado' Miguel Pessoa - Parte II
(*) Vd. poste de 7 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18613: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (23): um paraquedista, uma enfermeira paraquedista e um maluquinho das máquinas voadoras... O que faziam em Monte Real, no sábado, dia 5 de maio ?
(**) Último poste da série > 11 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18624: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (25): Monte Real, 5 de maio de 2018: o olhar do fotógrafo 'strelado' Miguel Pessoa - Parte II
Guiné 61/74 - P18629: Convívios (856): Pessoal de Bambadinca, ao tempo do BCAÇ 2852 (1968/70): Alferradeira Velha, Abrantes, 26 de maio de 2018, meio século depois do embarque para o CTIG... Organização a cargo do ex-1.º cabo escriturário José Augusto Mendes Mourão, da CCS
Lisboa > Casa do Alentejo > 13. Convívio do Pessoal de Bambadinca (1968771) > 26 de maio de 2007 > O Mourão Mendes (ex-1.º cabo escriturário da CCS/BCAÇ 2852, que vive atualmente em Torres Novas) e o Gabriel Gonçalves, o famoso GG (ex-1.º Cabo Op Cripto, CCAÇ 12, residente em Lisboa).
Foto (e legenda) © Luís Graça (2007). Todos os direitos reservados.. [Edição: Blogue Luís Graça & Camnarada da Guiné]
Óbidos > Restaurante A Lareira > 22/5/2010 > 16.º Convívio do Pessoal de Bambadinca 1968/71 > Os organizadores de dois convívios anteriores, o Fernando Sousa (CCAÇ 12), que é da Trofa, e o José Augusto Mendes Mourão (CCS / BCAÇ 2852), que é de Torres Novas.
Foto (e legenda) © Luís Graça (2010). Todos os direitos reservados.. [Edição: Blogue Luís Graça & Camnarada da Guiné]
1. Pela mão do meu amigo e camarada Fernando Andrade de Sousa, ex-1.º cabo aux enf, CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), adido ao BCAÇ 2852, entre julho de 1969 a maio de 1970, chega-me esta convocatória para o 24.º convívio do pessoal de Bambadinca (1968//1). (ªª).
O evento vai realizar-se em 26 de maio de 2018, em Alferrarede Velha, Abrantes. A organização está a cargo do nosso camarada José Augusto Mendes Mourão, ex-1.º cabo, CCS/BCAÇ 2852 (Bambadinca, 1968/0). É um "histórico" enquanto organizador destes convívios.
________________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 27 de maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1788: Convívios (10): Pessoal de Bambadinca 1968/71: CCS do BCAÇ 2852, CCAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e 63 (Luís Graça)
(**) Último poste da série > 8 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18616: Convívios (855): XXXI Almoço de Confraternização, e comemoração do 46.º aniversário da chegada, dos Oficiais, Sargentos e Praças, e familiares, do BCAÇ 2879, dia 26 de Maio de 2018, em Folgosinho (Carlos Silva, ex-Fur Mil da CCAÇ 2548)
Guiné 61/74 - P18628: Blogues da nossa blogosfera (92): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (11): "Poema do desgaste e do contraste"
Do Blogue Jardim das Delícias, do Dr. Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547/BCAÇ 1887, (Canquelifá e Bigene, 1966/68), com a devida vénia, reproduzimos esta publicação da sua autoria.
POEMA DO DESGASTE E DO CONTRASTE
ADÃO CRUZ
Há muito que não saía à rua
há muito que não saía fora de mim
em direcção ao meu corpo abandonado
estendido em fria paleta sem cor
sobre um manto de poemas carcomidos
ruídos de musgo e manchas de bolor.
Há muito que não saía à rua
há muito que não sentia a dor
do desprezo da poesia
feita espuma de coisas impalpáveis
escaldantes, abertas e sangrantes
no sofrido labirinto da alma vazia.
Há muito que não saía à rua
há muito que não me apercebia
um só momento
do cantar bronco do poeta
em perpétuo e estúpido invento.
Há muito que não saía à rua
há muito que não dobrava a porta
deste corpo abandonado
na escuridão de uma noite peregrina
de lacrimosas horas perdidas
em poemas de cinza em cada esquina.
Há muito que não saía à rua
há muito que não sentia o abrigo dos lençóis
e pisava o chão purulento do degredo
na lama fria dos poemas e do medo
que rompiam as cadeias do meu corpo.
Há muito que não saía à rua
há muito que as linfas secaram a felicidade
mudando o cair da noite e o nascer do dia
em matéria grosseiramente física
de versos telúricos, celulósicos, iónicos
sem poesia nem liberdade.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 11 de fevereiro de 2018 > Guiné 61/74 - P18308: Blogues da nossa blogosfera (91): Jardim das Delícias, blogue do nosso camarada Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 (10): "O meu gesto das coisas simples"
Guiné 61/74 - P18627: Blogpoesia (566): "Vi o vento irado...", "Pedras e flores...", e "Pairando no ar...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau,
1964/66) três belíssimos poemas, da sua autoria, enviados entre outros,
durante a semana, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:
Vi o vento irado...
Vi o vento irado com as núvens.
Elas não se entendiam entre si.
Umas queria seguir para norte.
Saudosas da neve branca.
Outras para o sul.
Mortas por mergulhar no mar.
Chamou a trovoada para as pôr na ordem.
Um trovão tronitruante as estremeceu de medo.
De repente se desfizeram em chuva tão copiosa, fez esbordar os rios.
O mar subiu três pontos.
As marés sumiram as praias.
E as gaivotas, esbaforidas, grasnavam loucas por alimento.
Foi o fim do mundo.
Eis que o rei sol, incomodado com toda a desordem, resolveu intervir.
O céu ficou azul.
O calor serenou a tempestade.
Num instante, tudo ficou em paz...
Roses, 8 de Maio de 2018
9h7m
Jlmg
Pedras e flores...
O mundo, como a vida,
é tecido de pedras e flores.
Calcamos um chão de abrolhos,
sorrimos à cor das cores.
Há sempre um bem para cada mal.
Uma fonte pura que mate a nossa sede.
A nossa fé e a nossa esperança.
É infinito o céu azul.
Não têm conta as estrelas que só de noite brilham.
Não tem limites o poder da nossa imaginação.
É divina a arte do fulgor das sinfonias
como a de combinar as cores num quadro belo de pintura.
Brilham no tempo os versos geniais de Virgílio e de Homero.
Ainda hoje, desafiam o poder dos deuses as pirâmides colossais que há no mundo.
Quisesse o homem e teríamos já o céu aqui na terra...
ouvindo "Adágios Russos"
Roses, 9 de Maio de 2018
9h5m
Jlmg
Pairando no ar...
Como gaivota, pairando no ar,
vejo os salpicos brotando das ondas.
Cardumes bailando a alegria da água,
descrevem bailados, num silêncio sem fim.
Desafio as nuvens paradas no céu,
zombando de mim.
O vento tardou.
Abandonadas, ficaram ali como o destino traçou.
E o pequenino farol, implantado ao fundo,
parece tão triste,
esperando nevoeiro para tocar.
No casario ao longe, do lado de lá,
reluzem janelas de vidro, fechadas.
Bate-lhes o sol, reflectem o céu,
emitindo faíscas.
As gaivotas em bandos, disputam os cardumes ocultos,
mal sabem o risco que correm.
Pela estrada, entre a praia e as casas,
zumbem os carros num frémito veloz.
Enquanto as camionetas de carga,
paradas na berma,
descarregam os géneros que atiça o comércio.
E penso: Que sou eu tão minúsculo,
no meio de tudo?
Oiço esta música bem linda e sonho...
ouvindo "Adágios Russos"
Roses, 10 de Maio de 2018
9h33m
dia cinzento
Jlmg
____________
Nota do editor
Último poste da série de 4 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18603: Blogpoesia (565): "Sombras nos olhos", "Hora das acácias...", e "O sabor das coisas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
Vi o vento irado...
Vi o vento irado com as núvens.
Elas não se entendiam entre si.
Umas queria seguir para norte.
Saudosas da neve branca.
Outras para o sul.
Mortas por mergulhar no mar.
Chamou a trovoada para as pôr na ordem.
