Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
sexta-feira, 12 de agosto de 2022
Guiné 61/74 - P23517: Notas de leitura (1474): "Histórias da C. CAÇ. 2533" - Os belos testemunhos da gentes da CCAÇ 2533 (2) (Mário Beja Santos)
1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 8 de Agosto de 2022:
Queridos amigos,
Mais vale tarde do que nunca, mesmo em edição de reprografia. Combateram e construíram bem-estar para a população, marcaram presença em Canjambari e noutras paragens. O Capitão Sidónio (hoje coronel) teve um papel fulcral na coesão, no sentido de ver que soube imprimir à sua unidade militar. Recebeu-se um quartel em estado de lástima, legou-se obra asseada, não se virou a cara aos corredores de infiltração, aceitou-se o trabalho dos reordenamentos. Transferidos para Farim, não desapareceu a aspereza operacional, há testemunhos a recordar o que era ir até à ponte de Lamel. Não esquecer a série de corredores de pontos de passagem regularmente utilizados pelo PAIGC entre o Senegal e o interior da Guiné. Agora, décadas depois, exulta-se com bom convívio as penas do passado. E o documentário fotográfico aqui fica, em substituição das palavras.
Um abraço do
Mário
Os belos testemunhos das gentes da CCAÇ 2533 (2)
Mário Beja Santos
A curiosidade desta obra é que não é uma história de uma unidade militar, trata-se de um punhado de testemunhos com uma boa articulação de imagens, é claramente trabalho de reprografia e o seu destinatário também não deixa ilusões, é todo aquele que andou a combater em Canjambari e na região de Farim entre 1969 e 1971, a malta da CCAÇ 2533. Testemunhos pessoais, umas vezes intensos, outras vezes eivados de humor ou de boas ou más recordações nas situações vividas. É o caso de José Tomás Costa que escapou por pouco a uma mina antipessoal:
“Em 17 de novembro de 1969, eu ia na frente do pelotão e pareceu-me ver uma tábua velha no chão da picada. Pensei dar-lhe um pontapé, mas fez-se luz no meu espírito e mandei parar o grupo. O Furriel Sousa, depois de analisar a situação, disse-me que se tivesse dado aquele pontapé teria dado no mínimo sem um pé. Tratava-se de uma mina antipessoal. Fiquei aliviado e agradeci a Deus. No dia seguinte, ao chegar ao quartel, recebi um telegrama com a notícia de que era pai de mais um rapaz”. O mesmo José Tomás Costa confessa que gostava de voltar a Canjambari, para percorrer alguns daqueles carreiros e bolanhas com paisagens de sonho, e desabafa: “Hoje, doente com problemas psicológicos cujas consequências sofrem a mulher e filhos, reconheço que tirei algum proveito da minha ida à tropa. Fui incorporado como analfabeto, fiz a instrução primária na tropa e isso foi muito bom para mim, pois como veem tenho muito gosto e orgulho em colaborar nesta escrita”.
Há quem recorde que alguém a seu lado puxou o gatilho e disparou a arma, podia ter sido grave, tudo operação de rotina a puxar a culatra da G3, há recordações de festas de aniversário, há quem nunca esqueceu o embarque para a Guiné naquele dia 24 de maio de 1969, e depois a viagem de Bissau para Farim e depois Canjambari, no meio do mato a cerca de 16 quilómetros a Sul de Jumbembem. Há também quem não esqueça que deu o corpo ao manifesto para construir ou reconstruir abrigos, trincheiras e vales. Havia quem tivesse sofrido de problemas do foro mental. E há também quem venha debitar que em Farim nem tudo era fácil, montar proteção às operações de campinagem na zona da ponte de Lamel tinha muitos riscos.
O Capitão Sidónio não transigia na disciplina mas embarcava numa boa brincadeira, como alguém conta a história da distribuição de isqueiros oferecidos pelo Movimento Nacional Feminino em 1970, alta madrugada por ali andava o corneteiro a acordar muita gente e o capitão, prestimoso, a entregar as ofertas contendo o riso.
Há igualmente quem não esqueça que andou perdido, não faltam histórias de abelhas e o Corredor de Lamel é motivo de várias histórias. O Furriel Tavares recorda a picagem da estrada numa coluna de reabastecimento, as viaturas vinham de Cuntima, Jumbembem e Canjambari até Farim. Minucioso trabalho a picar mas já com a ponte de Lamel à vista, acionou-se um fornilho com muito fogo do inimigo. E fala de atos de heroísmo. Há as memórias de um cabo-cantineiro e de um cabo-quarteleiro.
