quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2248: Blogpoesia (6): África Raiz, de Fernanda de Castro


Capa do livro de Fernanda de Castro (*) (1900-1994) - Raíz Áfrca.
Desenhos originais de Eleutério Sanches. Capa de Inês Guerreiro
Tipografia A. Cândido Guerreiro, (Herdeiros) Lda.,
em Setúbal, Rua Serpa Pinto, 20 e 22, Portugal
Dezembro de 1966
__________

ÁFRICA RAIZ (**)
À terra de Bolama, em cujos braços repousa minha mãe

África,
no teu corpo rugem feras,
uivam fomes e medos ancestrais,
no teu sangue há marés,
na tua pele há dardos e punhais.

Ventre de Continentes,
és mater e matriz.
Ásia é semente, Europa é flor,
outros serão essência ou tronco,
tu, África, és raiz.

Dos teus flancos de fêmea fecundada,
nascem florestas, rios e montanhas.

Florestas venenosas de gigantes,
de monstros, de ciclopes vegetais,
de fungos, de landólfias e de orquídeas,
onde pastam manadas de elefantes,
onde flores carnívoras,
sob um céu baixo, de invisiveis brasas,
sugam antenas e digerem asas.

Fios de água, que vertes das entranhas
e te rasgam a pele
como pontas de lança,
como lâminas de aço,
prendendo, laço a laço,
matas, capim, tarrafe, canaviais.
Cascatas, cachoeiras,
furiosos caudais
saltando precipícios,
arrastando pirogas, crocodilos,
abrindo a golpes de água
os leitos abissais
dos Zambezes, dos Congos e dos Nilos.

Montanhas como dorsos de mamute,
gargantas de titans, abismos de neblina,
e na crosta rugosa a lepra das florestas,
as pegadas do vento,
as aves de rapina.
Presença subterrânea
de lavas e de chamas,
de vulcões em potência,
ressonância, rumores
dos rios interiores,
promessas de esmeraldas, de rubis,
de metais raros,
Kilimanjaros
nos roxos da distância.

(...)

É meio-dia. O sol, a pino,
é metal em fusão sobre as bolanhas.
Pilam arroz e milho, nas tabancas,
as mulheres Mancanhas.
Meninos de café, de chocolate,
com fieiras de contas e missangas,
rebolam-se no chão,
trincam nozes de coco, chupam mangas.
A cadência, o compasso do pilão,
os zumbidos, as moscas, o calor,
mergulham a tabanca
num cálido torpor.

Não há relógios. O que marca o Tempo,
não é o Sol, não é a Lua, a Estrela,
mas a esteira, o tambor, o arroz, a rede,
o sono, o amor, a fome, a sede.
(...)

Joaquim de Có, que tinha cem mulheres,
costumava dizer
a Dembo, seu herdeiro,
filho primeiro
de sua irmã Fulata:

- Que mais hás-de querer, ó Dembo,
se tiveres
vacas, arroz, mulheres,
aguardente de cana,
chabéu, mancarra, milho,
e cada ano um filho?
E ao homem grande de Lisboa,
ao chefe branco seu amigo,
com felina ironia:

- Negro é assim, coitado...
E sorria
com seus dentes limados,
aguçados,
de velho canibal,
que tem, só para ele, cem mulheres,
pra ele, Joaquim de Có,
enquanto o chefe branco tem só uma,uma só.
(...)
À tarde, à porta das palhotas,
em torno dos mais velhos,
dos que sabem contar coisas remotas
dos tempos esquecidos,
os mais novos escutam
com os cinco sentidos:

Dia que Deus fez mundo,
fez dois homens igual.
Deu a eles embrulho,
dois embrulhos igual,
e disse: não abrir,
se não eu castigar.
Um deles abriu,
pensou: Deus não vem cá.
Deus foi e castigou.
Ao outro deu caneta,
a ele deu enxada;
depois fez ele preto,
e ele pôs-se a chorar.
Veio então diabo,
sem ninguém chamar,
pôs-lhe mão na cabeça,
fez-lhe festa, festinha,
e o cabelo zangou
e ficou carapinha.
__________

Nota de vb:
(1) Maria Fernanda Telles de Castro e Quadros, nasceu a 9 de Dezembro de 1900 e faleceu a 19 de Dezembro de 1994. (...). Autora de livros e de peças para o público infantil, dramaturga, memorialista, romancista, tradutora, muito em especial poeta da alegria, como assinalou David Mourão-Ferreira no discurso de saudação no jantar comemorativo dos 50 anos de vida literária de Fernanda de Castro:
"Ela foi a primeira, neste país de musas sorumbáticas e de poetas tristes, a demonstrar que o riso e a alegria também são formas de inspiração, que uma gargalhada pode estalar no tecido de um poema, que o Sol ao meio-dia, olhado de frente, não é um motivo menos nobre do que a Lua à meia-noite”...
Fonte: Sociedade Portuguesa de Autores (Com os nossos agradecimentos).

(*) Fernanda de Castro, era filha de Ana Teles de Castro e Quadros e de João Filipe Quadros, oficial da Marinha de Guerra. Foi com os seus pais para a Guiné em 1913, quando seu pai foi nomeado Capitão do Porto e Chefe dos Serviços Marítimos de Bolama.
Fernanda de Castro dedicou este poema à memória da sua mãe, enterrada em Bolama, vítima da febre amarela.

(**) África Raiz, in Senegâmbia. Com a devida vénia.

Guiné 63/74 - P2247: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (III): Período de 1964 a 1967

Terceira e última parte da transcrição do documento Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas na Guiné, elaborado em 31 de Outubro de 1967 pela 2ª Rep /CTIG (1).

Fixação do texto: vb

__________


CTIG > 2ª Rep > Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas da Guiné (1967) (continuação)


1964

Em Janeiro agrava-se a situação no Sector de Bissau verificando-se a fuga, de Bissau, de elementos do PAIGC considerados recuperados, e a apreensão de material na região de Nhacra.

Por outro lado, o IN começou a desenvolver actividade no sector Oeste (Umpabá) com vista ao alastramento da subversão à área dos Manjacos.

Guiné > Cassacá > 1964. Encerramento do Congresso do PAIGC.

Foto do Arquivo Amílcar Cabral. À Fundação Mário Soares, os nossos agradecimentos e a devida vénia.


Em Fevereiro, realiza-se em Cassacá (Quitafine) uma reunião de quadros do PAIGC onde são tratados problemas de ordem militar, política, administrativa e social tendo merecido atenção especial o problema do analfabetismo.

O IN aumenta a sua actividade nos Sectores Oeste e Sul havendo a assinalar a utilização, pela primeira vez, de morteiro 82 m/m (na Ilha do Como e em Buba).

Em Março, exerce um grande esforço no aliciamento das populações da área de Bula e Geba. É referenciada pela primeira vez o emprego de Metralhadora Pesada 12,7 m/m (Cabedú e Campeane).

Em Abril, com o fim de isolar a região de Bafatá, há uma tentativa de alastramento da subversão para Leste (regulado de Sancorlá), a partir do Sector Oeste, o que provocou a fuga da população. Por outro lado são desencadeadas as primeiras acções a Norte do Rio Cacheu.

Em Julho, é levada a cabo a primeira acção de fogo na região dos Manjacos (estrada Jolmete-Pelundo).

[… Parte do texto ilegível]


1965
(…)

Em Julho, um grupo de elementos do PAIGC começou a actuar na área de S. Domingos, onde do antecedente, apenas havia acções da FLING.

Em Novembro, tornou a revelar-se na Ilha de Bissau, desta vez com um assalto a uma casa comercial e o assassínio de um Chefe de tabanca, Alferes de 2ª linha, colaborador das NT.

Paralelamente, teve particular interesse o facto de elementos IN lançarem um engenho explosivo entre a população que assistia a um batuque na tabanca de Morocunda, em Farim, causando 19 mortos e 70 feridos entre a população civil. Este acto levou à detecção de uma importante rede terrorista.

Em Dezembro, destaca-se um grande número de acções contra os aquartelamentos, com sistemático emprego de morteiros e elevado consumo de munições.

Durante este ano foi assinalado o emprego de 242 engenhos explosivos, dos quais foram levantados 153.

1966

Em princípios deste ano, a FLING encontra-se dividida em duas facções: a chamada “FLING de salão”, apoiada pelo Governo Senegalês, e a “FLING combatente”, sem esse apoio, enquadrando a maioria dos militantes e tendo como Secretário-Geral François Mendy.

Em Janeiro, o IN leva a efeito a primeira acção na região de Bassi (Sector Leste).
Em meados deste ano verifica-se um recrudescimento de acções em todos os Sectores, a maioria visando as populações.

De salientar a execução da primeira emboscada na estrada Bissau-Mansoa.

Em Julho é referenciado o emprego, pela primeira vez, de Canhões s/r 8,2 (Beli).

Mais tarde, em Novembro, é referenciado o uso de Canhões s/r 7,5 (Canquelifá).

Em Agosto, é reportada a presença de mercenários cubanos entre os grupos.


Em data que não se pode precisar, François Mendy é expulso da FLING, sendo a chefia do Movimento entregue a Benjamim Pinto Bull (na foto, à esquerda), que dissolvera o seu UNGP e, entretanto, já havia aderido à FLING na qualidade de Secretário da Informação e Imprensa.

