quarta-feira, 10 de junho de 2009

Guiné 63/74 - P4492: Memória dos lugares (30): Porto Gole, CART 1661 (1967/68) (José Nunes / Abel Rei)







Guiné > Região do Oio > Porto Gole > Aqui, no estuário do Rio Geba, em 1456, chegou o primeiro português (e europeu), , o navegador Diogo Gomes

(i) Monumento construído pela CART 1661, c. 1968 > Na altura ficava em plena parada (vd. p. 170 do livro do Abel Rei, Entre o Paraíso e o Inferno; de Fá a Bissá...). Inscrição na base: "Para ti, soldado, o testemunho do teu esforço"... O secular hábito dos portugueses de deixar, pelo mundo, um 'marco' da sua presença ou passagem...

Foto: © Abel Rei (2009). Direitos reservados

(ii) Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > Em 2005, quando por lá passou o Jorge Rosmaninho, o mesmo monumento estava todo coberto de capim; são visíveis, na parte de cima do monumento, os efeitos da erosão do tempo (ou da acção depredatória dos homens ?...), vendo-se já os ferros, descarnados, da estrutura que era (é) em cimento...

De qualquer modo, há um certo entendimento, hoje, na Guiné-Bissau, de que estes vestígios da presença portuguesa devem ser conservados, tendo algum interesse historiográfico, cultural, socioantropológico e até turístico, num país onde o património edificado pelos portugueses (tirando algumas praças históricas como Cacheu e Bolama) é muito pobre...

(iii) Guiné-Bissau > Região do Oio > Porto Gole > 2005 > Placa em bronze com o brazão da CART 1661 (Porto Gole, Enxalé, Bissá, 1967/68). Dizeres, inscritos na chapa: Coragem, Esperança.

Fotos (ii e iii) : © Jorge Rosmaninho, autor do blogue Africanidades (2009). Direitos reservados


1. Comentário de José Nunes, ex-1º Cabo, BENG 447, Brá, 1968/70:


Camarada, eu estive em Porto Gole em Março/Abril de 1968, nesse tempo o Comando ficava na Habitação existente, e servia de alojamento aos Oficiais e Sargentos. O restante pessoal ficava no celeiro e nos abrigos, construídos, e nos abarracamentos construídos junto da casa maior.

O monumento existente, evocativo da chegada dos Portugueses ao local , estava capinado e servia de referência a quem subia o Geba. Apopulação estava alinhada, formando uma rua até ao cruzamento da estrada que ía pra Mansoa e para Enxalé.

De frente para o Geba junto ao monumento, a pista ficava do lado direito; no esquerdo, no pequeno vale com laranjeiras e uma horta, ficava o poço onde nos abasteciamos de água.

Na altura a Companhia que lá estava tinha pessoal em Bissá e em Enxalé, salvo erro era uma Companhia de Artilharia. Já não recordo o seu número, mas sei que tinha um número considerável de baixas. Foi quando apareceram as primeiras minas incendiárias que fustigavam as colunas de reabastecimento a Bissá. Tnho algumas fotos lá tiradas com a malta, impecável.

Em Porto Gole foi onde vi a maior jibóia na Guiné, morta quando se ía buscar lenha pra fazer a comida. Foi aqui que tentaram envenenar toda a Companhia, deitando no poço toda o tipo de restos de vacas mortas, tripas, peles... O poço era tapado com tampo de madeira e na base do gargalo havia um buraco pra enfiar a mangueira da bomba, foi por aí que introduziram tudo, nas barbas de um posto de sentinela, mas pela horta era fácil.

As flagelações eram feitas do cruzamento, na altura foi construido aí um posto avançado,pra evitar as flagelações. Durante a minha estada nunca fomos atacados.

José Nunes
Beng 447
Brá, 68/70

2. Comentário de L.G.:

Zé Nunes, essa companhia era a CART 1661 (Fev 1967 / Nov 1968) que esteve em Fá Mandinga, Enxalé e Porto Gole... Segundo o diário do Abel Rei (que eu vou ter o prazer de conhecer pessoalmente no nosso próximo encontro, em 20 de Junho, na Ortigosa, Monte Real), em Março/Abril de 1968 ele estava em Porto Gole, embora parte do seu Grupo de Combate estivesse no Enxalé.