E chega-se à história do grupo que organizou este punhado de testemunhos. Quem depõe é o Furriel Nuno da Conceição. Alguém tinha que pôr em letra de forma o que se passara com a CCAÇ 2533 que andara por Farim, Nema, Jumbembem, Cuntima e Canjambari, entre maio de 1969 e março de 1971. Ele recorda que Canjambari tinha uma área mais ou menos equivalente a dois campos de futebol, ali viviam cento e sessenta e tal militares. Havia embaraço da escolha, recordações brejeiras, outras de caráter íntimo, não se encontrava com facilidade o fio condutor. Juntou-se um grupo com a missão de dar uma estrutura a todo o material que se pretendia coligir. E após jornada chegou-se ao almoço com o plano da obra: testemunhos, imagens alusivas, relação de todos aqueles que incorporaram a CCAÇ 2533 e o documentário fotográfico. E para que a História não esqueça, abre-se com o louvor dado pelo comandante-chefe em abril de 1971:
“Colocado inicialmente em Canjambari, realizou, a par da missão de contrapenetração num dos habituais corredores de infiltração do IN, uma intensa atividade operacional, alicerçada num elevado espírito de missão e numa firme vontade de bem servir”. Recordam-se várias operações onde inclusivamente houve captura de armamento e material. E adianta o louvor:
“A par da atividade operacional, remodelou totalmente as instalações militares de Canjambari e realizou ainda tarefa de muito mérito no âmbito da promoção social das populações, na construção de reordenamentos e organizações de terreno, tendentes à defesa dos mesmos”. Louvor pelo espírito de disciplina e de corpo, pelo elevado sentido de dever. Seguramente que o capitão Sidónio estava por detrás de tão elevado feito.
____________
Notas do editor:
Poste anterior de 8 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23506: Notas de leitura (1472): "Histórias da C. CAÇ. 2533" - Os belos testemunhos da gentes da CCAÇ 2533 (1) (Mário Beja Santos)
Último poste da série de 10 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)
quinta-feira, 11 de agosto de 2022
Guiné 61/74 - P23516: Humor de caserna (56): O anedotário da Spinolândia (VII): a outra alcunha do nosso general, Aponta,Bruno! (referência ao seu ajudante de campo, o então cap cav João Almeida Bruno, falecido ontem, aos 87 anos)
Guiné > Região de Cacheu > Bula > Pecuré > Op Ostra Amarga > 18 de outubro de 1969 > Depois da embocada, o general Spínola, ao centro, ladeado à esquerda pelo major João Marcelino (2.º comandante do BCAV 2868, então em Bissau e que apanhou boleia no heli) e o ten cor Alves Morgado, comandante do BCAV 2868 que acompanhou o desenrolar da acção. À direita de Spínola, o seu ajudante de campo, o cap cav Almeida Bruno (que faleceu ontem, 10/8/2022, aos 87 anos) (*), empunhando uma G3, e de costas o cap cav José Maria Sentieiro, comandante da CCAV 2485 que, por impedimento do comandante da CCAV 2487, foi encarregado de dirigir a Op Ostra Amarga.
1. Recordando Spínola e o seu mais conhecido ajudante de campo, o então cap cav João Almeida Bruno (*)... Excertos de um poste, velhinho. de 16 de março de 2006, da autoria do Zé Teixeira (*)
Luís, a propósito do Caco Baldé, toma outra alcunha do gen Spínola (*):
Porquê? Toda a zona de Buba, Nhala, Mampatá, Chamarra e Aldeia Formosa esteve uns tempos a comer, ao almoço e ao jantar, arroz com arroz e de vez em quando uma amostra de chispe. A barcaça que levava os mantimentos foi afundada pelos nossos amigos, e ficamos a ver... barcaças !
Isto gerou um mal estar que mais se agravou com o ataque às 5 da matina, como já contei no meu Diário. Devo dizer que a minha companhia estava reduzida a 36 homens operacionais, dado esforço que se estava a fazer com a protecção à nova estrada de Buba para Aldeia Formosa, em que saíamos com o que seriam três pelotões às seis da matina. Regressávamos à tarde, no dia seguinte estávamos de serviço à segurança do quartel e logo de seguida abalávamos de novo para a estrada.
Então o homem chega e começa o discurso:
− Pátria está a exigir de vós um grande esforço e vós sois ... blá, blá, blá. Sei que a comida não tem sido a melhor, mas a Pátria exige sacrifícios... blá, blá,blá. Quando estiverdes a comer feijão ou arroz, sem mais nada, fechai os olhos e imaginai-vos a comer um belo peru recheado ou um grãozinho com bacalhau, lá em Lisboa... blá, blá, blá.
Acompanhava-o um capitão, seu ajudante de campo, que toda a gente conhece e perante as reclamações do Major e do médico, ele só dizia:
− Aponta, Bruno!
Felizmente tínhamos um excelente médico, a quem presto a minha homenagem no Blogue, o Dr. João Carlos de Azevedo Franco, que à mais pequena mazela, muitas vezes resultante do estado psicológico em que vivíamos, dava uma baixa. Recordo que nesse célebre dia do Aponta, Bruno, o Spínola disse ao médico:
− Estes rapazes o que precisam é de umas picas, vou-lhe mandar uma boa dose de medicamentos... Aponta, Bruno!
− O que eles precisam é de uns bons bifes e descanso.
