quarta-feira, 3 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19943: (Ex)citações (353): Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705)

1. Mensagem do nosso camarada Manuel Luís Lomba (ex-Fur Mil da CCAV 703/BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66) com data de 1 de Julho de 2019, com uma achega à circunstância da morte de Guerra Mendes:

Citação: (1963-1973), "Jaime Silva (Guerra Mendes)", CasaComum.org, Disponível HTTP:http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_43473 (2019-4), com a devida vénia.


Uma achega referida à circunstância da morte em combate de Guerra Mendes, comandante do PAIGC

Os ventos semeados pela História transformaram a Guiné em filial do inferno, os combatentes (dos dois campos) em seus diabos, mas as suas tempestades sobraram para o Povo bissau-guineense… 

A carta de Nino Vieira à sua hierarquia contém a evidência que levou o Jorge Araújo, no seu labor, a comunicar que o Comandante Guerra Mendes morreu em 14 de Fevereiro de 1965, na região de Buba/Antuane, no decurso da “Operação Gira”, manobrada pela CCav 702, o Pel Rec Fox 888, o Pel Mort 979 e a CCS do BCaç 513.

Naquele tempo e durante um ano, o BCav 705, aquartelado no Forte da Amura, esteve de reserva às ordens do Comando-Chefe, que investiu a valente malta da sua CCav 702 nessa operação, enquanto investia a sua CCav 703 a nomadizar em Cufar e, durante 65 dias, dormimos no chão, alimentámo-nos de rações de combate e andámos aos tiros com o Saturnino Costa, o Nino Vieira e a sua malta.

Se a memória não me engana (já lá vão mais de 50 anos!), em 10 e 11 de Abril desse ano, nós, a CCav 703 andámos de intervenção naquela região, na “Operação Faena”, em interacção com os Comandos "Os Fantasmas", o Destacamento de Fuzileiros 7, a CCaç 594, o Pel Rec Fox 888 e o Grupo de Milícia do João Bacar, com o apoio duma parelha de aviões de combate T6.

Nesta operação passámos 48 horas, “non stop” ou H24, como diz a malta da Força Aérea, num inferno de tiros e rebentamentos com os endiabrados Nino Vieira, Quebo Mané e a sua malta.

O Pelotão de Reconhecimento Fox 888 operava com a auto-metralhadora Fox “Simone” (de Oliveira) e com o granadeiro Whait e, em conversa com a sua malta, tenho a ideia que tinham abatido o Guerra Mendes (filho) e, duas horas depois, o Guerra Mendes (pai), que tentou vingar a morte do filho com uma granada em cada mão. Ou foi nessa operação ou na anterior.

Bobo Quetá diz que ele(s) eram de Bissau e como ele e o Nino Vieira não cultivavam o rigor pela verdade dos factos, perfilho a versão daquela malta, fã da “Simone”…
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Notas do editor

Vd. poste de 25 de Junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19917: (D)o outro lado combate (50): a morte de 'Guerra Mendes' (Jaime Silva) em Bulel Samba, Buba, em 14 de fevereiro de 1965, na Op Gira - Parte I (Jorge Araújo)

Último poste da série de2 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19736: (Ex)citações (352): In illo tempore, o Alferes José Cravidão, no CISMI de Tavira (Manuel Luís Lomba, ex-Fur Mil da CCAV 703 / BCAV 705, Bissau, Cufar e Buruntuma, 1964/66)

Guiné 61/74 - P19942: Historiografia da presença portuguesa em África (166): Teixeira Pinto e as operações na ilha de Bissau, 1915 (2) (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 20 de Setembro de 2018:

Queridos amigos,
Para os historiadores, nomeadamente para quem trabalha no período chamado de pacificação e ocupação da Guiné, é documento incontornável, o Capitão João Teixeira Pinto dá conta das escolhas a que procedeu para encontrar tropas auxiliares, enumera os seus colaboradores próximos, a Operação do Oio, sobre o Oio e sobre os Papéis do Churo, que antecederam a campanha de Bissau, aqui minuciosamente descrita. Teixeira Pinto era profundamente detestado por uma ala militar e pela Liga Guineense, é lastimável não possuirmos as peças concludentes que iluminem todo este processo que levou ao afastamento do capitão, que mais tarde viu o seu nome ressarcido. Uma das queixas foi a brutalidade exercida, os troféus de guerra e as pilhagens dos irregulares. Abdul Indjai saiu altamente beneficiado, é nomeado régulo do Oio, e depois perseguido, acusado das piores infâmias. Mamadu Sissé sairá pela porta triunfal, o seu nome é apresentado ao longo de décadas como o símbolo da lealdade guineense a Portugal.

Um abraço do
Mário


Teixeira Pinto e as operações na ilha de Bissau, 1915 (2)

Beja Santos

O relatório que o Capitão Teixeira Pinto dirigiu ao Governador da Guiné, em 1 de setembro de 1915, referente à coluna de operações contra os Papéis e Grumetes revoltados da Ilha de Bissau, é um documento-chave para a compreensão do que foram as últimas operações da chamada pacificação da Guiné continental, em 1915. O documento, em sede dos Reservados da Sociedade de Geografia de Lisboa, foi reproduzido no Boletim da Sociedade vinte e um anos depois, e tem sido documentado por alguma historiografia. O interesse que lhe conferi foi ver certas correções introduzidas e desenhos das operações, mas na verdade fica-se sem saber se são da autoria do capitão ou de quem ofereceu a cópia à Sociedade de Geografia de Lisboa.

No texto anterior, Teixeira Pinto comenta a derrota do inimigo e a necessidade de se proceder a uma conquista efetiva da Ilha de Bissau. Procede a um balanço:
“Tivemos 3 soldados feridos e nos irregulares 88 baixas, sendo 70 feridos e 18 mortos. Entre os feridos estava a chefe de guerra Mamadu Sissé, que depois de pensado não quis ficar no hospital, continuando à frente da sua gente. Todos se portaram com uma valentia que não há palavras para o poder descrever. Saliento o tenente de guerra que fez o seu batismo de fogo mostrando durante o combate muita energia e muito sangue frio, parecendo mais um guerreiro encarniçado nas guerras africanas do que um novato saído há pouco da Escola de Guerra.
O inimigo atacou com muita valentia e muito convencido pelos massacres que nós sofremos em 1891 e 1894 que eles nos massacraram e que tomariam conta da vila cujas casas comerciais e mulheres eles já tinham dividido entre si.”

Dias depois, começa a marcha sobre o chão Papel, com a seguinte formação:
“Na frente, para desenvolver sobre o alto de Bandim ia o Mamadu Sissé. Em seguida ia Aliburi (filho de Abdul Indjai) para desenvolver à direita dele onde apoiava a sua esquerda e, em seguida, os Futa-Fulas de Alfá Mamadu Seilú com os seus soldados e a metralhadora. Da retaguarda, marchava Abdul Indjai com a sua gente pronta a aparar o ataque do lado de Antula”.

O inimigo rompe fogo, a coluna passou todos os obstáculos e repeliu para além dos altos de Intim e Bandim. “Nesse dia de luta de 1 contra 10, com inimigo bem armado com armas aperfeiçoadas, bastante cartuchame e com a lenda de invencível, cada soldado, cada irregular, cada voluntário foi um herói. Graduados regulares e irregulares portaram-se de tal modo, mostraram tanta energia, tanto sangue frio, desenvolveram tal actividade que não sei descrever o entusiasmo e o reconhecimento que me invadiu quando à tarde estávamos acampados sem se ouvir um tiro no mesmo sítio em que acampou a coluna de 1908, que foi sempre mais ou menos hostilizada pelos inimigos”.

Está a coluna acampada no alto de Bandim há escassos dias, dá-se novo ataque dos Grumetes e Papéis, é repelido. “Durou duas horas o fogo, tendo nós tido 27 feridos e 4 mortos. Nesse dia, prevenia a praça que avançava no dia imediato sobre Antula e que fizessem o bombardeamento de Antula das 8 às 9 horas e que às 9 horas eu romperia a marcha, podendo às 9 e 30 horas atirar alguns tiros de granada sobre as povoações que deixávamos para evitar que viessem na nossa retaguarda”.

Segue-se um auto e na manhã seguinte a coluna prepara-se para uma luta rendidíssima em Antula, considerada pelos Grumetes e Papéis como chão sagrado, o Governo nunca tinha ali ido ao som de guerra.
Segue-se a descrição:
“A coluna levava marchando na frente em atiradores o chefe de guerra Mamadu Sissé com a sua gente apoiada pelo pelotão de soldados e metralhadora. No flanco esquerdo em fila indiana, a gente de Alfá Mamadu Seilú e Cherno Bacar. No flanco direito, também em fila indiana, a gente de Aliburi que apesar de ferido continuou em serviço. Na retaguarda, estendidos em atiradores, parte dos irregulares sob o comando directo de Abdul que marchava no centro com a reserva, pronto a acudir no ponto mais ameaçado. Encontrámos resistência fraquíssima. Papéis e Grumetes que estavam na povoação, depois de algum tiroteio, fugiram quando viram soldados e irregulares carregarem para o assalto. Perseguidos, deixaram bastantes mortos. Não tivemos mortos nem feridos e tínhamos tomado o chão sagrado. Ficou tão limpo de inimigos o território que às 15 horas o 2.º Sargento Vilaça e o voluntário Jorge Karam seguiram para Bissau por terra a levar a feliz nova da tomada de Antula sem mortos ou feridos”.