Um trovão tronitruante as estremeceu de medo.
De repente se desfizeram em chuva tão copiosa, fez esbordar os rios.
O mar subiu três pontos.
As marés sumiram as praias.
E as gaivotas, esbaforidas, grasnavam loucas por alimento.
Foi o fim do mundo.
Eis que o rei sol, incomodado com toda a desordem, resolveu intervir.
O céu ficou azul.
O calor serenou a tempestade.
Num instante, tudo ficou em paz...
Roses, 8 de Maio de 2018
9h7m
Jlmg
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Pedras e flores...
O mundo, como a vida,
é tecido de pedras e flores.
Calcamos um chão de abrolhos,
sorrimos à cor das cores.
Há sempre um bem para cada mal.
Uma fonte pura que mate a nossa sede.
A nossa fé e a nossa esperança.
É infinito o céu azul.
Não têm conta as estrelas que só de noite brilham.
Não tem limites o poder da nossa imaginação.
É divina a arte do fulgor das sinfonias
como a de combinar as cores num quadro belo de pintura.
Brilham no tempo os versos geniais de Virgílio e de Homero.
Ainda hoje, desafiam o poder dos deuses as pirâmides colossais que há no mundo.
Quisesse o homem e teríamos já o céu aqui na terra...
ouvindo "Adágios Russos"
Roses, 9 de Maio de 2018
9h5m
Jlmg
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Pairando no ar...
Como gaivota, pairando no ar,
vejo os salpicos brotando das ondas.
Cardumes bailando a alegria da água,
descrevem bailados, num silêncio sem fim.
Desafio as nuvens paradas no céu,
zombando de mim.
O vento tardou.
Abandonadas, ficaram ali como o destino traçou.
E o pequenino farol, implantado ao fundo,
parece tão triste,
esperando nevoeiro para tocar.
No casario ao longe, do lado de lá,
reluzem janelas de vidro, fechadas.
Bate-lhes o sol, reflectem o céu,
emitindo faíscas.
As gaivotas em bandos, disputam os cardumes ocultos,
mal sabem o risco que correm.
Pela estrada, entre a praia e as casas,
zumbem os carros num frémito veloz.
Enquanto as camionetas de carga,
paradas na berma,
descarregam os géneros que atiça o comércio.
E penso: Que sou eu tão minúsculo,
no meio de tudo?
Oiço esta música bem linda e sonho...
ouvindo "Adágios Russos"
Roses, 10 de Maio de 2018
9h33m
dia cinzento
Jlmg
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Nota do editor
Último poste da série de 4 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18603: Blogpoesia (565): "Sombras nos olhos", "Hora das acácias...", e "O sabor das coisas...", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil da CCAÇ 728
Guiné 61/74 - P18626: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 47/48/49: "Quero dizer-te que só em quinze dias os turras derrubaram cinco aviões"
Fiat G-91. O primeiro a ser abatido por um Strela foi em 25 de março de 1973, sob os céus de Guileje.. Era pilotado pelo nosso camarada Miguel Pessoa, então tenente piloto aviador.
Foto de arquivo do Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.
1. Continuação da pré-publicação do próximo livro (na versão manuscrita, "Em Nome da Pátria") do nosso camarada José Claudino Silva [foto atual à esquerda] (*)
(i) nasceu em Penafiel, em 1950, "de pai incógnito" (como se dizia na época e infelizmente se continua a dizer, nos dias de hoje), tendo sido criado pela avó materna;
(ii) trabalhou e viveu em Amarante, residindo hoje na Lixa, Felgueiras, onde é vizinho do nosso grã-tabanqueiro, o padre Mário da Lixa, ex-capelão em Mansoa (1967/68), com quem, de resto, tem colaborado em iniciativas culturais, no Barracão da Cultura;
(iii) tem orgulho na sua profissão: bate-chapas, agora reformado; completou o 12.º ano de escolaridade; foi um "homem que se fez a si próprio", sendo já autor de dois livros, publicados (um de poesia e outro de ficção);
(iv) tem página no Facebook; é avô e está a animar o projeto "Bosque dos Avós", na Serra do Marão, em Amarante;
(ix) é membro n.º 756 da nossa Tabanca Grande.
2. Sinopse dos postes anteriores:
(i) foi à inspeção em 27 de junho de 1970, e começou a fazer a recruta, no dia 3 de janeiro de 1972, no CICA 1 [Centro de Instrução de Condutores Auto-rodas], no Porto, junto ao palácio de Cristal;
(ii) escreveu a sua primeira carta em 4 de janeiro de 1972, na recruta, no Porto; foi guia ocasional, para os camaradas que vinham de fora e queriam conhecer a cidade, da dos percursos de "turismo sexual"... da Via Norte à Rua Escura;
(iii) passou pelo Regimento de Cavalaria 6, depois da recruta; promovido a 1.º cabo condutor autorrodas, será colocado em Penafiel, e daqui é mobilizado para a Guiné, fazendo parte da 3.ª CART / BART 6250 (Fulacunda, 1972/74);
(iv) chegada à Bissalanca, em 26/6/1972, a bordo de um Boeing dos TAM - Transportes Aéreos Militares; faz a IAO no quartel do Cumeré;
(v) no dia 2 de julho de 1972, domingo, tem licença para ir visitar Bissau, e fica lá mais uns tempos para um tirar um curso de especialista em Berliet;
(vi) um mês depois, parte para Bolama onde se junta aos seus camaradas companhia; partida em duas LDM para Fulacunda; são "praxados" pelos 'velhinhos' (ou vê-cê-cês), os 'Capicuas", da CART 2772;
(vii) faz a primeira coluna auto até à foz do Rio Fulacunda, onde de 15 em 15 dias a companhia era abastecida por LDM ou LDP; escreve e lê as cartas e os aerogramas de muitos dos seus camaradas analfabetos;
(viii) é "promovido" pelo 1.º sargento a cabo dos reabastecimentos, o que lhe dá alguns pequenos privilégio como o de aprender a datilografar... e a "ter jipe";
(ix) a 'herança' dos 'velhinhos' da CART 2772, "Os Capicuas", que deixam Fulacunda; o Dino partilha um quarto de 3 x 2 m, com mais 3 camaradas, "Os Mórmones de Fulacunda";
(x) Dino, o "cabo de reabastecimentos", o "dono da loja", tem que aprender a lidar com as "diferenças de estatuto", resultantes da hierarquia militar: todos eram clientes da "loja", e todos eram iguais, mas uns mais iguais do que outros, por causa das "divisas"... e dos "galões"...
(xi) faz contas à vida e ao "patacão", de modo a poder casar-se logo que passe à peluda; e ao fim de três meses, está a escrever 30/40 cartas e aerogram as por mês; inicialmente eram 80/100; e descobre o sentido (e a importância) da camaradagem em tempo de guerra.
(xii) como "responsável" pelo reabastecimento não quer que falte a cerveja ao pessoal: em outubro de 1972, o consumo (quinzenal) era já de 6 mil garrafas; ouve dizer, pela primeira vez, na rádio clandestina, que éramos todos colonialistas e que o governo português era fascista; sente-se chocado;
(xiii) fica revoltado por o seu camarada responsável pela cantina, e como ele 1º cabo condutor auto, ter apanhado 10 dias de detenção por uma questão de "lana caprina": é o primeiro castigo no mato...; por outro lado, apanha o paludismo, perde 7 quilos, tem 41 graus de febre, conhece a solidariedade dos camaradas e está grato à competência e desvelo do pessoal de saúde da companhia.
