terça-feira, 7 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25490: Os 50 anos do 25 de Abril (18): Guerra Colonial - Pequenas Grandes Verdades (Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887)

Corpo Clínico de Bigene - Dr. Adão Cruz em primeiro plano, à esquerda
Foto: © Adão Cruz


GUERRA COLONIAL

A vida é uma sucessão de acasos, o que leva a que seja muito difícil dizer o que nela se perde e o que nela se ganha. Com a dura e cruel guerra da Guiné, não sei calcular o que perdi, mas sei o que ganhei em experiência de vida. Aprendi que o colonialismo, o neocolonialismo e o imperialismo, por mais que tentem branqueá-los, suavizá-los e justifica-los, bem como as guerras a que conduzem, são verdadeiros crimes contra a humanidade. Não posso dizer que sinto saudades da minha vida na guerra, mas tenho recordações que ainda hoje arrancam dentro de mim uma espécie de nostalgia estranha, um rebuscar no fundo do tempo o sentido do sangue que me corria nas veias, uma sensação de perda profunda, semente de uma vida que até hoje aceitamos como vitória. Sempre disse que os dois anos que passei na Guiné, anos de sofrimento e saudade, de tristezas e alegrias, de coragem e desânimo, mas sobretudo de inigualáveis fraternidade e vivência humana, valeram vinte anos de toda a minha vida. Não sei dizer porquê, mas sinto-o até ao mais fundo do meu ser. Sei apenas que me levaram a um futuro do qual nunca saberei o valor que o define, mas que sempre construí em consonância comigo mesmo. Sei apenas que sem esses dois anos, seja eu quem for, nunca seria quem sou.

O texto que se segue, baseado em factos rigorosamente verdadeiros, não é um texto de descrição comum. Ele tenta criar a envolvência um tanto filosófica, um tanto psicológica e mesmo psicopatológica com que as guerras, todas as guerras estrangulam as nossas vidas.

PEQUENAS GRANDES VERDADES

Fiquei sempre com esta paradigmática sensação desde que, por volta de 1970, encontrei no átrio da Faculdade de Medicina da Salpêtrière, em Paris, um busto holográfico de Hipócrates que parecia dizer-me: Mon fils, la vie est le chemin pour la rencontre de nous-mêmes. Mas já muito antes, na guerra colonial, as longas horas a olhar para o vazio se enchiam inesperadamente de pequenas explosões, não de granadas, mas de pequenas grandes verdades de um pensamento acorrentado à la rencontre de nous-mêmes.

Sentado numa pedra junto à margem, no meio do dilema entre vida e suicídio, depois de encontrar um dedo humano na boca do peixe-serra que tinha um fígado de um metro quadrado, dizia o filósofo, condenado a mais nove meses de mato por tentar embarcar para a metrópole uma G3, com o fim de matar o sogro que lhe havia violado a mulher: Este é um sítio porreiro para alguém se suicidar, não acham? Mas não havia ninguém à volta para receber a pergunta. Concluiu que falava para si mesmo. Ora merda, ninguém me ouve. Mas têm de concordar que é um poço fundo, tão fundo que não dá tempo para chegar vivo lá abaixo.

A verdade procura sempre o amor na densidade dos processos e na empatia do sofrimento, clamava bem alto o meu amigo, capitão e arquitecto, pés bem assentes no escuro do pequeno cais de madeira, entre a amplidão do espaço de uma noite estrelada e os limites das margens do Rio Cacheu. Muito se tem falado sobre o facto de umas coisas da vida imitarem as outras ou não coincidirem com as outras. Não se trata de uma questão de imitação ou discordância, mas de procurar saber o que acontece quando duas coisas se juntam, naturalmente, para criar algo de novo, isto é, saber o que acontece se ambas descobrem a verdade absoluta ou se a verdade absoluta não é mais do que a verdade relativa e circunstancial dos momentos das nossas vidas. Não entendi muito bem, mas compreendi perfeitamente porque é que ele trazia debaixo do braço meia dúzia de discos de Beethoven, em vez da espingarda.

Assim que for dia, se dia chegar a ser nesta escura paisagem, lembraremos o amigo que na véspera escrevia versos com sangue da primeira bala, com a força da vida que cedo se apagou na segunda bala, gritando entre sonhos para os jagudis que o miravam e esperavam comer-lhe o corpo: O valor simbólico da percepção da vida está para além das filosofias baratas, e lembra que entre as grandes verdades da vida, outras mais pequenas se encontram a uni-las, como o amor, a poesia… e a morte.

A lua ia já muito alta, e caía a pique nas águas fundas do Cacheu. Eu e o padre capelão embarcávamos numa lancha LDM em direcção a Binta, que ficava vinte milhas a norte. Ele levava como missão confortar as almas e eu levava como missão tratar uma caganeira geral do pelotão que ali se encontrava. A margem esquerda do Rio Cacheu, o Oio, era uma mata completamente cerrada de tarrafe, e território dos guerrilheiros. A meio do caminho, nas entranhas do mais absoluto silêncio, apenas apunhalado pelo arrepiante pio de alguma ave nocturna, o padre perguntou-me: O que é para si a verdade? E eu respondi: Neste momento, para mim, a verdade não é esta enorme lua andar à volta da terra, mas as bazucas que, eventualmente, estarão por trás do tarrafe e nos farão mergulhar no fundo do rio, onde uma legião de jacarés esfomeados nos espera. A verdade para mim, caro padre, está no facto de estarmos aqui os dois, no coração da selva, sem termos a coragem de confessarmos um ao outro que não nos cabe um feijão no cu. O Senhor com o breviário e eu com Les Damnés de la Terre, de Frantz Fanon, duas realidades completamente diferentes, unidas pela força de uma pequena verdade circunstancial, o cagaço. E o Padre, com duas lanchas no fundo do rio desde há dois meses, ancoradas na sua cabeça, pedia explicações não se sabe a quem: Alguém tem de me indicar a saída da noite sem regresso, não pode haver quem não saiba o caminho da derradeira fome, do calor do resto de lume do último verso, não acha caro doutor? E eu respondi: Já viu estes passarinhos fritos, amavelmente e inesperadamente oferecidos por dois fuzileiros, no meio do Rio Cacheu, noite fora, nos confins da selva? Somos quatro dentro de uma lancha perdida no tempo, dois fuzileiros, um crente e um ateu. Enquanto deus anda à deriva, esta metralhadora com balas do tamanho de um palmo, não.

Os gritos sem voz das mães dos filhos que por aqui ficaram, nem sequer beliscavam o silêncio. Não havia mães nem filhos, nem momentos de aflição. Apenas medo. A sensação de que o tempo era de morte, e a superfície espelhada do rio um vidro vermelho de sangue deram para conversar: A noite e o vazio estão na origem cosmológica do mundo. Sofrer pode ser apenas sorrir. A pequena grande verdade do ser dissolve-se na tensão interna de quem ama a vida. Não será verdade? E o fuzileiro, ainda com alguns passarinhos na sertã de meio metro de diâmetro avançou: Já fiz muitas missões por este rio fora, mas nunca com um padre e um médico. Uma bênção e um privilégio, mas que, nem por sombras, me dão a segurança desta Browning. E deu um beijo na metralhadora.

