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quinta-feira, 27 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26533: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (17)

Foto 131 > Dezembro de 1970 > Olossato > João Moreira > Postal de Natal para "tranquilizar" a família.
Foto 132 > Janeiro de 1971 > Destacamento do Maqué > João Moreira e soldado Duarte
Foto 133 > Janeiro de 1971 > Destacamento do Maqué > João Moreira
Foto 134 > Janeiro de 1971 > Picada do Maqué para Bissorã > João Moreira
Foto 135 > Janeiro de 1971 > Maqué > João Moreira
Foto 136 > Janeiro de 1971 > Destacamento do Maqué > João Moreira
Foto 137 > Janeiro de 1971 > Picada do Maqué para Bissorã > João Moreira
Foto 138 > Fevereiro de 1971 > Olossato > João Moreira

(continua)
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Nota do editor

Último post da série de 20 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26514: Álbum fotográfico de João Moreira (ex-Fur Mil Cav da CCAV 2721 - Olossato e Nhacra, 1970/72) (16)

Guiné 61/74 - P26532: In Memoriam (535): Leite Rodrigues (1945-2025), cap ref da GNR, cavaleiro olímpico, ex-alf mil cav, CCAV 1748 (1967/69), voltou, em abril de 2017, aquela "terra verde-rubra" que continuou a amar, apesar de lá ter sido ferido gravemente em combate, em outubro de 1967 (Fotos: José Manuel Cancela)


Foto nº 5 > Guiné-Bissau > Zona Oeste >  Hotel Rural de Uaque, próximo de Mansoa > Abril de 2017 > O Leite Rodrigues e a sua "pileca" guineense...  Um cavaleiro olímpico mostra o saber-ser, o saber-estar,  o saber-fazer e o saber-montar-em-toda-a-sela... em qualquer parte do mundo!


 Foto nº 6 > Guiné-Bissau > Bafatá > 4 de abril de 2017 > O Leite Rodrigues com a Célia e o João Dinis (1941-2021), donos do restaurante "Ponto de Encontro", porto de abrigo de muitos portugueses que voltam à Guiné em viagem de saudade... 

O João Dinis, nosso grão-tabanqueiro, era também dono da escola de condução automóvel de Bafatá. Era um militar português, da CART 496 (Cacine e Cameconde, 1963/65), integrada no BCAÇ 513 (com sede em Buba)... Vivia na Guiné desde 1963. Natural de Alvorninha, Caldas da Rainha (conterrâneo do cardeal José Policarpo, 1936-2014), casou em janeiro de 1972, aos 31 anos, com a Célia, de 18 anos de idade. O casal teve 3 filhos (um rapaz, falecido aos 25 anos, e duas raparigas mais velhas a viver em Portugal). Infelizmente, morreu de Covid-19, durante a pandemia.


Foto nº 7 > Guiné-Bissau > Bafatá > 4 de abril de 2017 >  No restaurante "Ponto de Encontro". O Leite Rodrigues ao fundo da mesa, do lado direito, tendo á sua esquerda o Antônio  Barbosa, também nosso grão- tabanqueiro.


Foto nº 8 > Guiné-Bissau > Região de Cache > São Domingos, a caminho da praia de Varela, com paragem em Susana  >  Abril de 2017 >  Parte do grupo vendo possivelmente um desafio de futebol na TV... O Leite Rodrigues, ao centro.



Foto nº 9 > Guiné-Bissau > s/l > Abril de 2017 > s/ legenda


Foto nº 10 > Guiné-Bissau >  Zona Oeste >  Hotel Rural de Uaque, próximo de Mansoa > Abril de 2017 >  


Foto nº 11 > Guiné-Bissau > s/l > Abril de 2017 > O grupo (que parece estar completo) com um líder político ou  religioso (?)... Talvez o PR da Guiné. A foto deve ter sido tirada por um dos 2 motoristas.


Foto nº 12 > Guiné-Bissau > s/l >  Abril de 2017  > O Zé Cancela


Foto nº 13 > Guiné-Bissau >  s/l >  Abril de 2017  > O Zé Cancela.


Foto nº 14 > Guiné-Bissau > Bissau >  Ponte Amílcar Cabral sobre o Rio Mansoa >  Abril de 2017  > O Zé Cancela.


Foto nº 15 > Guiné-Bissau > Região do Cacheu  >  Abril de 2017  > O Zé Cancela, de pé, encontados ao monumento que parece ser um antigo "padrão dos Descobrimentos", eventualmente transformado em monumento às vítimas da escravatura e trafico negreiro: o brasão de armas de Portugal terá sido picado, aproveitou-se a pedra... À esquerda, de costas, está o Leite Rodrigues e o Vitorino.


Fotos (e legendas): © José Cancela (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. O nosso camarada Leite Rodrigues (1945-2025), que passou a integrar a Tabanca Grande a título póstumo, sob o nº 899,  voltou à Guiné-Bissau em abril de 2017, com mais camaradas da Tabanca de Matosinhos: o José Manuel Cancela, o  João Rebola (1945-2018) (ex-fur mil,  CCAÇ 2444, Bula, Có, Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70), o António Barbosa, o Angelino Silva, o José Manuel Samouco, o Eduardo Moutinho, o Rodrigo Teixeira e o Monteiro...

 Penso que ficaram instalados no Hotel Coimbra, alugaram dois jipes, e percorreram parte da Guiné (Bissau, Zona Oeste e Zona Leste). Não temos aqui â mão o percurso. Foi na época seca, abril de 2017.
 
O Zé  Cancela teve a gentileza, a meu pedido, de me mandar algumas fotos desta viagem. Já publicámos algumas no poste P26527 (*). 

 Recorde-se que o Leite Rodrigues foi ferido com gravidade  em outubro  de 1967,  no decurso da Op Invicta II  na região de Caresse, a  caminho de Sinchã Jobel no subsetor  de Geba, sector L2 (Bafatá),  quando a sua CCAV 1748 estava aquartelada em Contuboel...  (Foi evacuado para o HM 241 e depois para o HMP, já não tendo regressado à Guiné.) 

Seria interessante que um ou mais dos seus companheiros de viagem pudessem partilhar aqui, connosco, as reações do nosso camarada recentemente falecido. Seguramente partilhou nessa altura (e depois na Tabanca de Matosinho) as suas emoções com o grupo.  (**)

PS1 - O José Manuel Cancela foi ex-Soldado Apontador de Metralhadora, CCAÇ 2382 (Buba, Aldeia Formosa, Mampatá, 1968/70). Tem mais de 4 dezenas de referências no nosso blogue.

