Guiné-Bissau > Região do Oio (Mansoa) > Jugudul > Abril de 2006 > O antigo aquartalemento das NT, em Jugudul, cujas instalações foram cedidas, a seguir à independência, ao Sr. Manuel Simões, guineense branco de Bolama, para a sua fábrica de aguardente de cana (*). Também no Enxalé havia, até 1962, uma destilaria de aguardente de cana, pertencente ao sr. Pereira, pai da Maria Helena Carvalho. Segundo a filha, o Pereira do Enxalé era um colono branco, ntural de Seia, conceituado, respeitado pela população da região.
Foto : © A. Marques Lopes (2006). Todos os direitos reservados
1. Texto do editor Luís Graça:
Seu pai, Amadeu Abrantes Pereira, natural de Seia, era um conhecido comerciante, o Pereira do Enxalé. Era dono de uma importante destilaria de aguardente de cana, bem como de outras instalações e casas, que ainda hoje estão de pé. A família era muito estimada pela população local.
O património da família ainda lá está, no Enxalé, arruinado. Também tinham prédios em Bissau. Em 1989, a Maria Helena voltou aos lugares da sua infância. Ainda encontrou, no Enxalé, gente que trabalhara para o seu pai bem como amigos de infância.
Ela ainda fala do Enxalé e da Guiné com emoção. Em Coruche teve ocasião de falar, por uns breves instantes, com o Beja Santos (Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70) que nos seus livros tem bastantes referências ao Enxalé. Também ouviu falar do nosso blogue, mas ainda não o conhece, não se sentindo muito à vontade na Internet. Através dos serviços da Junta de Freguesia da Lourinhã, donde sou natural, acabou por localizar-me e telefonar-me.
Aqui fica o apelo, aos nossos camaradas que passaram pelo Enxalé (incluindo o Abel de Jesus Rei, autor de Entre o Paraíso e o Inferno: De Fá a Bissá: Memórias da Guiné, 1967/69), para nos fazerem chegar mais informações sobre a família Pereira e, se possível, fotos das instalações civis do Enxalé, ocupadas pelo Exército.
8700-442 Olhão
Telef. 289 714 748
Telem. 963 334 811
e-mail: henrique.matos10@sapo.pt
Em Junho de 1970, quando o BART 2917 substitui o BCAÇ 2852 no Sector L1, no destacamento do Enxalé havia um Grupo de Combate da CART 2715 (a unidade de quadrícula do Xime) bem como um esquadrão do Pelotão de Morteiros 2106. A partir de Outubro de 1971, passou a ter o GEMIL 309 e, em Dezembro de 1971, o GEMIL 310 (ambos pertencentes à Companhia de Milícias de Porto Gole).
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Notas de L.G.:
30 de Março de 2010 > Guiné 63/74 - P6076: Blogoterapia (148): A propósito da gente do Enxalé, Porto Gole e Missirá (CCAÇ 1439 + Pel Caç Nat 52): a questão da e-literacia da nossa geração (Henrique Matos / Luís Graça)
6 comentários:
Luís Graça: não sei, se a Ponta Brandão de que falas se refere a uma quinta, algures entre Fá e Bambadinca, e pertencente a um português há muito radicado na Guiné.
Creio que por razões de ordem politica.
Tenho disso uma recordação muito fraca. O vago-mestre parece que ia lá comprar vegetais.Passei lá uma ou duas vezes. O Velhote tinha quatro ou cinco filhos, já homens e mulheres mais velhos que nós. Falei com, pelo menos,um dos filhos. Contou-me que, antes da guerra certamente, caçavam no Geba jacarés e outro tipo de caça naquela zona etc.
O Velhote tinha uma destilaria. Estando a fazer aguardente de cana,quando por lá passei, agarrou num copo em bambú encheu e bebeu a aguardente de um trago. Como quem bebe água fresca. Depois,noutro copo, deitou aguardente e deu-me a beber. Foi o liquido mais forte que bebi...deslizava e queimava...e ele olhava...respirei fundo e soprei forte.Fiquei desinfectado. O fulano sorrindo disse ter-me portado bem. A minha memória dessa destilaria é fraquissima. Há outro pormenor mas é com a "inteligência" de Bambadinca. O Jorge Cabral e outros militares que passaram por Fá, certamente lembram-se desta família. Será Brandão? Não sei.