Já a lua se havia sumido e o sol faiscava nas três ou quatro garrafas vazias, quando abrimos os olhos, estendidos no convés. Ainda ecoavam nos ouvidos as pequenas grandes verdades, libertadas pelo estimulante whisky que os dois fuzileiros conseguiram no contrabando: Parecendo às vezes um lago tranquilo de um qualquer paraíso-diz o segundo fuzileiro-e embora os rios corram para o mar, este parece nascer do mar, avançando sobre nós e tentando afogar-nos como aconteceu no último afundamento da lancha. Pois é, comenta o padre, parece uma blasfémia, mas os desígnios de Deus nada mais são do que interacções sensoriais e perceptivas entre realidades virtuais e realidades reais, indispensáveis à compreensão da vida e do papel do ser humano. Esta grande verdade nada mais produziu nos presentes do que um eructante soluço. Não se riam. Assim como a dor transforma em humilde ignorante todo o que a sofre, também a mente humana, no meio do cagaço, discorre sabiamente sobre todas as filosofias, respondi eu, com as palavras ainda envoltas em vapores etílicos: Nada se confunde plenamente, nada se distingue de forma absoluta, mas toda a nossa vida comporta áreas de intersecção muito importantes. Na relação gemelar entre os seres humanos, só a queda da hegemonia dos disparates torna possível as pequenas verdades da simplicidade da vida, no seu sentido antropológico.

Ao fim de dois dias, estancada a diarreia e reacesa a luz do Espírito Santo, alguém levantou, mais ou menos a despropósito, não o modus faciendi do seguimento para norte, mas a questão da transdisciplinaridade da vida, relação profunda e não superficial entre os saberes, uma das atitudes e estratégias fundamentais no avanço do conhecimento para a justiça, para a ética, para a solidariedade e cidadania, a fim de acabar com a puta da guerra. Dizia o alferes, já no fundo da garrafa de bagaço que trouxera de férias: Ainda há quem pense que existe um qualquer tipo de antagonismo entre imaginação de natureza poética, política, e bélica, mas não há. O que há é uma relação podre entre a razão e anti-razão, levando à morte das pequenas verdades e à destruição do ser humano.

Ora, nada destas filosofias tinha a ver com a terrível picada de vinte quilómetros que tínhamos pela frente, através da selva, durante sete horas, entre Binta e Guidage, já na fronteira do Senegal, onde íamos tentar acalmar alguns apanhados da cuca, pertencentes ao pelotão que lá se encontrava desterrado. O ataque de um enxame de abelhas selvagens a meio do caminho, ataque mais temido do que uma emboscada, foi uma daquelas pequenas verdades que se agarram como crude ao caminho da memória. Como não havia qualquer deus na farda do padre capelão a receber as angústias dos homens, concedi a mim mesmo a difícil tarefa de ser eu o senhor e dono do nosso desígnio. Com muita sorte e pequenas verdades dentro de uma caixa de ampolas de hidrocortisona, conseguimos reverter dois graves choques anafilácticos. Diga-me lá meu caro padre, de que nos servem as grandes verdades? Servem para lhe pagar, com todo o gosto, caro Doutor, a pequena verdade de uma cerveja, quando chegarmos a Guidage.

As pequenas grandes verdades da vida continuam a dizer-me que a relação do Homem com os inúmeros fenómenos que o rodeiam, com tudo o que vê e ouve, com tudo o que entende e não entende, é a mais poderosa essência da vida. A razão do Homem, fruto da obediência ao facto de existir…é um facto. Três perguntas: Não será esta cerveja, saída do fundo do bidon de gelo para uma goela a quarenta graus, um milagre? Acha que, algum dia, a terra engolirá os exércitos genocidas que se empanturram de vidas e se embebedam de sangue para glória do Senhor dos Exércitos? Há alguma razão para andar com um colar de orelhas ao pescoço ou dar um sabonete Lux às bajudas e fuzilá-las de seguida? O capelão, com um pé no Senegal e outro na Guiné – a fronteira era o caminho da fonte – encolheu os ombros, sorriu e sentenciou: Sempre haverá espinhos nos olhos e aguilhões nos flancos da vida. Sim, respondi, sempre haverá “grandes” verdades na noite do Homem, a tapar as pequenas verdades do nascer do sol.

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Nota do editor

Último post da série de 6 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25485: Os 50 anos do 25 de Abril (17) : Conversas sobre "Portugal-África. Guerra Colonial. Madrinhas de Guerra", com Marta Martins Silva e 3 antigos combatentes, Hélder Sousa, Luís Graça e Jaime Silva. 3ª feira, dia 7 de maio, no ISCSP-ULisboa, Campus Universitário do Alto da Ajuda

Guiné 61/74 - P25489: Os nossos seres, saberes e lazeres (627): "Monumento aos Combatentes do Ultramar - Belém", um apontamento filmográfico de Manuel Lema Santos, 1.º Tenente da Reserva Naval

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Lema Santos, 1.º Tenente da Reserva Naval, enviada no dia 3 de Maio de 2024,via WhatsApp, ao coeditor Carlos Vinhal:

Meu Caro Carlos Vinhal,

Grato pela conversa telefónica havida com duração acima de 01:30. Grande paciência a tua!

O link permite o acesso a um filme que rodei com a minha "GoProHero12Black" em 20240424.

Depois de o referir com alguns elementos históricos descritivos, editei o filme que titulei com o nome de "Monumento aos Combatentes do Ultramar - Belém".
Apenas uma legenda: «esquecidos"
Em:
https://youtu.be/eYEqiJC60Fs


2. Ainda no mesmo dia, via WhatsApp, resposta enviada ao camarada Manuel Lema Santos:

Caríssimo Manuel Lema Santos,

Já vi o teu filme, que mostra muito bem o nosso Memorial, só tenho uma dúvida quanto aos mais esquecidos. Serão os falecidos em campanha, cujo nome ali fica perpetuado, ou nós que passámos uma vida na condição de anónimos até que a maravilha da internet nos pôs todos em contacto para que unidos pudéssemos gritar que ainda cá estamos?

Se não te importares, aproveito a tua mensagem para encimar o link para o teu filme, quando publicar no blog. Publiquei um pequeno comentário ao teu filme no youtube (sou o MrCaresvi). O filme está muito bom, quase um trabalho de profissional.

Aqui fica o meu abraço e os votos de saúde para ti e para a tua excelentíssima família.
Carlos Vinhal


3. Nova mensagem de Manuel Lema Santos

Meu Caro Carlos Vinhal,

Na minha perspectiva aglutinadora é o conjunto de ambos... todos "esquecidos". Julgo que quando falamos de Antigos Combatentes estaremos a referir todo os que se bateram por Portugal, mesmo no pós Guerra do Ultramar. Houve outras pelejas...

Uns tiveram menos ou nenhuma sorte e cairam em combate. Aos que regressaram vivos compete, ainda que com mazelas várias ou saúde mental diminuída de que as memórias históricas são parte, alertar permanentemente responsáveis Políticos e Instituições, para a necessidade de distinguir e honrar os que se bateram pelo País, independentemente do destino último de cada um.
Afinal o que os distingue dos que nunca compareceram à chamada, dos refractários ou dos desertores? Claro que não me permito considerar um devassado conceito de "objector de consciência", onde eventualmente nos classificamos todos em relação a um filosófico conceito de guerra.

Forte abraço,
MLS





Localizado junto ao Forte do Bom Sucesso, em Belém, Lisboa. Foi criado para homenagear todos os militares que combateram nas várias frentes, em defesa da Pátria. Criado em 1991 por uma equipa liderada pelo arquitecto Francisco José Ferreira Guedes de Carvalho.
Foi inaugurado a 15 de janeiro de 1994 por Prof. Doutor Adriano Moreira e pelo General Altino de Magalhães, ao tempo Presidente da Liga dos Combatentes. Desde esse ano, em cada dia 10 de Junho, é ali realizado o Encontro Nacional de Combatentes.