PS2 - Afinal o grupo que foi à Guiné-Bissau, de 30 de março a 7 de abril de 2017, era maior: "13 elementos, que englobavam os colegas Moutinho, Vitorino, Rebola, Ferreira, Marques Barbosa, Leite Rodrigues, Isidro, Monteiro, Cancela, Rodrigo, Angelino, Samouco (que embarcou em Lisboa) e eu próprio" (António Acílio Azevedo, ex-Cap Mil, cmdt da 1.ª CCAV/BCAV 8320/72, Bula e da CCAÇ 17, Binar, 1973/74): o nosso camarada, membro da Tabanca Grande, fez a reportagem completa desta viagem, em 11 postes, publicados em setembro e outubro de 2017.
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26527: Tabanca Grande (568): Homenagem ao capitão e cavaleiro Leite Rodrigues (Aveiro, 1945 - Matosinhos, 2025), ex-alf mil cav, CCAV 1748 (1967/69), membro da Tabanca de Matosinhos: passa a sentar-se, simbolicamente, no lugar n.º 899, sob o nosso poilão, a título póstumo

(**) Último poste da série > 24 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26523: In Memoriam (534): O Alberto Leite Rodrigues que eu conheci (José Teixeira/Tabanca de Matosinhos)

Guiné 61/74 - P26531: Parabéns a você (2354): Luís Cardoso Moreira, ex-Alf Mil Sapador Inf da CCS/BART 2917 e BENG 447 (Bambadinca, Nhabijões e Bissau, 1970/72)

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Nota do editor

Último post da série de 26 de Fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26528: Parabéns a você (2353): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da Força Aérea Portuguesa (1979/82)

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26530: Historiografia da presença portuguesa em África (468): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1897 e 1898 (24) (Mário Beja Santos)

1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá, Finete e Bambadinca, 1968/70), com data de 17 de Outubro de 2024:

Queridos amigos,
O Dr. Marques Perdigão, em nome da Junta de Saúde, faz o relatório alusivo a 1896, não esconde o quadro de ineficiências e faltas, deixa os seus apelos para haver mais médicos e enfermeiros, volta a apelar ao Governo da Província para ainda se continuar a estudar a flora da Guiné; o novo Governador é Álvaro Herculano da Cunha, pede pensões para dois heróis de guerra, um deles, em combates no Oio, foi mortalmente atingido e tudo fez para entregar a bandeira portuguesa, de que ele era portador e zelador; o régulo de Intim anuncia o seu preito e homenagem ao rei de Portugal, é mesmo batizado em Bolama, chama-se Tabanca Soares, promete obediência de todos os régulos da ilha de Bissau, o que não vai acontecer, suceder-se-ão as rebeliões que só conhecerão acalmia na campanha de Teixeira Pinto em 1915.

Um abraço do
Mário



A Província da Guiné Portuguesa
Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1897 e 1898 (24)

Mário Beja Santos

Fez-se a referência no texto anterior ao relatório do serviço de saúde da Guiné Portuguesa referente a 1896, é assinado por António Maria Marques Perdigão. À semelhança de outros relatores, o médico descreve o contexto histórico, a geografia, o quadro das condições hígiossanitárias nas principais povoações e não deixa de observar os problemas postos à classe médica, farmacêutica e de enfermagem, como escreve:
“Durante a minha gerência só houve três médicos do quadro em toda a província que são os que ainda hoje existem. É urgentíssima a necessidade de médicos para o serviço da província. Em Bolama devem estar, para comporem a Junta de Saúde, três médicos: o subchefe, um facultativo de 1.ª classe e um de 2.ª ou 3.ª, pronto sempre para seguir para qualquer ponto que demande socorros urgentes; em Bissau, um de 1.ª classe; e em cada uma das povoações acima indicadas (Geba, Farim, Cacheu e Buba) um de 2.ª ou 3.ª. Há falta também de pessoal farmacêutico. Se os três farmacêuticos que devem pertencer à Guiné estivessem sempre, o mal estava remediado, porque em Bolama são indispensáveis dois e em Bissau um. Ora, durante a minha gerência, nunca houve três farmacêuticos na província. É assim impossível dar-se cumprimento ao serviço, atendendo a que na Guiné não há farmácias particulares e, por isso, as do Estado têm que vender ao público. Os farmacêuticos em Bolama têm em seu cargo, além de toda a escrituração que é grande e complexa, o satisfazerem de todas as requisições na farmácia, o aviamento de todos os medicamentos para o hospital, remédios a indigentes, e venda ao público. Pois, repetidas vezes, tem estado um só farmacêutico com todos estes encargos, como agora sucede por motivo de doença de um deles.
É impossível cumprir-se convenientemente o serviço só com um farmacêutico, porque além do receituado do hospital tem a farmácia de Bolama de satisfazer todas as requisições para a farmácia de Bissau e para as sete ambulâncias da província.”


E continua a insistir para que se mande para a Guiné dois facultativos e um farmacêutico. Lembra que não há socorros médicos em Geba, Farim, Cacheu e Buba e mais pontos ocupados da Guiné. Recorda ao pessoal de enfermagem: em Bolama enfermeiro-mor, um enfermeiro de 2.ª classe e dois ajudantes; em Bissau, um enfermeiro de 2.ª classe e um ajudante; em cada uma das duas ambulâncias e delegações um enfermeiro de 2.ª classe. As irmãs hospitaleiras têm a seu cargo alguns serviços de enfermagem e tece-lhes louvor.

Lembra o mau estado em que se encontra a enfermaria militar e civil de Bissau e a respetiva farmácia: é um verdadeiro pardieiro, a enfermaria é uma casa velha sem condições de salubridade e higiene, soalho sujo, parecendo não ter sido lavado há muitos meses. E o seu relatório não deixa de acabar de modo surpreendente:
“A Junta de Saúde da Guiné torna bem patente o seu interesse pelas ciências naturais e em especial pela ciência que professa, propõe que desde já se proceda à exploração botânica da Guiné. A verba que para esse fim é destinada no orçamento da província é diminutíssima, e é por isso que a Junta de Saúde vem solicita toda a proteção. O estudo da flora da Guiné é em grande parte desconhecida, sendo certo poucas regiões haverá onde ela seja mais abundante, mais variada e mais útil sob o ponto de vista médico.”
Tudo isto é matéria constante do Boletim Oficial n.º 18 de 1897.

