sábado, 21 de maio de 2022

Guiné 61/74 - P23281: Os nossos seres, saberes e lazeres (505): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (51): A região de Sintra numa exposição de Alfredo Keil (Mário Beja Santos)


1. Mensagem do nosso camarada Mário Beja Santos (ex-Alf Mil Inf, CMDT do Pel Caç Nat 52, Missirá e Bambadinca, 1968/70), com data de 23 de Fevereiro de 2022:

Queridos amigos,
O espólio de Alfredo Keil é vastíssimo, abarca a sua pintura, os seus desenhos a grafite, até programas de eventos, cadernos de viagens onde deixou inúmeros esboços, há registos das suas viagens por diferentes países, fotógrafo e médico, grande colecionador, autor da música do nosso hino nacional, e podíamos ir muito mais longe. Pintou muito sobre a sua cidade natal, Lisboa, mas também o Zêzere e os esplendorosos rincões de Sintra, foram estes o que aqui registei da sua mais recente exposição que se realizou na Galeria São Roque Too, um espaço bem apropriado para receber o pintor e o músico a quem tanto deve a cultura portuguesa.

Um abraço do
Mário



Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (51):
A região de Sintra numa exposição de Alfredo Keil


Mário Beja Santos

A Galeria São Roque Too realizou uma exposição de Alfredo Keil, intitulado O Som das Árvores, entre dezembro de 2021 e fevereiro de 2022. Constava na notícia da Agenda Cultural de Lisboa: “Alfredo Keil (1850-1907) foi uma figura ímpar da arte portuguesa, tendo-se destacado nas artes plásticas, na música, na fotografia, na literatura e no teatro. Apesar de ter sido um artista muito versátil e completo, a exposição que a São Roque Too apresenta debruça-se predominantemente sobre Alfredo Keil músico e pintor, vertentes em que mais se distinguiu. Assim, na área da música, O Som das Árvores expõe documentos e objetos colecionados com a sua obra mais famosa, o Hino de Portugal – A Portugueza -, incluindo a sua partitura original. Alfredo Keil foi ainda pioneiro na ópera do nosso país; por isso, encontram-se também expostos vários cenários das suas quatro óperas: Serrana, Irene, Dona Branca e Susana, assim como documentação diversa que inclui correspondência trocada com Verdi e Puccini. No que respeita à sua obra plástica, a exposição conta com 70 pinturas e desenhos, que incidem maioritariamente sobre paisagens e vistas dos locais preferidos do artista: Lisboa, Sintra e Zêzere”. O que mostro ao leitor tem a ver com Sintra, embora reconheça que nos deixou obra relevante nas telas que pintou sobre Lisboa ou a região do Cabril.

Alfredo Keil pode ser classificado como um tardo romântico no seu naturalismo, olha-se para esta pintura e vê-se que era um artista que apreciava viajar, isto além de ter sido um colecionador eclético, nesta exposição por exemplo eram patentes objetos dessa vastíssima coleção que ele legou. Viajava muito e deixou as suas impressões desde Havre a Nurembergue (era filho de alemães, o pai veio com D. Fernando Saxe-Coburgo-Gota, abriu alveitaria na Baixa de Lisboa). Ele nasceu em Lisboa e representou a sua cidade natal, nesta exposição da Galeria São Roque Too estava um óleo que muito admiro intitulado Lisboa vista do Ginjal. Sendo verdade que os artistas do seu tempo se sentiam motivados a representar cenas da vida quotidiana, pessoas a passear pelas ruas ou em cafés e nas praias, Keil foi atraído pela natureza onde deixou obras esmeradas. Teve casa na Praia das Maçãs e daí o valioso punhado de representações da natureza que nos deixou, vê-se a sua motivação por Colares, o Cabo da Roca, a majestade selvática das praias.
Não escondo o deslumbramento que toda esta região me dá, aqui passei férias e por aqui deambulo com muito prazer, e com esse mesmo prazer que vos mostro algumas imagens destes belos recantos do concelho de Sintra.

Colares – Ribeira, não datado
Searas em Colares, 1878
Quinta Mazziotti – Colares, 1880
“Banzão”, 1882
Pescador na Praia das Maçãs, não datado
“Monte da Azoia”, não datado
O Farol do Cabo da Roca, 1882
Colares V, não datado
Praia da Ursa, 1878
Na última pedra – Praia das Maçãs, 1895
“Azenhas do Mar”, não datado
Azenhas do Mar, 1851
Colares – Lavadeiras na Ribeira, não datado
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Nota do editor

Último poste da série de 14 DE MAIO DE 2022 > Guiné 61/74 - P23263: Os nossos seres, saberes e lazeres (504): Itinerâncias avulsas… Mas saudades sem conto (50): Uma amostra dos tesouros colecionados pelo Dr. Anastácio Gonçalves (Mário Beja Santos)

3 comentários:

Fernando Ribeiro disse...