O monumento é constituído por um lago com uma estátua central. No ano 2000, ao longo do Forte do Bom Sucesso, foram afixadas lápides onde figuram os nomes dos caídos no cumprimento do dever pátrio.

Durante o período da guerra em África (1961-1974) foram empenhados nas três frentes cerca de 800.000 militares portugueses, dos quais a maioria, cerca de 70 %, eram oriundos de Portugal Continental, Açores e Madeira e cerca de 30 % de recrutamento local (Angola, Guiné e Moçambique).

As forças militares portuguesas eram constituídas essencialmente por militares do Serviço Militar Obrigatório e, no Exército, essa realidade era bastante mais expressiva, pois os militares do Exército representavam 92 % do total do pessoal, a Força Aérea 5 % e a Marinha 3 %.
Registaram-se 202.000 faltosos e cerca de 20.000 refratários, o que representa um universo superior a 220.000 homens que, deliberadamente não se apresentaram para cumprirem o serviço militar durante o período da guerra (1961-1974), aos quais se juntam cerca de 9000 desertores.

Durante o período em que decorreu a guerra morreram mais de 10.000 militares, sendo a maioria do Exército (9.638), seguidamente da Força Aérea (511) e finalmente da Marinha (260). Entre os civis contaram-se aproximadamente 6.200 mortos e 12.200 feridos.
Entre os movimentos independentistas (Angola, Guiné e Moçambique) contaram-se 28.226 mortos e 9.450 feridos.

Filme, imagens e edição do autor da publicação
Fontes da descrição: Wikipédia, Revista Portuguesa de História Militar, Ano I - nº 1 (Dezembro 2021) e Marcha dos Marinheiros pela Banda da Armada

Manuel Lema Santos
1TEN RN, 1965-1972
LFG «Orion» - Guiné, 1966/68
CNC/BNL, 1968/70
EMA, 1970/72

Música
Marcha dos Marinheiros
Banda da Armada Portuguesa
Antologia do Centenário 1903-2003

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Nota do editor

Último post da série de 4 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25477: Os nossos seres, saberes e lazeres (626): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (152): Lembranças de Manuel de Brito e da Galeria 111 (2) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25488: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (23) : Camisa Mara, o guardião e guia deste projeto, votado ao abandono depois da morte do Pepito, em 2014... Aqui recordado numa peça da agência Lusa.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico Memória de Guiledje > Chegada do Presidente da República, Malam Sanhá Bacai, com a esposa  (à sua esquerda) e o primeiro ministro, Carlos Gomes Júnior, atrás (à sua direita)... 

Embora esteja de perfil,  reconhecemos, de imediato,  de lado direito, cumprimentando o Presidente, o nosso amigo Domingos Fonseca, quadro técnico da AD, então responsável do Núcleo Museológico e membro da Tabanca Grande.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico Memória de Guiledje   > O Primeiro Ministro, Carlos Gomes Jr,  "Cadoco", entre a multidão.


Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 20 de Janeiro de 2010 > Inauguração do Núcleo Museológico Memória de de Guiledje > A nossa representante na cerimónia, Júlia Neto, viúva do nosso camarada José Neto (1929-2007), em conversa com a combatente do PAIGC Francisca Pereira, sob o olhar do nosso amigo Pepito.

Fotos (e legendas): © Pepito / AD - Acção para o Desenvolvimento (2010). Todos os direitos reservados (Legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine)


1. No passado dia 5 de maio, domingo,  o Patrício Ribeiro, o nosso "cônsul em Bissau", autor da série "Bom Dia desde Bissau", sempre atento e oportuno, mandou-nos um link do portal Sapo, com uma peça da Lusa sobre o antigo quartel de Guileje (ou o que resta dele), e onde se fala de um personagem curioso, o Camisa Mara (e não Cassima Mara, como grafou a jornalista).

O nome desse guardião (e guia local) do que foi "o mais fortificado quartel português nas ex-colónias" (sic), aparece, no programa do Simpósio Internacional de Guiledje, como "Camisa Mara (ex-milícia do Exército Português)" (*), tendo inclusive apresentado, na parte da manhã do dia 6 de março de 2008, uma comunicação oral sobre a vida quotidiana em Guileje, antes do seu abandono em 22 de maio de 1970 pela tropa portuguesa (CCAV 8350 e subunidades adidas).

O título da peça é "O guardião que sonha nova vida para o histórico quartel de Guiledge na Guiné-Bissau". A reportagem da Lusa é assinada por Helena Fidalgo (texto) e Júlio de Oliveira (vídeo). Não vamos, naturalmente, reproduzir na íntegra a peça (até porque tem erros factuais), mas resumi-la, e citar algumas declarações deste histórico guardião e guia local.

Esta história, de resto, interessa-nos, a nós, Tabanca Grande, por que demos muito apoio (incluindo material) à construção do Núcleo Museológico Memória de Guiledje (descritor que tem vinte e tal referências no nosso blogue).

Já suspeitávamos (e temíamos) há muito do desleixo e ruina a que a fora votado este projeto que era tão caro ao nosso Pepito, o engº agr. Carlos Schwarz da Silva (Bissau, 1949-Lisboa, 2014), e onde colaborámos com muito entusiasmo. 

Diz a jornalista da Lusa, Helena Fidalgo: 

"Este guineense esteve na luta ao lado dos portugueses e agora está empenhado em fazer cumprir o propósito daquele a quem chamavam 'o fazedor de sonhos', conhecido por 'Pepito', e que sonhou para Guiledje o único espaço museológico na Guiné-Bissau sobre a luta de libertação nacional para a independência' ". 

A jornalista constata, catorze anos depois da sua inauguração (em 2010, com a presença do presidente da República e o primeiro ministro da Guiné-Bissau, Malan Sanhá Bacai e Carlos Gomes Jr, respetivamente) (**); que "o projeto parou com a morte do (seu) mentor, em 2014" e ficaram apenas dois pavilhões com algum espólio" (...)... O resto são ruinas. 

O Mara serviu de guia à equipa da Lusa, numa visita recente ao local. E esclareceu a jornalista que ele passou a frequentar o quartel quando tinha entre "15 e 16 anos". Terá, hoje, portanto, cerca de 65 anos (ou mais, não sabendo nós em que ano se tornou "milicia" ou passou a servir no quartel como "djubi", fazendo-nos lembrar a figura do Cherno Baldé, "menino e moço em Fajonquito"). 

O Mara, nascido em Guileje, tem consciência da importância histórica daquele lugar: "a história não se perde, a história valoriza um local". (...) "Sente orgulho quando fala de Guiledje"... E, exagerando um bocado, diz: 

"Aqui era o grande amparo dos portugueses, havia todo o tipo de materiais aqui, inclusive abrigos blindados. Só os militares portugueses eram um batalhão, também havia aqui milícias recrutadas, militares locais muito valentes para os portugueses". (...) 

"O Mara 'fazia alguns serviços para os portugueses, lavava pratos, trazia a comida, levava as roupas para a lavadeira e trazia água para os militares' ". (...) "Também fazia carregamento de munições de armas pesadas quando havia um ataque ao quartel".(...) 

Não saía para o mato, como saíam os milícias e os militares, "mas se houvesse guerra aqui no quartel eu era uma das pessoas que ajudava os portugueses a carregar as munições das armas"... 

Recorda depois o dia (o do abandono das instalações, na noite de 22 de maio de 1973), "em que fugiram juntos e o destino foi Bolama, depois de uma longa caminhada de militares, mulheres e crianças"... 

Há aqui um erro de registo ou de interpretação por parte da jornalista: os militares e civis de Guileje foram para o quartel mais próximo, Gadamael Porto. É possível, depois, que alguns civis, para fugir da ewscalada da guerra em Gadamael,  se tenham refugiado na ilha de Bolama.

