[Cherno Naldé: natural de Fajonquito, setor de Contuboel, região de Baftá, fez a sua formação universitária na Ucrânia (ex-União Soviética) entre 1985/90 e depois em Portugal (Pós-graduação no CEA - Centro de Estudos Africanos /ISCTE); é quadro superior em Bissau, onde vive]
(*) Vd. poste de 2 de setembro de 2015 > Guiné 63/74 - P15066: Em bom português nos entendemos (12): Casamança ou Casamansa ? Como se deve grafar este topónimo do Senegal ? A resposta do Ciberdúvidas da Língua Portuguesa
Caro amigo Luis,
Bem que gostava de fazer uma apreciação crítica o conteúdo sócio-cultural e ideológico dos artigos apresentados sobre Ziguinchor e suas gentes por apresentarem grandes similitudes com as realidades sócio-culturais das chamadas 'praças' vs 'presídios' na actual Guine-Bissau, infelizmente o tempo escasseia.
A Casamansa é a grafia antiga, portugues, que, pouco a pouco, por influência do francês passou para Casamança aà francesa (Casamance) e acabou por ser a grafia oficialmente adoptada nas diferentes línguas e nas cartas geográficas modernas.
A terminologia ou conceito oportunista de "fijus de terra" que é prática corrente em toda a região foi desde sempre fonte de discórdia, de intrigas e de instabilidade social e política cujos efeitos nocivos podemos encontrar quase em todas as organizações, agrupamentos (os famosos Gan) ou partidos políticos como o PAIGC, FLING e outros.
Penso que o prefixo "mansa" estaria ligado ao poder tradicional (autoridade) na altura derivado ou por extenão do poder longínquo do Mansa de Mali e nao é sinónimo de mansidão como o pretende Torcato.
O declinio da aristocracia crioula em Ziguinchor, de certo modo, também, está relacionada com o declínio e pauperizacção dos centros de cultura crioula da Guiné-Bissa, fruto do retrocesso desta desde a independência.
Quanto a interferência "guerreira" no Casamansa, a pequena Guine-Bissau não fica a dever em nada ao vizinho Senegal, pois o tráfico de armas e de alianças duvidosas estão na origem da maior parte dos conflitos que ocorreram nos últimos anos.
Pessoalmente, sou de opinião que a Guine-Bissau não devia alimentar orgulhos caducos e tem a obrigapção de respeitar as fronteiras coloniais existentes, se quiser continuar a existir como país. (**)
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
Bem que gostava de fazer uma apreciação crítica o conteúdo sócio-cultural e ideológico dos artigos apresentados sobre Ziguinchor e suas gentes por apresentarem grandes similitudes com as realidades sócio-culturais das chamadas 'praças' vs 'presídios' na actual Guine-Bissau, infelizmente o tempo escasseia.
A Casamansa é a grafia antiga, portugues, que, pouco a pouco, por influência do francês passou para Casamança aà francesa (Casamance) e acabou por ser a grafia oficialmente adoptada nas diferentes línguas e nas cartas geográficas modernas.
A terminologia ou conceito oportunista de "fijus de terra" que é prática corrente em toda a região foi desde sempre fonte de discórdia, de intrigas e de instabilidade social e política cujos efeitos nocivos podemos encontrar quase em todas as organizações, agrupamentos (os famosos Gan) ou partidos políticos como o PAIGC, FLING e outros.
Penso que o prefixo "mansa" estaria ligado ao poder tradicional (autoridade) na altura derivado ou por extenão do poder longínquo do Mansa de Mali e nao é sinónimo de mansidão como o pretende Torcato.
O declinio da aristocracia crioula em Ziguinchor, de certo modo, também, está relacionada com o declínio e pauperizacção dos centros de cultura crioula da Guiné-Bissa, fruto do retrocesso desta desde a independência.