Estamos agora em 1898 e vejam-se algumas notícias curiosas publicadas no nº9, de 26 de fevereiro: “Tendo sido morto na última guerra do Oio o chefe Mandiga de nome Quecuta Mané, pela sua valentia, coragem e inexcedível dedicação pela bandeira portuguesa, e atendendo aos bons e irrelevantes serviços que prestou nas últimas guerras de Geba e Bissau, aonde se distinguiu sempre dos seus companheiros: hei por conveniente, com o intuito de galardoar tais serviços à nação, conceder a começar desta data uma pensão anual de 36$000 a Mané, filho do referido Quecuta Mané, ficando esta minha resolução pendente da aprovação do Governo de Sua Majestade.” E, mais adiante: “Tendo sido morto, em diligência o Mandiga de nome Lamini Injai, chefe de uma das tabancas do presídio de Farim, na ocasião em que foram atacados pela gente do Oio, defendendo enquanto pôde a bandeira nacional que lhe tinha sido confiada, entregando-a a um soldado que chamou depois de se sentir mortalmente ferido, o que demonstra muita dedicação e patriotismo: hei por conveniente, no intuito de galardoar os serviços que prestou à nação estabelecer a começar da presente data, uma pensão anual de 36$000 ao filho do referido Lamini Injai, de nome Jaime Falcão, ficando esta minha resolução dependente da aprovação do Governo de Sua Majestade.”

E terminamos com o auto de preito e homenagem prestada ao Governo português, pelo régulo de Intim, Tabanca Soares e seus grandes, vem publicado no Boletim n.º 21, de 27 de maio de 1899. O auto indica a data de 13 de maio, decorre no Palácio do Governo, estão presentes o Governador e altas individualidades e escreve-se o seguinte:
“Pelo régulo de Intim foi dito que vinha cumprimentar Sua Excelência o Governador, que nunca régulo algum da ilha de Bissau tinha vindo a Bolama com este fim, por a isso se oporem as suas leis, mas que, reconhecendo ele plenamente a soberania de Portugal, sobre o seu país, vinha espontaneamente dar preito e homenagem a Sua Majestade.
Para provar a sinceridade das suas declarações, pedia que o Governo colocasse um destacamento militar no seu território, o qual seria garantia segura da completa submissão dos povos de Intim mais que lhe estão subordinados. Disse que nenhum régulo da ilha de Bissau tinha mais poder do que ele. Punha à disposição do Governo português toda a sua influência para que a ordem na ilha de Bissau nunca fosse alterada.”

Respondeu o Governador que aceitava este preito de homenagem, que imediatamente ia dar conhecimento ao Governo da metrópole, e que o Governo português estava pronto a proteger todos aqueles que mostrassem submissos às suas ordens e que nada mais queria senão paz e trabalho, porque eram as únicas garantias do progresso do desenvolvimento da Guiné. Na sequência deste auto de preito e homenagem segue-se o auto da ocupação do território de Intim, na circunstância foi batizada em Bolama o rei de Intim, Tabanca Soares, com o nome de Carlos. Dava-se como confirmado que os povos da ilha de Bissau (Intim, Antula, Bandim, Biombo e Safim) têm se esmerado em demonstrar respeito e amizade pelo Governo. No ato de se assinar o auto de ocupação, o negociante Otto Schacht, como o mais antigo estrangeiro na Guiné, levantou um viva à bandeira portuguesa e a Sua Majestade, foi correspondido pelo Governador e todas as pessoas presentes, deram-se vivas aos chefes de Estado a Alemanha, Inglaterra, França, Itália e Bélgica.

Dezembro de 1897, vai chegar novo Governador, 1.º Tenente da Armada Real, Álvaro Herculano da Cunha
Morreu Pedro Ignacio de Gouveia, duas vezes Governador da Guiné
Provavelmente atividade tipográfica na Imprensa Nacional da Guiné. Imagem restaurada e que consta da Casa Comum/Fundação Mário Soares
Estaleiros da Casa Gouveia no Ilhéu do Rei. Imagem restaurada e que consta da Casa Comum/Fundação Mário Soares

(continua)

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Nota do editor

Último post da série de 19 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26510: Historiografia da presença portuguesa em África (467): A Província da Guiné Portuguesa - Boletim Official do Governo da Província da Guiné Portuguesa, 1896 e 1897 (23) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P26529: As nossas geografias emocionais (47): Bissau, Cupelon / Pilão: histórias pícaras - Parte I (Rogério Cardoso, ex-fur mil mec auto, CCAÇ 643, Bissorã, 1964/66)



Guiné-Bissau > Bissau >  Planta de Bissau (edição, Paris, 1981) (Escala: 1/20 mil) > Posição relativa do bairro do Cupelon, ou "pilão", como diziam os "tugas" (assinalado com retângulo a amarelo)... Hoje é conhecido como Cupelum. Fi
ca(va) à esquerda da nossa conhecida estrada de Santa Luzia, portanto paredes meias com o QG/CTIG, em Santa Luzia... O Pilão fazia parte das nossas geografias emocionais... A noroeste,  a seguir a Missirá, no sentido de Brá e Bissalanca, ficava o bairro da Ajuda, reconstruído entre 1965 e 1968 (assinalado a azul).

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2025)


1. Há escritos dispersos, no nosso blogue, sobre o Pilão, bairro popular de Bissau, que merecem ser aqui relembrados, na série "As nossos geografias emocionais" (*)... São historietas  pícaras que também servem para descontruir o mito de que o Pilão (corruptela do crioulo Cupelon, hoje Cupelum) era um antro de prostituição, marginalidade e "terrorismo"... 

A primeira crónica pícara que escolhemos é do Rogério Cardoso, ex-fur mil, Cart 643 / BART 645, "Águias Negras" (Bissorã, 1964/66)... O autor tem 6 dezenas de referências no nosso blogue, que integra desde dezembro de 2009. 

Faz também parte da Magnífica Tabanca da Linha. Era do Serviço de Material / Manutenção Auto. Tem uma cruz de guerra de 4ª classe,  No nosso blogue é autor da série "Notas Soltas da CART 643" de que se publicaram 26 postes, entre janeiro e julho de 2010.

Pelo que se deduz do texto (**),  o Pilão já fazia parte do roteiro da noite de Bissau, em 1964, tal como o Café Bento (o Rogério Cardoso esteve no CTIG entre março de 1964 e fevereiro de 1966).  