(...) "Este guineense e outros conterrâneos decidiram voltar para a tabanca depois da independência, quase um ano passado e com o quartel já na posse do PAIGC e do novo Estado guineense." (...)

Mais tarde, por volta de 2006, o Pepito, diretor executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, no bairro do Quelelé, começa a trabalhar a ideia de criar ali o "Núcleo Museológico Memória de Guiledje", com financiamemto externo (União Europeia). E o Camisa Mara foi um dos habitantes locais que deu o seu melhor para ajudar a levar o projeto para a frente (o que está muito bem documentado, aliás, no nosso blogue)..

(...) "No início da construção do museu, tivemos que desmatar o local, porque havia perigo para andar, tinha minas, tinha cobras, fui eu que fiz o caminho e contratei pessoas". (...).

No final o Pepito encarregou-o de gerir o museu (sic). E ele continua a guiar as ocasionais visitas. Mas o que foi feito, "está desprezado", votado ao abandono, por incúria de todos, a comunidade local, a ONG AD, a administração pública, o Governo...

(...) "Gostava que esta ideia, que sonharam juntos (ele e o Ppeito), se concretizasse e que a memória não se apague." (..:)

(...) "Nas memórias guarda o dia da abertura do quartel de Guiledge, em que 'veio um batalhão de artilharia' (sic) "(leia-se um Pelotão de Artilharia).

Lembra-se da visita do próprio António Spínola

(...) "Pepito", como recordou, "fez um grande esforço" para revitalizar este espaço, "mas a canoa ficou pelo caminho" porque "sem sucessor o trabalho não vai".

Ninguém lhe paga nada por esta tarefa, ele tem outras fontes de rendimento. Mas é o seu amor a este projeto que o leva a guiar os visitantes e a zelar pelo que resta. (***)



Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje > 7 de fevereiro de 2018 > Núcleo Museológico Memória de Guiledje >  Memorial à CCAV 8350 (1972/1974) e ao alf mil Lourenço, morto por acidente em 5/3/1973. De seu nome completo Victor Paulo Vasconcelos Lourenço, era natural de Torre de Moncorvo, está sepultado na Caparica. Foi uma das 9 baixas mortais da companhia também conhecida por "Piratas de Guileje" e um dos 75 alferes que perdeu a vida no CTIG..

Em segundo plano, vê-se o nicho que ao tempo da CCAÇ 3477 (1971/77), "Os Gringos de Guileje", abrigava a  imagem de Nossa Senhora de Fátima e do Santo Cristo dos Milagres. A CCAÇ 3477 era, na alturam, comandada pel cap mil Abílio Delgado, nosso grã-tabanqueiro.

Fotos: © Anabela Pires (2018). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]




 Guiné-Bissau > Região de Tombali > Guileje >  > Placa indicativa do local onde existiu um dos espaldões de artilharia. do obus 14.

Foto (e legenda);  © Carlos Afeitos (2013). Todos os direitos reservados.  [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné.]





Guiné < Região de Tombali > Carta de Guileje (1956) > Escala 1/50 mil > Pormenor: posição relativa da povoação de Guileje, situada a cerca de 8 km da fronteira com a Guiné-Cronaki (a leste).

Infografia: © Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2013). Todos os direitos reservados.

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Notas do editor:

(*) Simposium Internacional de Guiledje (Bissau, 1-7 de março de 2008) > Quinta-Feira, 6 de Março, na Assembleia Nacional Popular

Painel 4 > Guiledje: Factos, Lições e Ilações

(depoimentos e testemunhos de elementos da população, dignitários, testemunhos presenciais, régulos, ex-combatentes do PAIGC e ex-milícias africanas do Exército português)

Moderadora: Isabel Buscardini (Ministra dos Combatentes da Liberdade da Pátria)

9h00 - 9h30: Úmaro Djaló (Comande Militar do PAIGC) – A minha experiência de guerrilheiro e de comandante no Sul da Guiné-Bissau: achegas para a História de Guiledje.

9h30 - 10h00: Buota Na N’ Batcha (Comandante Militar do PAIGC) – A acção dos bi-grupos e dos corpos de Exército do Sul na guerra de libertação nacional: o caso do assalto ao aquartelamento de Guiledje.

10h00 - 10h30: Joãozinho Ialá (ex-guerrilheiro do PAIGC) – Memórias do Assalto ao Quartel de Guiledje, Gandembel e Balanacinho.

10h30 - 11h00: Francisca Quessangue (Enfermeira do PAIGC) – Os aspectos sanitários-logisticos do PAIGC no assalto ao quartel de Guiledje

11h00 - 11h30: Pausa Café

11h30 - 11h50: Fefé Gomes Cofre (ex-guerrilheiro do PAIGC) – O meu testemunho sobre o assalto ao Quartel de Guiledje.

11h50 - 12h10: Salifo Camará (Régulo de Cadique) – O papel das populações civis na guerra de libertação no Sul e no assalto ao aquartelamento de Guiledje.

12h10 - 12h30: Camisa Mara (ex-milicia do Exército português) – A vida no Quartel de Guiledje

12h30 - 12h50: Cadjali Cissé (ex-guerrilheiro do PAIGC) – A minha participação no Assalto a Guiledje

12h50 - 13h10: A designar (condutor) – A minha experiência no transporte de munições e mantimentos

13h30 - 15h00: Almoço (...)


(**) Vd. poste de 19 de março de 2010 > Guiné 63/74 - P6020: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (16): Um dia de ronco, um lugar de (re)encontros, uma janela de oportunidades (Parte I)

(***) Último poste da série > 8 de outubro de 2013 > Guiné 63/74 - P12127: Núcleo Museológico Memória de Guiledje (23): A placa toponímica "Parada Alf Tavares Machado" estava afixada na parede da messe de sargentos (Luís Guerreiro, Montreal, Canadá, ex-fur mil, CART 2410, 1968/70)

segunda-feira, 6 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25487: Notas de leitura (1689): Não há tesouro literário como este na Guiné-Bissau: uma criança, uma guerra, uma bicicleta (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 21 de Outubro de 2022:

Queridos amigos,
Lê-se sempre esta joia e descobre-se mais um ângulo iridescente, este feliz acaso de escrever uma fábula que é capaz de iluminar o mundo pela inocência de uma criança que se transforma num estafeta da guerra, mas sempre sem perder de vista que soterrou a sua tão querida bicicleta, uma amizade inquebrantável. Aquela guerra de horrores inenarráveis não lhe subtraiu a alegria do sonho, o desejo de partilhar a felicidade com a malta fixe de Porto dos Batuquinhos, se bem que todos ficassem muito mais crescidos depois de tanto ódio e tanta destruição, danos incalculáveis na sua formação. E termina a fábula porque o sonho vai ser reavivado, tudo termina como numa ode triunfal: "Quando se sentou no selim sentiu-se de novo dono do mundo. E os dois pedalaram para a eternindade".

Um abraço do
Mário



Não há tesouro literário como este na Guiné-Bissau: uma criança, uma guerra, uma bicicleta

Mário Beja Santos

Custa-me entender como esta obra não conhece reedição, em Portugal ou na Guiné-Bissau, não é um conto para crianças, embora o herói seja um jovem que se vê envolvido naquele pesadelo do conflito político-militar de 1998-1999, é uma fábula a quatro mãos, um escritor prodigioso e um desenhador exímio, Jorge Araújo e Pedro Sousa Pereira. Como escreve José Vegar na nota introdutória desta crónica de guerra para leitura dos adultos, o que aqui preside é uma luminosidade própria de crianças, a geografia e o tempo são brutalmente reais e ali o menino consegue manter vivo o seu mundo, a sua carga afetiva é uma lição para a humanidade.