(xiv) em 8/11/1972 festejava-se o Ramadão em Fulacunda e no resto do mundo muçulmano; entretanto, a companhia apanha a primeira arma ao IN, uma PPSH, a famosa "costureirinha" (, o seu matraquear fazia lembrar uma máquina de costura);
(xv) começa a colaborar no jornal da unidade (dirigido pelo alf mil Jorge Pinto, nosso grã-tabanqueiro), e é incentivado a prosseguir os seus estudos; surgem as primeiras dúvidas sobre o amor da sua Mely [Maria Amélia], com quem faz, no entanto, as pazes antes do Natal; confidencia-nos, através das cartas à Mely as pequenas besteiras que ele e os seus amigos (como o Zé Leal de Vila das Aves) vão fazendo;
(xvi) chega ao fim o ano de 1972; mas antes disso houve a festa do Natal (vd. capº 34º, já publicado noutro poste); como responsável pelos reabastecimentos, a sua preocupação é ter bebidas frescas, em quantidade, para a malta que regressa do mato, mas o "patacão", ontem como hoje, era sempre pouco;
(xvii) dá a notícia à namorada da morte de Amílcar Cabral (que foi em 20 de janeiro de 1973 na Guiné-Conacri e não no Senegal); passa a haver cinema em Fulacunda: manda uma encomenda postal de 6,5 kg à namorada;
(xviii) em 24 de fevereiro de 1973, dois dias antes do Festival da Canção da RTP, a companhia faz uma operação de 16 horas, capturando três homens e duas Kalashnikov, na tabanca de Farnan.
(xix) é-lhe diagnosticada uma úlcera no estômago que, só muito mais tarde, será devidamente tratada; e escreve sobre a população local, tendo dificuldade em distinguir os balantas dos biafadas;
(xx) em 20/3/1973, escreve à namorada sobre o Fanado feminino, mas mistura este ritual de passagem com a religião muçulmana, o que é incorreto; de resto, a festa do fanado era um mistério, para a grande maioria dos "tugas" e na época as autoridades portuguesas não se metiam neste domínio da esfera privada; só hoje a Mutilação Genital Feminina passou a a ser uma "prática cultural" criminalizada.
(xxi) depois das primeiras aeronaves abatidas pelos Strela, o autor começa a constatar que as avionetas com o correio começam a ser mais espaçadas...
3. Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capºs 47/48/49
O autor faz questão de não corrigir os excertos que transcreve, das cartas e aerogramas que começou a escrever na tropa e depois no CTIG à sua futura esposa. E muito menos fazer autocensura 'a posterior', de acordo com o 'politicamente correto'... Esses excertos vêm a negrito. O livro, que tinha originalmente como título "Em Nome da Pátria", passa a chamar-se "Ai, Dino, o que te fizeram!", frase dita pela avó materna do autor, quando o viu fardado pela primeira vez. Foi ela, de resto, quem o criou. ]
47º Capítulo > FELICITAÇÕES
Todas as gerações são diferentes. A minha foi, indiscutivelmente, a mais diferente de todas.
Começa meia dúzia de anos após a 2ª guerra mundial, atravessa metade do século XX e entra pelo século XXI, talvez no período em que o mundo mais rapidamente evoluiu.
Orgulho-me de ter vivido este tempo. Sem grandes meios financeiros, consegui ter uma vida. Não fora a minha falta de tacto familiar, poderia ter sido um exemplo para muitos. É bem verdade que não há bela sem senão.
Pelos outros, lamento não ter a imagem que gostavam que eu tivesse. Por mim, vindo de onde vim, fiz mais que alguma vez sonhei fazer.
(28 De Setembro de 2017. Quinta-feira 19H00.
Há quarenta e cinco anos escrevi para uma pessoa que hoje comemora 65 anos:
“Queridinha do meu coração. Neste dia do teu aniversário que tem um significado especial para mim, te escrevo com redobrado amor, pois quero que este dia, que passaremos muitas vezes juntos, esteja sempre radioso de felicidade e que o nosso amor continue sempre forte como agora é.”
As circunstâncias da vida alteraram-se o que não me impede de manter os desejos de feliz aniversário a uma mulher que, se não fosse ela, estes textos não existiriam. Chama-se Maria Amélia Moreira Mendes. Ainda hoje é a minha esposa. Perdoem-me esta pequena lembrança mas, como estou a escrever no dia do seu aniversário, é a minha pequena homenagem à mãe dos meus filhos e avó da minha querida neta Catarina.)
48º Capítulo > ABATERAM UM AVIÃO
Estranhamente, e sendo um leitor de vários géneros literários, como já frisei, faço um discurso completamente obscurantista. Quero acentuar que os meus estudos se resumiam ao 2º grau (4ª Classe). O que sinto, quanto mais avanço na leitura do que naquele tempo escrevi é que vou lentamente alterando a minha forma de pensar. Espero não ter grandes surpresas de comportamento, mais lá para diante. Para já, trata-se dum avião.
“Querida lamento que andes constipada, podia perguntar ao médico que remédio devias tomar mas quando o aéro aí chegasse, decerto já estarias curada, sabes que nem sempre a avioneta vem buscar correio. Penso até que decerto vai piorar, os “turras” abateram um avião nosso e morreu o piloto, como vês não somos só nós que matamos às vezes também sofremos baixas e agora devem ter melhores armas pois até aviões abatem”
Peço desculpa pela violência das palavras e confesso-me, de facto, preocupado que no restante correio que tenho de ler se me deparem piores situações. Continuarei a escrever, desdobrando um a um cada aerograma ou carta que imediatamente colocarei no computador. Uma coisa continuo a garantir-vos: 90% do que escrevi até ao dia 31 de Março de 1973, é amor, ternura e carinho.
“Hoje fiquei contente porque o Sr. Padre do batalhão que é o alferes capelão pediu-me para eu escrever alguns artigos para o jornal de Tite. Ainda vou ser famoso. Ah ah ah”
No dia seguinte, por ser domingo, mandei uma quadra duma canção de Dércio Marques. Título: “Vim de Longe”
Sou o riso das lavadeiras,
Aroma das madrugadas,
Sou o silêncio das eiras,
Sou a raiva das enxadas.
Nessa semana, soubemos que íamos ser aumentados. Seria verdade? No dia seguinte ou poucos dias depois, já confirmaria.
49º Capítulo > ABATERAM CINCO AVIÕES
Dizia eu, mais atrás, não saber se com a morte de Amílcar Cabral, dirigente máximo do PAIGC, iria melhorar ou piorar a situação bélica na Guiné, mas em Abril eu escrevia:
“Quero dizer-te que só em quinze dias os “turras” derrubaram cinco aviões, aliás três avionetas e dois aviões. Por isso já podes ver que desde que morreu o Amílcar Cabral que era o chefe deles isto em vez de melhorar piorou. Nós felizmente temos tido sorte e espero que a sorte nos continue a proteger para regressarmos todos sãos e salvos.
Um amigo meu que está em Manpatá escreveu-me a dizer que na companhia dele já houveram três mortos e bastantes feridos. Nós graças a Deus ainda nenhum ferido tivemos.
Agora outro assunto. Saiu na ordem de serviço que eu passo a ser o único responsável pelas contas da cantina. Que merda. Até agora era um alferes mas o esquema foi alterado. Acontece que as contas da cantina nunca batiam muito certas e numa primeira análise parece que continua assim. Já viste? Vou passar a lidar com mais ou menos cinquenta contos por mês e se há algum desvio de dinheiro? Até aqui só lidava com papéis. Creio que vou estar à altura do encargo e hoje mesmo vou pedir ao 1º Sargento para fazer um balanço às contas. Se não estiver tudo direito não aceito nem que me castiguem. Fiquei contente por saber que o Castro e o teu primo regressaram bem”.
Na carta seguinte em que só falava de amor, talvez pelo título, aproveitei para mandar uma letra duma canção do Roberto Carlos – “Escreva uma carta, meu amor”
Nos dias seguintes, começámos a perceber que as avionetas já não viriam com tanta frequência.
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Peço desculpa pela violência das palavras e confesso-me, de facto, preocupado que no restante correio que tenho de ler se me deparem piores situações. Continuarei a escrever, desdobrando um a um cada aerograma ou carta que imediatamente colocarei no computador. Uma coisa continuo a garantir-vos: 90% do que escrevi até ao dia 31 de Março de 1973, é amor, ternura e carinho.
“Hoje fiquei contente porque o Sr. Padre do batalhão que é o alferes capelão pediu-me para eu escrever alguns artigos para o jornal de Tite. Ainda vou ser famoso. Ah ah ah”
No dia seguinte, por ser domingo, mandei uma quadra duma canção de Dércio Marques. Título: “Vim de Longe”
Sou o riso das lavadeiras,
Aroma das madrugadas,
Sou o silêncio das eiras,
Sou a raiva das enxadas.