Claro está que o Capitão Bruno não apontou o que o médico disse. Não é que oito dias depois chega a barcaça com mantimentos e duas enormes caixas de medicamentos não solicitados?! Escusado será dizer que foram devolvidas ao remetente, com a informação "medicação não solicitada" e a vida continuou. (...) (***)
(**) Vd. poste de 16 de março de 2006 > Guiné 63/74 - P613: Aponta, Bruno! (ou outra alcunha do Spínola) (Zé Teixeira)
(***) Último poste da série > 13 de junho de 2022 > Guiné 61/74 - P23345: Humor de caserna (55): O anedotário da Spinolândia (VI): no Cumbijã ouvi o nosso general a utilizar mais do que uma vez "a palavra que imortalizou Cambronne", para recriminar um oficial superior (Vasco da Gama, ex-cap mil cav, CCAV 8351, Cumbijã, 1972/74)
Guiné 61/74 - P23515: In Memoriam (446): Gen João Almeida Bruno (1935-2022), que esteve connosco no CTIG, foi comandante da mítica Op Ametista Real, à frente dos seus bravos Comandos da Guiné, e participou depois no 25 de Abril
Lisboa > 2009 > Da esquerda para a direita, o cor inf 'comando' ref Raul Folques e o ten general 'comando' ref Almeida Bruno (os dois primeiros comandantes do Batalhão de Comandos Africanos da Guiné, e ambos Torre e Espada) e o saudoso grã-tabanqueiro Amadu Djaló (Bafatá, 1940 - Lisboa, 2015).
Foto (e legenda): © Virgínio Briote (2015). Todos os direitos reservados.[Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Data - 11 ago 2022 9h18
Assunto - Morreu o general Almeida Bruno, capitão de Abril
Caras Amigas e Caros Amigos
Estive mais uma vez hospitalizado no Hospital das Forças Armadas (HFAR), e tive a companhia, na mesma Enfermaria, do General Almeida Bruno.
Tive Alta a 8 de agosto e o Capitão de abril faleceu a 10.
Paz à sua alma (*)…
Mário Vitorino Gaspar
O Presidente da República evoca, com respeito, admiração e amizade, o General João de Almeida Bruno, apresentando as suas condolências à Família e ao Exército Português, que serviu com independência, sentido de missão e devoção integral.
(...) Morreu esta quarta-feira o general João de Almeida Bruno, aos 87 anos, no Hospital das Forças Armadas.
Um dos mais condecorados oficiais da Guerra Colonial, participou no Golpe das Caldas, em que se tentou acabar com a Ditadura que vigorava em Portugal, um mês antes da revolução do 25 de abril de 1974. Nessa altura, foi alvo de uma tentativa de homicídio por parte da PIDE.
Almeida Bruno incorporou o Exército em 1952 e serviu as Forças Armadas ao longo de mais de quatro décadas, tendo estado na Guiné-Bissau e em Angola durante a Guerra Colonial e integrado o curso de oficiais da Academia Militar em 1953, ao lado de Loureiro dos Santos, Gabriel Espírito Santo, Ernesto Melo Antunes e Ramalho Eanes.
Após o 25 de abril, o general assumiu o cargo de diretor da Academia Militar. Entre 1994 e 1998, antes de passar à reforma, foi presidente Supremo Tribunal Militar.
Ao longo da carreira foi distinguido com a Ordem Militar da Torre e Espada, do Valor, Lealdade e Mérito, com as medalhas de Valor Militar e da Cruz de Guerra, e com a Ordem Militar de Avis, entre outras condecorações. (...)
Acima de tudo a tristeza de ver partir um amigo, mas depois a de ver partir um ser excecional de generosidade, de coragem e de afetos, Ficarei com a memória de momentos muito difíceis partilhados e da sua atenção para com os amigos.
As Forças Armadas perdem um dos seus melhores. A democracia e a nova posição de Portugal no mundo após o 25 de Abril devem-lhe muito (mais do que é comum ser dito). Um dia será reconhecido.
Para além das anedotas e dos "faits-divers" (e dos pequenos "desaguisados", das "frases menos felizes", etc.) ficam os homens, os portugueses que honraram Portugal, seja nas armas seja nas artes, nas letras, na ciência, no desporto, na política, etc... O Almeida Bruno já lá estará no "céu dos guerreiros" e no "cantinho dos portugueses"...
Que a família, os amigos do peito e os camaradas mais próximos saibam suportar a dor da sua perda. A Tabanca Grande, que representa o blogue dos amigos e camaradas da Guiné, apresenta condolências à família e aos camaradas que com ele combateram ou privaram de mais perto.