O autor faz referência a um grande incêndio que lá teria ocorrido. Trata-se provavelmente do incêndio que devastou o antigo bairro da Ajuda. Mas isso foi no início de 1965. Um novo bairro foi  construído, por iniciativa das Obras Públicas locais e com a ajuda da tropa,  para os desalojados (140 casas e equipamentos sociais estavam prontos em 1968). 

O bairro da Ajuda ficava localizado a oeste da cidadezinha colonial do nosso tempo, a seguir ao Cupelon e a Missirá, mais ou menos a seis quilómetros do centro, a caminho de Brá e do aeroporto de Bissalanca, a noroeste; em frente ao bairro da Ajuda, no lado esquerdo da estrada, ficava o HM 241.

O que importa sublinhar, da leitura desta "visita obrigatória" ao Pilão, é que também nessa época havia militares pouco disciplinados que iam provocar desacatos ao bairro que, de resto, era patrulhado pela tropa.  

Dois figurões da noite de Bissau desse tempo seriam o "Mouraria", fuzileiro, e o "Braga", paraquedista. O Rogério Cardoso ("periquito" ou "maçarico", como ainda se dizia nos primórdios  da guerra na Guiné...)  foi lá com eles, e parece que não ganhou para o susto... 

De qualquer modo, ir ao Pilão fazia parte dos  "comportamentos de bravata" de alguns militares que, em caso algum, eram representativos das NT...



Pilão, uma visita obrigatória


por Rogério Cardoso (*)


Quem não se lembra do célebre Bairro do Pilão, junto às bombas de gasolina da Sacor ?!

Bairro situado à saida da cidade de Bissau, junto à estrada para Bissalanca, problemático pois diziam esconder elementos inimigos, que não era difícil porque eles não estavam rotulados, eram iguais em tudo aos restantes residentes.

Estas afirmações têm fundamento, na medida em que em certa altura houve um incêndio de grandes proporções, em que se assistiu ao rebentamento de munições e granadas.

Mas não estou escrevendo estas "Notas Soltas" para contar o que foi o Pilão, todos nós o sabemos de sobra, mas sim para narrar uma cena que poderia ser fatal para mim.

Certa noite, sendo eu ainda muito "maçarico" , tendo talvez pouco mais de um mês de Guiné, e sendo o Café Bento,  na avenida principal,  o meu local preferido para depois de jantar, fui abordado por dois ex-combatentes, solicitando a minha permissão para se sentarem nas duas cadeiras junto à minha mesa, já que estava a esplanada cheia.

Claro,  eu respondi-lhes afirmativamente e de imediato os três bebemos umas cervejas frescas. Eles eram sobejamente conhecidos, um o Fuzileiro de alcunha "Mouraria",  e o outro o Pára "Braga", dois elementos que desde logo me pareçeram uns camaradões, mas que mais tarde vim a saber serem individuos complicados no aspeto disciplinar, estavam sempre prontos para a pancada por tudo e por nada.

Entretanto e depois das cervejas, fui convidado por eles para uma visita ao Pilão, havia lá um bailarico com mornas e coladeiras e,  claro, material feminino.

Lá fomos entusiasmados pela juventude dos 23 anos, de facto era verdade e a nossa integração no bailarico foi imediata.


Entretanto o Mouraria arranja logo um desaguizado com um elemento cabo-verdiano que dançava com uma guineense de alcunha  a "Muda". O nosso amigo queria a toda a força dançar com ela e, palavra puxa palavra, com empurrões à mistura, rapidamente passaram à agressão fisica.

Os amigos do cabo-verdiano, cerca de 20, igualmente entraram na luta, assim como o Braga e claro logicamente eu também. A desvantagem como facilmente se percebe era abismável e os dois,  com conhecimento de sobra, tanto da nossa desvantagem como do terreno para uma fuga com êxito, não esperaram e evaporaram-se em segundos. 

Eu não tive alternativa, fugi também e rapidamente, sem saber para onde ir, e depois de andar deambulando pelos becos com uma noite com escuridão total, decidi esconder-me debaixo de uma "casa" (ou morança), pois elas estavam implantadas sobre pilotis de madeira.

Depois de uns minutos que me pareciam horas, porque ouvia e sentia que era perseguido por um grupo numeroso, pelas vozes e barulho, aproveitei um silêncio repentino e saí. Foi então  que senti um pouco mais à frente uma mão no meu braço e uma voz dizendo:

 
−  Oh,  meu furriel,  venha já comigo.

Senti que era um amigo e segui-o rapidamente, finalmente estava a umas escassas dezenas de metros da estrada principal. Quem me ajudou, estava presenciando a cena de longe, conheceu-me porque eu tinha sido seu instrutor em Santa Margarida uns meses atrás.

Serviu-me de lição: primeiro,  não me meter em terrenos desconhecidos; e, segundo, saber escolher os companheiros de farra.

(Seleção, revisão / fixação de texto: LG)


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Notas do editor LG:

(*) Último poste da série > 22 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26517: As nossas geografias emocionais (46): Quem se lembra do Café Portugal, junto ao Hotel com o mesmo nome, na Praça Honório Barreto (hoje Che Guevara) ?

Guiné 61/74 - P26528: Parabéns a você (2353): João Carlos Silva, ex-1.º Cabo Especialista MMA da Força Aérea Portuguesa (1979/82)

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Nota do editor

Último post da série de 23 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26520: Parabéns a você (2352): José Ferreira da Silva, ex-Fur Mil Op Especiais da CART 1689/BART 1913 (Fá, Catió, Gandembel e Canquelifá, 1967/69)

terça-feira, 25 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26527: Tabanca Grande (568): Homenagem ao capitão e cavaleiro Leite Rodrigues (Aveiro, 1945 - Matosinhos, 2025), ex-alf mil cav, CCAV 1748 (1967/69), membro da Tabanca de Matosinhos: passa a sentar-se, simbolicamente, no lugar n.º 899, sob o nosso poilão, a título póstumo



Matosinhos > Tabanca de Matosinhos, Natal de 2024.
Leite Rodrigues. Foto: J. Casimiro Carvalho (2024)




Foto nº 1 > Guiné-Bissau > Bafatá > 4 de abril de 2017 > O Leite Rodrigues dando uma aula de ciências naturais numa escola local...


Foto nº 2A > Guiné-Bissau > Bafatá > 4 de abril de 2017 > O Leite Rodrigues com a professora da escola...




