Bandeiras de Angola & Portugal. Imagem: Foto Arte. Cortesia de Angop (2014)
A galeria dos meus heróis > Servir duas vezes a pátria, ontem Portugal, hoje Angola...
por Luís Graça
1. Ilha de Luanda, Clínica X. 23/7/2013. Levanto-me às cinco e meia da manhã. É dia ou quase dia. Às seis em ponto, o motorista de ambulâncias da clínica já está pronto para me levar ao aeroporto, de regresso a Lisboa. É o meu motorista habitual, quando aqui venho, à ilha de Luanda em serviço... É o meu motorista das partidas.
Já o conheço há uns anos... E costumo trazer-lhe uma garrafa de vinho tinto português, comprada no "freeshop" do aeroporto de Lisboa. Voltarei a encontrá-lo para a próxima semana. Sábado, venho de novo a Luanda, para dar formação, desta vez, a futuros médicos do trabalho. É a 1ª edição do curso de medicina do trabalho em Angola.
O meu motorista, o C... [, não o quero identificar, nem a ele nem à empresa onde trabalha, já que não lhe pedi autorização expressa para contar a sua história de vida,] "estava de férias", mas levantou-se para me conduzir, a tempo e horas, até ao aeroporto de Luanda.
Há um outro motorista, mais jovem, mas mora longe. Sair de casa a essa hora é arriscado, devido à insegurança nos musseques. Mesmo assim, na Clínica, há gente (incluindo médicos) que sai de casa às 4h da manhã para vir trabalhar!...A vida é dura para os luandenses que precisam de trabalhar.
Esse outro motorista, mais jovem, que costuma ir buscar.me ao aeroporto, à noite, não é tão fiável: um dia, ficou à minha espera, à noite, devia estar cansado, adormeceu na viatura, o avião atrasou-se... Enfim, deixou-me completamente "pendurado", sem transporte nem telemóvel: foi uma pequena aventura, chegar, à Clínica, às 11 h da noite, com um jovem "taxista" de ocasião, numa viatura, sem portas, completamente "descaracterizada" e "canibalizada", com o tabliê esventrado...
Foi, seguramente, a viagem de "táxi" mais surrealista da minha vida: custou-me 40 euros, todo o dinheiro trocado que tinha no bolso, nem sequer tinha cuanzas ou dólares para pagar ao mais jovial, simpático e prestável "taxista da candonga", a quem confiei a minha bolsa e talvez até a minha vida.
Fomos todo o caminho a conversar sobre tropa, médicos e militares... Ele fizera tropa mas já não fora à guerra... Puxei dos meus galões, e falei-lhe de alguns nomes de gente da "nomencltura" que me gabava de conhecer... Acabou por ser uma relação empática e lá cheguei ao destino sem mais problemas.
2. Mas voltando ao C... É um homem afável, de 59 anos, mestiço, do Kuanza Sul (, salvo erro), província a sul, a cerca de 300 km de Luanda... Pelas minhas contas deve ter nascido em 1953/54.
É preciso atravessar Luanda, de uma ponta à outra, até chegar ao aeroporto... Nas horas de ponta, pode ser um inferno. Daí ter que me levantar às 6 da manhã... para estar com uma certa margem de segurança, a tempo e horas, no aeroporto... É outra aventura, mesmo com "passaporte especial", até poder sentar-me no meu lugar do avião da TAP e poder, enfim, respirar fundo...
Além disso, levo comigo, dez mil dólares, em maços de notas, limite máximo legal... E o credo na boca: não é dinheiro meu, é da minha Escola, e vai servir para pagar viagens e ajudas de custo dos próximos formadores... Enfim, uma forma expedita, um desenrascanço, à portuguesa e à angolana, para contornar a morosidade burocrática da transferência de dinheiro entre os dois países...
O C... mora na ilha de Luanda, perto da Clínica aonde fui dar formação e onde ele trabalha, como motorista de ambulâncias... Trabalho que, diga-se de passagem, não é pêra doce: há uns largos anos atrás, talvez em finais da década de 1990, a sua ambulância foi metralhada num musseque dos arredores (, ele disse-me o nome, que não fixei), quando um "grupo de bandidos" (sic) tentava assaltar a casa de um "fulano ricaço" (sic)...
