sexta-feira, 10 de junho de 2016

Guiné 63/74 - P16187: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (15): "País Natal", de António Baticã ferreira (nascido, em 1939, no Cachungo, médico)



Guiné > Bissau > Julho de 1972 > Duas crianças na avenida narginal, junto ao cais do Pidjiguiti. Foto  nº 48 do álbum fotográfico de Francisco Gamelas,ex-alf mil cav, cmdt do Pel Rec Daimler 3089 (Cachungo / Teixeira Pinto, 1971/73).

Foto (e legenda): © Francisco Gamelas (2016). Todos os direitos reservados [Edição: Blogue Luís Graça & Camaradas da Guiné]




Detalhe da capa da brochura Caderno de Poesias "Poilão", edição limitada a cerca de 700 exemplares, policopiados, distribuídos em dezembro de 1973 e  fevereiro de 1974, em Bissau. (*)

In: Caderno de Poesias "Poilão". Bissau: Grupo Desportivo e Cultural (GDC) dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, dezembro de 1973. (Cadernos de Poesia). Policopiadp,  p. 33.



1. Quando  o  então tenente de artilharia Albano de  Matos, do BA 7 e dedois do QG/CTIG, natural de Castelo Brancp.   dá as mãos a Aguinaldo de Almeida, caboverdiano, empregado do BNU -  Bissau e responsável pelo respetivo Grupo Desportivo e Cultural (GDC)   para lançar uma coleção de poesia, de que o o "Poilão" foi o 1º e único número, estava longe de imaginar que esta edição, artesanal, policopiada, ia ter algum impacto na pacatíssima vida cultural da pequena capital da Guiné, em dezembro de 1973, a escassos meses do  fim da guerra. O "Poilão" acabou por ser a primeira ou uma das primeiras antologias de poesia guineense. Albano de Matos já explicou o "making of" do "Poilão":


(...)  Nos inícios do mês de Dezembro de 1973, ao ler o jornal «Voz da Guiné», deparei com um escrito de Agostinho de Azevedo, alferes miliciano, creio que chefe de redacção do jornal, insinuando que não havia poesia na Guiné. Respondi com um escrito, «O Despertar da Guiné», dizendo que havia poesia na Guiné e que, em breve, iríamos ter um Caderno de Poesias, com o título de «Poilão», a designação de uma árvore sagrada na Guiné. Depois da publicação do primeiro número, seriam publicados cadernos de poesia de um só autor.

No Grupo Desportivo de Cultural do BNU, conheci guineenses e cabo-verdianos que faziam poesias e pedi originais para colaboração em «Poilão», que ainda guardo no meu arquivo. Juntei 24 poemas de 4 poetas da Guiné, 3 de Cabo Verde e 4 de Portugal.

De modo artesanal, fiz 300 exemplares do caderno. Dactilografei os poemas, imprimi-os em duplicador, dobrei as folhas e agrafei-as em capa de cartolina, esta impressa em tipografia, com desenho do poilão da autoria de um alferes miliciano, do Batalhão de Transmissões.


Os 300 exemplares do Caderno de Poesias «Poilão», editado pelo Grupo Desportivo e Cultural do Banco Nacional Ultramarino, esgotaram-se na noite do lançamento. Sem preço de capa, cada pessoa dava a importância que queria. O preço por unidade foi de 20$00 a 100$00.

Por minha proposta, o dinheiro angariado foi doado à Leprosaria da Cumura, nas proximidades de Bissau. Preparei, então, mais 400 exemplares que se esgotaram num dia. Havia apetência para a Poesia na Guiné. Eu apercebi-me desse facto. (...) 

António Baticã Ferreira, nascido no Cachungo (Texeira Pinto), em 1939, estudou em França (, onde fez o liceu em Paris), e formou.se em medicina, na Suiça, na Universidade de Lausana, Sabemos que exerceu a atividade no Hospital de Santa Maria. Não sabemos se vive em Portugal. E se continua a escrever. O Albano de Matos disse-me que conheceu o guineense Baticã Ferreira, médico, "na Sociedade da Língua Portuguesa, que lhe publicou uma colectânea de poesia  (*Poesia & Ficção")-


De  qualquer modo, António Baticã Ferreira é um dos quatro poetas guineenses presentes nesta antologia. Reproduzimos aqui o seu poema, "País Natal". Na altura era já um poeta e escritor com obra publicada.

Tanto quanto sabemos (ou podemos presumir), era filho (ou parente) do régulo Joaquim Baticã Ferreiar, uma das figuras com peso político no tempo dos últimos governadores da Guiné (Arnaldo Schulz, António Spínola e Bettencourt Rodrigues).

Joaquim Baticã Ferreira foi miseravelmente fuzilado, sem julgamento,  em 10 de março de 1976, pelo PAIGC, no seu próprio chão, o chão manjaco, na presença da sua própria família.  Dizem que enfrentou o pelotão de fuzilamento com grande bravura e dignidade.

É bom, chamar os bois pelos cornos: isto passou-se no tempo  de Luís Cabral, um líder fraco, que foi incapaz de segurar os "irãs maus" do seu movimento, numa altura em que aparentemente ele tinha todas as condições, internas e externas, para fazer da Guiné-Bissau um país novo que fosse orgulho da África, da Humanidade e da Lusofonia...

Em contrapartida, os Baticã Ferreira continuam a ser, na Guiné-Bissau, uma família ilustre, dando exemplos de liderança esclarecida, que é o que a Guiné-Bissau precisa hoje, "a par do pão para a boca"... LG
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Nota do editor:

Último poste da série > 10 de junho de  2016 > Guiné 63/74 - P16186: Caderno de Poesias "Poilão" (Grupo Desportivo e Cultural dos Empregados do Banco Nacional Ultramarino, Bissau, Dezembro de 1973) (Albano de Matos) (14): dois poemas ("Letargia da carne" e "Escravidão", de Armando Lopes, natural do Porto)

2 comentários:

Unknown disse...

Antonio Betica Ferreira era irmao de Joapuim Betica Ferreira prince ou rei dos manjacos quem mo disse foi um outro com muito orgulho o celhfe de posto de Caio muito orgulho que o seu meio irmao era medico no Hospital Santa Maria Joapuim e Antonio eran irmaos da mesma mae iie um pouco que sei da numerososa familia ferreira

Filho de chão manjaco disse...

Joaquim Baticã Ferreira, era irmão mais velho do António Baticã Ferreira. Joaquim Baticã como era chamado pelo seu povo, era um visionário, que apostava na escola e na formação profissional, fundou uma escola na sua aldeia, onde mandavam estudar tudo jovens da sua área de jurisdição, assim como formação na área agrícola, hoje há muitos quadro guineenses frutos daquela escola. Nós do seu chão, temos orgulho de aquele HOMEM com H. Gloria eterna