Dias depois de acampados em Antula, seguem para Cujá, nisto ouve-se forte tiroteio na retaguarda, era um ataque de Grumetes e Papéis. Segue-se até Jaal, com mais ou menos tiroteio, na mata, Grumetes e Papéis faziam uma gritaria ensurdecedora. Carrega sobre o inimigo, debaixo de chuva intensa. Jaal estava abandonada. Na manhã seguinte, o inimigo voltou a fazer fogo sobre o acampamento dos irregulares, carregou sobre o inimigo, foi desalojado. É neste contexto que Teixeira Pinto é ferido, marcha-se para Safim, o capitão entregou o comando ao Tenente Sousa Guerra e recolheu-se à lancha-canhoneira Flecha. Enumeram-se várias escaramuças dias a fio. Dias depois, a coluna progride para Contume e Bor, que foram tomadas. O inimigo ataca o acampamento de Bor, novamente repelido. Bor é cercada, o Tenente Sousa Guerra vai em seu auxílio. Grumetes e Papéis não resistem ao ataque a Cumeré. É neste enquadramento que se dá um episódio marcante. Em meados de julho, o régulo de Tor comunica a Teixeira Pinto que quer entregar armas e espadas. Foram então enviados mensageiros ao régulo do Biombo para que ele mandasse dizer se queria paz ou guerra.

Importa reproduzir na íntegra a prosa de Teixeira Pinto:
“Iniciámos a marcha às dez horas e meia e chegámos a Tor às doze e meia. Encontrámos o rei e os seus grandes sentados debaixo de umas grandes e lindas árvores. É um rapaz novo e simpático. À nossa chegada não estava ainda confirmada a sua nomeação. O povo queria-o, mas o rei de Biombo queria outro, por este não ser inclinado à guerra. Quando chegámos, este apresentou-se como rei e como tal ficou. Tinha junto algumas espingardas e espadas (…) Enviámos ao régulo do Biombo para que ele mandasse dizer se queria paz ou guerra. À noite vieram dois enviados dele trazendo meia dúzia de armas de pedreneira muito escangalhadas, dizendo que o régulo queria paz mas não podia juntar mais armas porque os rapazes as não entregavam. Percebi que era troça e mandei-lhe dizer que no dia seguinte iria para o Biombo e se ele realmente estava em boas condições e não queria guerra, que nos esperasse à entrada da povoação com as armas da sua gente. No dia seguinte, seguimos para lá e à entrada do Biombo estava uma árvore muito grande e grossa a que chamam aqui poilão, do lado da nossa marcha havia um monte de 80 espingardas encimadas por uma bandeira branca.
Do lado oposto estava o régulo com alguns dos seus grandes. Logo à chegada da guarda avançada da coluna e quando estavam a ver umas armas, partiu uma descarga feita pelos Papéis que se achavam emboscados por detrás de um morro de terra cercado por purgueiras, escapando por pouco de ser atingido o chefe de guerra Abdul Indjai. Não esperava semelhante traição e o régulo foi preso. Houve tiroteio rijo que durou até à tarde, tendo nós 17 feridos e 3 mortos. Interrogado o régulo, declarou que ele nunca se submeteria porque ele odiava os brancos, que tinha mandado sempre 500 homens a cada combate que tinha havido e que enquanto ele fosse vivo e houvesse um Papel do Biombo, haviam de fazer guerra ao Governo, e que se morresse e que se no outro mundo encontrasse brancos, que havia de fazer guerra.”

E este importante documento termina assim:
“Permita-me, Senhor Governador, que eu fale dos meus valentes colaboradores para os quais eu não encontro palavras no meu coração de português, nem para exprimir todo o meu reconhecimento pelo valioso serviço prestado à nossa querida Pátria, nem por saber traduzir todo o meu desejo de que lhes fossem dadas recompensas condignas.
Singelamente, descrevi os serviços prestados pelos meus auxiliares e irregulares e voluntários, mas V. Ex.ª decerto com a sua clara inteligência saberá compreender aquilo que a insuficiência da minha pena não soube dizer.
Como resposta àqueles que diziam que em Bissau não queriam que se fizesse a guerra aos Papéis e Grumetes, basta ler as linhas anteriores em que indivíduos e casas comerciais de Bissau cederam gratuitamente os seus barcos e concorreram com dádivas e provas inequívocas de simpatia”.

Régulo Mamadu Sissé, fotografia de Domingos Alvão, o régulo esteve presente na I Exposição Colonial que decorreu no Porto, em 1934.
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Nota do editor

Último poste da série de 26 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19920: Historiografia da presença portuguesa em África (164): Teixeira Pinto e as operações na ilha de Bissau, 1915 (1) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19941: O nosso livro de visitas (200): Ana Catarina Tavares, sobrinha-neta do capelão Libório Tavares (, nascido em 1933, em Rabo de Peixe, São Miguel; esteve em Nova Lamego, ao tempo do BCAÇ 2835, 1968/69; foi pároco em Brampton, Toronto, Canadá)


Guiné > Região de Gabu > Setor de Nova Lamego) > Canjadude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos" > 1969 > O alf mil capelão Libório Tavares, açoriano, dizendo missa, num altar improvisado. Ajudante, o José Martins, fur mil trms, CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70). É a úncia foto que temos deste capelão , de quem o José Martins faz um humaníssimo retrato (*).

Libório Jacinto Cunha Tavares:

(i) açoriano, nascido em 1933,  na ilha de São Miguel, em Rabo de Peixe;

(ii) frequentou o seminário diocesano da Terceira;

(iii) foi ordenado padre em 1958; esteve em várias paróquias da sua ilha natal, incluindo Rabo de Peixe;  

(iv) com  35/36 anos, foi capelão no CTIG, de 17/1/1968 a 10/12/1969, em Nova Lamego, no leste da Guiné [, como tudo iudica, no BCAÇ 2835:  mobilizado pelo RI 15, esta unidade partiu para a Guiné em 17/1/1968 e regressou a 4/12/1969; esteve em Bissau e Nova Lamego; comandantes: ten cor inf Esteves Correia, maj inf Cristiano Henrique da Silveira e Lorena, e ten cor inf Manuel Maria Pimentel Bastos; foi rendido pelo BCAÇ 2893 (1969/71)]:

(v) emigrou para o Canadá, foi pároco da igreja católica de Santa Maria, em Brampton, durante 26 anos, lugar que é hoje ocupado pelo seu sobrinho e afilhado, o padre Libório Amaral, nascido em 1963;

(vi) em 2016,  reformado, vivia  em Brampton, cidade suburbana da área metropolitana de Toronto, província de Ontario, Canadá:

(vii)  é muito conhecido de (e estimado por)  aa comunidade portuguesa e açoriana de Toronto, é foi considerado um dos principais animadores da tradição da multissecular festa do Senhor Santo Cristo 

(viii) a  ser vivo hoje, como esperamos, estará com 85/86 anos.

Foto (e legenda): © José Martins (2006). Todos os direitos reservados [Ediçaõ e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Mensagem de Ana Catarina Tavares:

Data: segunda, 1/07/2019, 19:58

Assunto: Padre Libório Tavares

Boa tarde,

Foi com muita felicidade e gozo que li a sua história sobre o padre Libório, meu tio avô! A forma como descreveu as histórias dele fizeram-me imaginar o ar e trejeitos dele! Até mesmo a forma de falar!

Muitos cumprimentos,

Catarina Tavares (**)


2. Resposta do editor LG, com cinhecimento do José Martins:

Ana: Obrigado pela gentileza do seu comentário... Espero que o tio-avô ainda esteja vivo e de boa saúde...

Vou dar conhecimento ao José Martins, que o conheceu bem... no teatro de operações da Guiné.  (*)

Gistaria que ele ainda se pudesse juntar a esta comunidade virtual dos anigos e camaradas da Guiné, a Tabanca Grande, partilhando connosco as suas memórias de Nova Lamego, como capelão do BCAÇ 2835 (1968/69).


3. Comentários ao poste P 16638 (*)

(i) Tabanca Grande Luís Graça;

Zé, onde foste arranjar o raio da alcunha de "capelini" para o capelão ?... "Capellini" (com dois l) é uma massa italiana, fina e longa, tipo aletria.... Ab. LG

25 de outubro de 2016 às 13:30 

(ii) José Marcelino Martins:

Caro Luis

Agora que colocas a "questão", sinceramente já não me lembro. Sei que criamos uma amizade forte e, sempre que ia a Nova Lamego não deixava de o procurar e conversar com ele. Como quando cheguei, ainda estive cerca de um mês e pouco em Nova Lamego, tínhamos encontro marcado, sempre ao fim da tarde,  e ajudava-o na missa que celebrava ao fim do dia, na Igreja local.

