
(continua)
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Nota do editor
Último post da série de 20 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26514: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (16)
Blogue coletivo, criado por Luís Graça. Objetivo: ajudar os antigos combatentes a reconstituir o "puzzle" da memória da guerra colonial/guerra do ultramar (e da Guiné, em particular). Iniciado em 2004, é a maior rede social na Net, em português, centrada na experiência pessoal de uma guerra. Como camaradas que são, tratam-se por tu, e gostam de dizer: "O Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... é Grande". Coeditores: C. Vinhal, E. Magalhães Ribeiro, V. Briote, J. Araújo.
Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)
1. Há escritos dispersos, no nosso blogue, sobre o Pilão, bairro popular de Bissau, que merecem ser aqui relembrados, na série "As nossos geografias emocionais" (*)... São historietas pícaras que também servem para descontruir o mito de que o Pilão (corruptela do crioulo Cupelon, hoje Cupelum) era um antro de prostituição, marginalidade e "terrorismo"...
A primeira crónica pícara que escolhemos é do Rogério Cardoso, ex-fur mil, Cart 643 / BART 645, "Águias Negras" (Bissorã, 1964/66)... O autor tem 6 dezenas de referências no nosso blogue, que integra desde dezembro de 2009.
Faz também parte da Magnífica Tabanca da Linha. Era do Serviço de Material / Manutenção Auto. Tem uma cruz de guerra de 4ª classe, No nosso blogue é autor da série "Notas Soltas da CART 643" de que se publicaram 26 postes, entre janeiro e julho de 2010.
Pelo que se deduz do texto (**), o Pilão já fazia parte do roteiro da noite de Bissau, em 1964, tal como o Café Bento (o Rogério Cardoso esteve no CTIG entre março de 1964 e fevereiro de 1966).
O autor faz referência a um grande incêndio que lá teria ocorrido. Trata-se provavelmente do incêndio que devastou o antigo bairro da Ajuda. Mas isso foi no início de 1965. Um novo bairro foi construído, por iniciativa das Obras Públicas locais e com a ajuda da tropa, para os desalojados (140 casas e equipamentos sociais estavam prontos em 1968).
O bairro da Ajuda ficava localizado a oeste da cidadezinha colonial do nosso tempo, a seguir ao Cupelon e a Missirá, mais ou menos a seis quilómetros do centro, a caminho de Brá e do aeroporto de Bissalanca, a noroeste; em frente ao bairro da Ajuda, no lado esquerdo da estrada, ficava o HM 241.
O que importa sublinhar, da leitura desta "visita obrigatória" ao Pilão, é que também nessa época havia militares pouco disciplinados que iam provocar desacatos ao bairro que, de resto, era patrulhado pela tropa.
Dois figurões da noite de Bissau desse tempo seriam o "Mouraria", fuzileiro, e o "Braga", paraquedista. O Rogério Cardoso ("periquito" ou "maçarico", como ainda se dizia nos primórdios da guerra na Guiné...) foi lá com eles, e parece que não ganhou para o susto...
De qualquer modo, ir ao Pilão fazia parte dos "comportamentos de bravata" de alguns militares que, em caso algum, eram representativos das NT...
por Rogério Cardoso (*)
1. Diz-se, no poste P26522 (*):
(...) Temos apenas umas trinta e tal referências sobre o Pilão: famigerado, para uns; triste, para outros, vergonhoso, para os mais puritanos e conservadores... Houve um presidente da Câmara municipal de Bissau, o major Matos Guerra, que por volta de 1966 o terá querido arrasar (segundo o comerciante Carlos Domingos Gomes, "Cadogo Pai", vereador na altura) ...
Ainda bem que prevaleceu o bom senso... (A ideia teria partido do próprio Governador e Comandante-Chefe, Arnaldo Schulz: alegava-se que o Pilão era umn "ninho de terroristas.) (...)
2. Esta história está mal contada pelo "Cadogo Pai" (Bolama, 1929 - Coimbra, 2021), o empresário e político Carlos Domingos Gomes, cujas memórias já aqui publicámos no blogue. E-nos impossível verificarr, caso a caso, por falta de contradeitório, a veracidade factual de tudo aquilo que aqui se escreve pelos nossos amigos e camaradas da Guiné. A não ser a posteriori, muitas vezes, cruzando com outras fontes.
"Cadogo Pai" engana-se nas datas: em 1966, o major Matos Guerra ainda não era major nem muito menos presidente da Câmara Municipal de Bissau, cargo que só exerceu durante dois anos anos e meio, de mar71 a out73 (portanto, no tempo do gen Spínola e não do gen Schulz).
Em 1966, José Eduardo Matos Guerra era simplesmente cap cav, cmdt da CMP 1489 (Bissau, Amura e Sta Luzia, out65/jul67). (**)
Segundo o portal UTW - Dos Veteranos da Guerrra do Ultramar (nota de obituário do cor cav na situação de reforma, Eduardo Matos Guerra, 1931-2016), este antigo combatente, depois da comissão na Guiné (out64/jul67), em 23jul68, encontrava-se colocado como adido na GNR, sendo então "promovido a major"...