Quanto a interferência "guerreira" no Casamansa, a pequena Guine-Bissau não fica a dever em nada ao vizinho Senegal, pois o tráfico de armas e de alianças duvidosas estão na origem da maior parte dos conflitos que ocorreram nos últimos anos.
Pessoalmente, sou de opinião que a Guine-Bissau não devia alimentar orgulhos caducos e tem a obrigapção de respeitar as fronteiras coloniais existentes, se quiser continuar a existir como país. (**)
Com um abraço amigo,
Cherno Baldé
Igreja católica nos arredores de Ziguinchor. Cortesia de Wikipedia |
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Notas do editor:
(...) Comentários de LG:
Sobre Ziguinchor, capital da região de Casamansa, pode ler-se o artigo "Ziguinchor, a vila crioula do Senegal"... Desconhecem,os o autor, mas aqui vão uns excertos, com a devida vénia (. A revisão e fixaçãon de texto é nossa):
(...) "Ziguinchor foi fundada pelos portugueses no sec. XVII, em 1645, na margem sul do Rio Casamansa. O seu nome deriva da expressão portuguesa 'cheguei e choram', porque os nativos pensavam que os vinham escravizar. Esta feitoria fora aí sediada para comerciar com o reino de Casamansa o qual era um aliado dos portugueses.
"Segundo as crónicas este era o reino mais amigo dos portugueses, ao longo da costa da Guiné. O rei vivia à moda europeia, com mesa, cadeiras e roupas ocidentais, na sua corte habitavam muitos portugueses onde comerciavam e faziam cortesia ao rei. No entanto o progressivo desleixo por Portugal de África, a favor da Índia e depois do Brasil, deixou esta zona praticamente abandonada. Cedo a feitoria se transformou num mero presídio, praticamente vazio...
"Hoje Ziguinchor é a capital da provincia senegalesa de Casamansa que luta pela sua independência do norte.
(...) "A população era constituida pelos fijus di terra que ainda hoje se auto-intitula a verdadeira população de Ziguinchor. Esta população era constituída por descendentes de portugueses e mulheres Diola, e ainda hoje mantêm os apelidos portugueses como Alfonso, Barbosa, Carvalho, da Silva, Fonseca, só para citar alguns. Para além dos fijus di terra são ainda distinguidos os fijus di fidalgu, a aristrocracia de Zinguinchor que se distinguem pelo prestígio nobiliárquico que exibem.
"Os fijus di terra eram os proprietários da terra, destinguiam-se dos outros grupos étnicos pela língua crioula, pela religião católica pelas maneiras, hábitos e roupas europeus. Talvez a característica mais sonante desta população fosse o bem conhecido domingo de Ziguinchor em que a população vai à missa e se passeia elegantemente de paletó e chapéu pelas ruas e jardins de Ziguinchor. Daí que, para os franceses, os crioulos tivessem sido os interlocutores por excelência com o resto da população. E tiveram eles mesmo de aprender o crioulo, língua que era bem mais fácil que as outras línguas nativas para um europeu. Mesmo os funcionários do norte que os franceses mandavam vir devido ao facto de serem mais escolaralizados que os sul, aprendiam rapidamente a falar o crioulo, este era o mais falado pela população, e até as outras etnias aprendiam a língua crioula por ser a língua do comércio, devido não só à proximidade com a Guiné-Bissau e ao contrabando que se fazia entre os dois países, mas ainda ao comércio do mercado local que atraía os camponeses do interior.
"Os laços com a Guiné-Bissau são muito fortes, desde familiares, sociais, religiosos e étnicos, de tal forma que em 1985, num questionário, 70% repondeu já ter visitado a Guiné-Bissau. E, mesmo apesar do crioulo de Ziguinchor ser do tipo de Cacheu, a influência do de Bissau faz ainda sentir-se aqui. Para além dos fijus di terra vieram da Guiné-Bissau principalmente durante a guerra colonial muitos refugiados, os manjacos, os manés e os papeis, para reforçar a população crioula. Nas familias mais abastadas costuma-se ainda casar com membros das famílias de Bissau ou Cacheu.