Quando os sul-africanos, os zairenses e outros invadem Angola, sua terra, as FAPLA, as Forças Armadas para a Libertação de Angola, convocam-no para as suas fileiras. Foi então 1º tenente de infantaria, comandando cerca de 70 homens (, se bem percebi). Participou em várias batalhas. E lá ficou na tropa e na guerra até à desmobilização, em finais de 1980, se não erro... Também se queixa, tal como nós, de o Estado angolano ter abandonado os seus antigos combatentes...
3. Pelo que percebi, também terá estado na província do Kuando Kubango (e, possivelmente, na batalha de Kuito Kuanavale, de trágica memória para todos os contendores de um lado e do outro, angolanos, cubanos, soviéticos, sul-africanos)...
Mas a cena mais dramática da guerra para o meu amigo C... não foram os bombardeamentos maçiços da artilharia, cavalaria e aviação dos sul-africanos no sul, foi sim uma emboscada às portas de Luanda (a cerca de 100 km, se bem percebi), a um coluna de várias viaturas guarnecidas po um grupo de combate que ele comandava, composto por cerca de 30 homens.
Segundo o depoimento do C..., nessa emboscada, as viaturas foram todas destruídas, as FAPLA tiveram cerca de 2/3 de baixas mortais, incluindo 7 cubanos e 12 angolanos... O C... , na altura tenente e comandante da força, nunca mais se esqueceria desse "dia pavoroso" (sic), em que viu, mais uma vez, a morte à sua frente.
Mas o nosso amigo C... diz que a emboscada ocorreu a c. de 100 km de Luanda, portanto às portas de Luanda, a nordeste da capital... Logo só poderia ser no âmbito da batalha de Kifandongo e não do Ebo (a mais de 300 km, a sudeste de Luanda)
Depois de desmobilizado, começou a trabalhar na Clínica quando esta reabriu em 1990/91. Ele já pertencia ao quadro de pessoal da Endiama (, herdeira da Diamang), proprietária da Clínica.
Lisboa, julho de 2013. Revisto.
2. Mas voltando ao C... É um homem afável, de 59 anos, mestiço, do Kuanza Sul (, salvo erro), província a sul, a cerca de 300 km de Luanda... Pelas minhas contas deve ter nascido em 1953/54.
É preciso atravessar Luanda, de uma ponta à outra, até chegar ao aeroporto... Nas horas de ponta, pode ser um inferno. Daí ter que me levantar às 6 da manhã... para estar com uma certa margem de segurança, a tempo e horas, no aeroporto... É outra aventura, mesmo com "passaporte especial", até poder sentar-me no meu lugar do avião da TAP e poder, enfim, respirar fundo...
Além disso, levo comigo, dez mil dólares, em maços de notas, limite máximo legal... E o credo na boca: não é dinheiro meu, é da minha Escola, e vai servir para pagar viagens e ajudas de custo dos próximos formadores... Enfim, uma forma expedita, um desenrascanço, à portuguesa e à angolana, para contornar a morosidade burocrática da transferência de dinheiro entre os dois países...
O C... mora na ilha de Luanda, perto da Clínica aonde fui dar formação e onde ele trabalha, como motorista de ambulâncias... Trabalho que, diga-se de passagem, não é pêra doce: há uns largos anos atrás, talvez em finais da década de 1990, a sua ambulância foi metralhada num musseque dos arredores (, ele disse-me o nome, que não fixei), quando um "grupo de bandidos" (sic) tentava assaltar a casa de um "fulano ricaço" (sic)...
Os "bandidos, que não sabiam ler" (sic), confundiram o "tinonim" da ambulância com o carro da polícia... Houve feridos graves, baleados dentro da ambulância; mas, mesmo com os pneus todos furados, e o assento do motorista todo crivado de balas, o meu amigo C... lá conseguiu safar-se, são e salvo... Revelou grande sangue frio e coragem, dois atributos essenciais para se poder sobreviver numa cidade como Luanda de 5 ou 6 milhões de habitantes onde só uma escassa elite privilegiada tem vida segura e decente.
Esse sangue frio e coragem vêm-lhe do tempo da guerra. É um duplo ex-combatente. Tem muitas histórias para (e por) contar. Rapidamente criei com ele um laço de cumplicidade e uma grande empatia. Nada como dois ex-combatentes encontrarem-se.... Fez a guerra colonial, do lado português, com "muita honra" (sic), creio que por volta de 1972/74 (*) ou até talvez 1973/75 (, já não posso precisar). Era furriel miliciano. Serviu "a sua pátria de então" (sic).
