quinta-feira, 27 de novembro de 2008

Guiné 63/74 - P3529: Controvérsias (13): Se não queriam ir que não fossem... (V. Briote)

Estranhezas

1. Mensagem de Jorge Fernandes , enviada em 22 de Novembro de 2008:

Sr. Luís Graça,

De vez em quando vou visitar o seu blog e levanto as seguintes dúvidas aos que por lá passam: será que na altura em que foram chamados a servir nas FAs tinham consciência de que apenas estavam a cumprir com a obrigação de defender Portugal, de acordo com aquilo que os nossos familiares falavam e a escola ensinava.
Iam de livre e espontânea vontade de acordo consigo próprios, mas também contrariados alguns pois aos vinte anos é idade de nos divertirmos se pudermos.

Agora virem ao fim de 40 anos, lamentarem-se de terem feito a tropa e alguns poucos terem combatido, apontando erros a torto e a direito a tudo e todos (só concordo com o apontar aos erros, traições e omissões dos oficias do QP do Exército, que tirando os das Forças Especiais são os mesmos que espatifaram Portugal e o futuro dos meus netos).
Se não queriam ir que não fossem, mas não venham agora velhos lamentarem-se e quase pedir desculpa por terem sido soldados, tenham brio porra.
Os meus cumprimentos.
Jorge Fernandes

2. Falo por mim. Não tenho procuração de nenhum Camarada do blogue para a resposta que lhe estou a enviar.

Caro Jorge Fernandes

Grato pela sua mensagem, pelas dúvidas que levanta e pelo apelo ao brio.

1. De facto, naqueles tempos tínhamos vinte e poucos. E como é geralmente aceite, naqueles anos a margem de escolha que os jovens dessa idade tinham estava muito condicionada. Nos nossos espíritos (posso generalizar, contra as excepções que ocorreram), depois da escola e do trabalho seguia-se a apresentação às sortes que, na década de sessenta e metade da de setenta estava traçada. Não havia sortes nenhumas.

O destino estava traçado para a grande maioria: Guerra do Ultramar, canhota na mão, dois anos. Foi o que caiu em sorte à juventude daqueles anos. O poder político gozou mais de uma dezena de anos para resolver a questão. Não conseguiu, não quis ou não foi capaz.

Entretanto, dezenas e dezenas de milhares de jovens interrompiam as suas vidas, pisavam trilhos, encharcavam-se até aos ossos, combatiam. Cumpriam o que o País lhes estava a pedir. Em troca recebiam uns trocos para os cigarros, para os selos e cartas para a Família e Amigos. Como é sabido e é próprio de uma guerra, quase uma dezena de milhar morreu em combate, centenas regressaram amputados de partes do corpo e, segundo o que dizem e escrevem alguns especialistas, muitos mais trouxeram as suas mazelas para a então Metrópole e obrigaram os Pais, Mulheres e Filhos a conviverem com a guerra até hoje, com os benefícios conhecidos.

2. Os combatentes eram na grande maioria Milicianos: Praças, Sargentos e Alferes faziam as despesas da guerra, muitas vezes bem enquadrados por excelentes profissionais, outras vezes nem tanto. Mas não foi por eles, milicianos ou do quadro que a Guerra durou tantos anos.

Estamos conscientes de que fizemos o que podíamos e de que demos o que de melhor se pode dar a uma Pátria. Erros, sim, houve muitos. Cometidos por profissionais e milicianos excelentes e por outros também, como é sabido. E na guerra os erros costumam ser dolorosos, como também sabem por experiência os que por eles passaram.

3. Quase quarenta anos depois estamos de novo reunidos nesta página, com muitos de nós a reviverem acontecimentos de que foram protagonistas ou testemunhas e que, hoje, fazem parte da História do nosso País.