Em 8 de Abril de 1968, há o registo de um ataque a Porto Gole, durante 45 minutos, com armas ligeiras e pesadas, mas sem consequências, por um grupo IN estimado em 50 elementos (1 bigrupo). Já n~´ao devias estar lá, se não lembravas-te, de certeza... Nessa altura já havia gerador eléctrico e estava-se a construir um fortim, certamente a cargo do BENG 447... Também já havia pista de aviação... O destacamento de Bissá era frequentemente atacado. Zé: Não queres partilhar connosco essas fotos que tens de Porto Gole, um sítio mítico para todos nós, tugas ?

Tens razão, a CART 1661 teve manga de baixas: 17 mortos (12 por accionamento de minas) e 25 feridos, não se incluindo nestas nestas baixas as da Polícia Administrativa (6 mortos e 7 feridos) nem as do Pel Caç Nat 54 (5 mortos e feridos). (Fonte: Abel Rei, 2002).

________

Notas de L.G.:

(*) Vd. poste de 9 de Junho de 2009 > Guiné 63/74 - P4488: Tabanca Grande (151): Jorge Rosales, ex-Alf Mil, Porto Gole, 1964/66, grande amigo do Cap 2ª linha Abna Na Onça


Vd. também 13 de Março de 2009 > Guiné 63/74 - P4023: Memória dos lugares (19): Porto Gole, 1966, muito antes das tristes valas comuns... (Henrique Matos)

5 comentários:

Anónimo disse...

Camarada Luis se analisares bem,verificas que o momumento é o mesmo só que o efeito dos anos estão á vista,a corrosão do ferro levou o cimento a desligar-se,quando da minha estada o monumento não existia,senão seria registado,o único era o cilindro a
assinalar a chegada de Diogo Gomes.
Saudações Cordiais,a toda a Tabanca.
JoséNunes
Beng 447 68/70

Anónimo disse...

Chamo-me Helena Paula Ferreira Figueiredo,tenho 39 anos e lembrei de pesquisar e encontrei-vos.O motivo é o seguinte:O meu pai faleceu quando eu tinha 6 anos.Gostava de saber se algum de vós se recorda dele,e gostava que contassem as vossas memórias.Ele esteve na Guiné entre 66 e 67.A minha mãe tem fotos que ele mandava de lá,posso depois partilhar.O seu nome é Guilherme Paulo Gomes Figueiredo.Obrigado pela vossa atenção.

Unknown disse...

Camarada José Nunes

Cumpre-me informar que as minas incendiárias já existiam em 66 pois em Porto Gole a Companhia que lá estava nessa altura (66) tinha ido fazer uma patrulha deixando o minimo
possível de pessoal a tomar conta do Aquartelamento. O IN não atacou o aquartelamento mas umas centenas de metros antes armadilhou a estrada com minas anticarro e à volta minas incendiárias. O que é que aconteceu ? Tirando os que morreram quando rebentaram as minas anti-carro os outros saltaram e correram a abrigar-se.Caíram nas minas incendiárias e muitos morreram queimados Essa companhia teve para cima de dois pelotões mortos.Não me perguntes o Nº da Companhia pois não sei porque não tirei apontamentos e nem pela cabeça me passava estar aqui a recordar isso.
Armandino Alves
Ex 1º Cabo Enfº
Cª Caç 1589 66\68

Marinho Neves disse...

Não conhecia o blog foi-me dado a conhecer por um companheiro, hoje general. Fico feliz por voltar a ver o monumento à 1661, desenhado por mim e feito pelo Veloso e por outro o " Santa Cruz". O ferro que se vê no cimo é uma mola da suspensão de um Unimog. Tenho visitado o lugar a coberto da minha actividade jornalística.

Anónimo disse...

Tendo o prazer de ver o quanto tem sido importante, para todos aqueles que por esse local passaram eu, Primeiro Cabo Enfermeiro da 1661, Alfredo Magalhães da Silva em rendição individual,cheguei a Porto Gole e dias depois deu se o referido ataque do qual ninguém ficou ferido passados vários dias fui numa coluna militar picando a estrada ate Bissa,no regresso Porto Gole houve dois mortos e vários feridos. estive em Bissa vários meses de regresso a Porto Gole deu se a inauguração do monumento construído pelo santa cruz e pelo Veloso que desenhou o emblema .Eu orgulho me de ter sido a minha frase a escolhida e gravada no monumento _PARA TI SOLDADO O TESTEMUNHO DO TEU ESFORÇO_
dias depois a companhia foi rendida e eu fiquei no colocado no Hospital militar Bissau regressando a Lisboa em maio 1970 Em breve mandarei fotografias de tudo que vos falo.Um abraço de combatente...O enfermeiro PIRIQUITO