Uma das suas primeiras preocupações foi a criação do Serviço de Assistência aos Refugiados da Guiné-Bissau (SARG).

Em Dezembro são interceptadas grande número de comunicações rádio, a maioria em língua espanhola, confirmando-se assim a utilização pelo IN de meios rádio para controlar os movimentos das nossas tropas.

Durante este ano, o “Ano da Informação”, o PAIGC realizou mais dois filmes de propaganda Labanta Negro e Nossa Terra, que foram projectados em vários países.

Neste ano, foi assinalado o emprego de 359 engenhos explosivos, dos quais 242 foram levantados.

1967

No início deste ano, o IN revelou-se da seguinte forma:

(i) Sector de Bissau: prosseguiu o trabalho de aliciamento das populações tanto em Bissau como nas zonas rurais.

(ii) Sector Oeste: mantém-se em Bases ao longo da fronteira com o Senegal, com efectivos retirados do Oio. Alastrou a actividade de guerrilha à região de Teixeira Pinto.

(iii) Sector Leste: concentrou elevados efectivos ao longo da fronteira com o Senegal. ontinuou a actuar com persistência contra os aquartelamentos das NT no Boé. Manteve o controlo de toda a área do Xime e Porto Gole.

(iv) Sector Sul: Manteve o controlo de todo o sector com a excepção das regiões do Forreá, Ilha de Bolama e Arquipélago dos Bijagós.

Utilizou grande número de engenhos explosivos.

Entretanto os laços entre a Frente Patriótica de Libertação Nacional (FPLN) e o PAIGC são concretizados através da propaganda panfletária e de emissões radiodifundidas pela “Voz da Liberdade” (Argel).

Em Junho é referenciado um movimento de revolta no seio do PAIGC que culminou com uma tentativa de assassinato de Amílcar Cabral. Os chefes dissidentes pretenderam substituí-lo por um “preto da Guiné”. Parte deles teriam sido executados.

Em Julho, no decurso de uma reunião efectuada em Dacar, um certo número de antigos militantes expulsos do PAIGC e da FLING anunciou a criação de um movimento progressista da FLING “FLING progressista”, chefiado por Pablo Gomes Diaz que se proclama pró-cubano e pró-chinês.

No receio de ver prosperar esta organização, Benjamim Pinto Bull, já na qualidade de Secretário-Geral da FLING, intensificou as diligências junto dos países membros da OUA com o fim de obter o reconhecimento oficial da sua organização.

Por esta altura é referida a existência de um novo movimento, Juventude do Movimento dos Resistentes da Guiné-Bissau (JMRGB) de que se desconhecem os objectivos políticos e filiações.

Em Julho, a Rádio “Libertação”, emissora do PAIGC, transmitiu o seu primeiro programa e a partir de 27 Agosto passa a difundir os “Comunicados de Guerra” do PAIGC.

Em Outubro, delegados do PAIGC foram ouvidos num dos Comités da ONU.

Durante este ano, foi assinalado o emprego de 314 engenhos explosivos, dos quais 220 foram levantados.
__________

Nota do co-editor vb:

(1) Vd. posts de:

5 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2243: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (II): Período de 1961 a 1963

4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2240: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (I): Período de 1947 a 1960

22 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte

26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVIII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - III (e última) Parte

Guiné 63/74 - P2246: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (13): O batuqueiro de Contabane e o livro do PAIGC

Guiné > Zona Leste > Contabane > 1972 > À direita, o batuqueiro que um dia ofereceu ao Paulo Santiago, comandante do Pel Caç Nat 53, o livro do PAIGC e um cinturão, tendo desaparecido no dia seguinte...

Foto: © Paulo Santiago (2007). Direitos reservados


Capa do manual escolar do PAIGC O Nosso Livro - 2ª Classe, editado em 1970 (Upsala, Suécia) (1)

Foto: © Luís Graça & Camaradas da Guiné (2007). Direitos reservados.


1. Mensagem do Paulo Santiago (ex-Alf Mil, comandante do Pel Caç Nat 53, Saltinho , 1970/72):

Boa Noite, Luís:


Era minha intenção contar, numa futura memória (2), como me veio parar às mãos o livro da 2ª classe [do PAIGC]. Atendendo aos posts publicados, julgo oportuno divulgá-lo neste momento.

Uma noite, em Contabane, quase no fim da comissão, e após uma tarde de batuque, o batuqueiro veio ter comigo, chamou-me para o meio do Reordenamento, retirando de junto dos tambores o referido livro e um cinturão,usado pelos guerrilheiros, tendo-me oferecido os dois.

No dia seguinte já não o encontrei, tinha seguido, ainda cedo, para uma outra tabanca qualquer. Não o voltei a ver. Não sei, até hoje, qual o motivo da oferta do livro e do cinturão.

Conhecia o referido batuqueiro há muito tempo, era frequente passar, periodicamente, pela zona do Saltinho.

Abraço
P. Santiago

2. Comentário de L.G.:

Obrigado, Paulo, por me teres contado a história do livro, conforme o meu pedido... Não há gestos inocentes ou neutros ou inteiramente desinteressados: o teu amigo batuqueiro deveria ser um simpatizante ou até um militante do PAIGC... Andando de aldeia em aldeia, como os dgilas, até podia ser um agente duplo, fazendo simultaneamente o jogo da PIDE/DGS e do PAIGC... Qualquer das duas hipóteses é verosímil...

De qualquer modo, ele sabia que tu ias valorizar este ronco... Incapaz de compreender o que dizia o livro, como a imensa maioria dos guineenses - a começar pelos teus e os meus soldados, que eram soldados de 2ª classe, porque justamente não sabiam ler nem escrever o português -, o teu batuqueiro achou que era uma honra, para ele, oferecer um objecto fétiche como este ao alfero, comandante do reordenamento de Contabane... Repara que é um belo manual, com desenhoa cores, muitas letras, e no fim uma fotografia, a cores, do Amílcar Cabral, que muitos guineenses, simpatizantes e militantes do PAIGC, nunca terão visto ao vivo... Admitamos até que o teu batuqueiro foi apenas um correio, encarregue de te levar a encomenda... Se assim foi, a mensagem do remetente só podia ter uma leitura:

- Tuga, a razão não está na força das tuas armas, mas na justeza da nossa luta...

A verdade é que a encomenda ficou em boas mãos e, trinta e cinco anos depois, aqui está uma bela estória, que já contaste aos teus filhos e que agora transmites aos teus velhos camaradas de Guiné... Obrigado, amigalhão.
_____________________

Notas dos editores:

(1) Vd. post de 27 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2221: PAIGC: O Nosso Livro da 2ª Classe (1): Bandêra di Strela Negro (Luís Graça / Paulo Santiago)

(2) Vd. post de 23 de Agosto de 2007 > Guiné 63/74 - P2064: Memórias de um comandante de pelotão de caçadores nativos (Paulo Santiago) (12): Evocando todos os militares do 53

terça-feira, 6 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2245: Cancioneiro de Cuntima (Vitor Silva, CART 3331, 1970/72)

Guiné > Zona Leste > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > O 1º Cabo Vitor Silva

Guiné > Zona Leste > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Documento do Comandante Militar do CTIG, datada de 25 de NOvembro de 1972, atestando "o seu apreço ao 1º Cabo Vitor Manuel C. B. e Silva pelos serviços prestados à Pátria na Província da Guiné".


Guiné > Zona Leste > Cuntima > CART 3331 (1970/72) > Cópia da capa da história da unidade, Os Tigres de Cuntima.



Cópia de documento do poema de uma presumível canção, Soldado. Desconhece-se o autor, possivelmente um anónimo da CART 3331 (Cuntima, 1970/72).

Fotos: Vitor Silva (2007). Direitos reservados.

1. Em 7 de Maio último recebemos uma lacónica mensagem do Vitor Silva, ex-1º Cabo da CART 3331, Cuntima, 1970/72, acompanhada de vinte e tal fotos, sem legenda.

Assunto - Imagens de Cuntima-Guiné


Junto anexo imagens de Cuntima, referentes à minha comissão de serviço 1970/72.
Um abraço.

Vitor Silva



2. Letra da canção Soldado:

Partiu num qualquer navio,
Numa leva de soldados,
Ia calado e sombrio
Entre prantos desolados.

Sabia o itinerário
E o rumo antecipado,
Mas ignorava o fadário
Que lhe estava reservado.

Desembarcou na Guiné,
Em manhã enevoada,
E sentiu ao pôr do pé
Naquela terra molhada,

Que o destino o lançava
Rumo ao desconhecido,
Sem uma ideia formada,
Numa guerra sem sentido.

Fioi destacado p’ró mato,
Lá p’ra terra de Cuntima,
Tinha a fronteira a um passo
E os guerrilheiros em cima.

Sofreu ataques cerrados,
Abafou medo em trincheira,
Sentiu os dias contados,
Viu a hora derradeira.

Fez desumanas picadas,
Padeceu de sede e fome,
Viu cair em emboscadas
Camaradas de uniforme.

Chupou água na bolanha,
Rebolou-se em pó ardente,
Deixou sangue em terra estranha,
Veio-se embora doente!