Talvez seja a "italianização" da palavra Capelão. Ab

25 de outubro de 2016 às 14:42 

(iii) Carlos M. Pereira:

Quanto mais leio este blog, e leio-o diariamente, mais fico desapontado com a qualidade dos oficiais e menos me admiro com o desfecho da guerra. Então os nossos alferes faltavam à parada da guarda e depois eram "absolvidos" por influência do sr capelão ?!... Claro que a partir daqui valia tudo. A indisciplina realmente era muita. E sem disciplina não há organização que se aguente,  muito mais se se tratar de forças armadas, vulgarmente designadas por tropa.

O termo capelini já em 68 o ouvi em Angola. Cumprimentos,

Carlos M.Pereira

25 de outubro de 2016 às 16:07

(iv) Tabanca Grande Luís Graça:

Zé: o equivalente a capelão, em italiano, é "cappellano" (no plural, "cappellani")... Mas não está mal, "capelini" ou "capellini" será uma forma, jocosa mas sem ser grosseira, brincalhona, de tratar o capelão na caserna... Antes de ser um oficial, um militar, ele é um sacerdote católico, apostólico , romano... Na tropa (e na guerra) havia outras cumplicidades que não era possível ter na vida civil... O próprio capelão sentia necessidade de "descer do altar" para estar mais próximos dos seus "rapazes"... E, embora de formação católica, muitos de nós, sobretudo os milicianos, já éramos "ovelhas ranhosas" ou já estávamos fora do rebanho...
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 25 de outubro de  2016 > Guiné 63/74 - P16638: Os nossos capelães (6): Libório [Jacinto Cunha] Tavares, o meu Capelini, capelão dos "Gatos Negros", açoriano de São Miguel, vive hoje, reformado, em Brampton, AM Toronto, província de Ontario, Canadá (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)

Guiné 61/74 - P19940: Parabéns a você (1648): António Graça Nobre, ex-Fur Mil Inf da CCAÇ 2464 (Guiné, 1969/70)

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Nota do editor

Último poste da série de 1 de Julho de 2019 > Guiné 61/74 - P19934: Parabéns a você (1647): Silvério Lobo, ex-Soldado Mec Auto do BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

terça-feira, 2 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19939: Efemérides (307): 0s 600 anos da Madeira e Porto Santo


Região Autónoma da Madeira > Funchal > Lido > Baía e ilhéu do Gorgulho > 2019


Foto (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Ontem, 1 de julho de 2019, foi o Dia da Região Autónoma da Madeira e das Comunidades Madeirenses, pelo que nos cabe saudar todos os nosos amigos e camaradas da Guiné que nos acompamham, neste blogue, quer vivam na região autónonma ou na diáspora madeirense.

Este ano celebram-se também os 600 anos da chegada dos primeiros portugueses aquele arquipélago.  Lê-se na página oficial dos 600 Anos da Madeira Porto Santo


(..) "1418, é o ano apontado como o ano da descoberta da Ilha do Porto Santo, circunstância ocorrida após uma tempestade em alto mar que desviou da rota uma embarcação que seguia pela costa africana. Gonçalves Zarco e a sua tripulação foram salvos por este pequeno bocado de terra ao qual batizaram de Porto Santo.

Um ano mais tarde, em 1419, avistou-se outro bocado de terra, o qual foi designado por Madeira, devido à abundância desta matéria-prima.

Gonçalves Zarco, Tristão Vaz Teixeira e Bartolomeu Perestrelo são os três navegadores que aqui chegaram e aqui ficaram, cada um com a sua capitania. Porto Santo a Bartolomeu Perestrelo, Machico a Tristão Vaz Teixeira e, Funchal a Gonçalves Zarco, isto, alguns anos mais tarde, em 1440, após se ter dado início ao Ciclo do Povoamento, em 1425, por ordem do D. João I."


Descoberta, achamento, (re)descoberta,  chegada oficial,  ocupação, povoamento, colonização...Os termos não querem dizer exatamente o mesmo.  Há controvérsia, entre os historiadores, sobre quem foram os "primeiros" a chegar ao arquipélago da Madeira (sete ilhas e cerca de 3 dezenas de  ilhéus...). Nem isso é relevante. Estas ilhas atlânticas já eram referidas na Antiguidade Clássica. A história não pode nem dever ser "glorificadora",  comoo foi claramente durante o Estado Novo e a guerra colonial. Essa função pode competir à arte, à poesia, à literatura... Como foi o caso de "Os Lusíadas" (, canto V, 5/00):

"Passamos a grande Ilha da Madeira,
Que do muito arvoredo assim se chama,
Das que nós povoamos, a primeira,
Mais célebre por nome que por fama:
Mas nem por ser do mundo a derradeira
Se lhe aventajam quantas Vênus ama,
Antes, sendo esta sua, se esquecera
De Cipro, Gnido, Pafos e Citera."


Interpretação: as lhas gregas, no Mediterrâeno,  como  Cipro (Chipre), Gnido, Pafos e Citera, estavam para os poetas clássicos como as ilhas atlânticas, com a Madeira em destaque, passam a estar para a poesia europeia, renascentista. E  amor de Vénus era a medida de todas as coisas...E não é pro acaso que nós a chamamos "Pérola do Atlântico".

Do ponto de vista geológico. a ilha da Madeira é mais nova (c. 7 milhões de anos, da idade miocéncia a holocénica) do que a ilha do Porto Santos (é do Miocénico Inferior, c. 18  milhões de anos)... Umas "criancinhas", quando comparadas com a "minha terra": a formação Lourinhã é do Jurássico Superior (c. 150 milhões de anos).

A portugalidade e a madeirensidade dos madeirenses, essas, têm 600 anos. E a efeméride precisa de ser comemorada (*). Neste(s) dia(s) não esqueçamos que os nossos camaradas madeirenses e porto-santenses que morreram pela Pátria, entre 1961 e 1974, na(s) guerra(s) colonial(ais). Cerca de duas centenas.




Região Autónoma da Madeira > Funchal > Sé do Funchal. >  Detalhes do Políptico da Capela-mor da Sé do Funchal (1512-1517), do Mestre da Lourinhã e ajudantes, composto por doze painéis, e que faz parte do retábulo do altar-mor...

É considerada uma das raras obras retabulares da primeira metade do século XVI, no nosso país, que permaneceu intacta até aos nossos dias. 

Dos doze panéis, há pelo menos 4 que, pelas suas caterísticas técnicas, temáticas e estilísticas, são atribuídas especificamente ao Mestre da Lourinhã,  sendo as restantes pintadas pelos seus ajudantes. Este pintor,  cuja ainda identidade se desconhece,  tem no núcleo museológico da Misericórdia da Lourinhã, duas  das suas obras-primas, o São João  em Patmos (c. 1510)  e o São João Baptista no Deserto (c. 1515... 

Tive o privilégio de há um mês, no Funchal,  observar, "in loco", este esplendoroso conjunto de trabalhos da pintura portuguesa do séc. XVI, uma provável encomenda régia, resultado da riqueza criada pelo ciclo do açúcar, o "ouro branco"...

O cultivo da cana-de-açúcar foi introduzido no arquipélago da Madeira, por finais da primeira metade do século XV. A produção de açúcar em larga escala permitiu  a sua exportação para portos da Flandres, através de Lisboa,  numa primeira fase e depois diretamente.  O consumo de açucar  começou a vulgarizar-se na Europa quinhentista, com implicações  na alimentação humana, na gastronomia, na medicina e na farmácia.  Em consequência do comércio do "ouro branco", aumentou  a importação também,  para o arquipélago, de bens "sumptuários" (, obras de pintura, escultura, ourivesaria, etc.),  satisfazendo as necessidades e exigências de "status" da elite local que enriqueceu  com a economia açucareira.

De novembro de 2017 a março de 2018, no Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, a exposição "As Ilhas do Ouro Branco" permitiu conhecer melhor "as elites comitentes locais através das suas encomendas – obras de pintura, escultura ou ourivesaria – provenientes da Flandres, do continente e até do Oriente. Numa última sala, expõem-se as mais destacadas obras-primas encomendadas, sintetizando, com particular brilho, a riqueza do património madeirense dos séculos XV e XVI, resultante do esplendor cultural proporcionado pelo ciclo económico do 'ouro branco'. Marcando o arranque das Comemorações dos 600 Anos do Descobrimento da Madeira e Porto Santo, esta embaixada cultural do arquipélago em Lisboa é constituída por 86 obras de arte."


Fotos (e legenda): © Luís Graça (2019). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


2. Por outro lado, alguns camaradas da Guiné, da nossa Tabanca Grande, a começar pelos nossos editores Luís Graça e Carlos Vinhal,  têm uma "relação especial" com a Madeira,  tendo formado companhia ou batalhão no Funchal (Carlos Vinhal) ou tendo combatido, no teatro de operações da Guiné, com camaradas oriundos do arquipélago da Madeira (Luís Graça).

No meu cso, recordo-me de, no regresso a casa, em março de 1971, o T/T Uíge ter parado no Funchal o tempo suficiente para nós irmos, em grupo (em bando!), cantar e dançar o bailinho da Madeira na famosa Rua do Comboio, em casa do Sousa, a mesa farta, e à volta uma alegre e numerosa família madeirense, jovial, simpatiquíssima, alegre, de que guardei para sempre a melhor memória...