Guiné 61/74 - P23514: Tabanca Grande (536): Francisco Pinho da Costa (1937-2022), ex-alf mil médico, CCS/BCAÇ 1888 (Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68), grã-tabanqueiro nº 864, a título póstumo, por proposta dos camaradas da CCAÇ 1439 (1965/67) (João Crisóstomo)
Foto (e legenda): © João Crisóstomo (2017). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]
Data - sexta, 5/08/2022, 23:33
Assunto - A CCaç 1439 associa-se à homenagem ao Dr. Francisco Pinto da Costa
Hello, Luís Graça,
Cheguei há pouco a casa e como sempre a primeira coisa que fiz foi ver o "correio do dia” no computador.
Falas em integrar a título póstumo o nosso camarada Dr. Francisco Pinho da Costa na Tabanca Grande. Acho uma boa idéia. Como dizes, não eram muitos os médicos que se atreviam a deixar a segurança, embora relativa, da caserna, e acompanhar os militares nas saídas. Especialmente depois de terem sido avisados por indivíduos da tabanca que a coluna ia ser atacada…
Tentei o telefone da sua esposa, agora viúva, Maria Augusta, com quem no passado falei ao telefone mais do que uma vez, para lhe pedir o seu consentimento. Acredito que ela até se sentiria muito contente que tal sucedesse. Não consegui resposta mas acho que podemos assumir o seu consentimento.
Pensei em te telefonar, mas quis primeiro dar a notícia aos camaradas da CCaç 1439, que doutra maneira dificilmente chegariam a saber. Apesar das tuas e minhas várias tentativas nesse sentido, e apesar de sempre manifestarem interesse nele, poucos têm o cuidado de o seguir. Uma pena! Não sei como explicar nem muito menos remediar.
Mas na falta de melhor, permite-me juntar o que segue como uma homenagem dos camaradas da CCaç 1439 que ainda estão connosco, cujos contactos pessoais actualizados ainda possuo e que com ele conviveram na Guiné.
Ao dar a conhecer o fim da chamada telefónica, duma maneira ou outra todos manifestaram o seu pesar. Embora diferentes na sua maneira de se expressarem, a resposta de todos eles foi mais ou menos expressada nas palavras do primeiro que contactei, o Sousa (Francisco Viemonte de Sousa) :
Falei com bastantes outros camaradas da CCaç 1439, e todos sem excepcão, depois dos pêsames pelo nosso falecido, se queixaram da enfermidade que mais cedo ou mais tarde prova não ter cura : a idade. Alguns como o Verdasca, o Pimentel, o Figueiredo e o Mafra mostram a sua não diminuída valentia, continuando a trabalhar nos seus quintais…
O Geraldes e o Carvalho juntaram os seus nomes a uma longa lista de inacessíveis. Oxalá reapareçam no próximo “roll call”.
Este já vai longo. Telefono-te amanha, OK?
Abraço.
João (e Vilma)
(...) "Obrigado, João. Vou publicar a tua homenagem póstuma ao Francisco Costa, tua e dos teus camaradas da CCAÇ 1439. Vou aguardar o parecer do dr. Adão Cruz, mas penso que há consenso, entre nós, sobre a minha proposta para o nosso Francisco Costa passar a figurar na lista, na Tabanca Grande, dos que 'da lei da morte já se libertaram'... Há referências dele no blogue, fotos e textos, mais do que suficientes. É também a nossa forma de honrar a sua memória, evitando que fique inumado na 'vala comum do esquecimento'...Talvez o Adão, seu amigo do peito, tenha informação adicional sobre a sua biografia: ano e local de nascimento, contactos com a família, etc." (...)
João: vejo que o Adão Cruz também se associa, implicitamente, à tua e à minha proposta. Escreveu o Adão Cruz, em 6/8/2022, as 11h13:
(...) "Caro Luis Graça. Neste momento não sei em pormenor os dados que vocês pretendem. No entanto, vou deixar passar alguns dias e tentarei obtê-los através da família. Grande abraço do Adão". (...)
O Francisco Pinho da Costa "não vai esperar" mais, agora que o seu corpo desceu à terra e ficamos privados do seu convívio terreno. Passa, pois, a integrar a nossa Tabanca Grande, embora infelizmente a título póstumo (****). Não temos outra maneira de o homenagear,
Pela conversa que ele manteve em 21 de outubro de 2021 com o João Crisóstomo (**), vê-se que se sentiria honrado em juntar-se, em vida, aos seus antigos camaradas da Guiné, se o nosso convite lhe tivesse chegado a tempo. Por certo que a família não porá quaisquer objeções a este nosso gesto de amizade e camaradagem. E é isso que vamos pedir ao Adão Cruz: que explique à viúva, quando se proporcionar a ocasião, o sentido do nosso gesto. O nome do Francisco Pinho da Costa passara então a figurar na lista dos amigos e camaradas da Guiné, membros da Tabanca Grande, já falecidos desde 2007, e que são já 123, conforme consta da coluna estática do blogue, do lado esquerdo.