Esse sangue frio e coragem vêm-lhe do tempo da guerra. É um duplo ex-combatente. Tem muitas histórias para (e por) contar. Rapidamente criei com ele um laço de cumplicidade e uma grande empatia. Nada como dois ex-combatentes encontrarem-se.... Fez a guerra colonial, do lado português, com "muita honra" (sic), creio que por volta de 1972/74 (*) ou até talvez 1973/75 (, já não posso precisar). Era furriel miliciano. Serviu "a sua pátria de então" (sic).
Angola > Posição relativa da privíncia de Kuando Kubango, Adapt. de Wikipedia. |
3. Pelo que percebi, também terá estado na província do Kuando Kubango (e, possivelmente, na batalha de Kuito Kuanavale, de trágica memória para todos os contendores de um lado e do outro, angolanos, cubanos, soviéticos, sul-africanos)...
Mas a cena mais dramática da guerra para o meu amigo C... não foram os bombardeamentos maçiços da artilharia, cavalaria e aviação dos sul-africanos no sul, foi sim uma emboscada às portas de Luanda (a cerca de 100 km, se bem percebi), a um coluna de várias viaturas guarnecidas po um grupo de combate que ele comandava, composto por cerca de 30 homens.
Tenho dúvidas se foi na altura da batalha de Kifangondo [, em 10/11/1975], às portas de Luanda ou se foi no âmbito da batalha do Ebo... Em qualquer dos casos, o desfecho destas duas batalhas foi fundamental para reforçar a posição do MPLA.
Pela descrição da batalho do Ebo (no portal cubano EcuRed, que não pode todavia ser considerado uma fonte independente), inclino-me mais para a primeira hipótese, a da emboscada em que caiu a coluna comandada por C..., ter ocorrido no âmbito da batalha de Kifangondo, a escassa centena de quilómetros de Luanda, a nordeste.
Nessa altura as forças que apoiavam a FNLA já tinham tomado o Caxito, estando às portas de Luanda. Eram constituídas pelos comandos de Santos e Castro, por forças do exército regular do Zaire, e por uma unidade de artilharia dos sul-africanos mais um grupo de mercenários.
Sobre batalha de Kifangondo (em 10 de novembro de 1975), vd. aqui o depoimento do general António França 'Ndalu' (chefe do Estado-Maior da 9ª Brigada, uma unidade das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, criada uns meses antes para "defender Luanda das investidas do inimigo contra a capital, nos dias que antecederam a Independência no dia 11 de Novembro de 1975"].
Nessa altura as forças que apoiavam a FNLA já tinham tomado o Caxito, estando às portas de Luanda. Eram constituídas pelos comandos de Santos e Castro, por forças do exército regular do Zaire, e por uma unidade de artilharia dos sul-africanos mais um grupo de mercenários.
Sobre batalha de Kifangondo (em 10 de novembro de 1975), vd. aqui o depoimento do general António França 'Ndalu' (chefe do Estado-Maior da 9ª Brigada, uma unidade das Forças Armadas Populares de Libertação de Angola, criada uns meses antes para "defender Luanda das investidas do inimigo contra a capital, nos dias que antecederam a Independência no dia 11 de Novembro de 1975"].
Já agora leia-se, com atenção, também o seguinte comentário de um anónimo:
"O que o General António dos Santos França, na altura Comandante N´Dalu, não mencionou, talvez por não lhe ter sido perguntado, foi a constituição da 9ª Brigada . Estavam incluídos nela os melhores guerrilheiros das então FAPLA, e principalmente militares angolanos desmobilizados das forças portuguesas, onde se incluiram também paraquedistas e comandos portugueses.
"O que o General António dos Santos França, na altura Comandante N´Dalu, não mencionou, talvez por não lhe ter sido perguntado, foi a constituição da 9ª Brigada . Estavam incluídos nela os melhores guerrilheiros das então FAPLA, e principalmente militares angolanos desmobilizados das forças portuguesas, onde se incluiram também paraquedistas e comandos portugueses.
Ouvi pessoalmente oficiais cubanos a elogiarem a preparação destes militares do contingente de Angola nas forças portugueses. Foi a 9ª Brigada e os cubanos quem destroçaram as forças da FNLA/Zairenses/sul-africanos a norte, e perseguiram os sul-africanos estacionados próximos de Porto Amboim até à fronteira, no Cunene.
Paradoxal e infelizmente, a maioria dos militares da 9ª Brigada foi fuzilada dois anos depois, nos acontecimentos do [27] de Maio [de 1977]".