Foto nº 3B, 3A e 3 > Guiné-Bissau > Binta > Abril de 2017 > O João Rebola (1945-2018) esteve aqui, com a sua CCAÇ 2444 (Bula, Có, Cacheu, Bissorã e Binar, 1968/70)... Da esquerda para a direita, na base do poilão, o Leite Rodrigues, o João Rebola, o José Cancela e o José Manuel Samouco.



Foto nº 4 > Guiné-Bissau > Bissa > Abril de 2017 > Junto ao Hotel Coimbra > O Leite Rodrigues, com oosando parea a fotografia com um pano tradicional usado pelas mulheres guineenses, 

Fotos (e legendas): © José Cancela (2025). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]



1. Não tenho dúvidas que o nosso saudoso camarada Leite Rodrigues, que vai amanhã, dia 26,  descer à terra da verdade, sem ter completado os 80 anos (*),  merece figurar, a título póstumo, na nossa Tabanca Grande, sentando-se simbolicamente sob o nosso poilão no lugar nº 899, ao lado de outros tabanqueiros quer vivos quer  já falecidos (e sobretud0, neste caso, homens grandes da Tabanca Pequena de Matosinhos,  como o A. Marques Lopes, o João Rebola, o Joaquim Peixoto, o Jorge Teixeira (Portojo), o António Batista da Silva, o Xico Allen, o Francisco Silva, etc., alguns dos nomes que me vêm à cabeça, e que "da lei da morte já se libertaram").

Não tenho dúvidas em aceitar a proposta do nosso régulo e poeta José Teixeira, dando ao Leite Rodrigues honras de Tabanca Grande (*)... É nossa pequena homenagem a um homem, português e camarada de coração grande, generoso e solidário, que nos ajudou também a t0rnar menos agreste e penosa a nossa caminhada pela picada da vida (e nomeadamente aos membros da Tabanca de Matosinhos, cuja tertúlia ele frequentavca desde 2006).

Verifico agora, com mais atenção que ele foi ferido gravemente num operação a caminho de Sinchã Jobel no subsetor de Geba, quando a sua CCAV 1748 estava aquartelada em Conbtuboel... Mais de ano e meio depois eu próprio iria conhecer o CIM de Contuboel, cujo subsector era um "oásis de paz"...

Já agora a operação em que o cmdt do 4º peloitão da CCAV 1748 foi ferido com gravividade: Op Invicta II, de 5 a 8dez67,  que consistiu mum golpe de mão na região de Caresse, sector L2, envolvendo forças da CCaç 1788, CCav 1748 e 2 Sec/Pel Mil 112, e  com apoio aéreo. As NT atingiram o objectivo constituído por 10 casas de mato, capturaram munições diversas e fizeram 12 feridos ao lN, que reagiu pelo fogo. As NT tiveram 2 feridos.

2. Facto que eu desconhecia, ele também foi à Guiné-Bissau em 2017 ... Com o Zé Cancela, o João  Rebola, o António Barbosa, o Angelino Silva, o José Manuel Samouco, o Eduardo Moutinho, o Rodrigo Teixeira e outros camaradas da Tabanca de Matosinhos...

O Zé Teixeira, que dessa vez não foi (tinha ido em 2015),  diz-me que "o grupo foi recebido pelo Presidente da República, o JOMAV. Sei que falaram do seu ferimento e do comandante Gazela. O Eduardo Moutinho também foi, mas agora anda às voltas com uma pneumonia".

Pedi ao Zé  Cancela algumas fotos desta viagem (em que visitaram muitas localidades) para ilustrar a minha apreesentação do nosso novo grão-tabanqueiro, que deixa muitas saudades, não só entre os antigos combatentes mas também no mundo do oçlimpisco e no hipismo .  Fizemos uma primeira seleção.

Recordo-me de, antes da pandemia, o ter convidado a integrar a nosssa Tabanca Grande...  Mas, como diz o Zé Teixeira, ele gostava mais de cavalos (e mulheres bonitas) do que computadores. Gostava mais de falar (de improviso) do que escrever. Mas era uma exímio contador de histórias. 
 
Apurámos que o nosso infortunado camarada foi alf mil cav, CCAV 1748 ( subunidade que passou por Bissau, Bula, Contuboel e Farim, entre jul 67 e jun 69). Tem cruz de guerra de 4.ª classe, atribuída em 1972. Não tínhamos, até agora,  nenhum representante desta subunidade na nossa Tabanca Grande.

Segundo a página do facebook do portal Utw Ultramar Terraweb (nota de óbito, de 23 do corrente, 16:08), o Leite Rodrigues era capitão do quadro permanente da GNR, na situação de reforma. Em 1/12/1970, tinha sido promovido a ten mil, e colocado na GNR. Em 17/5/1984, foi gradudo em capitão e promovido a cap QP, da GNR.

Era uma figura conhecida e respeita no meio equestre, foi atleta olímpico, e é recordado tanto como cavaleiro como mestre na arte da equitação. Era natural de Aveiro. Tem uma filho, que vive em Lisboa. Tinha uma filha que morreu em circunstâncias trágicas, aos 14 anos,  em 2006,  na sequência de um acidente com um dos seus cavslos. A Filipa era uma promissora atleta da equitação portuguesa, seguindo os passos do pai.

Segundo o portal Equitação, o "Alberto Bernardo Azevedo Leite Rodrigues (1945 - 2025), capitão da Guarda Nacional Republicana, representou Portugal ao mais alto nível, tendo sido olímpico nos Jogos de Barcelona em 1992, na disciplina de CCE. Dedicou a vida ao desporto equestre, que viveu com paixão. Durante a carreira como atleta, venceu inúmeras competições no nosso país e no estrangeiro, em provas de Saltos de Obstáculos e CCE. Como Veterano e Embaixador regista títulos e medalhas nos Campeoanatos de Portugal e da Europa". Nomeadamente, em 2000, sagrou-se "Campeão da Europa de Veteranos de Saltos de Obstáculos".


Guiné 61/74 - P26526: Tabanca Grande (567): Aníbal José Soares da Silva, grão-tabanqueiro n.º 898, ex-Fur Mil SAM, CCAV 2483/BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70)

1. Através do Formulário de Contacto do Blogger, recebemos no dia 30 de Junho de 2024, a seguinte mensagem do nosso camarada Aníbal José Soares da Silva:

Viva, camaradas
Sou Aníbal José Soares da Silva, nascido em 21 de Julho (dia da cavalaria) de 1946 e tive a profissão de Profissional de Seguros.
Assentei praça no dia 15 de Janeiro de 1968 nas Caldas da Rainha, no curso de Sargentos Milicianos.
Mobilizado pelo RC3 de Estremoz, embarquei para a Guiné no dia 23/02/1969, como Furriel Vagomestre da CCav 2483/Bcav 2867.
Cumpri a comissão de serviço nos aquartelamentos de Nova Sintra, de 05/03/1969 a 20/09/1970 e depois em Tite, sede do Batalhão, até ao regresso à metrópole que se verificou a 22/12/1970.