Nessa semana, soubemos que íamos ser aumentados. Seria verdade? No dia seguinte ou poucos dias depois, já confirmaria.
49º Capítulo > ABATERAM CINCO AVIÕES
Dizia eu, mais atrás, não saber se com a morte de Amílcar Cabral, dirigente máximo do PAIGC, iria melhorar ou piorar a situação bélica na Guiné, mas em Abril eu escrevia:
“Quero dizer-te que só em quinze dias os “turras” derrubaram cinco aviões, aliás três avionetas e dois aviões. Por isso já podes ver que desde que morreu o Amílcar Cabral que era o chefe deles isto em vez de melhorar piorou. Nós felizmente temos tido sorte e espero que a sorte nos continue a proteger para regressarmos todos sãos e salvos.
Um amigo meu que está em Manpatá escreveu-me a dizer que na companhia dele já houveram três mortos e bastantes feridos. Nós graças a Deus ainda nenhum ferido tivemos.
Agora outro assunto. Saiu na ordem de serviço que eu passo a ser o único responsável pelas contas da cantina. Que merda. Até agora era um alferes mas o esquema foi alterado. Acontece que as contas da cantina nunca batiam muito certas e numa primeira análise parece que continua assim. Já viste? Vou passar a lidar com mais ou menos cinquenta contos por mês e se há algum desvio de dinheiro? Até aqui só lidava com papéis. Creio que vou estar à altura do encargo e hoje mesmo vou pedir ao 1º Sargento para fazer um balanço às contas. Se não estiver tudo direito não aceito nem que me castiguem. Fiquei contente por saber que o Castro e o teu primo regressaram bem”.
Na carta seguinte em que só falava de amor, talvez pelo título, aproveitei para mandar uma letra duma canção do Roberto Carlos – “Escreva uma carta, meu amor”
Nos dias seguintes, começámos a perceber que as avionetas já não viriam com tanta frequência.
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Nota do editor:
(*) Último poste da série > 30 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18583: Ai, Dino, o que te fizeram!... Memórias de José Claudino da Silva, ex-1.º cabo cond auto, 3.ª CART / BART 6520/72 (Fulacunda, 1972/74) > Capítulos 45 e 46: como te disse, eles aqui fazem a festa do Fanado, que é para fazer umas coisas às mulheres que eu, quando for de férias, te explicarei.
sábado, 12 de maio de 2018
Guiné 61/74 - P18625: Os nossos seres, saberes e lazeres (267): De Estremoz para as Termas de S. Pedro do Sul (4) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) com data de 1 de Março de 2018:
Queridos amigos,
O fito para termo da viagem era mesmo estacionar nas termas de S. Pedro do Sul, o que havia a farejar era no mundo termal, o viandante portou-se como um aquista, deambulou pelas margens do Vouga, repimpou-se na biblioteca do Palace e andou de câmara na mão à procura dos seus regalos.
Ficará para outra oportunidade visitar Manhouce, subir às alturas para contemplar as serras de Montemuro, Estrela e Caramulo e até pôr os pés em Viseu e Lamego, são museus inescapáveis, há para ali arte sacra do melhor, desta vez era a satisfação de uma lembrança por causa dos bilhetes postais que o viandante recebera na Guiné, nestas termas, enquanto procurava aliviar os tormentos das artroses, escrevera-lhe bilhetes postais com votos de boa saúde e que regressasse bem para reiniciar a sua vida, escrevia como se estivesse a fazer promessas e o viandante veio aqui recordar a gratidão que deve a tais lembranças.
Um abraço do
Mário
De Estremoz para as termas de S. Pedro do Sul (4)
Beja Santos
As termas de S. Pedro do Sul são o termo da viagem. Uns vieram à busca de tratamento para os seus males respiratórios, o viandante vem à procura de lembranças, como explica. Durante aqueles anos em que andou a fazer guerra pela Guiné, a sua mãe meteu-se ao caminho e veio aqui fazer cura balnear para os seus joelhos carregados de artroses. Enviou-lhe em agosto de 1968, setembro de 1969 e junho de 1970 postais marcados pela esperança no alívio do seu sofrimento, que tudo estava a correr bem na companhia do neto mais velho, que se banhava nas águas do Vouga, e que estava cheia de saudades do filho, rezava permanentemente para que nada de mal lhe acontecesse. O viandante guardou esses postais e aqui está à cata de lembranças. Resta dizer que se sair de Monsanto e se andou por quilómetros de terra calcinada, paisagens lunares, o grotesco de alturas destemidas e granitos furibundos contrastando com solos enegrecidos, ainda será pior no regresso quando o viandante regressar sozinho de autocarro, logo Vouzela e Oliveira de Frades pareciam ter levado com uma bomba de neutrões em cima, eram florestas derribadas, aquele violento contraste entre o casario de pé rodeado dos vestígios do fogo adormecido. Pois bem, chegou-se às termas, olhou-se especado para este Titanic em terra e o viandante disse com fé: daqui não saio, é só ler e passear aqui à volta, daqui não saio, daqui ninguém me tira.
O escritor Alain Robbe-Grillet escreveu o argumento do filme “O Último Ano em Marienbad” de Alain Resnais, e o viandante nunca esqueceu aquele ambiente alucinante com misturas de tempo incríveis; também guarda lembranças do sanatório em que decorre uma das obras-primas de Thomas Mann, “A Montanha Mágica”, os temas bailam pela cabeça do viandante. Começa a itinerância passeando-se pelo Inatel Palace Hotel, o gigante data do início da década de 1930, conheceu maus momentos e teve que ser remodelado anos depois de aqui terem vivido famílias de retornados. Nos anos 1990 foi alvo de obras e aqui está, sumptuoso e confortável. O viandante anda à volta e procura dimensionar o que a região das termas oferece.
O ciclópico hotel tem quartos para todas as dimensões e bolsas, vai da suíte ao turístico, é acolhedor na sala de jantar e no bar, oferece biblioteca e um conjunto de jogos, tem piscina, solário e jardins. S. Pedro do Sul está a escassos quilómetros, tem a fama o Vale de Lafões e a Serra de S. Macário de onde se avistam as serras de Montemuro, Estrela e Caramulo, pormenores que nesta viagem não provocam qualquer aliciante ao viandante, veio para bisbilhotar, matar a curiosidade, cheirar águas sulfurosas, ouvir conversas dos termalistas, captar pormenores, anda atento aos elementos Arte Deco, são discretos, leves e muito bem enquadrados.
Quem desenhou a traça deste hotel ciclópico sabia da poda, rasgou corretamente os pontos de luz, estabeleceu para esses espaços comunitários uma boa relação na escala, desenhou bons truques, lambris, sugeriu dimensões palacianas para o restaurante e adjacências, os aquistas podem aqui entrar alquebrados mas rendem-se à majestade do lugar.
Quando o viandante foi pagar a primeira refeição teve a agradável surpresa de ver uma rutilante aguarela de Sofia Areal, artista que muito aprecia, vejam como assenta como uma luva, ainda bem que convocam as belas-artes para estes espaços.
No chamado período laboral, ruído não falta à volta desta região termal, andam a fazer obras em frente do hotel, são as ruínas romanas e uma igreja porventura medieval que são alvo dos trabalhos. Porque o local é antigo, a nascente de água termal de S. Pedro do Sul é explorada desde o século I da nossa era. Os romanos construíram um balneário (o que dele resta é hoje monumento nacional), sobre cujas ruínas D. Afonso Henriques mandou edificar um novo balneário. Passeia-se pelas ruas e sentem-se os odores das águas sulfúricas, o viandante descansou, passeou, teceu planos para próximas viagens, daquilo que tem em agenda irá em breve à Provença, mais tarde aos Pirenéus franceses, recebeu um convite para passar uns dias entre Haia e Roterdão com o inevitável regresso a Bruxelas e depois uns dias não muito longe de Oxford. Se Deus nosso Senhor lhe der vida e saúde, 2018 será sulcado por passeios europeus, ficará para mais tarde outros passeios mais alentados.
