terça-feira, 25 de outubro de 2016

Guiné 63/74 - P16638: Os nossos capelães (6): Libório [Jacinto Cunha] Tavares, o meu Capelini, capelão dos "Gatos Negros", açoriano de São Miguel, vive hoje, reformado, em Brampton, AM Toronto, província de Ontario, Canadá (José Martins, ex-fur mil trms, CCAÇ 5, Canjadude, 1968/70)


Guiné > Região de Gabu (Nova Lamego) > Canjadude > CCAÇ 5, "Gatos Pretos" > 1969 > O alf mil capelão Libório Tavares, açoriano, dizendo missa, num altar improvisado. Ajudante,  o José Martins, fur mil trms, CCAÇ 5 (Canjadude, 1968/70) (*).

Libório Jacinto Cunha Tavares, açoriano,nascido em 1933,  foi capelão no CTIG,  de 17/1/1968 a 10/12/1969,, portanto já com 35/36 anos (**).

Foto (e legenda):  © José Martins (2006). Todos os direitos reservados [Ediçaõ e legendagem complementar:  Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]


1. Comentário de José Marcelino Martins , de 19/9/2014, ao poste  P13616 (*)

Se os capelães caíam em emboscadas e sofriam ataques aos aquartelamentos, não sei.

Só conheci um capelão, apesar de haver de 2 batalhões durante a minha estadia.

Conheci o Padre Libório [Tavares], tipo bacano,  e que "safou" muito alferes que se não apresentava ao render da guarda. Também não era necessário. O Libório tomava o lugar do faltoso, e depois "passava a pasta".

Esta cena via-a e soube que era normal, em comentários com a malta do Batalhão [, sediado em Nova Lamego].

[Deve tratar-se do  BCAÇ 2835: mobilizado pelo RI 15, partiu para a Guiné em 17/1/1968 e regressou a 4/12/1969; esteve em Bissau e Nova Lamego; comandantes: ten cor inf Esteves Correia, maj inf Cristiano Henrique da Silveira e Lorena, e ten cor inf Manuel Maria Pimentel Bastos. Foi rendido pelo BCAÇ 2893 (1969/71) ]
Quando o vi ir numa coluna, ia desarmado. Disse-lhe que era bom levar a "canhota", porque ficava igual aos outros, apesar de já ter uma idade jeitosa [, 35/36 anos]. Respondeu-me que foi para a guerra para salvar homens, e não para usar armas.

Uns tempos depois, já o vi a usar pistola, baseado no facto de que Deus o protegia, mas que ele, Padre, devia colaborar.

Em 11 de julho de 1969, a CCAÇ 5 estava em operação a 4 grupos de combate. No aquartelamento [, em Canjadude,]  ficou a Formação, 1 Grupo de Combate da CCAV 2482 , "Os Boinas Negars" (recebido em reforço temporário) e p Pelotão de Milícias  nº 129.

O Padre Libório [Tavares] encontrava-se de visita ao aquartelamento, tendo chegado no dia anterior com o pelotão de cavalaria.

O Padre Libório não deu um tiro, mas organizou, com as mulheres dos soldados [guineenses da CCAÇ 5] que fugiram para dentro do quartel, um grupo para encher os carregadores que os soldados iam atirando para junto deles, para serem carregados.

Incentivou toda a malta ao combate, mas não me consta que tenha chamado, ao IN, "Santos" ou "Anjinhos". O que chamou foi de grau muito mais vernáculo [, ou não fosse ele de Rabo de Peixe].

Sei que, quando regressou aos Açores, já a sua mãe e uma irmã com quem vivia, tinham falecido. Foi para junto duma comunidade portuguesa na América (***).

Onde quer que esteja e se ler esta mensagem, vai um grande abraço para o meu amigo Capelini, como eu o tratava, do furriel das transmissões de Canjadude,  José Marcelino Martins. (****)


2. Comentário do editor:

Nascido em 1933, na ilha de São Miguel, em Rabo de Peixe, Libório Tavares frequentou o seminário diocesano da Terceira,  foi ordenado padre em 1958, esteve em várias paróquias da sua ilha natal, incluindo Rabo de Peixe, foi capelão  militar no TO da Guiné (de 17/1/1968 a 10/12/1969), vive em Brampton, cidade suburbana da área metropolitana de Toronto, província de Ontario, Canadá,

Com a bonita idade dos octogenários, está naturalmente reformado. Foi pároco da igreja católica de Santa Maria, em Brampton,  durante 26 anos,  lugar que é hoje ocupado pelo seu sobrinho e afilhado, o padre Libório Amaral.

O padre Libório Tavares é muito conhecido da comunidade portuguesa e açoriana de Toronto,  é foi considerado um dos principais animadores da tradição da multissecular festa do Senhor Santo Cristo (LG).