O discurso encantatório enleia-nos naquela história que começa num domingo, dia de missa e futebol, de carne ao almoço e tolerância de ponto ao acordar, mas nesse dia explodiu uma guerra. Se é fábula, temos que saber se é de opulências ou de agruras redentoras, o melhor é começarmos por conhecer a família Sissé que vive em Porto dos Batuquinhos, na margem de um rio que a seca engoliu: “Vivia numa casa com paredes de cartão, telhados de colmo, alcatifa de terra batida. As camas eram esteiras que, enroladas durante o dia, serviam de cadeiras. A cozinha, bem no centro da palhota, não passava de meia dúzia de pedras calcinadas dispostas em círculo, a casa de banho, um buraco aberto no quintal. A única mobília era um calendário de Nossa Senhora de Fátima que a madrinha de Hussi ofereceu à mãe no dia do seu nascimento.” O pai de Hussi chama-se Abdelei Sissé, vai partir para a guerra ao lado do brigadeiro Raio de Sol. A mãe é dona Geca, e há três irmãos, todos mais novos do que ele. Ora, naquele dia de futebol em que o senhor do apito era o dito brigadeiro, primou pela ausência. Acontece que o brigadeiro se saturou das prepotências do comandante Trovão, o tirano da terra, juntou os veteranos na guerra colonial e partiram todos para a Guerra do Balão.

O pai Abedelei ordena à família que regressem à aldeia dos antepassados, logo se pôs a questão da bicicleta, descobrimos que Hussi tem uma bicicleta que fala, ele sossega a bicicleta que tem medo, enterra-a, prometendo que logo a guerra acabe a irá buscar. Lá se põem todos a caminho, as saudades da bicicleta são imensas, Hussi vai fugir, apresenta-se ao pai, este furioso, enfim, Hussi vai intervir no confronto. “Transportou armas e munições para a linha da frente, fez de pombo-correio, foi ajudante de cozinheiro. Aprendeu a cozinhar arroz de todas as maneiras e feitios, mas durante quase um ano o prato principal foi uma mão-cheia de nada. Não matou mas viu morrer. Conviveu com o cheiro nauseabundo dos cadáveres em decomposição, partilhou o dia-a-dia de combatentes com nomes estranhos como Capacete de Ferro ou Rambo das Facas, assistiu ao espetáculo dos abutres a depenicarem restos de corpos de mercenários estrangeiros, tropeçou em esqueletos de soldados que não tiveram direito a última morada. Caminhou entre os horrores de uma guerra fratricida com a mesma inocência com que antes pedalava na sua bicicleta pelas ruas da cidade de asfalto.”

E assim se arrastou a Guerra do Balão. O comandante Trovão acreditava que aquela guerra eram favas contadas, todos aqueles sublevados iam ser atirados à água, no seu círculo de cortesãos mentia-se sobre a realidade da guerra, houve mesmo quem se atrevesse a dizer que estavam empatados, o chefe de Estado-Maior deu explicações: “Nós controlamos a cidade do asfalto, o inimigo a cidade de terra. Quando conquistamos uma alfeia do litoral, eles tomam logo conta de uma no interior. Mandamos no mar, eles no rio. A frente norte é nossa, a leste é deles”. A fúria do comandante Trovão não tinha medida, fulminou o chefe de Estado-Maior com um tiro de pistola. Como tudo é fábula, não faltam bruxos, profecias, fala-se mesmo numa bicicleta que ajuda muito a causa dos sublevados, o comandante Trovão dá mesmo essa ordem, é preciso destruir tal bicicleta, pôr termo ao feitiço.

Até que num domingo, as forças do brigadeiro Raio de Sol fizeram um assalto ao Palácio, Trovão teve que fugir, Hussi assistiu ao fogo-de-artifício da artilharia, viu o Palácio ser pilhado, livros queimados, saqueado, o menino anda eufórico pela cidade, ele é a mascote dos revoltosos, a guerra de Hussi ainda não terminou, tem que pôr a sua bicicleta em funcionamento, o coração aperta-se quando ele vê a casa destruída. Teve uma visão, o talismã que colocara sobre as cinzas para proteger a bicicleta na altura da fuga deu-lhe o sinal onde devia cavar, não há mais belo reencontro neste arremedo de literatura infantojuvenil para gente que padeceu de uma guerra sanguinolenta, que deixou brechas ainda hoje por colmatar como este, Hussi vai cavando as entranhas da terra e conversa com a sua bem-amada bicicleta, emocionam-se, a bicicleta sempre soube que Hussi iria voltar.

E o final desta magia ou desta pérola da literatura luso-guineense é mesmo assim:

“Hussi e a sua bicicleta ainda tinham muito para falar. Era toda a conversa de uma guerra para pôr em dia. Havia algumas coisas boas mas sobretudo muito más para partilhar. À luz do dia, olhos nos olhos, sem transmissão de pensamento. Hussi limpou o retrovisor com o seu velho lenço amarelado, sacudiu o pó que asfixiava o cachecol do Barcelona, colocou a fitinha tricolor do outro lado do guião, ajustou os pedais com a sola das sandálias. Quando se sentou no selim sentiu-se de novo dono do mundo. E os dois pedalaram para a eternidade.”

Dizem os autores que Hussi existe, nasceu em Bissau, de uma família pobre e tem três irmãos, andará hoje pela casa dos 35/36 anos. Insisto que não entendo como é que esta lição de vida, esta inocência tão resiliente não anda na boca do mundo, como fábula e como monumento literário. Coisas do destino – será?

Pedro Sousa Pereira e Jorge Araújo
Fotografia de João Francisco Vilhena no semanário “O Independente”, maio de 1999
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Nota do editor

Último post da série de 3 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25474: Notas de leitura (1688): Factos passados na Costa da Guiné em meados do século XIX (e referidos no Boletim Oficial do Governo Geral de Cabo Verde, anos 1850 e 1851) (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P25486: Louvores e Condecorações (15): Cruz de Guerra de 4ª classe, a título póstumo, para o fur mil op esp / ranger Dinis César de Castro, da CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, morto na emboscada de 12/10/1970, na estrada Braia - Infandre


Cruz de Guerra de 4ª Classe. Imagem:
cortesia do Portal UTW - Dos Veteranos da
Guerra do Ultramar


1. Já referimos as cirunstâncias da morte, em combate, do fur mil op esp / ranger Dinis César de Castro,  CCAÇ 2589 / BCAÇ 2885, na emboscada do dia  12 de outubro de 1970, no troço de estrada Braia-Infandre.  (*)

O nosso camarada Dinis César de Castro era natural de Castrejo, Bragança, e o seus restos mortais foram inumados no cemitério do Prado do Repouso (Porto). 

Segundo o nosso coeditor Eduardo Magalhães Ribeiro, o Dinis foi  um dos 20  "rangers", saídos do CIOE - Centro de Instrução de Operações Especiais, em Lamego, que morreram no TO da Guiné.

Escreveu o nosso camarada Afonso Sousa (*), baseando-se no testemunho de vários camaradas que participaram no socorro às vítimas (a começar pelo fur mil  António Silva Gomes, do Pel Caç Nat 58,  que veio do destacamento de Braia, bem como de outros  como  o 1º cabo enf do HM 241, António Oliveira,  e o 2º srgt mil Augusto Ali Jaló (comandante da coluna, será ferido com gravidade; "na cerimónia do 10 de junho de 1970, em Bissau, foi condecorado com a medalha de cobre de Serviços Distintos com Palma; em Agosto, seguinte, foi promovido a 2.º sargento"):

(...)  O furriel Dinis César de Castro foi capturado, tendo-lhe sido exigido que tirasse a farda. Recusou-se, com grande determinação e enorme sentido de patriotismo. Foi cruelmente rasgado, de lado a lado, com rajada de metralhadora. 

