quinta-feira, 5 de abril de 2018

Guiné 61/74 - P18487: (D)o outro lado do combate (24): estudo sociodemográfico: o caso do bigrupo do cmdt Quintino Gomes (1946-1972) (Jorge Araújo)



Foto nº 1 > Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Xime > Estrada Xime-Bambadinca > Ponta Coli  22 de Abril de 1972 > Local do combate com o bigrupo do PAIGC, comandado por Mário Mendes (1943-1972). A cor vermelha indica as posições dos elementos do bigrupo. A linha azul refere a distribuição das NT, após o início da emboscada dirigida às duas viaturas em que nos fazíamos transportar.


Foto nº 2 > Guiné > Região de Bafatá > Setor L1 (Bambadinca) > Imagem da progressão de uma força da CCAÇ 12, a 3 Gr Comb. (do camarada Luís Graça), no subsector do Xime, na época das chuvas. Foto do ex-fur mil at inf Arlindo Roda, com a devida vénia. Poste P10209.


Jorge Alves Araújo, ex-Fur Mil Op Esp/Ranger, CART 3494 
(Xime-Mansambo, 1972/1974); coeditor do blogue desde março de 2018



GUINÉ: (D)O OUTRO LADO DO COMBATE > UM NOVO OLHAR SOCIODEMOGRÁFICO DE UM BIGRUPO > O CASO DO BIGRUPO DO CMDT QUINTINO GOMES (1946-1972) 

1. INTRODUÇÃO


Em Dezembro de 2016 apresentei no fórum da «Tabanca Grande» – P16865 – aquele que foi considerado o primeiro estudo sociodemográfico de um bigrupo de guerrilheiros, com o título «Mário Mendes (1943-1972) - O último Cmdt do PAIGC a morrer no Xime».

A vontade, o interesse e a motivação para a realização deste estudo, nascera há quatro décadas e meia atrás, naquele já longínquo «22 de Abril de 1972», sábado, e que no mesmo dia, mas do ano seguinte (1973), correspondeu ao Domingo de Páscoa. E a principal razão estava ligada ao meu "baptismo de fogo", e ao do meu Gr Comb (o 4.º) da CART 3494, episódio dramático ocorrido no lugar designado por «Ponta Coli», na estrada Xime-Bambadinca, local onde diariamente cada um dos 3 Gr Comb, em regime de rotação, desempenhava a missão de garantir a segurança a pessoas e bens, civis e militares, em trânsito de ou para Bissau, por via marítima.

Aí aconteceu o primeiro grande combate da CART 3494, em que estiveram frente a frente, a uma distância de escassas dezenas de metros, um efectivo de 20 operacionais, mais 2 condutores e o picador Malan Quité [NT], e um bigrupo reforçado do PAIGC, superior a cinquenta unidades que, agindo de surpresa como seria espectável, e habitual, nos procurou aniquilar. Alguns dias depois, soube-se que tinha sido o bigrupo do Cmdt Mário Mendes. [Vd, foto nº 1, acima].

Desse combate resultaram dezassete feridos, entre graves e menos graves, e um morto, o meu/nosso camarada furriel Manuel Rocha Bento (1950-1972), natural da Ponte de Sor, a nossa única baixa em combate. Eu saí ileso, o mesmo acontecendo aos condutores das duas viaturas e mais dois operacionais do meu Gr Comb.

Do outro lado, ainda não consegui apurar as consequências de tamanha ousadia.

Quatro semanas após ter organizado e comandado aquela emboscada na «Ponta Coli», voltaríamos a estar com Mário Mendes e o seu grupo, em novo frente a frente, desta feita na Ponta Varela (zona mítica do Xime), em 25 de Maio de 1972, 5.ª feira, quando este se preparava para realizar nova "aventura". Aí Mário Mendes viria a morrer, por intervenção de elementos da CCAÇ 12 (ex-CCAÇ 2590) [, vd.foto nº 2 , acima], na acção «Gaspar 5», em que participaram seis Gr Comb [três da CART 3494 e três da CCAÇ 12], tendo-lhe sido capturada a sua Kalashnicov, bem como três carregadores da mesma e documentos que davam conta do calendário das "acções" a desenvolver naquela zona pelo seu bigrupo. [vidé P12232 + P9698].