Região Autónoma da Madeira > Funchal > 2 de Janeiro de 2008 > A Rua do Comboio (também conhecida por Caminho de Ferro: Vd. fotos antigas do Funchal)...onde morava, em 1971, a família do José Luís de Sousa. Por aqui passava até aos anos 40 do séc. XX o Caminho de Ferro do Monte (vulgarmente conhecido como Comboio do Monte ou Elevador do Monte), uma ferrovia de via única em cremalheira que ligava o Pombal, no Funchal, ao Terreiro da Luta, no Monte  numa extensão de quase 4 km.

A família do Sousa, o nosso Zé da Ila - era assim que o tratavamos, afectuosamente - , os seus numerosos manos e manas, ainda hoje os associo, a todos, por um qualquer automatismo da memória, ao filme Música no Coração...

Foi um momento único e mágico na viagem do nosso regresso a Lisboa...Vocês, amigos e camaradas da Guiné, não imaginam a alegria que foi, naquela casa, o regresso do mano Sousa, vivinho da costa, devolvido aos pais e irmãos, rodeado por todos os cacimbados dos seus camaradas, os furriéis e alferes da CCAÇ 12 (**).




Região Autónoma da Madeira > Funchal > Rua do Bispo > 31 de Dezembro de 2008 > O ex-fur mil at inf José Luís Sousa, da CCAÇ 12 (Contuboel e Bambadinca, 1969/71), mais conhecido entre os seus camaradas da Guiné pelo petit nom de Zé da Ila, mediador de seguros com escritório na centralíssima Rua do Bispo... Tropecei literalmente com ele, nas minhas férias madeirenses de fim de ano de 2008...

Na altura fiquei  com o contacto da sua empresa: José Luís Sousa - Mediação de Seguros, Lda, R. Bispo 36, 1º - B, Funchal, Madeira 9000-073, Tel: 291200410... Presuno  que ele já deve estar reformado...

Ele mudou de mail, mas eu registei o endereço numa folha de jornal... que foi parar ao cesto dos papéis... O José Luís era/é  um profissional competentíssimo na área dos seguros. Tive o prazer de conhecer o filho, com quem trabalhava. Era/é, além disso, um homem de muitas contactos: num ápice arranjou-me um transitário e um sucateiro de automóveis, dois contactos precisosos para o meu sobrinho, médico, que estava a mudar-se para o Porto, depois de um ano de trabalho no Serviço Regional de Saúde.

O Sousa foi meu duplo camarada, além de ter sido e continuar a ser um querido amigo: formámos companhia em Santa Margarida (CCAÇ 2590/CCAÇ 12), fizémos a guerra juntos, dormimos no mesmo quarto (eu, ele, o Tony Levezinho, o Humberto Reis, o Marques, o Joaquim Fernandes) em Bambadinca, de julho de 1969 a março de 1971...

Ele era o mais educado, o mais afável, o mais calmo, o mais polido, o mais correcto, de todos nós: um verdadeiro gentleman funchalense... possivelmente com costela britânica... A preocupação em afirmar-se como funchalense, levava-o a falar sem dizer os lhês... para evitar a armadilha do cerrado sotaque madeirense... Daí ter ficado conhecido como Zé da Ila... Era além disso um dos nossos tocadores de viola e baladeiros, ajudando a tornar menos penosas as nossas noites entre duas saídas para o mato.

Pertencia a uma numerosa e simpática família que morava na Rua do... Comboio. Uma família encantadora e prendada onde, rapazes e raparigas, tocavam e cantavam... É essa imagem que eu ainda guardo, da primeira vez que pisei a terra madeirense, no regresso da Guiné. O Uíge, em Março de 1971, parou umas horas no porto do Funchal, o que nos permitiu participar na festa de recepção que a família e os amigos do José Luís de Sousa lhe quiseram oferecer, a ele e aos demais camaradas metropolitanos da CCAÇ 12 que regressavam a casa, em rendição individual... 

Nunca mais esqueci o insólito nome da rua... que me pareceu mais íngreme e mais estreita na altura do que agora... (e seguramente com menos casas). Do comboio já não havia vestígios... Tratava-se de um elevador que ligava a baixa do Funchal ao Monte, começando na Rua das Dificuldades e escalando a Rua do Comboio... A linha foi extinta em 1943, se não me engano.

Recordei esta história na visita ao valiosíssimo e belíssimo Photografia - Museu 'Vicentes', instalado no antigo estúdio fotográfico de Vicente Gomes da Silva (1827 – 1906)...

Por outro lado, ligam-me à Madeira outros laços,  afetivos e profissionais... Tenho lá ido em trabalho e em lazer, desde o início dos anos 90 do sécuo passado, e feito bons amigos: por exzemplo, o Rui, a Cristina, a Sara, a Teresa, o Francisco, a Catarina...  Sem esquecer o meu cirurgião ortopedista, e camarada da Guiné,o Francisco Silva, que já me operou a um joanete e me fez uma artroplastia total da anca...

Last but the least, vou ter, vamos ter, eu e a Alice, uma neta madeirense, uma Clarinha...

Por estas muitas e boas razões brindo um Madeira à Madeira e a Porto Santo!...Ao passado, ao presente e sobretudo ao futuro!


Fotos (e legendas): © Luís Graça (2009). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]

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Notas do editor:


segunda-feira, 1 de julho de 2019

Guiné 61/74 - P19938: Efemérides (306): 75º aniversário do nascimento de Salgueiro Maia (1944-1992): homenagem da sua terra natal, Castelo de Vide


Foi hoje inaugurado, em Castelo de Vide, sua terra natal, o monumento de homenagem a Salgueiro Maia (1944-1992), justamente no dia em que faria 75 anos se fosse vivo (*).  O monumento consiste na museologização de um símbolo do 25 de Abril, a Chaimite V200, oferecida pelo Exército. (Fonte: CM de Castelo de Vide, com a devida vénia).

Também arrancaram, no passado dia 25 de abril, as obras para a construção da Casa da Cidadania Salgueiro Maia, que vai ficar localizada no castelo desta vila raiana do Alto Alentejo. Trata-se de  investimento superior a três milhões de euros e vai ser um espaço museológico e de educação cívica. O espólio de Salgueiro Maia, conforme a vontade expressa em testamento pelo capitão de abril, ficou na sua terra. Por outro lado, sabemos que este nosso camarada, que foi comandante da  CCAV 3420, Bula, 1971/73, fez questão, em vida, de ser inumado na sua terra natal, em campa rasa.

Por outro lado, a RTP passa hoje o documentário "Salgueiro Maia: rumo à eternidade". Ficha técnica > realização: Francisco Manso | produção: Cristina Mascarenhas | autoria: guião e texto: Francisco Manso | música: Luís Cília | intérpretes: locução de Rui Portulez | ano: 2019 | duração: 35 minutos. Depoimentos: Adelino Gomes, Alfredo da Cunha, Carlos Beato, Carlos Matos Gomes, Hermínio Martinho,  José Alves da Costa,  entre outros.

Vd. também a página no Facebook da Associação Salgueiro Maia. Tem página na Net aqui.

Fernando José Salgueiro Maia, tenenente coronel de cavalaria, foi agraciado, com as seguntes ordens honoríficas:  

(i) ainda em vida, em 1983, Ordem da Liberdade, Grau Cavaleiro;

(ii) a título póstumo, em  1992, com a Ordem da  Torre e Espada,  Valor, Lealdade e Mérito, no grau Grande Oficial:

(iii) a título póstumo, em 2016, Ordem do Infante D. Henrique, Grau Cavaleiro.


Lisboa > Av Berna > Muro da Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade NOVA de Lisboa (FCSH / NOVA)> Destaque para a figura do cap cav Salgueiro Maia (comandante da CCAV 3420, Bula, 1971/73), nosso camarada da Guiné,  e que eu conheci pessoalmente no ano letivo de 1975/76 no então ISCPS - Instituto Superior de Ciências Políticas e Sociais, na Rua da Junqueira, onde fomos colegas, por um ano, no curso de licenciatura em Ciências Sociais e Políticas, embora sem qualquer relacionamento pessoal.

Foto (e legenda): © Luís Graça (2014). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Como já escrevi em tempos: 

Na altura, quando andávamos no ISCSP, estupidamente (!), nem sequer me ocorreu falarmos da Guiné onde estivemos na guerra, embora em alturas e sítios diferentes, eu, de 1969/71, em Bambadinca, ele de 1971/73, em Bula ... 

Nessa época, eu só queria esquecer a Guiné!... E das vezes que nos cruzámos, recordo-o como um típico militar do QP, de cavalaria, distante, reservado, e equidistante dos diferentes grupos estudantis de esquerda e extrema-esquerda que então imperavam no ISCSP.  No tenho ideia de alguma vez o ver fardado. 

Alguns dos colegas de curso não lhe perdoavam a sua participação no 25 de novembro, e quase ninguém tinha distância 'afetiva e efetiva' para antever o seu lugar na história de Portugal, enquanto operacional do 25 de abril (e do 25 de novembro). 