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Nota do editor
Poste anterior de 5 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18606: Os nossos seres, saberes e lazeres (265): De Estremoz para as Termas de S. Pedro do Sul (3) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 10 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18621: Os nossos seres, saberes e lazeres (266): VI Encontro de Teatro Sénior, de 11 a 13 de Maio de 2018, na Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, em Almada (António José Pereira da Costa)
Queridos amigos,
O fito para termo da viagem era mesmo estacionar nas termas de S. Pedro do Sul, o que havia a farejar era no mundo termal, o viandante portou-se como um aquista, deambulou pelas margens do Vouga, repimpou-se na biblioteca do Palace e andou de câmara na mão à procura dos seus regalos.
Ficará para outra oportunidade visitar Manhouce, subir às alturas para contemplar as serras de Montemuro, Estrela e Caramulo e até pôr os pés em Viseu e Lamego, são museus inescapáveis, há para ali arte sacra do melhor, desta vez era a satisfação de uma lembrança por causa dos bilhetes postais que o viandante recebera na Guiné, nestas termas, enquanto procurava aliviar os tormentos das artroses, escrevera-lhe bilhetes postais com votos de boa saúde e que regressasse bem para reiniciar a sua vida, escrevia como se estivesse a fazer promessas e o viandante veio aqui recordar a gratidão que deve a tais lembranças.
Um abraço do
Mário
De Estremoz para as termas de S. Pedro do Sul (4)
Beja Santos
As termas de S. Pedro do Sul são o termo da viagem. Uns vieram à busca de tratamento para os seus males respiratórios, o viandante vem à procura de lembranças, como explica. Durante aqueles anos em que andou a fazer guerra pela Guiné, a sua mãe meteu-se ao caminho e veio aqui fazer cura balnear para os seus joelhos carregados de artroses. Enviou-lhe em agosto de 1968, setembro de 1969 e junho de 1970 postais marcados pela esperança no alívio do seu sofrimento, que tudo estava a correr bem na companhia do neto mais velho, que se banhava nas águas do Vouga, e que estava cheia de saudades do filho, rezava permanentemente para que nada de mal lhe acontecesse. O viandante guardou esses postais e aqui está à cata de lembranças. Resta dizer que se sair de Monsanto e se andou por quilómetros de terra calcinada, paisagens lunares, o grotesco de alturas destemidas e granitos furibundos contrastando com solos enegrecidos, ainda será pior no regresso quando o viandante regressar sozinho de autocarro, logo Vouzela e Oliveira de Frades pareciam ter levado com uma bomba de neutrões em cima, eram florestas derribadas, aquele violento contraste entre o casario de pé rodeado dos vestígios do fogo adormecido. Pois bem, chegou-se às termas, olhou-se especado para este Titanic em terra e o viandante disse com fé: daqui não saio, é só ler e passear aqui à volta, daqui não saio, daqui ninguém me tira.
O escritor Alain Robbe-Grillet escreveu o argumento do filme “O Último Ano em Marienbad” de Alain Resnais, e o viandante nunca esqueceu aquele ambiente alucinante com misturas de tempo incríveis; também guarda lembranças do sanatório em que decorre uma das obras-primas de Thomas Mann, “A Montanha Mágica”, os temas bailam pela cabeça do viandante. Começa a itinerância passeando-se pelo Inatel Palace Hotel, o gigante data do início da década de 1930, conheceu maus momentos e teve que ser remodelado anos depois de aqui terem vivido famílias de retornados. Nos anos 1990 foi alvo de obras e aqui está, sumptuoso e confortável. O viandante anda à volta e procura dimensionar o que a região das termas oferece.
O ciclópico hotel tem quartos para todas as dimensões e bolsas, vai da suíte ao turístico, é acolhedor na sala de jantar e no bar, oferece biblioteca e um conjunto de jogos, tem piscina, solário e jardins. S. Pedro do Sul está a escassos quilómetros, tem a fama o Vale de Lafões e a Serra de S. Macário de onde se avistam as serras de Montemuro, Estrela e Caramulo, pormenores que nesta viagem não provocam qualquer aliciante ao viandante, veio para bisbilhotar, matar a curiosidade, cheirar águas sulfurosas, ouvir conversas dos termalistas, captar pormenores, anda atento aos elementos Arte Deco, são discretos, leves e muito bem enquadrados.
Quem desenhou a traça deste hotel ciclópico sabia da poda, rasgou corretamente os pontos de luz, estabeleceu para esses espaços comunitários uma boa relação na escala, desenhou bons truques, lambris, sugeriu dimensões palacianas para o restaurante e adjacências, os aquistas podem aqui entrar alquebrados mas rendem-se à majestade do lugar.
Quando o viandante foi pagar a primeira refeição teve a agradável surpresa de ver uma rutilante aguarela de Sofia Areal, artista que muito aprecia, vejam como assenta como uma luva, ainda bem que convocam as belas-artes para estes espaços.
No chamado período laboral, ruído não falta à volta desta região termal, andam a fazer obras em frente do hotel, são as ruínas romanas e uma igreja porventura medieval que são alvo dos trabalhos. Porque o local é antigo, a nascente de água termal de S. Pedro do Sul é explorada desde o século I da nossa era. Os romanos construíram um balneário (o que dele resta é hoje monumento nacional), sobre cujas ruínas D. Afonso Henriques mandou edificar um novo balneário. Passeia-se pelas ruas e sentem-se os odores das águas sulfúricas, o viandante descansou, passeou, teceu planos para próximas viagens, daquilo que tem em agenda irá em breve à Provença, mais tarde aos Pirenéus franceses, recebeu um convite para passar uns dias entre Haia e Roterdão com o inevitável regresso a Bruxelas e depois uns dias não muito longe de Oxford. Se Deus nosso Senhor lhe der vida e saúde, 2018 será sulcado por passeios europeus, ficará para mais tarde outros passeios mais alentados.
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Nota do editor
Poste anterior de 5 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18606: Os nossos seres, saberes e lazeres (265): De Estremoz para as Termas de S. Pedro do Sul (3) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 10 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18621: Os nossos seres, saberes e lazeres (266): VI Encontro de Teatro Sénior, de 11 a 13 de Maio de 2018, na Academia de Instrução e Recreio Familiar Almadense, em Almada (António José Pereira da Costa)
sexta-feira, 11 de maio de 2018
Guiné 61/74 - P18624: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (25): Monte Real, 5 de maio de 2018: o olhar do fotógrafo 'strelado' Miguel Pessoa - Parte II
O Carlos Alberto Cruz, ladeado pelo Carlos Vinhal, à direita, e pela Giselda Pessoa, à esquerda, e acompanhado da sua filha Ana Cristina. Depois de um grave problema de saúde, de internamento hospitalar de alguns dias e de uma lenta mas bem sucedida recuperação, foi um alegria vê-lo, a ele, à Irene, sua esposa e restante família em Monte Real, 5 de maio de 2018, no nosso XIII Encontro Nacional.
O nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro mais a esposa do Francisco Silva, Maria Elisabete, e a filha de ambos, Ana Cláudia, e os netinhos Sofia e Tiago.
O régulo da Tabanca da Maia, pois quem haveria de ser?!... J. Casimiro Carvalho, herói de Gadamael
O Juvenal Amado, mais o camarada Almiro Gonçalves e esposa Amélia Gonçalves, frequentadores da Tabanca do Centro.
O António Martins de Matos, o Mário Leitão e a Giselda Pessoa... Só podem estar a falar de aviões e de peripécias aéreas...
J
osé Saúde, Manuel Oliveira Pereira e outro camarada de costas que temos dificuldade em identificar
José Manuel Cunté, Manuel Joaquim, António Graça de Abreu e mais o nosso "periquito" António Joaquim Alves.
Mário Gaspar, Juvenal Amado e Almiro Gonçalves.
Os casais António João Sampaio e Maria Clara (Leça da Palmeira / Matosinhos ) e Virgínio Briote e Maria Irene (Lisboa)... O Virgílio, não é preciso recordá-lo, é o nosso coeditor jubilado, um histórico da Tabanca Grande...
Nas pontas Luís Paulino e Armando Pires... Ao meio, um outro camarada, o Urbano Oliveira, que pertenceu, tal como o Paulino, à CCaç 2726. Vem da Figueira da Foz e já o ano passado esteve no nosso XII Encontro Nacional.