Foi a partir desse(s) palco(s) do TO, onde se praticava o "jogo da sobrevivência", durante o qual se fazia apelo à superação permanente, ou transcendência, individual e grupal, que no meu processo cognitivo emergiram um certo número de questões/ interrogações, por exemplo:

"Quantos e quem eram aqueles que tinham estado à minha/nossa frente, e se puseram em fuga passados 15/20 minutos? Quais os seus nomes? Onde nasceram? Que idade tinham? Há quantos anos andavam naquela vida? Como viviam e de que se alimentavam?... Ou seja, alguns enigmas da guerra."

Algumas das respostas consegui obter, justamente, naquele primeiro estudo.

Hoje, passados quinze meses após a realização desse primeiro trabalho, volto de novo ao fórum para apresentar/partilhar um segundo estudo, concretizando, deste modo, uma promessa que formulei a mim mesmo de o fazer logo que encontrasse uma amostra semelhante à do primeiro. E isso aconteceu… e ainda bem!

Assim, utilizando a mesma metodologia do primeiro caso, este novo estudo tem como universo o bigrupo do Cmdt Quintino [Amisson] Gomes (1946-1972), morto em combate, em Fevereiro de 1972, nos arredores de Empada, região de Quínara, ao tempo da CCAÇ 3373, "Os Catedráticos de Empada", ou seja, três meses antes do Cmdt Mário Mendes (1943-1972).



2. QUINTINO [AMISSON] GOMES, CMDT DE BIGRUPO EM ACÇÃO NA REGIÃO DE QUÍNARA


O presente estudo sociodemográfico sobre o bigrupo do Cmdt Quintino Gomes nasce por ramificação da investigação que tenho vindo a realizar a propósito do "relatório relacionado com as operações militares na Frente Sul", acções efectuadas na região de Quinara e de Tombali, durante o último trimestre de 1969, uma vez que nele é referido o seu nome.

Soube que Quintino Gomes era Cmdt do bigrupo do PAIGC e que actuava no Sector de Cubisseco de Baixo, tendo por missão, até meados de 1969, controlar a estrada de Nhala, que passa em Uana, antigo quartel das NT, em direcção a Mampatá.

Quintino Gomes nasceu em 1946 [desconhece-se o dia e o mês], na vila de Empada, na região de Quinara. Era casado. Em 1962 aderiu ao PAIGC, com 15/16 anos, como aconteceu com muitos outros, de que é exemplo o caso de Mário Mendes, desde quando deu início à sua actividade na guerrilha. Era Cmdt de bigrupo, pelo menos desde 1966, ano que foram elaboradas pelo organismo de Inspecção e Coordenação do Conselho de Guerra as listas [mapas] das FARP referentes à constituição dos bigrupos existentes em cada Frente, conforme demonstra o exemplo abaixo, onde consta o nome de Quintino Gomes e de mais trinta e três elementos.

Como reforço do acima exposto, no "Relatório da Comissão de Inspecção das FARP para a Frente Sul e Leste", datado de 21 de Maio de 1969, e assinado por Pedro Ramos, consta que, após reunião de 9-3-69 (Bigrupo de Quintino Amisson Gomes e de Pana Djata), "este bigrupo que se encontra estacionado a uns quilómetros do antigo quartel inimigo [NT] de nome Uana (Tabanca) tem como missão de controlar a estrada de Nhala, que passa em Uana em direcção a Mampatá. Na primeira formação do bigrupo, este perdeu uma AK[-47]. A última operação efectuada foi em 15-2-69 no aquartelamento de Nhala. O último contacto com o Comando do sector foi em Janeiro de 1969. Com o Comando da Frente nunca tiveram contactos no lugar de estacionamento. A última reunião do Comissário Político do bigrupo com os combatentes teve lugar no dia 28-2-69. O comandante do sector, o camarada Iafal Camará, declarou que tem reunido com os combatentes sempre no fim de cada mês".




Citação: (1969 [05-21]), "Relatório da Comissão de Inspecção das FARP para a Frente Sul e Leste", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/ fms_dc_40080 (2018-3-15) (p. 12/37; com a devida vénia à Fundação Mário / Casa Comum / Arquivo Amílcar Cabral)).