É muito possível que o meu amigo C... seja um daqueles jovens, desmobilizados do exército português, que se ofereceu voluntário para a 9ª brigada... Mas tenho que admitir também a hipótese do meu amigo C... ter participado na batalha do Ebo onde morreria o comandante cubano Raul Díaz-Argüelles (1936-1975),em 11 de dezembro de 1975 (um mês depois da proclamação da independência de Angola).
É muito possível que o meu amigo C... seja um daqueles jovens, desmobilizados do exército português, que se ofereceu voluntário para a 9ª brigada... Mas tenho que admitir também a hipótese do meu amigo C... ter participado na batalha do Ebo onde morreria o comandante cubano Raul Díaz-Argüelles (1936-1975),em 11 de dezembro de 1975 (um mês depois da proclamação da independência de Angola).
Recorde-se que o Diaz-Argëlles também passou pelo TO da Guiné, em 1972, ao tempo da guerra colonial, tendo ajudado o PAIGC a planear a operação contra Guileje.
A batalha do Ebo, a sudeste de Luanda, que teria sido travada em 23 de novembro de 1975, a par da batalha de Kifangondo (a nordeste de Luanda), foi decisiva para suster o avanço das forças anti-MPLA que pretendiam impedir a proclamação da independência em Luanda pelo partido de Agostinho Neto.
É bom lembrar que, à revelia da potência colonizadora, Portugal, e do Acordo do Alvor (janeiro de 1975), cada um dos três movimentos nacionalistas proclamou a independência de Angola em sítios e datas diferentes: a FNLA no Uíge, a UNITA no Huambo e o MPLA em Luanda.
Angola > Província de Cuanza Sul. Fonte: Cortesia de Wikipedia |
A batalha do Ebo, a sudeste de Luanda, que teria sido travada em 23 de novembro de 1975, a par da batalha de Kifangondo (a nordeste de Luanda), foi decisiva para suster o avanço das forças anti-MPLA que pretendiam impedir a proclamação da independência em Luanda pelo partido de Agostinho Neto.
É bom lembrar que, à revelia da potência colonizadora, Portugal, e do Acordo do Alvor (janeiro de 1975), cada um dos três movimentos nacionalistas proclamou a independência de Angola em sítios e datas diferentes: a FNLA no Uíge, a UNITA no Huambo e o MPLA em Luanda.
Não tive oportunidade, no trajeto até ao aeroporto,
de esclarecer este e outros pormenores importantes da história... que me foi contada a título de confidência.
Ia com um ouvido atento à conversa com o motorista e um olho no vidro da janela do meu lado... Reconstitui a nossa conversa uns dias depois de chegar a Lisboa. E posso estar a ser traído pela memória. Mas confio na boa fé do meu amigo angolano.
Essa emboscada (ou ataque de artilharia ?) poderia ter sido quando as forças sul-africanas, que invadiram Angola, chegaram até ao sul do Ebo, na província do Kwanza Sul, ameaçando Luanda. Os angolanos e os cubanos destruiram as pontes e sustiveram o avanço dos invasores justamente no Ebo (município a 300 km de Luanda).
Essa emboscada (ou ataque de artilharia ?) poderia ter sido quando as forças sul-africanas, que invadiram Angola, chegaram até ao sul do Ebo, na província do Kwanza Sul, ameaçando Luanda. Os angolanos e os cubanos destruiram as pontes e sustiveram o avanço dos invasores justamente no Ebo (município a 300 km de Luanda).
Segundo o depoimento do C..., nessa emboscada, as viaturas foram todas destruídas, as FAPLA tiveram cerca de 2/3 de baixas mortais, incluindo 7 cubanos e 12 angolanos... O C... , na altura tenente e comandante da força, nunca mais se esqueceria desse "dia pavoroso" (sic), em que viu, mais uma vez, a morte à sua frente.
Mas o nosso amigo C... diz que a emboscada ocorreu a c. de 100 km de Luanda, portanto às portas de Luanda, a nordeste da capital... Logo só poderia ser no âmbito da batalha de Kifandongo e não do Ebo (a mais de 300 km, a sudeste de Luanda)
Depois de desmobilizado, começou a trabalhar na Clínica quando esta reabriu em 1990/91. Ele já pertencia ao quadro de pessoal da Endiama (, herdeira da Diamang), proprietária da Clínica.