Passados 50 anos escrevi um texto, ao qual juntei várias fotografias, a que dei o nome "Vivências em Nova Sintra". Texto que em 2022, por solicitação do ex-alferes Jorge Martins Barbosa e do Sr. Coronel Henrique Morais, ambos da CCav 2482, é parte integrante do livro (54 páginas) " A Guiné Que Conhecemos", que o primeiro coordenou, na sequência do livro "Histórias dos Boinas Negras".
Pergunto se vos posso enviar uma pen com a minha "escrita", para eventual publicação no vosso estimado blogue, da forma que entenderem mais conveniente e do qual sou frequente pesquisador.

Um abraço de muita amizade,
Aníbal Silva


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2. No dia 3 de Julho foi enviada ao nosso camarada Aníbal Silva a seguinte mensagem:

Caro camarada Aníbal Silva
Muito obrigado pelo teu contacto e pela disponibilidade em colaborar nesta feitura de memórias.
Claro que estamos disponíveis para receber o teu trabalho e publicá-lo no nosso blogue.
Também gostaríamos de te apresentar formalmente à tertúlia, da qual farás parte com todo o mérito pois vais ser mais um dos nossos "contribuidores".
Para o efeito, manda-nos por favor uma foto actual e outra do tempo de Guiné, fardado, assim como outros elementos, além dos que já nos franqueaste, para que te possamos conhecer melhor.
A tua correspondência electrónica deverá ser enviada simultaneamente para estes dois endereços: luis.graca.prof@gmail.com e carlos.vinhal@gmail.com
Por indicação do nosso editor Luís Graça, para enviares a tua pen ou outro suporte físico, utiliza por favor a minha morada:
[...]
Ficamos ao dispor para desfazer qualquer dúvida ou prestar outros esclarecimentos.
Em nome dos editores e da tertúlia em geral,
Um abraço
Carlos Vinhal
Coeditor


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3. No dia 20 de Fevereiro de 2025, recebemos, via CTT, uma encomenda do nosso camarada e novo amigo tertuliano, Aníbal José Soares da Silva, ex-Fur Mil Alimentação da CCAV 2483 / BCAV 2867 (Nova Sintra e Tite, 1969/70):

Estimado camarada Carlos Vinhal
Agradeço ter sido aceite como "contribuidor" em publicações no Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné, blogue que desde há alguns anos vou consultando e de que muito gosto.

Para além do que já referi, no que di respeito ao meu "curriculum", acrescento mais o seguinte. Não fui operacional do gatilho, mas sim o Vagomestre da Companhia, aquela especialidade, muitas vezes "mal vista" pela tropa. Porque participava em fodas as colunas de reabastecimentos de géneros, onde os eiscos derivados das minas eram uma constante e que na minha Companhia resultou em cinco mortos e vários feridos, um dos quais eu próprio, em jeito de brincadeira com os operacionais, eu costumava dizer que era o "vagomestre mais operacional da Guiné".


Anexo a minha história "Vivenças em Nova Sintra" em caderno e em pen, bom como um pequeno texto escrito pela minha filha com o título " O Sangue dos Homens", com o qual concorreu a um concurso do jornal Público, há muitos anos e que reflete bem a amizade nascida e cimentada entre os "Camaradas".

Espero que a minha colaboração seja útil.
Com um forte abraço
Aníbal Silva


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4. Em 21 de Fevereiro enviámos esta mensagem ao camarada Aníbal Silva

Caríssimo camarada e amigo Aníbal Silva
Em primeiro lugar quero apresentar-te as minhas desculpas por só hoje, e a esta hora, estar a dar conta da recepção do material que gentilmente me enviaste pelo correio físico, chegado ontem à tarde, e ao qual vou dar o meu melhor para que possa ficar a fazer parte do espólio do nosso Blogue.
Tivemos estes dias "uma avaria" no blogue que me tem dado água pelas (virtuais) barbas. Parece estar já tudo normalizado mas ainda há muito trabalho para se ir fazendo.
Foi boa ideia tirares trabalho cá ao velhote, enviando o texto numa pen.
O meu plano será apresentar-te primeiro e depois começar a publicar semanalmente as tuas memórias. Tenho a terça-feira livre pelo que foi este o dia que te reservei.
Aquando da tua apresentação publicarei o texto da tua filha Helena Sofia, que em poucas palavras diz imenso.
Fico receptivo às tuas sugestões sobre o modo como vamos apresentar o teu trabalho.

Com os votos de bom fim de semana, deixo-te o meu abraço fraterno
Carlos


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5. Culminando esta troca de mensagens, recebemos onte, dia 24 a mensagem que se segue:

Bom dia, estimado camarada Carlos Vinhal
Estou sensibilizado com a tua informação de que amanhã vai ser publicado, nesse extraordinário blogue, o texto escrito pela minha filha. O amigo em causa é o que a fotografia, que envio em anexo, documenta e caso seja possível agradeço que seja anexada ao texto. Trata-se do grande amigo João Jardim, que foi furriel de minas e armadilhas do 4º. pelotão da CCav 2483. É angolano e um empresário de sucesso, não só na sua Angola, como em Portugal. Sempre que vem ao Porto em viagens de negócios, não deixa de nos reunirmos (eu e mais dois cavaleiros) num almoço na tua terra, Leça da Palmeira.
Relativamente a publicações futuras e como não sei quais são os vossos critérios, deixo isso à vossa consideração. No entanto, poderemos dialogar através do meu telemóvel.

Ao terminar, por hoje, quero expressar-vos a minha simpatia pelo extraordinário trabalho de voluntariado que desde há alguns anos têm desenvolvido.

Um forte abraço de amizade
Aníbal Silva


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O SANGUE DOS HOMENS

Por Helena Sofia

Cresci entre centenas de imagens exóticas e distantes, mais ou menos amarelecidas, de uma África estranhamente pacífica. Via os soldados juntos, a rir, os braços sobre os ombros uns dos outros, os pés pousados sobre armas "inofensivas". Entre eles, o meu pai.
Nunca soube acrescentar o sangue àquelas imagens, nem avaliar o poder que exerceu sobre os homens. A guerra não chegava a ter som, cheiro, profundidade. Dificilmente a conseguia encaixar na vida deste homem.
Até o ver chorar ao reencontrar um grande amigo desse tempo. Nunca tinha visto o meu pai chorar.