E depois de tal fadário
Deram-lhe o golpe final:
- Chamaram-lhe mercenário,
Soldado colonial.


Versos enviados pelo Vitor Silva
Revisão de texto: L.G.


3. Os editores do blogue saudam o Vitor, mas querem saber mais sobre ele e a sua unidade. Para já, e com atraso de alguns meses, publicamos algumas das fotos relativas ao nosso camarada, novo membro da nossa tertúlia, e à sua companhia, incluindo a digitalização de uns versos, sob o título Soldado, que presumimos fazer parte do Cancioneiro de Cuntima...
Esperamos que ele nos leia e esclareça algumas das nossas dúvidas. Os editores.
PS - Encontrámos a seguinte mensagem do Vitor Silva, com data de 8 de Maio de 2007, no Livro de Visitas do Sapo da página do nosso camarada Domingo Pereira Monteiro, ex-Alf Mil da CCAÇ 1496, BCAÇ 1876, 1966/67:
Fui enviado para a Guiné, a bordo do UÍGE, integrado na Companhia de Artilharia 3331 em 14 de Dezembro de 1970. Fomos destacados para CUNTIMA onde permanecemos até ao dia 25 de Novembro de 1972.
O dia a dia não terá sido muito diferente de outras localidades. A Guiné era quase tudo mato ! De dia, saída para o mato, picagens para os reabastecimentos até FARIM, e à noite junto às valas à espera do fogo de artifício que costumava vir dos lados do SENEGAL. A minha companhia ficou conhecida por TIGRES DE CUNTIMA. Um abraço.

Guiné 63/74 - P2244: Cusa di nos terra (12): Ainda vi burros em Bafatá (Beja Santos)

Fonte: João Barreto, História da Guiné, 1418-1918.Lisboa: 1938. (1).

Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.

Paisagem, pintura de Augusto Trigo (n. 1938). Em exposição no hall de um banco, em Bissau, o BCAO. Com a devida vénia ao pintor (que vive actualmente em Portugal), ao Rui Fernandes (autor da foto) e à AD (que detém os direitos da imagem no seu site Guiné-Bissau) (2).



Guiné > Região do Oio > Bissorã > 1965 > CART 703 > NO Oio também havia burros, como se comprova nesta foto com o João Parreira, um cavaleiro à maneira, embora ele fosse de artilharia e tivesse mais tarde trocada a sua dama pelos comandos (3)..

Foto: © João S. Parreira (2007). Direitos reservados.





Guiné-Bissau > Região do Cacheu > Ingoré > 1998 > Esta foto, com a Zélia Neno, ex-companheira do Xico Allen, chegou-nos por mão do Albano Costa, com a seguinte legenda: “Esta foto vale pela imagem, e os brancos em África converteram-se? Não é que ficaram a ver a Zélia [Neno] a puxar o burro, mulher de armas!" (4) ...

Foto: © Albano Costa / Zélia Neno (2006). Todos os direitos reservados


1. Mensagem do Beja Santos, com data de 11 de Outubro:

Ainda vi burros em Bafatá e arredores. Mas o régulo [do Cuor,] Malã, como seu pai, Infali, deslocavam-se pelo regulado a trote de burro. Malã contou-me que precisava de 8 a 9 horas para percorrer as picadas de Sansão e Missirá até Sinchã Corubal e Madina (5).

2. Comentário de L.G.:

Mário: A provar alguma coisa, estas fotos mostram-nos que também eles, os burros, parecem querer resistir à extinção em África, em geral, e na actual República da Guiné-Bissau, em particular...

Na Guiné sempre houve burros, pelo menos desde os anos 30, a avlaiar peloa foto do livro do médico João Barreto... Onde há comerciantes, gilas, havia burros...

Se a memória me não falha, o único burro (fora os humanos) que vi na Guiné foi a caminho de Madina/Belel (6), a 31 de Março de 1970: estava num estado lamentável, morto por abelhas selvagens e em vias de decomposição, já coberto de formigas... Deveria pertencer aos teus amigos de Madina... Mas tudo indicava que o PAIGC e a respectiva população - nomeadamente ao longo do corredor do Óio - também usavam os bons serviços do burro, no transporte de armas, mantimentos e outras mercadorias... Enquanto nós aturávamos as nossas bestas!

E já agora, sobre o pobre do burro encontrei os seguintes provérbios crioulo-guineenses:

Buru tudu karga ki karga si ka sutadu i ka ta janti (O burro, com pouca ou muita carga, se não é açoitado não anda);

Karna di buru ta kumedu na tenpu di coba, di fugalgu na tenpu di seku (= carne de burro se come na estação, a de animal nobre na seca);

Praga di buru ka ta subi na seu ou Praga a di buru ka ta ciga na seu (Praga de burro não sobe ao céu).

_________

Notas dos editores:

(1) Vd. post de 5 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2241: Álbum das Glórias (32): Um livro comprado em Bissau, no alfarrabista, de João Barreto, médico de saúde pública (Beja Santos)

(2) Vd. posts de:

14 de Outubro de 2007Guiné 63/74 - P2177: Artistas guineenses (1): Augusto Trigo, nascido em 1938, em Bolama

25 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 – P2213: Dando a mão à palmatória (2): Rui Fernandes, o fotógrafo do pintor Augusto Trigo (Virgínio Briote)

(3) Vd. post de 12 de Março de 2007 > Guiné 63/74 - P1584: Um choro no mato e as (des)venturas de um futuro comando em Bissorã (João Parreira)

(4) Vd. posts de:

1 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DXCVI: A viagem do Xico e da Zélia em 1998 (Zélia)
23 de Setembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1106: A ubiquidade dos nossos mortos (Zélia)

(5) Vd. post de 26 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2218: Operação Macaréu à Vista - Parte II (Beja Santos) (7): Afundem a armada de Madina

(6) Vd. post de 27 de Junho de 2006 > Guiné 63/74 - P918: Operação Tigre Vadio (Março de 1970): uma dramática incursão a Madina/Belel (CAÇ 12, Pel Caç Nat 52 e outras forças)

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2243: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (II): Período de 1961 a 1963

Dos terçados (*) e cavadores (**) ao fornilho, à mina A/C e às metralhadoras ligeiras (ou a evolução do armamento do então IN entre 1961 e 1963).

Continuação da transcrição do documento Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas na Guiné, elaborado em 31 de Outubro de 1967 pela 2ª Rep /CTIG (1).

Fixação do texto: vb
__________

1961

Em Abril reúnem-se em Casablanca os representantes de algumas organizações clandestinas de Angola, Moçambique, Goa, Guiné, Cabo Verde e S. Tomé e Príncipe (a UPA de Angola e outros movimentos que não gozavam de simpatias dos países do bloco de Leste não compareceram).
Desta reunião resultou a dissolução da FRAIN, que foi substituída por outra nova organização que passou a funcionar naquela cidade marroquina e que adoptou a designação de Conferência das Organizações Nacionalistas das Colónias Portuguesas (CONCP).

Em Maio, François Mendy consegue fundir, pelo menos transitoriamente, o RDAG com o seu MLG no seio da Frente da Libertação da Guiné (FLG).

Em 27 e 28 de Maio, foi feita em Bissau a distribuição de grande quantidade de panfletos com propaganda subversiva.

Na noite de 17/18 de Julho um pequeno grupo de elementos do MLG, por decisão de François Mendy que pretende passar à luta armada, possivelmente para chamar a si as atenções mundiais, cortou a linha telefónica entre S. Domingos e a tabanca de Beguingue e tentou incendiar a ponte de Campada.

Na noite de 20/21 de Julho um outro grupo mais numeroso atacou o aquartelamento de S. Domingos fazendo uso de terçados (*), armas de caça, espingardas, garrafas de gasolina e cavadores (**). Na maioria envergavam camisas e calções pretos.

Em 25 de Julho um outro grupo provocou danos materiais na zona de turismo de Varela e em Susana, fazendo depredações e pilhando a maioria dos edifícios públicos, inclusive num posto sanitário.

No decorrer de todo o ano o PAIGC envia para a China (Pequim), Checoslováquia (Praga) e Gana grupos de elementos seus, a fim de frequentarem cursos de guerra subversiva e decide “passar da luta política à acção directa” em toda a Província sob o controle do “Bureau Político de Bissau”.

Verifica-se ainda a saída de muitos nativos para a República da Guiné e para o Senegal.
Entretanto, é criada a União Nacional dos Trabalhadores da Guiné (UNTG) que é uma organização sindicalista subsidiária do PAIGC sendo seu Secretário-Geral Luís Cabral, irmão de Amílcar Cabral.

1962

Em Janeiro, era anunciada em Dakar a constituição entre a UPA e o MLGC da Frente Africana contra o Colonialismo Português (FACP), réplica à FRAIN.
Apesar do acordo então estabelecido prever o desencadeamento de acção armada na Guiné, prestando a UPA, para o efeito, assistência técnica relativa à guerra de guerrilhas e fornecendo armas e munições, nunca mais se ouviu falar em tal Frente.


Em Março, são detidos em Bissau, o Presidente do Comité Central do PAIGC, Rafael Paula Gomes Barbosa (foto nos anos 90, da autoria de Leopoldo Amado, com a devida vénia), que vivia na clandestinidade e outros elementos responsáveis do “Bureau Político de Bissau”.