A crispação político-ideológica era então muito grande em 1975 e ainda em 1976... Por outro lado, os portugueses, têm, de há muito, uma 'relação bipolar', de amor-ódio,  com os seus heróis... (mas também com os seus deuses, santos, diabos e diabretes; possivelmente, essa relação 'bipolar', senão mesmo 'esquizofrénica', é universal, está longe de ser exclusiva dos tugas)... (**).

E em comentário ao poste P16275, acrescentei:

(...) "Salgueiro Maia teve a felicidade (ou a infelicidade, para os que o amavam, a esposa, os filhos, os amigos...) de 'morrer cedo de mais' (desgraçadamente, foi traído, aos 47 anos, por um cancro, que hoje poderia ter tido cura).

Nunca mais esqueceremos a cena dramática, épica, que foi o seu 'duelo' com os carros de combate que vieram da Ajuda e que lhe queriam barrar o caminho para a liberdade... É uma página extraordinária da nossa história!... 


Como cruel, e mesquinha foi a 'vingança' da hierarquia político-militar corporativa e conservadora que retomou as rédeas do poder e fez tudo para o amesquinhar e até destruir... A última parte da sua carreira militar (, 'desterrado' para os Açores e depois colocado à frente do 'presídio militar' de Santareém, afastada da sua casa, a EPC...) é  das coisas mais vergonhosas que lhe fizeram: autêntico 'bullying' castrense,  do mais mesquinho!...

Não somos bons a julgar os nossos contemporâneos, e sobretudo os melhores de todos nós. Temos uma problema de 'ejaculação precoce' nos juízos históricos do presnente ... Somos incapazes de raciocionar de maneira sinóptica, de ver,  num só relance, os que são geniais, que são mais do que homens, menos do que deuses, os nossos heróis... Só somos bons, a fazer consensos 'post mortem'... Mesmo assim é preciso, muitas vezes,  que os de fora, os 'estrangeiros',  nos deem uma dica... Temos, em suma, um grave problema de autiavaliação, de autoestima e de autoconfiança...

Não sei se é cinismo, se é fatalismo, se é morbidez, se é mesquinhez, se é inveja.... Direi apenas que é 'alma 
 pequena'... Levamos tempo e temos dificuldade em perceber de imediato a genialidade, a generosidade, a heroicidade, a santidade... dos nossos melhores: Camões, padre António Vieira, Sanches Ribeiro, Bocage, Camilo Castelo Branco, Eça de Queiroz, Amadeo Sousa Cardoso, Fernando Pessoa, Aristides Sousa Mendes, Veira da Silva, Humberto Delgado, António Damásio, Eduardo Lourenço, Jose Saramago, António Lobo Antunes, Sofia de Melo Breyner Andresen, Herberto Hélder, Salgueiro Maia, Vhils... são apenas alguns exemplos que me ocorrem, assim de repente, no campo das letras, da ciência, das artes, da ação cívica e política...

Estranho povo este... Mas não temos volta a dar: afinal somos nós, no nosso melhor e no nosso pior"...

2. Este mural [, inagem acima,] resulta de um desafio lançado pelo Instituto de História Contemporânea (IHC), unidade de investigação da FCSH/NOVA, a minha Universidade,   a que respondeu Vhils, co-fundador da plataforma Underdogs... o qual convidou mais quatro artistas (Miguel Januário, Frederico Draw, Diogo Machado e Gonçalo Ribeiro) para, em conjunto, pintarem o muro da Faculdade. 

 É uma visão (artística) do passado, do presente e do futuro do 25 de Abril de 1974. O objectivo foi “mostrar como esta nova geração de artistas interpreta o 25 de Abril e como esta data influenciou as suas vidas”, afirmou na altura, em 2014, Vhils, também conhecido por Alexandre Farto (n. Lisboa, 1987), e hoje já mundialmente famoso como artista da chamada "street art" ou arte urbana  (Fonte: FCSH/UNL).

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Notas do editor:


Guiné 61/74 - P19937: 15 anos a blogar desde 23/4/2004 (10): o misterioso homem da piroga, afinal um rapaz do nosso tempo, o Renato Monteiro, que fez a "fotobiografia" da nossa guerra... Foi "lacrau", da CART 2479 / CART 11, andou por Contuboel e Piche, levou uma porrada, foi parar à CART 2520, ao Xime, ao Udunduma e ao Enxalé...



Guiné > Região de Bafatá  > Contuboel > Centro de Instrução Militar de Contuboel > Junho de 1969 >  A dolce vita dos dois primeiros meses de comissão...  Em primeiro plano, Luís Graça (CCAÇ 2590 / CCAÇ 12) e Renato Monteiro (CART 2479 / CART 11), em passeio pelo Rio Geba. Ao fundo, a velha ponte e açude, de madeira, sobre o rio Geba Estreito, onde o Renato Monteiro, um dia, esteve prestes a morrer afogado, à minha frente!...

Como legenda a esta foto, do meu álbum, eu escrevi o seguinte em 2005:

"Nunca mais encontrei o meu amigo Monteiro que, segundo creio, é o coautor de um livro que li e apreciei muito sobre a guerra colonial (Renato Monteiro e Luís Farinha - Guerra colonial: fotobiografia. Lisboa: D. Quixote, 1990, 307 pp)"... 

Acabei pro receber, passados uns tempos, em 4 de julho de 2005, a seguinte mensagem, assinada pelo Renato Monteiro:

 "Amigo Luís: Muito surpreendido por me rever numa piroga no rio Geba. Na verdade, não me lembrava desse episódio. Não menos espantado por rever a picada do Xime e outros locais que, passado tanto tempo, ainda se encontram bem presentes na minha memória... Lamento, ao contrário, não ter reconhecido ninguém nas fotos nem, sequer, te referenciar. Não sei a explicação. Sou, na realidade, coautor do livro que referes. Fico ao teu dispor para o caso de quereres comunicar, e feliz pela Internet ter possibilitado este reencontro. Um abraço, Renato Monteiro".

Foto (e legenda): © Luís Graça (2005). Todos os direitos reservados. [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Este texto esteve guardado, durante quase um ano, até ser publicado em 23 de junho de 2006 (*)... Não o fiz por respeito à vontade (tácita) do seu autor, que eu conheço de Contuboel, do Centro de Instrução Militar de Contuboel, dos brevíssimos meses de junho e julho de 1969, e de quem perdi depois, completamente, o rasto (mas não o rosto)... O rosto vim a reconhecê-lo na contracapa de um livro (Renato Monteiro e Luís Farinha - Guerra colonial: fotobiografia. Lisboa: D. Quixote, 1990, 307 pp)... Enfim, uma estória singela de encontros e desencontros já aqui evocada no nosso blogue, em 23 de junho de 2006 (**)...

"O misterioso homem da piroga", que me conduzia, rio Geba Estreito abaixo, havia embarcado para a Guiné em 18 de fevereiro de 1969, três meses antes de mim. Fazia parte da CART 2479 / BART 2866 (***)... Passou por Contuboel (Junho/Julho de 1969) e depois por Piche, acabando por mudar de companhia, por motivos disciplinares...

A porrada (, dez dias de detenção,) valeu ao Renato a mudança de companhia: foi colocado no Xime e depois no Enxalé, na CART 2520 (1968/70)... Por pouco tempo, já que o paludismo apressou-lhe o fim da comissão: evacuado do Hospital 241 foi transferido para o HMP, em Lisboa, em 4 de Setembro de 1969.

Tudo para justificar a quebra de um compromisso e dar a conhecer, aos restantes camaradas e amigos da Guiné, uma camarada da Guiné, com uma história de vida e uma sensibilidade singulares, um homem "desalinhado" como alguns de nós, e sobretudo que sabe pôr em palavras muito daquilo que sentimos e vivenciámos na tropa e na guerra, ou não fosse ele um poeta, um artista, um fotógrafo.

O Renato há  muito que me perdoou eu ter-lhe retirado um pouco do seu mistério... (LG)


2. Diga se me ouve, escuto!

por Renato Monteiro

[ex-fur mil,  CART 2439 /, CART 11, Contuboel e Piche, 1969/ CART 2520, Xime e Enxalé, 1969/70);  licenciado em história pela Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, foi professor do ensino secundário; tornou-se um notável fotógrafo do quotidiano, com obra feita (vários álbuns publicados desde 1998; e tem pelo menos 20  blogues de fotografia). Nasceu em 1946, no Porto, vive em Lisboa]


Amigo Luís:

Apesar dos inúmeros apagões (alguns intencionais) sobre o capítulo da minha história (desde o embarque ao regresso), tenho a ideia de, nesse tempo, ser sempre dos últimos a chegar à formatura. A falta de pontualidade acabava sempre por constituir motivo sério de repreensão (inúmeras vezes repetida) pelo Comandante da Companhia [, cap mil art Analido Aniceto Pinto (1934- 2014), foi funcionário da Galp Energia):
- Ó Monteiro, um dia destes, dou-lhe uma porrada!