E quer agrade a muitos ou a poucos, estamos em tempos em que nos é reconhecido o direito de, mesmo velhos, contarmos a história que vivemos.

vb
__________

Notas de vb:
1. Estive dois anos consecutivos na Guiné. Depois do regresso, quando procurava estabilizar a minha vida, continuou a guerra: a notícia do grave ferimento em combate, em Moçambique, que inutilizou para a vida o meu único Irmão trouxe para a minha pequena Família consequências irreversíveis. Tive guerra que chegasse.

2. Artigos da série em

25 de Novembro de 2008 >
Guiné 63/74 - P3514: Controvérsias (12): A G3, a FLING, o PAIGC, o Pdjiguiti, São Domingos, Tite e outras lendas (Mário Dias)

15 comentários:

Anónimo disse...

Luis, vou comentar o escrito do Sr Jorge Fernandes.

LOL.

Jorge Félix

Anónimo disse...

É preciso mesmo! Kompensam e tento nos...!
Corroboro as palavras do Virginio (ontem li um belo texto dele, comentou mas foi-se), são leves as palavras em resposta a uma mensagem que ofende. Eu sinto-me ofendido. Porra já me chamaram assassino da guerra colonial, fascista...e por ai fora. Agora despudoradamente ofendem gerações de homens e mulheres ( fui evacuado duas vezes por enfermeiras pára-quedistas). Velhos lamechas a carpir mágoas??? A geração de Abril? Mas quem é este senhor para assim falar? Que sabe ele do sofrimento de apanhar um Camarada aos bocados que, minutos antes era um jovem forte e saudável? Ou sofrer uma emboscada, saltar ou assaltar um acapamento inimigo, sentir o "choque electrico" de que acertou....Porra eu o que escrevo assino e digo quem sou. Tenho a idade que tenho, as cicatrizes que tenho mas não me arrasto a carpir mágoas. Antes dar um tiro nos miolos. Sim porque muitos de nós preferiam isso.Preferem. Atravessaram a Vida com dignidade.
Páro porque me desinquieto e, se escrevo talvez se deva mais a não querer ficar acomodado. A falar, de uma parte, dum passado vivido por mim, por muitos milhares de jovens e menos jovens para, o futuro dos agora jovens,ou mesmo dos vindouros, compreedam o que se passou. Que esses anos não se repitam. As guerras são a brutalidade máxima do ser humano. Não as compreender, não querendo ou desconhecendo e opinando...é triste!

Nada mais vos digo Camaradas. Penso que devia haver uma resposta.
Ao que um homem está sujeito... Abraços do Torcato

--
Torcato Mendonça

Anónimo disse...

Salvo o devido respeito pela opinião alheia, esta não merece
comentário...Falar sobre qualquer
assunto implica conhecer minimamente do que se fala...

Jorge Cabral

António Matos disse...

Começo por esclarecer que, antes de vir, uma vez mais, dar o corpo ao manifesto, vasculhei o blog no sentido de identificar um tal Jorge Fernandes e qual ou quais os textos que tivesse já escrito para me aperceber de que tipo de personalidade se refere este nome.
Porém, a pesquisa deu em nada !
No mínimo é lamentável !
Pela prosa, será, concerteza, um velho do Restelo no que de mais ressabiado já vi e a quem não pouparei os mimos a que tem direito.
Senhor Fernandes, começo por dispensar os seus cumprimentos finais e cuspir-lhe-ia na cara se tivesse a infelicidade de me insultar individualmente com a conversa que acabou de ter neste seu texto.
Todo e qualquer minuto que eu possa estar a perder consigo só se justifica porque admito que o senhor esteja perturbado.
É vil essa tirada de que "se não queriam ir que não fossem" ...
É demasiado baixo ao que se pode chegar !
Não venha falar dos seus netos porque não se esqueça que muitos outros também os têm e estamos todos no mesmo barco !
O que é que o senhor já fez por este país que lhe dê autoridade para reivindicar melhor vida ?
Qual é a sua noção de brio ?
Por acaso não pertence à trupe, hoje tão em voga, daqueles que se acoitam atraz das saias dos concelhos de administração de grandes empresas mas quando toca a quebrados dizem apenas que não sabiam de nada ?
Será que, o que o faz expelir tanto fel é algum tacho perdido na voragem do lucro fácil e desonesto ?
Senhor Fernandes, ou se retrata e vem a este mesmo blog pedir desculpa pelas ofensas que lançou àqueles que apelidou de velhos mas que foram os jovens que perderam as pernas, as mãos, os olhos, e acima de tudo a pureza e os sonhos da juventude ou dedico-lhe com o maior dos desprezo o ditado de que os cães ladram e a caravana passa ....
António