Ainda no que concerne ao Cmdt Quintino Gomes, o "Relatório sobre o Sector de Cubisseco de Baixo", elaborado por José [Eduardo] Araújo (1933-1992), datado de 10 de Dezembro de 1971 e enviado a Amílcar Cabral (1924-1973), refere que […] "Tive uma impressão muito boa do camarada Quintino Gomes, comandante do sector, que tem rara "particularidade" de nunca ter visto o Secretário-Geral, facto que lamenta. Da opinião de toda a gente trata-se de um bom camarada. Escreve razoavelmente, o que significa que tem algum grau de instrução primária [3.ª classe]".




Citação: (1971), "Relatório sobre o Sector de Cubisseco de Baixo", CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net/11002/fms_dc_40043 (2018-3-15) (p. 11/23; com a devida vénia).


Dois meses depois deste relatório, em [?] Fevereiro de 1972, Quintino Gomes morreria em combate na vila que o viu nascer – Empada.

Em 25 de Fevereiro de 1972, em carta enviada a Marga, nome de guerra de  "Nino" Vieira (1939-2009), em resposta às suas missivas de 11 de Janeiro e 15 de Fevereiro [1972], Amílcar Cabral (1924-1973) lamenta a morte do Cmdt Quintino Gomes nos seguintes termos: […] "Mas os camaradas têm que ter muito cuidado nos ataques, para não acontecer o que se passou em Empada no último ataque [que teria sido antes de 15Fev'72]. Lamento muito a perda do camarada Quintino Gomes que era dos nossos melhores combatentes e quadros do Partido. Discutiremos na próxima reunião da Direcção a tua proposta para que seja considerado herói".





Citação: (1972), Sem Título, CasaComum.org, Disponível HTTP: http://hdl.handle.net /11002/fms_dc_34493 (2018-3-8)


Entretanto, no passado domingo, 4 de Março de 2018, numa feliz coincidência para a conclusão deste trabalho, o jornal  Correio da Manhã publica uma entrevista com um camarada (não identificado, mas certamente o da foto abaixo) da CCAÇ 3373, "Catedráticos" (Empada, Mai'71 a Mai'72), conduzida pela jornalista Fernanda Cachão.



No contexto desta narrativa, e como elemento de validação da data da morte do Cmdt Quintino Gomes, citamos a seguinte passagem: […] "Foi no mês de Fevereiro desse ano [1972], tínhamos feito uma operação em que apreendemos muito material de guerra – e feito também mortos e feridos -, e tal como à ida regressámos já de noite. Fomos atacados por canhões sem recuo e foguetões ["GRAD"]. Tínhamos chegado ao aquartelamento em Empada, e foi terrível". […]


Em função deste depoimento, não me é difícil aceitá-lo como elemento factual relacionado com o episódio da morte do Cmdt Quintino Gomes. Será que esta é também a opinião do fórum do jornal Correio da Manhã ?





Imagem do camarada [não identificado] da CCAÇ 3373 (Empada e Bissau, 1971/73), entrevistado pela jornalista Fernanda Cachão, do Correio da Manhã, e publicada em 4.3.2018, em http://www.cmjornal.pt/mais-cm/domingo/detalhe/uma-mina-levou-a-perna-ao-furriel-rente-ao-joelho? ref=HP_Ticker CMAoMinuto, com a devida vénia.






3. RESULTADOS DO ESTUDO

A partir dos dados contidos na lista acima [mapa], que consideramos como os casos da investigação ou a "amostra de conveniência", procura-se compreender melhor quem estava do outro lado do combate. Com este propósito, procedemos à organização de alguns desses dados referentes a cada um dos sujeitos constituintes do "bigrupo de Quintino Gomes", sobre os quais pretendemos retirar conclusões.

Para o efeito, esses dados foram agrupados quantitativamente e apresentados em quadros estatísticos de frequências (caracterização da amostra por idade: a de nascimento e a de adesão ao Partido) e de quadros de variáveis categóricas em relação aos restantes elementos (ano de adesão ao PAIGC e idade e anos de experiência cumulativas ao longo do conflito).