"Numa pirâmide que ilustrasse a estrutura social de Ziguinchor poderiamos colocar quatro bases: na mais alta os fijus di fidalgu a seguir os fijus di terra, de seguida os manjacos, vindos da Guiné-Bissau, e por fim as outras etnias locais. " (...)
(...) "Ziguinchor foi fundada pelos portugueses no sec. XVII, em 1645, na margem sul do Rio Casamansa. O seu nome deriva da expressão portuguesa 'cheguei e choram', porque os nativos pensavam que os vinham escravizar. Esta feitoria fora aí sediada para comerciar com o reino de Casamansa o qual era um aliado dos portugueses.
"Segundo as crónicas este era o reino mais amigo dos portugueses, ao longo da costa da Guiné. O rei vivia à moda europeia, com mesa, cadeiras e roupas ocidentais, na sua corte habitavam muitos portugueses onde comerciavam e faziam cortesia ao rei. No entanto o progressivo desleixo por Portugal de África, a favor da Índia e depois do Brasil, deixou esta zona praticamente abandonada. Cedo a feitoria se transformou num mero presídio, praticamente vazio...
"Hoje Ziguinchor é a capital da provincia senegalesa de Casamansa que luta pela sua independência do norte.
(...) "A população era constituida pelos fijus di terra que ainda hoje se auto-intitula a verdadeira população de Ziguinchor. Esta população era constituída por descendentes de portugueses e mulheres Diola, e ainda hoje mantêm os apelidos portugueses como Alfonso, Barbosa, Carvalho, da Silva, Fonseca, só para citar alguns. Para além dos fijus di terra são ainda distinguidos os fijus di fidalgu, a aristrocracia de Zinguinchor que se distinguem pelo prestígio nobiliárquico que exibem.
"Os fijus di terra eram os proprietários da terra, destinguiam-se dos outros grupos étnicos pela língua crioula, pela religião católica pelas maneiras, hábitos e roupas europeus. Talvez a característica mais sonante desta população fosse o bem conhecido domingo de Ziguinchor em que a população vai à missa e se passeia elegantemente de paletó e chapéu pelas ruas e jardins de Ziguinchor. Daí que, para os franceses, os crioulos tivessem sido os interlocutores por excelência com o resto da população. E tiveram eles mesmo de aprender o crioulo, língua que era bem mais fácil que as outras línguas nativas para um europeu. Mesmo os funcionários do norte que os franceses mandavam vir devido ao facto de serem mais escolaralizados que os sul, aprendiam rapidamente a falar o crioulo, este era o mais falado pela população, e até as outras etnias aprendiam a língua crioula por ser a língua do comércio, devido não só à proximidade com a Guiné-Bissau e ao contrabando que se fazia entre os dois países, mas ainda ao comércio do mercado local que atraía os camponeses do interior.
"Os laços com a Guiné-Bissau são muito fortes, desde familiares, sociais, religiosos e étnicos, de tal forma que em 1985, num questionário, 70% repondeu já ter visitado a Guiné-Bissau. E, mesmo apesar do crioulo de Ziguinchor ser do tipo de Cacheu, a influência do de Bissau faz ainda sentir-se aqui. Para além dos fijus di terra vieram da Guiné-Bissau principalmente durante a guerra colonial muitos refugiados, os manjacos, os manés e os papeis, para reforçar a população crioula. Nas familias mais abastadas costuma-se ainda casar com membros das famílias de Bissau ou Cacheu.
"Numa pirâmide que ilustrasse a estrutura social de Ziguinchor poderiamos colocar quatro bases: na mais alta os fijus di fidalgu a seguir os fijus di terra, de seguida os manjacos, vindos da Guiné-Bissau, e por fim as outras etnias locais. " (...)