É ainda apreendida propaganda e variadíssima documentação, incluindo o planeamento de acções em pontos importantes de Bissau.

Nos meses de Junho, Julho e Agosto são desmanteladas várias redes do PAIGC espalhadas por toda a Província: Binar, Teixeira Pinto, Calequisse, Pelundo, Pecixe, Cacheu, S. Domingos, Suzana, Sedengal, Bafatá, Geba, Nova Lamego, Contuboel, Sonaco, Empada, Darsalame, Fulacunda, Bolama e Arquipélago dos Bijagós.

Além da captura de activistas e suspeitos foi apreendida numerosa documentação, armas e munições.

Através das declarações dos elementos detidos, verifica-se que agitadores e propagandistas tinham “trabalhado” já com uma certa profundidade as populações nativas “tabanca por tabanca”, “homens grandes”, mulheres e crianças.


Em 3 de Agosto, François Mendy conseguiu finalmente a fusão do seu MLG com a UPG, o RDAG e a UPLG no seio da Frente da Luta pela Independência da Guiné (FLING) – “a autêntica emanação do povo da Guiné-Bissau e único instrumento revolucionário para a libertação nacional”.

Nesta frente integram-se, por conseguinte, a quase totalidade dos guineenses radicados no Senegal, com excepção dos Manjacos do MLG-Dakar, que recusam aderir.
O PAIGC recusou o convite para fazer parte da FLING.

Na sua decisão de “passar da luta política à acção directa”, o PAIGC desenvolve intensa acção de propaganda e de aliciamento das populações do Sul da Província. Apesar da acção desenvolvida pelas nossas autoridades, o PAIGC desencadeia no segundo semestre deste ano, as suas primeiras acções violentas, em especial terrorismo selectivo visando autoridades tradicionais e agentes da ordem, em especial no sector Sul.

São apreendidas as primeiras pistolas (calibres 9 e 7,65 m/m) e destruídas diversas “casas de mato” já com camaratas, carreiras de tiro e pistas para treino físico.

Em Outubro, são referenciados os primeiros sobrevoos suspeitos, em especial de helicópteros.




Conakry nos finais dos anos 60 (?). A devida vénia ao autor desconhecido da foto.

Entretanto, partidários do PAIGC continuam a receber instrução de guerra subversiva na Checoslováquia, no Gana, em Marrocos, no Mali e na República da Guiné, onde em Conakry um grupo de instrutores argelinos (FLN) (***) se encontra desde Maio deste ano.

Em Dezembro, Amílcar Cabral apresentou-se como peticionário perante a Comissão de Curadorias da ONU, onde, além de pedir a independência da Província da Guiné, declarou que os seus partidários deveriam ser considerados soldados da ONU pois desempenhariam funções semelhantes às dos “capacetes azuis” que se encontravam no Congo.

1963

Em Janeiro, recrudesce a actividade IN no Sector Sul havendo a registar um ataque ao aquartelamento de Tite em que faz largo uso de PM, P e GM e ainda a execução das primeiras emboscadas na região de Bedanda. Simultaneamente, faz-se sentir a sua presença no Sector Oeste.

Em Março, roubou os navios “Mirandela” e “Arouca” perto de Cafine (Sector Sul), que mais tarde utilizou para transporte de pessoal e material da República da Guiné.

Em Junho, elementos do PAIGC desencadeiam actividades no Sector Leste, em especial na área de Xime.

Em Julho, faz explodir pela primeira vez um fornilho (****) à passagem de uma viatura no Sector Sul (estrada S. João - Fulacunda) e tentou efectuar sabotagens no Sector Leste (Paunca e Pirada).

Em Agosto, registaram-se as primeiras acções violentas no Sector Oeste (Oio) e o emprego da primeira mina A/C no Sector Sul (S. João).

Em meados deste ano, o IN começou a utilizar MLs.
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Notas:


(*) espada de folha curta, recta e larga.
(**) paus com ponta afiada em forma de trapézio.
(***) FLN, Frente de Libertação Nacional, o movimento independentista que levou De Gaulle, num célebre referendo, a "dar" a independência à Argélia.
(****) carga explosiva colocada numa cova de um percurso, frequentemente misturada com todo tipo de material dilacerante (pregos, granadas, bombas de avião não detonadas...)
__________

Nota do co-editor vb:

(1) Vd. posts de:

4 de Novembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2240: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (I): Período de 1947 a 1960

22 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte

26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVIII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - III (e última) Parte

Guiné 63/74 - P2242: Tabanca Grande (39): Francisco Palma, ex-condutor auto, ferido em combate, CCAV 2748 / BCAV 2922, Canquelifá (1970/72)

Guiné > Zona Leste > Canquelifá > CCAV 2748 (1970/72) > O Francisco Palma, residente em São João do Estoril, ex-condutor auto, hoje DFA, com mais de 30% de deficiência, em consequência de uma mina A/C, accionada em Abril de 1972.


Foto: Francisco Palma (2007). Direitos reservados


1. Mensagem do Francisco Palma que formaliza a sua entrada para a nossa Tabanca Grande:

Estimado Luis Graça,

No seguimento do meu e-mail de 24 de Outubro de 2007, desculpa a demora na resposta e a confusão sobre o Emir da CCAÇ 1623 (1), palavra de facto incorrecta (por vezes escrito como Amir, do árabe, comandante; é um título de nobreza historicamente usado nas nações islâmicas do Médio Oriente e Norte de África). A palavra apropriada será Brazão da CCAÇ 1623.

Aproveito para informar que a mensagem atingiu o alvo e tenho estado em contacto com o Custóias, operador de bazuca, ex-combatente da CCAÇ 187_(?), Canquelifá 1965/66, que terá sido o obreiro da construção do brazão da sua Companhia. O brazão foi posteriormente aproveitado pelos que vieram a seguir, a CCAÇ 1623 (Canquelifá, 1966/68), tendo sido alterados os dados...

Notícias da minha malta... Bem, como deves calcular, houve muita porrada, foram 22 meses de Canquelifá com todas as noites de sono incompletas (reforços e ataques). Sofremos 15 ataques nocturnos directos mais dois com foguetões 122, chamados mísseis, 4 de cada vez ... Estes eram respondidos com Obus 14. O alvo era o aquartelmento, mas as flagelações foram sem consequências graves, com raros feridos, tanto para as nossas tropas com para a os indígenas do aldeamento, que conviviam connosco dentro do arame farpado.

Há a registar ainda o rebentamento de uma mina anticarro, onde eu fui o único ferido. Sofri fracturas múltiplas em ambos os pés, quando conduzia um Unimog 411 (Burro do Mato) que transportava mais 11 Camaradas. Faltavam só 3 semanas para o regresso. Hoje sou DFA com 30,58 % de deficiência. Com a idade as sequelas agravam-se, mas estou vivo.

Apesar de todos estes combates tivemos 3 baixas nos primeiros 3 meses de missão: o Alf Guido Brazão, já aqui mencionado no blogue (2), o Soldado Amaral, ambos mortos em Canquelifá, e ainda o Soldado Gonçalves (morto em Dunane).

Enfim é sempre dificil explicar aqui acontecimentos que guardo vivos (demasiado vivos) no meu Hard Disc já com 59 primaveras.

Critíco vivamente a série A Guerra apresentada pela RTP e realizada pelo Joaquim Furtado, sobretudo pela maneira como é contada... Parece-me muito banal, as realidades dos milicianos, oficiais, sargentos e praças eram mais cruéis.

Junto anexo foto de então, em camuflado.

Um abraço
F. Palma


2. Comentário dos editores:
Francisco, estás em casa... A nossa Tabanca Grande fica mais composta contigo e com os demais camaradas da tua companhia, que queiras trazer, como o Firmino Moreira. Ficamos a saber, por ti, que ele "é o carola que compilou todas as moradas dos camaradas da CCAV 2748, e que iniciou os convívios a nível do BCAV 2922, nos primeiros 5 anos; depois a nível de companhia comecei a ser eu, embora com a ajuda dele, que não tem PC". As tuas melhoras. Vai dando notícias. E, se não te importares, conta-nos como foi esse encontro - que podia ter sido trágico - do teu burrinho com a famigerada mina anticarro, em Abril de 1970.

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Notas dos editores:


(2) Sobre o Guido Brazão, vd. posts de:


Guiné 63/74 - P2241: Álbum das Glórias (32): Um livro comprado em Bissau, no alfarrabista, de João Barreto, médico de saúde pública (Beja Santos)

Cópia da capa do livro de João Barreto, História da Guiné, 1418-1918. Prefácio do Coronel Leite de Magalhães. Lisboa: 1938 (Imprensa Beleza). 452 pp. (Existe na rede de Bibliotecas Municipais de Lisboa).


Foto: © Beja Santos (2007). Direitos reservados.


1. Texto enviado, em 11 de Outubro último, pelo Beja Santos (ex-alf mil, comandante do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70).


Assunto - A primeira «História da Guiné», e vale a pena apreciar os seus méritos

Conheci o livro de divulgação do Dr. João Barreto (1) em 1969, quando fui a Bissau, no rescaldo de uma mina anticarro. Ele era médico de Saúde Pública, estudou a doença do sono e o paludismo, Bolama ficou a dever-lhe uma campanha antilárvica, limpou a cidade do perigo anofelino.