Os Furriéis Milicianos João Jardim e Aníbal Silva, amigos para sempre e inspiração para a Helena Sofia

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6. Comentário do editor CV:

Caríssimo amigo amigo Aníbal Silva
Podes entrar e escolher o lugar que achares mais confortável debaixo do nosso "poilão sagrado", esta tertúlia de antigos combatentes da Guiné, onde deixamos as nossas memórias escritas e em fotos.

Comoveu-me muito o texto da tua filha Helena Sofia, que nunca tinha visto o pai chorar, se o fizeste antes, disfarçaste muito bem, até àquela hora em que reencontraste, julgo que o teu camarada João Jardim.

Não há definição possível para a amizade que une os antigos combatentes, principalmente entre aqueles que viveram os mesmos perigos e passaram as mesmas longas horas de angústia lado a lado. 

Pela minha experiência, a Guiné foi um território especial que fortaleceu
 laços entre os antigos combatentes que por lá penaram, talvez por ser muito pequeno em área. Onde se encontrarem dois antigos camaradas, logo se estabelece uma minitertúlia. Não faz mal que nunca se tenham encontrado lá, amigos ficam de certeza a partir daquele momento.

Já li o episódio em que "ficaste cego", caso para dizer, safaste-te por pouco. Quem te mandava a ti, vagomestre, andar por maus caminhos? Na altura deves ter apanhado um grande susto, asim como a tua família. A propósito, se quiseres perder uns minutos, lê este meu poste (P890), já um bocado antigo, que retrata um episódio em que um camarada meu, com quem ainda hoje comunico, estava à hora errada, no local errado.


Quero deixar-te, em nome dos colaboradores deste Blogue e da tertúlia em geral, um abraço de boas-vindas. Estatisticamente ficas com o lugar n.º 898 da tertúlia. Vê aqui a listagem geral.
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Nota do editor

Último post da série de 21 de janeiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26409: Tabanca Grande (566): Angelino dos Santos Silva, grão-tabanqueiro nº 897, ex-fur mil OE, 26ª CCmds (Brá, 1970-1972), poeta e escritor, natural de Recarei. Paredes, Vale do Sousa

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2025

Guiné 61/74 - P26525: Casos: a verdade sobre ... (52): o major cav Matos Guerra foi presidente da câmara de Bissau de mar71 a out73... Em 1966, a comandar a CPM 1489, nunca poderia ter discutido com os vereadores nenhum plano para arrasar o Pilão, contrariamente às memórias (baralhadas) do "Cadogo Pai"...


 O documento, de 26 páginas, que me foi entregue pessoalmente pelo autor, em Bissau, em 7 de março de 2008, e que tem por título: "
Memória de Carlos Domingos Gomes, Combatente da Liberdade da Pátria: Registos da História da Mobilização e Luta da Libertação Nacional. Recordar Guiledje, Simposium Internacional, Bissau, 1 a 7 de Março de 2008."

Infografia: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné (2008)






1. Diz-se, no poste P26522 (*):

(...) Temos apenas umas trinta e tal referências sobre o Pilão: famigerado, para uns; triste, para outros, vergonhoso, para os mais puritanos e conservadores... Houve um presidente da Câmara municipal de Bissau, o major Matos Guerra, que por volta de 1966 o terá querido arrasar (segundo  o comerciante Carlos Domingos Gomes, "Cadogo Pai", vereador na altura) ... 

Ainda bem que prevaleceu o bom senso... (A ideia teria partido do próprio Governador e Comandante-Chefe, Arnaldo Schulz: alegava-se que o Pilão era umn "ninho de terroristas.) (...)

2. Esta história está mal contada pelo "Cadogo Pai" (Bolama, 1929 - Coimbra, 2021), o empresário e político Carlos Domingos Gomes, cujas memórias já aqui publicámos no blogue. E-nos impossível verificarr, caso a caso, por falta de contradeitório,  a veracidade factual de tudo aquilo que aqui se escreve pelos nossos amigos e camaradas da Guiné. A não ser a posteriori, muitas vezes, cruzando com outras fontes.

"Cadogo Pai" engana-se nas datas: em 1966,  o major Matos Guerra ainda não era major nem muito menos presidente da Câmara Municipal de Bissau, cargo que só exerceu durante  dois anos anos e meio, de mar71 a out73 (portanto, no tempo do gen Spínola e não do gen Schulz).

Em 1966, José Eduardo Matos Guerra  era simplesmente cap cav, cmdt da CMP  1489 (Bissau, Amura e Sta Luzia, out65/jul67). (**)

Segundo o portal UTW - Dos Veteranos da Guerrra do Ultramar (nota de obituário do cor cav na situação de reforma, Eduardo Matos Guerra, 1931-2016), este antigo combatente, depois da comissão na Guiné (out64/jul67), em 23jul68,  encontrava-se colocado como adido na GNR,  sendo então "promovido a major"...

Logo a seguir, em 10 de setembro desse ano, regressa a Bissau, tendo sido "nomeado pelo CCFAG para chefiar a Secção de Reordenamentos e Autodefesas da Rep ACAP/QG"...

Em 24fev70, e ainda segundo a mesma fonte, é  agraciado com a Medalha de Prata de Serviços Distintos com palma  (...) "pela forma altamente eficiente, dinâmica e devotada como desempenhou as funções de chefe da divisão de organização e defesa das populações, do gabinete militar do comandante-chefe das Forças Armadas na Guiné, que estruturou e organizou de forma modelar, e ultimamente corno chefe de secção no quartel-general do comandante-chefe das Forças Armadas na Guiné, gerindo os mesmos assuntos" (...)

E mais se acrescenta sobre o teor do louvor, citando a mesma fonte:

(...) "Tendo chegado à Guiné em setembro de 1968 e sendo-lhe confiada a missão de estruturar e impulsionar o reordenamento e autodefesa das populações, o major Matos Guerra, no curto prazo de dezasseis meses, planeou e executou uma vasta obra neste sector. (...)

(...) "Foi ainda o major Matos Guerra pedra fundamental no estudo e elaboração da recente Iegislação sobre o recenseamento e controle da população, documentos de alto interesse e oportunidade na actual vida das populações da Guiné." (...)