Monte Real > XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande > 5 de maio de 2018 >
Fotos (e legendas): © Miguel Pessoa (2018). Todos os direitos reservados [Edição; Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
1. Mesmo combalido, na sequência de um "acidente doméstico", o nosso Miguel Pessoa não quis deixar de vir a Monte Real, e fazer a sua cobertura fotográfica do evento...
Obrigado, Miguel, pelas 52 fotos que nos mandaste. Aqui vai uma segunda seleção. Todos os amigos e camaradas da Guiné te desejam rápidas melhoras. E vê se finalmente consegues dormir na tua cama!...
Acrescentei as legendas possíveis a partir de Cáceres onde fui em "visita cultural"... O Carlos far-me-á o favor de as corrigir e/ou completar.
Uma saudação especial vai para o nosso veteranos Carlos Alberto Cruz e sua grande família que o ajudou a vir a (e a estar connosco em)Monte Real... Boa continuação, Carlos, da tua recuperação. (LG)
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Nota do editor:
Último poste da série > 8 de maio de 2018 > Guiné 61/74 - P18615: XIII Encontro Nacional da Tabanca Grande (24): Monte Real, 5 de maio de 2018: o olhar do fotógrafo 'strelado' Miguel Pessoa - Parte I
Guiné 61/74 - P18623: (Ex)citações (336): Guerra da Guiné: Paixão e Morte em Madina do Boé (Manuel Luís Lomba)
1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma,
1964/66) com data de 6 de Maio de 2018, trazendo-nos uma reflexão sobre a Paixão e Morte em Madina do Boé:
Guerra da Guiné: Paixão e Morte em Madina do Boé
Este escrito é motivado pelo P18585, um testemunho da Guerra da Guiné na primeira pessoa do T-General Pilav José Nico, que aqui invoco como resposta a uns “ historiadores e cientistas sociais”, que se têm feito notar pela pretensão de rescrever a nossa História, à revelia do seu curso e carácter - qual “produto tóxico”, susceptível de adulterar Os Lusíadas em “Os Expansíades”.
Meus caros:
Primeiro a gesta dos Descobrimentos e depois a saga da Expansão!
De onde vem esse vento? Compare-se a memória descritiva do cubano Óscar Oramas, embaixador e comissário de Fidel Castro junto do PAIGC, com a do então Capitão José Aparício, comandante da CCaç 1790, contidas nesse post e referidas aos mesmos factos acontecimentais e à tropa nomadizada em Madina do Boé.
A região do Boé foi também um dos “amores” da malta operacional do BCav 705, transferido de emergência para o Leste, em Maio de 1965, e calhou à CCav 704 assentar arraiais em Madina e Béli, comandada pelo então Capitão Fernando Ataíde.
Nove meses após essas operações, em Fevereiro de 1966, ia em trânsito de Bissau para Buruntuma no DO do correio, ao levantar voo em Béli o seu lado esquerdo foi cravejada de balas, os vinte e tal impactos sofridos inutilizaram-lhe o rádio, quase arrancaram o ombro e o braço ao seu furriel piloto, este começou a exclamar “maldição! maldição!”, seguiu-se-lhe o desmaio, comigo, ileso mas na maior das aflições, a tentar fazer um torniquete à abundância da hemorragia, a esbofeteá-lo para o manter consciente; e lá sobrevoamos a linha da fronteira e aterrámos em Buruntuma, quase por gravidade, as nossas fardas de caqui muito ensanguentados – a dele pela gravidade das suas feridas e a minha pelo sangue delas.
Três meses depois, a nossa CCav 704 foi rendida pela CCaç 1416, comandada pelo Capitão Mil.º Jorge Monteiro (que será condecorado com a Medalha de Prata de Valor Militar com Palma), com formação agronómica como Amílcar Cabral, o vencedor de Domingos Ramos, ex-furriel mil.º do Exército Português, um dos mais altos quadros do PAIGC, a desempenhar-se como comandante da Frente Leste, abatido no primeiro momento em que desencadeava um poderoso ataque a Madina do Boé, enquadrado por militares do exército regular cubano, já então responsáveis pelos 4 mortos e muitos feridos graves daquela Companhia.
(Fidel Castro foi o único líder mundial a investir militares do seu exército regular em solo português ultramarino, com a missão de matar soldados portugueses. Sem trazer à colação a sua directa prestação no desastre da descolonização de Angola, merece repúdio o facto de, recentemente, S. Ex.ª o PR e Supremo Comandante das nossas FA´s Marcelo Rebelo de Sousa ter movido mundos e fundos, para lhe ir apertar a mão e o reverenciar…).
Quem não se sente não é boa gente.
É sabido que a estratégia de correr a tiro a Europa da África começou a ser preconizada pelos americanos e impulsionada por Lenine, a partir de 1916, que foi o armamentismo e o expansionismo ideológico da União Soviética a patrociná-la, mas que Amílcar Cabral optara por tirocinar a estratégia e táctica para a sua Guerra da Guiné na Academia Militar de Pequim, terá bebido do próprio Mao-Tsé-Tung as lições para transformar a Guiné no “calcanhar de Aquiles” do Ultramar português e bebido do generalíssimo vietnamita Giap a escolha de Madina do Boé, para palco dos eventos decisivos à fundação da Nacionalidade bissau-guineense.
Considerado eufemisticamente como o “Algarve da Guiné”, no entanto sem mar mas com chuvas diluvianas, o Boé (Madina, Beli e Lugajole) tornara-se uma “paixão” na Guerra da Guiné, comum aos seus senhores, o General António de Spínola e o Secretário-geral Amílcar Cabral. Mas enquanto este operara na região (mas além fronteira), com pompa e circunstância e nas barbas da guarnição militar portuguesa, que não usou o direito à perseguição, por razões políticas, a transformação da guerrilha nas FARP, uma espécie de exército convencional, estacionava a sua “roulotte” numa das suas colinas – a colina Cabral – passava lá temporadas, premonitória das suas intenções de Comandante supremo, o Comandante supremo de Bissau operará a sua primeira desistência, com a operação da retirada da guarnição de soberania de Madina do Boé, saldada com 46 mortos dos seus militares, no confronto com o general natural – o rio Corubal.
Retirada da maior transcendência e significado político, porque concedeu ao PAIGC o único território “libertado” de facto, para palco da formalidade da proclamação unilateral da independência da Guiné; e como conquistou Madina do Boé e Béli sem o cerco nem o assalto das suas FARP, o PAIGC transferirá tal manobra para Guidaje, Guileje e Gadamael, abortada sobre Buruntuma.
O alto comandante Osvaldo Vieira, inspector das FARP, também ex-furriel miliciano do Exército Português, delfim e herdeiro político e testamental de Amílcar Cabral, primo direito de Nino Vieira, este a mais alta patente da luta militar do PAIGC, no rescaldo do golpe do assassínio de Amílcar Cabral, viu-se desterrado e acabará os seus dias em Madina do Boé, diz-se que fuzilado nas vésperas da crise dos três G´s (Guidaje, Guileje e Gadamael) à ordem dos seus pares do Conselho Superior de Luta, maioritariamente cabo-verdianos.
O General Spínola tirocinou a guerra na Frente Russa, sob a égide do General Paulus e do exército nazi, e Amílcar Cabral tirocinou-a na Academia Militar de Pequim, privando com Mao e com Giap; a diferenciação abissal entre o pensamento e planeamento militar de ambos na Guerra da Guiné decorrerá dessa contingência?
Amílcar Cabral esforçava-se para chegar a toda a Guiné; ao trocar o vencer pelo aguentar o General Spínola contrariou o mundo darwiniano: o mais fraco sobreviveu ao mais forte.
O abandono da soberania em Madina do Boé pelo General Spínola e a retirada de Guileje pelo Major Coutinho e Lima, serão efeito da mesma causa, não obstante escrutináveis como decisões ao arrepio da disciplina e da lógica militar.
Invoquemos a História:
Nas guerras Fernandinas, o adiantado-mor da Galiza, General Pêro Rodriguez Sarmiento, montou cerco ao castelo de Monção, na fronteira, com o fim de o fazer capitular pela fome. No seu desespero de causa, a alcaideza Deu-la-deu Martins mandou cozer a fornada do último cereal, atirou os pães aos sitiantes, também dele necessitados, a exclamar:
- “Tomai perros famintos! E mais vos darei, se o pedires!”. E ele viu-se forçado a levantar o cerco.