Registou muitos dados, mas não era historiador, caíu em omissões, há relatos imprecisos, era por mentalidade um quadro colonial que transmitiu às suas observações. Foi através dele que fiquei a saber que Infali Soncó tinha sido uma boa peste...

É um texto de 1938, denota com algum rigor uma mentalidade, um importante estado de espírito. Se tiver interesse para os membros da nossa tertúlia, poderei falar abreviadamente dos seus conteúdos.

2. Comentário do editor L.G.:

Mário: Para aqueles que não são tão "ratos de biblioteca" como tu - sem desprimor - mas que têm curiosidade sobre o passado da Guiné-Bissau e das suas gentes, vale a pena, decididamente, fazeres uma recensão crítica do livro que, pelo que sei, é uma obra de difícil consulta: por exemplo, não existe na nossa Biblioteca Nacional; em contrapartida, existe na British Library... Há 2 exemplares na rede de bibliotecas municipais de Lisboa, resulltado de doações particulares... Assim vai o nosso património cultural, a nossa memória... Pode não ser obra de historiador académico nem profissional, mas é seguramente o trabalho de um estudioso, erudito e conhecedor do terreno... Manda quando quiseres ou puderes. L.G.
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Nota de L.G.:

(1) João Barreto é citado por A. Teixeira da Mota, na sua introdução (escrita em Luanda, 1970) ao livro As viagens do bispo D. Frei Vitoriano Portuense à Guiné. Biblioteca da Expansão Portuguesa, Publicações Alfa, S.A., Lisboa, 1989:

(...) Ao invés do que se verifica em relação às cidades de Angola e de Moçambique, cuja história tem merecido a atenção de numerosos estudiosos, o passado da cidade e da ilha de Bissau não tem concitado grandes atenções. Além do contido nas monografias clássicas de Chelmicki e Varnhagen e de Lopes de Lima, respeitantes a Cabo Verde e à Guiné, nas histórias gerais de Sena Barcelos e de João Barreto e em alguns relatórios de governadores, a bem pouco se reduz a bibliografia da história de Bissau. Assim, apenas nos ocorrem, nesse domínio, certas partes do relatório do médico Damasceno Isac da Costa, o estudo de Cunha Saraiva sobre a última fortaleza, a anotação de Damião Peres sobre a defesa castrense da povoação e o cuidado, mas breve, estudo de Fausto Duarte. (...)

Fonte: Senegâmbia > 7 de Agosto de 2005 > Introdução a "As viagens do bispo D. Frei Vitoriano Portuense à Guiné"

domingo, 4 de novembro de 2007

Guiné 63/74 - P2240: Como a 2ª REP/CTIG via os acontecimentos em 1967 (I): Período de 1947 a 1960

Transcrevemos sem comentários, Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas na Guiné, ou como os Serviços de Informação da 2ª Rep /CTIG viram a evolução dos acontecimentos.

Documento datado de 31 de Outubro de 1967.

Fixação de texto: vb
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CTIG > 2ª Rep > Uma síntese cronológica dos movimentos independentistas da Guiné (1967)

1946

Entre 19 e 21 de Outubro, reuniu-se em Bamako (Mali, então Sudão Francês) o Congresso da fundação da Reunião Democrática Africana (RDA), um movimento que, surgido na costa do Marfim, viria a constituir o principal instrumento de infiltração comunista na África Ocidental Francesa (AOF) e na África Equatorial Francesa (AEF).

Criado por Felix Houthouet-Baigny, deputado à Assembleia Nacional Francesa pela Costa do Marfim, o RDA contava entre os seus dirigentes mais destacados Gabriel Darbousier, um africano galardoado com o Prémio Estaline da Paz, e Raymond Barbet, membro influente do Partido Comunista Francês e Chefe do Gabinete do Governador da Costa do Marfim.

O programa da RDA baseava-se em três princípios: igualdade política e social dos indígenas e brancos, organizações locais democráticas e união livremente consentida com a França.


1947

Em Maio, Sekou Touré, actual presidente da Guiné e a principal figura da penetração comunista na Guiné Francesa, funda a secção guineense da RDA – o Partido Democrático da Guiné (PDG).

Até 1945, Sekou Turé havia desenvolvido as seguintes actividades pró-comunistas:

(i) Criação da União de Sindicatos da Guiné (USG), ligada à organização internacional comunista Federação Sindical Mundial (FSM);

(ii) Exercício da vice-presidência da FSM;

(iii) Ocupação do cargo de Secretário do Comité de Coordenação dos Sindicatos da Confederação Geral do Trabalhador (CGT) para toda a AOF.


1952

O Eng.º agrónomo Amílcar Cabral, nascido em Bafatá, filho de pais cabo-verdianos, ao tempo funcionário dos Serviços de Agricultura da Província da Guiné, sugere a criação de um “clube desportivo” reservado aos naturais da Guiné.

A não admissão de europeus e de cabo-verdianos deixava adivinhar a verdadeira finalidade do “clube”, que se pretendia fundar – “lançar as bases de uma organização de nativos, irmanando-os na mesma fé e nos mesmos destinos”.

O “clube” não chegou a ser autorizado pelo Governo da Província, mas a ideia de “uma união de nativos” estava lançada. Com o apoio de guineenses radicais, Amílcar Cabral organiza na clandestinidade o Movimento para a Independência da Guiné (MIG).

1956

Em meados deste ano são detectados, no sul da Província, nas tabancas das áreas de Cacine e Bedanda, “clubes de trabalho”, accionados por agitadores e propagandistas da RDA. A actividade destes “clubes” cessou com a prisão dos responsáveis.

O MIG, agora com o apoio das “organizações operárias e populacionais”, dá lugar a um partido que vem mais tarde a chamar-se Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC).

1957

No Outono deste ano, coincidindo com o II Congresso dos Partido Comunista Português (PCP), reuniram-se em Paris, os principais dirigentes do MPLA (Angola) e alguns revolucionários de Cabo Verde, Moçambique e S. Tomé e Príncipe com a finalidade de criarem uma organização susceptível de pôr em execução a nova táctica ordenada por Moscovo ao PCP, relativamente às províncias ultramarinas portuguesas. Desta reunião, resultou o Movimento Anti-colonialista (MAC) com os seguintes objectivos:

(i) "Estudar os problemas registados na luta travada pelas organizações patrióticas.

(ii) "Contribuir para uma orientação mais lúcida desta luta, tendo em conta a concreta evolução da política internacional.

(iii) "Trabalhar a favor de uma unidade de acção dos movimentos de libertação das colónias portuguesas.

(iv) "Formar as forças que actuam no interior dos territórios, reservas revolucionárias inesgotáveis, com o fim de subtrair ao colonialismo português qualquer possibilidade de abafar a luta libertadora dos povos”.

Era assim, fomentada a criação de organizações comunistas “autónomas” nas províncias portuguesas do ultramar, que já não dependiam do PCP, mas que estavam a ter a possibilidade de contactar directamente com a máquina comunista internacional.

Em 18 de Setembro, em Thiés (Senegal), é fundado o Partido Africano de Independência (PAI). A sua criação foi precedida de uma série de conferências realizadas naquela cidade sob a égide da RJDA (Juventude da RDA) e por uma intensa propaganda desenvolvida, em especial, no meio ferroviário.

O manifesto do novo partido declarava que o PAI lutaria “pela conquista do poder político, no âmbito da independência nacional, e pela entrega dos bens sociais àqueles que os produzem, no âmbito do socialismo”. O seu objectivo fundamental era a “eliminação da dominação imperialista e a construção da futura sociedade socialista africana.

Mais tarde, em data que não se pode precisar, são acrescentadas as palavras da “Guiné e Cabo Verde” formando a actual sigla PAIGC que virá a ser do mais importante e único partido que desenvolverá a actividade armada na Província. No entanto, em 1967, o PAIGC comemorou o seu 11º aniversário indicando o dia 19 de Setembro de 1956 como o da sua fundação.

1958

Em 28 de Setembro, a população da Guiné Francesa, sob a influência do PDG, recusa por esmagadora maioria a integração da Guiné na Comunidade Francesa.

Em 2 de Outubro é proclamada a independência da República da Guiné. O Senegal, por seu turno, surge como “república autónoma” a partir de 25 de Novembro. Desde então, foram surgindo nestes dois territórios limítrofes da Guiné Portuguesa diversos “movimentos emancipalistas” desta nossa Província.

Enquanto em Conakry eram concedidas ao PAIGC todas as facilidades exigidas pela estruturação de um agrupamento subversivo, no Senegal, em especial em Dakar, iam surgindo “movimentos” que, fiéis ao princípio “A Guiné para os Guineenses”, se revelaram, na sua quase totalidade, como acérrimos adversários do PAIGC, a quem atribuíam o objectivo de querer manter na Guiné “a secular preponderância dos cabo-verdianos sobre os guineenses”.