É bem provável que te recordes do sujeito: um tipo excessivamente baixinho, que nunca foi capaz de fazer uma meia volta - volver sem criar a impressão de mover-se numa matéria adesiva, impedindo a rotatividade livre dos calcanhares. Era também conhecido  por filtrar as sílabas e as vogais através do cornetim nasal, em vez do uso comum das cordas vocais quando comunicava com o pessoal...
comandante:

Não vale a pena adicionar, a estas, outras características inerentes ao sujeito para perceber como, a partir de certa altura, o regime, com um número cada vez mais insuficiente de quadros permanentes, não teve outro remédio senão mandar para as urtigas os manuais de selecção de pessoal para as três frentes... Em determinada fase do campeonato, os recursos humanos deixaram de se preocupar com a questão dos perfis: servia qualquer um.

Como não alterei, em nada, esta inclinação espontânea para o desalinho, acabei por propiciar o cumprimento da promessa nasalada do capitão, cedo demais, em Piche, para onde fôramos transferidos.

Após 10 diz de detenção domiciliária, em situação de incomunicável, acabei por ser recambiado para o Xime, com um grande sentimento de luto, sobretudo em relação aos africanos do meu pelotão (com quem trocava imensas estórias) para além de me ver afastado do companheirismo de um ou outro camarada, especialmente do furriel Cunha (mais conhecido por Canininhas) que, tendo sensivelmente a mesma estatura da do capitão, não era tão baixinho quanto aquele!

Natural do Barreiro e filho de um palhaço, herdara do pai um grande humor (que muito ajudou a contrariar a propensão para uma revolta amarga que me deixava a falar sozinho), sendo, ainda, dotado de uma aptidão fora de série para tocar qualquer instrumento. (Hoje não faz outra coisa do que andar pelo país fora, a concertar órgãos e pianos gripados...).

Desde a aterragem no Aeroporto da Portela (1969),  vi-o apenas três vezes: uma com o propósito de me facultar o diário da companhia [, a história da unidade,]  (a CART 2479); outra para me ceder algumas fotos tiradas por si na Guiné (algumas das quais figuram no livro Guerra Colonial: Fotobiografia, 1990); e uma outra a pretexto de beber um copo...

Seguramente que a personalidade do Canininhas, vertida para a literatura, não careceria de muita elaboração ficcional, bastando quase só transcrevê-lo... E, pergunto-me se não terá sido ele o autor da foto da Piroga do Geba, já que uma das suas fixações era, para além de perfilhar uma gazela (!), adquirir uma câmara fotográfica...

Como tu, é difícil recordar o terceiro camarada que se encontrava connosco e a quem , afinal, se fica a dever este inesperado reencontro entre nós e, com uma certa memória de mim próprio...

Ao contrário da maior parte das pessoas que conheço (e crê, não me vanglorio desta particularidade) nunca mais cuidei em revisitar os antigos companheiros... Sequer os que integravam a Companhia sediada no Xime que incorporei [, a CART 2520].

Salvo os graduados, a maior parte [da CART 2520] era constituída por malta recrutada no Alentejo, tendo como comandante [, o cap mil António dos Santos Maltez,]  um homem com quem apenas troquei duas ou três brevíssimas conversas, uma das quais em torno de livros que líamos e autores que apreciávamos.... Igualmente miliciano, de formação católica, de quando em quando, procedia a uma breve cerimónia no centro da parada, junto a um padrão ou coisa do género, onde lia umas passagens da Bíblia a muito poucos (meia dúzia ?) de soldados que, voluntariamente, o acompanhavam...

Ao que julgo, era professor de Química e, apesar de não recordar o seu nome (imagina, como trabalhei para a evaporação destas memórias),  conservo dele a melhor das lembranças... Aceitava pacificamente a minha tendência para o desalinho (se é que dava por isso) e eu respeitava-o.

A partir do Xime, como sabes, a par das incursões que se faziam em direcção (por vezes mais aparentes do que efectivas) às bases ou acampamentos dos Turras (devidamente assinalados no mapa da tua página), mantínhamos um contacto regular com Bambadinca para o reabastecimento logístico.


Guiné > Região de Bafatá  > Setor L1 (Bambadinca) > Estrada Xime - Bambadinca >  CART 2530 (1969/70) > Destacamento da Ponte do Rio Udunduma >1969 > "Lembro-me de poucos momentos, desse tempo, a cores… Ponte do Rio Udunduma onde nos banhávamos e, à falta de um aparelho de pesca capaz, houvesse quem apanhasse peixe à granada… Vê-me, Luís, esse par de bidões, e diz-me se não são uma ternura!"...

Ponte do Rio Udunduma. A segurança desta ponte era vital para as NT. Ficava a 4 km de Bambadinca e a 7 do Xime. No célebre ataque a Bambadinca, em 28 de maio de 1969, a guerrilha tentara dinamitá-la. Desde junho de 1969 a ponte era defendida por 2 secções da CART 2520 (Xime) e, mais tarde, por um Gr Comb da CCAÇ 12 (a partir do final do ano de 1969), alterando com o Pel Caç Nat 52, comandado pelo alf mil  Beja Santos (transferido de Missirá para Bambadinca em Novembro de 1969, sendo substituído em Missirá pelo Pel Caç Nat 54, do alf mil  Correia). Havia apenas abrigos individuais, extremamente precários: bidões de areia com cobertura de chapa de zinco, e valas comunicando entre os abrigos individuais.

Foto (e legenda): © Renato Monteiro (2007). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]-

A Ponte de Rundunduma, próximo daquela aldeia (e que se encontra igualmente ilustrada na tua página), foi ocupada inicialmente pela secção de que fazia parte. [Trata-se de Amedalai, LG...]

No dia em que lá chegamos, a preocupação prioritária foi a de cavar uma vala, vertiginosamente, operação deveras penosa mercê da dureza do terreno, e de no dia seguinte tratarmos de construir uns frágeis abrigos, com os usuais bidões, enchidos com pedra e areia cobertos por folhas de zinco.

Imaginarás como nos sentíamos tão vulneráveis, sobretudo à noite, face a uma hipotética investida do IN. A expectativa de sermos atacados, com os parcos dispositivos de defesa e o reduzido número de homens que dispúnhamos, causava-nos uma grande intranquilidade... Alturas houve em que apenas dormitava durante o dia, por temer a probabilidade de virem a incomodar-nos de noite, estando ainda por perceber a que razão de não nos terem visitado... Ora, para serem bem sucedidos, nem precisariam de grande ousadia!

À volta do rio, nos charcos, o insistente coaxar das rãs era-me tão insuportável que a custo simulava junto da Guida a irritação que me provocava o pitoresco e pacífico som daquelas sujeitas quando, mais tarde, as surpreendíamos nos lagos do nosso namoro!

Apesar de partilhar com os demais aquele sentimento permanente face à iminência das emboscadas e flagelações aos aquartelamentos (que acabaram episodicamente por suceder) onde me senti, apesar de tudo, menos desconfortável (se assim posso dizer) foi no Enxalé, para onde fui destacado.

Aí, tive a oportunidade de retomar o contacto com as comunidades africanas, balantas e mandingas, que coabitavam, paredes meias, com o destacamento. Através da leitura recente que fiz a registos dessa altura, soube (para minha surpresa) que cheguei a ter perto de cem alunos aos quais procurava ensinar a falar e a escrever a língua portuguesa,  utilizando como espaço lectivo um antigo armazém de um colono, que se pôs em fuga no início da Guerra... [Trata-se do Pereira do Enxalé, pai da nossa grã-tabanqueira Maria Helena Carvalho. ]

Mas o pior de tudo foi ter sido incumbido de gerir a logística e de me ver obrigado a aplicar as formas de camuflar o saldo negativo que ingenuamente (?) herdara do camarada anterior, enquanto aguardava, ansiosamente, pela nossa transferência para a ilha de Bissau, onde viria a ser internado no Hospital com uma infecção que me proporcionou o regresso, dois meses antes do previsto, a Lisboa.

Logo no início desta longa resenha falava-te da falta de pontualidade em chegar às formaturas. Amigo Luís, essa lacuna mantém-se até hoje. Não apenas em relação às coisas que se comparam com a seca das formaturas, mas também com as que envolvem prazer, como o simples acto de responder-te...

Em parte, este deixar para amanhã o que deve ser feito logo, prende-se com a falta de tempo ou, melhor dito, com a forma como o ocupo...

Disso te darei notícia, tão breve quanto possível, aproveitando para responder às tuas últimas palavras.

Um grande abraço,
Renato
Lumiar, 28 - 7- 05 (****)
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Notas do editor:

(*) Vd. poste de 23 de junho de 2006 > Guiné 63/74 - P899: Diga se me ouve, escuto! (Renato Monteiro)

(**) Vd. poste de 23 de junho de 2006 > Guiné 63/74 - P898: Saudades do meu amigo Renato Monteiro (CART 2479/CART 11, Contuboel, Maio/Junho de 1969)

(****) Sobre a CART 2479 / CART 11, sabemos o seguinte:

(i) a CART 2479 [tem mais de meia centena de referências no nosso blogue) constituiu-se no RAL 5 em Penafiel, no ano de 1968, como subunidade do BART 2866, desmembrando-se desta unidade em fevereiro de 1969, e embarcando com destino à Guiné no dia 18, aonde chegou a 25 do mesmo mês;

(ii) o percurso operacional da CART 2479 na zona leste, foi longo, fixando a sua sede em Nova Lamego, no Quartel de Baixo em setembro de 1969;

(iii) passou por Bissau, Contuboel (Centro de Instrução Militar), Nova Lamego, Piche;

(iv) comandante: cap mil art Analido Aniceto Pinto (1/6/1934- 27/2/2014) (trabalhou na Galp Energia);

(v) foi extinta em 18 de janeiro de 1970, passando a companhia a designar-se CART 11 [, tem cerca mais de 90 referências no nosso blogue];

(vi) em maio de 1972 a CART 11 passou a designar-se CCAÇ 11 [tem cerca de 4 dezenas de referências].

