quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Guiné 63/74 - P9200: Um novo Monumento aos que tombaram pela Pátria, aos que construíram uma terra (5) (José Martins)

1. Publica-se hoje a quinta e última parte de um trabalho sobre a região norte de Lisboa (Loures e Odivelas) sugerindo razões para a construção de um Monumento aos Mortos na Guerra do Ultramar (1961-1974) do então concelho de Loures, de autoria do nosso camarada José Marcelino Martins* (ex-Fur Mil Trms da CCAÇ 5, Gatos Pretos, Canjadude, 1968/70), enviado ao blogue em 26 de Novembro de 2011.


UM NOVO MONUMENTO AOS QUE TOMBARAM PELA PÁTRIA!

Sem utopias e com os pés
Assentes em terra

“Que o sonho comanda a vida…”, este verso da Pedra Filosofal do poeta Rómulo Vasco da Gama de Carvalho (24 de Novembro de 1906 † 19 de Fevereiro de 1997), professor de Física e Química do Ensino Secundário, sob o pseudónimo de António Gedeão, dá-nos a dimensão do que o homem, querendo, pode comandar a vida, pode sonhar livremente, porque é tão livre como os pássaros do campo.

É utópico, pensará muito boa gente, que o país estando na crise que está, venham estes “velhos”, passados mais de 37 anos do fim da guerra, querer gastar dinheiro, que custa tanto a ganhar, para erguer monumentos com o “nome dos mortos”.
Só que, “estes mortos, são os nossos mortos”. Eles saíram do povo a que, todos nós, pertencemos. Eles deixaram os pais e os irmãos, nalguns casos a mulher e os filhos. Abandonaram os campos e as fábricas; abandonaram os escritórios e as escolas. Vestiram a farda militar, tomaram as armas nas suas mãos e partiram para África.
Eles foram/são aqueles que, connosco, os seus camaradas, formaram uma nova família, tão unida, que nem a morte nos conseguiu fazer esquecer a sua existência e o seu altruísmo. Altruísmo, dignidade e honra, porque levaram ao extremo o seu sacrifico e a palavra jurada sobre a Bandeira da Pátria, de a defender até à última gota de sangue.

Poderão vir dizer que agora, nesta altura de crise financeira, não é a melhor altura para obras, para melhoramentos, para memórias.
Mas, também, se pode pôr a questão: há algum período da nossa História Pátria, em que não houvesse períodos de crise?
Não, porque aqui e agora, não falamos de crise mas de crises. Não há só a crise financeira, que obriga a repensar procedimentos e o “apertar do cinto” na expressão popular; há a crise de valores, que pode ser uma das razões para que o Monumento aos Combatentes do Ultramar, ainda não exista; há crises de “querer” e crises de “crer”.

Esta ano, em que lembramos que foi há 50 anos que as Campanhas de África, a Guerra do Ultramar começou, existem muitas autarquias, mesmo ao nível de freguesia, que levantam memoriais, mesmo que singelos, lembrando os “Filhos da Terra” para que o futuro não os esqueça.

Poderia ser sentido como insensibilidade, dos Municípios aqui referidos (Loures e Odivelas), para com os “Seus Filhos” se, dentro de algum tempo, breve necessariamente porque a vida não pára, um grupo de Combatentes ou cidadãos solicitasse autorização para colocar, num local público, uma lápide que recordasse “aqueles que por obras valorosas, como a defesa da Pátria, se libertaram da lei da morte”. Passariam a ser, por ausência dos seus nomes, mais soldados nascidos nestas terras, cujos nomes seriam olvidados, tendo oferecido a sua juventude à Pátria e vendo os seus camaradas tombarem em nome dela.

A cerimónia sugerida no capítulo anterior, não será, obrigatoriamente, o tipo de cerimónia a ter lugar na altura da inauguração. Basta que, ainda que limitado em número, haja uma força militar que preste as Honras de Ordenança, e um clarim que execute a Marcha da Continência, em louvor dos Tombados em Campanha.

Cabe aqui, como nota final, um poema de António Botto (1897-1959).

Ó Pátria mil vezes santa,
- Meu Portugal, minha terra,
Onde vivo e onde nasci

Na tua História me perco,
e nela tudo aprendi.

Mesmo que fosses pequena
E eu te visse pobre e nua,
- Ninguém ama a sua Pátria por ser grande,
Mas sim por ser sua!

José Marcelino Martins
Fur. Mil. Trms. Infantaria
Combatente na Guiné
Junho de 1968 a Junho de 1970
josesmmartins@sapo.pt

Loures 10 de Abril de 2011 > Homenagem junto ao Monumentos aos Mortos da Grande Guerra > Toque de “Mortos em Combate”.
© Foto Hugo Gonçalves (LC)
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Nota de CV:

Vd. postes da série de:

6 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9143: Um novo Monumento aos que tombaram pela Pátria, aos que construíram uma terra (1) (José Martins)

8 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9156: Um novo Monumento aos que tombaram pela Pátria, aos que construíram uma terra (2) (José Martins)

10 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9174: Um novo Monumento aos que tombaram pela Pátria, aos que construíram uma terra (3) (José Martins)
e
12 de Dezembro de 2011 > Guiné 63/74 - P9187: Um novo Monumento aos que tombaram pela Pátria, aos que construíram uma terra (4) (José Martins)

1 comentário:

Carlos Vinhal disse...

Caro José Martins
Os meus parabéns por este teu trabalho meticuloso, através do qual queres sensibilizar a tua autarquia a fazer o que deve ser feito, homenagear vivos e mortos de uma geração, quase a desaparecer pela lei da vida (ou da morte?), vítima de uma guerra que nos marcou, e ao país, para sempre. Nunca Portugal tinha travado até então uma guerra, além fronteira continental, tão longa, com tantos meios e com consequências tão trágicas.
Todos nós, ex-combatentes, estamos cientes do nosso pouco valor relativo nesta sociedade mais virada para os bens materiais, infelizmente decadentes. Acções de heroicidade e dedicação aos valores pátrios passaram de moda. Viva cada um de nós e o nosso mesquinho mundo individual.
Carlos Vinhal
Leça da Palmeira