Entre os movimentos com sede em território senegalês, contavam-se os seguintes:

- Movimento de Libertação da Guiné e Cabo Verde (MLGC), dominado por cabo-verdianos que pretendiam a independência conjunta da Guiné e Cabo Verde. Este era um dos poucos movimentos que no Senegal tinham adoptado, na sua generalidade, a linha de acção do PAIGC;

- Movimento de Libertação da Guiné (MLG), a que aderiram a maior parte dos manjacos guineenses residentes no Senegal, que não aceitavam qualquer associação com os cabo-verdianos. Com sede em Dakar, chegou a ter filiais em Dakar e Bissau. Era seu chefe François Mendy, um estudante de Direito de ascendência manjaca nascido no Senegal;

- União Popular para a Libertação da Guiné (UPLG), que enquadrava alguns fulas residentes no Senegal;

- União das Populações da Guiné (UPG), à qual estava filiada uma minoria de guineenses residentes em Koldá (Senegal);

- União dos Naturais da Guiné Portuguesa (UNGP), movimento chefiado por Benjamim Pinto Bull que reclamava a autonomia da Guiné Portuguesa através do diálogo com o Governo Português;

- Reunião Democrática Africana da Guiné (RDAG), accionado por elementos da RDA e que integrava a colónia mandinga do Senegal.

1959

Em 3 de Agosto, perante uma reivindicação de salários dos trabalhadores do cais do Pindjiguiti (Bissau) seguida de greve, ocorre grave incidente de que resulta a morte de nove estivadores manjacos (1). Este acontecimento que não teve qualquer relação com os “movimentos nacionalistas”, passou a ser explorado por eles como sendo a primeira reacção contra a autoridade portuguesa e assim o PAIGC e o MLG disputam entre si a “responsabilidade” por este incidente.

Em Setembro, Amílcar Cabral, sob o pretexto de uma visita a familiares seus, permanece na Província da Guiné apenas sete dias. Contudo, este curto período de tempo foi suficiente para insuflar, entre os seus amigos e entre os companheiros das reuniões para a formação do “clube desportivo” já referido atrás, a ideia da necessidade da “luta emancipalista”, desenvolvendo a organização clandestina e iniciando o recrutamento de “quadros”.

Em 19 de Setembro, o PAIGC decide, no decorrer de uma reunião clandestina em Bissau, “passar da luta política à acção directa”.

No final do ano Amílcar Cabral fixa residência em Conakry.


1960

Em Janeiro, Amílcar Cabral, na qualidade de membro do MAC, assiste à Conferência de Tunes (a 2ª Conferência dos Povos Africanos). Foi por esta ocasião que o MAC foi extinto, sendo criada em sua substituição a Frente Revolucionária Africana para a Independência Nacional das Colónias Portuguesas (FRAIN ou FRAINCP), órgão que visava principalmente a acção directa e que pretendia alargar o campo de acção comunista a “todas as organizações que lutam pela liquidação do colonialismo português”.

Em Março, Amílcar Cabral, sob o pseudónimo de Abel Djassi, divulga em Londres a acção da FRAIN, através de um comunicado à imprensa.

Em Maio passa à clandestinidade e no segundo semestre visita Pequim, onde garante a instrução revolucionária de um grupo de elementos do seu partido.

Por esta altura, começam a ser detectadas na Guiné Portuguesa actividades subversivas reveladoras de uma organização com uma amplitude que não seria de prever, apesar do incidente do Pindjiguiti e das emissões rádio difundidas de Conakry tendentes a agitar a população guineense.

Em Outubro, o PAIGC, já com escritório em Dakar, faz publicar uma carta aberta dirigida ao Governo Português, propondo-lhe “uma solução pacífica do problema colonial da Guiné e de Cabo Verde” e em Dezembro, envia o seu primeiro memorando à ONU.

(Continua)

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Nota do co-editor vb:

(1) Vd. posts de:

22 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXV: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - I Parte

25 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - II Parte

26 de Fevereiro de 2006 > Guiné 63/74 - DLXXXVIII: Simbologia de Pindjiguiti na óptica libertária da Guiné-Bissau (Leopoldo Amado) - III (e última) Parte

Guiné 63/74 - P2239: As Nossas Tropas - Quem foi quem (2): António de Spínola, Governador e Comandante-Chefe (1968/73)

Lisboa > Belém > Forte do Bom Sucesso > Museu da Liga dos Combatentes > Poster Marechal António de Spínola, presidente da República entre 15 de Maio de 1974 e 28 de Setembro de 1974.


1. Nota(s) biográfica(s) recolhidas pelos editores do blogue e susceptíveis de serem aumentadas e melhoradas pelos restantes membros da nossa Tabanca Grande.O objectivo é termos aqui pequenas fichas de leitura sobre "quem foi  quem", nas Nossas Tropas, no TO da Guiné (1):


António Sebastião Ribeiro de Spinola (1910-1996)


- Nasceu a 11 de Abril de 1910, em Estremoz, no Alto Alentejo.

- Filho de António Sebastião de Spínola e de Maria Gabriela Alves Ribeiro de Spínola.

- Oriundo de uma família abastada: seu pai foi inspector-geral de Finanças e chefe de gabinete de Salazar no Ministério das Finanças.

- Em 1920, ingressa no Colégio Militar, em Lisboa, para fazer o ensino secundário que conclui em 1928.

- Em 1928, frequenta a Escola Politécnica de Lisboa.

- Casou, em 1932, com Maria Helena Martin Monteiro de Barros.

- Colocado inicialmente, em 1928, no Regimento de Cavalaria 4, irá exercer as funções de instrutor, durante seis anos, no Regimento de Cavalaria 7, a partir de 1933, já como alferes.

- Em 1939, exercerá as funções de ajudante-de-campo do comandante da GNR (Guarda Nacional Republicana), general Monteiro de Barros, seu sogro, e dará início à sua colaboração na Revista de Cavalaria de que é co-fundador.

- Em 1941, é integrado na missão de estudo do Exército português para uma visita à Escola de Carros de Combate do Exército alemão e à frente germano-russa.

- Em 1947, é nomeado para uma missão de estudo na Guarda Civil Espanhola, uma vez que exercia funções na Guarda Nacional Republicana.

- Em 1961, como tenente-coronel, desempenha as funções de 2ª comandante e comandante do Regimento de Lanceiros 2.

- Com o início da guerra em Angola oferece-se como voluntário e organiza o Grupo de Cavalaria 345.

- É colocado com a sua unidade, em Angola, em 1961, onde frequenta por curto período um curso de aperfeiçoamento operacional no Centro de Instrução Militar de Grafanil, em Luanda.

- A sua primeira missão é na região de Bessa Monteiro e mais tarde na região fronteiriça de São Salvador do Congo. Permanecerá em Angola até 1963.

- Em 1967, é nomeado 2.º comandante-geral da Guarda Nacional Republicana.

- Em 1968, é chamado para exercer as funções de governador e comandante-chefe das Forças Armadas da Guiné, cargos para que volta a ser nomeado em 1972, por recondução, mas que não aceita alegando falta de apoio do Governo Central.

- É carinhosamente conhecido, no TO da Guiné, por várias alcunhas: Homem Grande de Bissau, Calco Baldé, Aponta Bruno, etc. (2).

- Em Novembro de 1973, é convidado por Marcelo Caetano, numa tentativa de o colocar no regime, para ocupar a pasta de ministro do Ultramar, cargo que não aceita.

- A 17 de Janeiro de 1974, é nomeado para vice-chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, por sugestão de Costa Gomes, cargo de que é demitido em Março, por se ter recusado a participar na manifestação de apoio ao Governo e à sua política.

- A 25 de Abril de 1974, como representante do MFA (Movimento das Forças Armadas), aceita do Presidente do Conselho, Marcelo Caetano, a rendição do Governo, o que na prática significa uma transmissão de poderes.

- Com a instituição da Junta de Salvação Nacional, órgão que passou a deter as atribuições dos órgãos fundamentais do Estado, a que presidia, é escolhido pelos seus membros para o exercício das funções de Presidente da República.

- Ocupará a Presidência da República a 15 de Maio de 1974, cargo que irá exercer até 30 de Setembro de 1974, altura em que renuncia e é substituído pelo general Costa Gomes.

- Faleceu em Lisboa a 13 de Agosto de 1996.


PRINCIPAIS OBRAS PUBLICADAS

Por Uma Guiné Melhor (1970);
Linha de Acção (1971);
No Caminho do Futuro (1972);
Por Uma Portugalidade Renovada (1973);
Portugal e o Futuro (1974);
Ao Serviço de Portugal (1976).
País sem Rumo (1978).

O marechal António de Spínola ficará para a nossa história como o símbolo da transição dos regimes autoritários de Salazar e Caetano para a democracia pluralista, era a opinião do embaixador Nunes Barata que privou com ele de perto. Uma verdade que não deixa dúvidas.

Admirado por uns, odiado por outros, acabou por ser considerado um bom militar mas um mau político.

Homem do Exército, fez a maior parte do seu percurso militar durante a vigência do Estado Novo.

Começa a destacar-se em 1961, com o início da guerra em Angola, para onde se ofereceu como voluntário.

Em Angola, toma consciência de que para vencer a guerra de guerrilha a solução jamais poderia ser militar, mas sim política. Gradualmente faz sentir isto ao Governo.

É na Guiné, quando assume o seu governo, que faz essa pressão. A pouco e pouco vai advogando a ideia da constituição de uma federação que poderia ser aplicável aos territórios ultramarinos.