Quadro 1 – distribuição de frequências em relação ao ano de nascimento dos elementos do bigrupo de Quintino Gomes (n-34)


Da análise ao quadro 1, verifica-se que os anos de nascimento com maior percentagem são dois: 1941 e 1945 (14.7%) com 5 casos cada, seguido de 1947 (11.8%), com 4 casos, e 1934, 1942 e 1944 (8.9%), em terceiro, com 3 casos cada.

Quando analisado por períodos, verifica-se que o maior número de casos (n-16) estão os nascidos entre 1943 e 1947 (47.1%) (grupo central), entre 1933 e 1942 (n-13= 38.2%) (grupo dos mais velhos), e entre 1948 e 1952 (n-5=14.7%) (grupo dos mais novos).




Quadro 2 – distribuição de frequências em relação à idade de adesão ao PAIGC dos elementos do bigrupo de Quintino Gomes (n-34)


Da análise ao quadro 2, verifica-se que a idade com maior percentagem de adesão ao Partido é 16 anos, com 7 casos (20.6%), seguida dos 17 e 21 anos, com 4 casos cada (11.8%). As idades de 18, 19, 22 e 23, com 3 casos cada, valem no seu conjunto 35.2%.

Quando analisada a adesão ao Partido por períodos, verifica-se que o maior número de casos (n-14) estão entre as idades de 14 e 17 anos (41.2%) (mais novos), seguido pelos grupos de idade média, entre os 18 e 21 anos, e idade superior, entre os 22 e 30 anos (mais velhos), com 10 casos cada (29.4%).

Analisada a adesão ao Partido entre os 18 e 23 anos, os valores apontam para uma maioria relativa com 16 casos (47.1%), seguida por 14 casos nas idades inferiores (41.2%) e somente quatro casos nas idades superiores (11.7%).




Quadro 3 – distribuição de frequências em relação ao ano de adesão ao PAIGC dos elementos do bigrupo de Quintino Gomes (n-34)



Da análise ao quadro 3, verifica-se que o ano onde se registou maior adesão ao PAIGC foi 1963 com 11 casos (32.4%), seguido de 1962, com 10 casos (um dos quais Quintino Gomes) (29.4%). O ano de 1964 foi o terceiro com 7 casos (20.6%)

Quando analisada a partir da soma dos dois primeiros anos (1962 + 1963), anos de preparação e início do conflito, a percentagem sobe para 61.8% (n-21).



Quadro 4 – distribuição de frequências em relação à idade verificada ao longo do conflito, contados após a adesão individual ao PAIGC, no caso dos elementos do bigrupo de Quintino Gomes (n-34)


Da análise ao quadro 4, e partindo da hipótese meramente académica de que o bigrupo se manteve constante ao longo do conflito, pelo menos até Fevereiro de 1972, data da presumível morte de Quintino Gomes, este teria, então, vinte e cinco/seis anos [sombreado castanho]. Os restantes elementos teriam a idade referida na linha [sombreado verde] do ano de 1972.




Quadro 5 – distribuição de frequências em relação ao número de anos de experiência na guerrilha ao longo do conflito, contados após a adesão ao PAIGC, no caso dos elementos do bigrupo de Quintino Gomes (n-34).

Da análise ao quadro 5, e partindo da hipótese meramente académica apresentada no quadro anterior, Quintino Gomes teria, no mínimo, nove anos de experiência na guerrilha [sombreado castanho], bem como de outros nove combatentes. Os restantes elementos teriam os anos de experiência referidos na linha [sombreado verde] do ano de 1972.




Quadro 6 – Elementos sociodemográficos de comparação entre os sujeitos do estudo – Quintino Gomes (n-34) e Mário Mendes (n-38) – a partir das variáveis categóricas em análise, para efeito da elaboração de conclusões.


4. CONCLUSÕES


Partindo da análise aos resultados apurados, apresentados nos quadros acima, procedemos à elaboração de um último quadro (o 6.º), este comparativo entre os dois comandantes de bigrupos, considerados como os "casos" da investigação (Quintino Gomes e Mário Mendes).