_________________

Notas do editor:

(*) Vd. poste de 12 de maio de 2006 > Guiné 63/74 - P746: Procissão em Canjadude ou devoção mariana em tempo de guerra (José Martins)

(**) 17 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13616: Os nossos capelães (4): O bispo de Madarsuma, capelão-mor das Forças Armadas, em Gandembel, no natal de 1968 (Idálio Reis, ex-alf mil, CCAÇ 2317, Gandembel / Balana, 1968/69)

 (***) Vd. Liborio Tavares | Alphaleo Solutions Inc | ZoomInfo.com  [Mississauga, Ontario, Canada]

Encontrámos duas referências ao reverendo Libório Tavares, reformado [, "retired",] que fez  parte da equipa sacerdotal ligada á igreja católica de St. Mary, Brampton, Ontario,   arquidiocese de Toronto, Canadá:

St Mary's Church
Roman Catholic Church Brampton

66A Main St. South, Brampton, ON L6W 2C6


Call us: 905-451-2300
Email us: info@stmarysbrampton.com
https://stmarysbr.archtoronto.org/

(...) Parish  Staff:  Frei Liborio Amaral > Pastor:

Fr [Father] Liborio was born in 1963 at San Miguel, Azores, Portugal (...). In the winter of 1969 he immigrated to Canada with his parents and two sisters. (...) He is very happy to be pastor of his home parish – his parents are now his parishioners and live near by. An added blessing is the presence of his Uncle and Godfather, Fr. Liborio Tavares, who lives at St. Mary’s senior's residence next door.​ (...)

 (...) Fr. Liborio Jacinto Cunha Tavares (Retired Priest):  Fr.  [Father] Liborio Tavares was born in 1933 at San Miguel, Azores, Portugal (i.e. San Miguel is the largest of 9 islands in the mid-Atlantic ocean).


On June 15th, 1958, Fr. Liborio Tavares was ordained to the Priesthood in the island of Terceira, Azores (the diocesan seminary was located in this island). He celebrated his first mass of thanksgiving in the midst of his family and friends on June 29th, 1958 in the parish of Senhor do Bom Jesus, Rabo de Peixe. He was assigned to a number of parishes on the island of San Miguel and also ministered as a military chaplaincy. (...)

Podemos também, vê-lo aqui, num vídeo do You Tube, publicado recentemente por TubaMan73  > Banda do Senhor Santo Cristo 2000

"Concert at Festa do Senhor Santo Cristo at St. Mary's Church in Toronto in 2000. Our guest maestro was Fr. Liborio Tavares".


[José Ferreira de Pinho, nº 8 da lista dos capelães militares: agosto de 1963 / outubro de 1965]

5 de setembro de 2014 > Guiné 63/74 - P13576: Os nossos capelães (2): Convivi com o ten mil Gama, de alcunha, "pardal espantado"... Muitas vezes era incompreendido, até indesejado por alguns, pois tinha coragem para denunciar os abusos, quando os presenciava (Domingos Gonçalves, ex-allf mil, CCAÇ 1546 / BCAÇ 1887, Nova Lamego, Fá Mandinga e Binta, 1966/68)

[Serafim Monteiro Alves Gama, salesiano, nº  15 da lista: janeiro de 19064/março de 1969]
[Seria o José Ferreira de Pinho, nº 8 da lista dos capelães militares: agosto de 1963 / outubro de 1965]

5 comentários:

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé Martins: Como vês, o Mundo é Pequeno e a nossa Tabanca... Grande. O teu "Capelini" está vivo e podes contactá-lo... Ab. fraterno. LG

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé, onde foste arranjar o raio da alcunha de "capelini" para o capelão ?... "Capellini" (com dois l) é uma massa italiana, fina e longa, tipo aletria.... Ab. LG

José Marcelino Martins disse...

Caro Luis

Agora que colocas a "questão", sinceramente já não me lembro.
Sei que criamos uma amizade forte e, sempre que ia a Nova Lamego não deixava de o procurar e conversar com ele.
Como quando cheguei ainda estive cerca de um mês e pouco em Nova Lamego, tínhamos encontro marcado, sempre ao fim da tarde e ajudava-o na missa que celebrava ao fim do dia, na Igreja local.
Talvez seja a "italianização" da palavra Capelão.
Ab

C.M.Pereira disse...

Quanto mais leio este blog e leio-o diariamente,mais fico desapontado com a qualidade dos oficiais e menos me admiro com o desfecho da guerra. Então os nossos alferes faltavam á parada da guarda e depois eram "absolvidos" por influência do sr capelão. Claro que a partir daqui valia tudo. A indisciplina realmente era muita.E sem disciplina não há organização que se aguente muito mais se se tratar de forças armadas,vulgarmente designadas por tropa.
O termo capelini já em 68 o ouvi em Angola.
Cumprimentos
Carlos M.Pereira

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Zé: o equivalente a capelão, em italiano, é "cappellano" (no plural, "cappellani")... Mas não está mal, "capelini" ou "capellini" eerá uma forma, jocosa mas sem ser grosseira, brincalhona, de tratar o capelão na caserna... Antes de ser um oficial, ele um sacerdote católico, apostólico , romano... Na tropa (e na guerra) havia outras cumplicidades que não era possível ter na vida civil... O próprio capelão sentia necessidade de "descer do altar" para estar mais próximos dos seus "rapazes"... E embora de formação católica, muitos de nós, sobretudo os milicianos, já éramos "ovelhas ranhosas" ou já estávamos fora do rebanho...