_________
Notas do editor:
(*) Vd. poste de 5 de agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P22496: In Memoriam (442): ex-alf mil médico Francisco Pinho da Costa (1937-2022), CCS/BCAÇ 1888 (Fá Mandinga e Bambadinca, 1966/68); oftalmologista, tinha 85 anos, vivia em São João da Madeira
quarta-feira, 10 de agosto de 2022
Guiné 61/74 - P23513: Historiografia da presença portuguesa em África (329): Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (1) (Mário Beja Santos)
Queridos amigos,
Graças ao indefetível apoio da bibliotecária da Sociedade de Geografia de Lisboa lá vou mergulhando por mares nunca por mim navegados, cheguei a porto ignoto, o Boletim Mensal das Missões Franciscanas, sempre à busca de uma nova pérola, sei muito bem que não posso encontrar nada de mais completo daquilo que escreveu o Padre Henrique Pinto Rema sobre as missões católicas da Guiné. Mas logo me chamou a atenção este Padre António Joaquim Dias, andou em missionação mais de oito anos pela Guiné, guarda recordações inolvidáveis de Bolama e as suas impressões são dignas de ser postas em público, três quartos de século depois.
Um abraço do
Mário
Impressões da Guiné de um missionário franciscano, início da década de 1940 (1)
Mário Beja Santos
A leitura do Boletim Mensal das Missões Franciscanas e Ordem Terceira, um conjunto de cartapácios que ando a folhear na Biblioteca da Sociedade de Geografia de Lisboa, reserva surpresas quanto à Guiné. No boletim referente a janeiro de 1943 começam a ser publicadas as impressões do Padre António Joaquim Dias. Começa por alertar quem para lá viaja, e deste modo: “Como na Guiné é verão todo o ano, o sol é fogo e o suor hábito inveterado, muna-se de roupas leves, claras e sem forros. Os casacos brancos e batinas da mesma cor, coadjuvados pelos capacetes ou chapéus coloniais, igualmente brancos, são os únicos para-raios a defender-nos das picadas terríveis do sol tropical”.
E começa a sua descrição da Guiné, não se pode dizer que não seja bom observador:
“Para quem leva os olhos feridos e a alma picada pelas penedias basálticas das ilhas de Cabo Verde, a entrada na Guiné sabe bem, enternece até ao fundo da alma. Da água do oceano, ergue-se a planície imensa, aveludada. É um alfobre, risonho e ondulado, de um quente verde-amarelo, a espreguiçar-se, convidativo, acariciador. O mangal mergulha as raízes na própria água salgada e lança outras, aéreas e robustas, a segurar melhor a Guiné, a vincá-la mais ao chão, que o mar lhe disputa. Não se sabe onde o oceano termina e a terra começa.
Aquele, atrevido, infiltra-se por todos os lados, em baías e canais, no continente fronteiro; e estende também os seus braços, numa luta titânica, a procurar arranjar mais espaço, maior domínio, mais um pedaço para o seu leito. Investe contra os próprios rios, a quem desrespeita, às vezes, por léguas e léguas, com lhes sujar e salgar a água cristalina, ósculo amoroso de terra amiga. É por isso que, na Guiné, viaja-se navegando; e, navegando, se vai a toda a parte, como dizia o outro”.
Dá-nos a saber que andava a pesquisar sobre as antigas missões da Guiné, mas preferiu começar por crónica ligeira, continua a dar muita importância aos roteiros e viagens, acha proveitoso lermos arquivos de Geografia, de Etnografia e até de História. Promete não escrever nenhum roteiro, dizendo que foi apenas à Guiné e regressou, começou no porto de Bolama e terminou no de Bissau, por onde voltou. Ficamos a saber que embarcou para a Guiné em fevereiro de 1934, foi para África por livre vontade, ia acompanhado por outro confrade missionário, “levávamos umas roupas, uns livros, muito entusiasmo para o trabalho, muita confiança no Senhor e a saúde precisa”. Fora-lhes abonada a viagem, encontraram benfeitores em Bissau, eram missionários sem côngrua. Terá feito o seu apostolado até 1942, e confessa o seu pesar pela partida: “Não é debalde que, durante oito anos, nos afazemos a chamar nossa terra mesmo à África. Ao dobrar Caió – a porta da Guiné –, duas lágrimas, grossas e quentes, desceram rapidamente as faces”.
Confessa que está a escrever no Hospital de Jesus, com data de outubro de 1942, veio com pouca saúde, e dedica os seus textos aos obreiros evangélicos, presentes e futuros, da saudosa Guiné. Disserta sobre o trabalho de missionário, não é só o apostolado, há a instrução literária, o saber acompanhar as técnicas agropecuárias e observa que é da máxima conveniência haver missionários que saibam traçar, em escala, projetos simples de edifícios a levantar nas missões, e explica porquê: “As missões sofrem, não raro, pelo prejuízo que lhes advém da falta dos edifícios, das demoras dos traços, sujeitando-se a perder os auxílios financeiros terminado o ano económico. Os técnicos, por via de regra, gostam de delinear bonecos bonitos, alçados vistosos que, amanhã, possam despertar a curiosidade pública… Nem sempre, porém, essas belezas e devaneios artísticos se coadunam com a exiguidade de recursos das missões”. E deriva para uma outra observação: “Não são contrários à tradição missionária portuguesa os estudos e coleções de História Natural e de Etnografia, recomendados, insistentemente, e favorecidos, desde 1926, pela legislação missionária o Comandante João Belo”.