(****) Último poste da série > 18 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19899: 15 anos a blogar desde 23/4/204 (9): o ataque a Sare Banda, destacamento da CART 1690 (Geba, 1967/69), em 8 de setembro de 1968: o alf mil Carlos Alberto Trindade Peixoto e o fur mil Raul Canadas Ferreira jogavam às cartas, à luz de petromax, foram mortos por uma roquetada (A. Marques Lopes)

Guiné 61/74 - P19936: Notas de leitura (1192): “Cambança Final”, por Alberto Branquinho; Sítio do Livro, 2013 (Mário Beja Santos)



1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 26 de Junho de 2019:

Queridos amigos,
Há uma consigna permanente na obra do Alberto Branquinho, tenho para mim que ele usa a cambança como o termo da maleabilidade entre o seguro e o inseguro, o destemor e o medo, a rapidíssima alteração de situação, estar a meter uma garfada à boca e cair a primeira morteirada entre duas fileiras de arame farpado, pode-se cambar o rio, uma conversa totalmente inusitada junto ao monumento dedicado aos nossos mortos, ali bem perto da Torre de Belém, pode-se cambar naquele quartel que tem mesquita e chefe religioso, camba-se quando se sonha com o estrelejar dos rebentamentos e alguém comenta que parece o S. João no Porto, carago.
Temos aqui Alberto Branquinho no seu melhor e que Deus o conserve com o seu engenho e arte.

Um abraço do
Mário


Sempre zombeteiro, sempre em cambança, dentro das guerras: Alberto Branquinho

Beja Santos

De “Cambança - Morte e vida em maré baixa”, por Alberto Branquinho, publicado em 2009, fez-se oportunamente referência. Temos, desde 2013, “Cambança Final”, Sítio do Livro, eu desconhecia a obra, é uma revisão aumentada da obra anterior, o confrade Alberto Branquinho merece felicitações por estes contos breves, registos assombrados ou coloridos e águas-fortes onde prima uma forte contenção, um rigor económico na explanação das situações e uma simplicidade descritiva que recomendam a releitura nos dias seguintes, são trechos que possuem todos os aliciantes indispensáveis para uma proveitosa releitura. 

E não é só a simplicidade, é a universalidade, quem por ali viveu e combateu entra rapidamente nesta sala de espelhos onde nos reconhecemos. Quando ele fala na apresentação de um lugar, pode ser uma vila com casas de pedra e tijolo, casas comerciais em uso ou depois de abandonadas ao serviço das nossas tropas; há população nas moranças, alfaiates e lavadeiras, um funcionário colonial e até um agente da PIDE. Aconteceu connosco, vivemos nesses lugares.

 O confrade Alberto Branquinho sabe urdir atmosferas onde cabe a população sobre duplo controlo, o horror dos destroços humanos ou a explosão de uma mina anticarro, há mesmo pedaços de carne que não se podem identificar, faz-se a dedução no destino, após a contagem do pessoal, e fica tudo dito, não se sofre mais nem menos, fica só o apontamento de que naquela guerra tais coisas aconteceram. E aconteceram connosco. Há até mesmo uma memória de guerra quando se vai visitar o Monumento aos Combatentes do Ultramar junto à Torre de Belém, dá-se um encontro, alguém entra imprevistamente em diálogo, acende-se o tumulto da guerra. Não ficamos imunes àquela conversa tão descabelada.

Feito o preâmbulo, diga-se em abono da verdade que a escrita de Alberto Branquinho tem marca de água, é um compósito de situações pícaras ou bizarras (como ele gosta de observar) onde ele tem a faculdade de se distanciar e até de expurgar o que seguramente experimentou: o lodo, a sede, os equívocos da comunicação, o prazer inexcedível em beber uma coisa tão boa que se chama água, os comportamentos mais imprevisíveis na reação a uma flagelação, as muitas digressões entre quartéis, a atmosfera na messe de oficiais, aquele major de operações que decidiu ir ao terreno, desconfiado que a malta se andava a desenfiar e que regressou feito em chaga. E há a aculturação, as superstições, a ação psico, o turra que se faz guia para descontentamento de muitos, eram operações que se podiam evitar se ele tivesse levado um balázio lá no mato. Também acontece o inaudito, ser posto na mesa um arroz de jagudis, o desconsolo daquele cozinheiro que via tão frequentemente o seu ambiente de trabalho rebentado à morteirada.

O confrade Branquinho pela-se por discretear à volta da metáfora da cambança, o ir e voltar, a maré-alta e a maré-baixa, como ele descreve cheio de intenção e rematar com uma tirada humorística, veja-se:

“Tudo era planeado de modo a que a tropa chegasse junto ao rio quando a maré estava no seu pleno, evitando, assim, terem de chafurdar (e perder tempo) nos dez ou quinte metros de lodo na maré-baixa, em cada margem.
A canoa, que tinha cerca de doze metros de comprimento e oitenta centímetros de largura, aguardava próximo da margem, agarrada pelo remador. Baloiçava com a entrada de cada passageiro e sua carga, metendo uns golos de água.
Com o rio iluminado pelas estrelas, os homens embarcavam em grupos de dez a doze, carregados de G3, cartucheiras, cantil, bazuca, granadas, metralhadora, fitas de munições e os bolsos cheios de peças de rações de combate.
Completado o embarque, o remador empurrava a canoa água dentro, depois entrava nela e, com um único remo, fixada a ré, fazia-a seguir silenciosamente, a caminho da outra margem.
Alguns iriam rezando, encomendando a alma a Deus, mas tensos e silenciosos, olhando em volta, tentando, talvez, localizar algum crocodilo noctívago. Qualquer pequeno baloiçar ou movimento involuntário para um lado era perigoso, porque havia, sempre, a tentativa de o compensar para o lado contrário e fazia a água galgar as bordas da canoa. O risco da carga ser baldeada estava sempre presente e era tanto maior quanto mais bruscos os movimentos fossem.
Chegados à outra margem, o remador saltava para a água e puxava a canoa para uma posição paralela à margem, para facilitar a saída da tropa. Depois regressava à margem de onde viera e as travessias repetiam-se até passarem os últimos homens.
Numa dessas travessias nocturnas, um furriel que fora o último a entrar na canoa, que constatou que os soldados, seus companheiros de viagem, não acatavam a ordem para se sentarem no fundo a canoa e teimavam em seguir de cócoras, com cada mão agarrada em cada lado, para não molharem os fundilhos. Puxou a culatra da G3 atrás e berrou-lhes:
- Eu não sei nadar. Quero toda a gente com o cu sentado no fundo, porque, se esta merda vira, varo-vos a todos.”

Alberto Branquinho é um ás na tragicomédia, aquele Cabo Tomé que fazia 23 anos, e que andava completamente bêbado, preocupou muita gente, só que veio a flagelação, cada um foi para o seu posto e o remate deste curto conto insinua drama onde houvera a turbulência da borracheira:

“Os primeiros que voltaram à caserna viram o Cabo Tomé, mesmo à entrada, nu, deitado de costas, de olhos abertos, como que olhando o tecto de zinco retorcido, enquanto um fio de sangue lhe escorria do lado esquerdo da boca, passava pelo pescoço e fazia uma poça de sangue debaixo da cabeça”.

Só um mestre pode ser tão fulminante no termo de um enredo que começa na mais vertiginosa paródia que o burlesco permite. Há páginas impagáveis que é de rir e chorar por mais, como aquele Cabo Abel a quem coube em Bissau fazer policiamento aos bairros dos indígenas, e segue-se a peripécia, sem mais palavras:

“De entre as casas, caminhando por uma vereda que passava ao pé do grupo de militares em que estava o Cabo Abel, surgiu uma rapariga negra, que vestia uma bata impecavelmente branca, trazendo consigo os livros escolares, agarrados contra o peito. O Cabo Abel levantou-se e com a G3 a tiracolo, segurou o cigarro com a mão esquerda e com a direita barrou-lhe o caminho:
- Bajuda, bô cá pude passa!
A moça, que teria catorze ou quinze anos, parou por um momento, encarou o Cabo Abel nos olhos e perguntou-lhe:
- Porquê você não fala comigo português direito?”