Em 23out70 regressa à metrópole, ficando colocado no RC3, Estremoz. Em 1mar1971, "tendo sido requisitado pelo Ministério do Ultramar para desempenhar comissão de âmbito civil na Província da Guiné Portuguesa, volta a Bissau"...

Quinze dias depois, em 16mar71 no palácio do governo provincial da Guiné Portuguesa, "é empossado no cargo de presidente do município de Bissau", cargo que exerceu até 18out73.




Guiné > Zona leste > Região de Bafatá > Bambadinca > BART 2917 (1970/729 > Março de 1972 > Carreira de tiro > Da direita para a esquerda: (i) em primeiro plano, o general Spínola, e o ten cor Polidoro Monteiro (comandante do BART 2917); e atrásm (iii) o 
Guerra Ribeiro, transmontano. antigo administrador do concelho de Bafatá, e nesta altura  intendente  em Bafatá (e não em Bissau)

Foto (e legenda): © Paulo Santiago (2013). Todos os direitos reservados [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


A menos que quisesse referir-se a outro militar ou administrador civil (como, por exemplo, o Guerra Ribeiro, administrador da circunscrição  nos anos 60 e depois intendente em Bafatá, no tempo de Spínola), o então comerciante e vereador "Cadogo Pai" nunca poderia ter trabalhado, em 1966, com o Matos Guerra, que era capitão da Polícia Militar, e não presidente da Câmara Municipal de Bissau.

Repôe-se aqui a verdade dos factos (***).


3. Há um camarada nosso, membro da nossa Tabanca Grande, 0 Evaristo Reis, que trabalhou na Câmara Municipal de Bissau como "mestre de obras", ao tempo do maj cav  Matos Guerra: leia-se aqui o seu depoimento (****).

O Evaristo Pereira dos Reis descreve o maj cav Matos Guerra, então requisitado pelo Ministério do Utramar, para exercer funções civis no CTIG.  como um "homem duro, aliado e bastante protegido pelo Governador" (o gen Spínola).

________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de fevereiro de 2025 > Guiné 61/74 - P26522: Humor de caserna (104 ): "Ontem fui ao Pilão, o que não quer dizer que fui às p..." (Bissau, 16 de dezembro de 1973, in: António Graça de Abreu, "Diário da Guiné", Lisboa, Guerra e Paz, 2007).


(**) Vd. ficha de unidade:

Companhia de Polícia Militar nº 1489

Identificação CPM 1489

Unidade Mob: RL 2 - Lisboa

Cmdt: Cap Cav José Eduardo Matos Guerra

Divisa: -

Partida: Embarque em 200ut65; desembarque em 260ut65 | Regresso: Embarque em 27Ju167


Síntese da Atividade Operacional

Ficou instalada em Bissau, no Forte da Amura, substituindo a CPM 590, com vista a desenvolver a actividade inerente à sua especialização, tendo efectuado acções e operações de policiamento, nomeadamente patrulhamentos, guardas, rusgas e escoltas.

Em 26Nov65, transferiu o seu aquartelamento para Santa Luzia, também em Bissau.

Em 26Ju167, foi substituída pela CPM 1751, a fim de efectuar o embarque de regresso.

Observações - Tem História da Unidade (Caixa n.º 83 - 2ª Div/4ª Sec, do AHM).

Fonte: Excertos de Portugal. Estado-Maior do Exército. Comissão para o Estudo das Campanhas de África, 1961-1974 [CECA] - Resenha Histórico-Militar das Campanhas de África (1961-1974). 7.º volume: fichas das unidades. Tomo II: Guiné. Lisboa: 2002, pág. 581


(***) Último poste da série > 27 de dezembro de 2024 > Guiné 61/74 - P26316: Casos: a verdade sobre... (51): a terrível emboscada na estrada Ponte Caium-Piche, em 14/6/1973 (ex-sold cond auto, Florimundo Rocha, c. 1950-2024; ex-fur mill Ribeiro, natrural de Braga, CCAÇ 35446, Piche, 1972/74)

(****) Vd, poste de 12 de janeiro de 2017 >  Guiné 61/74 - P16950: O nosso livro de visitas (190): Evaristo Pereira dos Reis, 66 anos de idade, residente em Setúbal... Ex-1º cabo condutor auto, de rendição individual, esteve no QG (1971/73), mas na maior parte da comissão foi mestre de obras da Câmara Municipal de Bissau, ao tempo do maj cav Eduardo Matos Guerra, como presidente


(...) Voltando à minha chegada,  fui colocado na secção do ficheiro, no Quartel General, local aparentemente privilegiado em relação aos meus camaradas, local onde comecei a ter consciência do que se passava naquela província em guerra. Nesse serviço estavam arquivadas as fichas de todos os intervenientes naquele teatro de guerra que eu considero de tortura física, mental e psicológica,

No arquivo assinalava os mortos, os desaparecidos, os evacuados, os que tiveram a sorte de já ter regressado e os que se encontravam presentes. Claro que a curiosidade principal foi ver a ficha do maestro da banda. Tive oportunidade de estar bem perto dele, diversas vezes, Refiro-me ao homem da lupa pelo qual nunca tive qualquer simpatia.

Passado um mês tive oportunidade de concorrer a um cargo de Mestre de Obras, para a Cãmara Municipal de Bissau para o qual estava talhado, Chefiada pelo major [cav Eduardo} Matos Guerra [1931-2016] como Presidente da Câmara, homem duro, aliado e bastante protegido pelo Governador,

A partir desse dia a minha farda foi arquivada no armário até ao dia do regresso, Foi muito difícil desempenhar tal cargo, a Câmara não tinha recursos, imaginem que tinha que fazer os remendos das ruas com cimento, porque não tínhamos alcatrão.

Mesmo assim consegui fazer obras de algum vulto praticamente sem recursos, recorrendo a máquinas da engenharia militar, chefiada pelo então Cap Branquinho e Furriel Guedelha, sobre os quais nunca mais tive noticias.

Também existia uma empresa civil de construção ali sediada com o nome de TECNIL. Esses eram os meus fornecedores gratuitos.


Fiz uma messe para Sargentos e renovei o bar de oficiais dentro do Hospital Militar. Alarguei parte da estrada de Bissalanca, para o aeroporto, arrancando dezenas de mangueiros. Fiz uma vala de drenagem e alargamento da estrada para o Quartel General, Enfim, fiz várias obras de beneficiação para melhorar aquela cidade, passando nestas lides diárias os restantes e difíceis 23 meses. (...)


(Negritos nossos).