Da análise ao quadro supra concluímos:

(i) a diferença de idade entre ambos era de 3 anos, sendo Quintino Gomes o mais novo, nascido em 1946;

(ii) nasceram em locais diferentes, separados por dois rios importantes da Guiné: o Rio Geba e o Rio Grande de Buba; Mário Mendes mais a Norte (Região do Oio - Frente Norte); Quintino Gomes, mais a sul (Região de Quinara - Frente Sul);

(iii) ambos aderiram ao PAIGC no mesmo ano (1962): Quintino Gomes, com 15/16 anos, e Mário Mendes, com 18/19 anos; morreram em combate dez anos depois, também no mesmo ano (1972), com uma diferença de três meses entre si; cada um deles teria, aproximadamente, o mesmo tempo de experiência como combatente;

(iv) quanto às lideranças: Quintino Gomes foi Cmdt de um grupo de guerrilheiros com média de idades mais alta (28.1/34, em 1972), quando comparada com a do grupo do Cmdt Mário Mendes (27.9/38, em 1972);

(v) quanto às idades: a maioria dos elementos do grupo de Quintino Gomes eram mais velhos que ele (n-20=58.8%) em comparação com os mais novos (n-9=26.5%); por outro lado, a maioria dos elementos do grupo de Mário Mendes eram mais novos que ele (n-22=57.9%), enquanto os mais velhos eram metade dos mais novos (n-11=28.9%).

Caso surja outra oportunidade de investigação semelhante, prometo realizá-la e partilhar no fórum os seus resultados.

À vossa consideração.

Com um forte abraço de amizade e votos de muita saúde.

Jorge Araújo.

26MAR2018.
________

Nota do editor:

Último poste da série > 22 de março de 2018 > Guiné 61/74 - P18448: (D)outro lado do combate (23): "Plano de operações na Frente Sul" (Out-dez 1969) > Ataque a Bolama em 3 de novembro de 1969 - II (e última) Parte (Jorge Araújo)

9 comentários:

Anónimo disse...


Fez ontem quarenta e quatro anos que cheguei a Lisboa a bordo do Niassa, depois de cumprida a missão ultramarina de mais de dois anos no CTIG.

Foram meus companheiros de viagem os camaradas do BCAÇ 3872 (Galomaro, 1971/74) unidade do camarada Juvenal Amado.

Para quem desejar recordar algumas dessas imagens históricas deixo aqui o respectivo endereço:

https://arquivos.rtp.pt/conteudos/chegada-de-tropas-do-ultramar-2/#sthash.UUFYkh5c.dpbs

Que tenham um bom dia.

Ab. Jorge Araújo.

Cesar Dias disse...

A foto 2 faz-me recordar o quanto eramos inconscientes a andar na mata, principalmente a atravessar bolanhas,infelizmente só tive a prova disso quando acompanhei uma força paraquedista nos ultimos três meses de comissão.

Abraço
César Dias

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Parabéns, Jorge, espero que os leitores esejam capazes de reconhecer o teu mérito e o valor do teu trabalho... Se esta ficha de inspeção e coordenação do Conselho de Guerra das FARP / PAIGC corresponde efetivamente ao Bigrupo do Cmtd Quintino Gomes, ficamos a saber mais o seguinte:

(i) o bigrupo tinha 34 elementos (a ficha não está datada, o que é um pena):

(ii) era a seguinte a composição do bigrupo: 1 comandante, 1 comissário político, 2 chefes de grupo, sendo os restantes elementos atiradores e assaltantes:

(iii) só 7 eram casados (20,6%) e, pelos apelidos, a maioria seria balanta, seguida dos biafadas e mandingas:

(iv) só encontro, assim de repente, um tipo do leste, de Bambadinca, o nº 24, mas pelo nome é balanta...

Talvez o nosso assessor, o Cherno Baldé, nos possa dar aqui uma mãozinha... Não encontro nomes fulas...

Tabanca Grande Luís Graça disse...

Luís Graça

5 abr 2018 18h00


Cherno, meu querido assessor, além de irmãozinho:

Quando (e se...) puderes, dá uma vista de olhos a este poste do Jorge Araújo sobre a composição sociodemográfica do bigrupo do Quintino Gomes...

Pelos nomes, filiação e local de nascimento, podes tentar decobrir se há algum fula ?... A mim pareceu_me que não...