"Depois de 75 anos de domínio francês e de 37 anos de independência, os crioulos de Ziguinchor ainda são conhecidos como "les portugais" - portuguis, na população local. No entanto o crescimento da cidade e o aparecimento dos subúrbios tirou a terra aos fijus di terra, deixando-os na pobreza.
"Depois da independência a situação alterrou-se por completo, os crioulos eram vistos como cúmplices dos franceses. Os cargos públicos ocupados pelos crioulos foram substituidos pelos funcionários vindos do norte que falavam wolof, e assim começou o declínio da população crioula de Ziguinchor que fora sempre a maioritária. De tal modo que em 1985 apenas 37% da crianças que iam para a escola falavam em crioulo. (...)
"As diferenças étnicas e culturais entre os povos de Casamansa, da qual Ziguinchor é a capital, e os do norte maioritariamente wolof [, islamizados,] são bastante grandes. Há já alguns anos que Casamansa luta pela sua independência (desde 1982). Muitos historiadores veem neste fenómeno uma herança dos conflitos luso-franceses sobre o território e que nomeadamente a Guiné-Bissau e o Senegal herdaram. São sabidas as interferências das tropas senegalesas em território guineense mas há ainda a ter em conta a grande ligação afectiva que liga as populações de Casamansa e da Guiné-Bissau. Esta última tentou servir de mediadora no conflito armado dos rebeldes do MFDC (Movimento das Forças Democráticas de Casamansa) mas a neutralidade da Guiné-Bissau nunca foi muito segura e a verdade é que o exército guineense tem fornecido armas ao movimento liderado por um padre de origem crioula, Sengor (Senhor).
"Os fijus di terra acabaram por apoiar os rebeldes e tem ainda por isso sido exterminados culturalmente. Por outro lado enfrentam uma senegalização imposta. Ser-se crioulo era um estatuto privilegiado que tem começado a desaparecer, pois passou a ser secundário em relação aos wolof que anteriormente nem sequer existiam na região. (...)"
"As diferenças étnicas e culturais entre os povos de Casamansa, da qual Ziguinchor é a capital, e os do norte maioritariamente wolof [, islamizados,] são bastante grandes. Há já alguns anos que Casamansa luta pela sua independência (desde 1982). Muitos historiadores veem neste fenómeno uma herança dos conflitos luso-franceses sobre o território e que nomeadamente a Guiné-Bissau e o Senegal herdaram. São sabidas as interferências das tropas senegalesas em território guineense mas há ainda a ter em conta a grande ligação afectiva que liga as populações de Casamansa e da Guiné-Bissau. Esta última tentou servir de mediadora no conflito armado dos rebeldes do MFDC (Movimento das Forças Democráticas de Casamansa) mas a neutralidade da Guiné-Bissau nunca foi muito segura e a verdade é que o exército guineense tem fornecido armas ao movimento liderado por um padre de origem crioula, Sengor (Senhor).
"Os fijus di terra acabaram por apoiar os rebeldes e tem ainda por isso sido exterminados culturalmente. Por outro lado enfrentam uma senegalização imposta. Ser-se crioulo era um estatuto privilegiado que tem começado a desaparecer, pois passou a ser secundário em relação aos wolof que anteriormente nem sequer existiam na região. (...)"
(**) Último poste da série > 3 de agosto de 2015 > oesGuiné 63/74 - P14964: (Ex)citações (288): Estações dos CTT na Guiné (Jorge Araújo)
2 comentários:
Como de costume, o Cherno avalia as situações com a sabedoria africana, com ponderação, medindo bem os opostos e decidindo o que o bom senso determina.
Acho que tem razão.
Hélder S.
Se a Guiné tivesse, dentro de portas, 1000 Guineenses com o juízo do Cherno, teria resolvidos a maior parte dos seus problemas.
Um abraço
Carvalho de Mampatá
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