O quadro "Praia da Ursa", que está representado na nona fotografia, mostra uma formação rochosa com dois arcos que deverá ter dado o nome à praia, pois parece um gigantesco animal a beber água. Ora bem, esta formação rochosa já não existe! Nem sequer existem vestígios dela! Compare-se, por exemplo, com esta fotografia recente da mesma praia:

https://dynamic-media-cdn.tripadvisor.com/media/photo-o/10/37/f4/54/praia-da-ursa.jpg?w=800&h=-1&s=1

Eis uma dramática demonstração dos efeitos da erosão. Em menos de século e meio, uma formação rochosa constituida por não sei quantas toneladas de pedra desapareceu por completo! Sumiu!

A Praia da Ursa é uma praiazinha que merece ser conhecida, mesmo se só for vista do alto da falésia. Para ir lá abaixo, é preciso ter pernas robustas e excelentes pulmões, sobretudo no regresso. Não é uma descida que um jovem da nossa idade tenha condições para fazer. Ainda por cima, a descida é difícil e até perigosa. Mas que vale a pena ir lá abaixo (para quem puder), lá isso vale.

O seguinte site dedicado a esta praia tem várias fotografias dela, feitas a partir dos mais diversos ângulos e posições:

http://praiadaursa.pt

(Recomendo que se abram as fotografias numa página separada do browser, para que possam ser vistas com as proporções corretas. Num computador, clicar numa das fotografias com o botão direito do rato e selecionar "Abrir imagem num novo separador" ou algo parecido. Para quem tiver telelé ou tablet com o sistema operativo Android, manter o dedo premido em cima da imagem, até que apareça a opção "Abrir imagem" ou algo do género.)

Valdemar Silva disse...

Fernando Ribeiro
A Praia da Ursa, que aos 35 anos ainda consegui descer até ao pequeno areal, estava cheia de pedregulhos caídos/erosão quer da parte "continental" quer da parte de uns rochedos isolados da praia.
Ao longo dos anos tem sido frequente a erosão daquele local, talvez devido ao facto da qualidade das rochas ser de fácil erosão, o vento e a agitação marítima faz o resto.
A "Ursa" ainda existia em 1924, o mar foi destruindo a base, como antes fez as grutas "barriga da ursa", e assim foi caindo todo o rochedo. Os picos dos rochedos isoladas também estão a perder altura devido a erosão idêntica.
Mais a norte temos a Praia da Adraga, parecida com esta da Ursa, que até que tem um rochedo (gruta) semelhante.

Abraço e saúde da boa
Valdemar Queiroz

Fernando Ribeiro disse...

Valdemar Queiroz

A Praia da Adraga tem, sim senhor, um grande arco rochoso. Como é uma praia acessível de carro praticamente até ao areal, até do carro se vê, a poucos metros de distância. Isto no inverno, porque na época balnear fica tudo cheio de carros e as pessoas têm que deixá-lo mais acima, em Almoçageme, e ir a pé para a praia.

O trecho da costa entre as praias da Adraga e da Ursa, que quem tiver um par de pernas a funcionar devidamente pode percorrer pelo alto da falésia, é de uma beleza estonteante. É um passeio inesquecível. Destaco o Fojo da Adraga, que é um buracão vertical natural, que vai desde o cimo da falésia até ao nível do mar, onde batem as ondas com estrondo. Um pouco mais adiante, fica um paredão em rampa quase vertical sobre o mar, chamado Pedra de Alvidrar. Conta-se que, no tempo dos romanos, os acusados de crimes eram atirados por aquela rampa abaixo. Se eles morressem da queda, eram considerados culpados. Se sobrevivessem, eram declarados inocentes!

Eu acho que Sintra tem a costa mais bonita de Portugal Continental, tanto ou mais do que a Costa Vicentina. Percorrendo-a, encontramos nomeadamente na Praia Grande pegadas de dinossauros que estão na vertical! Podemos jantar na Praia das Maçãs um belo peixe acabado de pescar, regado por um precioso branco de Colares. Azenhas do Mar é uma aldeia lindíssima debruçada sobre o mar. A Praia do Magoito transborda de iodo. Enfim, Sintra é um mundo.

Um abraço e votos de bons ares

Fernando de Sousa Ribeiro