Alberto Branquinho fez bem ter regressado com esta oferenda com feitiços e despojos, com as confusões do capelão, da criança que se recupera de um acampamento inimigo que foi completamente destruído, das relações amorosas entre a Cadi e o Eusébio e do que todos vamos fazer (ou pensávamos vir fazer) quando regressássemos à peluda.
É livro para estar em permanência nas nossas estantes.
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Nota do editor

Último poste da série de 28 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19925: Notas de leitura (1191): Missão cumprida… e a que vamos cumprindo, história do BCAV 490 em verso, por Santos Andrade (12) (Mário Beja Santos)

Guiné 61/74 - P19935: (De)Caras (131): Um ninho de "lacraus", em Espinho, Silvalde, fevereiro de 1969, na véspera de partida para o CTIG (Valdemar Queiroz / Abílio Duarte, CART 2479 / CART 11, 1969/70)


Espinho > Silvalde > Fevereiro de 1969 >  CART 2479 / CART 11 >   IAO, Instrução de Aperfeiçoamento Operacional >  Uma "foto histórica" um "ninho" de lacraus, designação do pessoal da futura  CART 11 (Contuboel, Nova Lamego, Piche)

CART 2479 constituiu-se no RAL 5 em Penafiel, no ano de 1968, como subunidade do BART 2866, desmembrando-se desta unidade em fevereiro de 1969, e embarcando com destino à Guiné no dia 18, aonde chegou a 25 do mesmo mês. O  percurso operacional da CART 2479 na zona leste, foi longo, fixando a sua sede em Nova Lamego, no Quartel de Baixo em setembro de 1969; passou por Bissau, Contuboel, Nova Lamego,  Piche; o comandante era o cap mil art Analido Aniceto Pinto (1934- 2014) (trabalhou na Galp Energia); foi extinta em 18 de janeiro de 1970, passando a companhia a designar-se CART 11; em maio de 1972 a CART 11 passou a designar-se CCAÇ 11. No CIM de Contuboel, no 1º e 2º trimestre de 1969l formaram-se, entre outras, as futuras CART 11 / CCAÇ 11 e CCAÇ 12-

Na foto, e graças aos contributos do Valdemar Queiroz  e do Abílio Duarte (*), podemos identificar os seguintes 1ºs cabos milicianos (futuros furriéis milicianos. "Lacraus" da CART 2479 / CART 11), da esquerda para a direita:

(i) na primeira fila, Manuel Macias (8), Pechincha (que era de operações especiais) (7), Abílio Duarte (5) e Aurélio Duarte (, de Coimbra, falecido em 2015);

(ii) na segunda fila, Canatário (que era apontador de armas pesadas) (9); o Ferreira (vaguemestre) (10);  o Cândido Cunha (3)") (**) ; e o Abílio Pinto (11);

(iii) na terceira fila,  o Vera Cruz ("este rapaz era um tratado a jogar á lerpa, bons momentos, muito stressado, mas com saída com as miúdas na Guiné"(13); e o Renato Monteiro (2):

(iv) na última fila,  o Bento (14), o Sousa (, já faelcido (4), (14) e o "indomável Valdemar Queiroz da Silva, grande contador de histórias" (1). (***)

 "Todos duma excecional colheita de bioxene", garante o Valdemar.  "Na foto faltam os restantes da colheita, os ex-fur.mil. Pais de Sousa (Mecânico), Silva (Transmissões) e Edmond (Enfermeiro).!

Foto (e legenda): © Valdemar Queiroz (2014). Todos os direitos reservados. [Edição e legendagem complementar. Blogue Luís Graça & Camaradas da Guine.]
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Notas do editor:

(*) Vd. postes de:

 16 de abril de 2014 > Guiné 63/74 - P12992: Memórias de um Lacrau (Valdemar Queiroz, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego, Canquelifá, Paunca, Guiro Iero Bocari, 1969/70) (Parte XII): O Cunha, único até hoje, o fur mil Cândido Cunha... Ou Cor mil Lukas Títio, o antitropa...

2 de junho de 2015 > Guiné 63/74 - P14690: Cartas de amor e guerra (Renato Monteiro, ex-fur mil, CART 2479 / CART 11, Contuboel, Nova Lamego e Piche, 1969/70; e CART 2520, Xime, 1970) (Parte II): anti-herói

(**) Vd. poste de 28 de outubro de 2011 > Guiné 63/74 - P8956: O Nosso Livro de Visitas (118): Cândido Filipe da Cunha, ex-Fur Mil da CART 11 (CART 2479) (Canquelifá)

(...) Comentário, ao poste P 12992,  de Jaime Cunha, filho de Cândido Cunha, em 9/12/2015: quando era, presumimos, soldado do Regimento de Comendos:

(...) "Poderia ler este texto sem fazerem referência a quem seria, que iria sempre reconhecer que era do meu pai de que falam.... porque até eu próprio identifico me no que vejo. É uma enorme honra saber que assim recordam o meu pai, e de que,  apesar dos anos que passaram, manteve se como o grande homem que assim é retratado.... Muitas vezes o meu pai recorda os bons momentos que passaram por lá, guardando para si os maus momentos....

"Um grande abraço também deste vosso camarada, aos verdadeiros Heróis de Portugal Jaime Cunha sold rc " (...)

(***) Último poste da série >  22 de maio de 2019 > Guiné 61/74 - P19814: (De)Caras (106): João Crisóstomo, o luso-americano que vem de propósito de Nova Iorque para estar com os seus antigos camaradas de armas, em Monte Real, no dia 25, sábado... Entretanto, tarda o reconhecimento, público, do seu país de origem, pela seu ativismo cívico e social na diáspora lusitana...

Guiné 61/74 - P19934: Parabéns a você (1647): Silvério Lobo, ex-Soldado Mec Auto do BCAÇ 3852 (Guiné, 1971/73)

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Nota do editor

Último poste da série de 30 de Junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19931: Parabéns a você (1646): Manuel Maia, ex-Fur Mil Inf do BCAÇ 4610 (Guiné, 1972/74)

domingo, 30 de junho de 2019

Guiné 61/74 - P19933: Blogpoesia (626): "Inspiração", "Zona da arrebentação" e "Asas largas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728

1. Do nosso camarada Joaquim Luís Mendes Gomes (ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728, Cachil, Catió e Bissau, 1964/66) estes belíssimos poemas, da sua autoria, enviados, entre outros, ao nosso blogue, que publicamos com prazer:


Inspiração

Retiro as cinzas.
Acendo o forno de inspiração.
Lhe sopro ideias.
Fico a vê-las em combustão lenta.

Soltam faúlhas.
Delineiam-se formas.
Esboçam-se temas.
Se alinham palavras,
Buscando sentido.

Depois eu leio-as.
Têm sabor.
Querem brilhar.
Enchem meu peito.
Fazem sonhar.

Brotam poemas.
Falam das horas que passam na gente.
Boas e não.
Inspiram caminhos.
Alcançam lonjuras,
procurando amigos.
Pode ser que encontrem quem precise de lê-las
e fique melhor...

Mafra, 27 de Junho de 2019
7h50m
Jlmg

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Zona da arrebentação

As nossas ideias navegam no mar.
Como ondas vêm de longe, com energia,
Correm incessantes nas águas profundas.
Perdem a força quando chegam à costa.
Quebram confusas.
Fazem espuma.
Desprendem as algas.
Apanham incautos.
Se espraiam na areia em agonia.
Ficam atónitas.
Para ir ou ficar?

Assim as ideias.
No oceano da mente.
Onde impera a verdade.
Se vestem palavras.
Carregadas de cores e de sombras.
Avançam serenas.
Se combinam em temas,
Com forma e sentido.
Carregam mensagens.
Dizem imagens.
De ilusão e verdade.

Brilham ao sol.
Pedaços de estrelas.

Iluminam as almas.
Negrura das noites.
Dão-lhes o norte e o sul.
Por vezes seduzem.
Iludem.
O que parecem não são.

Queimam agruras.
Saram feridas.
Amainam ardores.
Sons que comovem.
Pintam quadros.
Escrevem poemas.
Seu mar é o belo e a paz...

ouvindo Mozart - Piano Concertos No.11,12,13,14,17,18,19

Mafra, 26 de Junho de 2019
17h16m
JLmg

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Asas largas

As aves de asas largas batem-nas menos para voar.
Voam mais alto.
Mais seguras.
Enxergam melhor o chão.
Mais amplo.
Mais alimento para apanhar.
Os passaritos de asas curtas mal se lhes vê o bater das asas.
De tão velozes.
Se cansam mais.
Voam mais baixo.
Perto do chão.
Para descansar.
Menos seguras.
Se escondem nas árvores.
São menos livres.
Voam em bandos.
Por precaução.
Cantarolam mais.
Se sentem importantes.
Para afugentarem o medo.
São atrevidas.
Poisam nas casas.
Como se fossem delas.
Fogem das escolas.
Têm medo das fisgas, armadilhas e dos traquinas.
É a tendência da natureza:
Quanto mais fraco, mais afoito...

Ouvindo Beethoven - Sonata ao Luar

Mafra, 25 de Junho de 2019
7h56m
O sol e a chuva à porfia 
Jlmg
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Nota do editor

Último poste da série de 23 de junho de 2019 > Guiné 61/74 - P19912: Blogpoesia (626): "Sábado de sol", "Sempre de pé" e "Um cacho de flores vermelhas", da autoria de J. L. Mendes Gomes, ex-Alf Mil Inf da CCAÇ 728