Dá-nos uma impressão de Bissau, capital da Guiné desde dezembro de 1941, parece estar a conversar connosco:
“Para além, para nascente, a parte antiga, a começar na Amura ou pequeno recinto muralhado, onde ainda se conversam em minúscula igreja paroquial e os edifícios do quartel e repartição militar; ali o centro, a este lado do poente e lá para o alto, a parte nova. Repare numa coisa: a cidade parece reclinar-se numa encosta que não existe; espreguiça-se molemente. E para dar-se tom, para roncar, como aqui dizem, ela rasgou avenidas, abriu ruas; mas esqueceu-se de levantar casas. Anda agora empenhada nisso. Entre os edifícios, novos e menos novos, sem serem velhos, avultam: a imensa Casa Gouveia, da CUF, a maior empresa comercial da Guiné; depois, o Banco Nacional Ultramarino, única entidade bancária da colónia; ainda o edifício dito das Repartições; a imponente Catedral, em românico estilizado, mas não rematada; a Companhia da África Ocidental Francesa; um dos improvisados hotéis, que são três ao todo; mais algumas casas comerciais; um ou outro chalé modesto, particular ou do Estado; os bairros dos funcionários, que há para todos os gostos; talvez também o hospital, com seus múltiplos pavilhões de um só piso, e não vejo mais nada que mereça citar-lhe, a não ser a nova Alfândega. Ao centro da Praça do Império, no alto da povoação, atira-se para os ares uma espécie de obelisco granítico de uns quinze metros de altura; um monumento ao Esforço da Raça. A vasta praça, incontestavelmente uma das mais amplas do Império Português, aguarda que adotem de edifícios condignos, entre os quais há de sobressair o Palácio do Governador, em construção. Acrescentemos a isto umas dezenas de casinhotos térreos, em paredes de barro, meia dúzia de edifícios de primeiro andar, rodeados das indispensáveis varandas, ainda algumas ruas e vielas, - e aí tem o meu amigo a ínclita cidade de Bissau”.
Deplora a desolação de Bolama: “Chorarei eternamente com quem me hospedou durante sete anos e me livrou dos mosquitos enfadonhos e venenosos de Bissau, das temíveis biliosas, perniciosas e quejando as esferas africanas". Começara a desventura de Bolama, tal como ele a descreve: “Dia e noite, as ruas mais desertas, ainda mais tristes. Muitas casas apagadas, diminuídas as luzes nas ruas, desolados os comerciantes. Bolama assemelhava-se a cemitério imenso. E, noite fora, manguços aos punhados – espécie de gatarrões, feios e fedorentos, monopolizavam os passeios do jardim público, para seu folgar ameno”.
Recorda aquele jardim, o quintal da sua casa, o adro da igreja, e pergunta-se: “Como viverá agora, esse malfadado jardim de Bolama e o burgo inteiro? A acarinhada povoação de outros tempos terá sucumbido, enfim? Os coqueiros do lado fronteiro ao hidroporto poderão continuar a distrair-se com as evoluções, os soberbos Clipper que por ali vão zumbir, despejar forasteiros, levar movimento e vida”. Suspira uma Bolama nova, pede benevolência ao leitor por exaltar a sua querida Bolama. As impressões vão continuar, as que escreveu agora datam de Lisboa, 1 de janeiro de 1943.
(continua)
Nota do editor
Último poste da série de 3 DE AGOSTO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23486: Historiografia da presença portuguesa em África (328): Bissau, 1753: Escaramuças na construção da Fortaleza de S. José (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P23512: Notas de leitura (1473): Eduardo Lourenço (1923-2020): afinal, quem são os portugueses, e o que significa ser português? (José Belo, Suécia)
Assunto - Talvez o menos estrangeirado
Caro Luís
O nosso Eduardo Lourenço soube, talvez melhor, que muitos intelectuais contemporâneos, pôr o dedo na ferida quanto aos nossos grandiosos mitos lado a lado com profundos complexos.
PS - Espero sinceramente que quanto às saúdes todos nós continuemos sem estar... ”piorzinhos”!
Um abraço, JBelo
Um abraço com votos, para ti e família, de Boas Férias! JBelo
Um dos maiores intelectuais portugueses contemporâneos que, e segundo as suas palavras… ”se afastou do País para respirar liberdade”. (**)
Nascido na pequena aldeia de São Pedro do Rio Seco, passou longo período da sua vida no estrangeiro. Primeiro como professor na Alemanha e, posteriormente, como professor nas universidades francesas de Grenoble e Nice.
Regressou a Portugal no período final da sua vida.
O jornal “Le Monde” descreveu-o como um intelectual liberto da rigidez política das ideologias, que soube sempre seguir o seu próprio caminho.