Anónimo disse...

Acabei de mandar msg para o blogue.
Este sr também me irritou e devia
ter sido mais"violento"na resposta.
Não tinha lido estes comentários,
logo que li o arrasoado do Sr passei ao gmail e escrevi o que me ía na alma,ao ler o Torcato penso que escrevi com muita macieza.
Abraço
P.Santiago

Luís Graça disse...

António:

Infelizmente, pelo que eu pesquisei na Net, este tal Jorge Fernandes parece ter sido "nosso camarada" (!) na Guiné... Terá omitido esse facto, a nós, mas não noutros comentários que tem feito noutros blogues... O que, no mínimo, não é bonito. Nós, tomos nós, aqui damos a cara.

Um Alfa Bravo
Luís

Anónimo disse...

Porra, Porra, Porra, sinto vergonha deste Jorge...
"...se não queriam ir que não fossem...?". Mas naquele tempo tinhamos algum direito de opção?
Se é verdade o que o Luis diz, ele foi-o por convicção. Estava no seu direito...mas os que não queriam podiam negar-se? Só desertando...mas será que todos podiam fazê-lo? Quando me obrigaram a ser Capitão, aos 32 anos (3.ª chamada para a tropa depois deter cumprido o tempo de serviço normal) poderia eu ter desertado e deixar a mulher e 4 filhos a sofrerem as consequências daquele regime ditatorial?
Mais uma vez porra, para estes saudosos que veem ainda por cima clamar pelo futuro dos seus netos...como se só ele tivesse descendência. E os meus? E olhe que não são poucos. E a culpa do que se passa agora foi daqueles que deram o corpo ao manifesto, servindo de carne para canhão os que infelizmente lá deixaram as vidas, ou que ficaram inutilizados (também eu percorri os corredores do Célebre Anexo na Rua Artilharia 1 em Lisboa por mais do que uma vez, antes de rumar à Guiné e vi aquele cenário arrepiante) e mesmo os que aparentemente sãos, foram profissionalmente prejudicados?
Se não gosta de ler as verdades, não leia, mas quem escreve neste Blogue e assina tem o direito de o fazer, para que no futuro se analize com elementos o período mais obscuro do nosso passado.
Parabéns ao VBriote
Jorge Picado

Unknown disse...

O Sr. em questão não merece qualquer tipo de resposta: primeiro porque não é assim que sse manifesta uma opinião.
Segundo porque na minha opinião pode ter estado na Guiné, pode ter passado por U.Militares, mas não não foi militar, podendo ter sido tudo o que o seu comportamento verbal nos permite imaginar.
Aproveito para interrogar se a opção da cor de letra dos textos é de iniciativa dos Srs editores do Blog ou dos autores dos mesmos textos ???
Carlos Filipe
ex-Radiomontador
BCaç 3872 - CCS --- Galomaro Dez71

Anónimo disse...

Desculpem camaradas e amigos que vos diga, mas todas as palavras que escreveram foram a mais, no sentido de que há coisas que nem sequer existem de tão irrelevantes que são.

Esta é uma delas que por ser tão irrelevante nem o desprezo merece, porque isso seria despertar em mim ao menos um sentimento, que eu não concedo a esta coisa que foi escrita.

Como tal um abraço camarigo dos grandes para todos
Joaquim Mexia Alves

Anónimo disse...