E já agora o Quintino Gomes seria de que etnia ?... E o Mário Mendes ?... Ambos morreram em 1972...

Queres ainda comentar o facto do PAIGC recrutar "putos" de 14, 15, 16 anos ?!.. Na nossa tropa, o "mancebo" podia ter 16 anos, idade mínima legal para se alistar na tropa (caso do "puto" Umaru Baldé, da CCAÇ 12, e outros...).

Mantenhas. Luís

Anónimo disse...

Caro amigo Luis,

Antes de mais, as minhas felicitacoes ao Jorge pelo empenho, pela curiosidade de olhar para o outro lado e pelas informacoes que nos tem fornecido sobre aspectos muito uteis da guerra colonial ou de libertacao.

Quanto aos elementos solicitados sobre a pertenca etnica, o que salta logo a vista eh que nao ha elementos do grupo etnolinguistico Fula. De seguida, o grupo seria constituido em cerca de 70% de Balantas, pouco mais de 17% de Beafadas e um numero residual de Mandingas (2), Nalus (1), Mancanhe (1) e provavelmente Papel (O Cmdt do Bg-Quintino Gomes), que de todos eh o mais dificil de identificar porque eh o unico com nome completo de assimilado. Tem no entanto, uma particularidade interessante que eh o nome do pai (Amisson), quer dizer "Sozinho" que entre os assimilados crioulos (Cristaos), significa orfandade ou o facto de ser filho unico da parte da mae, provavelmente.

O Quintino tanto podia ser da etnia Manjaca como Papel, eu decidi, por pura intuicao, que devia ser da etnia Papel, mas o facto de ter nascido em Empada da-lhe uma possibilidade grande, tambem, de ser filho de Manjacos que emigraram para o sul alguns anos antes da guerra a procura de terras de cultivo. Portanto o caso do Quintino fica em aberto.

Com um abraco amigo,

Cherno AB

Anónimo disse...

PS/

Eu compreendo o Jorge que para a analise utiliza a variavel "adesao" no ano tal, mas ns realidade, muitos daqueles jovens foram empurrados para o guerrilha devido ao erro estrategico do exercito portugues em bombardear e queimar as suas aldeias de forma indiscriminada logo no inicio da guerra. Mais que adesao, eles foram obrigados a escolher um dos lados e o PAIGC soube aproveitar bem o conhecimento que tinham do terreno e das suas capacidades de resiliencia fisica e mental.

Cherno

Anónimo disse...

Os casos do Mario Mendes e do seu Bi-grupo de Xime sao muito parecidos, tambem, em termos de composicao etnica e sociodemografica. E tal como o Quintino Gomes, a sua pertenca etnica deve ser mista (Papel-Manjaco), com uma certa predominancia Papel, pois eh sabido que os Manjacos, desde o inicio, tiveram uma fraca adesao ao projecto politico do PAIGC e esta tendencia se manteve até ao fim.

Quem quiser completar o quadro de analise deste Bi-Grupo, pode recuperar o nao menos interessante Post (P16891) do Grao-Tabanqueiro Jose A.Pereira Costa (na sua Guerra a petroleo) sobre o Bi-Grupo do Mario Mendes pois, como ele afirma, tanto a nivel da preparacao literaria como nos restantes dominios, existem muitas semelhancas o que faz pensar em "unidades tipo", pelo menos, para o caso da regiao militar Sul, a que pertenciam os dois Bi-Grupos.

Um abraco amigo,

Anónimo disse...

Valioso trabalho do JA completado com igualmente valiosa informação do CB

ATS

Anónimo disse...

Obrigado Cherno pela pronta resposta ao solicitado pelo camarada Luís.

É sempre bom receber reforço "extra" ao que escrevo que visa, em primeiro lugar, dar conta no forum do que consegui apurar, em síntese, sobre cada questão de partida.

Depois... Depois os canais de comunicação mantêm-se abertos para receber novos dados e outros saberes, como foi o caso em apreço.

Prometo, pois, continuar esta caminhada (e outras!) e aguardar por novos contributos da nossa historiografia dos anos da "guerra".

Para todos um grande abraço e um óptimo fim-de-semana.

Jorge Araújo.