Importante parte dos seus ensaios foram dedicados a Luís de Camões e a Fernando Pessoa.
No “Labirinto da Saudade“ afirma que a literatura histórica portuguesa se pode ler como uma busca de resposta às perguntas:
- Quem são os portugueses?
- O que significa ser-se português?
Segundo ele, a imagem histórica de Portugal não é resultante de observações baseadas em realidades. Resulta antes de sonhos político-ideológicos criados por uma minoria urbana, como referido pelo realismo de Eça de Queiroz. Uma aristocracia (e burguesia) endinheirada sempre com o pé no estribo do "Sud-Express", arrastando-se para uma Europa onde se produz a verdadeira cultura e o conhecimento.
A existência de um mítico “povo simples” torna o diálogo literário entre estes polos opostos num… monólogo literário limitativo.
É neste espaço (ou contradição) entre a “falta” e o “regresso” que, segundo ele, surge a palavra “saudade”.
Afirma também que, em Portugal, tanto o neo-realismo como o comunismo (verdadeiros polos opostos à ditadura do Estado Novo tanto nas artes como na política) se dedicaram ao mesmo tipo de “mitologia” no modo como integraram na sua visão mundial os mesmos clichês quanto ao “Povo simples”, em tudo semelhantes aos usados por intelectuais da Direita. Mitos que serviram, e servem, como conveniente “manta de cobertura “ sobre um tipo de fragilidade histórica.
Com Salazar, o patriotismo jacobino dos convulsionados 16 anos da Primeira República, transformou-se em nacionalismo exaltado. O Estado Novo, com o seu aparelho de propaganda desde a escola aos meios de comunicação, cria uma verdadeira “Disneylândia” de portugalidades feita.
Como poderá a cultura de um pequeno país, isolado num extremo europeu, manter a sua originalidade, usar de um pensamento crítico quando a análises do passado, manter vivas as suas tradições ao mesmo tempo que se abre perante o mundo?
Segundo Eduardo Lourenço é fundamental para Portugal... ser europeu!
Um abraço do JBelo
Adenda - Talvez o menos… estrangeirado!
Abandona o país em 1953, mas recusa a condição de exilado. É apenas emigrado.
“Pensar Portugal como vontade e como comunidade plural de destinos e valores, pondo em diálogo os mitos e a razão e… procurando afastar a maldição do atraso.”
“…é a hora de fugir para dentro de casa, de nos barricarmos dentro dela, de construir com constância o país habitável de todos, sem esperar de um eterno lá-fora ou lá longe a solução que, como no apólogo célebre, está enterrada no nosso exíguo quintal.
PS - E como Eduardo Lourenço escreveu: "Lisboa é sítio ideal para acreditar que as Caravelas continuam a existir"
2 de dezembro de 2020 > Guiné 61/74 - P21604: Manuscrito(s) (Luís Graça) (195): In Memoriam: Eduardo Lourenço (1923-2020), pensador maior da nossa história, da nossa cultura, da nossa identidade como povo
17 de agosto de 2015 > Guiné 63/74 - P15013: Notas de leitura (748): “Do Colonialismo como Nosso Impensado", Organização e Prefácio de Margarida Calafate Ribeiro e Roberto Vecchi, Gradiva Publicações, 2014 (Mário Beja Santos)
Guiné 61/74 - P23511: Parabéns a você (2089): Alberto Nascimento, ex-Soldado CAR da CCAÇ 84 (Guiné, 1961/63)
Nota do editor
Último poste da série de 6 de Agosto de 2022 > Guiné 61/74 - P23498: Parabéns a você (2088): Coronel Inf Ref Fernando José Estrela Soares, ex-Cap Inf, CMDT da CCAÇ 2445 (Cacine, Cameconde e Có, 1968/70)
terça-feira, 9 de agosto de 2022
Guiné 61/74 - P23510: In Memoriam (445): António Júlio Emerenciano Estácio (Bissau, 1947 - Algueirão, Sintra, 2022): foi alf mil, RM de Angola (1970/72), viveu e trabalhou em Macau (1972/98) e era um apaixonado pela sua terra e as suas gentes
_________
Notas do editor:
(vii) de 28 Setembro de 1972 a 2 Dezembro de 1998 viveu em Macau, onde exerceu vários cargos e funções, como:
- Técnico e Técnico Chefe dos Serviços Florestais e Agrícolas de Macau (SFAM);
- Membro da Comissão de Educação da União Internacional para a Conservação da Natureza;
Em 03.07.1997 aposentou-se da, então, Câmara Municipal das Ilhas (Macau).
- Foi Vogal da Direcção da Casa de Macau (2003-2005);
- Sócio da Sociedade de Geografia, sendo e Secretário da sua Comissão de Heráldica;
(ix) participou, por diversas vezes na Semana Cultural da China e no Fórum Internacional de Sinologia.
