1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 4 de Fevereiro de 2022:
Queridos amigos,
A Casa-Museu Dr. Anastácio Gonçalves é uma das singularidades do colecionismo em arte, possui peças de reputação internacional ao nível da porcelana, valiosos espécimes de mobiliário e um acervo de indiscutível valor em pintura naturalista portuguesa, mas há muito mais que se oferece ao visitante, desde o jardim à edificação premiada com o prémio Valmor, medalhas, relógios, arte persa e turca, companhia das Índias, impossível ficar indiferente a um quadro quase miniatural de Columbano Bordalo Pinheiro, O Convite à Valsa. Visita a não perder, mais não seja para recordar o que já foi visto, seja qual for a estação do ano.
Um abraço do
Mário
Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (49):
O médico oftalmologista que ofereceu aos portugueses sublimes obras de arte
Mário Beja Santos
O seu nome oficial é Casa-Museu Anastácio Gonçalves, situa-se no início da Avenida 5 de outubro, a entrada agora é perto da Avenida Fontes Pereira de Melo, em Lisboa. Tudo começou quando o pintor José Malhoa encomendou ao arquiteto Norte Júnior a moradia para residência e atelier, isto em 1904, no ano seguinte a construção recebia o Prémio Valmor. Malhoa virá a desgostar-se de viver em Lisboa, transferiu-se para Figueiró dos Vinhos. Em 1932, o Dr. Anastácio Gonçalves (1888-1965), um reputado oftalmologista adquiriu a casa, a finalidade era poder reunir um importante espólio para deixar aos portugueses. Era também a sua residência, aqui vivia cercado por cerca de 2500 peças, destacando-se três coleções principais: pintura naturalista portuguesa; porcelana chinesa e mobiliário europeu do século XVII a XIX.
Como se vê na primeira imagem, Norte Júnior articulou elementos neorromânticos e de gosto Arte Nova, esta bem visível na aplicação de azulejos e no trabalho de ferro forjado no portão principal da casa. Os vitrais são de origem francesa, encomendados para a sala de jantar e para a salinha anexa ao atelier. Abriu ao público em 1980, conheceu obras de ampliação graças a uma moradia contígua, também traço de Norte Júnior. Tem conhecido obras de 1997 para cá, tem hoje nova entrada devido à alteração urbanística do quarteirão que tinha edifícios na Avenida Fontes Pereira de Melo e também na Avenida 5 de Outubro.
Anastácio Gonçalves era um colecionador requintado deixou um acervo de grande abrangência cronológica. A coleção de pintura foi-se organizando entre 1925 e 1965, é no fundamental uma coleção de pintura naturalista, embora haja alguma pintura europeia dos séculos XVII e XIX; há uma coleção de mobiliário português e europeu, com preferência por exemplares de meados e terceiro quartel do século XVIII; a porcelana chinesa é uma coleção de nome internacional, com 379 objetos adquiridos entre 1941 e 1965. Estes são os três núcleos principais, mas há também ourivesaria sacra, prataria, cerâmica europeia e oriental, como é o caso de um pequeno conjunto persa dos séculos XVII e XIX e faiança Iznik do século XVII, mas também moedas, medalhas, bronzes e marfins e também relógios de bolso.
A porcelana, por direito próprio, merece toda a atenção do visitante, há porcelana azul e branca, há decorações com flores em pratos, taças e garrafas datáveis do século XVI, coincide com o período do domínio comercial português nos mares do oriente. Há também peças do grupo de “família verde”, “família rosa” e “azul soprado”. Na atualidade, entra-se pela sala das porcelanas que já esteve posicionada à entrada da casa propriamente dita do colecionador. Tal como este, iremos sentir o fascínio pela raridade e qualidade das obras, há mesmo dois exemplares da Dinastia Song, século XII e um vastíssimo conjunto de porcelanas “azul e branco” dos séculos XVI e XVII. Deixe-se ofuscar pelos motivos florais, pela elegância das formas, pelas taças decoradas, pelas peças de corpo fino, pintado a azul-cobalto, pelas cenas marítimas e paisagens com rochedos, há ali exatamente um prato de cerca de 1600 com cenas deste género e uma taça com gamos e cercaduras de garças e lotos, de que só se conhecem duas peças em Portugal. E não se esqueça de ver a Garrafa do Peregrino, hoje classificada como tesouro nacional.
Os jarrões da “família verde”, tem uma paleta de tons que vão desde o pálido ao esmeralda vivo, vermelho-ferro, azul, amarelo, beringela e preto. Atenda-se à decoração com grande variedade de flores, plantas ou árvores floridas, por vezes borboletas e outros insetos, podem existir cenas ribeirinhas, representações figurativas e até batalhas com combatentes a cavalo.
(continua)
____________
Nota do editor
Último poste da série de 30 DE ABRIL DE 2022 > Guiné 61/74 - P23213: Os nossos seres, saberes e lazeres (502): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (48): A surpresa de uma pérola tropical ali ao pé do Palácio de Belém (Mário Beja Santos)