Este incomensurável gesto de patriotismo haveria de ser reconhecido pelo Estado português,  quando, na cerimónia do 10 de Junho de 1971,  Dinis César de Castro foi condecorado, a título póstumo,  com a Cruz de Guerra. (...)

Recorde-se a medalha da Cruz de Guerra destina-se a galardoar "actos ou feitos praticados em combate" (sic), sendo a atribuição de qualquer das classes da Cruz de Guerra (1ª, 2ª 3ª e 4ª) "dependende(nte) da posição hierárquica da entidade que confere o louvor, sendo condição essencial, justificativa da concessão de qualquer das classes desta condecoração, que os louvores respectivos refiram actos ou feitos praticados em combate, demonstrativos de coragem, decisão, serena energia debaixo do fogo, sangue-frio e outras qualidades que honrem o militar em frente do inimigo." (Portal UTW - Dos Veteranos da Guerra do Ultramar).

 

Furriel Milicianio de Infantaria Dinis César de Castro, CCaç 2589/BCaç 2885 - RI 15,  Guiné  > Cruz de Guerra de 4ª Classe (Título póstumo) (**)

Transcrição do Despacho publicado na OE nº 022 - 3ª série, de 1971.

Agraciado com a Cruz de Guerra de 4ª classe, a título póstumo, nos termos do artigo 12.° do Regulamento da Medalha Militar, promulgado pelo Decreto n.º 35667, de 28 de Maio de 1946, por despacho do Comandante-Chefe das Forças Armadas da Guiné, de 21 de Junho findo, o Furriel Miliciano de Infantaria, Dinis César de Castro, da Companhia de Caçadores n.º 2589/Batalhão de Caçadores n.º 2885 - Regimento de Infantaria n.º 15.

Transcrição do louvor que originou a condecoração (Publicado na OS n. 024, de 17 de Junho de 1971, do QG/CTIG):

Que, por despacho de 09Jun71, o Brigadeiro Comandante Militar louvou, a título póstumo, o Furriel Miliciano, n.º 15398468, Dinis César de Castro, da CCaç 2589/BCaç 2885, porque, numa emboscada levada a efeito por um grupo inimigo numericamente muito superior e tendo a viatura em que seguia ficado na 'zona de morte', patenteou invulgares qualidades de coragem, decisão, sangue-frio e muita serenidade debaixo de fogo.

Ligeiramente ferido num braço logo aos primeiros tiros, reagiu prontamente, tentando a todo o custo aproximar-se da testa da coluna, onde o número de baixas era mais elevado, sendo mortalmente atingido quando prestava ajuda a um camarada que se vira cercado por quatro elementos inimigos.

Com o seu acto, pleno de generosidade, demonstrou o Furriel Castro uma compreensão nítida dos seus deveres que o levaram até à dádiva da sua própria vida, o que além de constituir exemplo inesquecível, ficará a merecer a maior admiração e o respeito de todos.

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 5.° volume: Condecorações Militares Atribuídas, Tomo VI: Cruz de Guerra (1970-1971). Lisboa, 1994, pág. 491.

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Guiné 61/74 - P25485: Os 50 anos do 25 de Abril (17) : Conversas sobre "Portugal-África. Guerra Colonial. Madrinhas de Guerra", com Marta Martins Silva e 3 antigos combatentes, Hélder Sousa, Luís Graça e Jaime Silva. 3ª feira, dia 7 de maio, no ISCSP-ULisboa, Campus Universitário do Alto da Ajuda

 


Cartaz do evento "Vozes e Pensamento em Torno de uma Revolução", a ter lugar no auditório Oscar Soares Barata, ISCSP - Instituto Superior de Ciências Sociais e Políticas, Universidade de Lisboa, 

Campus Universitário do Alto da Ajuda
Rua Almerindo Lessa - 1300 - 663, Lisboa
+351 213 619 430 | +351 213 619 442 



Às 16h00 de amanhã, 3ª feira, dia 7 de maio, haverá uma conversa sobre "Portugal-África. Guerra Colonial. Madrinhas de Guerra". Os convidados são Marta Martins Silva (jornalista e escritor), e os antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial  Hélder Sousa e Luís Graça (TO da Guiné) e Jaime Silva (TO de Angola).

A participação destes três membros da nossa Tabanca Grande nasceu de um desafio (e convite) lançado ao "régulo" da Magnífica Tabanca da Linha, Manuel Resende, no passado dia 14 de março de 2024. A professora associada, especialista em antropologia,  do ISCSP, Sónia Frias, esteve pessoalmente com alguns de nós, já no fim do almoço do 55º convívio, em Algés. 

Originalmente estavam previstos 3 nomes,  o Hélder Sousa, o Luís Graça e o Virgínio Briote. Por razões de datas, o Virgínio Briote (que previa por esta altura ter que fazer uma operação a uma catarata) foi substituído pelo Jaime Bonifácio Marques da Silva (que vem trazer outra experiência como antigo alferes miliciano paraquedista, BCP 21, Angola, 1970/72). A conversa entre os três é centrada sobre a sua experiência pessoal como antigos combatentes da guerra do ultramar / guerra colonial. 

O evento é aberto ao público. A conversa é moderada por dois alunos da prof Sónia Frias (cremos que um da licenciatura de antropologia, e outro de serviço social). 

Segue-se, às 18h00, uma conferência sobre a "componente externa" do 25 de Abril, a cargo de Fernando Jorge Cardoso (UAL).

Recorde-se que o ISCSP (que tem diversos cursos e programas de licenciatura, mestrado e doutoramento em antrolopologia, serviço social, sociologia, ciência política, ciênicas da comunicação,  relaçõe internacionais, gestão de recursos humanos, administração pública e políticas do território) é uma instituição já centenária, com forte ligação aos países de língua portuguesa.

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Nota do editor:

Último poste da série > 2 de maio de 2024 > Guiné 61/74 - P25469: Os 50 anos do 25 de Abril (16): O fotornalismo da guerra, que os senhores do lápis azul deixavam passar, às vezes, em revistas como a "Flama", órgão oficial da JEC-Juventude Escolar Católica (1937-1983)

Guiné 61/74 - P25484: O nosso livro de visitas (222): Jorge Camilo Handem, o novo diretor executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento (Bissau)

Guiné-Bissau > Bissau > c. 2006 > Pepito (1949-2014) e o Carlos Fortunato, ex-fur mil trms da CCAÇ 13, "Os Leões Negros" (Bissorã, 1969/71) e presidente da direção da ONG Ajuda Amiga)... Impossível não evocar, mais uma hoje, o nosso querido Pepito (que, além de líder histórico da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, também era um grande...sportinguista) (*)


Foto (e legenda): © Carlos Fortunato (2021). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Jorge Camilo Handem, o novo diretor executivo da ONG AD - Acção para o Desenvolvimento, com sede em Bissau, no Bairro do Quelelé


Data - terça, 23/04/2024, 19:45 
Assunto - OND AD

Luís Graça,

NA ONG AD, depois de muitos e longos anos de instabilidade institucional, os sócios decidiram eleger uma nova direção em 2022 com o objetivo de retomar as dinâmicas a que sempre nos acostumou.