O seu livro
Portugal e o Futuro expressa bem essas ideias. Ideias de transição, já que não concebiam a concessão de uma independência total aos territórios ultramarinos.

Criado dentro dos cânones do regime, em que um dos pilares de sustentação era o império colonial, não conseguiu ultrapassar isto no seu todo.

As atitudes que vai tomando depois do 25 de Abril demonstram essa desadaptação. A sua demissão da Presidência da República após a tentativa falhada de golpe da chamada "maioria silenciosa", a 28 de Setembro de 1974, o seu envolvimento na tentativa de golpe militar de 11 de Março de 1975, são exemplos concretos.

É ainda um homem de transição quando aceita das mãos, de Marcelo Caetano a transmissão de poderes governativos. Uma situação similar à que já tinha sucedido por altura do golpe militar do 28 de Maio, quando um outro militar, Mendes Cabeçadas, aceita a mesma transmissão de poderes das mãos do Presidente Bernardino Machado. Embora não fosse um democrata de formação, colaborou, no entanto, para o início do processo democrático.

O importante papel que desempenhou é oficialmente reconhecido a 5 de Fevereiro de 1987, pelo então Presidente da República Mário Soares, ao empossá-lo como chanceler das Antigas Ordens Militares, e ao entregar-lhe as insígnias da Grã-Cruz da Ordem Militar da Torre e Espada, pelos "feitos de heroísmo militar e cívico e por ter sido símbolo da Revolução de Abril e o primeiro Presidente da República após a ditadura".


Fonte: Página Oficial da Presidência da República > Antigos Presidentes > António de Spínola

2. Comentário do editor do blogue, Luís Graça: Sobre o nosso Com-Chefe, escrevi o seguinte apontamento do no meu diário:

Excertos do Diário de um Tuga (L.G.)

Ponte do Rio Udunduma, 3 de Fevereiro de 1971:

De visita aos trabalhos da estrada Bambadinca-Xime, esteve aqui de passagem, com uma matilha de
Cães Grandes atrás, Sexa General António de Spínola, Governador-Geral e Comandante-Chefe (vulgo, o Homem Grande). Eu gosto mais de chamar-lhe Herr Spínola, tout court. De monóculo, luvas pretas e pingalim, dá-me sempre a impressão de ser um fantasma da II Guerra Mundial, um sobrevivmente da Wermacht nazi.

Mas o que é que faz correr este
velho soldado, como ele próprio gosta de se chamar ? É difícil adivinhar-lhe a sua paixão secreta, o seu móbil, sob a sua impassibilidade de samurai (ou de figura de cera?): a mitomania, o culto da personalidade ou, hélàs!, a presidência da república ...

Há qualquer coisa de sinistro na sua voz de ventríloquo, no seu olhar vidrado ou no seu sorriso sardónico: talvez seja a superioridade olímpica do guerreiro.

Cumprimentou-me mecanicamente. Eu devia ter um aspecto miserável. Eu e os meus
nharros, vivendo como bichos em valas protegidas por bidões de areia e chapa de zinco. O coronel (?) que vinha atrás do General chamou-me depois à parte e ordenou-me que, no regresso a Bambadinca, cortasse o cabelo e a barba…

A visita-surpresa do
Deus-Todo-Poderoso foi o meu único monumento de glória em toda esta guerra… Ao fim de vinte meses!... Só quero regressar, são e salvo, a casa, daqui a um mês e, se possível, levar comigo a barba que deixei crescer… na Guiné, longe do Vietname.

Esta leitura de Spínola e da sua entourage está necessariamente datada e é fruto (amargo e amargurado) das circunstâncias. Confesso que não gostava do personagem, não só pelo seu currículo militar como sobretudo pelos seus tiques: quando escrevia sobre ele, no meu diário, tratava-o sempre por Herr Spínola.
Sendo antimilitarista (ou pelo menos julgando-me como tal), sobretudo não gostava de Cães Grandes, como eu chamava aos oficiais superiores que, naturalmente, não podiam ser todos metidos no mesmo saco. O coronel (?) que me deu a piçada pelo meu ar selvagem, terá sido porventura o do Agrupamento ou do COP de Bafatá. Creio que já não era o Hélio Felgas, era um seu substituto. O tenente-coronel Polidoro Monteiro, novo comandante do BART 2917, não era, de certeza... Mas para o caso não interessa: não lhe fixei nem o nome nem os galões... E a barba que usava no final da comissão, mais curtinha, veio comigo... e está comigo até hoje.

Como eu não convivi com os oficiais superiores dos batalhões a que esteve afecta a CCAÇ 12 (e eu conheci dois, o BCAÇ 8252 e o BART 2917) - contrariamente aos alferes milicianos que estavam em Bambadinca, sede do Sector L1 da Zona Leste, que partilhavam o mesmo espaço (o bar e a messe de oficiais, separado do bar e messe de sargentos, como mandava a etiqueta militar) - , também não estabeleci laços afectivos com nenhum eles, oficiais superiores. Contrariamente a outros camaradas de tertúlia que já aqui deram o seu testemunho: por exemplo, o Paulo Raposo, o Paulo Santiago, o Beja Santos ou, mais recentemente, o Torcato Mendonça.
(... ) Caco (ou Caco Baldé) era a a alcunha por que era mais conhecido o General Spínola entre os seus soldados. O termo queria referir-se ao vidrinho ou monóculo que ele usava... Baldé era um dos apelidos mais vulgares entre os fulas, entusiásticos (e desgraçados) aliados de Spínola...

O general também era popular na caserna dos soldados, pela sua imagem de pai justiceiro... Ele era capaz de aparecer de surpresa num aquartelamento nos momentos mais insólitos ou mais dramáticos... Reconheço que as punições de oficiais superiores, incompetentes e impreparados para aquela guerra, deram-lhe uma auréola de homem corajoso, impoluto, determinado, um exemplo de liderança militar que era coisa que os nossos oficiais superiores - a nível de batalhão, pelo menos - não sabiam nem podiam dar, na generalidade dos casos...

Recorde-se que António de Spínola assumira, ainda como brigadeiro, em meados de 1968, os cargos de governador e comandante-chefe das Forças Armadas portuguesas na província portuguesa da Guiné, com a difícil missão de evitar o desastre político-militar que se anunciava: uma derrota das NT na Guiné teria fortes repercussões (psicológicas, morais, militares, políticas...) nas jóias da coroa imperial, que eram Moçambique e sobretudo Angola.

Já general, e com ambições políticas, abandonou funções de governador e com-chefe em 8 de Agosto de 1973. Em 24 de Setembro, o PAIGC proclama unilateralmente a independência, em Madina do Boé, e a nova República Popular da Guiné-Bissau é reconhecida pela ONU em Novembro. Spínola foi substituído a 25 de Agosto pelo general Bettencourt Rodrigues. Pelo lado português, havia então mais de 40 mil homens em armas no território, que continuaram a lutar até ao fim, em condições cada vez mais duras e dramáticas...
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Nota dos editores:

(1) Vd. post de 23 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2207: Tugas - Quem é quem (1): Vasco Lourenço, comandante da CCAÇ 2549 (1969/71) e capitão de Abril


(2) Sobre o nosso Com-Chefe, o General Spínola (1968-1973):

Vd. entre outros os seguintes posts:

30 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2231: Blogoterapia (34) : Os Ieros Jaus que trouxemos na nossa memória pisada (José Morais)


26 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2216: Os nossos vídeos (1): Feliz Natal e até ao meu regresso (Tino Neves)


10 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2172: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/69) (Idálio Reis) (11): Em Buba e depois no Gabu, fomos gente feliz... sem lágrimas (Fim)


27 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2137: Antologia (62): Guileje, 22 de Maio de 1973: Coutinho e Lima, herói ou traidor ? (Eduardo Dâmaso / Luís Graça)


12 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2100: A Política da Guiné Melhor: os reordenamentos das populações (1) (A. Marques Lopes / António Pimentel)


19 de Junho de 2007 > Guiné 63/74 - P1857: Estórias cabralianas (24): O meu momento de glória (Jorge Cabral)


23 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1779: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (6): Maio de 1968, Spínola em Gandembel, a terra dos homens de nervos de aço.