Em 1949, “Berlim ocidental” estava para a Europa livre, como Madina do Boé estaria para a “libertação” da Guiné. Os Aliados fizeram abortar o cerco montado pelo Exército Vermelho com uma ponte aérea, que durante um ano os abasteceu de tudo, sem descurar as flores de decoração, gosto tão cultivado pelas mulheres berlinenses.
Em 1999, no decurso do 50.º aniversário desse acontecimento, no aeroporto berlinense de Schonefield, colhi um poster de um avião DC 4 Skymaster, cheguei à fala com um dos seus veteranos pilotos, que me concedeu um autógrafo.
Circunstâncias especiais exigem homens especiais. E de Portugueses sempre os houve.
O post do T.-General José Nico evidencia que, em 1968-69, não obstante a sua mais evoluída estratégia e tácticas, o PAIGC estava a ser empurrado para as cordas da derrota – o momento psicológico desperdiçado para a resolução da Guerra da Guiné, sem vitórias nem derrotas e, sobretudo, sem o abandono. António Salazar, que era estadista, cai, derrotado pela cadeira do forte do Estoril e a cátedra da Universidade negara a clarividência a Marcelo Caetano, que era jurista. O ónus da criação das condições à eclosão da guerra ultramarina e de não lhe pôr termo em tempo útil recai sobre um e sobre o outro.
O PAIGC rearmou-se e ganhou fôlego, enquanto a cristalização da estratégia e tácticas militares criava anticorpos na comunidade castrense e a estagnação do governo de Lisboa faziam engordar as oposições, interna e externas, à guerra ultramarina.
Amílcar Cabral passara a frequentar Moscovo em vez de Pequim e, para reforçar a sua expansão ideológica, numa demonstração que as aviações não ganham as guerras, mas que as decidem, a União Soviética prometeu-lhe a construção de um aeródromo-base militar no Boé dotado de MIG´s, no contexto da sua estratégia, que esbarrará na oposição de Sekou Touré, por lição do assalto a Conacri, sob o argumento que se PAIGC detinha dois terços do território da sua Guiné, teria muito espaço para essa base.
Se os generalíssimos Mao e Giap foram boas companhias, Sekou Touré foi uma má companhia de Amílcar Cabral, eventual portadora da sua desgraça pessoal; o facto de a Guiné-Bissau ter virado em destroço da descolonização será o preço a pagar pelo seu erro de ter preferido, para a sua empresa da libertação, o déspota e sanguinário guinéu ao senegalês Leopold Shengor, culto, democrata e humanista. Amílcar Cabral vivia em contacto tanto com as evidências anti-humanas do colonialismo de Portugal como com as do “socialismo real”, imposto e vigorante na China, Cuba, União Soviética, Europa do Leste, Guiné-Conacri, etc.
Poderá ser entendido como futilidade, mas a história e a evolução da Guiné-Bissau seriam certamente diferentes.
Esse post também evidencia a visão míope da Guerra da Guiné, por parte da liderança do governo de Lisboa.
Por investigação publicada pelo tabanqueiro José Matos, sabemos que o Secretário de Estado da Aeronáutica da altura relatou e instou o governo a dotar as FA de aviões e da panóplia de misseis e antimísseis, já objecto de estudo especializado, compatíveis com o arsenal da parceria da União Soviética com o PAIGC, que tardará 5 anos a fazê-lo, apenas em 1974, “já Inês estava morta”. E não foi por falta de oferta nem de dinheiro - que tudo é capaz de comprar -, como se viu, pela disponibilidade da França, Alemanha, África do Sul e Israel. Não estávamos endividados, o Banco de Portugal possuía quase 1000 toneladas de reservas de ouro, e constituíra uma reserva de 12 meses de divisas de cobertura às importações, garantidas pelo suor e o patriotismo dos portugueses na diáspora.
Pela falta de capacidade, de raio de acção e de letalidade da aviação de Bissalanca, o êxito da acção sobre Conacri resultou parcial e, em 1973, a mesma aviação que impediu ao PAIGC a formalidade da declaração unilateral da independência em Guileje, não tinha capacidade para a impedir no Boé.
Por ironia em que o destino é fértil, será a ameaça desses MIG´s nos céus de Bissau, invisíveis porque não existiam, a precipitar o golpe militar do 25A74…
Que os mortos combatentes dos dois campos da Guerra da Guiné descansem em paz, que os sobrevivos estejam descansados e com a melhor saúde e que o encontro de Monte Real tenha alimentado o corpo e robustecido a alma da sua malta grisalha.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 5 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18488: (Ex)citações (335): a crítica "agridoce" de Mário Beja Santos ao meu livro "Guiné-Bolama, história e memórias" (Fernando Tabanez Ribeiro)
Guerra da Guiné: Paixão e Morte em Madina do Boé
Este escrito é motivado pelo P18585, um testemunho da Guerra da Guiné na primeira pessoa do T-General Pilav José Nico, que aqui invoco como resposta a uns “ historiadores e cientistas sociais”, que se têm feito notar pela pretensão de rescrever a nossa História, à revelia do seu curso e carácter - qual “produto tóxico”, susceptível de adulterar Os Lusíadas em “Os Expansíades”.
Meus caros:
Primeiro a gesta dos Descobrimentos e depois a saga da Expansão!
De onde vem esse vento? Compare-se a memória descritiva do cubano Óscar Oramas, embaixador e comissário de Fidel Castro junto do PAIGC, com a do então Capitão José Aparício, comandante da CCaç 1790, contidas nesse post e referidas aos mesmos factos acontecimentais e à tropa nomadizada em Madina do Boé.
A região do Boé foi também um dos “amores” da malta operacional do BCav 705, transferido de emergência para o Leste, em Maio de 1965, e calhou à CCav 704 assentar arraiais em Madina e Béli, comandada pelo então Capitão Fernando Ataíde.
Nove meses após essas operações, em Fevereiro de 1966, ia em trânsito de Bissau para Buruntuma no DO do correio, ao levantar voo em Béli o seu lado esquerdo foi cravejada de balas, os vinte e tal impactos sofridos inutilizaram-lhe o rádio, quase arrancaram o ombro e o braço ao seu furriel piloto, este começou a exclamar “maldição! maldição!”, seguiu-se-lhe o desmaio, comigo, ileso mas na maior das aflições, a tentar fazer um torniquete à abundância da hemorragia, a esbofeteá-lo para o manter consciente; e lá sobrevoamos a linha da fronteira e aterrámos em Buruntuma, quase por gravidade, as nossas fardas de caqui muito ensanguentados – a dele pela gravidade das suas feridas e a minha pelo sangue delas.
Três meses depois, a nossa CCav 704 foi rendida pela CCaç 1416, comandada pelo Capitão Mil.º Jorge Monteiro (que será condecorado com a Medalha de Prata de Valor Militar com Palma), com formação agronómica como Amílcar Cabral, o vencedor de Domingos Ramos, ex-furriel mil.º do Exército Português, um dos mais altos quadros do PAIGC, a desempenhar-se como comandante da Frente Leste, abatido no primeiro momento em que desencadeava um poderoso ataque a Madina do Boé, enquadrado por militares do exército regular cubano, já então responsáveis pelos 4 mortos e muitos feridos graves daquela Companhia.
(Fidel Castro foi o único líder mundial a investir militares do seu exército regular em solo português ultramarino, com a missão de matar soldados portugueses. Sem trazer à colação a sua directa prestação no desastre da descolonização de Angola, merece repúdio o facto de, recentemente, S. Ex.ª o PR e Supremo Comandante das nossas FA´s Marcelo Rebelo de Sousa ter movido mundos e fundos, para lhe ir apertar a mão e o reverenciar…).
Quem não se sente não é boa gente.
É sabido que a estratégia de correr a tiro a Europa da África começou a ser preconizada pelos americanos e impulsionada por Lenine, a partir de 1916, que foi o armamentismo e o expansionismo ideológico da União Soviética a patrociná-la, mas que Amílcar Cabral optara por tirocinar a estratégia e táctica para a sua Guerra da Guiné na Academia Militar de Pequim, terá bebido do próprio Mao-Tsé-Tung as lições para transformar a Guiné no “calcanhar de Aquiles” do Ultramar português e bebido do generalíssimo vietnamita Giap a escolha de Madina do Boé, para palco dos eventos decisivos à fundação da Nacionalidade bissau-guineense.