Por isso solicitamos o envio de mensagens para o seu atual Diretor Executivo (Jorge Camilo Handem, jorgito.handem@gmail.com), que está a trabalhar juntamente com a Isabel Levy e a Catarina Schwarz (filha do Pepito).

Mais uma vez reiteramos a vossa colaboração de sempre. O nosso amigo Patrício Ribeiro nos chamou a atenção à cerca das diversas publicações que retiraram da nossa página que atualmente encontra-se em ativo, ao contrário de alguns anos a trás.

Abraço
Jorge Handem (**)

2. Comentário do editor LG:

Olá, Jorge, penso que já nos conhecemos do tempo do Simpósio Internacional de Guileje, março de 2008. Convivi com alguns de vocês no Bairro do Quelelé, nessa altura. De qualquer modo, ainda há dias o Cherno Baldé nos disse aqui que ele e tu (vamo-nos tratar por tu, que é muito mais simples) estiveram juntos, no estrangeiro, a fazer a vossa licenciatura, na segunda metade dos anos 80. Por outro lado, sei  que o teu nome sempre esteve associado, deste o tempo do Pepito, à equipa de cofundadores e colaboradores da AD (cuja origem remonta a 1992, se não erro).

Em meu nome e em nome da Tabanca Grande queremos "partir mantenhas contigo", convidar-te a integrar o nosso blogue (prenchendo, se possível, o "lugar vazio" deixado pelo nosso querido Pepito, à sombra do nosso poilão), e desejar-te boa sorte,  muita coragem, arte e engenho no governo da "nova" AD, felizmente ressuscitada como a Fénix.

Congratulamo-nos pelas boas notícias que recebemos de ti (incluindo o bom andamento das obras de recuperação da vossa sede), e aceitamos o desafio de retomar os contactos e as boas relações que mantivemos convosco até à morte do Pepito. (Depois houve um hiato de praticamente 10 anos, que queremos agora recuperar.) 

Vai dando notícias. E dá notícias também cá da gente aos teus companheiros e amigos, incluindo a Isabel Levy e  a Catarina Schwarz, sem esquecer o nosso correspondente e camarada Patrício Ribeiro, nosso e vosso amigo de Bissau.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste e 15 de junho de  2021 > Guiné 61/74 - P22283: (De)Caras (172): Pepito, o amigo sportinguista (Carlos Fortunato, ex-fur mil trms CCAÇ 13, "Os Leões Negros", Bissorã, 1969/71, e presidente da direção da ONGD Ajuda Amiga)

domingo, 5 de maio de 2024

Guiné 61/74 - P25483: Blogues da nossa blogosfera (194): Recuperando parte dos conteúdos do antigo sítio da AD Bissau - Parte VII: mulheres pescadores do rio Cadique (foto de Ernst Schade)

 


Guiné-Bissau > Bissau > AD - Acção para o Desenvolvimento > Foto da semana > 7 de janeiro de 2007 >  

Integrado na comemoração do seu XVº Aniversário a AD acaba de lançar uma colecção de 9 bilhetes postais incluindo fotografias doadas pelo fotógrafo profissional Ernst Schade, das quais uma delas é esta que retrata as mulheres pescadoras do rio Cadique, na região de Cantanhez, sul da Guiné-Bissau.

A pesca de bolanha é uma actividade determinante para a segurança alimentar das famílias desta zona que com ela asseguram, ao longo do ano, uma parte importante dos recursos proteicos da sua alimentação.


Foto: © Ernst Schade | Legenda: AD  Bissau (2007)

Fonte: Archive Net / AD Bissau (2007)  (o sítio http://www.adbissau.org/ foi 
descontinuado)

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Guiné 61/74 - P25482: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (16): "Linda"

Adão Pinho Cruz
Ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547
Autor do livro "Contos do Ser e Não Ser"

Linda

Tinha um nome muito bonito que não vamos revelar. Contentemo-nos em chamar-lhe Linda, que também não é feio. Tinha um ar luminoso, os olhos cheios de sol. Os cabelos douravam como uma auréola o ar límpido do azul do céu à volta da sua cabeça. Abria-se em nós como romã sumarenta. Uma onda transparente de um qualquer mar de inesperado encanto embalava o olhar de quem dela não conseguia desviá-lo. Tinha quarenta anos e um provável cancro do colo do útero. Mas eu não sabia.

Soube-o mais tarde, quando beijei o seu rosto luminoso e bebi sofregamente o sol dos seus olhos. Quando a sua pele era a minha e eu sentia entrelaçados nos meus os dedos da felicidade. Quando o sangue borbulhou no peito e o coração estremeceu com medo de fraquejar. Quando àquela hora de uma tarde quente de agosto se incendiou e eu não pude imolar-me nas chamas que ardiam dentro de mim, impedido pelo suave cruzar de um dedo sobre os meus lábios. Foi nas Portas de Santo Antão.

Muito tempo antes, um denso nevoeiro cobrira-me a alma como sangue que corre das feridas do tempo. Do tempo e do medo, do medo da guerra, da dor de uma mãe e do choro convulso de um pai e da saudade arrancada à vida e à liberdade. Ela havia-me prometido este beijo no meu regresso, deixasse eu amadurecer a recordação e não tivesse medo do tempo e do silêncio, pois o silêncio nada mais é do que a voz do tempo quando passa. Com essas palavras nos olhos, vi-a desaparecer lentamente no cais à medida que o Uíge se enlaçava nos braços do Tejo.

Com o tempo, as feridas foram cicatrizando e outras foram abrindo, pelas mãos dessa pátria lamacenta empenhada em profanar todos os meus sacrários. Como não havia qualquer deus a receber as honras dos homens, dei a mim mesmo a difícil tarefa de ser eu o senhor e dono do meu invencível desígnio. E o tempo foi passando entre o sonho, o gemido e o silêncio, os vários sons que faz o tempo quando passa, até se perder, por momentos, nas águas fundas do Cacheu. E na voz do silêncio, Linda era ainda uma flor que crescia dentro de mim, regada com as pequenas lágrimas e alegrias do nascer do dia e do cair da noite.

Linda era italiana e divorciada. Tinha um filho de oito anos que gostara de mim. Filha de um diplomata fascista que vivia em Madrid, nunca se abriu sobre assuntos políticos. Sei que era locutora. A mim pouco me importava o que fosse. Era muito terna e bondosa e isso chegava. Eu só queria o sol dos seus olhos. E foi com o sol dos seus olhos dentro da escuridão dos meus, que eu corri para o prometido beijo do meu regresso. Não foi um beijo, foram muitos beijos, tantos quantos pôde conter o tempo que vivemos abraçados, até o seu dedo cruzar os meus lábios.

Disse-me, um dia, que a morte viera visitá-la, mas ela fechara-lhe a porta na cara e sobreviveu. Com alguma luz à volta do seu lindo rosto e ainda com algumas gotas de sol salpicando os olhos molhados, confessou-me que eu continuava a ser, para ela, uma boa recordação. Se fosse mais nova, nunca mais cruzaria o dedo sobre os meus lábios.

Uma remota nuvem cobrindo a memória foi anunciando no tempo que o pássaro de fogo se fez ao caminho dos céus infindos, onde o silêncio voa para não mais ser grito. Tinha um nome muito bonito e inconfundível. Terminava em Nevrly. Ao fim de trinta anos, a lista telefónica de um qualquer hotel teve a amabilidade ou a crueldade de mo oferecer de mão beijada. Do outro lado da linha, uma voz doce da idade, emoldurada de longes e ausências, após algum compreensível silêncio, fez-se ouvir em forma de sussurro: “Sim, é uma boa recordação.”