24 de Novembro de 2006 > Guiné 63/74 - P1314: Estórias de Bissau (8): Roteiro da noite: Orion, Chez Toi, Pilão (Paulo Santiago)


16 de Maio de 2007 > Guiné 63/74 - P1762: Tertúlia: Encontro de Pombal (15): Estórias do Caco Baldé (Spínola) (J.L. Vacas de Carvalho, J. Mexia Alves e outros)


25 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1461: Operação Macaréu à Vista (Beja Santos) (30): Spínola, o Homem Grande de Bissau, em Missirá


6 de Janeiro de 2007 > Guiné 63/74 - P1407: Tertúlia: apresenta-se o Coronel de Cavalaria Carlos Ayala Botto, ajudante de campo do General Spínola




16 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXXII: Aponta, Bruno! (ou outra alcunha do Spínola) (Zé Teixeira)


13 de Março de 2006 > Guiné 63/74 - DCXXIV: Estórias cabralianas (6): SEXA o CACO em Missirá


3 de Janeiro de 2006 > Guiné 63/74 - CDXVI: Herr Spínola na ponte do Rio Udunduma (Luís Graça)


24 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCX: Oficial do Estado Maior do 'Caco'... por duas horas (João Tunes)


7 de Dezembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCCXLVIII: Cartas que nunca foram postas no correio (1): Em Bissau, longe do Vietname (Luís Graça)


14 de Novembro de 2005 > Guiné 63/74 - Guiné 63/74 - CCLXXXIX: Op Lança Afiada (IV): O soldado Spínola na margem direita do Rio Corubal


29 de Setembro de 2005 > Guiné 63/74 - CCXXIV: Recordações do 'Caco Baldé' no Xitole (David Guimarães)

Guiné 63/74 - P2238: O portal russo Pravda.ru fala do filme As Duas Faces da Guerra e cita o nosso blogue






1. Pela mão do A. Marques Lopes, chegou-nos ao conhecimento o texto As duas caras da guerra, publicado em 2 de Novembro último, pelo portal russo Pravda.ru (1). É um recensão crítica do filme de Diana Andringa e de Flora Gomes, As Duas Faces da Guerra. Faz uma simpática referência ao nosso blogue, Luís Graça & Camaradas da Guiné.

Com a devida vénia, transcrevemos aqui o texto, do jornalista Alex Tarradellas.

2. Pravda.ru > 2.11.2007 > As duas caras da guerra (*)
por Alex Tarradellas (**)


A jornalista portuguesa Diana Andringa e um dos cineastas mais reconhecidos da Guiné-Bissau, Flora Gomes, decidiram fazer um documentário a quatro mãos e a duas vozes, que abordasse as duas caras da guerra colonial que confrontou o PAIGC (Partido Africano para a Independência da nGuiné-Bissau e Cabo Verde) com as tropas portuguesas, entre 1963 e 1974.

Diana Andringa apresentou o documentário durante o Festival Internacional de Cine Documental de Lisboa, lamentando a ausência de Flora Gomes, e enfatizando a necessidade de rever e recordar o cenário da guerra por muito que isso pese aos portugueses.

"As duas faces da guerra" (2) foi rodado durante seis semanas, nas quais os realizadores percorreram as regiões guineenses de Bissau, Mansoa, Geba, Bafatá e Guileje. Também viajaram para Cabo Verde e Lisboa. Tudo isso para recolher diversos testemunhos daqueles que viveram a guerra colonial, tanto militares portugueses, como militantes do PAIGC, ou simples moradores das povoações visitadas.

O facto de que cada realizador [puxar] a corda para um lado resulta no mais interessante da abordagem de um dos conflitos armados mais sangrentos, sofridos durante o colonialismo português. Prova disso é que o documentário está dedicado a Amílcar Cabral e a alguns soldados portugueses mortos em solo africano, cujos nomes Diana Andringa encontrou gravados numa pedra destruída, quando, em 1995, se deslocou à cidade de Geba como repórter de Público. De facto, esse achado foi o ponto de partida do trabalho.

A homenagem à figura de Amílcar Cabral é palpável ao longo do documentário. Longe de querer idolatrá-lo, os depoimentos definem a grande dimensão humana do revolucionário do PAIGC. Um guerrilheiro que, apesar de se encontrar no meio a um cruel conflito armado com tudo o que este acarreta, dizia sentir o povo português como algo de seu. É que, mais além da guerra, existia uma certa cumplicidade entre os dois lados.

Amílcar Cabral declarou, no início do conflito: "Não fazemos a guerra contra o povo português, mas sim contra o colonialismo". Essa ideia é chave para entender como muitos dos portugueses recrutados nas colónias estavam solidários com os movimentos revolucionários pela independência [o PAIGC, no caso de Guiné-Bissau e Cabo Verde, o MPLA (Movimento de Libertação de Angola) e a FRELIMO (Frente de Libertação de Moçambique)].

Também não é uma casualidade o facto de que os militares que se levantaram contra o regime salazarista durante a revolução de 25 de Abril, conhecida como a Revolução dos Cravos, fossem soldados combatentes na Guiné-Bissau, cansados de receber da metrópole ordens alheias à realidade na qual se encontravam imersos. Por isso, as imagens que aparecem no documentário não nos deviam surpreender, como as de um militante do PAIGC [, Manecas dos Santos,] que, com a euforia do 25 de Abril, grita para uma massa exaltada: "Viva o PAIGC! Viva o 25 de Abril! Viva Portugal!".

A meio do filme, a esposa de Amílcar Cabral faz uma declaração que é importante para entender os propósitos do guerrilheiro. Ela declara que, se fosse possível, Amílcar teria trocado as armas pelos livros para fazer a revolução. Era um homem extraordinariamente culto, com um grande poder de convicção nas suas palavras. Um dos principais objectivos do revolucionário era formar a cultura dos guineenses e cabo-verdianos desde a raiz, com uma educação baseada na história, na geografia e nas tradições dessas nacionalidades, e não nas impostas por Portugal.

E resulta irónico e é arrepiante escutarmos as palavras de um militante do PAIGC [, em Guileje,] acerca do fim da guerra. O homem conta-nos, com toda a naturalidade, como, uma vez terminada a guerra, todos voltam a ser amigos, esquecendo-se das antigas desavenças. Como se a guerra fosse um simples jogo de xadrez, em que as peças não se podem mover sem a mão dos jogadores, mas em que os jogadores dispõem de suas peças sempre que querem e podem.

A 20 de Janeiro de 1973, Amílcar Cabral foi assassinado em Conakry. Alguns meses depois, a 24 de Setembro do mesmo ano, foi declarada a independência da Guiné-Bissau, embora não fosse reconhecida internacionalmente até a Revolução dos Cravos. Se Amílcar não tivesse sido assassinado e hoje se encontrasse no mundo dos vivos, talvez não estivesse tão orgulhoso do panorama em que se encontra mergulhado seu país.

Segundo dados da Understanding Children Work (UCW), no ano 2000, 54% das crianças menores de 14 anos trabalharam um mínimo de 28 horas na Guiné-Bissau. A taxa de alfabetização era próxima de 44,8% em 2005. Isso deve-se aos contínuos golpes de estado provocados (e as consequentes guerras civis) contra governos frágeis que, muitas vezes, se assemelham àquelas peças de xadrez, as quais, sem a presença dos jogadores, não se podem movimentar.

Enfim, esse documentário contribuirá para que os portugueses e guineenses revejam uma parte fragmentada de sua história. E, por muito que doam, talvez os debates ajudem a banalizar a guerra até o ponto de lhe retirar o sentido. Talvez sirvam para que, no futuro, as únicas minas semeadas nos campos, nas florestas e nos caminhos sejam os livros, a melhor arma para ganhar uma guerra.

"A destruição do fascismo em Portugal deverá ser obra do próprio povo português; a destruição do colonialismo português será obra de nossos próprios povos."

"As massas populares são portadoras de cultura, elas são a fonte da cultura e, ao mesmo tempo, a única entidade verdadeiramente capaz de preservar e de criar a cultura, de fazer história." Amílcar Cabral (3).

Para mais informações, ver o interessantíssimo blogue realizado por
portugueses, ex-combatentes na Guiné-Bissau:
http://blogueforanadaevaotres.blogspot.com/

© 1999-2006. «PRAVDA.Ru».
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(*) Tradução do espanhol para o português de Brasil de Omar L. de
Barros Filho (omar@viapolitica.com.br), editor de ViaPolítica e membro de
Tlaxcala, e revista para o português de Portugal por Rita Custódio.

(**) Alex Tarradellas é membro de Rebelión, Cubadebate e Tlaxcala, a
rede de tradutores pela diversidade linguística. E-mail:
Alex_tarradellas_gordo@hotmail.com

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Notas dos editores:

(1) Sobre o portal Pravda.ru:

“Pravda.ru é uma grande empresa de notícias e opinião, na Internet (...) Pravda.ru foi a primeira empresa na Runet (Internet russa) a editar notícias. Este trabalho começou em Outubro de 2000, em versão inglesa, e é actualmente a edição online mais popular, no que toca à frequência de citações e de renovação da informação. Tem versão em português e existem planos para publicar versões em chinês e árabe. A Pravda.ru tem uma reputação estável e sólida e mantém-se num ranking muito alto.

"É visitada mensalmente por 4 milhões de internautas e o número diário de pageviews é de 250 mil. A Pravda.ru compreende as seguintes edições: Pravda.ru - notícias e análise em russo; English.pravda.ru – em inglês; Port.pravda.ru- em português; Italian.pravda.ru – em italiano; Electorat.info – edição dedicada aos eleitores e às eleições a todos os níveis . Yoki.ru - edição especial de informação para jovens; Pravda.ru/foto/- uma fotogaleria exclusiva; Farc.ru - portal recreativo e informático; e Escover.ru - edição informática e analítica dedicada à ecologia.”

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(2) Vd. post de 20 de Outubro de 2007 > Guiné 63/74 - P2197: A nossa Tabanca Grande e As Duas Faces da Guerra (4): Encontro tertuliano no hall da Culturgest na estreia do filme (Luís Graça)

(3) Vd. post de 30 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2142: PAIGC - Quem foi quem (1): Amílcar Cabral (1924-1973)