Considerado eufemisticamente como o “Algarve da Guiné”, no entanto sem mar mas com chuvas diluvianas, o Boé (Madina, Beli e Lugajole) tornara-se uma “paixão” na Guerra da Guiné, comum aos seus senhores, o General António de Spínola e o Secretário-geral Amílcar Cabral. Mas enquanto este operara na região (mas além fronteira), com pompa e circunstância e nas barbas da guarnição militar portuguesa, que não usou o direito à perseguição, por razões políticas, a transformação da guerrilha nas FARP, uma espécie de exército convencional, estacionava a sua “roulotte” numa das suas colinas – a colina Cabral – passava lá temporadas, premonitória das suas intenções de Comandante supremo, o Comandante supremo de Bissau operará a sua primeira desistência, com a operação da retirada da guarnição de soberania de Madina do Boé, saldada com 46 mortos dos seus militares, no confronto com o general natural – o rio Corubal.
Retirada da maior transcendência e significado político, porque concedeu ao PAIGC o único território “libertado” de facto, para palco da formalidade da proclamação unilateral da independência da Guiné; e como conquistou Madina do Boé e Béli sem o cerco nem o assalto das suas FARP, o PAIGC transferirá tal manobra para Guidaje, Guileje e Gadamael, abortada sobre Buruntuma.
O alto comandante Osvaldo Vieira, inspector das FARP, também ex-furriel miliciano do Exército Português, delfim e herdeiro político e testamental de Amílcar Cabral, primo direito de Nino Vieira, este a mais alta patente da luta militar do PAIGC, no rescaldo do golpe do assassínio de Amílcar Cabral, viu-se desterrado e acabará os seus dias em Madina do Boé, diz-se que fuzilado nas vésperas da crise dos três G´s (Guidaje, Guileje e Gadamael) à ordem dos seus pares do Conselho Superior de Luta, maioritariamente cabo-verdianos.
O General Spínola tirocinou a guerra na Frente Russa, sob a égide do General Paulus e do exército nazi, e Amílcar Cabral tirocinou-a na Academia Militar de Pequim, privando com Mao e com Giap; a diferenciação abissal entre o pensamento e planeamento militar de ambos na Guerra da Guiné decorrerá dessa contingência?
Amílcar Cabral esforçava-se para chegar a toda a Guiné; ao trocar o vencer pelo aguentar o General Spínola contrariou o mundo darwiniano: o mais fraco sobreviveu ao mais forte.
O abandono da soberania em Madina do Boé pelo General Spínola e a retirada de Guileje pelo Major Coutinho e Lima, serão efeito da mesma causa, não obstante escrutináveis como decisões ao arrepio da disciplina e da lógica militar.
Invoquemos a História:
Nas guerras Fernandinas, o adiantado-mor da Galiza, General Pêro Rodriguez Sarmiento, montou cerco ao castelo de Monção, na fronteira, com o fim de o fazer capitular pela fome. No seu desespero de causa, a alcaideza Deu-la-deu Martins mandou cozer a fornada do último cereal, atirou os pães aos sitiantes, também dele necessitados, a exclamar:
- “Tomai perros famintos! E mais vos darei, se o pedires!”. E ele viu-se forçado a levantar o cerco.
Em 1949, “Berlim ocidental” estava para a Europa livre, como Madina do Boé estaria para a “libertação” da Guiné. Os Aliados fizeram abortar o cerco montado pelo Exército Vermelho com uma ponte aérea, que durante um ano os abasteceu de tudo, sem descurar as flores de decoração, gosto tão cultivado pelas mulheres berlinenses.
Em 1999, no decurso do 50.º aniversário desse acontecimento, no aeroporto berlinense de Schonefield, colhi um poster de um avião DC 4 Skymaster, cheguei à fala com um dos seus veteranos pilotos, que me concedeu um autógrafo.
Circunstâncias especiais exigem homens especiais. E de Portugueses sempre os houve.
O post do T.-General José Nico evidencia que, em 1968-69, não obstante a sua mais evoluída estratégia e tácticas, o PAIGC estava a ser empurrado para as cordas da derrota – o momento psicológico desperdiçado para a resolução da Guerra da Guiné, sem vitórias nem derrotas e, sobretudo, sem o abandono. António Salazar, que era estadista, cai, derrotado pela cadeira do forte do Estoril e a cátedra da Universidade negara a clarividência a Marcelo Caetano, que era jurista. O ónus da criação das condições à eclosão da guerra ultramarina e de não lhe pôr termo em tempo útil recai sobre um e sobre o outro.
O PAIGC rearmou-se e ganhou fôlego, enquanto a cristalização da estratégia e tácticas militares criava anticorpos na comunidade castrense e a estagnação do governo de Lisboa faziam engordar as oposições, interna e externas, à guerra ultramarina.
Amílcar Cabral passara a frequentar Moscovo em vez de Pequim e, para reforçar a sua expansão ideológica, numa demonstração que as aviações não ganham as guerras, mas que as decidem, a União Soviética prometeu-lhe a construção de um aeródromo-base militar no Boé dotado de MIG´s, no contexto da sua estratégia, que esbarrará na oposição de Sekou Touré, por lição do assalto a Conacri, sob o argumento que se PAIGC detinha dois terços do território da sua Guiné, teria muito espaço para essa base.
Se os generalíssimos Mao e Giap foram boas companhias, Sekou Touré foi uma má companhia de Amílcar Cabral, eventual portadora da sua desgraça pessoal; o facto de a Guiné-Bissau ter virado em destroço da descolonização será o preço a pagar pelo seu erro de ter preferido, para a sua empresa da libertação, o déspota e sanguinário guinéu ao senegalês Leopold Shengor, culto, democrata e humanista. Amílcar Cabral vivia em contacto tanto com as evidências anti-humanas do colonialismo de Portugal como com as do “socialismo real”, imposto e vigorante na China, Cuba, União Soviética, Europa do Leste, Guiné-Conacri, etc.
Poderá ser entendido como futilidade, mas a história e a evolução da Guiné-Bissau seriam certamente diferentes.
Esse post também evidencia a visão míope da Guerra da Guiné, por parte da liderança do governo de Lisboa.
Por investigação publicada pelo tabanqueiro José Matos, sabemos que o Secretário de Estado da Aeronáutica da altura relatou e instou o governo a dotar as FA de aviões e da panóplia de misseis e antimísseis, já objecto de estudo especializado, compatíveis com o arsenal da parceria da União Soviética com o PAIGC, que tardará 5 anos a fazê-lo, apenas em 1974, “já Inês estava morta”. E não foi por falta de oferta nem de dinheiro - que tudo é capaz de comprar -, como se viu, pela disponibilidade da França, Alemanha, África do Sul e Israel. Não estávamos endividados, o Banco de Portugal possuía quase 1000 toneladas de reservas de ouro, e constituíra uma reserva de 12 meses de divisas de cobertura às importações, garantidas pelo suor e o patriotismo dos portugueses na diáspora.
Pela falta de capacidade, de raio de acção e de letalidade da aviação de Bissalanca, o êxito da acção sobre Conacri resultou parcial e, em 1973, a mesma aviação que impediu ao PAIGC a formalidade da declaração unilateral da independência em Guileje, não tinha capacidade para a impedir no Boé.
Por ironia em que o destino é fértil, será a ameaça desses MIG´s nos céus de Bissau, invisíveis porque não existiam, a precipitar o golpe militar do 25A74…
Que os mortos combatentes dos dois campos da Guerra da Guiné descansem em paz, que os sobrevivos estejam descansados e com a melhor saúde e que o encontro de Monte Real tenha alimentado o corpo e robustecido a alma da sua malta grisalha.
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Nota do editor
Último poste da série de 5 de abril de 2018 > Guiné 61/74 - P18488: (Ex)citações (335): a crítica "agridoce" de Mário Beja Santos ao meu livro "Guiné-Bolama, história e memórias" (Fernando Tabanez Ribeiro)
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