Abraço,Torcato
Torcato: Também lá fui uma ou outra vez. Ponta quer dizer quinta. Logo havia lá criação (leitões, por exemplo), horta e fruta (abecaxis, por exemplo). Julgo ter lá ido algumas vezes quando algum de nós estava de sargento de dia à messe (ou sragentod e mês, mais exactamente)... O Jaime, o nosso vague-mestre (da CCAÇ 12), batia região á cata de matéria-prima para satisfazer o apetite voraz da messe de Bambadinca (as meses de sargentos e de oficiais eram separadas, mas a cozinha era a mesma)...
O Jorge Cabral também conhecia a Ponta Brandão, que de resto ficava perto de Fá... Mas tudo aquuilo, a começar pela casa, tinha um ar decadente...
Já não posso jurar se a família era de origem metropolitana, ou caboverdiana... A família Brandão de Bambadinca era aparentada com os Brandão de Catió... Uns e outros tinham fama de ter gente no PAIGC...
E a propósito de civis de Bambadinca, soube pelo Dr. António Vilar - o médico do BART 2917, que sucedeu ao Mário Ferreira - que o Rendeiro ainda está vivo. Com cerca de 90 anos, vive em Murtosa, separado da esposa africana, que era filha de um régulo mandinga e que ele nunca nos mostrava. Era a mãe dos seus numerosos filhos... Jantei algumas vezes em sua casa... O seu chabéu era famoso... Em troca, ele queria saber coisas da vida do quartel...
Recordo-me de ele me ter dito que fora para a Guiné aos 17 anos... Terá nascido, portanto, em 1920.
Confirmo.Fui visita assídua do
Senhor Brandão,principalmente
durante as férias da filha que
trabalhava em Bissau.Era natural,
de Viana do Castelo ou da Póvoa de
Varzim,já não me recordo bem.Teria
na altura quase 80 anos,mais de 40
de Guiné e muitos filhos.
A aguardente de cana era fogo...mas
matava qualquer bicho, mesmo os
imaginários...
Abraço.
Jorge Cabral
Quando se fala nestas figuras de comerciantes/agricultores, neste caso com o nome de Brandão, que na Guiné é um dos nomes de colonos históricos, noutras ex-colónias há outros nomes tambem com história,
estamos a falar dos verdadeiros colonizadores à-lá-portuguesa.
Estes homens, sem disso terem consciência, chegaram e abriram caminho e serviram de intérpretes, a missionários católicos e outros, a chefes de posto e administradores e militares.
Estes comerciantes raramente foram alvo de um estudo, que analizasse as suas grandezas e misérias.
Mas todos os governantes desde o Diogo Cão até ao Gen. Spínola, secundarizaram estas pessoas, quando devia ter sido o contrário.
Os africanos (indígenas) davam mais importância a um comerciante, do que a um governador geral ou a um missionário ou chefe de posto.
Em relação à guerra, tiveram um papel tão importante para o bem ou para o mal, que podemos dizer que os milhares de "brandões" na áfrica portuguesa, foram os pais e os avós da maioria dos teóricos fundadores, do MPLA, PAIGC e FRELIMO, movimentos que secaram outros em volta, e com isso, talvez ainda sobre alguma coisa no fim de isto tudo.
Estes comerciantes, a maioria analfabetos, ou quase, chegavam a falar um dialeto ou mais que um, continuarão a ser olhados de "soslaio" por qualquer militar que, ao fim de 24 meses, não chegava a comprender aquela africanização, para não dizer outros nomes.
Estes portugueses de áfrica e brasis foram a história mais importasnte da diáspora portuguesa.
Em geral viajaram com passagem paga por eles.
Muitos netos dessa gente veio para o meio de nós em pontes aéreas.
É um ponto de vista.
Antº Rosinha
Também conheci o velho Brandão dos meus tempo de Fá/Bambadinca. Gordo, com grande dificuldade em respirar, com voz rouca e arrastada. Um grande cortejo de descendentes,uma ou duas filhas que viajavam entre Bissau e Lisboa.
Dizia-se que fora um dos "degredados" para a "costa de África" nos tempos da sua juventude. Recebia-nos bem porque ia connosco um alf. miliciano Brandão da CCS do Batalhão então em Bambadinca e que tratava como seu parente.
Estavamos em Maio, Junho, Julho de 1967.
Alberto Branquinho
Embora com um grande atraso, quero aqui deixar algumas palavras em relação ao Enxalé, que à falta de alferes comandei como furriel nos dois primeiros meses de 1970. Lembro-me que as instalações eram do Senhor Pereira que vivia em Bissau. Da destilaria só havia alguns restos. Tenho várias fotos e slides do Enxále. Aqui em Lagoa vive um combatente que em anos anteriores esteve lá a nível de Companhia. Um abraço.
José Júlio Nascimento - Cart 2520
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