Apenas merece desprezo...haverá sempre uma ovelha ranhosa!
Abraço à tabanca
Henrique Matos

Pagamico disse...

Nota 100 para o VB, pelo Fair Play demonstrado na resposta.
Subscrevo o que escreveu Joaquim Mexia Alves.
Um abraço

Anónimo disse...

Há palavras que dilaceram a alma. Neste caso por três razões : imprevisibilidade, estupidez e crueldade.

Naqueles tempos era muito difícil não ir. Admito que, em 61 e62, ainda fôssemos com a ideia de cumprir um dever, sustendo uma revolta de povos sublevados que, inquestionavelmente, massacrou inocentes, mas, nos anos seguintes, fomos percebendo que alguém, incapaz de congeminar uma solução política, se obstinou numa resposta militar. Mas, ainda mais, acolitado por uma nata de iluminados, conseguiu vender essa receita a uma parte da população portuguesa. Infelizmente, com recorrência, os povos deixam-se arrastar...

Que sabíamos nós daquelas gentes? Que sabíamos nós do passado colonial, do tempo do esclavagismo, das feridas por sarar?...
E os que sabiam, aqueles mais esclarecidos, fugiriam para onde e como? Deixando, para sempre, as suas famílias, ou alguém adivinhava a proximidade do 25 de Abril?

Trago comigo imagens de vidas interrompidas na flor da idade, de corpos despedaçados, de rostos sofridos…aquela tragédia em Bolama, depois em Buba, mais tarde em Colibuia e em Cumbidjá. Não é só por nós que nos sentimos ofendidos, é, sobretudo, por aqueles que deixaram lá, tão cedo, as suas vidas.

Por favor, percamos tudo, mas não a vergonha e o respeito.

António Carvalho

Carvalho disse...

Há palavras que dilaceram a alma. Neste caso por três razões : imprevisibilidade, estupidez e crueldade.

Naqueles tempos era muito difícil não ir. Admito que, em 61 e 62, ainda fôssemos com a ideia de cumprir um dever, sustendo uma revolta de povos sublevados que, inquestionavelmente, massacrou inocentes, mas, nos anos seguintes, fomos percebendo que alguém, incapaz de congeminar uma solução política, se obstinou numa resposta militar. Mas, ainda mais, acolitado por uma nata de iluminados, conseguiu vender essa receita a uma parte da população portuguesa. Infelizmente, com recorrência, os povos deixam-se arrastar …

Que sabíamos nós daquelas gentes? Que sabíamos nós do passado colonial, do tempo do esclavagismo, das feridas por sarar?...

E os que sabiam, aqueles mais esclarecidos, fugiriam para onde e como? Deixando, para sempre, as suas famílias, ou alguém adivinhava a proximidade do 25 de Abril?

Trago comigo imagens de vidas interrompidas na flor da idade, de corpos despedaçados, de rostos sofridos…aquela tragédia em Bolama, depois em Buba, mais tarde em Colibuia e em Cumbidjá. Não é só por nós que nos sentimos ofendidos, é, sobretudo, por aqueles que deixaram lá, tão cedo, as suas vidas.

Por favor, percamos tudo, mas não a vergonha e o respeito.

António Carvalho

Anónimo disse...

É revoltante termos de ler o que parasitas escrevem.
Mas perante os homens, os nossos feitos estão bem altos.
Por sangue de Heróis e Valentes, minhas mãos foram manchadas.
Resta-me uma felicidade,que por parasitas, nunca foram sujadas.

António Paiva

Anónimo disse...

Será que vale a pena responder?
Se esteve lá, gostava que tivesse estado comigo em Cufar Nalu e Cabolol.
Alerta à Tabanca Grande! Os rastejantes geralmente não aparece só um.
Conheci alguns destes, dentro do arame farpado. Fora tornavam-se mal cheirosos como as formigas cadáver.
Sigamos!

Mário Fitas