- Foi louvado pelo Despacho n.º 19/SASAS/91 e pela Deliberação n.º 268/26/CMI/97;
- Foi agraciado, em 1995, pelo Governador de Macau, com a Medalha de Mérito Profissional ;
- Em Março de 2006, foi distinguido com a Moeda Comemorativa, pelo Instituto para os Assuntos Cívicos de Macau, aquando da 25.ª edição da “Semana Verde de Macau”.
- Em 8 de Fevereiro de 2007, distinguido com Medalha de Honra atribuída pela ONG “Acção para o Desenvolvimento” (AD), da República da Guiné-Bissau.
Publicações de índole técnica:
- Flora da Ilha da Taipa, Monografia e Carta Temática (M. E. Cartográficos) 1978;
- Arborização de Macau. Intervenção de Tancredo Caldeira do Casal Ribeiro (1883-1885) (S.F.A.M.) 1985;
- Guia do Parque de Seac Pai Van (C. M. das Ilhas - Macau) 1995;
- Evolução das Zonas Verdes das Ilhas (C. M. das Ilhas -Macau) 1999 (Em colaboração com o Eng.º Técnico Agrário Carlos Daniel de Carvalho Batalha);
- As Árvores no Brasões Municipais – Ed. da C. M. de Freixo de Espada à Cinta 2001;
- Contributo Chinês para a Orizicultura Guineense (Portugal) 2002 – Ed. do autor.
- Em Memória de Sá Nogueira (S.F.A.M.) 1984;
- Passadas. Recordações de um aluno do Liceu Honório Barreto, em Bissau. (1958-1964) - Ed. do autor (Macau)1992;
- Na Roda de Amigos – Ed. do autor (Macau) 1973;
- Histórias Vividas e Contadas – Ed. “Livros do Oriente” (Macau) 1997.
- Nha Carlota, figura esquecida da História Guineense – Ed. do autor (Portugal) 2010
Coordenador as seguintes publicações técnicas:
- Árvores de Macau, Vol. I, de autoria do Prof. Wang Zhu Hao (Ed. C. M. Ilhas) 1997;
- Árvores de Macau, Vol. II, de autoria do Prof. Wang Zhu Hao (Ed. C. M. Ilhas) 1999.
Foi editor do:
- Boletim do Rotary Club Amagao (Macau);
- Boletim da Casa de Macau (Lisboa) (2004-2006);
- Boletim da Associação Cultural da Terceira Idade de Sintra (ACTIS).
Guiné 61/74 - P23509: (Ex)citações (412): Reflexão - Ouvindo novamente a Oração de Sapiência proferida por Ana Luisa Amaral em Março passado, fui levado a reconhecer que a razão e o pensamento são as duas maiores riquezas do ser humano (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico)
1. Mensagem do nosso camarada Adão Cruz, (ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887, Canquelifá e Bigene, 1966/68), médico cardiologista, pintor e escritor, com data de 8 de Agosto de 2022:
REFLEXÃO
adão cruz
Ouvindo novamente a Oração de Sapiência proferida por Ana Luisa Amaral em Março passado, fui levado a reconhecer que a razão e o pensamento são as duas maiores riquezas do ser humano.
Ser capaz de parar para pensar é um enorme privilégio. Eu tenho um escrupuloso respeito pelo pensamento, pelo meu pensamento e pelo pensamento dos outros, quando racional e honesto. Acredito que todos nós, aqueles que nunca se venderam a nada nem a ninguém, aqueles que nas questões que mais nos inquietam e mais preocupam a humanidade necessitam sempre de pensar e ouvir a voz da razão. Não conseguem sentir-se livres fora da verdade, ou pelo menos fora da procura do caminho da verdade.
Há para mim três verdades que a reflexão profunda e séria de uma vida inteira tornaram irrefutáveis. Mas são minhas, e de modo algum eu pretendo impô-las a quem quer que seja.
Uma delas é a convicção de que o conhecimento e a cultura, a verdadeira cultura, ou seja, a cultura do conhecimento e, por inerência, a cultura da verdade são os mais importantes recursos de que dispomos para encontrar o caminho da justiça e da solidariedade, os sentimentos que nos acordam para a nobreza que poderia existir e não existe no coração da humanidade.
A segunda convicção é a do nefasto papel do obscurantismo, religioso ou não, arrastando consigo a irracionalidade e a secundarização do conhecimento, os grandes inimigos da verdade.
A minha terceira convicção é o simples reconhecimento de que a intencional desinformação e ignorância impostas ao mundo pelas forças que o dominam vai deformando, de forma mais insidiosa ou mais contundente, a consciência e mesmo a inconsciência das pessoas, levando-as à gelatinosa certeza de que não há verdade mais credível do que a verdade da mentira.
____________
Nota do editor
Último poste da série de 23 DE JULHO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23455: (Ex)citações (411): Cuidado com o "fogo amigo", cuidado com o dilagrama, cuidado com a granada defensiva... (António J. Pereira da Costa / Luís Graça)