Conversa puxa conversa, diz-me que "já não há bandidos na ilha de Luanda e no centro de Luanda" (sic). A polícia "limpou-os" (sic). A esta hora, 6 da manhã, há grupos de 3 e 4 brancos (presumivelmente estrangeiros, incluindo portugueses, a trabalhar em Luanda) que andam a fazer "jogging" na marginal.
As praias estão "limpas", contrariamente ao que se via há uns anos atrás... A zona agora é "turística" (sic), as barracas dos pescadores desapareceram... Enfim, a cidade mudou, "para melhor"... "Bandido é no musseque onde a polícia não entra" (sic).
As praias estão "limpas", contrariamente ao que se via há uns anos atrás... A zona agora é "turística" (sic), as barracas dos pescadores desapareceram... Enfim, a cidade mudou, "para melhor"... "Bandido é no musseque onde a polícia não entra" (sic).
Tinha-lhe prometido trazer uma garrafa de vinho de Lisboa. Deixei-lhe cuanzas para beber um copo à nossa saúde e à nossa condição de antigos combatentes, homens da mesma geração, nascidos sob a mesma bandeira, falando a mesma língua...
Percebo agora melhor porque é que os nossos amigos angolanos, são pessoas que vivem com tanta intensidade o dia que passa e manifestam publicamente a sua felicidade, através da comida, da bebida, do sexo, da música, da dança.
Percebo agora melhor porque é que os nossos amigos angolanos, são pessoas que vivem com tanta intensidade o dia que passa e manifestam publicamente a sua felicidade, através da comida, da bebida, do sexo, da música, da dança.
"Para ser feliz tem que ser aqui em Angola", diz um kudurista dos musseques de Luanda no filme angolano "I Love Kuduro", do realizador português Mário Patrocínio, (a cuja estreia, em Portugal, eu assisti, em novembro de 2013, no Cinema São Jorge, no âmbito do doclisboa'13)...
4. Confesso, por outro lado, a minha grande ignorância em relação à história e à geografia de Angola, apesar de lá ir já desde 2003...
Por exemplo, Kuando Kubango... É uma província situada no sudeste do país. Verifico que é limitada a norte pelas províncias do Bié e Moxico, a leste pela República da Zâmbia, a sul pela República da Namíbia e a oeste pelas províncias do Kunene (onde a guerrilha da SWAPO tinha bases e campos de refugiados) e Huíla. A capital da província é a cidade de Menongue e dista de Luanda mais de mil km e de Kuito menos de 350 km. Tem cerca de 140.000 habitantes e ocupa uma superfície duas vezes superior a Portugal...
É constituída pelos municípios de Kalai, Kuangar, Kuchi, Kuito Kuanavale, Dirico, Mavinga, Menongue, Nancova e Rivungo. O clima é tropical no norte da província e semi-árido no sul. Esta região de Angola é conhecida atualmente como "terras do progresso», devido ao seu grande potencial económico, praticamente por explorar.
Mas voltemos à guerra, à chamada segunda guerra da independência em que participou o nosso amigo C.... Durante muito tempo alguns municípios (como Mavinga, Dirico, Cuchi e Kuito Kuanavale) serviram como bases de apoio à guerrilha da UNITA, liderada por Jonas Savimbi, que só abandonou completamente estes territórios (a famigerada "Jamba") em finais de 2001, aquando da ofensiva das forças armadas angolanas.
É sabido que o Movimento do Galo Negro recebeu apoio dos EUA e da África do Sul, na luta contra contra o MPLA, que por sua vez era apoiado pela União Soviética e Cuba. Estávamos em plena guerra fria. Angola era uma peça importante no tabuleiro do xadrez da geopolítica mundial, sendo cobiçada pelas potências neocloniais pelas suas riquezas (, o petróleo, os diamantes) mas também era fundamental para a sobrevivência do regime de supremacia branca na África do Sul...
A batalha de Kuito Kuanavale terá sido o maior confronto militar da guerra civil angolana. Foi um batalha sangrenta e prolongada durante mais de 4 meses, entre 15 de novembro de 1987 e 23 de março de 1988.
Foi aqui , na província de Kuando Kubango , e mais concretamente no munícipio de Kuito Kuanavale, que as FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), apoiadas pelos cubanos e com armamento soviético, se confrontaram com a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), apoiada pelo exército sul-africano.
Foi considerada a batalha mais longa travada no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial.
Nesta batalha de Kuito Kuanavale, foi posto em cheque o mito, aos olhos dos angolanos, da invencibilidade do exército "racista" da África do Sul.