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Nota do editor

Último post da série de 28 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25455: Contos do ser e não ser: Adão Cruz, ex-Alf Mil Médico da CCAÇ 1547 / BCAÇ 1887 (15): "Laila"

Guiné 61/74 - P25481: Agenda cultural (854): Apresentação do livro "Margens - Vivências de Guerra", de Paulo Cordeiro Salgado, dia 9 de Maio de 2024, pelas 18 horas, na UNICEPE, Praça de Carlos Alberto, 128 - Porto (Paulo Salgado, ex-Alf Mil Op Esp)

C O N V I T E
(Clicar na imagem para ampliar)

1. Mensagem do nosso camarada Paulo Salgado (ex-Alf Mil Op Esp da CCAV 2721, Olossato e Nhacra, 1970/72), autor do livro, "Margens - Vivências De Guerra, com data de 4 de Maio de 2024:

Caros editor e coeditores,
Luís Graça, Carlos Vinhal, Magalhães Ribeiro, V. Briote e J. Araújo

Venho comunicar que o meu recente livro – MARGENS – VIVÊNCIAS DE GUERRA – vai ser apresentado na UNICEPE (Cooperativa Livreira de Estudantes do Porto Crl., que ‘vive’ desde 1963!, sob orientação de um homem de cultura – Rui Vaz Pinto). A editora é a Lema d’Origem, de António Lopes, com sede na aldeia transmontana de Carviçais.

Junto a brochura de apresentação. Este livro teve o seu lançamento na A25A, no dia 8 de Março do corrente ano e é dedicado aos Capitães de Abril.[1] Uma modesta saudação aos militares de Abril que, aliás, outras honras mais elevadas já lhe foram, meritoriamente, dirigidas.

Que livro é este? – perguntareis. De memórias? De situações reais? De ficções? Que ‘ideia’ nele subjaz? Uma catarse, que nunca está completamente feita? Uma coisa é certa: é o terceiro da trilogia: Guiné-Crónicas de Guerra e Amor, Milando ou Andanças por África e este, agora. Fica o convite para uma conversa na UNICEPE, que pode alargar-se a temas vizinhos…

Um abraço para vós e para todos os bloguistas.
Paulo Salgado

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Notas do editor:

[1] - Vd. post de:

12 DE MARÇO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25266: Agenda cultural (850): Síntese da apresentação do livro "MARGENS - VIVÊNCIAS DE GUERRA", da autoria de Paulo Cordeiro Salgado, ex-Alf Mil Op Especiais da CCAV 2721 (Olossato e Nhacra, 1970/72), que esteve a cargo do Coronel António Rosado da Luz (Paulo Salgado)
e
8 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25357: Notas de leitura (1681): "Margens - Vivências de Guerra", por Paulo Cordeiro Salgado; Lema d’origem Editora, Março de 2024 (Mário Beja Santos)

Último post da série de 7 DE ABRIL DE 2024 > Guiné 61/74 - P25352: Agenda cultural (853): 25 de Abril, Três Livros em Festa: amanhã, dia 8, segunda feira, às 18h30, em El Corte Inglés, Lisboa (Manuel S. Fonseca, Ed. Guerra e Paz)

Guiné 61/74 - P25480: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (8): Timor, "terra abençoada por Deus", que os portugueses só conheciam, em 1925, "através de uma tradição de má fama" (isto é, como "lugar de desterro")



Gazeta das Colónias, Ano I, nº 20,Lisoa, 12 de março de 1925 (Com a devida vénia à Hemeroteca Digital de Lisboa / Câmara Municipal de Lisboa)


Artigo de F. C. da Silveira Fernandes (pp. 23/24)
 












1. Timor, tal como a Guiné,  ocupava pouco espaço (e tempo) na cabeça dos "colonialistas" da I República e na imprensa de temática colonial.  

As "joias da coroa" continuavam a ser para tanto para monárquicos como republicanos Angola e Moçambique, as duas grandes colónias, com potencialidades como "terras de povoamento",  que despertavam "a cobiça dos nossos rivais" europeus. Mesmo depois da I Grande Guerra, e da criação da Sociedade das Nações, a soberania portuguesa sobre estes territórios estava longe de estar assegurada. Daí a República se ter tornada uma acérrima defensora do "império colonial".

Além disso, tanto a Guiné como Timor vão continuar a ser, nos anos 20 e 30,  os piores lugares de desterro (para deportados políticos e presos de delito comum), pelo mau clima, pela lonjura e pelo isolamento (**).

Nos 38 números da "Gazeta das Colónias", publicados em dois anos e picos (entre 19/6/1924 e 25/11/1926) e disponíveis em formato html e pdf na Hemeroteca Digital de Lisboa, não encontrámos nenhum cuja capa exibisse um motivo guineense (monumento, topónimo, paisagem, etnia...). E sobre Timor, encontrámos apenas esta a capa que publicamos acima publicamos, da edição nº 20, de 12 de março de 1925.

Recorde-se que a "Gazeta das Colónias"  teve por diretores os majores Oliveira Tavares (que foi também seu administrador até ao n.º 2), António Leite de Magalhães (1878-1944) — a partir do n.º 21, de 25 de abril de 1925 — e José Veloso de Castro (1869- 1930) — do n.º 37 (10 de setembro de 1926) em diante; foram seus editores Maximino Abranches e, a partir do n.º 6 (7 de agosto de 1924), Joaquim Araújo — resumindo-se a este pequeno núcleo a sua estrutura 'fixa', composta à vez por duas pessoas, onde não não havia corpo de redatores." (...)

Em contrapartida, tinha um vasto leque de colaboradores, muitos deles "africanistas" e "colonialistas", com experiência de administração colonial.

A publicação vai encerrar com o nº 41, de 25 de novembro de 1926, já em plena Ditadura Militar, instaurada com o golpe militar de 28 de maio de 1926.

Neste pequeno artigo, o autor, F. C. da Silveira Fernandes (administrador colonial. de quem não sabemos mais nada) fala das "potencialidades agrícolas" da pequena colónia do sudoeste asiático (nomeadamente em culturas  como  a do arroz e do café), e não deixa de fazer comparações com os "rivais holandeses". 

Um dos pontos fracos do território era as comunicações (interna e externas), tal como h0je.   E o autor dá como termo de comparação a ilha de Java, colónia holandesa, com os seus 4 mil quilómetros de caminhos de ferro, as suas infraestruturas portuárias, etc.... A prosperidade de Java é aquela que o autor sonhava para Timor. E pergunta: "Têm porventura os outros mais valor e capacidade colonizadora do que nós?"... Resposta pronta e patriótica: "Não, não têm porque o muito que eles sabem aprenderam connosco"...
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Nota do editor:

(*) Último poste da série > 15 de janeiro de  2024 > Guiné 61/74 - P25071: Capas da Gazeta das Colónias (1924-1926) (7): etnomedicina na região de Libolo e elogio da cidade de Luanda, com cerca de 20 mil habitantes no final da I República

(**) Vd. poste de 28 de abril de 2024 > Guiné 61/74 - P25454: Notas de leitura (1686): Timor Leste, que já foi lugar de desterro e encarceramento (Luís Graça)

Guiné 61/74 - P25479: Parabéns a você (2268): Joaquim Gomes Soares, ex-1.º Cabo At Inf da CCAÇ 2317 / BCAÇ 2835 (Gandembel e Nova Lamego, 1968/69)

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Nota do editor

Último post da série de 3 DE MAIO DE 2024 > Guiné 61/74 - P25472: Parabéns a você (2267): Delfim Rodrigues, ex-1.º Cabo Aux Enfermeiro da CCAV 3366 / BCAV 3846 (Susana e Varela, 1971/73)