É constituída pelos municípios de Kalai, Kuangar, Kuchi, Kuito Kuanavale, Dirico, Mavinga, Menongue, Nancova e Rivungo. O clima é tropical no norte da província e semi-árido no sul. Esta região de Angola é conhecida atualmente como "terras do progresso», devido ao seu grande potencial económico, praticamente por explorar.
Mas voltemos à guerra, à chamada segunda guerra da independência em que participou o nosso amigo C.... Durante muito tempo alguns municípios (como Mavinga, Dirico, Cuchi e Kuito Kuanavale) serviram como bases de apoio à guerrilha da UNITA, liderada por Jonas Savimbi, que só abandonou completamente estes territórios (a famigerada "Jamba") em finais de 2001, aquando da ofensiva das forças armadas angolanas.
É sabido que o Movimento do Galo Negro recebeu apoio dos EUA e da África do Sul, na luta contra contra o MPLA, que por sua vez era apoiado pela União Soviética e Cuba. Estávamos em plena guerra fria. Angola era uma peça importante no tabuleiro do xadrez da geopolítica mundial, sendo cobiçada pelas potências neocloniais pelas suas riquezas (, o petróleo, os diamantes) mas também era fundamental para a sobrevivência do regime de supremacia branca na África do Sul...
A batalha de Kuito Kuanavale terá sido o maior confronto militar da guerra civil angolana. Foi um batalha sangrenta e prolongada durante mais de 4 meses, entre 15 de novembro de 1987 e 23 de março de 1988.
Foi aqui , na província de Kuando Kubango , e mais concretamente no munícipio de Kuito Kuanavale, que as FAPLA (Forças Armadas Populares de Libertação de Angola), apoiadas pelos cubanos e com armamento soviético, se confrontaram com a UNITA (União Nacional para a Independência Total de Angola), apoiada pelo exército sul-africano.
Foi considerada a batalha mais longa travada no continente africano desde a Segunda Guerra Mundial.
Nesta batalha de Kuito Kuanavale, foi posto em cheque o mito, aos olhos dos angolanos, da invencibilidade do exército "racista" da África do Sul.
Independentemente das duas partes terem clamado vitória, a África do Sul terá sido obrigada a reconhecer tacitamente a superioridade demonstrada pelas FAPLA (e seus aliados cubanos) no campo de batalha.
Isso explicará a posterior assinatura dos Acordos de Nova Iorque, ponto de partida para o fim de um conflito que afinal não era apenas uma guerra civil, nem um simples conflito regional.
Isso explicará a posterior assinatura dos Acordos de Nova Iorque, ponto de partida para o fim de um conflito que afinal não era apenas uma guerra civil, nem um simples conflito regional.
Como é sabido, a implementação da resolução 435/78 do Conselho de Segurança da ONU vai levar à independência da Namíbia e apressar o fim do regime de segregação racial, que vigorava na África do Sul.
Se eu ainda conseguir voltar a Angola em 2020, espero poder reencontrar e abraçar o meu amigo e camarada C..., agora com 65 ou 66 anos. E continuar a nossa conversa, à mesa, com um copo de tinto português. Ele é um dos bravos que passa a figurar na "Galeria dos Meus Heróis" (**).
Se eu ainda conseguir voltar a Angola em 2020, espero poder reencontrar e abraçar o meu amigo e camarada C..., agora com 65 ou 66 anos. E continuar a nossa conversa, à mesa, com um copo de tinto português. Ele é um dos bravos que passa a figurar na "Galeria dos Meus Heróis" (**).
Lisboa, julho de 2013. Revisto.
_________________
Notas do editor:
(*) Quem sabe, pode ter feito parte do BCAÇ 3880 ou até da CCAÇ 3534, do nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro...
(*) Quem sabe, pode ter feito parte do BCAÇ 3880 ou até da CCAÇ 3534, do nosso camarada Fernando de Sousa Ribeiro...
Vd. poste de 26 de agosto de 2019 > Guiné 61/74 - P20096: Dignidade e Ignomínia (Episódios do Meu Serviço Militar) (Fernando de Sousa Ribeiro, CCAÇ 3535, Angola, 1972/74) - Parte IV: O respeito pelos homens que comandei (pp. 33-42)
(**) Último poste da série > 16 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19894: A galeria dos meus heróis (31): Fatumata, a gazela furtiva de Sare Ganá (Luís Graça)
(**) Último poste da série > 16 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19894: A galeria dos meus heróis (31): Fatumata, a gazela furtiva de Sare Ganá (Luís Graça)